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DELEGAÇÃO DE TETE BIOLOGIA DE CONSERVAÇÃO Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia Docente: dr. Beldimiro Chiposse UniPungue-Tete 2021 2 Índice 1. INTRODUCAO A CONSERVACAO ........................................................................................ 3 2. ORIGEM E SIGNIFICADO DA CONSERVAÇÃO .................................................................. 3 3. BIODIVERSIDADE ................................................................................................................... 4 4. PARA QUE CONSERVAR A BIODIVERSIDADE ................................................................. 8 5. AMEAÇAS A BIODIVERSIDADE ......................................................................................... 11 6. PRIORIDADES PARA ESCOLHA DE UMA ESPECIE ........................................................ 15 7. PRIORIDADES PARA ESCOLHA DE UM HABITAT ......................................................... 18 8. AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ..................... 19 9. PRINCIPAIS FORMAS E PRATICAS DE CONSERVACAO BIOLOGICA ........................ 20 10. IMPORTÂNCIA DAS RESERVAS NATURAIS E DOS JARDINS .................................... 22 11. CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS PROTEGIDAS ................................................................. 24 13. REINTRODUCAO, TRANSLOCACAO E REPRODUCAO NO CATIVEIRO .................. 26 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 30 3 1. INTRODUCAO A CONSERVACAO Vivemos em um mundo onde a diversidade biológica encontra-se em redução, extraímos energia, materiais e organismos da natureza, modificamos paisagem. Essas actividades têm resultado em taxas crescentes de extinção, degradação e perda da biodiversidade nos quais nossas culturas estão inseridas. A SCB (Sociedade para conservação biologia) acredita que o ensino de conservação para a correcção dos problemas ambientais. Dada a magnitude do impacto da humanidade sobre a Terra, no entanto, o ensino da conservação deve ser considerado um dos pilares da boa cidadania em qualquer nação (Orr 1992,2004). Portanto, o biólogos de conservação visam manter três importantes aspectos de vida na terra: a diversidade natural encontrada nos sistemas vivos (biodiversidade), a estrutura e o funcionamento desse sistema (integridade e ecologia) e sua resiliência e habilidade de resistir ao longo do tempo (saúde ecológica). 2. ORIGEM E SIGNIFICADO DA CONSERVAÇÃO A biologia de conservação surge com o desenvolvimento do conceito biodiversidade. Embora a percepção da variedade de formas de vida seja tão antiga, o conceito de Biodiversidade é bastante recente. O termo biodiversidade foi idealizado por Walter G. Rosen do (NAS) em 1985 enquanto planejava a realização de um fórum sobre a Diversidade Biológica. O evento foi realizado nos EUA-1986 (National Forum or Bio Biversity). Este evento foi suscitado pelos trabalhos de ecologos sobre a extinção das espécies publicados em 1979, chamando atenção que, a taxa de extinção de espécies estava muito acima da que seria esperado no desenrolar do processo evolutivo. Trata-se de uma crise global de extinção de espécies. Comparada com a que dizimou os dinossauros a 65milhoes de anos. A diferença é que agora os homens são a grande causa da extinção e não uma catástrofe natural. No advento destas publicações, durante os anos 1980 a questão da diversidade biológica e as preocupações com a conservação tomavam impulso na comunidade científica. Sendo o ponto- chave do objecto de muitas pesquisas e como motivo de preocupação para activistas ambientalistas. Portanto, O Natonal Forum on BioDiversity e o Livro Biodiversity de Eduard Wilson foram o ponto de partida para o surgimento da Biologia de Conservação, que culminou com a criação da SCB (Society for Conservatin BioDiversity) fundada em 1985 e as primeiras revistas sobre conservação biológica foram publicadas em 1987. Não obstante, na conferência 4 das NU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizado o Rio de Janeiro em 1992 (PNUMA) foi lançado a conservação sobre a biodiversidade (CDB), nela foi definida a biodiversidade abrangendo três níveis: diversidade de genes; Diversidade de espécie e Diversidade de ecossistema. Para alem disso, a Organização das Nações Unidas com a finalidade de mostrar ao mundo a importância de cuidarmos da diversidade biológica mundial. Comemorada todos os anos no dia 22 de maio, essa data é também um momento para refletirmos a respeito das nossas ações em relação à natureza e como impactamos negativamente o equilíbrio do planeta. Portanto, a Biologia de Conservação aparece como uma resposta da comunidade científica aos impactos dos seres humanos sobre a biodiversidade, a uma taxa de extinção de espécies que está hoje 100-1000 vezes acima do normal (natural). Ela abarca o conhecimento de várias ciências para a manutenção da biodiversidade por todo o mundo. 3. BIODIVERSIDADE O conceito do termo biodiversidade é bem variável tendo sua especificação conforme o aspecto que é reforçado por quem conceitua, como Collin (1997) que se refere à biodiversidade como a riqueza do número de espécies e a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (1987) como o número absoluto de espécies em uma coleção, comunidade ou amostra e a ONU (1992) que afirma que biodiversidade é a variedade de seres vivos da Terra, sendo fruto da evolução em bilhões de anos, desenhada pelos processos de seleção natural e pelas atividades humanas ou é a variedade de seres vivos que formam uma teia viva integrada pelos seres humanos na qual estes seres dependem. Para a ECO92 é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo os ecossistemas terrestres, marinhos e os complexos ecológicos de que fazem parte; é a diversidade dentro de espécies, entre espécies e ecossistemas. Para a SCB a biodiversidade é a variedade de organismos vivos em todos os níveis de organização, incluindo genes, espécies, níveis mais altos de taxonomia e a variedade de habitats e de ecossistemas. A diversidade biológica está ameaçada de extinção quando se observa um dos seguintes padrões: ou o elemento é raro ou está em declínio. A diversidade biológica, mesmo sob condições não alteradas pelas ações humanas, não é fixa ao longo do tempo, mas é influenciada tanto por processos ecológicos quanto evolutivos. Todos os aspectos da diversidade biológica desempenham potencialmente um papel para manter a saúde ecológica, sendo então valiosos para a biologia da conservação. 