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Análise Técnica: Definitiva Preço, Volume, Ação! Análise Técnica: Definitiva Preço, Volume, Ação! DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) Rabello, José Rafael Análise Técnica: Definitiva – Preço, Volume, Ação! [livro eletrônico] / José Rafael Rabello. - São Paulo : Empiricus, 2018. 208 p. Formato: PDF ISBN: 978-85-92581-24-4 1. Preço 2. Ação - Economia financeira I. Título. CDD-332.8 Índices para catálogo sistemático: 1. Ação : Economia financeira 332.8 Empiricus, 2018 Todos os direitos reservados Empiricus Pátio Victor Malzoni Av. Brigadeiro Faria Lima, 3.477 – 10° andar Itaim Bibi – São Paulo/SP | CEP 04538-133 www.empiricus.com.br Edição Rafael Brandimarti Coordenação e preparação Erika Sá Revisão Sandra Guerreiro Diagramação Thales Mairesse Sumário Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1. Cabo de guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2. As leis naturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 3. Abecedário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4. A menor unidade dos gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5. Conectando os pontos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 6. Romeu e Julieta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 7. Um por todos e todos por um . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 8. Sem pivot, não há tendência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83 9. Estruturas das tendências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 10. Fractais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 11. Um é pouco, dois é bom, três é ainda melhor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 12. Tudo junto e misturado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .115 13. As leis da Física e do universo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 14. Contraprova e os efeitos colaterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 15. Bandas de Bollinger e a volatilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .145 16. Momento de reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 17. Volatilidade x risco x stop . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 18. Cestas de ovos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 19. Triplo R: risco x retorno x realização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171 20. Cauda longa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 21. Preço, volume, ação! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Análise Técnica: Definitiva 6 Prefácio Nunca tive qualquer vaidade ou ambição de escrever um livro. Não era uma prioridade, tampouco seria uma daquelas dez coisas que você precisa fazer nesta vida antes de morrer. Na verdade, a ideia nasceu naturalmente e com o objetivo principal de organizar os meus pen- samentos de maneira lógica e objetiva, e, assim, poder dar forma ao conteúdo, expondo aquilo que defendo e enxergo como sendo a análise técnica. Acredito que, dessa maneira, poderei alcançar um maior número de investidores, ajudando-os a tomar melhores decisões. Também não tenho a intenção de aproveitar este espaço para levantar bandeira acerca de qual metodologia ou escola é melhor para se operar nos mercados. Entendo que há espaço para todos e cada um deve ir à luta com as armas que entender serem mais convenientes ou adequadas. Acho curioso, até mesmo, que grande parte dos livros sobre esse tema dedique os primeiros parágrafos e capítulos para atacar outras práticas, utilizando o desmerecimento de métodos opostos como forma rasteira de convencimento. Aliás, não raro, vejo muito autores e traders vangloriando-se de suas capacidades, afirmando, em diversas narrativas, que apenas os grafistas conseguiram aproveitar ou antever momentos de crise para ganhar dinheiro. Não compartilho dessas falácias, pois, além de ser desrespeitoso ao trabalho, estudo e análise daqueles que pensam de maneira diferente, nestes tempos de tantos conflitos e polarização por toda a parte, vejo que correntes opostas de pensamento podem e devem coexistir, cabendo ao investidor a escolha por aquela com a qual mais se identifica. Ademais, se você utiliza o sistema A e ele funciona para você, por qual razão tentaria eu convencê-lo a usar o sistema B? O que posso Análise Técnica: Definitiva 8 fazer — e este é o meu trabalho aqui — é, de maneira não impositiva, apresentar-lhe um sistema para que possa conhecê-lo e, eventualmen- te, ter uma outra alternativa à sua disposição para análises de papéis na Bolsa. Este livro, portanto, sequer é dedicado apenas aos apaixonados por análise técnica, mas, sim, a todo e qualquer indivíduo que queira ler os gráficos, entender o momento da empresa e do papel pesquisado e fundamentar, com elementos adicionais, suas análises e concepções daquilo que está ocorrendo. Por fim, a ideia de deixar tudo registrado parte da vontade de compartilhar com o maior número de pessoas possível o entendimen- to que eu, particularmente, demorei anos para alcançar. Já aviso de antemão, no entanto, que não encontrarão métodos mirabolantes e milagrosos capazes de mudar o seu patamar financeiro da noite para o dia. Não vou prometer aquilo que não posso entregar, mas garanto que, ao fim da leitura, você estará plenamente apto a entender um pouco melhor como os preços se movimentam, tendo à disposição todas as ferramentas que o ajudarão a juntar as peças desse quebra-cabeça para obter um resultado melhor no mercado. Quando me interessei por análise gráfica e comecei a ler livros sobre o tema, sempre encontrei as mesmas definições, um tanto quanto engessadas, acerca dos seus padrões e funcionamento. A maioria deles, aliás, dedica várias páginas à apresentação dos diferentes tipos de figuras gráficas, suas definições e terminologias. Como você perceberá, não vou mencionar tais nomenclaturas, que, no meu modesto entendimento, têm pouco valor prático. Na realidade, diante da tentativade buscar ou identificar algumas dessas formações, gera-se uma série de distrações e subjetividades que poderão comprometer a interpretação adequada dos gráficos. Em muitos casos, a análise perde o foco e se afasta daquilo que realmente é essencial. Não quero estimular ninguém a procurar desenho em nuvem ou criar a percepção equivocada de que precisam reconhecer e dominar esses padrões para conseguirem operar no mercado com base na análise gráfica. Mais à frente, por curiosidade ou vontade, você poderá complementar o seu estudo e aprendizado com literaturas tradicionais. Por ora, minha intenção aqui é fazer com que você possa usufruir da aná- lise técnica sem técnicas preexistentes, abordando o tema da maneira mais objetiva e pragmática possível. Prefácio 9 Quero fugir dos “pré-conceitos”, da bitola e da decoreba que atrofia o cérebro e leva nosso intelecto a óbito prematuro. Se, ao término deste livro, você for capaz de filtrar aquilo que é desnecessário e tiver desen- volvido suas capacidades analíticas, estarei então satisfeito. Os insights, conceitos e premissas que estou prestes a dividir com você fizeram toda a diferença na qualidade das minhas análises, contribuindo enormemente para que, ao longo dos últimos dez anos, tivesse obtido um track record realista, consistente, positivo e, acima de tudo, superior ao benchmark. Falo isso para estimulá-lo a acreditar que pode chegar às próprias conclusões, de maneira independente e particular. Essa, aliás, foi uma das grandes lições que aprendi na faculdade. Na ocasião, tinha um pro- fessor de matemática aplicada que se negava a colocar no quadro negro as fórmulas que poderíamos utilizar para resolver determinado problema ou exercício. Ao contrário, nos forçava a chegar ao resultado esperado por meio do raciocínio lógico, interpretação e dedução. Com a aplicação das fórmulas, teríamos chegado ao mesmo resultado e, provavelmente, até com maior facilidade. Entretanto, se uma das variáveis mudasse ou fosse eliminada, a chance de ficarmos paralisados era muito grande. O atalho, portanto, nem sempre é o melhor caminho, pois ele ceifa a possibilidade de cada um evoluir. Minha sugestão é de que, em vez de aprimorar sua memória, gravando e lembrando nomes difíceis, abstratos e sem sentido, você possa se dedicar a desenvolver o seu senso analítico e crítico, não a simplesmente aceitar receitas prontas. Dessa forma, se por acaso os ingredientes e condições do mercado mudarem, você não ficará preso a situações ou ideias pré-concebidas. Não vou reinventar a roda, mas quero que todos entendam como ela foi criada e de que forma pode ser utilizada em vez de simplesmente depender de que alguém lhe fale o que fazer com ela. Então, não se surpreenda caso não se depare com tópicos e te- mas abordados em outras publicações que discorrem — até com maior propriedade — sobre aspectos que eu, particularmente, não utilizo nas minhas análises. Nesse universo, não existe o 100% certo e o errado, existe aquilo que funciona ou não para você, e, nesse sentido, gostaria de mostrar aquilo que tem funcionado para mim de maneira simples e descomplicada. Antes, no entanto, peço licença para me apresentar àqueles que ainda não me conhecem ou não me acompanham. Comecei a me inte- Análise Técnica: Definitiva 10 ressar pela Bolsa de Valores em 2009, muito por influência do meu pai, comerciante recém-aposentado que ficava a maior parte do tempo em casa após ter encerrado sua empresa de mais de 40 anos de mercado e sentia a necessidade de fazer alguma outra coisa produtiva na vida. Ao longo de 2008, meu pai, já acompanhando há algum tempo as notícias sobre a explosão da bolha