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FERNANDA CAUS PRADO FERNANDA CAUS PRADO INTRODUÇÃO À TEORIA DO DIREITO A Teoria do Direito é uma disciplina que tem como objetivo observar como o direito é produzido, interpretado e aplicado. A Teoria do Direito se relaciona com o direito do positivo na medida em que busca analisar a sua estrutura e sintetizar seus conceitos, mas sua abordagem não é puramente interna – como aquela oferecida pela dogmática jurídica – uma vez que, para produzir um conhecimento de caráter geral dos sistemas jurídicos, recorre a saberes externos como aqueles produzidos pela Teoria do Estado, pela Ciência Política, pela Filosofia, pela Sociologia, etc. A Teoria do Direito possui, portanto, um caráter interdisciplinar, ou seja, estabelece relação com outros ramos do conhecimento cotejando o que é comum entre eles. Em função da especificidade da Teoria do Direito e do seu caráter interdisciplinar é fácil compreender que não existe apenas uma Teoria do Direito e tampouco uma única resposta à pergunta: o que é o direito? A Teoria do direito é uma disciplina intrinsecamente crítico. Ela precisa buscar uma visão global do direito, dos seus elementos, conceitos, ideologias, jogos de força que o põem ou depõem e isso, como é fácil compreender, leva à superação dos limites do conhecimento jurídico- dogmático. Origem etimológica do direito Conceituar uma palavra é defini-la. Dizer o que ela significa ou dizer o que uma coisa é. Nas línguas modernas encontramos dois tipos de definição de direito. A origem etimológica vem do latim, DIRECTUM ou RECTUM: aquilo que é direito, aquilo que é reto, aquilo que é correto, aquilo que é certo. Derivação do verbo DIGERE, que significa guiar, conduzir, traçar, alinhar. O vocábulo JUS era utilizado pelos romanas para enquadrar e nomear condutas lícitas, logo, as condutas ilícitas eram conhecidas como injúrias. Para alguns estudiosos jus deriva do latim JUSSUM, que significa ordenar, mandar. A origem pode ser ainda mais remota, vindo do sânscrito YU. A raiz remota pode ser também do védico, YOSÓ, o que é bom, o que é santo, o que é direito. Justiça, juiz, jurista, jurisprudência, jurídico, judiciário, judicial, jurisconsultos. A origem etimológica dessas palavras encontra outro termo latino, o vocábulo JUS, que também significa direito. É a partir dele que podemos encontrar as origens mais remotas do direito. JUBERE: mandar, ordenar JUSTUM: aquilo que é justo, ou conforme a justiça O que é direito O vocábulo direito comporta vários sentidos. Não há uma definição fixa de direito que sirva para todos os povos e todos os tempos. Compreender o direito é compreender a nossa própria condição FERNANDA CAUS PRADO FERNANDA CAUS PRADO humana; é saber porque obedecemos, mandamos, nos indignamos e conversamos algumas estruturas em função de certos ideais. Estudar direito é, portanto, estuda limites e possibilidades da sociabilidade humana. Em toda definição do direito está contida uma compreensão do ser humano raramente explicitada, mas que, no entanto, sustenta o próprio conceito de direito. A definição do direito pressupõe a referência a valores políticos, morais e ideias filosóficas que não são consensuais. De uma forma mais direta, podemos dizer que a definição do direito só pode ser feita por meio de conceitos com alta carga valorativa, como: ordem, Estado, política, justiça, moral, sanção, liberdade, igualdade, etc. O direito é um fenômeno político que nasce do jogo de forças. O direito é ordenação. O direito é norma. Esse conjunto de normas que se faz valer pela força, que deveria valer para os que mandam e para os que obedecem, fará a mediação das forças de conflito dentro de uma sociedade. Direito é o conjunto de normas postas por autoridade competente no âmbito do Estado que se faz valer pela força. – Esse conceito engloba o direito moderno. É um conceito positivista. O direito pode ser um agente de transformação social, pode garantir ao ser humano uma vida digna. Ao mesmo tempo em que pode ser uma prática virtuosa, pode também ser usado de forma distorcida, privilegiando um seleto grupo de indivíduos. O que nos