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– 1 • Anatomia sA glândula tireoide está localizada na porção ANTERIOR do pescoço, sobre a parte SUPERIOR DA TRAQUEIA, estando profundamente aos músculos esternocleidomastóideo e esterno-hióideo. A glândula é circundada por uma CÁPSULA FIBROSA que envia septos para o interior do órgão, além de haver tecido conjuntivo denso para fixar a tireoide à CARTILAGEM CRICOIDEA e aos ANEIS TRAQUEAIS SUPERIORES. É a maior glândula puramente endócrina do corpo humano, sendo dividida anatomicamente em LOBOS e ISTMO, sendo este último localizado entre os 2º e 4º anéis traqueais e é responsável por conectar os dois lobos. A vascularização desta glândula é proveniente das ARTÉRIAS TIREÓIDEAS SUPERIOR (ramo da carótida externa) E INFERIOR (ramo do tronco tireocervical da artéria subclávia). Um terceiro lobo, o lobo piramidal, pode ser encontrado fixado ao istmo, como se fosse uma porção remanescente do DUCTO TIREOGLOSSO. Este ducto é o caminho pelo qual, durante a embriologia, a tireoide descende do assoalho da faringe primitiva (ao nível do forame cego) até a região cervical anterior. Tireoide Sublingual – em alguns casos, por uma migração incompleta da glândula, pode se encontrar a TIREOIDE SUBLINGUAL, que possui atividade hormonal PRESERVADA! – 2 • Histologia A tireoide é composta por FOLÍCULOS OCOS e aproximadamente esféricos que estão separados por um tecido CONJUNTIVO FROUXO ricamente vascularizado por capilares. As paredes dos folículos são compostas por uma camada simples de CÉLULAS CUBOIDES ou ESCAMOSAS, que são denominadas CÉLULAS FOLICULARES, e o centro do folículo é preenchido por COLOIDE, uma substância gelatinosa composta por TIROGLOBULINA (proteína a qual o hormônio tireoidiano é derivado). No tecido conjuntivo frouxo que separa os folículos, estão as CÉLULAS PARAFOLICULARES! • Fisiologia As células foliculares possuem DOIS POLOS e, portanto, DUAS MEMBRANAS: uma apical me contato com o coloide e uma basal em contato com o interstício. As reações de produção hormonal ocorrem ao nível da MEMBRANA APICAL, que é onde está localizada a PEROXIDASE TIREOIDEA (TPO). Hormônios São dois os hormônios tireoidianos: T4 – TIROXINA e T3 – TRI- IODOTIRONINA, ambos são formados pela IODAÇÃO de resíduos de tirosina da TIREOGLOBULINA, uma proteína com cerca de 5.496 aminoácidos (dentre eles, a tirosina) que é secretada pelas células foliculares e armazenada no coloide! O iodo, sob a forma de iodeto, é captado da corrente sanguínea pela tireoide por meio do CARREADOR Na/I da membrana em contato com os capilares sanguíneos, a membrana basal. Devido a esse transporte ativo, a concentração de IODETO é cerca de 30-40x maior na glândula do que no plasma sanguíneo! – 3 Peroxidase Tireoidea Esta enzima tem papel importante no catabolismo de 3 reações: ➔ Oxidação do Iodo – combina o iodeto da corrente sanguínea com o peróxido de oxigênio. ➔ Iodação dos resíduos de tirosina da tireoglobulina – forma a MONOIODOTIROSINA (MIT) e a DIIODOTIROSINA (DIT). ➔ Acoplamento das iodotirosinas – esse acoplamento forma os hormônios tireoidianos. • TRIIODOTIRONINA = MIT + DIT • TETRAIODOTIRONINA = DIT + DIT Armazenamento e Liberação Os hormônios produzidos são armazenados na tireoglobulina iodada, que, por sua vez, está localizada no colóide. Para que haja a liberação para a corrente sanguínea, há PINOCITOSE de porções coloide pelas células foliculares, o que forma vesículas no interior do citoplasma que irão se fundir a outras VESÍCULAS LISOSSOMIAIS. Já em contato com as enzimas provenientes dos lisossomos, haverá HIDRÓLISE da tireoglobulina iodado, liberando MIT, DIT, T3 e T4. O T3 e o T4 ganham a corrente sanguínea, enquanto o MIT e o DIT sofrem ação da DESIODASE TIPO 1, que libera novamente iodeto para a célula (uma forma de conservação do iodo). ➔ T3 e T4 – a produção de T4 é muito maior do que a de T3 na tireoide (20:1), embora já se saiba que o T3 é o responsável pela atividade fisiológica nos tecidos periféricos. Devido a isso, grande parte do T4 