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Incidente da Desconsideração da Personalidade Jurídica

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17
	COMPLEXO JURÍDICO DAMÁSIO DE JESUS
	CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO civil e empresarial
	michele karine frutuoso
	incidente da desconsideração da personalidade jurídica 
	BLUMENAU
2017
michele karine frutuoso
	incidente da desconsideração da personalidade jurídica
	Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Direito Civil e Empresarial (monografia), apresentado perante banca examinadora do Curso de Direito da Faculdade de Direito Damásio de Jesus, como exigência parcial para obtenção de grau de especialização em Direito Civil e Empresarial, sob a orientação da Professora Fernanda C. de A. Moura. 
	BLUMENAU
2017
MICHELE KARINE FRUTUOSO
	incidente da desconsideração da personalidade jurídica 
	Blumenau, 17 de maio de 2017.
____________________________________________________________
Presidente Orientador: Fernanda C. de A. Moura.
	
____________________________________________________________
Professor Examinador:
____________________________________________________________
Professor Examinador:
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Por meio deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de qualquer responsabilidade sobre o aporte ideológico conferido ao presente trabalho.
________________________________________
michele karine frutuoso
À minha família, pelo incentivo e amor. 
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Roseli Simão e José Vilson Frutuoso, pela oportunidade de me tornar quem eu sou.
A minha irmã IohanaLais Frutuoso, por compartilhar essa vida comigo.
A minha irmã Claudia EmillySchlluetter, por simplesmente existir e deixar os dias mais fáceis.
A Ana Paula Borges, por todos os incentivos. 
A Maicon Lennon de Mello, pela infinita paciência e pelo companheirismo. 
“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.” Simone de Beauvoir.
RESUMO
O presente trabalho dedica-se ao estudo do instituto da desconsideração da personalidade jurídica, também conhecida como Disregard Doctrine, no atual sistema jurídico brasileiro. Existem duas teorias pertinentes referente ao assunto, o Código Civil de 2002 adotou a teoria maior para desconsiderar a personalidade jurídica, e tem como requisitos o abuso de direto, fraude, confusão patrimonial ou a prática de algum ato ilícito. Entretanto, a teoria menor é bem menos elaborada, pois ela autoriza a desconsideração nos casos de mera inadimplência das obrigações contraídas pela sociedade. Depois de desconsiderada a pessoa jurídica, não será o patrimônio da sociedade que responderá pelas ações, mas sim, o patrimônio daquele que cometeu o ato fraudulento. Temos ainda a desconsideração inversa, que é o afastamento do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por obrigação do sócio. 
Palavras-chave: Desconsideração da personalidade jurídica. Teoria Maior. Teoria Menor. Desconsideração inversa.
abstract
The present work is dedicated to the study of the institute of disregard of legal personality, also known as Disregard Doctrine, in the current Brazilian legal system. There are two relevant theories regarding the subject, the Civil Code of 2002 adopted the major theory to disregard the legal personality, and has as requirements the abuse of direct, fraud, patrimonial confusion or the practice of some illegal act. However, the lesser theory is much less elaborated, since it authorizes the disregard in cases of mere default of the obligations contracted by society. Once the legal person is disregarded, it will not be the patrimony of the society that will respond for the actions, but the patrimony of the one who committed the fraudulent act. We also have the opposite inconsistency, which is the departure from the principle of the autonomy of the patrimony of the legal person to hold society accountable by obligation of the partner.
Key-words: Disregard of legal personality. Major theory. Minor theory. Reverse inconsideration.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda o instituto da Desconsideração da Personalidade Jurídica, previsto no artigo 50 do Código Civil de 2002. O estudo desse tema é de suma importância, pois trata-se de um assunto que independentemente de ter sido positivado no Novo Código Civil, ainda é motivo de muita discussão no mundo jurídico.
Na década de 1950, Rubens Requião, ilustre doutrinador, foi um grande defensor do instituto da Desconsideração da Personalidade Jurídica. Mas foi recentemente que o tema começou a aparecer nas doutrinas e também jurisprudências. As jurisprudência tem alcançado grande êxito nesse assunto, dando autorização para outras teorias ligadas ao instituto, a desconsideração da personalidade jurídica inversa. 
Com o nascimento da personalidade jurídica, e da autonomia patrimonial, surgiu a oportunidade das pessoas físicas se juntarem, e foram capazes de conquistar objetivos dos quais sozinhos nunca conseguiram alcançar. Depois de tudo isso, os sócios começaram a investir sem preocupação nas empresas, pois os riscos do seu patrimônio pessoal ser atingido era mínimo. Assim, a personalidade jurídica facilitou a evolução das empresas e a consequência foi, o desenvolvimento do pais e do mundo.
O presente trabalho tem o propósito de oferecer uma colaboração sobre o assunto no mundo jurídico. O estudo é iniciado com a pessoa jurídica, expondo sua criação e como foi importante para o desenvolvimento da atividade econômica. Será demonstrado sua natureza e teorias a respeito do tema. Logo após, vem a classificação das pessoas jurídicas, que é de suma importância para o entendimento da matéria. E para finalizar o capitulo, será realizado o estudo da personalidade jurídica e autonomia patrimonial, pois é a base para poder realizar a desconsideração.
E por fim, entraremos no tema central do presente trabalho, a desconsideração da personalidade jurídica, iniciando com seu conceito, que é indispensável para podermos compreender o instituto. Após, estudaremos a origem e evolução histórica, que teve início nos Estados Unidos e Inglaterra, no século XIX. Será também analisado a aplicabilidade da personalidade jurídica, na qual gerou duas correntes opostas, sendo uma delas mais rigorosa acerca da presença de fraude ou abuso de direito, e a outra, mais simples, com menos exigências. No final do trabalho, alguns aspectos processuais serão mencionados para entendermos quando e aonde pode ser desconsiderada a personalidade jurídica. 
2 PESSOA E PERSONALIDADE JURÍDICA
2.1 Pessoa Jurídica
2.1.1 Conceito
Antes de entrar especificadamente no instituto da desconsideração da personalidade jurídica, é importante conceituar a pessoa jurídica, com sua característica de limitar o patrimônio dos sócios, e os motivos da obrigação de sua criação.
Rubens Requião conceitua de forma clara e precisa a pessoa jurídica:
Entende-se por pessoa jurídica o ente incorpóreo que, como as pessoas físicas, pode ser sujeito de direitos. Não se confundem, assim, as pessoas jurídicas com as pessoas físicas que deram lugar ao seu nascimento; pelo contrário, delas se distanciam, adquirindo patrimônio autônomo e exercendo direitos em nome próprio. Por tal razão, as pessoas jurídicas têm nome particular, como as pessoas físicas, domicílio e nacionalidade; podem estar em juízo, como autoras ou como rés, sem que isso se reflita na pessoa daqueles que a constituíram. Finalmente, têm vida autônoma, muitas vezes superior às das pessoas que as formaram; em alguns casos, a mudança de estado dessas pessoas não se reflete na estrutura das pessoas jurídicas, podendo, assim, variar as pessoas físicas que lhe deram origem, sem que esse fato incida no seu organismo. É o que acontece com as sociedades institucionais ou de capitais, cujos sócios podem mudar de estado ou ser substituídossem que se altere a estrutura social. (1998, p. 204).