5 Portanto, proteger e restaurar a integridade ecológica de um sistema ecológico exige conservação em todos os níveis da hierarquia biológica e em todos os aspectos ecológicos de estrutura, função e composição. 3.1. Níveis da Biodiversidade A biodiversidade pode ser compreendida em três níveis principaos: diversidade de genes; Diversidade de espécie e Diversidade de ecossistema. Diversidade de espécie A espécie é a unidade básica de organização para organismos é a espécie; no entanto, há uma variação substancial dentro das espécies, tornando seus subgrupos evolutivamente distintos. Há uma variedade de definições para espécie, mas na perspectiva da conservação, espécie é considerada um grupo de organismos que pode, de fato ou potencialmente, intercruzar, ou um grupo de organismos que compartilham traços e origens. As espécies não são entidades homogéneas nem uniformes. Elas podem conter grupos diversos, cada um representando um conjunto único de informação genética e uma única tendência evolutiva. As espécies não são imutáveis ao longo do tempo, muito pelo contrário, elas evoluem em resposta às forças de selecção, ao fluxo de genes e ao acaso. A classificação de um organismo individual em determinadaespécie pode variar ao longo do tempo, reflectindo o desenvolvimento de nossa compreensão das relações ecológicas e evolutivas. Diversidade genética A informação necessária para originar um organismo está codificada nos genes do indivíduo. A informação genética varia de indivíduo a indivíduo, fazendo com que todos eles sejam potenciais fontes de informação relevante. A base biológica para muitas das características que formam um indivíduo de um organismo é determinada pela informação codificada contida no seu DNA. A informação exacta codificada no material genético pode variar de um indivíduo a outro e de um grupo de indivíduos a outro. As diferenças entre indivíduos e grupos de uma espécie contidas na informação exacta codificada no DNA são chamadas de diversidade genética. 6 Um conceito primordial para o entendimento e realização de estudo em genética da conservação é o de diversidade genética. É um dos principais focos para conservação global (McNeely et al., 1990). Universalmente, diversidade genética consiste na variedade alélica e genotípica em determinado grupo seja no nível de espécie ou populacional (Frankham et al, 2008). Da mesma forma que é importante para manter a vitalidade reprodutiva, resistência às doenças e promove a capacidade de adaptação à mudanças (Lairke et al., 2010), torna-se um elemento de medida de biodiversidade. A diversidade genética pode reflectir em diferentes forças selectivas operando em populações de ambientes diferentes e consequentemente representar um importante mecanismo pelo qual espécies podem responder à mudança ambiental. A diversidade genética pode ser reduzida através de eventos estocásticos associados à sobrevivência e à reprodução de indivíduos na natureza. Tais eventos têm uma probabilidade muito maior de reduzir a diversidade genética quando o número de indivíduos em uma população é pequeno (i. e., deriva genética ao acaso). A diversidade genética dentro das espécies é influenciada pelo fluxo gênico entre populações causado pelo movimento de indivíduos e, em algumas espécies, pela transferência de longa distância de células reprodutivas (gâmetas) tais como o pólen. Movimentos entre as subpopulações inibem a fixação de alelos, que podem ser alternativamente vistos como manutenção da diversidade (nenhum alelo se perde) ou homogeneização (subpopulações não se tornam geneticamente diferentes). um dos aspectos que marca a redução gênica de uma população é a fragmentação (Aguilar et al., 2008), um exemplo é o que ocorre com a população de pica-pau Picoides borealis onde a fragmentação gera diferenciação genética entre os indivíduos e com isso a redução da diversidade genética em populações pequenas (Frankham et al, 2008). Este fato ocorre porque a fragmentação limita o fluxo gênico ocasionando diferenças aleatórias entre sub-populações oriundas de uma mesma população (Frankham et al., 2008). Em nível florestal, a fragmentação possui três efeitos principais: perda da diversidade genética; aumento da estrutura interpopulacional e aumento da endogamia (casamento entre parentes próximos) (Young; Boyle, 2000), além de possibilitar a ocorrência de um efeito de gargalo genético já que a população remanescente é apenas uma amostra da diversidade genética original (Seoane et al., 2005). 7 De forma similar, o efeito da deriva genética e o acaso, têm um impacto maior em populações pequenas, gerando perda de diversidade genética, fixação de alelos (homozigosidade) e redução do potencial evolutivo, uma das principais causas disso é o efeito de gargalo que reduz de forma cumulativa e contínua a heterozigosidade (Frankham et al,. 2008). Com relação a populações fechadas, ou seja, sem efeito de processos migratórios, sobretudo as pequenas, a endogamia é inevitável e se torna um fator de perda de potencial evolutivo, em populações grandes esse processo é mais demorado (Frankham et al., 2008). Assim como os gargalos, os processos endogâmica, aumentam a homozigose através de cruzamento entre aparentados ou autofecundação, no caso de plantas e em casos mais raros pela seleção de homozigotos (Sebbenn; Ettori, 2001), e com isso reduzem vigor reprodutivo como consequência estabelece-se um quadro de depressão endogâmica (Frankham et al., 2008). Como regra geral a endogâmia, deriva genética e populações de tamanhos pequena colaboram para a redução da diversidade genética (Furlan et al., 2012). Em se tratando de populações grandes, o processo de seleção é o que gera maiores mudanças na frequência alélica (Frankham et al., 2008). Hoje, portanto acredita-se que as populações exogâmicas e grandes possuem reservas de diversidade genética que permitem a adaptação à diferentes pressões como novas doenças, pestes, parasitas, competição, predação, mudanças climáticas e antrópicas, em contrapartida, as pequenas populações estão mais suscetíveis a situações extremas sejam ambientais ou doenças, pois apresentam menos diversidade em seus indivíduos (diversidade genética) (Frankham et al., 2008). Uma das formas de minimizar as diferenças gênicas (através do fluxo gênico) entre populações distintas, que podem ter sido expostas à deriva ou seleção, é o processo migratório que é um processo rápido, se comparado com os efeitos mutacionais, portanto consiste em uma forma rápida e eficaz de restauração da diversidade genética (Frankham et al., 