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condutas_tecnicas_e_normas_na_farmacia_estetica

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Brasília-DF. 
Condutas, téCniCas e normas na 
FarmáCia estétiCa
Elaboração
André Luiz Siqueira da Silva
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 6
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 7
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9
UNIDADE I
BIOÉTICA NA ESTÉTICA ......................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO DA BIOÉTICA ....................................................................................................... 11
CAPÍTULO 2
HISTÓRIA, PRINCIPAIS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS E ATUAÇÃO DA BIOÉTICA NA ESTÉTICA ............... 16
UNIDADE II
ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...... 28
CAPÍTULO 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ..................................................... 28
UNIDADE III
REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL ............................................................................... 34
CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO DE ANAMNESE E SEUS PRINCÍPIOS ........................................................................ 34
CAPÍTULO 2
ASPECTOS PSÍQUICOS NA ESTÉTICA ....................................................................................... 40
CAPÍTULO 3
EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA ANAMNESE FACIAL ................................................................. 48
CAPÍTULO 4
PRINCIPAIS DISFUNÇÕES ESTÉTICAS DA FACE .......................................................................... 51
CAPÍTULO 5
EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA ANAMNESE CORPORAL .......................................................... 64
CAPÍTULO 6
PRINCIPAIS DISFUNÇÕES ESTÉTICAS CORPORAIS ..................................................................... 68
UNIDADE IV
PRÁTICAS DE BIOSSEGURANÇA EM UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA ............................................................. 76
CAPÍTULO 1
BIOSSEGURANÇA E OS SEUS PRINCÍPIOS ................................................................................ 76
CAPÍTULO 2
TÉCNICAS E MEDIDAS PARA PREVENÇÃO, REDUÇÃO E TRATAMENTO DOS ACIDENTES COM 
MATERIAIS PERFUROCORTANTES ............................................................................................. 85
CAPÍTULO 3
DESCONTAMINAÇÃO DOS INSUMOS DE UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA ....................................... 91
CAPÍTULO 4
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPIS) E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA 
(EPCS) UTILIZADOS EM UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA ................................................................... 96
CAPÍTULO 5
TIPOS DE RESÍDUOS GERADOS E OS TIPOS DE SEGREGAÇÕES EM CLÍNICAS DE 
ESTÉTICAS ..................................................................................................... 103
UNIDADE V
PROTOCOLOS MICROINVASIVOS UTILIZADOS EM CLÍNICAS DE ESTÉTICA ............................................. 110
CAPÍTULO 1
PROTOCOLOS PARA REALIZAÇÃO DE INTRADEMOTERAPIA .................................................... 110
CAPÍTULO 2
PROTOCOLOS PARA REALIZAÇÃO DE CARBOXITERAPIA ......................................................... 121
CAPÍTULO 3
PROTOCOLOS PARA APLICAÇÃO DE TOXINA BOTULÍNICA ..................................................... 131
CAPÍTULO 4
PROTOCOLO PARA APLICAÇÃO DE ÁCIDO HIALURÔNICO .................................................... 137
CAPÍTULO 5 
PROTOCOLO PARA CRIOLIPÓLISE ......................................................................................... 146
CAPÍTULO 6
PROTOCOLO PARA MICROAGULHAMENTO ........................................................................... 150
CAPÍTULO 7
PROTOCOLO PARA INSERÇÃO DE FIOS DE POLIDIOXANONA (PDO) ...................................... 153
5
UNIDADE VI
RESPONSABILIDADE LEGAL DO PROFISSIONAL ESTETA ......................................................................... 157
CAPÍTULO 1
REGULAMENTAÇÃO DA FARMÁCIA ESTÉTICA ........................................................................ 157
PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 164
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 165
6
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
7
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
8
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
9
Introdução
A Farmácia Estética é a mais recente área de atuação do farmacêutico. Mediante as 
comprovações científicas dos métodos empregados, o farmacêutico esteta desenvolve 
e aplica os procedimentos para tratar as disfunções estéticas do corpo, tais como: 
rugas, estrias, gordura localizada, lipodistrofiaginoide, flacidez, entre outras. Com 
isso, disponibiliza para o paciente o retorno da autoestima e confiança por meio 
dos tratamentos estéticos.Por outro lado, para o profissional alcançar o sucesso nessa área tão 
concorrida, ele deve ter disposição para buscar constante atualização, cursos 
extracurriculares, congressos, simpósios e estágio prático em clínicas, pois 
todos os dias surgem novos procedimentos, cosméticos e equipamentos que 
prometem revolucionar o setor. Além disso, conhecer os princípios bioéticos, 
saber realizar uma anamnese com segurança e compreender quais são os 
aspectos jurídicos que regem a atuação da farmácia estética são fatores 
primordiais para alcançar o sucesso e a satisfação profissional.
Logo, no estudo desta apostila, o aluno terá a oportunidade de aprender sobre 
os fundamentos que compõem a enfermagem estética, bem com irá obter os 
conhecimentos necessários para começar a trilhar um caminho promissor e 
repleto de oportunidades.
Objetivos
 » Adquirir conhecimentos fundamentais sobre os princípios bioéticos e 
acontecimentos históricos que desenvolveram essa ciência.
 » Promover o conhecimento das principais técnicas utilizadas nas 
avaliações faciais e corporais. 
 » Aprender a elaborar um Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido 
(TCLE) e identificar quais são os principais tipos de disfunções estéticas 
encontrados na rotina clínica.
 » Conhecer as resoluções que regularizam a farmácia estética e os 
embasamentos jurídicos que auxiliam o profissional na execução da 
sua profissão.
10
 » Atualizar os conhecimentos sobre as normas básicas de 
biossegurança, e receber as informações necessárias sobre os tipos 
de rejeitos originados em uma clínica de estética e orientações sobre 
os equipamentos utilizados na proteção individual e coletiva dos 
trabalhadores do setor.
11
UNIDADE IBIOÉTICA NA ESTÉTICA
CAPÍTULO 1
Evolução da bioética
Linha do tempo da bioética no Brasil e no 
mundo
A bioética passou por vários processos até ser consolidada como uma ciência. 