Pessoas jurídicas podem ser conhecidas como entidades para quais a lei concede personalidade, ou seja, são seres que atuam na vida jurídica. Entende Mattielo (2003, p.48) que pessoas jurídicas:
[...] são entes ideias reconhecidos pelo ordenamento como sujeitos de direitos dotados de estrutura, patrimônio e personalidade independentes de seus membros, com finalidades previstas em lei e/ou nos instrumentos de constituição devidamente registrados.
César Fiuza (2001, p.125) também explica:
As pessoas jurídicas possuem algumas características que não poderíamos deixar sem a devida atenção. Enumerando-as, temos: 
1ª) Personalidade própria, que não se confunde com a de seus criadores. [...] 
2ª) Patrimônio próprio, que tampouco se confunde com o patrimônio de seus criadores. [...] 
3ª) Vida própria, que independe da vida de seus criadores. [...] 
4ª) Pode exercer todos os atos que não sejam privativos das pessoas naturais, seja por natureza ou por força de lei. As pessoas jurídicas não podem se casar, visto que, por sua própria natureza, este é ato privativo das pessoas naturais. Também não podem ser sócias de sociedade jornalística, por proibição legal. 
5ª) Podem ser sujeitos ativo ou passivo de delitos. Logicamente, serão sujeito ativo somente dos delitos compatíveis com a personalidade jurídica, como sonegação fiscal, por exemplo. As penas também hão de ser compatíveis, como a multa ou mesmo extinção. Evidentemente, as privativas de liberdade não o são.
A personalidade jurídica surgiu para possibilitar a união de esforços de homens em busca de um objetivo comum à sociedade. Conforme os ensinamentos de Francisco Amaral (2003, p.26-27), “pessoa jurídica é um conjunto de pessoas ou bens que se agruparam por convivência, ou até mesmo por necessidade, para obter um objetivo em comum”. 
José Xavier de Carvalho Mendonça Diz: 
A pessoa jurídica é a unidade jurídica, resultante da associação humana, constituída para obter, pelos meios patrimoniais, um ou mais fins, sendo distinta dos indivíduos singulares e dotadas de capacidade de possuir e exercer adversus omnes direitos patrimoniais. (1963, p.78).
No início, quando se resolvia criar um negócio, era frequente as pessoas não alcançarem em si, individualmente, meios e forças primordiais ao desenvolvimento de uma grande empresa. Dessa maneira, a associação com outras pessoas, criando uma sociedade, mostrou-se uma solução apropriada ao problema.
Além do mais, o homem sempre teve temor de comprometer seu patrimônio em atividades de risco. O princípio da separação patrimonial e limitação das responsabilidades, facilitou para os futuros empreendedores o negócio que se planejava começar. 
Caio Mário da Silva Pereira em sua obra diz que:
A necessidade da conjugação de esforços de vários indivíduos para a consecução de objetivos comuns ou de interesse social, ao mesmo passo que aconselham e estimulam a sua agregação e polarização de suas atividades, sugerem ao direito equiparar à própria pessoa humana certos agrupamentos de indivíduos e certas destinações patrimoniais e lhe aconselham atribuir personalidade e capacidade de ação aos entes abstratos assim gerados. (2000, p.185).
Dessa forma, surgiram as pessoas jurídicas, entidades para as quais a lei empresta personalidade, são seres que atuam na vida jurídica, ao lado dos indivíduos humanos e aos quais a lei atribui personalidade. 
2.1.2 Natureza
Assunto que gerou muito conflito e contradição na doutrina, é qual seria a natureza jurídica da pessoa jurídica, tentando esclarecer o que seria esse instituto, estabelecendo com que, ao longo da história surgisse várias teorias a respeito do tema, algumas negando sua existência e outras reconhecendo sua personalidade jurídica.
Venosa (2001, p.209) introduz o tema dizendo que seguinte:
E por demais polêmica a conceituação da natureza da pessoa jurídica, dela tendo-se ocupado juristas de todas as épocas e de todos os campos do direito. Como diz Francisco Ferrara, com frequência o problema dessa conceituação vê-se banhado por posições e paixões políticas e religiosas e, de qualquer modo, sobre a matéria formou-se uma literatura vastíssima e complexa, cujas teorias se interpenetram e se mesclam, num emaranhado de posições sociológicas e filosóficas.
Mesmo não havendo consenso entre as doutrinas referente as teorias da natureza jurídica da pessoa jurídica, pode-se dividi-las em dois grupos. Porém existem várias nomenclaturas acerca do tema, neste trabalho será utilizado como referência as Teorias Ficcionistas e Teorias da Realidade. 
2.1.3.Teorias Ficcionistas
A primeira teoria da é a teoria da ficção, também conhecida de teoria normativista por alguns doutrinadores. Essa teoria originaria da doutrina tradicional surge no direito canônico, e preponderou até o século XIX. De modo geral, entende seus pensadores que somente a pessoa humana seria capaz de ser sujeito de direitos, a pessoa jurídica não tem personalidade jurídica, pois este ente não passa de uma criação artificial. 
Freitas (2002, p.32) entende que: a pessoa jurídica não era sujeito de direito, de acordo com o autor, somente os indivíduos que constituíam eram os que realmente possuíam personalidade jurídica, apenas o homem pode ser sujeito de direito.Essa teoria foi defendida por grandes nomes do direito no mundo, comoIhering, Hans Kelsen e seu principal defensor Savigny.
O direito pode tanto dar quanto retirar, por ficção, a personalidade de um ente. Roberto de Ruggiero, compartilhando desse entender, compreendia que: 
Partindo do conceito de que só o homem pode ser sujeito de direitos, visto que fora da pessoa física não existem, na realidade, entes capazes concebe a pessoa jurídica como uma pura criação intelectual, uma associação de homens ou um complexo de bens, finge-se que existe uma pessoa e atribui-se a essa unidade fictícia capacidade, elevando-a à categoria de sujeito e direito 19 . A grande crítica feita a essa doutrina é que ela nunca foi capaz de explicar ou elucidar o problema da existência da pessoa jurídica.
Entretanto, no direito contemporâneo a corrente da ficção não foi bem recepcionada, Carlos Roberto Gonçalves descreve o porquê tal teoria não prevaleceu: 
A crítica que se lhe faz é a de que não explicam a existência do Estado como pessoa jurídica. Dizer-se que o Estado é uma ficção legal ou doutrinária é o mesmo que dizer que o direito, que dele emana, também o é. Tudo quanto se encontre na esfera jurídica seria, portanto, uma ficção, inclusive a própria teoria da pessoa jurídica. (2009. p.184)
Monteiro (2010, p.134) também fala sobre o motivo de que a teoria não foi aceita no direito contemporâneo.
