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2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 MICROBIOLOGIA AULA 9 Doenças Pós-Estreptocócicas FEBRE REUMÁTICA Doença pós-estreptocócica, não supurativa, que ocorre após infecções do trato respiratório, causadas por S. pyogenes. Desencadeada pelo mimetismo antigênio entre componentes do S. pyogenes e estruturas do hospedeiro. Decorrente de resposta imune humoral e celular anormal, desenvolvida por indivíduos susceptíveis. Caracterizada por um processo inflamatório sistêmico, com manifestações clínicas em todo corpo: • Coração: Cardite e valvulite (30 a 45%). • Articulações: Poliartrite migratória (~90%). • SNC: Coreia (<10%) • Pele: Eritema marginatum (<10%) e nódulos subcutâneos (<10%). PATOGENIA A patogenia da doença é mediada por mecanismos de autoimunidade induzidos por componentes do S. pyogenes¸ tais como a proteína M e o carboidrato do grupo A, que são semelhantes a proteínas humanas, especialmente proteínas do tecido cardíaco e das válvulas cardíacas. Anticorpos produzidos contra o estreptococo e linfócitos TCD4 sensibilizados reconhecem cruzadamente proteínas cardíacas homólogas a antígenos do estreptococo, ocorrendo uma inflamação, com acúmulo de linfócitos e células fagocitárias e consequente lesão tecidual. O endotélio lesado passa a expressar moléculas de aderência que facilitam a ligação de células TCD4, potencializando o processo inflamatório. QUADRO CLÍNICO • Artrite: Poliatrite migratória, dor e edema. • Valvulite e cardite: Sopro cardíaco, aumento do coração, dispnéia, falência cardíaca congestiva. • Coreia: Movimentos involuntários e repetitivos, fraqueza muscular e irritabilidade. • Eritema marginatum: Erupção macular com bordos redondos, geralmente no tronco. • Nódulos subcutâneos: Geralmente sobre as articulações. EPIDEMIOLOGIA Acomete cerca de 3 a 4% dos indivíduos com faringo-amgdalite estreptocócica não tratada. Há maior incidência em pessoas de 5 a 15 anos. Os sintomas aparecem cerca de 1 a 5 semanas após a infecção por S. pyogenes no trato respiratório. A cada novo contato com S. pyogenes pode haver um novo ataque. Sua ocorrência depende da susceptibilidade genética do indivíduo ou do sorotipo de estreptococo do grupo A (1, 5, 6, 14, 18, 24). DIAGNÓSTICO • Clínico: Critérios de Jones (2 major ou 1 major + 2 minor e evidência de infecção prévia por S. pyogenes) → Critérios major: Cardite (40 a 60%), poliartrite migratória (75%), corea de sydenham, eritema marginado e nódulos subcutâneos. → Critérios minor: Febre, atralgia, VHS elevado, proteína C reativa elevada, leucocitose e intervalo PR aumentado. → Evidências de infecção prévia por S. pyogenes: Cultura ou teste rápido positivo para S. pyogenes e/ou título elevado de anticorpos ASLO ou anti- DNAse. • Laboratorial: VHS e proteína C reativa altas, pesquisa de estreptococo na orofaringe e sorologia (anti-estreptolisina O, anti-DNAse B e anti- hialuronidase). TRATAMENTO • 1ª etapa: Erradicação do estreptococo da orofaringe. → Penicilina G benzatina (1 dose). → Penicilina V (10 dias). Supurativa é um adjetivo, o qual qualifica aquilo que produz ou facilita a saída de pus. Coreia é uma desordem neurológica caracterizada por movimentos involuntários e rápidos, não rítmicos e não suprimíveis, principalmente dos músculos distais e da face. Alguns indivíduos que possuem determinados fenótipos do MHC classe II, apresentam susceptibilidade genética para desenvolver febre reumática. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 → Amoxicilina (10 dias). → Macrolídeos em caso de alergia a penicilina. → Anti-inflamatório como AAS ou esteroides. • 2ª etapa: Prevenção de ataques recorrentes por pelo menos 5 anos. → Penicilina G benzatina (1 dose a cada 3 ou 4 semanas). → Penicilina V (diariamente). → Macrolídeos (diariamente). PREVENÇÃO • Primária: Tratamento precoce e adequado da faringo-amigdalite estreptocócica da população. → Penicilina G benzatina (1 dia). → Penicilina V (10 dias). → Macrolídeos em caso de alergia a penicilina. • Secundária: Prevenção de ataque recorrentes em indivíduos que já tiveram um episódio. → Penicilina G benzatina (1 dose a cada 3 ou 4 semanas). → Penicilina V (diariamente). → Macrolídeos (diariamente). GLOMERULONEFRITE AGUDA Doença pós-estreptocócica caracterizada por inflamação aguda dos glomérulos renais, com edema, hipertensão, proteinúria e hematúria. Ocorre após infecção estreptocócica da pele ou do trato respiratório. PATOGENIA Deposição de complexos imunes circulantes nas paredes dos glomérulos, a partir disso, ocorre a ativação de C, reação inflamatória e liberação de fatores quimiotáticos e anfilatoxinas. As enzimas proteolíticas liberadas pelas células fagocitárias promovem lesão tecidual. Há deposição de fibrina, plaquetas e células, provocando a obstrução dos glomérulos e prejudicando a função renal. EPIDEMIOLOGIA Há uma correlação entre os sorotipos de estreptococos (amostras nefritogênicas), a infecção prévia e a ocorrência de glomerulonefrite. Por exemplo, os sorotipos 2, 42, 49, 56 e 57 causam infecções de pele, enquanto os sorotipos 1, 4, 12 e 25 causam infecções do trato respiratório. Manifestações ocorrem 3 a 6 semanas após a infecção da pele ou 1 a 2 semanas após infecção do trato respiratório. Os homens são 2 vezes mais afetados que as mulheres e não é frequente a ocorrência de um segundo ataque. QUADRO CLÍNICO • Edema; • Hipertensão; • Hematúria; • Proteinúria; • Febre; • Função renal alterada; • Anorexia; • Náuseas; • Mal-estar. DIAGNÓSTICO • Laboratorial: VHS elevada e C3 reduzida. Sorologia (Ac anti-DNAse B e anti-hialuronidade, ASLO após infecções TR). TRATAMENTO Uso de antimicrobiano, diurético, anti-hipertensivo e repouso.
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