Para compreender melhor os fatos que regeram o seu surgimento, faz-se 
necessário ter um conhecimento prévio sobre tais processos. Para isso, a linha 
do tempo que se encontra a seguir lista os principais acontecimentos bioéticos 
ao longo da história.
1900 – surgimento do primeiro documento que estabeleceu com clareza os 
princípios éticos relacionados à pesquisa com seres humanos, formulado 
pelo Ministério da Saúde da Prússia. Nesse documento estão presentes a 
integridade dos pesquisadores, assim como o consentimento formal do 
indivíduo que irá participar da pesquisa (HELOU, 2010). 
1931 – o documento confeccionado em 1900 teve uma baixa repercussão e 
os abusos nas pesquisas com seres humanos foram os motivos que levaram o 
Ministro do Interior da Alemanha estabelecer as “14 diretrizes para as pesquisas 
com seres humanos e para novos tratamentos” (HELOU, 2010). 
1933-1945 – durante a Segunda Guerra Mundial, com a ascensão do nazismo, 
três episódios importantes levaram as instituições de saúde a se envolverem 
em políticas racistas e eugenistas de acordo com os princípios de Hitler 
a partir de 1964. Foram eles: a lei de 14 de junho de 1933, a respeito da 
esterilização, classificada como uma “prevenção contra uma descendência 
hereditariamente doente”, o memorando de outubro de 1939, permitindo a 
eutanásia em indivíduos portadores de doenças incuráveis e a constituição 
dos campos de extermínio, em 1941 (HELOU, 2010). 
12
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
1947 – criação do código de Nuremberg, devido aos fatos ocorridos durante a 
Segunda Guerra Mundial. Além disso, foi formando o Tribunal Internacional 
para julgar os nazistas responsáveis pelos experimentos com os prisioneiros nos 
campos de concentração (HELOU, 2010). 
1948 – é aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos. Ainda que não representasse um dever 
legal, serviu para a formação de dois tratados elaborados pela ONU, foram 
eles: o Tratado Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais e o 
Tratado Internacional dos Direitos Civis e Políticos (HELOU, 2010). 
1953 - Watson e Crick descobrem a estrutura do DNA, abrindo novos 
caminhos para o desenvolvimento da Engenharia Genética. Consequentemente 
questionamentos éticos a respeito das aplicações que essa descoberta poderia 
trazer foram discutidos (HELOU, 2010). 
23 de dezembro de 1954 – o primeiro transplante renal do mundo foi 
realizado, trazendo vários questionamentos e polêmicas na esfera ética e 
jurídica, a respeito dos transplantes de órgãos (HELOU, 2010). 
1960 – criação do Comitê de Seleção de Diálise de Seattle (God 
Commission). Essa comissão tinha como objetivo selecionar os pacientes 
que iriam realizar hemodiálise, tratamento que tinha sido descoberto 
recentemente. No entanto, os integrantes da God Commission não eram 
especialistas da área de nefrologia. Este fato ficou marcado como a primeira 
referência a bioética (HELOU, 2010). 
1960 – o Concílio Vaticano II foi convocado pelo Papa João Paulo XXIII 
para discutir uma reconstrução da igreja católica, pois ela iria se tornar mais 
aberta ao mundo moderno e aos problemas éticos (HELOU, 2010). 
1960 – a igualdade dos diretos civis para todas as pessoas (negros e brancos) 
é defendida por Martin Luther King. Além disso, ele pede o término da 
segregação racial e do preconceito trabalhista (HELOU, 2010). 
1960 – ascensão do movimento Hippie. Os integrantes do movimento 
defendiam a liberdade sexual, proteção à natureza, não toleravam qualquer 
tipo de violência física. Ademais, o capitalismo foi questionado e os hippies 
defendiam a partilha dos recursos (HELOU, 2010). 
1961 – a vida sexual e social das mulheres foi transformada com o surgimento 
da pílula anticoncepcional. Com isso, uma “bioética feminista” foi criada para 
defender a autonomia da mulher sobre o seu corpo (HELOU, 2010). 
13
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
1964 – a Declaração de Helsinki foi aprovada pela Assembleia Médica 
Mundial. Esse documento é visto com uma melhoria realizada no Código de 
Nuremberg. Devido a isso, seus requisitos de ética médica são utilizados por 
vários países atualmente (HELOU, 2010). 
1966 – os periódicos científicos de renome no mundo acadêmico são 
analisados por um artigo intitulado: “New England Journal of Medicine”. O 
objetivo foi investigar as pesquisas com seres humanos. O artigo conclui 
que 12% dos estudos tinham vários desvios éticos (HELOU, 2010). 
1967 – o primeiro transplante cardíaco do mundo foi realizado na África do Sul 
pelo cardiologista Dr. Christian. Devido a isso, o conceito de morte é revisto 
pela sociedade médica (HELOU, 2010). 
1968 – a revista científica “New England Journal of Medicine apresenta 
uma nova definição de morte cerebral. Com isso, o conceito de parada 
cardiorrespiratória é questionado e é estabelecendo intenso debate sobre 
a origem dos órgãos destinados aos transplantes. Os temas eutanásia e 
distanásia também são discutidos devido ao impacto causado pelo artigo 
que foi publicado na revista. (HELOU, 2010).
1969-1970 – Daniel Callahan funda o Hastings Center” nos Estados Unidos. 
O objetivo da entidade é encontrar soluções éticas para determinados 
problemas (HELOU, 2010). 
1970-1971 – a palavra bioética foi utilizada pela primeira em artigos 
publicados pelo oncologista, bioquímico e biólogo Van Rensselaer Potter 
intitulados ’Bioethics: The Science of Surviral e Biocybernetics and 
Survival. Ademais, uma compilação de artigos foi publicada em forma 
de livro, Bioethics: Bridge to the Future. O cientista fazia parte do corpo 
docente da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. De acordo 
com muitos autores, foi a partir dos estudos de Potter que nasceu a 
bioética (HELOU, 2010). 
1971 – sediado na Universidade de Georgetown nos Estados Unidos, o Instituto 
Kennedy é fundado. A entidade torna-se o primeiro centro do mundo 
destinado à leitura e discussão de temas voltados para a Bioética. Ademais, 
funda-se a primeira pós-graduação em Bioética (HELOU, 2010). 
