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POLÍTICA E ESTADO

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11CAPÍTU
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uando você pensa em política, o que vem à sua cabeça? Provavelmente algo 
relacionado ao governo, às pessoas que administram a cidade, o estado ou o 
país. Talvez você pense em eleições, em candidatos, no voto. E talvez tenha 
uma opinião desfavorável sobre a política: muita gente, quando ouve falar em 
política, logo pensa em corrupção. 
Mas você já pensou em quantas coisas boas na sua vida foram conseguidas por lutas 
políticas? Por exemplo, hoje você pode postar na internet uma frase como “Odeio todos os 
políticos, o governo é corrupto”. No Brasil, há pouco mais de trinta anos, quem criticasse o 
governo desse jeito poderia ser preso, torturado e até morto. Isso só deixou de ser assim 
graças a um movimento político forte e a um longo processo que mudou a forma de o país 
ser governado. E quem achar que outros problemas graves do Brasil podem ser resolvidos 
sem política está seriamente iludido. 
A Ciência Política ajuda a entender como funcionam o governo e as leis que regula-
mentam a vida de cidadãos como você e seus colegas e de que maneiras os cidadãos se 
organizam para atuar politicamente. 
Neste capítulo 
vamos discutir: 
1 Política e poder
2 O Estado
3 Os contratualistas: 
o que o Estado 
pode fazer?
4 Regimes políticos: 
a democracia
5 Partidos políticos
Grafi te de Banksy em frente à sede do Parlamento, em Londres, Reino Unido, em foto de 2006. 
Esse grafi te fez parte da campanha pacifi sta do cidadão inglês Brian Haw (1949-2011), que viveu 
durante quase dez anos acampado na praça em frente à sede do Parlamento britânico. Protestando 
contra a política externa do Reino Unido e dos Estados Unidos, Brian Haw tornou-se um símbolo do 
movimento contra a invasão do Afeganistão e do Iraque.
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UNIDADE 3 | CAPÍTULO 11
1. POLÍTICA E PODER
O conceito fundamental da Ciência Política é o conceito de poder. Segundo a 
definição do sociólogo alemão Max Weber (ver Perfil no Capítulo 6), o centro da 
atividade política é a busca pelo poder. Para Weber, a política é a luta por partici-
par do poder ou influenciar sua repartição. Mas o que, afinal, é o poder? Você já 
deve ter alguma ideia do que significa poder. Tem poder quem manda, quem é 
capaz de impor sua vontade sobre a dos outros. Essa é a definição clássica de 
poder: a possibilidade de impor sua própria vontade, mesmo que contra a vonta-
de dos outros.
Se um assaltante o ameaça com uma 
arma e lhe ordena que entregue a ele 
seu dinheiro, você provavelmente obe-
decerá, mesmo contra sua vontade. 
Quando isso acontece, ele está exercen-
do poder sobre você. Se a polícia inter-
rompe o assalto e ordena ao ladrão que 
se renda, ele provavelmente vai obede-
cer, mesmo não tendo nenhuma vontade 
de ir preso. Quando isso acontece, os 
policiais exercem poder sobre o ladrão. 
Essas são formas de poder bastante 
simples: alguém obriga outro alguém a 
fazer alguma coisa por meio de ameaça 
de violência física.
Mas o poder com base apenas na 
ameaça de violência é frágil. O ladrão só 
consegue mandar no pequeno número 
de pessoas que mantém sob a mira de 
sua arma. Para o poder se estabelecer 
sobre um grande número de pessoas 
por um tempo razoável, é preciso que 
elas obedeçam mesmo quando não se 
veem explicitamente ameaçadas. Imagine, por exemplo, se o governo precisasse 
manter um policial armado acompanhando cada um de nós, o tempo todo, para 
que cumpríssemos a lei. Dificilmente um governo como esse conseguiria se man-
ter por muito tempo. 