2008). Entretanto, no caso de plantas esse fluxo gênico pode ser através do pólen com isso influenciar nas frequências dos alelos entre geração parental e prole (Seoane et al., 2005). Diversidade ecológica Comunidades e ecossistemas: são colecções de indivíduos que representam várias espécies interagindo entre si em uma área específica e com componentes abióticos necessários para a vida. 8 A definição de uma comunidade ou um ecossistema depende do contexto no qual é considerado. Por exemplo, uma comunidade pode ser definida como micro fauna na camada de folhiço de uma floresta ou como todos os organismos naquela floresta. A composição de uma comunidade ou um ecossistema depende do processo de crescimento populacional de suas populações constituintes e das interacções entre espécies (por exemplo, simbiose, competição, herbivoria, parasitismo e predação). A composição de uma comunidade ou de um ecossistema pode variar como resultado das respostas de suas espécies constituintes a mudanças nas condições ambientais. Assim, sua composição não é estática e sim dinâmica. Definir quais espécies são membros potenciais de uma comunidade ou de um ecossistema dependerá do conjunto regional de espécies, das habilidades competitivas e da dispersão de cada espécie em particular. As fronteiras entre comunidades ou ecossistemas podem ser relativamente claras, tais como as existentes entre sistemas terrestres e aquáticos, ou podem ser confusas. A divisão não é completa em nenhum caso pois sempre há interacções entre espécies encontradas predominantemente em uma comunidade com aquelas encontradas predominantemente em outra. 4. PARA QUE CONSERVAR A BIODIVERSIDADE A conservação da natureza é considerada importante por três razões: I. os valores intrínsecos da natureza; II. seus valores instrumentais ou económicos (argumento antropocêntrico); III. seus valores emocionais, espirituais e psicológicos. Sistemas de valores e percepção da natureza: Os sistemas de valores determinam como vemos a natureza e estes sistemas podem variar tanto dentro das culturas como entre as mesmas. Estes valores não são excludentes, mas diferentes pessoas podem ter diferentes valores, o que deve ser levado em consideração quando se objectiva a conservação (Norton 1987). Há uma variedade de sistemas de valores humanos que vai desde a visão de que tudo na natureza tem seu direito próprio e absoluto de existir até à visão de que a natureza existe somente para ouso pelos seres humanos, havendo muitas nuances entre estas duas visões. Portanto, existe uma diversidade de sistemas de valores tanto entre culturas humanas (algumas tradicionalmente dão mais ênfase a algum conjunto de valores que outros) como dentro dessas 9 culturas (onde indivíduos de uma mesma cultura podem avaliar a natureza de maneiras diferentes). Portanto, Esforços para obter a conservação devem ser conduzidos com consciência e compreensão dos sistemas de valores existentes entre e dentro das culturas. Os valores intrínsecos da natureza (estético) Os valores intrínsecos à natureza: são aqueles valores da natureza em si, independente de qualquer utilidade para os seres humanos. Os humanos podem valorizar a natureza e as entidades naturais ( plantas ou animais individuais, ecossistemas, montanhas) conforme seu valor intrínseco. A atribuição de valor intrínseco independe de qualquer valor de uso que a entidade tenha. Destruir ou interferir em entidades que têm valor intrínseco pode, em algumas visões, ser considerado moralmente aceitável apenas para satisfazer necessidades vitais. Valores instrumentais ou económicos da natureza: Valores instrumentais da natureza são baseados na utilidade para os seres humanos, comummente medidos em termos de valor económico ou de serviço. Alguns valores instrumentais podem ser medidos em termos econômicos, tanto que um valor monetário pode ser colocado em um componente ou em uma função da natureza. Nesse nível de valores encontramos os Argumentos antropocêntricos: nos quais o critério usado para determinar o que deve ser feito é o bem-estar dos humanos. Em outras palavras, uma visão de mundo antropocêntrica é aquela que confere aos humanos a condição de valor absoluto ou intrínseco. É dizer, os humanos devem ser respeitados pelo que representam em si mesmos. Em contraste, essa visão de mundo prescreve que os demais seres possuem valor somente em relação aos humanos, ou seja, os demais seres são dotados de valor instrumental. É verdade que hoje o ser humano possui um vasto conhecimento de plantas e animais que podem ser directamente aproveitados para o consumo humano. Em realidade, é isso que é a agropecuária. Um outro argumento antropocêntrico 10 é o que diz ser a diversidade das formas de vida interessante para a admiração humana. Não só em museus de história natural, como também “ in vivo ”. Exemplos bastante comuns disso nos são familiares. O que vai fazer alguém no arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo? Vai conhecer a beleza dos seres que lá vivem, particularmente da fauna marinha. Esse argumento é comum a toda a defesa do que hoje se chama “ecoturismo”. Trata-se fundamentalmente de conservar as espécies para que os humanos possam admirá-las. E como bem se sabe, essa actividade é uma grande fonte de recursos. Os turistas carregam consigo muito dinheiro. No entanto, dentro da perspectiva antropocêntrica na qual estamos trabalhando no momento, esse argumento pode parecer particularmente fraco. Pode alguém dizer: “bom, podemos preservar uma área natural de sua destruição para o turismo, mas a renda que isso gera é muito menor do que se instalássemos a indústria X.” Pode isso ser verdade, mas cabe lembrar que a perspectiva que estamos adoptando aqui é a que leva em conta valores humanos. O argumento apresentado possui como premissa oculta que a geração de renda é o que de mais interessante ou importante existe. Isso é, reduz as potencialidades humanas à sua condição material, ou melhor, monetária. A experiência humana, no entanto, é infinitamente mais rica. O que faria alguém cheio de dinheiro em um planeta onde só existissem pouquíssimas espécies? Teria ele a capacidade de se maravilhar com a beleza dos peixes de Fernando de Noronha, ou com a exuberância da Mata Atlântica? Segundo esse argumento, portanto, a biodiversidade deve ser conservada para ser admirada pelos seres humanos. Portanto, valores instrumentais podem ser mantidos mesmo quando não é possível atribuir um valor de mercado que não seja ambíguo caso um componente ou uma função da natureza tenha uso reconhecido ou função para a sociedade. Tais valores abrangem os serviços ecológicos fornecidos pela natureza, incluindo a manutenção da fertilidade do solo e o controle climático. Valores psicológicos da natureza (contemplação) 11 Estes valores são aqueles que contribuem para o bem-estar psicológico (emocional, espiritual, estético) do ser humano. Os valores psicológicos podem originar-se de uma identificação pessoal e por um cuidado com os sistemas ecológicos, o que pode expandir o sentido do seu próprio eu e aumentar o sentido que um indivíduo tem de perceber seu potencial por completo. Os valores psicológicos podem originar-se de uma experiência directa com a natureza e, indirectamente, através do conhecimento de que a natureza existe, mesmo que certos aspectos disso não sejam directamente experimentados. Portanto, deve-se preservar a biodiversidade para manter a possibilidade de os humanos terem experiências de comunhão com a natureza. 