1974 – o termo bioética é introduzido na Livraria do CongressoAmericano 
(HELOU, 2010). 
14
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
1974 – o Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar dos Estados Unidos, 
apresenta o Relatório Belmont, devido aos problemas oriundos do Estudo 
Tuskegge (1932 a 1972). Esse estudo realizou uma pesquisa sobre sífilis em 
uma população negra sem adotar os princípios éticos (HELOU, 2010). 
1978 – a reprodução humana assistida começa a ter renome após o 
nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown. Com isso, novos 
questionamentos éticos são levantados (HELOU, 2010). 
1979 – um livro, Principles of Biomedical Ethic, que pertence à corrente 
bioética chamada Principialismo é publicado pelos autores T. Beauchamp e 
J. Childres (HELOU, 2010).
1979 – o livro Ética Prática é publicado por Peter Singer. A obra discute 
os motivos pelos quais a vida de todos os seres vivos precisa ser respeitada 
(HELOU, 2010). 
1986 – o livro Fundamentos da Bioética é lançado por H. Tristam 
Engelhard. Na obra, as teorias religiosas estão presentes (HELOU, 2010). 
1990 – o Projeto Genoma Humano é iniciado (HELOU, 2010). 
1992 – na cidade de Amsterdã (Holanda), acontece o primeiro Congresso 
Mundial de Bioética, patrocinado pela International Association of 
Bioethics (HELOU, 2010). 
1996 – o Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil publica a resolução no 
196/1996 com todas as normas e orientações para a realização de pesquisa com 
seres humanos (HELOU, 2010). 
1997 – o primeiro mamífero do mundo é clonado, uma ovelha que foi chamada Dolly. 
A clonagem foi realiza através da transferência nuclear. Devido a isso, uma grande 
discussão a respeito da clonagem humana foi realizada. Pois, a mesma metodologia 
poderia ser empregada para clonar seres humanos (HELOU, 2010). 
2002 – o Brasil sedia o VI Congresso Mundial de Bioética ((HELOU, 2010). 
2003 – o Conselho Federal de Medicina publica a revista “Bioética”. Abordando a 
bioética de maneira ampla e interdisciplinar (HELOU, 2010). 
2004 – o Centro Universitário São Camilo, sediado na cidade de São Paulo, cria o 
primeiro Mestrado em Bioética do Brasil ((HELOU, 2010). 
15
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
2005 – a Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS), na cidade de Pouso Alegre em 
Minas Gerais, cria o segundo Mestrado em Bioética do Brasil (HELOU, 2010). 
2008 – o Conselho Federal de Medicina em parceria com a Faculdade de Medicina 
da Universidade do Porto em Portugal criam o programa de Doutorado 
em Bioética (HELOU, 2010). 
2010 – a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), situada na cidade do Rio de 
Janeiro, introduz o Doutorado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde (HELOU, 
2010). 
16
CAPÍTULO 2
História, principais princípios bioéticos e 
atuação da bioética na estética
Processos históricos
A bioética é a ciência que mais cresce em todo o mundo. Ela é um campo 
que integra várias matérias, que os pesquisadores da temática chamam de 
“transdisciplinaridade”. Ou seja, é a junção de vários conceitos de disciplinas 
diferentes. Estimulados pela mídia, temas como células-tronco, clonagem, 
aborto, eutanásia, banco de órgãos, entre outros, acabaram por despertar 
o interesse da sociedade e dos pesquisadores. Os conhecimentos e 
reflexões sobre esses temas polêmicos se difundiram pelo mundo inteiro, 
transformando a bioética na ciência do momento (SAKAGUTI, 2007).
Não existe um consenso entre os cientistas que trabalham com bioética a 
respeito de um acontecimento específico que deu origem a ela. No entanto, 
existem vários fatores e contextos históricos que, somados, levaram ao seu 
surgimento. Dentre os vários acontecimentos que levaram ao surgimento da 
bioética podemos destacar a Segunda Guerra Mundial (SAKAGUTI, 2007).
Além disso, a religião esteve presente no nascimento da bioética, por meio de 
análises realizadas e propostas geradas em torno dos avanços tecnológicos 
alcançados pela área médica. Na década de 1950, a grande maioria dos 
professores ou autores de bioética eram rabinos, pastores ou teólogos católicos 
(SAKAGUTI, 2007).
Após a Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1950 e 1960, observamos 
o surgimento de movimentos de reivindicação dos direitos individuais, tais 
como: movimentos feministas, proteção à criança e à juventude, movimentos 
contra a segregação racial, revolução sexual, entre outros (SAKAGUTI, 2007).
Todos esses movimentos foram fundados devido a dois documentos que surgiram 
com o término da Segunda Grande Guerra: o Código de Nuremberg (1947) e a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) (SAKAGUTI, 2007).
O Código de Nuremberg surgiu devido aos problemas éticos ocasionados devido 
às pesquisas com seres humanos durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas 
17
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
foram julgados e condenados pelo Tribunal de Nuremberg por cometerem 
os mais perversos atos de crueldade contra a humanidade (SAKAGUTI, 
2007).
Já a declaração Universal dos Direitos Humanos, criada pela então 
recém-constituída, Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, foi uma 
conquista da humanidade. Essa declaração promove a proteção contra 
os abusos de poderes autoritários e defende o direito ao livre-arbítrio. 
Outra diretriz muito importante da ONU foi a Declaração dos Direitos 
da Criança (1959), ressaltando a proteção daqueles que são mais frágeis 
e desprotegidos pela sociedade, as crianças. O Código de Nuremberg e 
as declarações formuladas pela ONU promulgam os mesmos objetivos: a 
liberdade e a dignidade de cada ser humano (SAKAGUTI, 2007).
Outro fator de extrema importância que auxiliou o surgimento da bioética 
foi a alteração da relação entre o médico e o paciente, que muitos autores 
classificaram como “desumanização do atendimento aos pacientes”. Ou 
seja, ocorreu um afastamento do profissional responsável pelos cuidados 
individuais de cada doente (SAKAGUTI, 2007).