Weber chamou de dominação a probabilidade de encontrar obediência em 
um grupo de pessoas. A dominação, para durar, precisaria ser legítima: isto é, 
precisaria, de alguma forma, convencer as pessoas de que é certo obedecer. As 
pessoas podem se convencer por motivos diferentes. Weber identificou três prin-
cipais tipos de dominação legítima. Eles não são os únicos possíveis e, na prática, 
quase sempre se misturariam em um processo de dominação. Os três tipos de 
dominação legítima, segundo Weber, são os seguintes:
��Dominação tradicional: é a dominação que se baseia no costume — quando 
se obedece porque “sempre foi assim” — ou em um hábito tão forte que nos 
pareceria estranho nos desviarmos dele. Muitas monarquias, por exemplo, fo-
ram e são legitimadas pela tradição: obedecer ao rei e à sua família já se tor-
nou parte da maneira de viver de determinada sociedade, e os súditos acha-
riam estranho viver de outro jeito. Em algumas religiões, é comum que os fiéis 
obedeçam ao líder espiritual porque esse comportamento já se tornou parte 
importante das crenças daquela religião. 
��Dominação racional-legal: é a dominação que se baseia na crença de que é 
correto obedecer à lei. Não porque a lei seja inspirada por ordem ou crença 
divina, ou porque se concorde com todos os detalhes de todas as leis, ou por-
que obedecer seja sempre do seu interesse, mas porque a lei deve ser cumprida. 
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Na foto acima, de 1968, um cidadão da antiga Tchecoslováquia (país que se 
dividiu nas atuais República Tcheca e Eslováquia) tenta impedir o avanço 
de um tanque do exército soviético em Praga. Entre 1945 e 1989, a União 
Soviética impôs pela força governos comunistas em vários países da Europa. 
O cidadão da foto não conseguiu impedir a invasão.
Rei Salman, da Arábia 
Saudita, um exemplo de 
líder que tenta se legitimar 
como representante das 
tradições do país (no caso, 
principalmente das tradições 
religiosas). Na Arábia 
Saudita, o rei é chamado 
de “Guardião das Duas 
Mesquitas Sagradas” (as de 
Meca e Medina). O próprio 
país é assim chamado por 
causa do nome de sua 
família, Saud. Foto de 2015.
252
POLÍTICA, PODER E ESTADO
Para entender o que seria a crença na lei, basta pensar no que consideramos, 
na sociedade moderna, um bom funcionário público. Um bom funcionário pú-
blico deve ter conseguido seu emprego por competência técnica (demonstra-
da em concurso público); deve sempre seguir o que diz a lei; e deve aplicá-la 
igualmente a todos os cidadãos, sejam eles brancos, sejam negros, ricos ou 
pobres, da mesma igreja do funcionário ou não, do mesmo partido político do 
funcionário ou não. Esse funcionário público corresponde ao ideal da domina-
ção racional-legal.
��Dominação carismática: é a dominação que se baseia na crença de que o lí-
der político possui qualidades excepcionais, dons extraordinários. Os lidera-
dos podem acreditar que o líder é inspirado por Deus, ou que é excepcional-
mente capaz de compreender o verdadeiro destino da nação. Os liderados 
podem estar enganados, ou seja, o líder pode não ter nenhuma dessas quali-
dades. Mas ele vai exercer poder sobre eles enquanto os convencer de que 
tem essas qualidades, muitas vezes inspirando-os a fazer coisas que geral-
mente não fariam. 
funcionário público:
funcionário do Estado. 
Os funcionários 
públicos não podem 
ser indicados por 
alguém para os 
cargos que ocupam 
(exceto nos chamados 
cargos de confiança). 
Eles precisam ser 
aprovados em um 
concurso público, no 
qual os candidatos 
são avaliados 
anonimamente. O 
objetivo disso é garantir 
que a seleção considere 
a competência do 
candidato para a 
função, e não suas 
relações pessoais. São 
funcionários públicos, 
por exemplo, os juízes, 
os professores das 
escolas públicas e os 
médicos dos hospitais 
públicos.
LÉXICO
O carisma pode infl uenciar multidões em favor das mais diversas causas. 