A teoria da ficção não pode ser aceita. Demonstrou Giorgio Del Vecchio. Ela não cuidou de explicar de maneira alguma a existência do Estado como pessoa jurídica. Quem foi o criador do Estado? Uma vez que ele não se identifica com as pessoas físicas, deverá ser igualmente havido como ficção? Nesse caso, o próprio direito será também outra ficção, porque emanado do Estado. Ficção será, portanto, tudo quanto se encontre na esfera jurídica, inclusive a própria teoria de pessoa jurídica.
No entanto, a teoria da ficção ao não achar a pessoa jurídica com um sujeito
de direito, mas sim uma invenção, um ser abstrato, uma criação artificial da lei. Isso porque somente o homem seria capaz de titularizar direitos. 
2.1.4 Teoria da Realidade
A presente teoria parte de um opinião totalmente oposta a da ficção, admitindo a existência da pessoa jurídica como sujeito real, e dessa forma podendo atuar de forma autônoma, ativa e passivamente, nas relações jurídicas e sociais, com capacidade e titularidade de direito. 
A teoria da realidade foi subdividida em realidade orgânica (objetiva) ou realidade técnica (jurídica), destacando está última como predominante, pois é a teoria que fornece melhor definição para pessoa jurídica.
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald distinguem de forma clara a sucinta a realidade orgânica e atécnica. 
A teoria da realidade objetiva, também dita teoria da realidade orgânica (sendo possível citar Gierke e Zitelman como defensores desta tese), pregava que geriam as pessoas jurídicas organismos sociais com existência e vontade próprias, diversos de seus membros, tendo por fim realizar objetivos sociais. Recaiu, no entanto, em erro ao eliminar a vontade humana.Por sua vez, a teoria da realidade técnica (da qual foram representantes Geny, Saleilles e Ferrara) entendia ser real a pessoa jurídica, porém dentro de uma realidade técnica, ou seja, dentro de uma realidade que é distinta das pessoas naturais, humanas. Caio Mário da Silva Pereira é partidário desse entendimento.
Orlando Gomes descreve a realidade técnica de maneira simples: 
[...] a realidade das pessoas jurídicas não é objetiva, embora existam, como fato, os grupos constituídos para a realização de fim comum. A personificação desses grupos é, porém, construção da técnica jurídica, que lhes dá forma, admitindo que tenham capacidade jurídica própria, porque o exercício da atividade jurídica é indispensável à sua existência. A personificação é uma realidade técnica, não se trata de criação artificial da lei. (2010, p.145)
Portanto, a teoria da realidade técnica ou jurídica é a que fornece a melhor definição para a pessoa jurídica, sendo ela fruto da vontade humana criadora, no sentido de unir esforços e criar um ente que realmente participe da sociedade, com capacidade de titularidade, porém, com regras distintas das pessoas físicas.
2.1.5 Classificação da pessoa jurídica
O Código Civil Brasileiro de 2002 adotou o critério de que as pessoas jurídicas ocupam duas classes: pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado (artigo 40, caput). Dentro no direito público existem duas divisões, as pessoas jurídicas de direito público interno e pessoas jurídicas de direito público externo. 
Jose Carlos Moreira Alves, fala a respeito das pessoas jurídicas de direito público em sua obra Parte Geral do Projeto de Código Civil Brasileiro: 
“embora se trate do Código Cilvil, pareceu-me que não haveria inconveniente em se mantes essa alusão à pessoas jurídicas de direito público – do que, alias se encontra exemplo em Códigos Civis de outros países, como por exemplo, o Código Civil italiano de 1942 (art.11) – pois persistem em nosso direito as razões que impeliram o legislador de 1916 a incluir no Código atual esse dispositivo.” (1986, p.73)
O artigo 41 do Código Civil Brasileiro, define pessoa jurídica de direito público interno da seguinte forma: 
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias;
IV - as autarquias;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
As pessoas jurídicas de direito público externo são de acordo com o artigo 42 do Código Civil Brasileiro: os Estados estrangeiros e as pessoas regidas pelo direito internacional público externo. Por exemplo, organizações como a ONU (Organizações da Nações Unidas) e a Santa Sé.
Rezek (1995, p.248) faz os seguintes comentários a respeito da Santa Sé.
A Santa Sé é a cúpula governativa da Igreja Católica, instalada na cidade de Roma [...] de todo modo, é amplo o reconhecimento que a Santa Sé, sem embargo de não se identificar com os Estados comuns, possui, por legado histórico, personalidade jurídica de direito internacional. 
A pessoa jurídica de direito privado está definida no artigo 44 do CC.
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações;
IV - as organizações religiosas; 
V - os partidos políticos;
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. 
 
Anteriormente o Código Civil de 2002 trazia em sua redação apenas três formas de Pessoas Jurídicas de Direito Privado: Sociedade, Associações e Fundações, mas um ano após sua vigência, o artigo foi alterado pela Lei nº 10.825 de 2003, onde foi incluído mais duas entidades, quais sejam, as organizações religiosas e os partidos políticos.
Essa lei também modificou o artigo 2.031 do Código Civil, incluindo o parágrafo único no qual afasta a aplicação das regras do Código Civil às entidades religiosas e aos partidos políticos.
Recentemente foi publicada a Lei 12.411 de 2011, modificando o Código Civil, passando a incluir-se na relação das pessoas jurídicas de direito privado, as empresas individuais de responsabilidade limitada, EIRELI. Trata-se de uma pessoa jurídica estabelecida por somente uma pessoa, ela foi criada com a finalidade de diminuir a burocracia para a formação de empresas. 
Uma grande polêmica se formou quanto a possibilidade de uma pessoa jurídica poder ou não constituir uma EIRELI, resultando em muita discussão referente ao tema. Porém o entendimento que prevalece é que a EIRELI não pode ser constituída por outra pessoa jurídica, somente pessoa física capacitada, conforme a Lei 12.441, de 11/07/2011.
2.2 Personalidade Jurídica
A personalidade jurídica pode ser definida comocomo sendo a habilidade para adquirir direitos e contrair obrigações, é uma condição para se tornar sujeito de direito. Requião (2003, p. 37) entende que a sociedade que conquista à personalidade jurídica “transforma-se em novo ser, estranho à individualidade das pessoas que participam de sua constituição, dominando patrimônio próprio, possuidor de órgãos de deliberação e execução que ditam e fazem cumprir a sua vontade”.
Marlon Tomazette (2009, p.231) colabora com suas palavras da seguinte forma: 
A fim de incentivar o desenvolvimento de atividades econômicas produtivas e, consequentemente, aumentar a arrecadação de tributos, produzindo empregos e incrementando o desenvolvimento econômico e social das comunidades, era necessário encontrar uma forma de limitação dos riscos nas atividades econômicas. Para tanto, encaixou-se perfeitamente o instituto da pessoa jurídica ou, mais exatamente, a criação de sociedades personificadas. 