Nos primórdios do século XX, a relação entre médico e paciente era de total 
confidencialidade. Era muito comum o fato de o profissional ir até a casa do 
enfermo realizar consultas e tratar de todos os membros da família. Devido 
a isso, as famílias consultavam-se com o mesmo médico durantes anos. 
No entanto, no começo da década de 1960, essa relação afetuosa mudou 
devido ao aumento do número de hospitais, a inserção de equipamentos de 
diagnósticos e de análises clínicas, das pesquisas clínicas e o surgimento das 
especializações médicas. A facilidade e a comodidade, aliados ao ponto de 
vista econômico de concentrar em um mesmo local todos os profissionais da 
saúde, onde poderiam trabalhar juntos para atingir os melhores resultados 
ajudaram a mudar essa relação (SAKAGUTI, 2007).
As residências médicas levaram os médicos a concentrar seus conhecimentos 
em uma determinada parte do corpo. Porém, ao mesmo tempo em que se 
especializavam esqueciam-se de como tratar o conjunto, o corpo humano 
(SAKAGUTI, 2007).
Dessa forma, o paciente passou a ser tratado como um número de série ou de 
acordo com a patologia que portava, perdendo a sua identidade. A mudança 
na forma de tratamento dos médicos não mais permitiu estreitar os laços na 
relação médico-paciente e a identificação de médico da família foi perdida por 
esses profissionais (SAKAGUTI, 2007).
18
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
Em 1969, foi publicado nos Estados Unidos o Código de Direitos do Paciente 
Hospitalizado, documento que ratificava os direitos do paciente. Tal 
declaração garantia que o enfermo seria respeitado e teria total autonomia 
sobre as decisões referentes ao seu corpo (SAKAGUTI, 2007).
Durante 1969 foi realizada uma reunião organizada pelo psiquiatra Willard 
Gaylin e pelo filósofo Daniel Callahan, que reuniram psiquiatras e filósofos 
para estudar e elaborar normas a respeito das pesquisas e experimentação no 
campo da saúde médica. Esses atos levaram à formação do Institute of Society, 
Ethics and Life Sciences, com sede em Hastingon-Hundson, Nova Iorque – EUA 
(SAKAGUTI, 2007).
Essa entidade tinha como objetivo estudar sistematicamente a ética e as ciênciasda 
vida. Além disso, o instituto de pesquisa prezava por ser um centro de estudo 
totalmente laico, sem fins lucrativos, com uma alta atividade educativa com o 
público geral. Com isso, a instituição ficou conhecida como “Hastings Center” 
(SAKAGUTI, 2007).
Somente em 1970 o termo “Bioética” foi utilizado pela primeira vez. Esse fato 
ocorreu nos Estados Unidos por meio da publicação do artigo intitulado The 
sience of survivial escrito pelo oncologista Van Rensselaer Potter. Em 1971, o 
bioquímico, biólogo e oncologista publicou um artigo que virou referência na 
área, Bioethics: bridge to the future (SAKAGUTI, 2007).
O processo de formação da palavra “bioética” é baseado na junção dos termos 
“bio”, que significa saber biológico, e a palavra “ética” que faz uma relação com 
os valores humanos. Porém, foi por meio de uma reportagem realizada pela 
revista Time que o livro de Van Potter tornou-se conhecido pelo público em geral 
e, desde então, a palavra “bioética” entrou no nosso vocabulário (SAKAGUTI, 
2007).
Filme – Julgamento de Nuremberg - Com o fim da Segunda Guerra 
Mundial, os países aliados reuniram-se em Nuremberg, na Alemanha, 
para decidir o destino de oficiais nazistas, julgados por seus bárbaros 
crimes cometidos nos campos de concentração, em nome do III Reich. 
Entre eles estão o notório Hermann Goering (Brian Cox, que atuou em 
Coração Valente). Com os ombros pesados pela responsabilidade e todos 
os olhos do mundo voltados para aquela corte, o promotor Robert 
Jackson (Alec Baldwin, de O Sombra), questiona os direitos dos acusados. 
É como fazer valer a justiça no mais importante julgamento da história. 
19
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
Com ricos detalhes sobre o julgamento de Nuremberg, este filme – cuja 
produção executiva é co-assinada por Alec Baldwin – manteve-se fiel 
até às transcrições das fitas gravadas na corte. Todo o drama e dilema 
dos acusadores foram minuciosamente recriados nesta produção.
Princípios bioéticos
Os fundamentos da Bioética, ou da Ética, não são os seus princípios, no entanto, 
os princípios éticos norteiam o caminho referente à reflexão ética e representam 
um conglomerado de referências e meios que contribuem para a construção da 
ação ética. Existem diferentes modelos bioéticos, cada um propõe seus princípios, 
os apresentando em uma determinada ordem. Essa hierarquia não representa 
uma hegemonia entre um e outro princípio, representa apenas a ordem na qual 
foi construída a reflexão ética (RAMOS; JUNQUEIRA, 2007).
No Modelo Personalista, os princípios bioéticos são distribuídos em:
1. Princípio da defesa da vida física: defende a vida física, pois 
se entende que a vida física é coessencial para promover os valores 
humanos, devido a isso, sempre deve ser preservada (RAMOS; 
JUNQUEIRA, 2007).
2. Princípio da liberdade e responsabilidade: ressalta a 
responsabilidade do profissional de saúde em tratar o paciente, como 
um fim, uma finalidade e jamais como um meio. Ademais, relata a 
responsabilidade do cuidador, médico ou não, de não aceitar um 
pedido do paciente caso interprete a súplica como inaceitável por 
sua consciência moral (RAMOS; JUNQUEIRA, 2007).
3. Princípio terapêutico: este princípio é conectado com a 
proporcionalidade das terapias para avaliar os riscos e benefícios. De 
acordo com esse princípio, é permitido intervir sobre a vida de um 
paciente fazendo mutilações físicas em uma cirurgia quando isso 
permitir a manutenção da vida. Exemplo: amputação de um membro 
que foi dilacerado em um acidente ou remoção de tumor (RAMOS; 
JUNQUEIRA, 2007).