protege do império da força bruta é o direito e esse direito deve estar formalizado. O direito oprime e retira a liberdade, considerando que todo aquele que atenta contra a liberdade de outro deve sofrer uma pena de mesma intensidade. O direito tem essa conotação de ordem, julgo e demanda. Não é perfeito, é fruto de seres humanos, sempre falho. O direito como ciência tem como objeto é a norma. O direito tem suas condições de produção, como a eficácia da norma e até onde podem ir as interpretações das normas. O direito não é uma ordem lógica nem tampouco uma simples estrutura. O direito possui um caráter político que se exprime em tomadas de posição – decisões – em práticas e teorias situadas no tempo e no espaço apoiadas em posições de conteúdo que o teórico do direito não pode ignorar em sua análise, na medida em que elas permitem entender as opções dos legisladores e dos aplicadores do direito. O direito nomeia três realidades distintas: a norma (direito objetivo); uma faculdade ou permissão (direito subjetivo); uma qualidade (a qualidade do direito é a justiça). São princípios básicos e fundamentais do direito: o princípio da presunção da inocência; o princípio de devido processo legal; o princípio da imparcialidade; o princípio público do direito. O Estado e o direito Na modernidade não podemos dissociar direito e Estado. Não existe sociedade sem regras, essas não naturais nem divinas, feitas pelos homens para regular os homens. O direito é monopolizado pelo Estado. Se às autoridades é dado o direito FERNANDA CAUS PRADO FERNANDA CAUS PRADO de produzir normas autônomas que regulam interesses particulares e que tomam a condição do Estado, nós destinatários dessas normas, que vivemos sob o poder soberano do estado, não temos saída além de obedecer a estas decisões. As regras feitas pela força do estado nos obrigam, e não as respeitando estamos sujeitos a sanções. O Estado de direito é aquele sujeito à lei. A representação política não é uma carta de alforria pois os representantes fazem o que querem. Política é um jogo de forças. Poder político é o monopólio da força e da legislação. Não participamos da produção privada do direito, ela exclui a democracia. O que é justiça Dentro da tradição ocidental, o conceito mais remoto de justiça é de buscar que todos tenham o mesmo tratamento. A justiça é um ideal do direito. Os gregos a identificavam como igualdade; Hobbes diz que justiça é sinônimo de segurança, a garantia de uma vida boa; Kant associa a justiça à liberdade. Em sentido objetivo, justiça é igualdade entre todos, o que pode ser comum a todos. Em sentido subjetivo, justiça é satisfatória apenas ao sujeito, parte do ponto de vista do sujeito. Direito natural e direito positivo O direito natural consiste nos valores e princípios fundamentais de proteção do ser humano. Não é escrito, nem ao menos foi criado pelo Estado ou pela sociedade. É revelado em virtude da vida em sociedade e de mecanismos de vivência e razão. Para que traga garantia, deve ser positivado. Por outro lado, o direito positivo é aquele que foi institucionalizado através de mecanismos que lhe conferem validade e eficácia. É garantido pelo Estado e são a ordem jurídica válida para um determinado tempo e espaço, podendo ser escrito ou não. Definições históricas do direito Para Celso, jurisconsulto do século I: direito é a arte do bom e do justo. Para Dante Alighieri, escritor italiano do século XIII: direito é a proporção real e pessoal do homem para o homemque, conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a destrói. Para Hugo Grócio, jurisconsulto holandês do século XVII: o direito é o conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis. Para Emmanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII: direito é o conjunto das condições segundo as quais o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos outros, de acordo com uma lei geral de liberdade. Para Rudolf von Ihering, jurisconsulto alemão do século XIX: direito é a soma das condições de existência social, no amplo sentido, assegurada pelo Estado através da coação.
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