imobiliária dos Estados Unidos e o seu impacto nos mercados mundiais, percebeu que a Bolsa brasileira tinha chegado a um patamar que não condizia com a prosperidade pela qual o país atravessava. Com a experiência e intuição de um homem que fez a sua vida no comércio sempre comprando e vendendo, teve um insight e sentiu que aquele seria o momento ideal de investir em Bolsa de Valores. Era outubro de 2008, mais precisamente dia 28, quando ele abriu sua conta em uma corretora e comprou papéis da Petrobras e da Vale. Para se ter uma ideia, a Bolsa estava em 28 mil pontos, com Petrobras valendo R$ 18 (sim, naquela época, era uma pechincha) e Vale cotada a R$ 22. A dinâmica de comprar e vender estava no seu sangue e, com a maioria dos papéis exageradamente depreciados devido ao frisson causado pela queda abrupta das Bolsas americanas, viu ali uma opor- tunidade única de ganhos. Inicialmente estava inseguro. Há dez anos, o pregão sequer era eletrônico e, na concepção da maioria, Bolsa de Valores era coisa para gente graúda e com dinheiro para investir. Depois de dez anos, não te- mos uma quantidade tão maior de CPFs cadastrados, mas pelo menos o acesso massificou-se e o mito da Bolsa foi deixado para trás. Passadas as incertezas iniciais por explorar um novo universo e dis- posto a entender melhor a dinâmica dos papéis na Bolsa, ele fez um curso básico de análise técnica e passou a observar melhor o comportamento das ações a partir dos conhecimentos adquiridos. Com uma mistura de intui- ção, experiência comercial e conhecimento, começou a operar de maneira mais consistente. Naquela época eu trabalhava em casa, sentado à mesa ao lado dele. O espírito empreendedor que nele sempre existiu ressurgiu e, em- bora não estivesse montando um novo negócio, havia transformado a sala de casa em uma mesa de operações. Acordava cedo, acompanhava as notícias e, meia hora antes do início do pregão, já estava com o seu arsenal de anotações, planilhas e boletas para começar mais um dia de “trabalho”. Estava engajado, como um estagiário que conseguira sua primeira oferta de emprego. Prefácio 11 Com as primeiras operações começando a dar resultado, vibrava e exclamava “Como não fiz isso antes? Estou ganhando em trinta dias três vezes o que ganhava no melhor mês vendendo carros”. Aquilo o fascinava e, por estarmos lado a lado, também começou a chamar mi- nha atenção. Sua empolgação me contagiou, e os lucros conquistados mexiam com a minha cabeça. Por felicidade do destino, em 2009 pedi demissão. Naquela época, trabalhava para uma empresa norte-americana que passava por uma crise administrativa e, eu, que já não aguentava mais trabalhar o triplo de horas sem o retorno esperado, resolvi sair. Certo dia, levantei mais cedo do que o normal, sentei ao lado do meu pai e, daquele jeito que todo filho faz, sem dar o braço a torcer, disse: “Vai, me mostra esse trem aí”. Gostei do que vi. Desenvolvedor de sistemas por formação, aqueles gráficos, indicadores e osciladores me desafiavam, e, assim, também resolvi fazer o tal curso básico da própria corretora. Hoje em dia, percebo que aquilo era muito pouco quando se trata de análise gráfica, porém me serviu como estímulo inicial. Aquele ano foi dourado. Não era necessário muito conhecimento; qualquer coisa que se comprasse dava lucro. Recebia mais do que era meu salário mensal como coordenador de TI, não tinha estresse, não precisava sair de casa e ainda falava de boca cheia para os amigos que estava vivendo de Bolsa. Sim, se não tomamos cuidado, o negócio sobe para a cabeça. Nos anos subsequentes, a Bolsa não foi aquela moleza toda. O meu despreparo inicial e a falsa impressão de que era um trader profissional nato me rendeu bons tombos, mas também me forçou a estudar para entender os mecanismos e o funcionamento do mercado. Sou grato por isso. O ser humano é incapaz de aprender qualquer coisa quando o resul- tado final é positivo, pois ignora as lições que deveriam ser aprendidas. Na maioria das vezes, é preciso errar e sentir na pele as consequências dos nossos desatinos para poder fazer o certo lá na frente. Um pouco de sorte também é sempre bem-vinda, mas depender apenas disso para operar no mercado é um convite ao insucesso. Tive sorte em 2009, não vou negar, masesse raio não voltou a cair nos anos seguintes. Com o passar do tempo, tive que aprender a estudar e estudar para aprender. Somente dessa maneira, devorando livros e me tornando cada vez mais interessado e aplicado, pude prestar um pouco mais de atenção nos elementos que passam batidos e aos quais não damos a devida atenção em um primeiro momento. Análise Técnica: Definitiva 12 De todo modo, ainda que naquela época não tivesse consciência de que, em sua maioria, os resultados eram fruto do acaso, estava em- polgado e satisfeito com eles. Não tinha do que reclamar. Estava con- seguindo pagar as contas e ainda me sobrava uma grana que antes não sobrava. Tinha gostado daquele negócio de pivot, linha de tendência, resistência e suporte. Quanto mais lia sobre o assunto, mais me apaixo- nava. Com o tempo, e a necessidade de me adaptar às novas condições do mercado, fui lapidando minhas percepções, digerindo novas experiências e melhorando meus resultados. Estou compartilhando uma parte da minha história para que cada um possa se espelhar em minhas dificuldades iniciais. Não estou dizendo que sou melhor ou pior do que ninguém. Refiro-me à noção de que qualquer pessoa, de qualquer profissão, com ou sem conhecimento prévio em análise gráfica, poderá, com um pouco de dedicação e disci- plina, criar condições de andar com as próprias pernas e tomar decisões com a própria cabeça. Nunca fui o melhor da turma, mas tinha boas notas. Nos tempos de colégio, meu pai costumava me dizer que minha irmã tinha mais facilidade para aprender, mas que eu conseguia compensar esse fato através de minha dedicação aos estudos e insistência em aprender. Em- bora soasse estranho, era a maneira dele de elogiar o esforço que eu empregava ao fazer alguma coisa. Tampouco era o melhor no futebol, mas era um dos primeiros a ser escolhidos. Gostava de treinar os dribles que os outros faziam com certa espontaneidade até conseguir. O dom da música também não foi endereçado a mim. Preciso tocar pelo menos uma hora de violão todos os dias para fazer com que a mão direita entenda o que a esquerda está fazendo, e vice-versa. Tenho melhorado e já consigo tocar um pouco melhor. Ainda que você já tenha o dom para realizar alguma atividade, insistência, dedicação, treino, estudo e planejamento são fundamentais para alcançar qualquer objetivo na vida. Também sou conhecido na família por ser comedido em meus gastos. Compartilho o pensamento de muitos de que não importa o quanto você ganha, mas como você gasta. Não sou economista, mas sou extremamente econômico. Resisto à maioria das tentações e evito os excessos. Compro apenas aquilo de que preciso e quando é urgente. O que eu quero dizer com isso é que não há, em qualquer esfera, nenhum feito grandioso que ocorra da noite para o dia. Até mesmo uma Prefácio 13 empresa precisa seguir seu plano estratégico à risca ao longo de um de- terminado período para alcançar os objetivos estipulados, consolidar sua marca e conquistar sua fatia do mercado. A reputação de um profissional, seja ele médico, advogado, engenheiro ou professor, também se constrói ao longo do tempo, com muito esforço e disciplina. Infelizmente, por falta de paciência ou persistência, uma grande parte dos leitores ficarão pelo caminho. O ser humano é imediatista por natureza. Prefere resultados prontos a desenvolver seu estilo e suas aptidões. Busca pelas operações perfeitas, mas, na realidade, não com- preende que elas decorrem da capacidade individual de análise e apli- cação do conhecimento adquirido à sua forma de operar. Quebrar esses paradigmas e romper qualquer conexão com esse tipo de pensamento é o primeiro passo em direção a um crescimento próspero e consistente. Análise Técnica: Definitiva 14 Introdução Independentemente do seu nível de conhecimento sobre a análise gráfica, outro termo que utilizamos para a análise técnica, fique tran- quilo. Caso seja leigo, tenha algum conhecimento prévio ou já tenha tido alguma exposição ao assunto, tenho certeza de que conseguirá tirar algum proveito e terminará esta leitura melhor do que começou. Iniciaremos devagar, apresentando alguns conceitos básicos — porém importantes — antes de abrirmos um gráfico qualquer para falar de coisas mais elaboradas. Imagino que nem todo mundo tenha a paciência e a persistência para se dedicar à parte mais teórica, chata e conceitual, mas, infelizmen- te, trata-se de um mal necessário. De nada adiantaria você ter a receita do bolo à mão, mas não saber como utilizar os ingredientes ou não co- nhecer os métodos de preparo. Vamos, então, caminhar gradativamente, passo a passo, por cada um dos elementos que eu considero chave para que você consiga concatenar as ideias e, partindo do micro para o macro, possa analisar e interpretar qualquer gráfico daqui para a frente. Antes, no entanto, acho interessante olharmos um pouco para o passado para conhecer a história e a origem da análise técnica e, assim, sermos capazes de estabelecer as relações de como essa metodologia é utilizada nos dias de hoje. Quando você começa a estudar, ler livros e se aprofundar nos temas relacionados, percebe logo que, historicamente, não se trata de uma atividade recente. Lógico que, comparativamente, muita coi- sa mudou, melhorou e evoluiu conforme as plataformas gráficas e os sistemas computacionais começaram a ser empregados, afinal, mui- tos dos cálculos