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Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 1 Aula 1 Escada Analgésica OMS Serve para não administrar um medicamento muito forte que pode levar o paciente a ter uma dependência dessa medicação. Dor aguda: usar a escada de forma descendente, ou seja, usar o terceiro ou segundo degrau nos primeiros dias de hospitalização ou após cirurgias/procedimentos dolorosos de acordo e as escalas de mensuração de dor e associados a técnicas de analgesia ou anestesia regional em princípios de analgesia multimodal. Nos dias subsequentes ao trauma tecidual, descer a escada. Dor crônica: Inicia-se pelo 1º degrau para dores fracas. Sem alívio da dor, seguimos para o 2º degrau. Quando esta combinação é insuficiente deve-se substituir este opioide fraco por um opioide forte. Somente um medicamento de cada categoria deve ser usado por vez. AINEs Para ser um AINE o medicamento precisa ter 3 características: 1. Anti-inflamatório 2. Analgésico 3. Antipirético Dependendo do medicamento, ele pode ser melhor anti- inflamatório, ou melhor analgésico ou melhor antipirético Paracetamol e dipirona são bons analgésicos e antipiréticos, mas não anti-inflamatório → analgésicos não opioides Cascata da Inflamação: - Dita a escolha do AINE Na menstruação, ocorre aumento da prostaglandina 2α para contração uterina causando cólica. Por isso que em cólicas menstruais prescrevemos um anti-inflamatório, porque essa dor é advinda da inflamação normal pela COX-1 da menstruação (Buscofem → ibuprofeno). - AINE bloqueia a COX, logo, a via da LOX está agindo normalmente. Os medicamentos adjuvantes devem ser associados em todos os degraus da escada, de acordo com as indicações específicas (antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, bifosfonados, corticosteróides, etc.). Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 2 Características que devem ser levadas em consideração na escolha do AINE: → AINEs não seletivos inibem a produção de prostaglandinas na mucosa gastrointestinal, podendo causar gastroduodenite, úlcera gástrica e sangramento digestivo, mas em diferentes dosagens podem ser usadas para profilaxia de doenças cardiovasculares; → AINEs de ligação irreversível à COX-1 reduzem a produção plaquetária de tromboxano A2 e previnem a trombose arterial → AINEs inibidores seletivos da COX-2 não agridem o estômago, mas aumentam o risco cardiovascular Como escolher um AINE: - Pelo tempo de uso - Condição de saúde do paciente - Seletividade para COX - Dose Classificação: Ácido acetilsalicílico → única que faz inibição irreversível de COX-1 e por isso pode fazer quadros hemorrágicos porque o TXA2 não é produzido 100 mg nem tem ação anti-inflamatória, precisaria Apirina de 500 mg Tradicionais → todos que inibem COX-1 e 2 (alguns inibem mais um do que outro) Altamente seletivos COX-2 → são os coxibes, precisam de prescrição médica Altamente Seletivos COX-2 Diferente dos seletivos São coxibes (celocoxibe - Celebra, etoricoxib - Arcoxia) Não bloqueiam a formação de tromboxano A2 e não exercem ação antiplaquetária porque inibem de forma insignificante a COX-1 O aumento do risco cardiovascular poderia resultar da não oposição às ações do TXA2 e da propensão à trombose Reduzem a produção de prostaciclina (PGI2) por inibir de forma importante a COX-2. A PGI2 é importante nos vasos para fazer uma leve vasodilação para proteger do estresse de cisalhamento (atrito do sangue no vaso) Esses medicamentos NÃO PODEM ser prescritos para pacientes com problemas de coagulação e cardiovascular Muito bom para pacientes sem problemas cardiovasculares, mas com problemas gástricos que precisam fazer uso de anti-inflamatório Estudos têm mostrado que a COX-2 tem efeito cardioprotetor Analgésicos Não Opioides Paracetamol: Analgésico e antipirético Mecanismo de ação não é completamente entendido Menos eficiente nas dores inflamatórias e viscerais Toxicidade: Causada pela biotransformação do medicamento em N- acetil-p-benzoquinonaimina (NAPB), que é eliminada pelo fígado com glutationa. Níveis tóxicos de paracetamol esgotam a glutationa e a NAPB se acumula NAPB se liga a proteínas vitais e à bicamada lipídica dos hepatócitos, o que resulta em morte hepatocelulr e necrose hepática Antídoto é a N-acetil-cisteína (NAC) que evita a formação de NAPB, aumenta os estoques de glutationa e se combina NAPB (substituta da glutationa) Dipirona: Tem potente efeito analgésico, até na cólica por ter efeito espasmolítico Potente antipirético Doses mais altas são necessárias para cólica biliar Reação adversa é grave → depressão da medula óssea (agranulocitose) Em IV rápida pode causar hipotensão Aula 2 Analgésicos Opioides Ópio é um extrato do suco da papoula que contém alcaloides vegetais naturais. Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 3 Opiáceos: compostos estruturalmente iguais aos produtos encontrados no ópio, como a morfina, codeína e tebaína. Opioide: qualquer composto, independente de sua estrutura, que possua as propriedades funcionais e farmacológicas de um opiáceo Opioides Endógenos: Existem várias famílias de opioides endógenos, principalmente as encefalinas, endorfinas e dinorfinas. Receptores Opioides: Existem 3: µ (mi), (capa) e (delta) Sua ativação inibe a sinalização de dor por inibir a atividade da adenilato-ciclase, reduzir a abertura dos canais de cálcio e estimular o transporte de potássio Mecanismo de Ação: São agonistas dos receptores opioides Toda vez que o medicamento modula o funcionamento de um receptor, significa que ele substitui ou simula algum mediador fisiológico Os opioides mimetizam os neuropeptídeos opiodes endógenos Agonistas dos receptores µ (mi), (capa) e (delta) → os 3 promovem analgesia Cada uma dessas famílias apresenta uma especificidade diferente para os fármacos com os quais elas se ligam µ é o principal e mais potente receptor que bloqueia a dor, mas também é o que mais causa efeitos adversos. Eles bloqueiam a despolarização por ativar as famílias de receptores citadas acima no neurônio pré e pós- sináptico. Os 3 receptores são acoplados à proteína G metabotrópicos e inibem a adenililciclase. Quando ativados, eles aumentam o efluxo pós-sináptico de K+, causando hiperpolarização ou vão reduzir o influxo pré- sináptico de Ca+2, impedindo assim o disparo neuronal e a liberação do transmissor. Reduzem a transmissão dos sinais de dor de um nervo para outro No neurônio pré-sináptico a ativação do receptor opioide inibe a entrada de cálcio e faça a liberação da vesícula com neurotransmissores excitatórios como o glutamato No neurônio pós-sináptico, a ativação do receptor de opioide aumenta o efluxo de potássio e diminui a resposta do neurônio pós-sináptico aos neurotransmissores excitatórios Locais de Ação: Tanto no SNC quanto no SNP Medula Espinal: atuam diretamente sobre os receptores nos terminais de neurônios sensoriais aferentes primários no corno dorsal da medula espinal inibindo a liberação de transmissores excitatórios; Tálamo: - atuam em vias ascendentes para inibir diretamente a transmissão da dor da medula espinal para centros superiores; Área Cinzenta do Mesencéfalo e Medula Ventral Rostral (núcleo da rafe magna): ativam neurônios inibitórios descendentes até a medula espinal, impedindo a transmissão da dor. Córtex Cerebral, Amigdala e Hipocampo: diminuem a reatividade emocional à dor, diminuindo assim a percepção Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 4 Efeitos Adversos: Hipotensão Disforia (ansiedade, depressão e mal-estar) Euforia Sedação Constipação Retenção urinária Náusea e vômito Dependência Depressão respiratória Tolerância: redução da eficácia por causa da administração repetida ou contínua. Depois da remoção do medicamento, a tolerância desaparece ao longo de várias semanas. Um dos mecanismos mais aceitos é pelo desacoplamento da proteína G do receptor. Dependência: quando se desenvolve a síndrome de abstinência específica para a classe de fármaco quando há interrupção de administração. Abstinência: presença do desejo da droga, uso compulsivo do medicamento. Aula 3 Farmacoterapia da Dor Neuropática Hoje os principais medicamentos para dor neuropática são: → Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina) → Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (duloxetina e venlafaxina) → Anticonvulsivantes (carbamazepina, lamotrigina) → Estabilizadores de membranas gabapentinoides (gabapentina e pregabalina) – são novos e bem tolerados → Opioides (agentes duais – tramadal) → Agentes tópicos (lidocaína tópica) Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 5 A associação dos medicamentos causa um efeito sinérgico para alívio da dor Opioide + AINEs – opioide faz ação central de alívio da dor e, em associação com AINE que faz ação mais periférica de alívio da dor, permite que a dose do opioide seja diminuído. Gabapentinoides São anticonvulsivantes Ligam-se aos canais de cálcio pré-sinápticos, diminuindo a liberação de neurotransmissores excitatórios na fenda sináptica. Gabapentina e pregabalina são bem toleradas e tem poucas interações farmacológicas Primeira linha na dor neuropática Antidepressivos Tricíclicos (ADT) A amitriptilina e a nortriptilina são os fármacos mais utilizados deste grupo. Bloqueiam a recaptação da serotonina e noradrenalina, a hiperalgesia induzida pelo agonista NMDA, e bloqueiam os canais de sódio. Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN) ou Antidepressivos Duais Primeira linha para tratamento de dor neuropática Duloxetina apresenta boa evidência na dor por neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética e também na dor musculoesquelética e fibromialgia. A venlafaxina inibe a recaptação de serotonina e noradrenalina em porcentuais diferentes - 70 e 30%. Eficaz nas polineuropatias de diferentes origens, especialmente a diabética. Opioides Opção para pacientes com nenhum ou alívio parcial da DN com fármacos de 1ª linha (gabapentinóide / ADT/IRSN). Todos os opioides podem ser eficazes na DN, mas alguns, devido ao mecanismo de ação, apresentam melhor analgesia como o tramadol, metadona, oxicodona e buprenorfina Em algumas situações clínicas os opioides são considerados como fármacos de primeira linha para a DN: para alívio imediato da dor moderada a intensa durante a titulação dos outros fármacos, nas exacerbações episódicas de dor intensa, na DN aguda ou relacionada ao câncer. Não são usados de forma prolongada, apenas em pacientes em cuidados paliativos. Aula 4 Anestésicos Locais e Gerais Anestésicos Locais Induzem anestesia local sem induzir inconsciência. Infiltra-se substâncias anestésicas nas proximidades da área a ser operada (cirurgia de superfície de pequeno ou médio porte) Podem ser utilizados por via tópica, para infiltração, bloqueio, anestesia peridural e raquianestesia Auxiliam no tratamento da dor pós-operatória quando utilizada sozinha ou em associação com outras técnicas anestésicas Potência: relação direta com a lipossolubilidade do fármaco Grau de lipossolubilidade: é o principal determinante da potência anestésica intrínseca. Masssss... Quanto maior a lipossolubilidade, maior a toxicidade e menor a margem de segurança do anestésico local Não pode aplicar em locais infeccionados, primeiro deve- se tratar a infecção por causa do pH ácido do tecido que ioniza o fármaco e ele perde a ação. Não faz bloqueio local, mas regional → dedão do pé está infeccionado, bloqueamos o pé inteiro Mecanismo de Ação: Bloqueiam a condução nervosa de impulsos sensitivos da periferia para o SNC, bloqueando canais de Na+ de nervos segmentares. Inativação de canais de Na+ nas membranas axonais, aumenta o limiar para a excitação axonal Em geral, a progressão da anestesia está relacionada ao diâmetro, mielinização e velocidade de condução das fibras nervosas afetadas Clinicamente, a sequência na perda da função nervosa é como segue: (1) dor, (2) temperatura, (3) tato, (4) propriocepção, (5) tônus muscular esquelético. Possuem 2 grupos: Ésteres: Mais instáveis em solução e não podem ser armazenados por tanto tempo quanto as amidas O metabolismo ocorre no plasma local da aplicação O metabolismo resulta na produção de ácido para- aminobenzóico (PABA) que pode causar reações alérgicas Prurido regional, dermatite alérgica, rash cutâneo Se o paciente apresentar alergia, deve-se usar as amidas - Benzocaína (uso tópico) - Procaína (injetável e de curta duração) - Tetracaína (muito tóxico) Amidas: Mais estável porque seu metabolismo ocorre no fígado Raramente causam alergia Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 6 - Lidocaína (potente e com moderada duração de ação – Xilocaína, Xylestin – anestésico de escolha para bloqueios locais para realização de sutura simples) Cuidar com o spray de lidocaína na pele lesionada porque a pele não íntegra ou mucosa absorve muito o medicamento de forma sistêmica, causando efeitos adversos Podem ser coadministrados com soluções diluídas de adrenalina, que produz vasoconstrição. Isso retarda a absorção do anestésico, o que prolonga seu efeito e reduz o risco de toxicidade sistêmica (além de diminuir sangramento). Não pode fazer isso em extremidades (dedos, face, ponta do nariz) - Mepivacaína - Bupivacaína (mais novo, com qualidade de anestesia e duração da ação, mas pode causar parada cardíaca de difícil reversão com convulsões) - Levobupivacaína (a mais nova de todas) - Ropivacaína Toxicidade: Eles causam mais intoxicação no SNC e aparelho cardiovascular. No cérebro as vias