5. AMEAÇAS A BIODIVERSIDADE Do ponto de vista de outras espécies, a presença humana reduziu a riqueza disponível na superfície da Terra, para limpar grandes áreas de vegetação, interferir com suas fontes de alimento, mudou seus habitats alterando a temperatura e a composição química de grandes partes do ambiente mundial, desestabilizou seus ecossistemas através da introdução de espécies estrangeiras, deliberadamente ou acidentalmente, reduziu o número de espécies vivas (extinção), e em alguns casos alterou as características de certas plantas e animais através da seletividade artificial e, mais recentemente, pela engenharia genética (Rutherford; Ahlgren, 1991). Crescimento Populacional A população da Terra já dobrou três vezes no século passado. Mesmo assim, a presença humana, que é representativa em quase todos os lugares do planeta Terra, teve um impacto maior do que os números simples indicariam. os Impactos da colonização humana em tempos antigos: as sociedades humanas apresentam um longo histórico de causas de extinção e grandes mudanças em ecossistemas. No passado pré-histórico (Martin & Klein 1984) e histórico (Crosby 1993), a chegada de seres humanos a novas áreas levou à extinção de outras espécies e à mudanças em larga escala nas comunidades naturais. Os humanos têm causado extinção e mudanças nas comunidades naturais de várias maneiras, incluindo os impactos cumulativos de exploração direta para a obtenção de alimento, a modificação da vegetação natural e a introdução de espécies exóticas. 12 Todos os impactos humanos contemporâneos são exponencialmente ampliados pela atual taxa de crescimento da população humana; nunca houve tantas pessoas como atualmente, e a população provavelmente aumentará nos próximos 50 anos. Poluição ambiental Mudanças climáticas referem-se às variações no estado do clima que pode ser identificado cientificamente como p.ex. em testes estatísticos a partir de observações do comportamento do clima ao longo de décadas, centenas ou mil anos atrás. Os processos internos naturais já provocaram mudanças no clima, mas nas últimas décadas a persistente mudança antropogénica na composição atmosférica tem influenciado diretamente na variação do clima no planeta (IPCC, 2007). Por isso é bastante discutido o termo mudanças climáticas antropogénicas que estão associadas ao aumento da emissão de gases do efeito estufa por queima de combustíveis fósseis como petróleo, gás natural e carvão ou por mudanças no uso da terra que geram queimadas e desmatamento (Medhaug et al., 2017; Miller, 2009). O efeito estufa é um fenômeno natural que faz com que a temperatura da superfície da Terra seja favorável à existência da vida no planeta, se não existisse o efeito estufaa temperatura média da superfície da Terra poderia ser de -18 °C, ao invés dos 15°C apresentado atualmente. Porém, nas últimas décadas a elevada emissão dos chamados Gases do Efeito Estufa (GEE), como gás carbônico, óxido nitroso e metano pelas atividades humanas estão potencializando o efeito estufa, dificultando ainda mais a irradiação do calor para o espaço, causando o aquecimento da baixa atmosfera, levando ao aumento da temperatura média da Terra e gerando as mudanças climáticas (Marengo, 2007). Atualmente o clima nas florestas tropicais vem se alterando, principalmente pelas atividades antrópicas, como desmatamentos, extração e exploração da madeira; caça e pesca predatória e fogo na floresta, estes eventos ocasionam elevação na temperatura do ar, no comportamento das chuvas e na composição do vapor d´água na atmosfera, o que torna o ambiente mais quente e seco, o que já começa a comprometer a sobrevivência e manutenção da biodiversidade. Além disso, uso indiscriminado de agentes pulverizadores agrotóxicos (como o caso do DDT nas lavouras) contaminam animais, solo e vegetação, para o caso da contaminação deste ‘agente’ em animais, o uso frequente e indiscriminado influencia diretamente em sua reprodução, como exemplo, citamos a contaminação da águia careca (símbolo dos EUA) que ficou impossibilitada de chocar seus ovos devido à fragilidade de sua casca, que não suportava o peso do animal, esta 13 fragilidade foi constatada pela análise do material da casca do ovo que indicou alteração biológica no animal devido ao grande uso de pesticidas nas lavouras norte americana. Um estudo elaborado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, 2014) e a sociedade de Zoologia de Londres sobre o índice que acompanha 241 espécies de peixes, 83 de anfíbios, 40 de répteis, 811 de aves e 302 de mamíferos do planeta, revela que ocorreram redução nas espécies: terrestres 25%, marinhas 28% (água salgada) e 29% (água doce) nos últimos 35 anos, tendo como média, uma redução total de 27% neste período. Os ecossistemas costeiros e marinhos são bastante sensíveis a mudança na temperatura da água. Os recifes tropicais e subtropicais de coral, por exemplo, estão sendo afetados severamente pelo aumento da temperatura da superfície do mar. O Projeções da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais indicam que um aquecimento global acima de 3,5°C causará um empobrecimento generalizado na biodiversidade terrestre, com uma extinção provável de até 70% de todas as espécies conhecidas (Shah, 2013). Portanto, existe a possibilidade, no entanto, de reduzir a magnitude dos efeitos pela mudança no comportamento de consumo de recursos pelos seres humanos e nas políticas do uso da terra. Exploração de Recursos Naturais e Construção de Infra-estruturas; O desenvolvimento social está relacionado diretamente ao desenvolvimento econômico na medida em que é oferecido