que penetra nos órgãos-alvo é logo convertida em T3 por meio da DESIODASE TIPO 1 (grande parte) e da DESIODASE TIPO 2 (cérebro, hipófise, tecido adiposo marrom). – 4 Eixo Hipotálamo-Hipófise-Tireoide Os neurônios hipotalâmicos dos núcleos supraóptico e supraventricular sintetizam e liberam o HORMÔNIO LIBERADOR DA TIREOTROFINA (TRH) na circulação porta hipofisária (irriga as células da adeno-hipófise). Ao atingir os TIREOTROFOS (células que produzem e secretam o Hormônio Tireoestimulante – TSH), o TRH estimula a liberação do TSH = TIREOTROFINA. ➔ TSH – é uma glicoproteína composta por 2 SUBUNIDADES: alfa e beta. A porção alfa é comum a diversos outros hormônios glicoproteicos (LH, FSH, hCG), enquanto a porção BETA é responsável pelo EFEITO ESPECÍFICO hormonal. A liberação do TSH na corrente sanguínea é feita de forma PULSÁTIL (apx a cada 2h) em um ciclo circadiano com pico máximo no INÍCIO DA MADRUGADA (0h e 4h). Ao chegar até a CÉLULA FOLICULAR, o TSH se liga ao seu receptor, causando os seguintes efeitos: ▪ Efeito Trófico – promove hipertrofia das células foliculares bem como um aumento da vascularização da glândula. ▪ Estímulo para a síntese do TH – aumenta a produção da enzima TPO, da TIREOGLOBULINA e do CARREADOR Na/I. ▪ Estímulo para liberação do TH – aumenta a pinocitose do coloide e, consequentemente, da tireoglobulina iodada contida nele. ➔ Regulação do Eixo – A glândula tireoide libera T3 e T4, sendo que este último, nos órgãos-alvo, é convertido em T3. O T3, então, tem a capacidade de INIBIR a liberação hipotalâmica do TRH por um mecanismo de RETROALIMENTAÇÃO NEGATIVA. Diante disso, percebe-se que os próprios hormônios tireoidianos regulam a sua produção – se houver uma diminuição do TH por algum motivo, a produção de TRH e TSH vai estimular a liberação. ▪ Distúrbios - Assim, classificamos os distúrbios tireoidianos em PRIMÁRIOS (de origem na própria glândula tireoide), SECUNDÁRIOS (de origem hipofisária) ou TERCIÁRIOS (de origem hipotalâmica). A dosagem do TSH diferencia com precisão o distúrbio primário do secundário/terciário. Nos distúrbios primários, o TSH sempre varia de forma inversa aos níveis plasmáticos de hormônios tireoidianos, devido ao feedback negativo. Calcitonina As células PARAFOLICULARES do interstício tireoidiano secretam CALCITONINA, um hormônio proteico liberado mediante a elevação dos níveis de CÁLCIO no sangue! A calcitonina é responsável por DIMINUIR os níveis de cálcio no sangue por meio da lentificação da atividade dos OSTEOCLASTOS e do aumento da excreção de cálcio pelos RINS. Este hormônio parece tem maior atividade na INFÂNCIA, quando o sistema ósseo está em constante crescimento. – 5 • Hipotireoidismo É uma síndrome clínica causada pela SÍNTESE/SECREÇÃO insuficiente dos hormônios tireoidianos, levando a uma LENTIFICAÇÃO GENERALIZADA do metabolismo. Nas formas mais graves dessa lentificação, ocorre a deposição de MUCOPOLISSACARÍDEOS na derme, causando um EDEMA SEM CACIFO = MIXEDEMA. O hipotireoidismo pode ser classificado em PRIMÁRIO, quando há falência da tireoide, SECUNDÁRIO, quando há deficiência de TSH/falência hipófise, e TERCIÁRIO, quando há disfunção do TRH/hipotálamo – as duas últimas formas são denominadas “hipotireoidismo central”. A forma primária da doença representa cerca de > 90% dos casos com maior prevalência em indivíduos > 65 anos (prevalência de 2-4%). O hipotireoidismo CONGÊNITO (grande maioria dos casos é primário por disgenesia) é diagnosticado em 1:2.000 recém- nascidos por meio do teste do pezinho! Fatores de Risco – idade > 65 anos, sexo feminino (proporção 8:1), puerpério, história familiar, irradiação prévia da cabeça e pescoço, doenças autoimunes, fármacos (amiodarona, lítio,tionamidas e interferon-alfa), síndrome de down e síndrome de turner, dieta pobre em IODO e infecção crônica pelo HCV. • Etiologia A frequência das etiologias é variável na literatura, uma vez que depende da interferência de fatores GENÉTICOS, GEOGRÁFICOS e CULTURAIS da população em estudo. ➔ Tireoidite de Hashimoto – É