Nessa perspectiva, Gonçalves Neto (2010, p.137) diz que “As sociedades empresárias são sempre personalizadas, ou seja, são pessoas distintas dos sócios, titularizam seus próprios direitos e obrigações. Para Ricardo Negrão:
 “a personalidade jurídica é uma ficção jurídica, cuja existência decorre da lei. É evidente que às pessoas jurídicas falta existência biológica, característica própria das pessoas naturais. Entretanto, para efeitos jurídicos e, leia-se, para facilitar a vida em sociedade, concede-se a capacidade para uma entidade puramente legal subsistir e desenvolver-se no mundo jurídico. Sua realidade, dessa forma, é social, concedendo-lhe direitos e obrigações”. (2010, p.263)
O Código Civil vigente, reconhece a existência da personalidade jurídica, em seu artigo 985 como podemos ver a seguir:
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).
Carlos Roberto Gonçalves explica que a personalidade jurídica:
“É, portanto, um atributo que o Estado defere a certas entidades havidas como merecedoras dessa benesse. O Estado não outorga esse benefício de maneira arbitrária, mas sim tendo em vista determinada situação, que já encontra devidamente concretizada, e desde que se observem determinados requisitos por ele estabelecidos”. (2009, p. 186)
Ademais, é importante esclarecer que a pessoa jurídica não se confunde com as pessoas que a constituem, motivo em que ela tem personalidade jurídica distinta de seus sócios, tornando-se inconfundíveis e independentes entre si. 
2.2.1 Autonomia Patrimonial
A partir do registro da pessoa jurídica, necessariamente esta adquire personalidade jurídica. A partir desse momento, a sociedade passa a ter patrimônio próprio e capacidade para exercer direitos e obrigações e consagrando-se também o princípio da autonomia patrimonial, que tem como objetivo a separação do patrimônio da pessoa jurídica do patrimônio das pessoas físicas que integrama primeira.
Oksandro Gonçalves comenta sobre o assunto: 
Há inegável vantagem em se limitar a responsabilidade a um conjunto de bens expressamente destinado à consecução de um determinado fim, porque o Estado viu a necessidade de fomentar atividades que beneficiem a sociedade humana criando privilégio consistente na possibilidade de admitir a existência da pessoa jurídica distinta de seus sócios.
Quando a personalidade jurídica é adquirida, este sujeito adquire autonomia patrimonial, isto é, quando o patrimônio dos sócios é separado do patrimônio da pessoa jurídica. 
No artigo 20 do Código Civil de 1916 estava claramente expresso o princípio da autonomia patrimonial: “As pessoas jurídicas têm existência distinta da dos membros”.
Ao contrário do Código vigente em seu artigo 50, que se preocupou primeiro com o uso fraudulento da personalidade jurídica, e por conseguinte com tal princípio. 
Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
É evidente que a autonomia patrimonial veio para dar mais segurança as figuras das sociedades e a própria sociedade, pois o patrimônio dos sócios não responde pela dívida da sociedade e o patrimônios das e os patrimônio das sociedades também não responde pelas dividias contraídas pelos sócios. Essa situação não ocorre quando as sociedades são irregulares, pois elas acabam se confundindo com o patrimônio dos sócios. 
A respeito do assunto, Fábio Ulhoa Coelho entende: 
Em sendo assim, pelas obrigações da pessoa jurídica responde, em regra, apenas o patrimônio. É, em geral, incabível a responsabilização do membro da pessoa jurídica por obrigação que não é dele, mas dela. O credor do ente moral (sociedade civil ou comercial, associação ou fundação) não pode, em princípio pretender a satisfação de seu crédito no patrimônio individual de membro da entidade, mesmo em se tratando da pessoa que a representa no negócio ou na ação judicial, já que são sujeitos de direito distintos. Esta regra geral, decorrente do dispositivo de lei acima mencionado, é referida através do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica. (1994, p.2015)
Por fim, entende-se que a autonomia patrimonial, afirma a total separação do patrimônio das pessoas físicas de seus sócios com o da pessoa jurídica, isto é, o único que responde pelos atos da pessoa jurídica são seus próprios bens, e não o patrimônio dos seus sócios.
Entretanto, esse princípio pode ser ultrapassado nos dias atuais, com o incidente da desconsideração da personalidade jurídica, instrumento de estudo deste trabalho acadêmico. 
3 TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
3.1 Origem e evolução
A pessoa jurídica, de todas as formas que a lei autoriza, foram criadas para atingir fins sociais obrigatoriamente lícitos. O início da discussão sobre o tema foram nos ordenamentos jurídicos estrangeiros, que ocorreram nos Estados Unidos e na Inglaterra no século XIX.
Os doutrinadores utilizam várias expressões que são originarias do direito estrangeiro, como Piercingthe Corporate (Perfurando o Véu Incorporado), ou Disregardof Legal Entity (Desconsideração da Entidade Legal), ou Lifting the Corporate Veil (Erguendo o Véu Incorporado), outro termo também muito conhecido é a Disregard Doctrine (Doutrina da Desconsideração). 
Para muitos, o principal caso referente ao tema foi em 1809, nos Estado Unidos, foi o julgamento envolvendo Bank of United StatesVsDeveaux, onde o juiz da Suprema Corte, decidiu conhecer a causa.
Thereza Christina Nahas esclarece:
O juiz Marshall manteve a jurisdição das cortes federais sobre as corporations (Constituição Americana, art 3º, seção 2ª, que reserva a tais órgão judiciais as lides entre cidadão e diferentes estados). Ao fixar a competência acabou por desconsiderar a personalidade jurídica, sob o fundamento de que não tratava de sociedade, mais sim de ‘sócios contentores’. (2007, p.96).
No entanto, essa decisão na época foi quase que irrelevante, pois a doutrina rejeitou a sentença.
Em 1897, surgiu outro caso, até hoje o mais famoso, a para alguns autores o pioneiro da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, o caso de Salomon x Salomon &Co. O caso foi julgado pela HouseofLourds (Câmara dos Lordes). 
Alexandre Couto e Silva faz uma análise detalhada do caso: 
 
Trata-se do caso de um comerciante de couros e calçados, Aaron Salomon, que fundou, em 1892, a Salomon &Co. Ltd., tendo como sócios fundadores, ele mesmo, sua mulher, sua filha e seus quatro filhos. A sociedade foi constituída com 20.007 ações, sendo que a mulher e os cinco filhos tornaram-se proprietários de uma ação cada um, e as restantes 20.001, foram atribuídas a Aaron Salomon, das quais 20.000 foram integralizadas com a transferência, para a sociedade, do fundo de comércio que Aaron já possuía, como detentor único, a título individual.