um melhor acesso aos bens e serviços, isto irá refletir nas condições de vida da sociedade (Souza, 1997). O desenvolvimento social refere-se a aquisição de melhores condições de vida de maneira sustentável. Esta relação entre a melhor condição de vida com os serviços e bens não ocorrem de forma harmoniosa com a manutenção dos recursos naturais (Castro, 2012). A biodiversidade sofre impactos diretos pelas ações antrópicas principalmente as atividades ligadas a mudança do uso do solo, como a conversão de paisagens naturais para agropecuária e obras relacionadas ao processo de urbanização o que tem gerado altos índices de desmatamento e consequente perda da biodiversidade (Aleixo et al., 2010). A urbanização desenfreada tem causado fortes modificações no meio ambiente, sobretudo nos cursos hídricos, nos ciclos hidrológicos, nas variações climáticas, nas cheias naturais dos rios e córregos e no solo por meio dos usos e ocupações indevidas e/ou inadequadas. O principal fator 14 desses problemas são a falta de planejamento, gestão e controle municipal ou ainda a falta de execução das legislações nos âmbitos municipal e estadual (Tucci, 2005). Podem-se citar vários fatores que alteram o ciclo hidrológico nas cidades, entre eles: impermeabilização do solo, remoção da vegetação, alterações morfológicas na topografia, obras de engenharia nos canais fluviais e deposição irregular de resíduos. Esses fatores acabam por desencadear ou intensificar o assoreamento de rios urbanos, ampliação da magnitude e frequência de enchentes, erosão dos solos e dos canais fluviais, movimentos de massa e outros processos que associados resultam em intensa degradação ambiental (Guerra; Mendonça, 2010). Introdução de Espécies Exóticas; Espécies exóticas são uma das maiores ameaças a espécies nativas e aos ecossistemas no mundo. Espécies exóticas podem espalhar-se tanto de forma acidental como intencional. Espécies exóticas são aquelas que estão se desenvolvendo em uma região que não é a sua área de ocorrência natural. A maioria das introduções de espécies exóticas tem pouca chance de sucesso, mas algumas podem ter conseqüências devastadoras tanto ecológica quanto economicamente. Depois que uma espécie exótica encontra-se estabelecida, é difícil, se não impossível, erradicá-la completamente. A habilidade de uma espécie exótica em se estabelecer por si própria é influenciada tanto por suas características (por exemplo, biologia reprodutiva) como pela condição da comunidade natural na qual é introduzida (por exemplo, comunidades ecologicamente saudáveis tendem a ser menos vulneráveis a invasão). Portanto, a introdução de novas espécies pode ser altamente prejudicial, uma vez que, ao achar um ambiente adequado, sem predadores naturais, por exemplo, elas podem multiplicar-se de maneira exagerada e competir com as espécies nativas, prejudicando o desenvolvimento destas e podendo levá-las, inclusive, à extinção. Doenças A soltura de animais, seja através da translocação de espécimes de uma população natural para outra, da introdução de animais nascidos em cativeiro em uma população natural ou do retorno de animais reabilitados à natureza após algum tempo em cativeiro, implica em algum nível de risco de transmissão de doenças”. Exemplos desse risco estão amplamente descritos na literatura especializada. Castle & Christensen relataram a existência de hematozoários em perus selvagens translocados no meio-oeste norte-americano, e alertaram para a possibilidade da introdução de 15 Plasmodium kempi em populações originalmente isentas. Um surto de psitacose, originário de aves ornamentais importadas dos EUA, colocou em risco 132 psitacídeos de um programa de propagação em cativeiro para posterior reintrodução nas florestas da Costa Rica. Metzer historiou o impacto de algumas doenças sobre as populações nativas e em programas conservacionistas na África meridional. Organismos Geneticamente Modificados Brandt et al (2008) afirma que, a erosão genética é notória dentro de uma mesma espécie, onde alelos (por exemplo, "A" ou "a") são irremediavelmente perdidos devido às reduções nos tamanhos das populações de determinada espécie, isto é, algumas características podem ser perdidas em função da perda de variabilidade genética (perda de alelos em vários genes). Portanto, os organismos geneticamente modificados podem causar a erosão genética artificial, causada pelo mau uso do germoplasma, manejo incorreto da exploração de espécies nativas entre outros, causando a perda de genes importantes para a agricultura, economia e para a natureza como um todo. Frequentemente os genes resistentes a uma determinada doença ou praga são encontrados apenas em genótipos selvagens de uma determinada espécie, sendo geralmente pouco dispersos (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Assim, aqueles genes que faziam parte daquela espécie e que não se apresentam nas novas cultivares serão perdidos ao longodo tempo, principalmente se houver a extinção daquela variedade selvagem. Portanto, a substituição de cultivares primitivas por outras melhoradas e a expansão da fronteira agrícola contribuem para o desaparecimento dos recursos fitogenéticos (CHOER et al., 2001). 6. PRIORIDADES PARA ESCOLHA DE UMA ESPECIE São várias as prioridades para escolha de uma espécie para conservação dentre elas destacam-se a utilidade, vulnerabilidade, raridade e lista vermelha. Para ser efectiva a conservação deve-se considerar as interações entre as espécies e os ecossistemas onde tais interações ocorrem. Apesar de existir considerável redundância nos ecossistemas-diversas espécies pertencem ao mesmo tipo funcional-existem espécies que controlam a estrutura das comunidades. Especie chave ou keystone São espécies que afectam a organização da comunidade de um modo muito intenso do que seria previsível com base no numero de indivíduos ou na biomassa dessas espécies. 