4. Princípio da sociabilidade e de subsidiariedade: sociabilidade 
respaldada na prerrogativa que cada indivíduo participe de uma 
sociedade, assumindo responsabilidade com essa. Cada pessoa tem 
20
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
sua incumbência na preservação da ordem social, permitindo 
que todos possam viver de forma adequada. Já a subsidiariedade 
relaciona-se com as responsabilidades dos organismos 
(governamentais) da sociedade com cada indivíduo. Por exemplo: 
um pequeno grupo social (ONG), associações, entre outros, está 
desenvolvendo um projeto social e necessita de ajuda, os gestores 
públicos devem apoiar essa iniciativa, oferecendo recursos para 
que aquela entidade possa se manter e se desenvolver (RAMOS; 
JUNQUEIRA, 2007).
É importante ressaltar que, na literatura, podem ser encontrados outros modelos 
de princípios bioéticos, que nascem de diferentes escolas éticas. Entre os 
muitos existentes, será destacado aquele que é mais utilizado pelos bioeticistas 
brasileiros. Trata-se do modelo bioético intitulado Principialismo, que foi 
proposto por Beauchamps e Childress, em 1989. Esses autores demonstram 
os seguintes princípios: autonomia, justiça, beneficência e não maleficência 
(RAMOS; JUNQUEIRA, 2007).
Princípio da não maleficência
Como o próprio nome já diz, esse princípio da bioética obriga o profissional 
da saúde a não causar nenhum tipo de malefício ao paciente. Muitos autores 
consideram o princípio da não maleficência como o princípio fundamental 
da escola hipocrática. Além disso, ele é utilizado constantemente para impor 
uma condição moral ao profissional da área da saúde. Trata-se, portanto, do 
dever ético mínimo que um profissional esteta precisa ter para exercer sua 
profissão. O não cumprimento desse princípio coloca o profissional em uma 
situação de prática negligente (LOCH, 2002).
Este princípio tem grande importância, pois, em muitos casos, os riscos de 
causar danos ao paciente são inseparáveis de um determinado procedimento 
que é destinado a tratar aquele tipo de disfunção. Qualquer procedimento 
estético envolve riscos e o paciente tem que estar ciente dos possíveis 
problemas.
Por exemplo, um procedimento de pelling pode causar uma queimadura na 
pele do paciente se for executado erroneamente. No entanto, do ponto de 
vista ético, esse malefício pode ser justificado se o benefício esperado com 
o procedimento fro beneficiar o paciente por meio da regeneração tecidual 
ocasionado por uma queimadura controlada.
21
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
No exemplo supracitado, os danos ao paciente são relativamente pequenos e não 
oferecem risco de morte. Porém, se o paciente tiver algum tipo de alergia aos 
componentes utilizados pelo pelling, o risco de ocasionar malefícios definitivos é 
elevado. Com isso, o procedimento não pode ser realizado.
Princípio da beneficência
Este princípio da beneficência apoia-se na temática de fazermos o bem ao próximo. 
Quando utilizado por profissionais da estética o trabalhador tem o dever moral de 
zelar pela saúde do paciente. Não apenas no que diz respeito à assistência 
técnica, mas também deve ser levado em consideração à ética. Ou seja, todos 
os conhecimentos e habilidades adquiridos pelo profissional ao longo 
da sua formação devem ser usados para servir ao paciente, visando 
sempre minimizar os riscos e potencializar os benefícios do tratamento 
(KOTTOW, 1995).
Este princípio obriga o profissional da saúde a não causar danos intencionais 
à saúde do paciente. Além disso, obriga o profissional a promover o bem-estar 
daquele, por meio das seguintes ações (LOCH, 2002):
1. Prevenir ou remover algum malefício (LOCH, 2002), neste caso seriam 
as disfunções estéticas.
2. Fazer o bem ao paciente, ou seja, por meio dos procedimentos estéticos 
devolver ao paciente a autoestima.
Esse princípio necessita de ações positivas por parte do profissional esteta. Faz-se 
necessário que o profissional trabalhe para beneficiar o seu paciente. Ademais, 
os procedimentos que serão realizados precisam ser avaliados e analisados, 
levando em conta o benefício versus riscos e/ou custos (LOCH, 2002).
Por exemplo, determinado paciente deseja realizar um tratamento com toxina 
botulínica. No entanto, o profissional esteta deve alertar o seu paciente quanto 
aos riscos que o procedimento causa e falar sobre os seus benefícios. Além disso, 
o profissional deve argumentar a respeito do motivopelo qual os benefícios são 
maiores que os malefícios, o que justificaria a realização do procedimento.
22
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
Princípio do respeito à autonomia
O respeito à autonomia significa respeitar o livre arbítrio de cada ser humano. 
Ou seja, uma pessoa deve julgar se determinado tratamento estético é ou não 
bom para si mesma. Mas, para que a pessoa possa exercer a autodeterminação é 
imprescindível respeitar duas condições básicas (LOCH, 2002):
1. O paciente deve ter clareza intelectual para compreender as razões 
pela qual vai realizar o procedimento (LOCH, 2002) e deliberação 
para escolher com coerência entre as alternativas de tratamentos 
estéticos apresentados.
2. O paciente precisa ter liberdade, ou seja, autonomia sobre as 
escolhas cabíveis (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 1994).
O princípio da autonomia baseia-se na relação de proximidade entre paciente 
e profissional da saúde. Este princípio sentencia o profissional esteta a 
comunicar todas as informações possíveis sobre o tratamento, com o objetivo de 
promover uma compreensão da disfunção estética e quais são as metodologias 
empregadas para revertê-la. Dessa maneira, o paciente tem condições plenas 
de tomar a decisão, se irá ou não realizar o tratamento. Respeitar a autonomia 
vai mais além, significa também ajudar o paciente a superar seus sentimentos 
de dependência.
Ademais, para formalização das informações passadas pelo profissional esteta 
ao paciente, faz-se necessário a apresentação do consentimento informado. Essa 
declaração é classificada como uma decisão voluntária do paciente, e pode ser 
feita de forma verbal ou escrita. Por meio dele o paciente é informado dos riscos 
e benefícios que o tratamento estético apresenta, e confirma que recebeu todas 
as orientações e teve suas dúvidas esclarecidas pelo profissional. No entanto, 
o consentimento informado deve ser entendido como um documento firmado 
pelo profissional esteta e o paciente, pois contempla os fundamentos legais do 
problema.