a causa mais COMUM de hipotireoidismo em áreas com IODO em quantidade suficiente, como o Brasil. É uma doença AUTOIMUNE que é assintomática nos primeiros meses/anos do seu desenvolvimento, mas, lentamente após destruir o parênquima tireoidiano, causa FALÊNCIA TIREOIDIANA. Clinicamente, no momento do diagnóstico, pode-se encontrar um paciente EUTIREOIDIANO (2/3 dos casos) ou um paciente em franco HIPOTIREODISMO (1/3) – existem casos paradoxais em que pode haver LEVE TIREOTOXICOSE, que, nesta doença, é chamada de HASHITOXICOSE. Nesta última condição, há liberação de hormônio tireoidiano PRÉ-FORMADO quando ocorre a destruição dos folículos, ou seja, é uma liberação sem que houvesse estímulo hormonal para tal. Pelo processo fisiopatológico de inflamação crônica, pode haver BÓCIO INDOLOR! Laboratorialmente, identifica-se o anti-LPO e o aumento de TSH! o Em áreas com Iodo em quantidade suficiente, depois de Hashimoto, a etiologia mais frequente em ADULTOS é a IATROGÊNICA – aqueles pacientes submetidos à tireoidectomia total/subtotal necessitarão de REPOSIÇÃO DE LEVOTIROXINA. Além disso, o uso de drogas TIREOTÓXICAS, como amiodarona e lítio, e a tireoidite PÓS-PARTO são outras causas comuns! o Em áreas com BAIXO APORTE DE IODO (<100mcg/dia), a causa mais comum de hipotireoidismo é a CARÊNCIA NUTRICIONAL deste. o Crianças – a etiologia mais comum depende da faixa etária! No período NEONATAL, a forma mais comum é o HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO ou por disgenesia glandular ou por insuficiência hormonal. – 6 ➔ Hipotireoidismo Central – secundário ou terciário – tem como principal causa o TUMOR HIPOFISÁRIO! Outras etiologias incluem a necrose hipofisária após hemorragias pós-parto graves. Nas crianças, as etiologias centrais envolvem mais frequentemente o CRANIOFARINGIOMA, um tipo de tumor hipofisário cujo marco radiológico é a presença de CALCIFICAÇÕES HETEROGÊNEAS NA SELA TÚRCICA – essa etiologia é tão importante que, após diagnóstico de hipotireoidismo em criança, é mandatório a realização do RX lateral de crânio!!! • Sinais e Sintomas As manifestações estão em um espectro de gravidade! Então, aqueles casos mais prolongados e com uma carência hormonal maior, mais graves e numerosas serão as alterações. O quadro típico e clássico de hipotireoidismo com os comemorativos é RARAMENTE encontrado na prática, enquanto aqueles LEVES/INESPECÍFICOS representam a maioria dos casos! É preciso ter em mente que a deficiência dos hormônios tireoidianos causa: LENTIFICAÇÃO GENERALIZADA DOS PROCESSOS METABÓLICOS e ACÚMULO DE GLICOSAMINOGLICANOS no interstício dos órgãos e tecidos! ➔ Hipotireoidismo na Criança – Nos casos de hipotireoidismo congênito, é muito provável que, nos primeiros meses de vida, os sinais e sintomas estejam AUSENTES, uma vez que há passagem de razoável quantidade de T4 materno pela placenta, que vai representar entre 25-50% das quantidades necessárias. Após o consumo desse T4 “passivo”, haverá a instalação do quadro de forma mais rápida, sendo um dos sinais mais marcantes a ICTERÍCIA FISIOLÓGICA PERSISTENTE. Além desta, pode-se perceber choro rouco, constipação, sonolência e hérnia umbilical. Caso não haja o tratamento da doença nos 3 PRIMEIROS MESES, haverá importante atraso na maturação ÓSSEA e NEUROLÓGICA, causando baixa estatura e retardo mental = CRETINISMO. ➔ Hipotireoidismo após 2 anos – Nas crianças a partir de 2 anos, caso haja início de um quadro com HIPOTIREOIDISMO, não haverá retardo mental verdadeiro! Nesses casos, ocorrerá baixa estatura, atraso no desenvolvimento puberal e graus variáveis dos sinais e sintomas observados no indivíduo adulto. Eventualmente, um hipotireoidismo infantil grave cursará com PUBERDADE PRECOCE ISOSEXUAL (Síndrome de Van Wyk Grumbach). Primário Autoimune: Tireoidite de Hashimoto – Principal causa em áreas com iodo suficiente. Nutricional: carência de iodo – Principal causa em áreas com carência de iodo. Iatrogênica: radioablaçã com 131I, tireoidectomia total e irradiação cervical. Drogas: principalmente