16 O conceito de espécie chave constitui uma orientação importante para definir as espécies alvo que desempenham papeis particularmente importante no funcionamento do ecossistema. A renovação, adição, ou alterações locais no tamanho das populações de especies-chave implicam efeitos acentuados noutras espécies, processos e interações. Espécie umbrela/guarda-chuva São espécies com requisitos de grandes áreas para a sua protecção, e a sua protecção deve oferecer protecção a outras espécies que ocupam o mesmo habitat. Proteger uma espécie umbrella pode teoricamente salvar todas as espécies com mesmos requisitos de habitat. As espécies umbrellas são muitas vezes mamíferos e aves predadores que encontram-se em níveis tróficos superiores. espécies Flagship São escolhidas estrategicamente para criar o interesse publico ou apoio financeiro para acções de conservação. São espécies popularmente carismáticas que servem como símbolos ou pontos raros que estimulam acções de conservação. São usadas para promover o ecoturismo, acções de conservação. Lista vermeha/ red list Foi criada em 1963 e constitui um dos inventários mais detalhados do mundo sobre o estado de conservação mundial de várias. Obedece a critérios precisos para avaliar os riscos de extinção de milhares das espécies e subespécies, em todas as regiões do mundo, com o objectivo de informar sobre a urgência das medidas de conservação para o público e legisladores na tentativa de reduzir as extinções. Vulnerabilidade Uma espécie é considerada vulnerável pela IUCN como provável em se tornar em perigo a menos que suas condições de ameaça diminuam. Há cerca de 4 728 animais e 4 914 plantas consideradas vulneráveis atualmente. De acordo com a IUCN, são usados muitos critérios para considerar uma espécie como vulnerável. Um táxon é vulnerável quando não está criticamente em perigo ou em perigo mas enfrenta um grave risco de extinção em estado selvagem a médio prazo, como definido pelos seguintes critérios (A a E): A) Redução da população na seguinte forma: 1. em observada, estimada, inferida ou suspeita redução de pelo menos 20% nos últimos 10 anos ou três gerações, baseado no seguinte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie https://pt.wikipedia.org/wiki/IUCN https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie_em_perigo https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie_amea%C3%A7ada https://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A1xon https://pt.wikipedia.org/wiki/Criticamente_em_perigo 17 1. observação direta; 2. um índice de abundância apropriado para o táxon; 3. um declínio na área de ocorrência, extensão da ocorrência e/ou qualidade do habitat; 4. níveis reais ou potenciais de exploração; 5. efeitos de espécies introduzidas, hibridização, patógenos, poluentes, competidores ou parasitas. uma redução de pelo menos 20%, projetada ou suspeita para ocorrer nos próximos 10 anos ou três gerações, baseado em (b), (c), (d) ou (e) acima Raridade O conceito de raridade é estabelecido em ter um número muito pequeno de indivíduos, geralmente abaixo de 10.000; no entanto, o conceito também é influenciado por ter uma distribuição geográfica muito estreita de endemismo e/ou fragmentação de habitat . Portanto, A designação de uma espécie rara pode ser feita por uma organização oficial, como um governo nacional, estadual ou provincial. No entanto, o termo é mais comumente usado sem referência a critérios específicos. A IUCN não os designa normalmente, mas você pode usá-lo em suas discussões científicas Categorias da lista vermelha Extinta (EX) – EXTINCT: O último representante de espécie já morreu, ou se supõe que tenha morrido. Extinta na natureza (EW) - EXTINCT IN THE WILD – Existem indivíduos em cativeiro, mas não há mais populações naturais. Extinto regionalmente – (RE) – REGIONALLY EXTINCT – Quando não há duvida de que na região não há individuo reprodutor da espécie. No entanto, sabe-se que ainda existem exemplares reprodutores em outro lugar. Criticamente em perigo (CR) – CRITICALLY ENDANGERED – Sofre risco extremamente alto de extinção num futuro próximo. Em perigo (EN) – ENGANGERED – Sofre risco muito alto de extinção num futuro próximo. Vulnerável (VU) – VULNERABLE – Sofre alto risco de extinção a meio prazo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cies_introduzidas https://es.wikipedia.org/wiki/Endemismo https://es.wikipedia.org/wiki/Fragmentaci%C3%B3n_de_h%C3%A1bitat https://es.wikipedia.org/wiki/Especie_(biolog%C3%ADa) https://es.wikipedia.org/wiki/IUCN 18 Quase ameaçada (NT) – NEAR THREATENED – Ainda não sofre risco de extinção, mas as ameaças sobre ela são crescentes. Menos preocupante (LC) - LEAST CONCERN – Não sofre ameaça. Dados insuficientes (DD) – DATA DEFICIEN – Quando não há informação adequada para fazer uma avaliação directa ou indirecta do risco de extinção. Um táxon nesta categoria pode ate estar muito estudado e a sua biologia ser bem conhecida, mas faltam dados adequados sobre a sua distribuição e/ ou abundancia. Não avaliado (NE) – NOT EVALUATED – Um táxon considera-se NE quando ainda não foi avaliado pelos presentes critérios. Não aplicável (NA) – NOT APPLICABLE - Quando não e nativo da região e não foi introduzido por questões conservacionistas. 7. PRIORIDADES PARA ESCOLHA DE UM HABITAT O principal objectivo das estratégias de conservação da biodiversidade em grande escala não é propriamente o de selecionar áreas para a criação de reservas, mas identificar áreas com alto valor de conservação que sejam significativas em um contexto global, continental ou regional (moore et al., 2003). Sistemas de reservas ecológicas são conjuntos de áreas administradas de forma que sua função primária seja proteger uma espécie ou um grupo de espécies da extinção e promover processos ecológicos e evolutivos naturais. Tais sistemas de reservas estão desenhados de forma a incluir área suficiente para que a espécie alvo seja viável, com intervenção humana limitada e para que processos naturais possam ocorrer. Aspectos a considerar para escolha de um habitat para conservação Riqueza de espécies; Diversidade de espécies; Endemismos de espécies e taxons superiores; Riqueza de espécies raras/ ameaçadas; Hotspots (área de alta diversidade biológica e alta pressão antrópica); Espécies de interesse económico, inclusive parentes silvestres de spp cultivadas; Fragilidade intrínseca do sistema; Grau de conservação. 19 Apesar de as reservas biológicas e de os parques nacionais serem frequentemente um componente da estratégia de conservação, o sucesso final desta depende da reformulação das atividades humanas de modo que coexistam com a biodiversidade e com os sistemas ecológicos. 8. AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Regras para Avaliação Quantitativa da Ameaça Há cinco critérios quantitativos que são utilizados para determinar se uma espécieestá ameaçada de extinção e qual categoria de risco de extinção em que se encontra (Criticamente em Perigo, Em Perigo ou Vulnerável). A maioria deles inclui subcritérios que são usados para justificar mais especificamente a classificação de uma espécie em determinada categoria. Os cinco critérios são: A. Redução da população (passada, presente e/ou projetada); B. Distribuição geográfica restrita e apresentando fragmentação, declínio ou flutuações; C. População pequena e com fragmentação, declínio ou flutuações; D. População muito pequena ou distribuição muito restrita; E. Análise quantitativa de risco de extinção (por exemplo, PVA - Population Viability Analysis). Como aplicar os critérios 20 9. PRINCIPAIS FORMAS E PRATICAS DE CONSERVACAO BIOLOGICA Existem duas estratégias para a conservação da biodiversidade: IN SITU E EX SITU. Conservação in situ Refere-se a conservação das espécies no ecossistema e no habitat natural o local onde essas desenvolveram as suas características. Esta resulta de conservação genética e da conservação on farm. 21 A conservação genética significa manejo e monitoramento dos recursos genéticos de populações silvestres dentro de áreas definidas para conservação activa a longo prazo. A conservação on farm corresponde ao cultivo e manejo contínuo de plantas no sistema tradicional realizado por comunidades locais e povos indígenas. Esta baseia-se não somente na conservação do germoplasma existente, mas nas condições que permitem o desenvolvimento de novos germoplasmas. A variabilidade genética mantida neste tipo de conservação (quintais, machambas e sistemas de agro-florestais), onde há uma grande diversidade interespecífica e intraespecífica, mostra a valorização dessas comunidades em manter e amplificar a variação genética. Acções de conservação in situ /on farm, associadas a métodos participativos, pesquisas etnobotanicas e acções de desenvolvimento local, promovem e fortalecem ao papel das comunidades tradicionais na conservação dos recursos genéticos. Conservação ex situ Corresponde a conservação de genes ou genotipo for a do seu habitat natural, para uso actual ou futura. A conservação in situ busca conservar fora do seu centro de origem ou de diversidade as espécies bem como a variabilidade produzida ao longo do processo evolutivo de domesticação. O que se pode conservar ex situ? São conservados ex situ as espécies úteis para alimentação ou agricultura cuja conservação exige segurança e disponibilidade imediata e futura. Variedades de agricultura tradicional (raças locais ou variedades desenvolvidas ou seleccionadas por agricultores). Produtos de programas de melhoramento/ cultivares modernos e tradicionais, obsoletas, linhas avançadas, mutantes e materiais sintéticos. Produtos de biotecnologia e engenharia genética ( plantas transgénicas, fragmentos de DNA, genes clonados, novas combinacoes genicas, genoma de cloroplasto, genoma de mitocondrias). Limitações a conservação ex situ 22 Tamanho das populações: as populações ex-situ deveriam ter centenas de indivíduos para evitar a perda de variabilidade genética. Adaptação: as espécies podem sofrer adaptação genética às condições artificiais do cativeiro, dificultando o sucesso da reintrodução. Competências aprendidas (learning skills): em aves e mamíferos sociais a aprendizagem que ocorre em condições naturais não se verifica ex-situ. Variabilidade genética: se as populações ex-situ representarem apenas uma pequena parte do “gene pool” da espécie, a reintrodução em locais com condições diferentes pode ser difícil. Continuidade: é necessário assegurar a continuidade dos recursos financeiros e técnicos. Concentração: quando os esforços de conservação ex-situ estão concentrados num único local existe o perigo de uma população inteira ser destruída por uma catástrofe. Vantagens da conservação in situ Vs ex situ A conservação in situ permite a conservação dos processos evolutivos e de adaptação, fornece novos materiais genéticos. Ao passo que a conservação ex situ é muitas vezes a única opção viável para evitar a extinção de espécies raras. A conservação ex-situ e a conservação in-situ são estratégias complementares Assim, indivíduos de populações ex-situ devem ser utilizados para: Aumentar as populações alvo de conservação in-situ (ex. panda). Investigação sobre a biologia da espécie. Evitar a captura de indivíduos selvagens para estudo e exibição. Educação e sensibilização do público para a necessidade de preservação. 10. IMPORTÂNCIA DAS RESERVAS NATURAIS E DOS JARDINS Preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais. 23 Recuperação de seus ecossistemas alterados e as acções de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. Possibilitam a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de actividades de educação e interpretação ambiental. Importância dos jardins Os jardins Zoologicos têm-se transformado rapidamente para servir, de muitas formas, como centros de conservação. Actualmente existem ca. 2000 Zoos e Aquários em todo o mundo. • Secção 1. Conservação: a prioridade dos Zoos • Secção 2. Educação: tarefa essencial da conservação • Secção 3. Conservação de espécies e habitats: a contribuição directa dos Zoos • Secção 4. Conhecimento e Investigação: fundamentais para a conservação • Secção 5: Um passo à frente: uma nova integração Importância dos jardins botânicos Conservação, educação, lazer, etc. Dimensão As áreas protegidas ocupam 17,1 milhões de quilómetros (11,5% da superfície terrestre). As reservas marinhas correspondem a 1.7 milhões de km. Gestão de áreas de conservação A gestão de áreas protegidas “tem que ser realizada de forma sensível às necessidades e preocupações das populações locais” e encorajar as “comunidades, organizações não- governamentais e instituições do sector privado a participar activamente da criação e gestão de parques nacionais e áreas protegidas”. 24 11. CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS PROTEGIDAS Áreas Protegidas Áreas Protegidas “uma superfície de terra e/ou mar especialmente consagrada à protecção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e património cultural associados, e gerida através de meios legais, ou outros eficazes” . Segundo um critério classificatório abrangente, apresentado pelo Instituto de Conservação da natureza, podem considerar-se cinco grandes tipos de áreas protegidas: Parque Nacional Parque Natural Reserva Natural Paisagem Protegida Monumento Natural Parque nacional Área delimitada e dotada de ecossistemas não modicados, ou pouco transformados, pela actividade humana nos quais habitam espécies de reconhecido interesse ecológico, cinético e educacional. Parque natural Caracterizado pela existência de paisagens naturais, seminaturais e humanizadas de interesse nacional; Reserva natural: Área vocacionada para a protecção de habitats da flora e de fauna; Paisagem protegida: Área dotada de paisagens naturais, seminaturais e