O termo deve ser visto como um processo de relacionamento entre as partes, tendo 
o profissional de saúde a obrigação de indicar todos os pontos do tratamento 
e ajudar o paciente a escolher a melhor opção de acordo com os seus dogmas 
(LOCH, 2002).
23
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
Princípio da justiça
A palavra justiça é derivada do latim “iustitia” e expressa o significado de equidade, 
leis, exatidão, bondade, benignidade, justiça. Essa palavra foi introduzida na língua 
portuguesa no século XIII. O seu significado também pode ser interpretado 
como: algo que está em conformidade com o que é de direito, com o que é 
justo (ÂMBITO JURÍDICO).
Na bioética, o princípio da justiça faz referência a respeitar com imparcialidade 
o direito de cada indivíduo. Dessa maneira, não seria ético tomar uma decisão 
que levasse o profissional esteta ou paciente a se prejudicar. É a partir desse 
princípio que se estrutura a chamada “objeção de consciência”, que representa o 
direito de determinado profissional de recusar-se a realizar certo procedimento, 
aceito ou reivindicado pelo paciente, mas que vai contra as convicções éticas 
desse profissional (RAMOS; JUNQUEIRA, 2007).
Relação entre o profissional esteta e o 
paciente à luz do paternalismo
O paternalismo é definido como um comportamento impositivo praticado pelos 
profissionais da saúde. Também poderíamos dizer que o paternalismo 
é um modelo de autoritarismo, devido ao fato de uma pessoa exercer 
sobre outro indivíduo várias decisões sem o seu consentimento (COHEN; 
MARCOLINO, 1995).
Esta conduta é um problema de difícil avaliação, devido ao fato de quando 
e quanto essa prática é adotada. Dessa maneira, ela se torna o centro de 
bastantes problemas éticos (COHEN; MARCOLINO, 1995).
Analise os comportamentos:
1. cuidar do enfermo sem o seu consentimento;
2. utilizar algum tipo de placebo;
3. não dizer ao paciente algum tipo de informação sobre o estágio da 
patologia que ele apresenta;
4. realizar algum procedimento estético sem informar ao paciente que 
outros profissionais estetas utilizam métodos diferentes.
24
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
Os comportamentos supracitados são, na sua plenitude, classificados como 
paternalistas (COHEN; MARCOLINO, 1995).
De acordo com ensinamentos de Dworkin (1971) o paternalismo é o ato de 
interferir no livro arbítrio, baseado na justificativa de manter o bem-estar, 
felicidade e necessidades da pessoa reprimida.
Por outro lado, Culver e Gert (1982) dizem que o comportamento paternalista 
deve ser empregado somente quando se acredita nos seguintes itens:
1. sua ação beneficia o paciente;
2. sua ação envolve a quebra de uma regra moral do paciente;
3. seus atos não possuem o consentimento do paciente, nem no passado, 
nem no presente, nem aparecerá no futuro.
De maneira mais clara, as ideias de Culver e Gert explicam que somente 
devemos agir paternalisticamente em relação a um paciente, quando a 
intenção for beneficiá-lo e não ao executor do ato ou a terceiros.
Existem duas formas de beneficiar uma pessoa. A primeira é promover algum 
bem para o indivíduo, como: produzir prazer, liberdade ou oportunidade. 
A segunda forma é buscar inibir ou amenizar um mal que está acometendo 
o paciente, pode ser uma dor ou incapacidade de realizar algo (COHEN; 
MARCOLINO, 1995).
É importante salientar que o paternalismo é fundamentado nos princípios da 
beneficência e da não maleficência. Ou seja, no geral, esses princípios 
priorizam que o paciente seja tratado com respeito e dignidade. Para isso, 
é primordial não causar nenhum tipo de malefício ao indivíduo e prezar 
sempre pelos resultados benéficos.
Por outro lado, também podemos fazer uma análise do paternalismo 
baseando-se no princípio da autonomia. Esse princípio foi formalizado 
somente em 1947, por meio do código de Nuremberg, no qual foram 
estabelecidas normas para a realização de pesquisa com seres humanos. 
Para isso, desde então é obrigatória à apresentação do Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido ao indivíduo que participará de 
determinada pesquisa laboral (FREITAS; HOSSNE, 1998).
A palavra autonomia tem sua origem no idioma grego, “auto” significa 
“próprio” e “nomos” relaciona-se a “leis, regras”. Ou seja, autonomia significa 
25
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
ter autodeterminação ou autogoverno sobre as suas próprias decisões que irão 
afetar a integridade, a saúde, as relações interpessoais, a vida, e a integridade 
(FILHO, 2011).
Indivíduos caracterizados como autônomos são aqueles que possuem a liberdade 
de pensamento. Para uma situação ser classificada como autônoma é necessário 
que ofereça alternativas de escolha. Ademais, a liberdade de opção tem 
que estar presente. Não obstante, a pessoa deve ser capaz de julgar as 
alternativas e escolher aquela que for melhor para si de acordo com seus 
princípios (FILHO, 2011).
Seguindo essa linha de pensamento, podemos citar o filósofo Franklin Leopold 
(LEOPOLDO; SILVA, 1998), para quem o paternalismo é o resultado de uma 
relação assimétrica entre o profissional de saúde e o paciente, evidenciada 
pela fragilidade do paciente frente ao profissional esteta. Nesse tipo de relação 
encontramos uma desproporção, pois o cuidado prestado anula o paciente, 
que é o objeto da relação, uma vez que o profissional esteta detém o saber 
dos procedimentos estéticos deixando o paciente à mercê das influências do 
profissional (FILHO, 2011).
Na estética um exemplo claro de paternalismo é a seguinte situação: 
um paciente pretende realizar uma sessão de ultrassom cavitacional, no 
entanto, para potenciar os efeitos do tratamento o profissional esteta, sem o 
consentimento do paciente, introduz soro fisiológico no abdome.
É notório que a hidrolipoclasia consegue eliminar maiores quantidades 
de medidas. O profissional esteta, ao decidir realizar esse procedimento, 
teve como objetivo promover um benefício ao paciente (princípio da 
beneficência). Além disso, a hidrolipoclasia não causanenhum malefício 
(princípio da não maleficência). No entanto, o profissional esteta praticou 
um ato de paternalismo, pois fez a injeção de soro sem o consentimento do 
paciente. Se o paciente tivesse autorizado o uso do soro fisiológico, essa 
situação não seria classificada como paternalista.