aquelas com grande quantidade de iodo na sua formulação (amiodarona e meio de contraste), mas também o lítio, tionamidas, IFN-alfa e outros. Congênito: disgenesia da glândula (agenesia, hipoplasia, ectopia) Doenças Infiltrativas: amiloidose, sarcoidose, esclerodermia, cistinose, tireoidite de Riedel. Central (Secundário e Terciário) Hipopituitarismo (hipotireoidismo secundário): tumores, cirurgia, irradiação, Síndrome de Shehan (infarto da hipófise no pós-parto), trauma, congênito. Doenças hipotalâmicas (hipotireoidismo terciário): tumores, trauma, desordens infiltrativas. Transitório Tireoidite “silenciosa” Tireoidite Subaguda Resistência ao Hormônio Tireoidiano – 7 – 8 • Achados Laboratoriais Inespecíficos ➔ Anemia – pode ser de diversos tipos de acordo com o mecanismo subjacente que se destaca. O tipo normocítica/normocrômica é decorrente da hipoproliferação medular às custas da diminuição generalizada do metabolismo. A anemia macrocítica é frequente quando há gastrite atrófica e má absorção de B12 associada. O tipo microcítica/hipocrômica é mais comum nos casos em que há menorragia. ➔ Dislipidemia – Ocorre pelo aumento do LDL, uma vez que ocorre a diminuição do receptor hepático de LDL – reduz o clearence, então a molécula fica retida no plasma. Além disso, há aumento dos TRIGLICERÍDEOS pela diminuição da expressão de LIPASE LIPOPROTEICA! ➔ Enzimas Musculares – pode haver o aumento de CPK, aldolase, LDH, TGO(AST) por uma MIOPATIA subjacente. ➔ TRH e TSH – A queda dos níveis de T4 livre promove a ativação reflexa do eixo HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE, aumentando a liberação do TRH (hipotálamo) e TSH (hipófise). É importante destacar que, por ser muito semelhante a outros hormônios hipotalâmicos, o TRH pode estimular a liberação de outros hormônios hipofisários (para além do TSH)!!! Dentre estes hormônios, destacam-se a PROLACTINA e as GONADOTROFINAS. ➔ Paratormônio e Vitamina D – ambos podem estar discretamente aumentados, causando uma leve hipercalcemia • Diagnóstico Laboratorial ➔ Hipotireoidismo Primário – É caracterizado, na fase concretizada da doença, por elevação do TSH e por T4 LIVRE baixo – o T3 também está diminuído, mas não é habitualmente dosado! No início do quadro, geralmente o T4 está em níveis normais e o TSH encontra-se elevado = HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO – a glândula tireoide está sendo destruída aos poucos, então ocorre liberação da “reserva” tireoidiana progressivamente, sendo necessário cada vez mais TSH para liberar as reservas restantes na glândula! ➔ Hipotireoidismo Central – Secundário ou Terciário – Nesses casos, o TSH encontra-se BAIXO ou EXTREMAMENTE BAIXO, sugerindo uma alteração ao nível central. Em casos raros, pode haver DISCRETA ELEVAÇÃO do TSH pela produção de uma molécula BIOLOGICAMENTE INATIVA, mas IMUNOLOGICAMENTE ATIVA = TSH rico em ácido siálico. Após a constatação de alterações ao nível central, é necessária a realização de RESSONÂNCIA DA SELA TÚRCICA para pesquisa de doenças que justifiquem esse achado. ➔ Anticorpos Antitireoglobulina e Antiperoxidase – a presença destes anticorpos indica um processo AUTOIMUNE subjacentes, como quando ocorre na tireoidite de Hashimoto. ➔ Teste do TRH – Naqueles hipotireoidismos centrais, o teste do TRH é considerado um DIVISOR DE ÁGUAS para diferenciar as causas hipotalâmicas de hipofisárias, embora não seja muito útil na prática. Essa inutilidade é devido ao mecanismofisiopatológico subjacente: a deficiência endógena de hormônio hipotalâmico condiciona a hipófise a respostas subnormais MESMO COM TRH EXÓGENO, ou seja, esse estímulo cronicamente diminuído causa ATROFIA dos tireotrofos da hipófise, o que dificultaria a interpretação do teste do TRH!! – 9 • Tratamento Consiste na administração de dose ÚNICA E DIÁRIA de LEVOTIROXINA (T4) de preferência pela MANHÃ e com o ESTÔMAGO VAZIO. A levotiroxina tem meia vida de 7 dias, justificando a escolha deste em detrimento do liotironina (T3), que possui meia-vida relativamente