matemáticos e estatísticos que eram feitos de for- ma manual, hoje, são instantaneamente plotados em nossas telas. Análise Técnica: Definitiva 16 Os meios foram aprimorados, mas a essência continua sendo exata- mente a mesma. Aliás, esse conceito de observar e analisar o deslocamento dos preços é uma prática utilizada desde a antiguidade. Regiões ou socie- dades mais avançadas e desenvolvidas comercialmente, caso dos babi- lônios e atenienses, por exemplo, já se utilizavam, no curso da história, de marcações periódicas e metódicas para identificar como os preços estavam se comportando ao longo do tempo. Esse processo era levado a cabo em diferentes regiões e sazonalidades com o objetivo de identificar regiões de maior demanda, onde determinado produto fosse mais caro, e zonas de maior oferta, onde era mais barato. A ideia, como não poderia ser diferente, era a de operar esse spread, comprando onde havia maior disponibilidade de uma mercadoria e revendendo nos lugares nos quais era mais escassa e, portanto, mais valorizada. Resumidamente, então, os gráficos que nós estudamos e analisa- mos não passam de marcações sistemáticas que, em conjunto, mostram, dentre outras coisas, de que maneira os preços estão evoluindo (direção e sentido) e com que intensidade essa movimentação está transcorrendo ao longo do tempo. Peço atenção a essa definição, pois, por mais sim- ples que possa parecer, é sobre esse pilar que fundamentaremos todo o nosso estudo e análise daqui para a frente. Como, e não por que, é o questionamento que você deve fazer quando olhar para um gráfico de agora em diante. Não raro, dependendo de como um determinado ativo se compor- tou durante o dia, recebo inúmeras perguntas de leitores questionando a razão pela qual a ação A subiu 6% ou a ação B recuou 8%. Ainda que eu tivesse as respostas que justificassem tais movimentos, faria alguma diferença no seu julgamento e tomada de decisão? Em se tratando de um fato consumado, e sobre o qual não temos nenhum controle, deveríamos estar mais preocupados em validar se aquele movimento é legítimo do que em questionar sua causa. Acima de tudo, o estudo dos gráficos é um processo investigativo, sendo nossa a responsabilidade de analisar as pistas, evidências e vestígios deixados pelos players para, posterior- mente, julgar e chegar a um veredito acerca da confiabilidade, ou não, de determinada sinalização. É curioso notar a capacidade que cada pregão tem de se trans- formar em uma verdadeira sessão de psicanálise, pois passamos a nos conhecer maise melhor conforme as coisas acontecem contra ou a nosso Introdução 17 favor. Se você tem alguma dúvida em relação à sua personalidade, poderá se deparar com um outro “eu” que talvez você próprio desconheça. Não sou psicólogo nem nunca li nenhum livro de psicologia, mas, ao longo dos últimos dez anos, estive em contato diário com pessoas que temem perder aquilo que possuem e, ao mesmo tempo, sonham em conquistar aquilo que nunca tiveram. Ideias que contrapõem as noções de risco e retorno com as quais, no nosso íntimo, temos que aprender a conviver quando iniciamos nossa jornada nesse universo. Quando estamos operando, as sensações e sentimentos se mani- festam involuntária, intensa e, às vezes, simultaneamente. Sem o devi- do controle, é o caminho mais óbvio para o insucesso. Invariavelmente, transportamos para os mercados muitas das nossas emoções, anseios, inseguranças e sonhos. Diariamente lutamos contra nós mesmos para domar nossos instintos e, nesse sentido, a busca por justificativas e respostas objetivas para todos os eventos e acontecimentos é, sem dúvida, um dos artifícios que usamos para respaldar ou trazer maior segurança às nossas decisões. Precisamos, contudo, quebrar essa cor- rente e nos desvincular de tudo o que nos impede de sermos imparciais e pragmáticos. Deixar de lado a necessidade de explicar a realidade é o primeiro passo. É preciso, então, se conformar e partir do pressuposto de que as notícias e respostas não chegarão até nós de maneira precisa, iso- nômica ou no tempo que julgamos ser mais adequado. Isso é ilusão, pura utopia. Embora alguns defendam, o mercado não é eficiente, os investidores não têm acesso às mesmas informações simultaneamen- te e, portanto, não podemos considerar que tais percepções já este- jam embutidas e descontadas nos preços. Infelizmente, não vivemos em um mundo perfeito, razão pela qual não podemos fechar os olhos e deixar de considerar a possibilidade de que alguns agentes tenham acesso a informações privilegiadas, antecipando-se a algo que ainda sequer aconteceu. Aliás, o mercado talvez seja o único lugar em que as consequên- cias são notadas antes mesmo de as causas se materializarem. Imagine, por exemplo, se um grande operador de commodities tem conheci- mento acerca de uma provável quebra de safra e, aproveitando-se dos preços mais baixos, começa a se posicionar naquele ativo. Naturalmen- te, conforme os dias passam e sua posição aumenta, as cotações serão afetadas, promovendo mudanças visíveis aos nossos olhos. Geralmente, Análise Técnica: Definitiva 18 é nesses momentos que nós, meros mortais, nos perguntamos: “Por que o ativo subiu tanto ontem?”. Vejam que a quebra de safra sequer ocor- reu, mas a precificação de um evento futuro já está se materializando na cotação atual. Por conta dessas antecipações, um outro aspecto extremamente importante ao qual você deve ficar atento quando começar a trabalhar com os gráficos se refere ao reflexo ou impacto daquilo que você lê sobre a sua percepção. O exemplo clássico que melhor descreve essa situação são aqueles investidores que se posicionam em um determinado ativo logo após a ampla divulgação dos resultados trimestrais e do balanço da empresa pela mídia. Qual é o grande problema em relação a essa prática? Bom, se chegamos à conclusão de que as consequências se ma- nifestam antes mesmo que as causas sejam conhecidas, é bastante pro- vável que, ao comprar aquela ação, a valorização esperada já tenha se materializado, induzindo o investidor a adquiri-la em momentos pouco oportunos, afinal, estará utilizando uma informação teoricamente de- fasada para um investimento presente. Dadas essas circunstâncias, como é que saberemos o melhor mo- mento para comprar uma determinada ação? Uma das formas é fazer isso por meio do value investing. Aqui, olha-se estritamente para o patrimônio, resultados anteriores e múlti- plos para verificar se uma determinada empresa está barata em relação àquilo que vale. O investidor, então, paga um determinado preço e, conforme as informações vão chegando e são absorvidas, as pessoas vão criando consciência do valor real e, num determinado momento, preço e valor convergem. A outra maneira, como você já deve estar imaginando, é recorrer à análise técnica, que nada mais é do que uma ferramenta de interpretação que vai nos auxiliar a identificar em que momento tais informações estão chegando para os investidores, inflando suas expectativas e promovendo mudanças na relação entre a oferta e a demanda existente. Basicamente, procura-se aproveitar o fluxo estabelecido a partir das assimetrias, de- sequilíbrios e distorções provocadas pela disputa entre compradores e vendedores (bulls e bears). Com essa breve explicação, acredito que já tenha ficado evi- dente que as premissas utilizadas pelas análises fundamentalista e técnica são incompatíveis, pois, enquanto a primeira busca alo- Introdução 19 cação em ativos baratos, a segunda apenas se preocupa com o fluxo estabelecido. Ou seja, em vez de comprar um ativo no melhor preço, op- ta-se por comprá-lo no melhor momento. Portanto, ainda que em deter- minados momentos os fundamentos e o fluxo tendam a convergir para a mesma direção, promovendo algumas intersecções pelo caminho, tenha sempre em mente que os dois métodos não andam de mãos dadas e, mes- mo com um objetivo comum — o lucro —, os meios para alcançá-lo são bastante diferentes. De qualquer maneira, relendo as definições relativas a cada pro- cesso de análise, é possível perceber que a conexão entre elas se dá, exatamente, pela relação entre consciência e expectativa. Independen- temente do argumento ou do fato concreto que motivou uma mudança de percepção, quando as pessoas se conscientizam sobre o valor que uma empresa possui, cria-se uma expectativa de que suas ações pode- rão valorizar-se ou desvalorizar-se. Podemos entender, então, que esse processo de aproximação entre preço negociado e valor justo representa a conversão das expectativas em realidade. Seguindo essa linha de raciocínio, é razoável concluirmos que um determinado ativo não se movimenta de um ponto a outro de maneira aleatória ou por conta dos balanços e notícias, mas em função das ex- pectativas dos agentes em relação a esses eventos, cujo conhecimento prévio, muitas vezes, fica restrito a um grupo seleto de participantes. Expectativa é algo subjetivo e aberto a múltiplas interpre- tações. Podemos ter uma expectativa muito grande, muito baixa, positiva, negativa, etc. Cada indivíduo, com base no conhecimento e informação que possui, não vai, necessariamente, enxergar determi- nados acontecimentos exatamente da mesma maneira que os demais. Uns podem ficar mais animados e esperançosos, enquanto outros, mais céticos e preocupados. Essa percepção particular e individual produzirá, para cada um, disparos e decisões diferentes. Se por alguma razão alimento a expec- tativa de que o ouro subirá nos próximos meses, me posicionarei nes- se ativo para aproveitar sua eventual valorização. Por outro lado, se tenho a expectativa de que as ações da Petrobras serão afetadas por conta dos desdobramentos da Lava Jato, montarei uma posição short no papel. A esta altura, você deve estar se perguntando: “Se as expectativas dos players é o que determina como os preços vão se deslocar de um Análise Técnica: Definitiva 20 ponto a outro, mas elas são subjetivas e sujeitas às percepções particu- lares dos agentes, como é que poderemos, por meio da análise gráfica, nos guiar por algo tão abstrato?”