inibidoras são as primeiras a serem suprimidas e produzem inicialmente queixas do tipo gosto metálico na boca que podem progredir até convulsões, na medida em que as concentrações aumentam A depressão miocárdica se dá por vários fatores: inibição da liberação de Ca++ no retículo sarcoplasmático, bloqueio β-adrenérgico, diminuição da atividade da adenililciclase, diminuição da síntese do monofosfato cíclico de adenosina. A atividade terapêutica, e também a tóxica, é atribuída ao bloqueio dos canais de Na+ embora os fluxos de K+ e Ca++ também sejam alterados; Como Calcular a Dose Máxima Segura de Anestésico Local: Quando se relata a dose máxima de um anestésico, trata- se da dose segura para a maioria da população não sendo esperados efeitos colaterais nesta situação Entretanto, um pequeno número de indivíduos pode responder de forma diferente. Recomenda-se sempre que as menores doses sejam preferidas, para maior segurança do paciente Escolha baseada nas características do paciente como peso, idade e condição sistêmica Doenças hepáticas e renais favorecem maior toxicidade, assim como a desnutrição e o alcoolismo devido à redução de proteínas plasmáticas 1. Saber quanto mg de anestésico tem em cada frasco A porcentagem indica quantos gramas de medicamento existem em 100 ml de solução. 3% de lidocaína = em 100 ml existem 3g de anestésico Mas preciso saber em mg: 100 ml ------ 3g 100 ml ------ 3 000mg 1 ml --------- 30 mg Se um tubo tem 1,8 ml: 1 ml -------- 30 mg 1,8 ml ------ x 1 tubo = 54 mg 2. Saber qual é a dose máxima por peso (está na bula) Dose máxima é 4,4 mg/Kg Peso 65 Kg Dose máxima para o paciente = 286 mg 3. Quantos tubosvou precisar? 1 frasco --------- 36 mg X frasco --------- 286 mg 7,94 frascos vão ser necessários → Considere que você pretende infiltrar lidocaína 2% durante um procedimento em um paciente de 80Kg. Quantos mililitros podem ser administrados com segurança? A dose máxima da lidocaína fornecida pelo fabricante é de 4,4 mg/Kg 100 ml = 2 g / 2 000 mg 50 ml (1 frasco) = 1 000 mg 80 kg x 4,4 = 352 mg 50 ml ----- 1000 mg X ----------- 352 X = 17,6 ml Anestésicos Gerais Geram depressão do SNC, sem a manutenção da consciência Objetivos dessa anestesia: → Bloqueio da dor → Promover inconsciência → Bloquear e evitar reflexos atonômicos indesejados → Promover amnésia anterógrada (tudo que acontecer após a anestesia é esquecido) → Promover relaxamento muscular Fases: Indução: inconsciência, com uso de anestésicos e intubação, por meio dos bloqueadores neuromusculares (coadjuvantes); Maria Paula M. Mattei | Farmacologia UC 13 7 Manutenção: ajuste da qdade de medicamento inalado ou infundido → base em parâmetros clínicos e dados fornecidos através da monitorização do paciente; Recuperação: retorno a consciência com a retirada do anestésico. Para promover todos esses efeitos, os anestésicos gerais contam com auxílio de diversas classes de fármacos coadjuvantes: → Anticolinérgicos (atropina): proteger o coração de uma eventual parada durante a indução anestésica → Antieméticos: para inibir náusea e vômito durante a anestesia → Anti-histamínicos: para evitar reação alérgica e cooperar na sedação; → Barbitúricos: tanto ajudam na sedação quando na velocidade da sedação; → Benzodiazepínicos: para tratar a ansiedade (24h antes ou promover amnesia anterógrada antes do procedimento); → Opioides: analgesia → Relaxantes musculares: para realizar intubação (succinilcolina [despolarizante], vicurônio, pancurônio, rocurônio [não despolarizante]) Podem ser inalatórios ou venosos os anestésicos gerais Inalatórios: São os que induzem na maior parte das vezes Desenvolvem suas ações principais no SNC onde inibem a percepção da sensibilidade; São utilizados quando se deseja uma anestesia de maior duração, possibilitando o controle da profundidade da anestesia; Manutenção da anestesia geral (média/longa duração). Estrutura: os principais utilizados atualmente são os hidrocarbonetos halogenados. Halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano Venosos: Utilizados para induzir a anestesia, mas mais para mantê-la por curto período de tempo; Comumente usados para produzir sedação durante cuidados anestésicos monitorados e pacientes sob cuidados intensivos (UTI); Com a introdução do Propofol a anestesia intravenosa também se tornou uma opção para a manutenção da anestesia. Principais representantes: propofol, etomidato, tipopental (barbitúrico), cetamina, fentanil
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