curta. A posologia varia de acordo com o PESO, IDADE e COMORBIDADES do paciente, sendo, no jovem saudável, de 1,6 a 1,8 micrograma/kg/dia; nos idosos, a dose é 50 microgramas/dias; em cardiopatas graves a dose é de 12,5-25 micrograma/dia (com escalonamento). Este cuidado é importante, uma vez que a LEVOTIROXINA irá aumentar o metabolismo, então, em pacientes coronariopatas, por exemplo, aumentará o consumo de OXIGÊNIO pelo miocárdio, podendo levar a uma isquemia!! O objetivo do tratamento é manter o TSH na faixa de REFERÊNCIA, ou seja, entre 0,5 e 5 um/L! Se o paciente possui TSH próximo ao LIMITE SUPERIOR dos valores de referência e mesmo assim apresenta sinais e sintomas, é recomendado o aumento da dose até atingir o LIMITE INFERIOR! Lembre-se que o TSH está elevado, portanto a meta é diminuir progressivamente seus valores! Após o início do tratamento, a dosagem de TSH deve ser feita após 4- 6 SEMANAS, visando ao ajuste da dose. Nos casos de HIPOTIREOIDISMO CENTRAL, o controle da dose de levotiroxina deve ser feito pelos níveis de T4 LIVRE NO SANGUE. Obs: A levotiroxina tem maior ABSORÇÃO A NOITE, podendo ser utilizada uma menor dose do hormônio. A administração nesse período do dia, entretanto, não é recomendada pois o fármaco pode causar INSÔNIA GRAVE! Na tireoidite de Hashimoto, somente cerca de 10% dos pacientes reassumem a FUNÇÃO NORMAL da glândula após meses ou anos do tratamento. Os quadros secundários à RADIOABLAÇÃO ou CIRURGIAS são autolimitados. – 10 • Hipotireoidismo Subclínico Condição em que o TSH eleva e o T4 livre está normal. Antes de seguir: o termo “subclínico” é, atualmente, inadequado, uma vez que os pacientes podem sim apresentar manifestações clínicas CLÁSSICAS – este termo se refere exclusivamente ao achado LABORATORIAL característico! A taxa de progressão para a forma CLÍNICA/MANIFESTA com TSH elevado e T4 baixo gira em torno de 5% ao ano, principalmente quando o anti-TPO é positivo! Segundo a literatura, o tratamento dessa condição deve ser realizado quando: TSH > 10mU/L; gravidez ou planejamento de gravidez; pacientes com sintomas decorrentes da deficiência de hormônios tireoidianos (depressão ou dislipidemia), bem como aqueles com anti-TPO elevado. o Obs: existem condições em que há AUMENTO DO TSH com níveis de T4 LIVRE NORMAIS sem que seja um hipotireoidismo subclínico, como no período de convalescência de doenças não tireoidianas, insuficiência adrenal, uso de metoclopramida. Nesses casos em específico, não há indicação para o uso de LEVOTIROXINA. • Hipotireoidismo na Gestação Sabe-se que os hormônios tireoidianos são importantíssimos para o DESENVOLVIMENTO DO FETO – o T4 é crucial para a formação do SNC durante toda a gestação (principalmente no primeiro trimestre)! Durante a gravidez, mulheres com hipotireoidismo prévio não são capazes de aumentar sua PRODUÇÃO de hormônios de forma adequada (além de haver aumento da degradação do T4 pela placenta), sendo importante a reposição direta de LEVOTIROXINA. ➔ Rastreio – o rastreamento é realizado pela dosagem de TSH, T4 e anticorpos antitireoidianos. Na presença de TSH acima de 4mUI/L, suspeita-se de hipotireoidismo. ➔ Reposição – realizada com LEVOTIROXINA durante a gestação e após o parto. Se houver autoimunidade associada, considerar o TSH... TSH < 2, a reposição de levotiroxina não é necessária, porém se TSH entre 2 e 4, realizar tratamento. – 11 • Síndrome do Eutireóideo Doente (SED) É uma síndrome que ocorre em pacientes com DOENÇAS SISTÊMICAS GRAVES, como AIDS, sepse, desnutrição grave, insuficiência cardíaca... Estas condições elevam a produção de CITOCINAS, que podem causar anormalidades FUNCIONAIS NO TSH ou nos HORMÔNIOS TIREOIDIANOS CIRCULANTES! Por esse motivo que são solicitados exames de função tireoidiana em pacientes agudamente enfermos. ➔ Laboratório – nesses casos, o padrão mais encontrado é o da DIMINUIÇÃO DE T3 (total e livre) com níveis NORMAIS DE T4 e TSH – a magnitude da queda do T3 guarda relação com a GRAVIDADE da doença. Essa diminuição parece ter relação com a