Na foto acima, de 1939, o ditador Adolf Hitler, que governou a Alemanha 
entre 1933 e 1945. Hitler incitou o ódio contra minorias, e sua capacidade 
pessoal de mobilização, somada ao contexto histórico do período, teve 
como consequência a perseguição, discriminação e morte de milhões 
de pessoas. Na época, na Alemanha,a vontade do Führer (‘líder’, em 
alemão) valia muito mais do que a lei. Na foto ao lado, o pastor batista 
estadunidense Martin Luther King, em 1965. King combateu as leis racistas 
do sul do país e atuou pela busca da igualdade. As ideias defendidas por 
ele já estavam na pauta de vários movimentos pelos direitos civis dos 
negros nos Estados Unidos, mas suas ações baseadas na não violência e no 
amor ao próximo inspiraram milhões de negros, especialmente entre 1955 
e 1968, ano em que foi assassinado. 
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VOCÊ JÁ PENSOU NISTO?
A quem você obedece? A seus pais, aos professores, a um líder religioso, ao prefeito? Pense nos mo-
tivos que o fazem obedecer a cada uma dessas pessoas. A quais delas você obedece por motivos 
afetivos, a quais porque “é assim que as coisas são”, a quais por reconhecer que são competentes 
em determinada área? Você consideraria que há abuso de poder em algum desses casos? Em caso 
afi rmativo, você deixaria de obedecer?
253
UNIDADE 3 | CAPÍTULO 11
Veja como as coisas são mais complexas do que aparentam. Começamos 
este capítulo vendo que o poder é a possibilidade de impor a vontade sobre os 
outros. Quando concluí mos que o poder que é só imposto não consegue se es-
tabelecer por muito tempo, descobrimos que aqueles que obedecem precisam 
de motivos para obedecer. Esses motivos são muito mais complexos do que o 
medo da violência: a dominação, para ser bem-sucedida, precisa respeitar as 
tradições dos dominados, ou precisa oferecer-lhes a inspiração e o entusiasmo 
que uma grande liderança é capaz de produzir, ou precisa garantir a ordem se-
gundo os princípios da lei. Ou talvez precise oferecer as três coisas, ou ainda 
outras que Weber não listou. 
No fim, os dominados não se limitam a obedecer; eles têm valores, expectati-
vas e exigências que impõem limites a quem exerce o poder. O político que resol-
ver ignorar a questão “Afinal, por que essas pessoas me obedecem?” corre o ris-
co de descobrir que, com o tempo, elas podem parar de obedecer. 
2. O ESTADO
Boa parte dos trabalhos de Ciência Política estuda o Estado. A definição de 
Estado mais utilizada pelos especialistas também foi formulada por Max Weber, 
e diz o seguinte: o Estado é o detentor do monopólio da violência legítima em um 
determinado território. Em outras palavras: o Estado tenta ser a única instituição 
à qual a população reconhece o direito de, em determinadas ocasiões, praticar a 
violência. A população aceita essa situação por diferentes motivos, que variam 
de sociedade para sociedade. Vamos discutir em separado cada parte da defini-
ção de Estado.
Monopólio é uma palavra emprestada da economia e descreve uma empresa 
que consegue se estabelecer como única vendedora de certo produto. Quando 
afirmou que o Estado tenta exercer um monopólio da violência legítima em de-
terminado território, Weber quis dizer que o Estado tenta se tornar a única insti-
tuição capaz de praticar a violência legítima naquele território. 
Mas o que seria a violência “legítima”? Para compreender pense na seguinte 
situação: você está vendo, na TV, imagens de um conflito entre policiais e crimi-
nosos. Os dois lados estão praticando violência, um está atirando no outro. Mas, 
para você, o que cada um está fazendo não é a mesma coisa. Você provavelmen-
te acha que a polícia tem mais direito de atirar nos criminosos do que os crimino-
sos têm de atirar na polícia. Você pode achar que, em circunstâncias como aque-
la, a polícia tem o direito de praticar a violência; os criminosos, não. Em outras 
palavras, você provavelmente considera que a violência praticada pela polícia no 
cumprimento da lei é legítima.