. Pense nisso como se fosse um jogo de futebol entre duas grandes equipes. O estádio está cheio e cada uma das torcidas se manifesta à sua maneira. Com o andamento da partida, dependendo das condições do jogo, uma se sobressai à outra, deixando claro para quem assiste aquela que está mais eufórica e participativa. Portanto, não é apenas um ou dois torcedores o que fará a diferença, mas o consenso das suas expectativas.Trazendo isso para o nosso universo, podemos considerar que os gráficos são um termômetro de expectativas e, consequentemente, um sensor de movimentos. Ou seja, estudando e analisando os seus compo- nentes, ainda que sequer saibamos o que está acontecendo ou por que, poderemos ter uma boa noção da torcida que está se manifestando mais intensamente em momentos específicos. Nesse sentido, o estudo dos gráficos traz uma vantagem compe- titiva de grande importância em relação a outros métodos de análise, pois, ainda que não tenhamos acesso às informações, temos acesso às negociações de todos os players e de todos os ativos em tempo real! Pode até ser que a gente não saiba nada sobre o futuro, mas certamente conseguimos enxergar o que está acontecendo no presente, hoje e agora. Por que isso é importante? Bom, com base no que expliquei até aqui, se conseguimos ras- trear a movimentação de todos os participantes, é natural que também consigamos perceber a expectativa dos players em relação ao mercado. Como? Neste ponto, volto a pedir a sua atenção, pois a ponte entre ex- pectativas e realidade ou, se preferir, preço e valor, se dá através das manifestações dos players, por meio das interações entre eles e destes com o mercado. Os movimentos, sejam eles para cima, sejam para baixo, apenas ocorrem pois existe uma massa predominante trabalhando de maneira orquestrada, organizada e consensual, mais bulls que bears, ou vice-versa. Voltando rapidamente ao exemplo anterior, se alimento a expec- tativa de que o ouro deve subir nos próximos meses, vou comprar esse ativo no mercado. Ao comprá-lo, estou demonstrando minha disposição nesse produto e no retorno potencial que ele poderá me oferecer lá na frente. Portanto, a partir do consenso de que o ouro vai subir, teremos Introdução 21 mais pessoas comprando, promovendo um aumento substancial da pro- cura por esse ativo, impulsionando os preços para cima. De maneira análoga, se há um consenso de que as ações da Petrobras poderão recuar, teremos mais pessoas dispostas a se desfazer do ativo a qualquer custo, gerando um aumento de oferta e pressionando as cotações para valores cada vez mais baixos. A análise gráfica, portanto, é o estudo das forças de oferta e de demanda que nascem a partir das expectativas das pessoas. Se todos pensássemos de maneira semelhante ou tivéssemos acesso às mesmas informações, teríamos as mesmas expectativas e, portanto, não haveria como obter lucro. Os mercados seriam estáveis, pragmáticos e sem qual- quer volatilidade. Concluímos então que, ao contrário do que afirmam alguns críticos, essa dinâmica entre as forças de oferta e de demanda comprova que os preços não se movem de maneira totalmente randômi- ca (Random Walk), mas por conta das nossas expectativas materializadas no ato de comprar e vender alguma coisa. Entretanto, além de mensurar as expectativas das pessoas e o impacto que têm diretamente sobre os preços, precisaremos validar a forma como esses movimentos aconteceram para não sermos induzidos ao erro ou cairmos na tentação de comprar alguma coisa apenas pela aparência. Esse conceito — da confirmação de um dado movimento de acordo com a intensidade com que ele ocorreu — é amplamente difun- dido por ser uma das heranças deixadas por Charles Down, o precursor e pai da análise técnica clássica. Mas não se preocupe com isso agora. Teremos capítulos inteiros dedicados a essa discussão. Por ora, podemos sintetizar tudo o que eu disse em duas palavras: preço e volume (giro financeiro). A primeira representando os movimentos em si; a segunda representando a inten- sidade com que eles ocorrem. Análise Técnica: Definitiva 22 1. Cabo de guerra Sempre tive muita vontade de aprender a surfar e, se ainda não pude realizar esse desejo, a culpa é só minha. Não tenho do que reclamar, pois oportunidades nunca me faltaram. Meu pai surfava e, durante as nossas conversas — e algumas ten- tativas fracassadas de partir para a prática —, aprendi um pouco sobre as condições que precisam ser satisfeitas para que uma sequência de ondas possa ser formada. Grosso modo, para que se forme, é necessário que haja algum tipo de perturbação na água, usualmente proveniente da ação do vento. É o famoso swell. Geralmente, as ondas nascem dentro de zonas de geração, região onde as tempestades oceânicas se formam. Quando isso acontece, a turbulência dessas tempestades impulsiona a superfície, criando gran- des ondulações que se propagam e podem viajar por longas distâncias até chegarem às praias. Também existe um certo período entre as ondas. Trata-se de uma das variáveis mais importantes para se prever quando poderão se formar, já que indica, dentre outros aspectos, a velocidade e o tamanho que terão. Quando o período é curto, por exemplo, as ondas não se formam muito bem e, nesse caso, as séries não são muito boas. À medida que o período aumenta, séries melhores são formadas. Por fim, o bom surfista também não ignora a geografia de cada local nem as condições que caracterizam essa região. É preciso conhecer bem aquela praia, a maneira como as águas se movimentam e de que forma os ventos estão atuando para a geração das ondas. Estou falando isso, pois da mesma maneira que um surfis- ta precisa aprender e estar atento a uma série de coisas para conse- guir surfar, o trader também precisa entender e compreender tudo Análise Técnica: Definitiva 24 aquilo que está relacionado a essa atividade para ter algum êxito no mercado. Nenhum investidor (ou grupo de investidores) é capaz de criar, propositalmente, as condições necessárias para o mercado se movimen- tar de uma determinada maneira. Eventualmente, alguns poderão ter alguma opinião de como ele vai se comportar, mas somente o tempo será capaz de apontar se estavam certos ou não. Enquanto o futuro não chega, não há muita coisa a ser feita a não ser esperar pela confirmação dos fatores que servirão de combus- tível para a propagação dos preços. Em resumo, de nada adianta ser o melhor surfista se as condições não são adequadas. Tampouco adianta as condições serem boas se não soubermos como surfar para aproveitar esse momento. Nesse sentido, da mesma forma que os surfistas conseguem iden- tificar quando um swell está se formando e qual é a melhor praia para se aproveitar dessa condição favorável, nós também podemos observar quando teremos melhores condições para operar em função do com- portamento dos preços. É aí que nossa análise, estudo e interpretação entram em cena. No capítulo introdutório, comentamos de que forma nossas expecta tivas influenciam diretamente o nível de oferta e demanda de um determi nado produto. Dependendo da maneira como os players se manifestam, essas forças podem coexistir em absoluto equilíbrio ou, eventualmente, uma pode exercer controle sobre a outra. Como podemos imaginar, se não há qualquer predisposição a pagar mais caro por um determinado papel ou vendê-lo por um valor menor do que está sendo negociado, os preços permanecerão estáveis. Entretanto, é importante não confundir estabilidade com ausência de atividade. O fato de os preços de uma determinada ação estarem travados não significa que ninguém está negociando aquele papel. Ao contrário, considerando que cada um dos lados quer dominar o seu oponente, é exa- tamente nesses momentos que a disputa entre compradores e vendedores fica ainda mais acirrada. O choque é constante e intenso. É um cabo de guerra ideológico entre as diferentes expectativas. 