baixa conversão periférica de T4 em T3 pela DESIODASE! Devido a isso, o T4 encontra-se livre para ser transformado em rT3 (T3 reverso – não tem ação biológica), além de que a diminuição da desiodase tipo 1 causa uma deficiência na degradação o rT3! Tudo isso causa um aumento de rT3! ▪ Obs: Nos casos em que a doença de base é MUITO GRAVE, pode haver também a SÍNDROME DO T4 BAIXO – T4 baixo e o T3 mais ainda. ➔ Doença Hepática Aguda – há um aumento inicial de T3 e T4 pela maior liberação hepática de TBG (thyroxin binding globulin – se liga ao T4). Lembrar: a dosagem de T3 e T4 é igual a soma da FRAÇÃO LIGADA A TBG e a FRAÇÃO LIVRE. ➔ Doença Psiquiátrica Aguda – o aumento transitório de T4 com T3 normal é observado em 5-30% dos pacientes. ➔ AIDS – nas fases iniciais, os níveis de T3 e T4 se elevam. Com a evolução da doença, o T3 diminui progressivamente. TSH normal. ➔ Insuficiência Renal - Baixas concentrações de T3(diminuição da conversão periférica) são observadas em pacientes com insuficiência renal. Curiosamente, os níveis de rT3 apresentam-se normais. Este fenômeno deve-se à presença de um fator ainda desconhecido que aumenta a captação hepática de rT3. • Efeito da Amiodarona Cerca de 39% do peso da amiodarona é IODO, além de ser uma molécula capaz de inibir a 5’mono deiodinação e agir como INIBIDORA dos hormônios tireoidianos em seus sítios de ação! É um fármaco lipossolúvel que permanece armazenado no tecido adiposo por até 6 MESES após a interrupção da droga. Geralmente, o uso da amiodarona é indicado para pacientes com FIBRILAÇÃO ATRIAL secundária ao HIPERTIREOIDISMO, causando três efeitos: o Alterações agudas e transitórias da função tireoidiana o Hipotireoidismo induzido pelo iodo – Efeito Wolff-Chaikoff – Causa inibição sobre a captação e organificação do IODO além da inibição da desiodase tipo 1. É um fenômeno observado em pacientes com TIREOIDITE DE HASHIMOTO SUBCLÍNICA (anti-TPO positivo). o Tireotoxicose por efeito do iodo – Efeito de Jod-Basedow – fenômeno observado em pacientes com bócio multinodular e doença de graves subclínica. O hipotireoidismo ocorre em até 13% dos pacientes com uso de amiodarona mesmo em áreas com alta ingesta de iodo (os mecanismos subjacentes são os 3 citador acima). O efeito predominante depende da CARGA DE IODO que a droga “atrapalha” no efeito Wolff-Chaikoff, sendo que as mulheres com anti-TPO são mais suscetíveis. – 12 Tratamento O tratamento envolve reposição de levotiroxina. Devemos guiar a terapia de reposição pelos valores do TSH uma vez que os níveis de T4 podem encontrar-se altos por outros efeitos da droga! Geralmente, NÃO É PRECISO SUSPENDER AMIODARONA! A tireotoxicose induzida por amiodarona ocorre em 10% dos indivíduos que vivem em áreas de BAIXA INGESTA de iodo e em 2% dos indivíduos residentes em áreas de ingesta adequada. Essa tireotoxicose é dividida em 2 tipos: o Tipo 1 – anormalidade tireoidiana subjacente (Graves subclínico, bócio nodular) associada a uma SÍNTESE EXCESSIVA DE HORMÔNIO por conta do iodo do efeito Jod-Basedow. o Tipo 2 – Existe ativação lisossomial pela droga, causando uma tireoidite destrutiva. As formasleves desse tipo podem se resolver espontaneamente ou causar HIPOTIREOIDISMO. Deve-se interromper a amiodarona nos casos de tireotoxicose induzida por esse fármaco, embora nem sempre isso seja possível. No entanto, não se observa efeito agudo nenhum da suspensão do fármaco devido ao ACÚMULO TECIDUAL do mesmo. Pode-se utilizar TIONAMIDAS em doses elevadas na tireotoxicose TIPO 1, já no tipo 2, a administração de agentes de contraste orais reduz rapidamente a conversão de T4 em T3, podendo ainda bloquear a captação tecidual de hormônios tireoidianos. Pode-se ainda usar o perclorato, embora este último esteja associado ao risco de agranulocitose. Os corticoides podem ser usados no tratamento da TIA tipo II, com benefício variável. • Coma Mixedematoso É a expressão mais GRAVE do hipotireoidismo, sendo manifesto por PREJUÍZO DA FUNÇÃO DO SNC associado a uma descompensação CARDIORRESPIRATÓRIA. Por