“A violência não é, evidentemente, o único instrumento de que se vale o Estado — não haja a respeito 
qualquer dúvida —, mas é seu instrumento específico. Em nossos dias, a relação entre o Estado e a vio-
lência é particularmente íntima. Em todos os tempos, os agrupamentos políticos mais diversos — a co-
meçar pela família — recorreram à violência física, tendo-a como instrumento normal de poder. Em 
nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana 
que, dentro dos limites de determinado território — a noção de território corresponde a um dos elemen-
tos essenciais do Estado —, reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física.
WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2011. p. 56.
ASSIM FALOU... WEBER
254
POLÍTICA, PODER E ESTADO
Por que costumamos achar que a violência da polícia contra os criminosos é le-
gítima? Porque, em geral, ela é praticada para fazer cumprir a lei. O valor que da-
mos à lei se deve ao fato de que, nas sociedades modernas (como a nossa), predo-
mina a forma de dominação racional-legal, que explicamos no item anterior: para 
nós, o que vale é a lei. Quando vemos policiais cometerem violência sem cumprir a 
lei (por exemplo, matando um inocente), nos revoltamos contra eles. A violência da 
polícia só é considerada legítima quando praticada conforme a lei.
Mas é preciso ter em mente uma coisa muito importante: os Estados modernos 
(brasileiro, estadunidense, francês, etc.) não se formaram porque seus fundadores 
desejavam proporcionar bem-estar à população, respeitar a tradição, garantir o 
respeito à lei, ou porque desejavam ser “modernos”. Vamos ver como esse pro-
cesso está relacionado com nossa discussão sobre o monopólio da violência e a 
necessidade dos dominadores de serem aceitos pelos dominados.
Manifestação realizada em 2015 no bairro de Madureira, Rio de Janeiro (RJ), em protesto contra a 
execução de cinco jovens pela polícia. Embora a polícia tenha legitimidade para usar a violência nos 
casos previstos na lei, a população repudia atos de violência policial arbitrários. 
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VOCÊ JÁ PENSOU NISTO?
Imagine que um país estrangeiro com um exército poderoso invadisse o Brasil 
e destruísse completamente as Forças Armadas brasileiras. Imagine que o 
presidente desse país dissesse que, daquele momento em diante, mandaria 
no Brasil e só ele poderia decidir o que é certo ou errado. Mesmo se o gover-
no invasor tivesse o monopólio da violência, você o reconheceria como legí-
timo? Você acha que o governo invasor poderia sobreviver por muito tempo 
com base apenas na força? 
255
UNIDADE 3 | CAPÍTULO 11
Lembremos do exemplo do poder que o assaltante armado exerce sobre 
sua vítima. Em seus estudos sobre a formação dos Estados modernos, o cien-
tista político e historiador estadunidense Charles Tilly (1929-2008) destacou 
que, quando se formaram, os Estados modernos não eram muito diferentes de 
quadrilhas criminosas que, para não agredir o povo, cobravam dele. Entretan-
to, para se manter, o Estado precisa conquistar o apoio dos governados. 
Você deve ter aprendido nas aulas de História que o Estado moderno cres-
ceu como uma aliança entre os monarcas europeus e a burguesia. O desenvol-
vimento capitalista trouxe mais riqueza para os cofres do Estado. Ao mesmo 
tempo, a burguesia ia “domesticando” o Estado, conquistando cada vez mais 
direitos, obrigando os governos a respeitarem as leis que defendiam suas liber-
dades e sua propriedade.
As classes populares foram motivadas por essas conquistas de direitos, e 
também passaram a se organizar para exigir o direito de votar, de formar sindi-
catos, de defender suas próprias ideias, etc. O resultado desse processo foi a 
formação das democracias modernas.
Entretanto, é importante notar que, como observou Antonio Gramsci (ver 
Perfil no Capítulo 7), nas sociedades modernas o poder não é exercido apenas 
pelo governo, pela polícia, pelos tribunais, pela violência. A disputa pelo poder 
passa pela disputa de ideias, pela produção de cultura, de notícias (e até peladiscussão dentro das próprias Ciências Sociais). 