1. Cabo de guerra 25 Fonte: HistoryToday.com O equilíbrio entre as forças, no entanto, não nos interessa. No mercado, queremos apenas jogar no time mais forte e, de preferência, quando estiver ganhando. Enquanto essa disputa não tiver um vencedor e a batalha permanecer restrita às trincheiras, sem avanço considerável de uma das partes sobre o espaço alheio, ficaremos atentos ao que está acontecendo, mas do lado de fora. Quando colocarmos a mãona massa e começarmos os estudos dos gráficos, você conseguirá perceber, intuitivamente, os momentos em que as forças estiverem balanceadas, produzindo sinais desorganizados e sem deslocamento significativo. Costumo chamar essa agitação sem propósitos de volatilidade estática, pois os preços ficarão se debatendo por um período indeterminado e, sem saírem do lugar, formarão verda- deiras congestões. Evitaremos montar posições em situações como essa. Se, ao contrário da vida real, equilíbrio é o que nós não quere- mos encontrar no mercado, fica evidente que a nossa predileção é pelo desequilíbrio, pelas assimetrias e distorções geradas na cadeia a partir de manifestações mais agudas que resultam no predomínio de uma das forças em relação à outra. É nesses momentos de extrema euforia e pânico que os senti- mentos estão à flor da pele e os investidores, mais participativos do que nunca. Essa agitação de uma maioria vencedora contra uma mino- ria derrotada é a que nos interessa. É daí que nascem as correntes de maior amplitude, que poderão potencializar os nossos ganhos. A esse tipo de movimentação, mais direcional e vertical, dou o nome de vo- Análise Técnica: Definitiva 26 latilidade elástica. Note que não se trata de terminologias usuais, mas denominações que eu próprio estou cunhando apenas para efeito de diferenciação entre cenários. Nesse sentido, se estamos sempre à espera de uma sinalização concreta para tomarmos um partido e verificarmos se temos as condições adequadas para iniciar uma operação, é correto afirmar que se trata de uma estratégia reativa e passiva. Recorrendo à nossa analogia inicial, nós não vamos à praia tentar pegar onda num dia em que o mar está totalmente flat, achando que, a partir do momento em que colocarmos a prancha na água, as ondas vão começar a aparecer. Ao contrário, apenas conseguiremos surfá-las porque efetiva mente já existem. Não tentaremos antever um determinado movimento nem an- tecipar a montagem de uma determinada posição sem que haja mate- rialidade e argumentos suficientes para fundamentar tais entradas. Ao contrário do que muitos dizem ou pensam, esse método de análise não tentará se antecipar a quaisquer mudanças, mas se adaptará a elas caso sejam legítimas. Em última análise, portanto, sempre que abrirmos um gráfico, es- taremos tentando identificar exatamente o momento em que essa tran- sição entre volatilidade estática e elástica está acontecendo em função do aumento substancial de oferta em relação à demanda, e vice-versa. Quando falamos de demanda, naturalmente somos remetidos à ideia de presença ou concentração de compradores. Seguindo essa linha de raciocínio, se uma região de demanda é onde existe maior disposição compradora, podemos considerá-la como sendo uma zona de suporte. Afinal, quando os preços começam a se aproximar de um determinado patamar, encontram a sustentação e interesse necessários (poder de compra) para voltarem a subir. De forma análoga, quando falamos sobre oferta, naturalmente pensamos na presença e concentração de vendedores. Dessa forma, podemos aplicar o mesmo princípio e imaginar que se uma região de oferta contempla uma maior disposição vendedora, podemos conside- rá-la como sendo uma zona de resistência. Ou seja, conforme os preços se aproximam de um determinado patamar, rapidamente são repelidos (poder de venda) e começam a cair. Para ilustrar e trazer esse conceito de suporte e resistência mais próximo da nossa realidade, imaginem o seguinte: um belo dia, um amigo analista técnico chega para mim e diz: “Rafael, estou convicto 1. Cabo de guerra 27 de que a ação XPTO vai subir”. Sem qualquer questionamento, confio na sugestão desse camarada e compro o ativo recomendado por R$ 10. Alguns dias depois, as cotações alcançam os R$ 12 e, satisfeito, resolvo me desfazer desse papel. Passadas algumas semanas, olho para o home broker e percebo que a mesma ação que eu havia comprado anterior- mente por R$ 10 está de volta a esse patamar de preços. Dado o êxito obtido naquela primeira operação, não penso duas vezes para remontar aquela posição nos mesmos moldes por conta da lembrança e experiên- cia agradável que tive da primeira vez. Dessa simples história, podemos concluir que alguns pontos possuem mais relevância do que outros, pois funcionam como zonas de inflexão. Em outras palavras, trata-se do momento em que a força que detinha o controle do jogo começa a dissipar energia e a ceder es- paço para uma força contrária. Obviamente, o exemplo que mencionei acima tem apenas efeito didático. Não sou eu, você nem um pequeno grupo que vai decidir ou determinar a partir de qual ponto gráfico o mercado produzirá uma inflexão do seu movimento prévio, mas, sim, o consenso entre todos os participantes que estiverem atuando na- quele momento. Esse, portanto, será o único momento em que vamos olhar para as cotações históricas. Não estamos à procura de padrões mirabolantes para ver se eles se repetirão lá na frente. Porém, por entender que essas zonas de suporte e resistência funcionam como herança psicológica do mercado, queremos apenas tentar identificar os pontos estratégicos que o mercado tende a respeitar para utilizá-los como parâmetro e referência nas nossas decisões. Afinal, não queremos comprar um ativo que esteja diante de sua resistência, correto? Portanto, dada a sua importância e validade por serem consi- derados marcações que ficam registradas na memória do mercado, é razoável que esses patamares tenham seus respectivos valores pre- servados. Entretanto, por conta dos proventos (juros, dividendos e bonificações) que as empresas pagam aos seus acionistas, isso nem sempre acontece. O que ocorre nesses casos é que a maioria das plataformas grá- ficas ajusta, automaticamente, a cotação atual e as cotações históricas no dia subsequente ao pagamento de proventos. Dessa forma, se um determinado ativo tinha uma resistência em R$ 9,50 e teve R$ 0,50 de dividendos pagos por ação aos seus acionistas, no dia ex-dividendos, Análise Técnica: Definitiva 28 por exemplo, as plataformas tendem a ajustar as cotações, alterando aquela resistência para R$ 9. Quando isso acontece, com os respectivos valores das resistências e suportes modificados, gera-se uma grande distorção da realidade, pois, ao olhar o gráfico, ainda que existam inúmeras boletas de investidores que compraram e venderam a ação por R$ 9,50, tem-se a impressão de que o ativo jamais negociou àquele preço. Ou seja, ainda que os pontos gráficos onde as resistências e suportes estão localizados sejam os mes- mos, os valores de referência vão sendo alterados a cada novo evento desse tipo. Portanto, com o objetivo de manter os parâmetros de suporte e resistência preservados, recomendo que sempre utilizem os gráficos não ajustados a juros, dividendos ou bonificações para evitar qualquer prejuízo à nossa análise. A única exceção ocorrerá quando houver uma deformação muito grande do gráfico de preços, exigindo que este seja ajustado para que não tenhamos interpretações equivocadas. Análise Técnica: Definitiva 30 2. As leis naturais Não raro emprestamos alguns termos da Física, Biologia ou Psico- logia para contextualizar situações que acontecem no mercado financei- ro. Nada mais natural, afinal, além dos agentes envolvidos (seres huma- nos), as manifestações e fenômenos observados no mercado são apenas uma extensão do que efetivamente ocorre no universo. É a pluralidade da ciência sendo aplicada a nichos específicos que se correlacionam. Você certamente já ouviu falar de Charles Darwin, certo? Não, ele não foi um trader nem investidor que fez fortuna por aí. Tampouco misturei os nomes, não estou me referindo a Charles Down, o pai da “análise técnica clássica”. Darwin é o autor do livro A Origem das Espécies e suas publicações contribuíram de forma significativa para que pudéssemos entender como se deu a evolução da vida na Terra. Durante seus estudose observações no arquipélago de Galápagos, percebeu que, apesar das semelhanças entre os pássaros daquela região, seus bicos tinham formatos diferentes dependendo do tipo de comida disponível em cada ilha. Grosso modo, com a Teoria da Evolução das Espécies, Darwin criou um mecanismo para explicar esse fenômeno que, mais tarde, cha- mou de seleção natural. Em resumo, afirmava que os seres vivos não se transformavam para se adaptar a uma região específica, mas simples- mente eram naturalmente selecionados pelo meio ambiente. Em outras palavras, os seres com fenótipos bons e que apresen- tam maior dom para resistir às intempéries se proliferam por terem maior aptidão para se ajustar às condições do meio em que vivem. Por outro lado, aqueles com fenótipos desfavoráveis são naturalmente ex- tintos daquela área específica. Análise Técnica: Definitiva 32 Mas qual é a relação entre os bicos das aves e ações, investimen- tos e gráficos? Honestamente, eu entendo que estamos triplamente sujeitos à seleção natural. Parafraseando Darwin, no mercado, não so- brevive o mais forte, mas aquele que se adapta à mudança. A partir da aplicação dessa teoria no mercado de ações, quais relações você consegue estabelecer? De imediato, consigo pensar em três delas: 1. Seleção Natural das Estratégias; 2. Seleção Natural das Ações; 3. Seleção Natural dos Investidores. Dependendo das condições, algumas estratégias terão desem- penho melhor do que outras. Pela primeira vez em vários anos, de- pois de quedas sistemáticas que se desenvolveram entre 2010 e 2015, o mercado vive um bull market estrutural em 2018. Neste momento, operações na ponta compradora, por exemplo, tendem a ter resultados melhores em relação às operações que apostam na queda das ações. Com o mercado forte e com perspectivas favoráveis, estratégias que prezam pela manutenção das ações na carteira por um período maior também tendem a ter resultados mais robustos frente àquelas que giram a carteira com maior frequência. Contudo, se as condições mudarem, tais estratégias poderão ficar inadequadas, e a seleção natural entrará em cena novamente. Assim como nós, as ações também têm personalidade. Algumas são mais nervosas, ariscas, agitadas, líquidas, enquanto outras são mais passivas, tranquilas e pacatas. Por essa razão, alguns ativos são natu- ralmente muito bons para serem operados. Outros, por sua vez, podem oferecer dificuldades adicionais por conta das suas características. Daí a necessidade de saber trabalhar com todos os aspectos inerentes a elas antes de iniciar uma operação. Por fim, e não menos importante, temos a seleção natural dos investidores. Independentemente