Aparentemente, de acordo com as narrativas dos fatos existentes em várias obras que tratam do assunto, o preço da transferência desse fundo seria superior ao valor das ações subscritas: pela diferença, Aaron Salomon era ainda credor da Salomon &Co. Ltd., com garantia real em seu favor constituída. Com a sociedade, entretanto, vindo a entrar em insolvência e a ser dissolvida, estabeleceu-se o litígio judicial entre o próprio Aaron Salomon e ela. Tanto a High Court quanto, em grau de recurso, a Courtof Appeal, deram ganho de causa à sociedade, condenando Aaron Salomon a pagar-lhe certa soma em dinheiro, ressaltando as decisões de que a sociedade seria apenas um outro nome para designar o próprio Aaron Salomon.
A High Court acreditava ser um estratagema de que Aaron se serviu para ter os lucros de uma atividade econômica sem os riscos e a responsabilidade pelas dívidas. A sociedade seria um representante (agent) de Aaron Salomon e teria direito, como todo representante, a obter do representado a soma necessária à satisfação dos direitos contraídos no interesse do representado.
A Courtof Appeal, embora preferindo falar em relação fiduciária, de trust, e não em agent, chegou ao mesmo resultado.
Contudo, a HouseofLords, reformando as decisões e aferrando-se aos princípios ortodoxos em matéria de pessoa jurídica, censurou asperamente aquilo que considerou incoerência das decisões recorridas. A HouseofLords ponderou que, uma vez que se admite que a sociedade, por seu liquidante, possa fazer valer determinados direitos contra seu sócio principal, está-se, evidentemente, a reconhecer sua personalidade jurídica distinta; que a circunstância de estarem as poucas ações restantes em mãos de pessoas de sua família não tinha por si só o condão de afetar o fato de que a sociedade fora validamente constituída, nem o de fazer nascer contra a pessoa dos sócios deveres que, de outra forma, inexistiriam; que, também, a circunstância de virem as ações a serem transferidas durante a vida da sociedade, a uma só pessoa não afeta em nada a existência nem a capacidade de uma sociedade cuja personalidade jurídica foi reconhecida.
É importante ressaltar a influência negativa desse caso para o desenvolvimentos da Disregard Doctrine na Inglaterra que, desde então, vem aplicando rigorosamente os princípios da separação das personalidades jurídicas entre sócios e sociedade e da responsabilidade patrimonial nele consagrado. Para Verrucoli, a jurisprudência inglesa preserva bastante o privilégio da personificação das pessoas jurídicas, em que a teoria da desconsideração somente é utilizada em casos extremos. (1999, p. 183)
Fábio Ulhoa Coelho, explica em sua obra que “A tese das decisões reformadas das instâncias inferiores repercutiu, dando origem à doutrina do disregardof legal entity, sobretudo nos Estados Unidos, onde se formou larga jurisprudência, expandindo-se mais recentementena Alemanha e em outros países europeus”. (1989, p.33)
Na Alemanha, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica ganhou destaque na década de 50, pelo estudioso Doutor Rolf Serick, professor na Universidade de Heidelberg, que fez analises de casos anteriores, também visto por muitos como a pai da teoria. 
Serick entende que a teoria deveria ser usada com muito zelo, em determinadas situações, casos em que de fato a fraude ou abuso de direito tenha sido comprovada. Elementos essenciais para comprovar a desconsideração da personalidade.
O jurista brasileiro Oksandro Gonçalves, demonstra a evolução histórica da desconsideração da personalidade jurídica da seguinte maneira:
O estudo dos sistemas jurídicos segundo a metodologia oferecida pelo Direito comparado possibilita sintetizar as contribuições para a feição atual da teoria da desconsideração. 
Por sua origem no Direito anglo-americano, ela é conhecida como disregarddoctrine, extraindo-se do Direito inglês o exemplo clássico: o caso Salomon & Salomon. 
Se no Direito anglo-americano são encontradas as primeiras manifestações da teoria da desconsideração, no Direito alemão ela é sistematizada e consolidada, tomando o nome de Durchgriff der juristichenPersonen, destacando-se a obra de Rolf Serick, mais estudioso do tema e que definiu as bases da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. No Direito francês, destaca-se a positivação do instituto da desconsideração, em especial quanto à sua possibilidade na falência e na concordata. 
Já no direito italiano destaca-se a obra de Piero Verrucolli, com especial enfoque à teoria da desconsideração nas sociedades de capitais. Finalizando, o estudo do Direito português demonstra o esforço dos doutrinadores para disseminar a teoria da desconsideração e implementar sua utilização. (2006, p. 184)
Elizabeth Cristina Campos Martins Freitas em sua pesquisa, resume o entendimento do doutrinador Rolf Serick esclarecendo que: 
1. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica tem cabimento quando houver utilização abusiva da pessoa jurídica, com o objetivo de se furtar da incidência da lei ou de obrigações contratuais, ou causar danos a terceiros de forma fraudulenta;
2. A autonomia subjetiva da pessoa jurídica pode ser desconsiderada quando isso for necessário para coibir violação de normas de direito societário que não possam ser violadas nem mesmo por via indireta;
3. As normas que tiveram por base atributos, capacidade, ou valores humanos à pessoa jurídica podem ser aplicadas se, entre a finalidade de tais normas e a função da pessoa jurídica à qual é as mesmas aplicadas, não se detectarem contradições. Importa salientar que, para se determinarem os pressupostos normativos, é possível considerar as pessoas físicas que agem por intermédio da pessoa jurídica;
4. No caso de a pessoa jurídica servir de instrumento para ocultar o fato de que as partes envolvidas no negócio são, na prática, o mesmo sujeito, a autonomia da pessoa jurídica pode ser afastada, se for necessário aplicar a norma embasada sobre a efetiva diferenciação, não sendo possível ampliar tal entendimento à diferenciação ou identidade apenas jurídico-formal.
Após muita discussão sobre o referido tema, em vários países da Europa, a repercussão sobre o assunto chegou nos países da América do Sul, ganhando lugar nas doutrinas e jurisprudências. 
No Brasil, o doutrinador que iniciou a discussão sobre a teoria foi o Ilustre Rubens Requião, citado na obra de Cristiano Chaves Farias e Nelson Rosenvald:
O ponto de partida da teoria da desconsideração no Brasil, remonta ao final da década de 60, quando o doutrinador Rubens Requião traduziu a monografia Rolf Serick, e posteriormente publicou, através da Revista dos Tribunais, no artigo "Abuso de Direito e Fraude através da personalidade Jurídica", considerado o marco inicial de desenvolvimento da teoria no Brasil. 