humanizadas de interesse regional ou local; Monumento natural: Elemento natural dotado de aspectos que, pelas particularidades estéticas e/ou raridade ecológica ou cinética, requer conservação e manutenção. O sistema de categorias de áreas protegidas da IUCN 1. Reserva Natural Estrita/Área Natural Silvestre 2. Parque Nacional 3. Monumento Natural 4. Áreas de manejo de habitat/espécies 25 5. Paisagem terrestre e marinha protegidas; 6. Área Protegida com recursos manejados. Reserva natural estrita/áreanatural silvestre Áreas terrestres e/ou marítimas que possuem ecossistemas excepcionais ou representativos, características geológicas ou fisiograficas e/ou espécies disponíveis principalmente para a pesquisa científica e/ou monitoramento ambiental; Extensas áreas de terra e/ou mar inalteradas ou pouco alteradas, que mantenham o seu caráter e influência naturais sem habitação permanente ou significante, protegidas e manejadas de forma a preservar a sua condição natural. Parque nacional • Áreas naturais terrestres e/ou marítimas destinadas a: • Proteger a integridade ecológica de um ou mais ecossistemas para esta e futuras gerações; • Impedir a exploração ou ocupação contrárias aos propósitos da criação da área; e • Fornecer uma base para oportunidades espirituais, científicas, educacionais, recreacionais e de visita, as quais devem ser compatíveis ambiental e culturalmente. Monumento natural Áreas que contém uma ou mais características naturais ou naturais/culturais específicas que sejam de valor sobressalente ou único devido à sua raridade inerente, representativa de qualidades estéticas ou de importância cultural. Áreas de manejo de habitat/espécies Áreas terrestres e/ou marinhas sujeitas à intervenção activa com fins de manejo de modo a assegurar a preservação de habitats e/ou corresponder às necessidades de espécies específicas. Paisagens terrestre e marinha protegidas Áreas de terra abarcando costa e mar, onde a interação entre população e natureza no decorrer do tempo produziu uma área com características especiais de significativo valor estético, cultural e/ou ecológico, e frequentemente com grande diversidade biológica. Resguardar a integridade desta interação tradicional é vital para a proteção, conservação e desenvolvimento deste tipo de área. 26 Área protegida com recursos manejados Áreas contendo predominantemente sistemas naturais não modificados, manejada para assegurar a proteção e preservação da diversidade biológica a longo prazo, e ao mesmo tempo possibilitar o fluxo de produtos naturais e serviços de modo a satisfazer as necessidades da comunidades. Áreas Protegidas Em Moçambique Reserve do Niassa; Reserva do gile; Reserva de búfalo de marromeu; Reserva de pomene; Reserva especial de Maputo; Parque nacional de gorongosa; Parque nacional de zinave; Parque nacional de Limpopo; Parque nacional de Quirimbas; Parque nacional de Bazaruto; Parque nacional de banhine. 12. REINTRODUCAO, TRANSLOCACAO E REPRODUCAO NO CATIVEIRO Reintrodução Soltura de indivíduos (ou plantio) retirado do ambiente selvagem ou criados em cativeiro, dentro de uma área de sua distribuição histórica. Criar nova população no ambiente original. Reestabelecimento, restauração. Porque reintroduzir? Meta: restabelecer uma população viável e auto-sustentável por longo tempo de uma espécie selvagem. Manejar pequenas populações (.e. aumentar a variabilidade genética). Promover a consciência conservacionista. Aumentar a protecção de habitats. Restabelecer algumas espécies-chave. Tipos de reintrodução Para propósitos de conservação: Suplementação Introdução - Conservação Translocação; 27 Para outros propósitos: resgate/assistência Reintrodução de uma espécie em uma área onde não existe mais Habitat: regiões desérticas da Península Arábica; Extinto na natureza em 1972; Causas da extinção: sobre-exploração e competição com animais de rebanhos; Existência de alguns animais em cativeiro possibilitou a reprodução em cativeiro; 1982: 21 animais foram reintroduzidos em Oman; Desde 1990: 72 animais foram libertados na Arábia Saudita. Reintrodução: Considerações evolutivas, genéticas e ecológicas Local/habitat de introdução: Topografia, vegetação, etc. Ecologia e comportamento da Espécie: Necessidades de alimento, hábitat, etc Transmissão de doenças Critérios genéticos: Hibridização, depressão exogâmica Critérios evolutivos Persistência a longo prazo, tamanho mínimo viável Monitoramento pós-introdução Problemas na Reintrodução Apenas 30% dos animais de cativeiro soltos sobrevivem. Translocação 28 Liberar novos indivíduos em uma população existente aumentando o seu tamanho e seu pool genético. Indivíduos selvagens ou não. Vantagem inicial - criação nos estágios vulneráveis. Translocação de Indivíduos Apoiar a população Caçados ou pescados Reprodução em cativeiro (Captive breeding) Etapas da reprodução em cativeiro: Planear uma estratégia de conservação Capturar parte da população selvagem Reprodução em cativeiro Reintrodução – Ensaios pré-libertação – Monitorização após libertação Espécies alvo: Espécies ameaçadas Problemas da reprodução de animais em cativeiro Existem mais espécies em perigo dos que as que podem ser salvas através da reprodução em cativeiro; Algumas espécies não se adaptam ou não se reproduzem em cativeiro. Reforça a incidência na conservação de algumas espécies (mamíferos, aves). Questões éticas (crueldade, etc). Utensílio, ferramenta adicional para complementar, e não substituir, a conservação in-situ. Novas técnicas para aumentar o sucesso reprodutor Cross-fostering of young (após o nascimento, outros animais “criam” os recém- nascidos” Incubação artificial dos ovos (tartarugas, aves, anfíbio) Inseminação artificial (ex. pandas) 29 Transferência de embriões (ex. cavalo de Przewalski) Alternativas à reprodução em cativeiro Translocação Melhoramento das condições in-situ ex.: suplemento de alimentação, controlo de predadores. 30 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMABIS & MARTHO., Biologia das Populações, 1ªed. Moderna, São Paulo, 1994 CARVALHO, Julita M. et al. Perda e Conservação dos Recursos Genéticos Vegetais. Centro Nacional de Pesquisa de Algodão Campina Grande, PB 2009. MARTINS, Marlúcia B & JARDIM Mário Augusto Gonçalves. Reflexões em biologia da conservação volume I. Belém, 2018. TROMBULAK, S. C., K. et al. Principles of Conservation Biology: Recommended Guidelines for Conservation Literacy from the Education Committee of the Society for Conservation Biology. Conservation Biology. 2004.
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