As diferentes classes e os diferentes grupos sociais lutam, entre outras coi-
sas, para convencer a sociedade de que suas ideias representam o interesse 
de todos. Cada grupo tem sua ideia, por exemplo, de como a sociedade deve-
ria se organizar em relação ao que e como será produzido, como responder às 
demandas públicas de saúde e educação, quais soluções deveriam ser adota-
das para resolver o problema de moradia da população (ou mesmo se isto re-
presenta ou não um problema). Para pôr isso em prática, tenta formar alianças 
que incluam o maior número possível de grupos entre os que serão beneficia-
dos por seu projeto político. Isso nunca será feito apenas pela força, ou só 
pelo interesse econômico, e muito menos pela propaganda, mas exigirá que as 
pessoas sejam convencidas. Gramsci chamou esse processo de luta pela he-
gemonia (a liderança) da sociedade. 
Veja na seção 
BIOGRAFIAS quem 
é Charles Tilly 
(1929-2008).
Em 2003, os Estados Unidos 
invadiram o Iraque alegando, 
entre outras coisas, que 
implantariam a democracia 
no país. A foto mostra a etapa 
relativamente fácil da ação: 
o imenso poderio militar 
estadunidense derrotou o 
ditador Saddam Hussein, 
que governava o Iraque 
(representado na estátua que 
está sendo derrubada, em 
Bagdá). Porém, os Estados 
Unidos não conseguiram 
construir um acordo entre 
os vários grupos étnicos e 
religiosos dentro da sociedade 
iraquiana. Iniciou-se uma 
guerra civil, durante a qual 
surgiu o grupo Estado Islâmico, 
que hoje controla regiões do 
Iraque e da Síria e pratica ações 
terroristas em várias partes do 
mundo. Esse exemplo permite 
demonstrar como é difícil fazer 
política apenas com a força.
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256
POLÍTICA, PODER E ESTADO
Parte importante da política moderna é a disputa entre os vários projetos po-
líticos pela hegemonia. Na democracia, esses diversos projetos se enfrentam sem 
ter o direito de se imporem pela força.
Vamos ver agora algumas ideias que foram fundamentais para a consolidação 
do Estado moderno tal qual o conhecemos. Começaremos com o filósofo Nico-
lau Maquiavel (ver Perfil a seguir), pois não é possível falar da política moderna 
sem falar de sua obra. Maquiavel é considerado o fundador da Ciência Política e 
um dos principais teóricos do Estado moderno por um motivo simples: em vez de 
pensar apenas na política como deveria ser, analisou-a com base no que ela é, 
pensando em exemplos históricos.
autônomo: que se 
governa por conta 
própria. Uma cidade 
autônoma, portanto, 
não é comandada por 
outra cidade ou país. Ao 
mesmo tempo, no caso 
de Florença, ela apenas 
governa a si mesma.
mercenário: soldado 
que serve a quem lhe 
pagar, não importando a 
nacionalidade ou causa. 
LÉXICO
3. OS CONTRATUALISTAS: O QUE O ESTADO 
PODE FAZER?
A origem do Estado, como vimos, está na guerra e na conquista. Maquiavel foi 
o grande pensador da fundação dos Estados. Mas o Estado é uma forma de do-
minação, e, como vimos, a dominação precisa ser legítima, precisa convencer 
quem obedece de que é certo obedecer. Por isso, quando o Estado moderno foi 
formado, vários pensadores tentaram resolver o seguinte problema: quando o Es-
tado é legítimo?
Durante esses debates, muitos dos conceitos atuais sobre liberdade, igual-
dade e democracia foram formados. Vamos explorar agora três autores que 
fundamentaram a existência e as atribuições do Estado e embasaram boa par-
te das ideias políticas que vigoram atualmente. Eles são conhecidos como 
contratualistas, pois viam o Estado como resultado de um contrato entre os 
cidadãos que concordavam em obedecer a uma estrutura de poder com re-
gras próprias. 
Estátua de Maquiavel na 
Galleria degli Uffi zi, em 
Florença, Itália. Foto de 2010.