do modelo ou da metodologia que está sendo adotada, entendo que precisamos pensar e agir como cien- tistas, e não como traders ou investidores. Ou seja, assim como fazem os primeiros, o trabalho empírico, de observação e análise deve servir de base para os nossos investimentos. Entretanto, como cada pessoa tem sua individualidade e personalidade, ainda que todos tivessem acesso 2. As leis naturais 33 a uma mesma estratégia (seleção natural das estratégias), operando as mesmas ações (seleção natural das ações), os resultados finais seriam diferentes, pois nem todos terão a disciplina, a paciência e o controle para encarar o mercado (seleção natural dos investidores). Encerramos o capítulo anterior introduzindo o conceito de su- porte e o de resistência, abrindo nossa viagem pelo mundo dos gráficos. Identificar as principais barreiras e alicerces deve sempre ser uma das nossas prioridades, afinal, além de conhecer melhor o ativo em questão, é dessa maneira que começaremos a reunir informações que poderão servir de base para nossas posições. No caso dos suportes e das resistên- cias especificamente, tão logo tenhamos conhecimento de onde estão localizados, poderemos utilizá-los para determinar o melhor momento para iniciar uma operação. No começo, é normal que esse processo provoque algumas dú- vidas, mas, para facilitar a sua vida, não fique preso aos centavos na hora de traçar os suportes e as resistências. Seria muita ingenuidade da nossa parte acreditar que existe um ponto específico de inflexão. Lógico que em alguns casos isso pode acontecer, mas é raro. De manei- ra geral, falamos em zonas de suporte e resistência justamente por se tratar de um intervalo de preços que tem essa capacidade de resistir às forças contrárias. Como em um jogo de futebol, os jogadores até conseguem ocupar uma faixa intermediária do campo com alguma naturalidade e sem te- rem a posse de bola ameaçada. Entretanto, conforme se aproximam da grande área adversária, a marcação torna-se mais apertada e intensa. O objetivo é evitar que o atacante passe pelos defensores para fazer o gol. No caso dos suportes e das resistências, ocorre mais ou menos a mesma coisa. São zonas gráficas nas quais, historicamente, ocorrem manifestações mais intensas de uma das forças, impedindo que os preços consigam atravessar para o outro lado. Para ilustrar esse conceito e tornar o aprendizado mais prático, observe o gráfico da Figura 1. Análise Técnica: Definitiva 34 Note que, durante praticamente sete meses, de outubro de 2017 até abril de 2018, o ativo em questão oscilou rigorosamente dentro de uma faixa lateral entre R$ 14,20 e R$ 13,19 de maneira desorganizada, refletindo o absoluto equilíbrio existente entre os players. É verdade que, vez ou outra, compradores ocuparam temporaria- mente o território dos vendedores, e vice-versa, chegando até mesmo a extrapolar os limites impostos por essas zonas de suporte (linha verme- lha) e de resistência (linha azul). Entretanto, sem contar com demanda suficiente para absorver toda a disponibilidade de papel existente (no caso das resistências) ou disponibilidade para suprir a demanda (no caso dos suportes), as forças tendem ao equilíbrio e os preços acabam retor- nando para o centro dessa faixa horizontal. No fim das contas, mesmo com pequenos estalos de alta e de baixa se revezando, os preços não deslancharam de maneira consistente e vertical. Ainda que você esteja dando apenas os primeiros passos nos es- tudos dos gráficos, você se interessaria pelo ativo da Figura 1 no atual contexto? Antes de seguir com a leitura, tente, com base naquilo que falamos até agora, enumerar mentalmente as razões pelas quais você compraria ou não esse papel. É importante que você comece a pensar com a própria cabeça para desenvolver uma linha de raciocínio coerente com aquilo que está enxergando. Se você respondeu que compraria, tudo bem. Não está errado. Tenho opiniões divergentes em relação a outros analistas, mas isso não torna minhas ideias verdades universais, melhores ou piores que FIG. 1 Suporte (linha vermelha) e resistência (linha azul). Fonte: Nelogica 11,79 12,15 12,60 13,05 13,50 13,95 14,40 14,85 15,30 15,75 13,19 14,20 15,50 Nov/17Out/17Set/17 Dez/17 Jan/18 Fev/18 Mar/18 Abr/18 2. As leis naturais 35 as deles. Conforme você vai se desenvolvendo como trader ou analista, vai criando sua própria personalidade, lapidando seus métodos, criando suas raízes e filosofia de trabalho. Particularmente, embora não seja a forma com a qual gosto de trabalhar e levando em consideração o que já conversamos acerca da validade dos suportes e resistências, não teria sido uma má estraté- gia comprar o papel todas as vezes que os preços se aproximaram dos R$ 13,19 e, posteriormente, vendê-lo quando estivessem próximos dos R$ 14,20, concorda? Outra possibilidade seria realizar a operação con- trária, vendendo papéis alugados a R$ 14,20 para depois recomprá-los por R$ 13,19. Veja como teria sido possível repetir essas operações inú- meras vezes, tanto com o papel subindo como com ele descendo, apenas tirando proveito da presença de um maior número de compradores sobre uma região e de vendedores sobre a outra. Qual é o problema dessa estratégia? Haveria um custo relativamentealto com corretagens e se trataria de uma abordagem pouco assimétrica ou convexa. Idealmente, mesmo por meio da análise gráfica, queremos apostar centavos para ganhar reais, e não o contrário. Em outras palavras, estaremos sempre dispos- tos a montar operações estruturadas, limitando nosso risco e eventuais perdas, mas nunca os nossos ganhos. Seria um contrassenso se desfazer de uma posição que trabalha a nosso favor prematuramente, mas, nesse caso específico, também seria um contrassenso permanecer comprado em um ativo que não alcançou patamares mais elevados mesmo depois de sete longos meses. Imagine, por exemplo, que você tivesse comprado esse ativo no início de outubro. Os preços se debateram de uma ponta à outra, mas, sem capacidade para se desvencilhar das amarras que os prendem nessa congestão, o investidor teria ficado com o seu capital engessado por sete meses, sem nunca ter alcançado os retornos esperados. Em suma, o custo de oportunidade é grande quando optamos por entrar em ativos que estão imobilizados ou sem fluxo definido. Portanto, se eu tivesse que decidir entre entrar ou não nessa posição, optaria por ficar de fora até que houvesse a superação definitiva de uma das extre- midades em questão. No meu entendimento, essa é a típica situação em que deve- mos acompanhar o comportamento dos preços à espera da ruptura do equilíbrio vigente. Do contrário, se optarmos por comprar o ativo Análise Técnica: Definitiva 36 nessas condições, tornar-nos-emos reféns da volatilidade estática e, cansados de esperar, temos grandes chances de acabar sem a recom- pensa esperada. Ademais, considerando que não temos como saber por mais quanto tempo os preços permanecerão travados, nem qual das extremidades será efetivamente rompida, tornar-se-ia muito arriscado tomar uma decisão sem ter um argumento sólido que pudesse ser uti- lizado como referência. Claro que esses alicerces e obstáculos não são intransponíveis e, invariavelmente, conforme as percepções e expectativas dos investidores mudam, poderá haver um aumento do nível de oferta ou demanda capaz de catapultar os preços para além dessas fronteiras. Em contrapartida, cada vez que os respectivos suportes e resistências de um determinado ativo são testados e respeitados, passam a ter sua validade comprovada e reforçada, aumentando o nível de exigência para que consigam ser efetivamente vencidos. Entretanto, a partir do momento em que as manifestações entre compradores e vencedores tornam-se mais agudas e unilaterais, promo- vendo o rompimento ou a quebra dessas zonas de resistência e suporte, é quando entramos em cena. Imagine que essas congestões, especialmente as mais prolonga- das, funcionam como verdadeiras panelas de pressão. Portanto, quando um rompimento se materializa e os preços conseguem posicionar-se aci- ma ou abaixo dessas barreiras, é como se a tampa da panela explodisse. É o momento pelo qual todos estão esperando. É quando uma das forças assume o controle do jogo e passa a ditar as regras, o ritmo e a direção do movimento. É o momento em que toda aquela energia estática se transforma em energia cinética. É quando os fluxos se for- mam por conta da euforia e excitação dos players. É quando a emoção fala mais alto do que a razão, atraindo um número cada vez maior de investidores. É quando o sonho de ficar milionário torna-se tangível ou o pânico de perder tudo amedronta até os mais corajosos. A verdade é que ninguém quer ficar de fora de um grande mo- vimento. O ser humano não está condicionado a ver alguém ganhando muito dinheiro e não participar daquilo. É dessa maneira que, mesmo sem conhecimento prévio, algumas bolhas são criadas. Na metade do século 16, por exemplo, as tulipas ganharam enorme popularidade e pas- saram a ser consideradas artigo de luxo e símbolo de status social. Não demorou muito para que houvesse um aumento substancial da procura 2. As leis naturais 37 pelas flores, fazendo os preços dispararem. Em algumas cidades, elas passaram a ser negociadas nas Bolsas de Valores. Patrimônios inteiros foram revertidos em tulipas. No fim, quando as pessoas se depararam com a realidade e perceberam o que estava acontecendo, já era tarde. É nessas horas, portanto, que devemos aproveitar o descontrole, destem- pero e despreparo dos jogadores a nosso favor. Se alguém está andando pela rua e percebe que outra pessoa está olhando para o alto de um