Com a divulgação do artigo através de uma conferência proferida pela Universidade Federal do Paraná em 1969, surge no cenário brasileiro a Desconsideração da Personalidade Jurídica, sendo, nestas linhas, o primeiro jurista no país a tratar da matéria. Desta forma, assumiu posição pioneira, dando ensejo ao aprimoramento acerca do tema, visto que, se propôs a compatibilizar a teoria ao direito pátrio, sem que houvesse legislação em nosso ordenamento que permitisse essa aplicação de forma expressa. (2008, p. 314-315)
Rubens Requião em seu estudo, reproduziu as seguintes considerações de Rolf Serik sobre a teoria:
A disregarddoctrine aparece como algo mais do que um simples dispositivo do Direito americano de sociedade. É algo que aparece como consequência de uma expressão estrutural da sociedade. E, por isso, em qualquer país em que se apresente a separação incisiva entre a pessoa jurídica e os membros que a compõem, se coloca o problema de verificar como se há de enfrentar aqueles casos em que essa radical separação conduz a resultados completamente injustos e contrários ao direito. 
Diante do abuso de direito e da fraude no uso da personalidade jurídica, o juiz brasileiro tem o direito de indagar, em seu livre convencimento, se há de consagrar a fraude ou o abuso de direito, ou se deva desprezar a personalidade jurídica, para, penetrando em seu âmago, alcançar as pessoas e bens que dentro dela se escondem para fins ilícitos e abusivos. 
Elizabeth Cristina Campos Martins de Freitas fala sobre a influencia de Rubens Requião no projeto do Código Civil: 
Rubens Requião foi o primeiro jurista brasileiro a tratar o assunto em questão. Além de sua conferência publicada na RT 410/12, merece destaque seu artigo publicado na RT 477/11, entre outros. Como defensor da doutrina, enviou sugestão à Comissão encarregada de elaborar o Projeto de Código Civil, com objetivo da inclusão da disregard of legal entity como medida legal viável. Não obstante a Comissão acolher sua proposta, no art. 49, não conseguiu dar o tratamento mais acertado, conforme opinião do próprio mestre paranaense.
Requião entende que a fraude e o abuso de direito serão sempre os principais elementos que darão ao Poder Judiciário a autorização para atingir o patrimônio particular dos sócios responsáveis pela sociedade, eliminando o princípio da autonomia patrimonial.
Desse modo, somente em 1990, foi criado o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90, onde surgiu o primeiro dispositivo legal referente ao tema, em seu artigo 28:
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
Logo após a concretização da teoria da desconsideração no Código de Defesa do Consumidor, tivemos um grande avanço, pois o tema foi introduzido em 1994 na Lei 8884, chamada Lei Antitruste, em seu artigo 18. Nele esta descrito que a personalidade da pessoa jurídica poderá ser desconsiderada nas mesmas hipóteses descritas no artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor, prevê também a hipótese de desconsideração quando ocorre falência, estado de insolvência, encerramento ou quando a inatividade da sociedade for porcada por má administração. 
E novamente em 1998, foi introduzida em nosso ordenamento jurídico, na lei de Crimes Ambientais, Lei n° 9.605/1998, artigo 4º que dizo seguinte: “Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”. 
E o grande marco da teoria da desconsideração da personalidade jurídica em nosso ordenamento, foi com a entrada em vigor do Novo Código Civil Brasileiro em 2002, onde no artigo 50 fica descrito as hipóteses para desconsiderar a pessoa jurídica, concretizando o que já era unanime para a doutrina e jurisprudência. 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
3.2 Da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica
Depois da personalização da sociedade, o exercício de suas atividades com o passar dos anos nem sempre foram realizados de forma correta, muitos sócios usam da autonomia patrimonial para realização de fraudes ou abusos de direitos, em relação a credores, de todas as espécies, trabalhadores e empregados através de sua empresa. (FIUZA, 2004)
Com o objetivo que proibir esse tipo de conduta, pois elas acabariam gerando problemas na ordem social, surge à teoria da desconsideração de personalidade jurídica. Que tem como objetivo possibilitar a proibição da fraude, sem comprometer o próprio instituto da pessoa jurídica, preservando seu patrimônio. (COELHO, 2004). A teoria afasta provisoriamente a autonomia patrimonial da pessoa jurídica para que o patrimônio dos sócios mal intencionados seja diretamente atingido. 
O termo desconsideração, quando complementado com a palavra “desconsideração da personalidade jurídica”, tem com significado ignorar, invalidar, tornar sem efeito, quer dizer, não reconhecer a personalidade jurídica de deliberada sociedade. 
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho entendem que:
A doutrina da desconsideração pretende o superamento episódico da personalidade jurídica da sociedade, em casa de fraude, abuso, ou simples desvio da função, objetivando a satisfação do terceiro lesado junto ao patrimônio dos próprios sócios, que passam a ter responsabilidade pessoal pelo ilícito causado. (2006, p.228)
A teoria da personalidade jurídica não visa e extinção da mesma no mundo dos negócios, somente que essas fraudes cometidas pelos sócios seja superada. Gilberto Gomes Bruschi, citando em sua obra Marçal Justen Filho:
A ineficácia que se pretende ser configurada ao desconsiderar a personalidade jurídica é a relativa, pois somente ocorre a desconsideração quando o negócio jurídico for ineficaz para determinada pessoa e eficaz para as demais. Deve-se ter em vista também que “a ineficácia relativa não se confunde com a anulabilidade, porquanto o ato anulável é dotado de eficácia até o instante em que for desconstituído (com efeitos extunc). Na ineficácia relativa, o ato jurídico produz seus efeitos, “mas não são efeitos que se produzam perante terceiros, ilimitadamente. O direito estatui a validade do ato, mas sua eficácia subjetiva é delimitada. (2009, p.34)
Importante ressaltar, que essa teoria não tem a ideia de eliminar à personalidade jurídica, mas sim a capacidade de separar as sociedades de seus sócios para que todos os credores possam assegurar seus créditos e não ficarão restritos ao patrimônio da sociedade. Rubens Requião (1989, p. 50) diz:
O mais curioso é que a ‘disregard doctrine’ não visa a anular a personalidade jurídica, mas somente objetiva desconsiderar no caso concreto, dentro de seus limites, a pessoa jurídica, em relação às pessoas e os bens que atrás dela se escondem. É caso de declaração de ineficácia especial da personalidade jurídica para determinados efeitos, prosseguindo todavia a mesma incólume para seus outros fins legítimos.
Elizabeth Freitas segue no mesmo pensamento:
A desconsideração da Personalidade Jurídica, ao contrário do que muitos acreditam, não é de forma alguma instrumento jurídico para acabar com a pessoa jurídica; é na verdade mecanismo jurídico para protegê-la contra fraudes e abusos, oferecendo-lhe critérios para tanto. (2002, p.57)
A Desconsideração da Personalidade Jurídica deve ser aplicada sempre como exceção e não como regra, observando sempre o cumprimento dos limites determinados, caso eles forem ultrapassados, será então, desconsiderada a personalidade jurídica. 
Existem três pressupostos de desconsideração da personalidade jurídica, que estão elencadas no artigo 50 do Código Civil Brasileiro; atributiva, confusão patrimonial, fraude e abuso. Dessa forma, não basta à mera insuficiência patrimonial da pessoa jurídica, é preciso a prova de um motivo previsto em lei para entrar no patrimônio dos sócios.