ser uma condição pouco incidente, o reconhecimento desta é prejudicado. Patogênese O hormônio tireoidiano, por meio da ativação da BOMBA DE SÓDIO E POTÁSSIO, aumenta o consumo de OXIGÊNIO pelos tecidos e, consequentemente, a taxa METABÓLICA BASAL! Levando em consideração que o metabolismo causa reações exotérmicas (liberam energia/calor), a diminuição destas reações causa menor “geração de calor”, podendo culminar em HIPOTERMIA – isso não ocorre em todos os pacientes em coma mixedematoso, porém a presença da hipotermia é um grande indicador dessa emergência endócrina. ➔ Respiratório – a manifestação respiratória mais GRAVE é a diminuição do drive respiratório, podendo causar uma retenção de DIÓXIDO DE CARBONO e à HIPOXEMIA por hipoventilação alveolar. São essas alterações as principais causadoras do coma – hipercapnia. Outras causas para as manifestações ventilatórias incluem o EDEMA DAS VIAS AÉREAS e obstrução por MACROGLOSSIA – a pneumonia bacteriana está presente na grande maioria dos pacientes. ➔ Cardiovascular – o hipotireoidismo leva a uma HIPERRESPONSIVIDADE ALFA-ADRENÉRGICA, que desvia o sangue da periferia (pele e mucosas) para órgãos centrais. Ao mesmo tempo, haverá uma diminuição da densidade de RECEPTORES BETA, causando bradicardia, diminuição do volume sistólico e diminuição do débito cardíaco (DC). O somatório de todas essas alterações resulta em uma HIPERTENSÃO DIASTÓLICA!! ➔ Renal – a diminuição da taxa de FILTRAÇÃO GLOMERULAR, da EXCREÇÃO DE ÁGUA LIVRE e da REABSORÇÃO DE SÓDIO promove uma tendência a HIPONATREMIA! ➔ Hipotireoidismo – o coma mixedematoso causa uma maior SENSIBILIDADE à insulina. – 13 Manifestações Clínicas O coma é mais comum em MULHERES IDOSAS NO INVERNO que possuíam história prévia de hipotireoidismo. Os principais fatores precipitantes são infecções respiratórias e urinárias, adm de sedativos, AVE e agravamento de uma condição clínica preexistente. Assim, os principais achados são: o Diminuição do Nível de Consciência o Hipoventilação o Hipotermia o Bradicardia o Hiponatremia o Hipoglicemia o Infecção associada o Lactato elevado o Redução de T3 e T4 o Elevação de TSH o Aumento da CPK – importante para diferenciar o coma mixedematoso da SED. o Presença de derrame pericárdico - importante para diferenciar o coma mixedematoso da SED. Tratamento ➔ Levotiroxina em altas doses - reposição imediata de hormônios tireoidianos. A levotiroxina (T4) venosa é administrada em um bolus de 500 a 800 µg e continuada em uma dose de 100 µg/dia IV. A administração na forma parenteral venosa evita o RETARDO CAUSADO PELA ABSORÇÃO INTESTINAL da levotiroxina nesses pacientes. O uso de liotironina (T3), na dose de 25 µg a cada 12h, em combinação com levotiroxina, é recomendado por muitos autores, uma vez que existe geralmente um prejuízo na conversão periférica de T4 em T3. ➔ Hidrocortisona Venosa – 50mg de 6/6h - os esteroides são recomendados no coma mixedematoso para EVITAR O SURGIMENTO DE UMA CRISE ADRENAL (na presença de um aumento do metabolismo com a reposição hormonal) em pacientes com insuficiência suprarrenal subclínica. Este fenômeno pode ser encontrado em pacientes com INSUFICIÊNCIA SUPRARRENAL AUTOIMUNE associada ao hipotireoidismo (muito comum) e nos raros indivíduos com HIPOPITUITARISMO E HIPOTIREOIDISMO (secundário) presentes. ➔ Cuidados Adicionais ▪ Suporte ventilatório – ventilação mecânica utilizada durante e após o tratamento do coma, uma vez que distúrbios neuromusculares podem estar associados ao quadro principal. ▪ Rastreamento Microbiológico – busca ativa por infecções (e tratamento). ▪ Correção da hiponatremia ▪ Correção da hipoglicemia ▪ Aquecimento - O aquecimento sempre deve ser PASSIVO E NÃO ATIVO (com cobertores térmicos) pelo risco de se induzir o choque circulatório com o rápido aquecimento do paciente. Deve-se: observar o aumento da temperatura dentro de 24h após administração da levotiroxina; e estar atento à presença de INFECÇÃO nesses pacientes, que podem se mostrar AFEBRIS. – 14 • Bócios Atóxicos Um bócio (aumento da glândula tireoide) geralmente é decorrente do efeito EXACERBADO DO TSH sobre a tireoide, ou então, o efeito de um PEPTÍDEO SEMELHANTE AO TSH, como o anticorpo anti-TSH estimulante da doença de Graves. 