prédio, naturalmente vai parar e fará a mesma coisa. Em questão de minutos, haverá um aglutinado de pessoas olhando para cima sem saber o que está acontecendo. Uma diz que o prédio está pegando fogo, outra diz que alguém está querendo pular. Não importa a razão; contanto que seja uma história criativa, mais e mais pessoas param para observar aquele fenômeno. Esse é o movimento das massas que queremos aproveitar. Ain- da que não seja nada racional, as pessoas se sentem mais seguras e confortáveis quando percebem que outras estão fazendo a mesma coi- sa. É como se houvesse um respaldo para seguirem adiante ou uma boa razão para justificarem o próprio erro caso as coisas não saiam conforme o esperado. Assumir a culpa, jamais. Transferir a responsa- bilidade, sempre. Portanto, antes de entrar no frenesi do mercado e fazer parte desse grupo que não consegue chegar às próprias conclu- sões, pare e pense. Embora todos os rompimentos de suporte e resistência tenham algum significado e relevância, não serão todos os movimentos dos quais vamos participar. Daí a necessidade de observar e analisar cada detalhe com calma para tentar entender a mensagem que os gráficos estão querendo transmitir. Ora vamos correr junto com a massa, ora vamos nos reservar o direito de simplesmente ficar parados enquanto os demais correm. Dado que todos os componentes gráficos estão interligados de alguma maneira, ainda falaremos bastante sobre os tópicos abordados nesta breve introdução aos conceitos preliminares de oferta, demanda, suporte e resistência. Contudo, antes de seguir em frente e apresentar como os gráficos são constituídos, gostaria de dar uma rápida explicação sobre a expressão “Inversão de Polaridade”. Embora o nome seja complicado, na prática, é bastante simples. Basicamente, todas as vezes que os preços ultrapassam uma zona de resistência, esse patamar automaticamente se converte no suporte ime- Análise Técnica: Definitiva 38 diato. De maneira análoga, assim que os preços determinam a quebra de uma zona de sustentação, esse patamar automaticamente se converte na resistência imediata. Na prática, é fácil entender a razão pela qual isso acontece. Se uma faixa de resistência é uma zona de maior disposição vendedora, imagine a força, a união e a sintonia que não foram exigidas para que os compradores conseguissem expulsar os vendedores desse território, varrendo o book de ofertas e fazendo os preços dispararem. Portanto, se uma região antes dominada por vendedores passa a ser controlada por compradores, nada mais coerente do que chamá-la de suporte. O gráfico representado na Figura 2 ilustra bem essa situação. Note que, durante boa parte do tempo, os preços estiveram oscilando entre R$ 18,40 e R$ 16,97, porém, tão logo o limite superior da congestão em questão foi vencido em meados de março de 2018, a resistência em R$ 18,40 tornou-se o suporte imediato do papel. A maior prova dessa inversão de polaridade é que logo, após con- solidar o rompimento dos R$ 18,40, o ativo perdeu um pouco de força, mas, enquanto criava condições para retomar a trajetória prévia de alta, encontrou o apoio necessário para seguir adiante exatamente sobre a faixa dos R$ 18,40, agora reduto de compradores. FIG. 2 Princípio da Inversão de Polaridade. Fonte: Nelogica 16,79 17,28 17,77 18,26 18,75 19,24 19,73 20,22 20,71 21,20 RESISTÊNCIA SUPORTE SUPORTE Jan/18Dez/17 Fev/18 Mar/18 Abr/18 2. As leis naturais 39 Não vamos nos antecipar. Falaremos detalhadamente sobre isso adiante, mas,apenas para instigar a sua percepção, consegue identificar qual teria sido o melhor momento para comprar esse papel? Análise Técnica: Definitiva 40 3. Abecedário Não tenho ninguém na família que seja médico, cirurgião ou coisa do gênero. Eu próprio nunca tive inclinação alguma à medicina, mas, ainda assim, uma das minhas séries favoritas de todos os tempos era House. Não eram os aspectos clínicos ou técnicos dos episódios que mais me chamavam atenção, mas, sim, a maneira como o personagem prin- cipal, Gregory House, foi construído. Além da petulância, do sarcasmo e do humor ácido, o cara era extremamente racional e frio em seus diagnósticos, bem como no trato com os assistentes e pacientes. House, certamente, seria um excelente trader. Que me perdoem os médicos de plantão pela simplicidade das palavras, mas, em última análise, quando um determinado exame é solicitado, serve basicamente para verificar a presença ou ausência de al- guma condição que pode estar causando alterações no nosso organismo. Trata-se da confirmação do diagnóstico inicial, permitindo que, a partir dali, o médico seja capaz de prescrever o medicamento ou tratamento correto para combater aquela patologia. No mercado de ações, o estudo dos gráficos, que, pela minha analogia, seria o estudo dos exames médicos, tem mais ou menos a mesma função. Nesse caso, utilizamos uma série de ferramentas para diagnosticar os desequilíbrios entre oferta e demanda e, assim, “receitar” operações que estejam em sintonia com os critérios examinados. Contudo, assim como na medicina, o processo de confirmação de um diagnóstico pode resultar em dois tipos de “erros”: • Falso positivo: aquele que aceita alguma coisa que deveria ser rejeitada. Análise Técnica: Definitiva 42 • Falso negativo: aquele que rejeita alguma coisa que deveria ser aceita. No primeiro caso, precisamos entender que nem todo sinal deve ser operado. Não importa o que os outros estão fazendo, jamais realize uma operação sem convicção. Se estiver em dúvida, ignore e parta para a próxima. Bons sinais e boas oportunidades aparecem todos os dias, mas às vezes um único tropeço é mais do que suficiente para colocar em risco toda a sua estratégia. No segundo, o falso negativo, é justamente o oposto. Não tenha medo de iniciar ou finalizar uma operação independentemente do que está acontecendo a sua volta. Novamente, a sua convicção é tão impor- tante quanto qualquer outro componente gráfico. Porém, não vamos confundir convicção com arrogância. Com Hou- se, por exemplo, as duas coisas tornaram-se uma só tamanha era sua assertividade e confiança nos seus diagnósticos. Arrogância sem conhe- cimento, no entanto, é o caminho para equívocos graves. Convicção e co- erência, por outro lado, andam de mãos dadas e têm um efeito psicológico imprescindível. Se começar qualquer operação com dúvidas acerca da escolha que você próprio fez, todas as decisões que tomar dali para a frente serão incoerentes por conta da carga emocional às quais estão sujeitas. Estou falando isso, pois este é o primeiro capítulo mais técnico e orientado aos gráficos. É basicamente a partir deste ponto que daremos início à nossa jornada e aos estudos mais específicos. Desde já, cada detalhe é importante, cada componente gráfico tem um significado e uma mensagem a ser transmitida. Nossa obrigação é poder filtrar os ruídos e juntar as peças desse quebra-cabeça para chegar, se possível, a conclusões lógicas e objetivas. Entretanto, para termos algum êxito durante a travessia, é preciso nos despirmos das emoções. No mercado, precisamos adotar uma postura mais parecida à do personagem House, encarando os fatos com o prag- matismo que eles exigem para aguentar o tranco quando necessário. Essa, aliás, é uma das razões pelas quais não recomendo a nin- guém largar tudo para virar trader. Pelo menos não até você ter seguran- ça naquilo que está fazendo e domínio, emocional e técnico, para operar com independência. Do contrário, se você fizer de suas operações sua principal fonte de renda, certamente terá o seu senso analítico total- mente comprometido, repleto de falsos positivos e negativos. 3. Abecedário 43 Todos nós temos contas para pagar, um determinado padrão de vida que queremos manter, mas tudo isso vem acompanhado de um certo custo (e que custo!). Portanto, a partir do momento em que você começa o mês pressionado e com a obrigatoriedade de ganhar X reais para acomodar todas as suas despesas, naturalmente você não estará escutando apenas a voz da razão e isso afetará diretamente a qualidade das suas operações. Algo parecido ocorreu comigo quando me pediram para escrever relatórios para uma corretora e, por motivos óbvios (corretagem), fize- ram a exigência de que cada publicação tivesse ao menos três recomen- dações por dia. Neguei. Operar no mercado não é como ir à feira, onde você escolhe os produtos e a quantidade que deseja levar para casa. Eventualmente, haverá dias — ou até semanas — sem nenhuma operação, mas, por outro lado, dependendo de como o mercado estiver se comportando, poderá haver duas ou três recomendações no mesmo dia. Portanto, além de ferir um princípio moral e ético, como é que eu poderia assegurar a qualidade e a imparcialidade das minhas recomendações se soubesse que, por contrato, precisaria soltar três sugestões por dia? Não dá. Se não tem nada para hoje, volte amanhã. Em outras palavras, se algum dia você tiver que escolher entre qualidade e quantidade, fique sempre com a primeira. Mas, enfim, já que vamos começar a falar de gráficos, nada mais justo do que apresentar os tipos mais utilizados, bem como defender o motivo pelo qual tenho certa preferência por um deles. Dentre os mais conhecidos e amplamente difundidos, temos: • o gráfico de linha; • o gráfico de ponto e figura; • o gráfico de barras; • o gráfico de candlesticks. Cada um cumpre sua função. Alguns transmitem com eficiência a fotografia de um determinado momento e, mesmo suprimindo alguns detalhes, não afetam o entendimento daquilo que se propõem a oferecer. Se quiséssemos observar o comportamento do Ibovespa ao longo do tempo, por exemplo, o gráfico de linha apresentado