A primeira hipótese trata-se das características das pessoas físicas membros da sociedade que podem ser atribuídas a pessoa jurídica e vice-versa. É nesse caso em que os sócios ou administrados aproveitam da sociedade para cometer atos abusivos, que atinge diretamente a pessoa jurídica. 
Na segunda hipótese, encontramos o desvio de finalidade. Ocorre quando não é mais possível diferenciar o que é patrimônio dos sócios e o que é patrimônio da sociedade, os mesmos utilizam a sociedade para fins diversos daqueles almejados pelo legislador. Como exemplo, quando um sócio utiliza o cartão da empresa para gastos pessoais, ou usa a conta pessoal para gastos da pessoa jurídica. 
Carlos Henrique Zangrando descreve o desvio de finalidade da seguinte forma:
Prática de certos atos pelos administradores que, embora atuando nos limites de seus poderes, desvirtuam seus objetivos ou suas finalidades, afastando-as daquelas esperadas pela lei ou desejadas pelo interesse social. Seria, portanto, a violação ideológica da lei ou do bem comum, colimando o administrador o administrador da empresa fim não desejado pelo legislador, ou utilizado motivos e meios imorais para prática de um ato de administração na empresa, aparentemente legal. (2003, p. 663)
Para Luiza Ranguel de Moraes o desvio de finalidade: 
Ocorre quando o autor do ato, embora atuando nos limites de sua competência, o pratica por motivos ou com fins diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público. O desvio de finalidade ou de poder é, assim, a violação ideológica da lei ou, por outras palavras, a violação material e moral da lei.
Terceira e última hipótese, sócios ou administradores que comentem fraude ou abuso. Nesses casos a personalidade jurídica poderá ser desconsiderada, porem os mesmos tem que ter intenção de fazê-las.
A responsabilidade em caso de desconsideração, nem sempre cai para todos os sócios da sociedade. O mais comum é que o sócio controlador seja responsabilizado pelos atos. Entretanto, a possibilidade que outros sócios, ou até mesmo um administrador, também possam ser responsabilizados. Todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente na pratica do abuso ou fraude podem ser atingidos pela desconsideração. 
3.2.1 Teorias Vigorantes no Brasil
Existem duas teorias sobre a aplicação da personalidade jurídica: a teoria maior e a teoria menor. 
3.2.2 Desconsideração Inversa da Personalidade Jurídica
A desconsideração inversa da personalidade jurídica vem sendo utilizada pela doutrina e jurisprudência a muito tempo. Seu objetivo é a busca pela responsabilização da sociedade no que é referente à dividas ou atos praticados pelos sócios, aproveitando para isto, a quebra da autonomia patrimonial. 
Em linha com isso, Coelho (2004, p. 45) explica:
A desconsideração invertida ampara, de forma especial, os direitos de família. Na desconstituição do vínculo de casamento ou união estável, a partilha dos bens comuns pode resultar fraudada. Se um dos cônjuges ou companheiros, ao adquirir bens de maior valor, registra-os em nome da pessoa jurídica sob o seu controle, eles não integram, sob o ponto devista formal, a massa familiar. Ao se desconsiderar a autonomia patrimonial, será possível responsabilizar a pessoa jurídica pelo devido ao ex-cônjuge ou ex-companheiro do sócio, associado ou instituidor. [...] Nesse condão, para se ver livre e dispensado de prestar contas da circulação dos bens comuns, o cônjuge transfere todo e qualquer patrimônio para o rol de bens da pessoa jurídica que é administrada por ele, facilitando o trânsito do parceiro empresário. Seguindo a mesma linha, o cônjuge preocupado com a partilha judicial, retira-se da sociedade às vésperas do intento separatório, transferindo a sua participação para outro sócio. Após a separação judicial, ele retorna à empresa e à livre administração dos bens que eram comuns ao casal.
Podemos observar do instituto no julgado a seguir:
“Ementa: Apelação Cível. Locação. Embargos de Terceiros. Penhora. Desconsideração de Personalidade Jurídica Reconhecida, na forma inversa. Existência de dados fáticos que autorizam a incidência do instituto. Possibilidade da penhora de bens da empresa autorizada diante das circunstâncias excepcionais comprovadas nos autos e já destacadas pela sentença, que vai confirmada por seus fundamentos. APELO IMPROVIDO.” (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - Décima Sexta Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70017992256/ Rel. Desembargadora Helena Ruppenthal Cunha/ Julgado em 07.03.2007).
Conseguimos entender a desconsideração inversa, como sendo um desmembramento teórico da teoria da desconsideração, cuja sede normativa é o art. 50 do CC/2002. Nesse sentido, Fábio Ulhôa Coelho define da seguinte forma, “desconsideração inversa é o afastamento do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por obrigação do sócio”. Na desconsideração inversa a responsabilidade ocorre no sentido oposto, isto é, os bens da sociedade respondem por atos praticados pelos sócios.
Zilda Consalter e Vinicius Dalazona (2009, p.59) também entendem que: 
[...] responsabiliza-se a sociedade por dívidas do sócio, quando este, visando a lesar credores, transfere bens para a pessoa jurídica, continuando a deles gozar livremente. Num primeiro momento, não se pode executar o ente moral, dada a autonomia patrimonial. Não obstante, uma vez levantado o vèu que escondia o lícito, possibilita-se a satisfação dos credores lesados.
 
Uma das principais fraudes cometidas pelos sócios é o desvio de bens, acontece quando um deles transfere para a sociedade bens que são absolutamente seus, obtendo seu total controle, desse jeito, os credores não poderão buscar estes bens para conseguir recuperar seu crédito. 
Normalmente a desconsideração inversa é no ramo do direito de família, aonde o sócio, com a intenção de evitar a partilha de bens ou vê-los penhorados, desviam seus bens para a sociedade da qual eles tem o total controle. Dessa maneira, o sócio continua a desfrutar dos bens que foram transferidos, porém, os mesmos não fazem mais parte de seu patrimônio. (SOUZA, 2009)
Nessa linha de pensamento, Rolf Madaleno (1998, p. 27), fala acerca da desconsideração inversa no Direito de Família e a aplicação dos princípios da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, afirmando:
“É larga e procedente a sua aplicação no processo familiar, principalmente frente à constatação nas disputas matrimoniais, do cônjuge empresário esconder-se sob as vestes da sociedade, para a qual faz despejar, se não todo, o rol mais significativo de seus bens (...) quando o marido transfere para a sua empresa o rol significativo de seus bens matrimoniais, sentença final de cunho declaratório haverá de desconsiderar esse negócio específico, flagrada a fraude ou o abuso, havendo, em consequência, como matrimoniais esses bens, para ordenar a sua partilha no ventre da separação judicial, na fase destinada a sua divisão, já considerados comuns e comunicáveis”.