Viacheslav Lopatin/Shutterstock
Como diplomata, Nico-
lau Maquiavel (1469-1527) 
representou sua cidade na-
tal, Florença, em reinos im-
portantes da Europa. Ven-
do sua cidade de fora, 
Maquiavel percebeu que 
ela estava em uma situa-
ção muito difícil. 
Naquela época, Esta-
dos modernos já haviam se formado em lugares como 
França e Espanha, mas não na região que hoje corres-
ponde à Itália. Cidades como Florença eram autôno-
mas, e a Itália só se unificaria no século XIX. Diante 
dos poderosos exércitos espanhóis e franceses, essas 
cidades pareciam frágeis, o que se provou na derru-
bada do governo de Florença após um conflito com a 
Espanha. O novo governo prendeu, torturou e exilou 
Maquiavel. No exílio, ele escreveu O príncipe, sua obra 
mais famosa. 
O príncipe se propunha a orientar líderes po-
líticos. Um líder deveria, por exemplo, ter seu 
próprio exército, em vez de confiar em merce-
nários, que sempre fogem depois de receber 
seu pagamento. Ele deveria, também, se infor-
mar sobre os costumes dos povos que habitam 
os territórios conquistados (apesar de seu terri-
tório pouco extenso, a Itália até hoje é marcada 
por grande diversidade cultural). O príncipe 
precisaria tomar todo cuidado com os nobres e 
poderosos que pudessem vir a se tornar seus ri-
vais. E não deveria vacilar quando fosse neces-
sário cometer violências e crueldades contra 
seus inimigos.
Hoje não aceitaríamos muitas das orientações 
que Maquiavel deu em O príncipe, como sua de-
fesa do uso da crueldade em várias situações. 
Mesmo assim, podemos aprender algo com elas: 
o caráter violento da formação dos Estados na-
cionais modernos.
PERFIL
NICOLAU MAQUIAVEL
257
UNIDADE 3 | CAPÍTULO 11
Isto é, embora o Estado tenha se formado por meio da conquista e da guer-
ra, os contratualistas se perguntavam: se todos nos reuníssemos e fundássemos 
um Estado por nossa própria vontade, como ele seria? Esse Estado seria, sem 
dúvida, legítimo, pois expressaria a vontade livre dos que obedecem. 
Contratualistas como os ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Lo-
cke (1632-1704) e o franco-suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) se per-
guntaram como seria a vida sem o Estado, no que chamavam de estado de 
natureza. Por que as pessoas que viviam no estado de natureza decidiriam 
criar o Estado?
Para Thomas Hobbes, a vida no estado de natureza seria violenta, pobre e cur-
ta. Se você vivesse no estado de natureza, teria medo de ser atacado pelas outras 
pessoas. Afinal, se duas delas se juntassem para matá-lo e roubar tudo o que você 
possuía, o que poderia ser feito? A melhor coisa a fazer seria se armar para se de-
fender. Assim, haveria uma guerra de todos contra todos. Nessa situação, ninguém 
teria interesse em trabalhar muito. Sem poder trabalhar muito para se alimentar, e 
sempre preocupado em fazer guerra contra as outras pessoas, não é provável que 
você conseguisse sobreviver por muito tempo.
Veja na seção 
BIOGRAFIAS quem 
são Thomas Hobbes 
(1588-1679), John 
Locke (1632-1704) 
e Jean-Jacques 
Rousseau (1712-1778).
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Folha de rosto (página que abre um 
livro) da primeira edição de Leviatã, 
de 1651, principal obra de Thomas 
Hobbes. A armadura do gigante 
(que representa o Estado) é formada 
por uma multidão de pequenas 
pessoas que abdicaram de sua 
liberdade em troca da proteção pelo 
gigante que construíram.
258
POLÍTICA, PODER E ESTADO
Nessa situação, disse Hobbes, o medo levaria as pessoas a fundar o Estado. 