Envelhecimento populacional, aparência 
social e benefícios propostos pela estética 
seguindo os princípios bioéticos
Os brasileiros estão gastando cada vez mais com procedimentos estéticos. O 
Brasil já ocupa a segunda colocação do ranking mundial entre os países que 
mais gastam com esses serviços. Ele fica atrás somente dos Estados Unidos. 
26
UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA
Devido a isso, em 2014 foi estimado que o mercado brasileiro movimentou cerca 
de R$ 136 bilhões e para 2015 estimava-se um crescimento de 10%. O aumento 
do mercado deve-se à ascensão das classes D e E, e à crescente participação da 
mulher brasileira no mercado de trabalho, ocasionando a elevação da renda 
familiar (Estado de Minas. Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/
economia/2014/11/02/internas_economia,585899/estetica-deve-fechar-o-
ano-com-crescimento-de-77-mesmo-com-economia-desaquecida. shtml).
O público masculino também estimulou o aumento do faturamento no setor. Cada 
vez mais preocupados com a aparência, os homens estão investindo constantemente 
no seu bem-estar. Não obstante, esse público busca um tratamento diferenciado 
e exclusivo, com privacidade, agilidade e conforto. Ademais, a execução de um 
serviço regado com pequenos agrados, tais como: drinks, sucos, orientações 
alimentares, entre outros, levam à fidelização do paciente (SEBRAE, disponível 
em: http://arquivopdf.sebrae.com.br/customizado/acesso-a-mercados/conheca-
seu-mercado/inteligencia-de-mercado/servicos-%20mercado%20de%20estetica.
pdf).
Um fator bastante significativo que deve ser levado em consideração ao 
analisar o faturamento do setor é o envelhecimento populacional. Dados 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a 
população brasileira está envelhecendo em um ritmo acelerado. Isso se deve 
aos avanços da medicina, que proporcionaram uma maior expectativa de 
vida. De acordo com o IBGE, em 2022, o Brasil será a sexta nação do mundo 
com o maior número de pessoas com idade superior aos 70 anos. Serão cerca 
de 33 milhões de brasileiros, o que representará aproximadamente 13% da 
população (IBGE).
O processo de envelhecimento não é visto com naturalidade por grande parte 
dos pacientes. Muitos desejam eternizar a beleza que possuíam na juventude, 
e aqueles que se encontram nessa faixa etária buscam constantemente novas 
maneiras de burlar o ciclo natural da vida. Dessa forma, a autoestima do 
paciente fica abalada, trazendo insegurança, dúvida e incerteza. Com isso, os 
tratamentos estéticos surgem como provedores da resolução dos problemas 
supracitados (HELOU, 2010).
Os valores da nossa sociedade são pautados nos seguintes referenciais: juventude 
e beleza física. Quando determinado paciente olha para o espelho e as marcas 
do tempo já estão presentes em seu corpo, esse fato pode ser apavorante ou até 
mesmo ameaçador. A partir desse momento, o tempo é tratado como o principal 
27
BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I
inimigo, pois passa a levar todo o frescor da pele, agilidade dos movimentos e 
tonicidade dos músculos e tecidos (HELOU, 2010).
A sociedade ocidental é sustentada por dogmas que priorizam a aparência como 
cartão de visitas de qualquer indivíduo. O fato de determinada pessoa ter uma 
boa aparência sentencia se ela será ou não aceita em determinado ciclo social. 
Tais valores são difundidos pelas redes sociais, revistas, jornais, cinemas, 
desfiles, comerciais, entre outros. Ademais, a propagação midiática que na 
maioria das vezes vende imagens de indivíduos bem sucedidos, associados a 
uma beleza e juventude sem igual, estimula esse tipo de comportamento. Com 
isso, essas características tornam-se motivacionais para a obtenção de sucesso, 
seja ele financeiro ou social (HELOU, 2010).
Os gastos com procedimentos estéticos já comprometem uma quantia generosa 
do orçamento familiar. De acordo com um estudo realizado por Helou em 2010, 
no qual a pesquisadora entrevistou várias mulheres indagando s mesmas o 
porquê de gastarem tanto dinheiro com procedimentos estéticos, a resposta foi 
unânime: “Por causa da sociedade”.
Logo, o profissional esteta que irá atender seu paciente deve primeiramente fazer 
uma anamnese com bastante atenção e respeitar os princípios da bioética, pois, 
muitas vezes o paciente pode querer fazer determinado procedimento baseado 
nos resultados obtidos por um amigo ou familiar. Ou pode ter visto nas mídias 
sociais que determinado tratamento promete realizar milagre. No entanto, cada 
organismo possui suas particularidades e deve sempre ser tratado com um ser 
único. Devido a isso, é primordial individualizar os tratamentos estéticos.
28
UNIDADE II
ASPECTOS GERAIS E 
CONFECÇÃO DO TERMO 
DE CONSENTIMENTO 
LIVRE E ESCLARECIDO 
(TCLE)
CAPÍTULO 1
Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido (TCLE)
Origem do Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido (TCLE)
O documento intitulado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 
foi criado nos primórdios da bioética, devido à preocupação que existia com as 
pesquisas realizadas com seres humanos. Essa apreensão perdura até os dias 
atuais e ocupa lugar de destaque nas discussões das pesquisas farmacológicas 
(SAKAGUTI; TRINDADE,2007).
O primeiro relato sobre a utilização do TCLE foi um documento elaborado para 
estabelecer uma relação entre o pesquisador e o pesquisado. O registro é datado 
de 19 de outubro de 1833. O médico estadunidense, Willian Beaumount (1785-
1853) realizou seus trabalhos com o consentimento de Alexis St. Martin. Esse 
apresentava um ferimento provocado por arma de fogo, no qual era possível 
observar o seu estômago (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
No documento firmado entre as partes ficou estabelecido que o médico 
iria custear todas as despesas do pesquisado, além disso, forneceria uma 
remuneração no valor de U$ 150,00. O estudo durou um ano e sofreu fortes 
críticas éticas pela forma como foi desenvolvido, pois o pesquisado não recebeu 
todas as informações necessárias e o seu envolvimento com o experimento 
não aconteceu de forma voluntária. No entanto, esse relato é considerado o 
vanguardista do TCLE (MINOSSI, 2011).