Diante dessas práticas ilícitas, o magistrado pode desconsiderar, no âmbito da sentença judicial, lançada no processo de separação ou de dissolução de união estável, as alterações contratuais que transferiram ou reduziram a participação social do cônjuge empresário, estando, pois, autorizada a partilha conjugal diante da aplicação da desconsideração inversa.
Como essa situação está cada vez mais presente nos tribunais, os juízes vem aplicando a teoria da desconsideração inversa para desfazer esta fraude. 
Nessa mesma linha, segue o julgado do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, onde decidindo a Apelação Cível nº 1999.001.14506 asseverou:
SEPARAÇÃO JUDICIAL. RECONVENÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. MEAÇÃO. O abuso de confiança na utilização do mandato, com desvio de bens do patrimônio do casal, representa injúria grave do cônjuge, tornando-o culpado pela separação. Inexistindo prova da exagerada ingestão de bebida alcoólica, improcede a pretensão reconvencional. É possível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, usada como instrumento de fraude ou abuso à meação do cônjuge promovente da ação declaratória, para que estes bens sejam considerados comuns e comunicáveis entre os cônjuges, sendo objeto de partilha. A exclusão da meação da mulher em relação às dívidas unilateralmente pelo varão, só pode ser reconhecida em ação própria, com ciência dos credores. (Rio de Janeiro. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 1999.001.14506, da 8ª Câmara Cível. Apelante: Luiz Carlos Sampaio Martinez e Marine Lacerda Martinez. Apelados: os mesmos. Relatora: Juíza Letícia Sardas. Rio de Janeiro, 07 de dezembro de 1999. 
Ainda no direito de família, é importante transcrever a decisão, que bem demonstra a distinção entre as duas formas da desconsideração: 
A conveniência de sua utilização no âmbito do Direito de Família já foi abordada por Rolf Madaleno, em seu artigo intitulado “A disregard no Direito de Família”, publicado na Revista Ajuris, 57/57-66: O usual dentro da teoria da despersonalização (sic) é equiparar o sócio à sociedade, e que dentro dela se esconde, para desconsiderar seu ato ou negócio fraudulento ou abusivo e, destarte, alcançar seu patrimônio pessoal, por obrigação da sociedade. Já no Direito de Família sua utilização dar-se-á de hábito, na via inversa, desconsiderando o ato, para alcançar bem da sociedade, para pagamento do cônjuge credor familial, principalmente frente à diuturna constatação nas disputas matrimoniais, de o cônjuge empresário esconder-se sob as vestes da sociedade, para a qual faz despejar, senão todo, ao menos o rol mais significativo dos bens comuns. (Rio Grande do Sul. TJRS. 7ª Câmara. Ap. Cív. n. 598082162. Rel. Des. Maria Berenice Dias.)
Embora a consequência de sua aplicação seja inversa, sua razão de ser é a mesma da desconsideração da personalidade jurídica propriamente dita, qual seja: combater a utilização indevida do ente societário por seus sócios. Em sua forma inversa, apresenta-se como um mecanismo rápido para proibir a prática de transferência de bens para a pessoa jurídica sobre o qual o devedor detém controle, evitando com isso a excussão de seu patrimônio pessoal.
Conclui-se, portanto, que a aplicação da teoria da desconsideração inversa deve ser feita de forma excepcional e, tão somente, quando restar comprovado que sócio se valeu da autonomia patrimonial para praticar atos fraudulentos, ou quando exercer de forma abusiva seus direitos em relação à sociedade.
4 Conclusão
A aplicabilidade da teoria da desconsideração da personalidade jurídica vem utilizada desde o século XIX, foi desenvolvida pela doutrina e jurisprudência para evitar as fraudes e abuso de direito, auxiliando como um instrumento de boa fé no controle da pessoa jurídica. É importante ressaltar ainda que a desconsideração da pessoa jurídica se dá apenas sobre os atos que foram ilícitos e fraudulentos, e somente esses irão perder sua eficácia, enquanto isso, a pessoa jurídica continua funcionado normalmente com relação as suas atividades que estiverem de acordo com o ordenamento jurídico.
Em sua evolução histórica, o incidenteda desconsideração da personalidade jurídica, veio ganhando força na doutrina e jurisprudência pelos países da Europa, ganhando mais forma na Inglaterra e Estados Unidos, com o estudo de casos concretos relacionados diretamente ao tema. Depois de muitos anos, o Brasil também adotou a teoria, trazendo muita discussão e repercussão doutrinaria a respeito do assunto. Uma das principais discussões era a respeito dos pressupostos e requisitos da desconsideração, surgindo então, as chamadas teorias maior e menor.
A teoria maior exige o requisito específico do abuso caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Já a teoria menor, é bem menos elaborada, pois o simples inadimplemento para com os credores, já caracteriza a desconsideração. Essa teoria foi adotada pelo CDC e pela legislação ambiental.
O código Civil de 2002 adotou em seu artigo 50 a teoria maior da desconsideração da pessoa jurídica, sem aplicado somente em casos específicos, com os requisitos listados no artigo. Depois de desconsiderada a pessoa jurídica, fica suspenso o princípio da autonomia patrimonial entre a pessoa jurídica e seus sócios, até a resolução do conflito. Após caracterizado o ato ilícito do sócio ou administrador, fica desconsiderada a personalidade jurídica, e os sócios respondem com seu patrimônio pessoal por todos os danos causados a terceiros prejudicados. 
A nossa jurisprudência vem aplicando muito bem o instituto da desconsideração da personalidade jurídica, pretendendo não proteger apenas os terceiros que estão sendo prejudicados pelas condutas ilícitas realizadas por sócios e administradores, mas proteger também a personalidade jurídica, evitando os abusos praticados para prejudicar terceiros. 
Referencias 
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MADALENO, Rolf Hanssen, Direito de Família, aspectos polêmicos, 1ª ed., Livraria do Advogado Editora, 1998. 
MORAES, Luiz Ranguel de. Considerações sobre a teoria da personalidade jurídica e sua aplicação na apuração de responsabilidades dos sócios e administradores de sociedades limitadas e econômicas. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, v.25, jul./set. 2004
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ZANGRANDO, Carlos Henrique. A prescrição da responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade e o Novo Código Civil brasileiro. Revista LTr, v.67, n.6, jun. 2003.
A jurisprudência a seguir é uma verdadeira aula sobre o assunto. Vale a pena ler:
Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. Shopping Center de Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério Público. Legitimidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor. Limite de responsabilização dos sócios. Código de Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, § 5º.
- Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da ordem econômica, e incumbindo ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial legitimidade para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos de consumidores, decorrentes de origem comum.
- A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração).
- A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente noDireito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.
- Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
- A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada na exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.
- Recursos especiais não conhecidos. (STJ - REsp 279273 / SP - Ministra Nancy Andrighi - Terceira Turma – Publicação em 29/03/2004)

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