Nesse momento, elas abririam mão de sua liberdade e concordariam em obede-
cer ao Estado. Em contrapartida, o Estado deveria garantir a paz e a lei, para que 
as pessoas, sem medo de serem atacadas a qualquer momento, pudessem tra-
balhar e prosperar. Hobbes viveu durante uma sangrenta guerra civil na Inglater-
ra. Por esse motivo, sua maior preocupação com relação ao Estado era a de que 
ele garantisse a paz. 
John Locke tinha uma visão bem mais otimista sobre o estado da natureza. 
Nele as pessoas seriam livrese já teriam direito à propriedade do que produzis-
sem. Para entender por que esse direito seria reconhecido, vamos supor um 
exemplo: quando você cuida de uma plantação, seu trabalho fica misturado à ter-
ra. Como é impossível separar seu trabalho da terra (sem destruir a plantação), 
aquela plantação é sua — no contexto do estado de natureza. Mas, se o estado 
de natureza não era tão abominável como Hobbes imaginava, por que as pessoas 
fundariam o Estado? 
Bem, porque muitas vezes surgiriam conflitos sobre quem teria direito a quê. 
E ninguém é bom juiz de si mesmo. Dessa forma, seria preciso fundar o Estado 
para que ele fosse o juiz nesses casos. E aqui está a diferença entre Hobbes e Locke: 
o Estado, para Locke, não poderia julgar do jeito que quisesse. Quando as pesso-
as fundaram o Estado, elas já tinham direito à liberdade e à propriedade. Por isso, 
só seriam obrigadas a obedecer ao Estado se ele protegesse os direitos à liber-
dade e à propriedade que elas já possuíam no estado de natureza. Assim, se o 
Estado ameaçasse sua liberdade ou sua propriedade, qualquer um teria o direito 
de se rebelar contra ele. Locke viveu na época da Revolução Gloriosa inglesa: 
como resultado dessa revolução, o rei foi obrigado a aceitar leis que limitavam 
seu poder e garantiam direitos aos seus súditos.
Para Rousseau, o estado de natureza era ainda melhor do que na concep-
ção de Locke. Se você vivesse no estado de natureza de Rousseau, seria livre 
e feliz com o pouco que possuísse. Entretanto, o convívio levaria você a se 
importar cada vez mais com a opinião alheia e a tentar ser melhor que seus 
semelhantes. Aos poucos, as pessoas deixariam de ser iguais, e o golpe final 
contra a igualdade viria com a invenção da propriedade. Após a invenção da 
propriedade, seria necessário criar o Estado e as leis para protegê-la.
Mas a perda da liberdade natural do ser humano poderia ao menos ser com-
pensada pela conquista da liberdade do cidadão. Para Rousseau, a única maneira 
de preservar a liberdade após o surgimento do Estado seria se todos aceitassem 
entregar seus direitos uns aos outros (e não ao governante, como na concepção 
de Hobbes). Ao fazer isso, o indivíduo não teria interesse em exigir demais das 
outras pessoas, porque tudo o que exigisse poderia ser exigido dele também. 
Nesse contexto, seria preciso merecer sua liberdade, participando da vida políti-
ca do país e, principalmente, da elaboração de suas leis. O Estado mereceria ser 
considerado legítimo quando suas leis fossem criadas pela Vontade Geral, que é 
a vontade do conjunto dos cidadãos que visa ao bem comum. Se cada um pensar 
somente em si mesmo ao escrever as leis, o Estado funcionará mal, e aos poucos 
todos perderão sua liberdade.
VOCÊ JÁ PENSOU NISTO?
Imagine que você tem um confl ito com seu vizinho. Pode ser um confl ito sim-
ples (ele ouve música alto demais) ou mais grave (ele desafi a todo mundo a 
brigar). Como você resolve isso? Se não for possível resolver o problema con-
versando, você chamará a polícia (isto é, chamará o Estado para ser o juiz)? 
O que a polícia teria direito de fazer caso fosse chamada? Você acha que a 
polícia poderia agredir seu vizinho ou quebrar os móveis da casa dele? Que 
direitos você acha que seu vizinho tem que o Estado não pode desrespeitar?