1) Bócio Difuso Atóxico (Bócio Simples) Etiologia A principal causa é a DEFICIÊNCIA DE IODO, que é endêmica em algumas regiões montanhosas do globo. Assim, é mais rara no Brasil, uma vez que existem políticas de enriquecimento do sal com iodo. O bócio ENDÊMICO (esse causado pela deficiência de iodo) também pode ser causado pelo consumo de SUBSTÂNCIAS BOCIOGÊNICAS presentes na raiz do aipim e em vegetais (repolho e couve flor). Nas demais regiões, predomina o BÓCIO ESPORÁDICO SIMPLES de causa desconhecida, sendo do tipo eutireóideo – pode ser por herança genética de defeitos enzimáticos. Locais com suplementação de iodo – Nessas regiões, a causa mais comum de bócio atóxico hipotireóideo é a TIREOIDITE DE HASHIMOTO. ➔ Causas gerais: 1. Baixa ingesta de iodo – principalmente em regiões de solo antigo e longes do oceano 2. Deficiência do transportador de iodo - neste caso, pouco iodo penetra na célula folicular tireoidiana, prejudicando o mecanismo de concentração de iodo. 3. Defeito da peroxidase - a enzima tireoperoxidase utiliza o peróxido de hidrogênio também conhecido como água oxigenada (H2O2) para oxidar o iodo que depois será organificado na tireoglobulina. 4. Defeito na síntese de tireoglobulina - causam prejuízos no seu processo de iodação pela tireoperoxidase, formando menos T3 e T4. Existem alguns casos em que os defeitos da molécula de tireoglobulina não permitem a sua saída do complexo de Golgi. 5. Doença de Pendred - a pendrina é uma proteína que forma um canal de iodeto na membrana apical da célula folicular tireoidiana. Na sua deficiência, menos iodeto passa para o coloide, dificultando a formação dos Hormônios Tireoidianos. 6. Defeito na desalogenase - neste caso, a desiodação de MIT e DIT encontra-se prejudicada, permitindo que estas moléculas passem para a circulação sanguínea e sejam eliminadas pelos rins sem que o iodo seja reaproveitado pela tireoide. 7. Deficiência das desiodases • Clínica e Diagnóstico o Diagnóstico - Ao detectar um bócio no exame físico da tireoide, o médico deve obrigatoriamente DOSAR OS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS. A presença de um TSH suprimido indica um bócio tóxico e hipertireoidismo primário. Um TSH elevado, com T4 livre normal ou reduzido indica um bócio atóxico hipotireóideo, típico da disormonogênese e da tireoidite de Hashimoto. o Clínica – Os sinais e sintomas do próprio bócio dependem de seu TAMANHO e se ele “invadiu” ou não a região subesternal. Neste caso, pode-se observar a presença de sintomas compressivos da traqueia (tosse e dificuldade respiratória), esôfago (disfagia) ou nervos laríngeos recorrentes(rouquidão). O “bócio mergulhante” é o nome dado ao bócio subesternal (invade o mediastino anterior). Às vezes, só é detectado pelo exame de imagem (RX ou TC de tórax). O sinal de Pemberton é característico: ao elevar os braços acima da cabeça, o paciente sente fraqueza e tontura, com sinais de congestão facial. – 15 • Tratamento - visa reduzir o bócio, com o intuito meramente estético ou para prevenir ou tratar os fenômenos compressivos. A terapia de escolha é a supressão do TSH com levotiroxina! Inicia-se a dose de 100 µg/dia em jovens e de 50 µg/dia em idosos, objetivando um TSH normal-baixo. – 16 Referências • ELAINE N. MARIEB, Patricia Brady Wilhelm e Jon Mallatt. Anatomia humana, 7ed. • MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. • Medcurso 2019, Endocrinologia Volume 1, Capítulo 3 • SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010 • https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/12203/000624306.pdf?sequence=1 • http://www.reproducao.ufc.br/tireoide.pdf https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/12203/000624306.pdf?sequence=1 http://www.reproducao.ufc.br/tireoide.pdf
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