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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 3 – ABERTURA: FEBRE REUMÁTICA: A febre reumática é uma doença autoimune sistêmica de desenvolvimento associado a sequelas de infecções de vias aéreas superiores causadas por Streptococcus pyogenes, sucedendo-as em cerca de 10 a 14 dias. Esse quadro é mais comum na infância e nas fases iniciais da vida adulta, condição associada à elevada incidência de faringites e amigdalites bacterianas nessas populações. Socioeconomicamente, os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos são os mais atingidos. PATOGENIA: Obrigatoriamente, para o desenvolvimento da febre reumática, é necessária a ocorrência prévia de infecção por Streptococcus pyogenes exclusivamente na faringe. Após o quadro inflamatório inicial, uma reação autoimune decorrente de mimetismo molecular com o tecido cardíaco induz reações cruzadas com o patógeno. Com esse processo, o organismo passa a atacar também células miocárdicas, causando lesões com potencial irreversibilidade. Fluxograma da fisiopatologia da febre reumática QUADRO CLÍNICO: As manifestações clinicas da febre reumatoide podem ser divididas em: Sintomas constitucionais: a febre é o principal acometimento, podendo também haver mal-estar geral e anorexia, menos específicos; Sintomas cardíacos: a cardite, inflamação (normalmente subclínica ou branda) do coração é a forma de comprometimento mais incidente, porém lesões valvares e sopros também são frequentes; o O comprometimento de valvas pode causar insuficiência cardíaca congestiva. Manifestações cutâneas: representadas por nodulações subcutâneas periarticulares e por eritema serpiginoso marginado (com bordas definidas). Os nódulos são semelhantes a outros processos reumatoides, com aspecto arredondado, móvel e firme, sem sinais de inflamação local. Localizam-se em proeminências de regiões extensoras, como cotovelos, joelhos, coluna e região occipital. Nódulos subcutâneos na coluna vertebral de uma criança com febre reumatoide As lesões do eritema não são dolorosas nem pruriginosas, situadas principalmente no tronco, abdome e face interna dos membros, poupando a face; Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Exemplo de eritema serpiginoso em paciente com febre reumatoide Poliartrite: apresenta caráter migratório e assimétrico, afetando principalmente joelhos, tornozelos, punhos e cotovelos. o A artralgia pode ou não estar presente. Coreia de Sydenham ou Dança de São Vito: é observada após 1 a 6 meses da infecção inicial, podendo persistir por até 4 meses. Acomete a coordenação motora em crianças e adolescentes, marcada por movimentos rápidos, involuntários e com pouca força muscular. Espasmos típicos da coreia de Sydenham DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da febre reumatoide é clínico, mesmo que não existam achados sintomáticos ou laboratoriais patognomônicos. De forma a guiar esse processo, são seguidos os critérios de Jones, divididos em maiores e menores conforme a especificidade dos sintomas para o quadro. Critérios de Jones para o diagnóstico da febre reumática A presença de pelo menos 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores favorece a confirmação da ocorrência de um episódio de febre reumática. Os exames iniciais para avaliação da febre reumática são a dosagem de PCR, que se eleva ainda nas primeiras 24h do quadro, reduzindo rapidamente, a velocidade de hemossedimentação e a concentração de mucoproteínas sérica, considerado padrão-ouro devido à maior especificidade, uma vez que não sofre influência de anti- inflamatórios. Posteriormente, é possível realizar testes imunológicos, buscando por anticorpos específicos para a infecção por Streptococcus pyogenes (antiestreptolisina O [ASLO], anti-DNAse B e anti-hialuronidase). A investigação da ASLO é positiva em 80% dos pacientes com febre reumatoide, elevando-se após 1 semana da faringoamigdalite, o que condiz com o surgimento de sintomas sistêmicos. ASLO elevada = titulação > 330 unidades. Ainda que a ASLO seja o exame padrão- ouro, os níveis de anti-DNAse B se mantém elevados por mais tempo, potencializando a detecção do quadro. Cabe salientar que idealmente os 3 testes devem ser usados, maximizando sua sensibilidade. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Fluxograma terapêutico para os sintomas maiores da febre reumatoide Caso a cardite não seja controlada por medicamentos, é recomendada a realização de procedimentos cirúrgicos para reparação de valvas ou cordas tendíneas. Esse processo é arriscado, porém representa a única medida eficiente nessa fase. TRATAMENTO: O tratamento da febre reumática é composto tanto pela erradicação da infecção bacteriana basal quanto pela diminuição da intensidade dos sintomas causadas pelas reações cruzadas. O uso de antibióticos (principalmente penicilina, amoxicilina, ampicilina ou inibidores da síntese proteica) tem papel terapêutico e profilático, impedindo recidivas infecciosas. O tratamento dos sintomas específicos será diverso, com prescrição de AINES para o manejo da artrite, prednisona para combater a cardite (também pode ser usada de forma única em casos com manifestações articulares e cardíacas), e haloperidol durante 3 meses para o controle da coreia.
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