Retrato de Thomas 
Jefferson (1743-1826), 
um dos principais líderes 
da independência e o 
terceiro presidente dos 
Estados Unidos, feito 
em 1800 por Rembrandt 
Peale. A Declaração 
de Independência 
e a Constituição 
estadunidenses foram 
muito infl uenciadas pelas 
ideias do inglês John 
Locke, em especial por seus 
conceitos de liberdade e 
propriedade.
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259
UNIDADE 3 | CAPÍTULO 11
Algumas ideias dos contratualistas
Como seria a vida sem 
o Estado? 
Por que se formaria o 
Estado?
O que as pessoas 
poderiam esperar 
do Estado?
Hobbes
Violenta e pobre (a guerra 
de todos contra todos).
O medo de morrer faria as 
pessoas aceitarem uma 
autoridade que garantisse 
a ordem.
Que a paz e a ordem 
fossem garantidas.
Locke
As pessoas já teriam 
direitos naturais.
Ninguém é bom juiz de si 
mesmo, e o Estado seria 
necessário para decidir 
conflitos entre as pessoas.
Que os direitos e as 
liberdades individuais 
fossem preservados.
Rousseau
As pessoas seriam livres e 
se contentariam com 
pouco.
Para defender a 
propriedade, que daria 
início à desigualdade 
entre as pessoas.
Que os cidadãos possam 
participar ativamente das 
decisões do Estado, em 
nome do interesse de 
todos.
As ideias de Hobbes, Locke e Rousseau ajudam a entender melhor o que ex-
plicamos sobre política e sobre o Estado. Hobbes formulou uma justificativa con-
sistente para a existência do Estado, e suas ideias sempre voltam à tona quando 
a ordem pública está seriamente ameaçada (por exemplo, quando há uma guer-
ra civil ou um surto de violência). Locke foi o primeiro grande defensor moderno 
da liberdade e dos direitos do cidadão, tanto políticos quanto econômicos. E 
Rousseau discutiu com especial competência as questões da democracia e da 
igualdade.
4. REGIME S POLÍTICOS: A DEMOCRACIA
Na discussão sobre os contratualistas, vimos que há opiniões diferentes sobre 
como o Estado deve ser organizado, quais são os direitos e deveres dos cidadãos 
e que valores os cidadãos devem ter para que a política funcione bem. Depen-
dendo de sua posição diante dessas questões, podemos dizer que você defende 
certo tipo de regime político. Segundo o Dicionário de política organizado pelos 
italianos Norberto Bobbio (1909-2004), Nicola Matteucci (1926-2006) e Gian-
franco Pasquino (1942-), um regime político é o conjunto de instituições, leis e 
valores que regulam a luta pelo poder em determinada sociedade. 
Boa parte das diferenças entre os regimes políticos democráticos da atualida-
de se explica pela maneira como, em cada país, se organizam três poderes fun-
damentais: o Legislativo (que tem o poder de escrever e votar as leis), o Executivo 
(que controla o poder para aplicar as leis com base na força — usando, por exem-
plo, a polícia) e o Judiciário (que garante que o Executivo aplique seu poder so-
mente dentro do que diz a lei). 
O regime político que mais nos interessa neste livro é a democracia, que é o 
adotado no Brasil. O regime político em um país é democrático quando ele tem 
três características principais, segundo os cientistas políticos Mike Alvarez (1962-), 
José Antonio Cheibub (1960-), Fernando Limongi (1958-) e Adam Przeworski 
(1940-): 
1. O chefe de governo do Poder Executivo é eleito pelo voto: isso ocorre não 
só quando os eleitores votam diretamente para presidente da República 
(como no Brasil), mas também quando votam nos parlamentares que, por sua 
vez, elegem o primeiro-ministro (como na Inglaterra). 
Veja na seção 
BIOGRAFIAS quem 
são Norberto Bobbio 
(1909-2004), 
Nicola Matteucci 
(1926-2006), 
Gianfranco Pasquino 
(1942-), Mike Alvarez 
(1962-), José Antonio 
Cheibub (1960-), 
Fernando Limongi 
(1958-) e Adam 
Przeworski (1940-).

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