na Figura 3 seria mais do que suficiente. Neste caso, apenas os valores de fechamento (ou de consenso) de cada sessão são levados em consideração. Análise Técnica: Definitiva 44 Outros têm propósitos mais específicos e, portanto, requerem uma leitura mais particular e minuciosa. O gráfico de ponto e figura, por exemplo, é atemporal e é utilizado para identificar a acumulação e distribuição dos preços. Contudo, para quem não está acostumado, é um pouco mais difícil compreendê-lo à primeira vista. FIG. 3 Gráfico de linha. Fonte: Nelogica FIG. 4 Gráfico de ponto e figura. Fonte: StockCharts.com 70,825 72,574 74,325 76,072 77,821 79,570 81,319 84,817 83,068 85,824 86,566 Abr/18Mar/18Fev/18Jan/18Dez/17Nov/17 3. Abecedário 45 Já os gráficos de barras e de candlesticks oferecem mais detalhes em relação aos seus pares, permitindo visualizar como o embate entre compradores e vendedores transcorreu para cada período de tempo. FIG. 5 Gráfico de barras. Fonte: Nelogica FIG. 6 Gráfico de candlesticks. Fonte: Nelogica Embora ambos preservem algumas semelhanças, entendo que, na prática, o gráfico de candlesticks não embaralha tanto a visão. As informações estão mais bem dispostas e existe uma separação mais 71,215 72,925 74,635 76,345 78,055 79,765 81,475 83,185 84,895 86,605 85,824 Abr/18Mar/18Fev/18Jan/18Dez/17 71,215 72,925 74,635 76,345 78,055 79,765 81,475 83,185 84,895 86,605 85,824 Abr/18Mar/18Fev/18Jan/18Dez/17 Análise Técnica: Definitiva 46 clara entre os candles, tornando sua leitura mais fácil e intuitiva. Por essa razão, sem que haja qualquer prejuízo à análise, ao longo de todo o livro concentraremos nossos estudos exclusivamente nos gráficos de candlesticks. Quando aprendemosa ler e a escrever, começamos estudando o alfabeto. Uma vez conhecidas todas as letras, tornamo-nos capazes de formar palavras, frases e, por fim, textos e redações mais completas. Estudar os gráficos não é muito diferente. Na verdade, é como se estivéssemos aprendendo um outro idioma. No nosso caso específico, primeiro precisamos adquirir o conhecimento básico, partindo da menor unidade, o candle, para somente depois conseguir olhar para o todo. Tão logo tenhamos a técnica e o conhecimento necessário, esta- remos aptos para decodificar, interpretar e compreender as mensagens que estão sendo transmitidas. Em outras palavras, se pudermos perceber o que cada candle representa, seremos capazes de entender a ideia que, concatenados, todos eles estão tentando nos enviar. É como se cada can- dle fosse uma peça de um grande quebra-cabeça. Isoladamente, muitas vezes não terão significado ou sentido pleno. Por outro lado, dentro de um contexto, associado a outros candles, os movimentos começam a tomar forma, direção e sentido. Veja que não nos afastamos da ideia inicial acerca da lei de oferta e demanda. Em última análise, cada candle é a representação da realida- de, ou seja, por meio do seu aspecto e morfologia poderemos saber tudo o que ocorreu durante um determinado intervalo de tempo. É como se não tivéssemos assistido a uma determinada luta e, além de procurar saber quem foi o vencedor, fôssemos atrás das estatís- ticas para saber mais informações sobre esse combate. No fim, conforme temos ressaltado desde os primeiros capítulos, não queremos saber apenas para onde os preços se deslocaram, mas especialmente como esse deslocamento está sendo realizado. Se você abrir qualquer livro tradicional de análise técnica, en- contrará um dicionário de candles com a denominação, terminologia e descrição daqueles mais comuns. Entretanto, assim como cada ser humano tem um determinado DNA, o mesmo acontece com os can- dles, isto é, ainda que guardem algumas semelhanças, também possuem peculiaridades que os distinguem. Portanto, em vez de ficar preocupado em reconhecer e decorar uma gama enorme de nomes esquisitos que foram atribuídos a cada um 3. Abecedário 47 dos diversos tipos de candles, entendo que é muito mais importante e producente focar na essência de cada um, identificar com quais outros componentes estão associados e diferenciar o seu significado depen- dendo da posição em que aparecem nos gráficos. Basicamente, cada uma dessas barras incorpora tudo aquilo que os participantes do mercado sabem, esperam, acreditam e antecipam em relação à movimentação dos preços. Por essa razão, é através da correlação dos dados que elas fornecem que conseguiremos ter a sen- sibilidade para perceber o que está se passando no mercado e, assim, poder identificar previamente as ações que poderão se movimentar com a velocidade e intensidade que esperamos, bem como aquelas que estão sendo negligenciadas. Análise Técnica: Definitiva 48 4. A menor unidade dos gráficos Na Química, antes de começar a estudar as moléculas, as subs- tâncias simples ou compostas, é preciso entender como o átomo, menor unidade de qualquer matéria, é formado ou se comporta. Uma vez co- nhecidos os nêutrons, os prótons, os elétrons, as camadas eletrônicas e seus níveis de energia, teremos condições e conhecimento para entender conceitos mais complexos. No caso dos gráficos, não é diferente. Na verdade, apenas con- seguiremos compreendê-los melhor, como são formados e a influência que exercem sobre os preços à medida que tivermos desenvolvido a capacidade de entender as partes de que são constituídos. Na análise gráfica, nosso átomo, ou seja, a origem de todas as coisas, são os candles. Cada um deles, sozinhos ou aglomerados, assume o protagonismo nas nossas análises. Todas as vezes que você abrir um gráfico e bater o olho em qual- quer candle, conseguirá, de imediato, extrair informações extremamente valiosas e que serão de grande utilidade. Ao observar a Figura 7, por exemplo, quantos dados você consegue extrair? FIG. 7 Tipos de candles. ALTA mínimo abertura fechamento máximo BAIXA mínimo fechamento abertura máximo NEUTRO mínimo fechamento abertura máximo Análise Técnica: Definitiva 50 Se você respondeu quatro, errou. Se respondeu cinco, che- gou perto. Na verdade, são oito informações iniciais que cada candle nos fornece. A primeira delas é determinar se o candle formado é de alta, de baixa ou neutro. Em outras palavras, apenas pela aparência de cada um, já saberemos se aquele ativo valorizou-se, desvalorizou-se ou se perma- neceu no zero a zero, com o preço de abertura e fechamento exatamente no mesmo patamar. A maioria das plataformas oferece a possibilidade de configurar as cores que melhor identificam os candles de alta (azul, verde, branco etc.) e os de baixa (vermelho, preto etc.). Na sequência, também é possível identificar o valor de abertura e o valor de fechamento. Note que nos candles positivos o valor de fecha- mento será sempre maior do que o valor de abertura. O inverso ocorre nos candles negativos, com valor de fechamento menor em relação ao preço de abertura. Por abertura e fechamento refiro-me ao início e ao fim do pregão de cada dia. Contudo, como veremos mais adiante, cada candle também pode representar o início e o fim de uma semana, mês, ano ou outro período, qualquer outra periodicidade que desejar. Outras informações que temos à nossa disposição são os valores máximo e mínimo alcançados pelo ativo durante o período analisado. Ou seja, um papel pode ter começado o pregão cotado a R$ 10, ter recuado para R$ 9,80, avançado em direção aos R$ 10,50, mas encerrado o dia em R$ 10,20. Todos esses aspectos ficam registrados. Além dos detalhes triviais, outros três elementos jamais podem ser ignorados: amplitude total do candle, o tamanho do corpo e o tama- nho das sombras superior e inferior, também conhecidas como pavio. A amplitude nada mais é do que a diferença entre a máxima e a mínima de cada candle, ou seja, é a distância que os preços percorreram de uma extremidade à outra. Essa capacidade de movimentação dos preços no período analisado também é denominada de volatilidade. O tamanho do corpo de cada candle, por sua vez, é medido pela diferença entre a abertura e o fechamento. No caso do candle positi- vo da Figura 7, trata-se da região hachurada em branco. Já no candle negativo, trata-se da região hachurada em preto. No candle neutro, dado que os valores de abertura e fechamento são os mesmos, o corpo é inexistente. Por fim, o último detalhe que vale a pena ser observado em cada candle são as sombras, ou pavios, que basicamente são as hastes que se 4. A menor unidade dos gráficos 51 formam quando as máximas e mínimas não coincidem com os valores de abertura e fechamento. Levando em conta a amplitude total do candle, quanto maiores forem as sombras, menores serão os corpos, e vice-versa. Nesse ponto, retomo minha analogia inicial em relação aos áto- mos e elétrons para ajudar no entendimento desse tópico em particular. De maneira bastante simplificada, quanto maior o estado de agitação dos elétrons, maior sua carga energética e, consequentemente, mais afastados eles se encontram do seu núcleo. No nosso caso, quanto maior o estado de agitação dos preços (volatilidade) e maior a distância entre o valor de abertura (núcleo) e o valor de fechamento (estado energético atual), maior será a representatividade energética desse candle. FIG. 8 Energia dos candles. FIG. 9 Corpo e sombra. O entendimento correto da relação entre corpo e sombra é de fun- damental importância para sabermos como a iteração entre os players ocorreu durante o período analisado. Alguns exemplos de candles e suas variações são apresentados na Figura 9, divididos em duas séries, uma de candles positivos e outra de candles negativos. perda de energia núcleo estado energético atual perda de energia núcleo
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