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Resenha Crítica Filme Uma cidade sem passado

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Resenha Crítica – Filme: Uma cidade sem passado
Tema: Arquivos (Jornal, Biblioteca da Igreja) memória e esquecimento (Passado da cidade sobre o poder do Estado)
O filme “Uma cidade sem passado” narra a vida de uma jovem estudante alemã chamada Sônia, moradora da cidade de Pfilzin, na busca incessante de documentos que revelem fatos sobre sua cidade natal no período do III Reich, para elaboração de uma redação para o concurso no qual estava participando. Sônia inicia sua pesquisa recorrendo à memória coletiva, entrevistando pessoas que vivenciaram aquela época, porém, ao buscar testemunhos e materiais do passado para construir seu acervo documental ela obtém uma enorme dificuldade, pois poucas pessoas detém a verdade sobre sua própria história e nem todas estavam dispostas ou podiam colaborar. Isto leva a estudante a procurar nos arquivos do bispado, da prefeitura e do jornal local, mas todos eles lhe serviam mais como obstáculos do que local de acesso à memória. Sônia direciona sua busca ao arquivo público, mas se depara com a enorme burocracia do Estado, que consegue ao máximo dificulta-la, através de diversos argumentos dos servidores, dentre eles, “o funcionário responsável está ausente”, “alguns arquivos são considerados de natureza sigilosa” e “os documentos não podem ser consultados por serem muito recentes, podendo ocasionar danos morais aos envolvidos”. Somente após processar o município, a estudante consegue acessar as informações que revelam a existência de um campo de concentração e a condenação de um judeu pelos nazistas após ser denunciado por dois padres vivos. Então, percebendo ainda mais a mentira e a dificuldade que estavam te impondo ela decide se dirigir aos jornais e encontra notícias relacionadas ao caso, porém sem relevar os nomes dos envolvidos. Já em uma segunda tentativa a direção do jornal proíbe seu acesso, justificando que os documentos estavam em processo de microfilmagem. O prazo do concurso se esgota e sua pesquisa cede lugar à obsessão, levando-a entrar na faculdade e se tornar historiadora e pesquisadora. A busca pela história verídica de seu povo não para e Sônia passa a ser perseguida.
O valor que a memória documental possui para uma pessoa ou sociedade pode ser constatado na cena em que Sônia indaga o idoso arquivista do jornal a respeito dos campos de concentração ao redor da cidade, e o mesmo responde que não consegue lembrar. Neste momento afirma-se um grande conflito, onde tempos de um lado, uma historiadora sem provas documentais suficientes para comprovar suas afirmações, e de outro, o diretor do arquivo do bispado e do jornal, detentores da memória local. 
O filme nos mostra como a escrita da história de um povo pode ser dificultada pelo silêncio de seus cidadãos, através do controle do Estado sobre a memória coletiva. A Igreja mais uma vez surge na história como uma instituição que afirma seu poder de controle de forma corrupta, sempre subordinada aos interesses do Estado. As Instituições de memória, como bibliotecas e arquivos foram representadas como locais apenas para depósito de informação, pois nunca se conseguia ter acesso a essas informações.
Em relação à gestão de documentos, o filme demonstra que já se existia uma preocupação no manuseio de arquivos precários de conservação, porém mais uma vez a recuperação da informação não era eficaz, pois muitos documentos solicitados estavam sobre empréstimos que não estavam protocolados, documentos importantes perdidos.
Documentos são ocultados da protagonista, forçando-a a entrar na justiça para obtê-los, como na cena onde a desculpa está baseada na questão da necessidade de resguardar direitos de terceiros ou sob outras diversas, como a do seu avançado estado precário de conservação, do empréstimo e da atualização do suporte. Aqui surge outro tema que é importante para a criação e fomentação da cidadania dos pedestres: a documentação.
Os documentos são armas eficazes para a administração pública e para os cidadãos no controle dos atos administrativos, na transparência administrativa, importante e imprescindível para os regimes democráticos, e na busca de seus direitos e regulamentação de seus deveres, assim como da comprovação do passado histórico. http://www2.correioweb.com.br/cw/2000-10- 15/mat_12941.htm. Acesso em 13 ago. 2007. A esse respeito, Ramón Alberch Fugueras e José Ramón Cruz Mundet observam que os documentos são produzidos e conservados por três motivos. O primeiro para a gestão administrativa, como apoio para as tomadas de decisões e como valor probatório. Num segundo momento, servem como recurso básico de informação aos cidadãos e garantia da transparência administrativa, quando permite aos cidadãos questionar através deles todos os assuntos de seus interesses. E por fim, os documentos, com o passar do tempo, adquirem valor histórico, servindo como objeto de pesquisa e de divulgação cultural. VERHOEVEN, Michael. Uma Cidade sem Passado, Alemanha, 1989. Sonia, no filme, não desiste, parte em busca de aliados, de outros pedestres, encontrando-os, como no caso de sua avó, que ia contra as ordens dos nazistas, dando de comer aos judeus e na figura de um senhor, ligado à resistência. Então, em conjunto aos documentos que aos poucos foram sendo obtidos, até por via judicial, surge outra arma social, a história oral, os relatos armazenados na memória coletiva que despertam a história e a memória da sociedade. E conseguindo seus objetivos, cada vez que Sonia lograva êxito, recebia homenagens que ela entendia como uma forma de silenciamento, como uma forma de trazê-la para o grupo dominante. O filme finaliza com Sonia e sua filha sobre a Árvore dos Milagres, simbolizando que a dinâmica social é sempre construída, nunca deixa de existir e que os pedestres, também sempre existirão. Conclusão Assim, enfim, tem-se que o acervo arquivístico é fundamental para o planejamento das cidades, da sociedade e para a recuperação da memória coletiva e a história oral como o suporte dessa memória coletiva. E que o indivíduo, a partir do momento em que se entende como pedestre, passa a ser o cidadão capaz de fazer essa história e modificar sua realidade. Esse é o legado de Michel de Certeau, de Milton Santos, de Ramón, Cruz Mundet e de Verhoeven para os indivíduos e

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