29
ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) │ UNIDADE II
Durante a história da Bioética observamos que nem sempre houve uma 
preocupação com o participante de um experimento ou até mesmo de um 
procedimento médico.
Existe uma infinidade de relatos sobre desrespeito causado por cientistas ou 
médicos que não se preocupavam com a autonomia das pessoas. Esses fatos 
envolviam dor, sofrimento, humilhação e até mesmo mortes. O perfil das 
pessoas que tinham sua autonomia privada era de prisioneiros de guerra, 
pobres, escravos e condenados à morte (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
Foi somente a partir do Código de Nuremberg que o consentimento voluntário 
passou a ser tratado com uma prerrogativa dos pesquisados. Em seu art. 1o, 
o código destaca que o consentimento voluntário do ser humano é essencial 
para o desenvolvimento de uma pesquisa. No entanto, vários médicos e 
cientistas não respeitam essa diretriz. O motivo seria a associação que muitos 
profissionais faziam com os crimes cometidos durante a guerra, com isso, 
suas penalidades ou exigências não valeriam para as pesquisas realizadas no 
pós-guerra (SAKAGUTI; TRINDADE,2007).
Também podemos descartar a Declaração Universal dos Direitos do Homem 
que foi assinada em dezembro de 1948, na cidade de Paris. Representando a 
primeira tentativa da humanidade em estabelecer parâmentos humanitários 
válidos para todos os habitantes do planeta, independente de cor, sexo, classe 
social, religião, língua, entre outros. (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
No fim dos anos 1950,nos Estados Unidos, vários pacientes começaram 
a denunciar pesquisadores que omitiram informações a respeito dos 
procedimentos. Porém, foi somente a partir da década de 1960, com a 
Declaração de Helsinque, que os consentimentos passaram a receber uma 
análise mais detalhada (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
Por fim, em 1993 ocorreu a criação das “Diretrizes Éticas Internacionais 
para Pesquisas da Área da Saúde Envolvendo Seres Humanos”, esse 
documento promoveu uma valorização dos TCLE em todas as pesquisas 
com seres humanos (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
Aplicação do TCLE no Brasil
No Brasil a regulamentação do TCLE começou com a produção de dois 
documentos elaborados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM – Resolução 
30
UNIDADE II │ ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
no 1081, de 12 de março de 1982) e pelo Ministério da Saúde (Portaria no 16, de 
27 de novembro de 1981). Esses documentos estabeleceram as normas para a 
utilização do TCLE nos primórdios na década de 1980 (MINOSSI, 2011).
Durante a primeira Conferência Brasileira de Bioética, realizada em julho 
de 1996, foi confirmado que na pesquisa brasileira muitos pesquisados 
raramente eram informados ou até mesmo perguntados se gostariam de 
participar de um estudo. Devido a isso, o Conselho Nacional de Saúde revisou 
as normas éticas para a realização de pesquisas com seres humanos no 
país, estabelecidas pela Resolução no 1/1988. Essa resolução foi formulada 
em 1988, e estabelece que todas as pessoas que participavam de pesquisa 
em território brasileiro deveriam ser informadas por escrito de todos os 
riscos e objetivos do estudo, e teriam a sua opinião respeitada, para decidir 
se iriam ou não participar. (HARDY et al., 2002).
Com isso, uma comissão do Conselho Nacional de Saúde foi formada e ouviu 
diferentes nichos da população para elaborar um documento detalhado e 
abrangente. Ao fim do processo, foi publicada a Resolução no 196/1996 sobre 
Pesquisas Envolvendo Seres Humano que encontra-se atualmente em vigor 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996).
Essa resolução define TCLE como:
A anuência do sujeito da pesquisa e/ou seu representante 
legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, 
subordinação ou intimidação, após explicação completa e 
pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, 
métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo 
que esta possa acarretar, formulada em um termo de 
consentimento, autorizando sua participação voluntária na 
pesquisa (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
A expressão Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é uma tradução dos 
termos da língua francesa consentement livre et ésclaire, que por sua vez deriva 
da expressão inglesa informed consent (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
As instruções presentes na Resolução no 196/1996 relatam que todas as pesquisas 
que utilizam seres humanos, independente da área de atuação, devem submeter 
seu estudo a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Devido a isso, todas as 
instituições brasileiras que realizam esse tipo de pesquisa foram obrigadas a 
construir um CEP. Na impossibilidade de uma instituição construir um CEP, 
ela deve submeter seus trabalhos ao CEP de outro centro. Preferencialmente o 
31
ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) │ UNIDADE II
CEP de uma faculdade, universidade, instituto de pesquisa ou outro órgão que 
possui indicação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS) para 
realização dos seus trabalhos (HARDY et al.,2002).
Ademais, o TCLE deve ser submetido ao CEP de acordo com as diretrizes da 
resolução no 196/1996. O comitê irá avaliar se o TCLE esclarece os pontos principais 
da pesquisa e se permite que o indivíduo pesquisado apresente autonomia e 
voluntariedade para tomar sua decisão.
No entanto, em procedimentos que são realizados dentro do consultório não se 
faz necessário que o TCLE passe pela aprovação de um CEP, porque não está 
sendo realizada uma pesquisa cientifica. Porém, é de extrema importância que o 
documento seja avaliado por um advogado especialista em ética, para garantir que 
esteja redigido de acordo com os princípios éticos, além de garantir a idoneidade 
do documento.
Aspectos legais do TCLE
De acordo com a resolução no 196/1996, o TCLE deve ser preenchido em duas 
vias. O documento deve conter a identificação do participante de uma pesquisa 
e/ou paciente, do representante legal (caso exista), nome do pesquisador e/ou 
profissional esteta, data e assinatura de todos em todas as folhas. Uma via 
fica com o paciente e/ou pesquisado e a outra é arquivada pelo profissional 
(SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
Uma das finalidades do TCLE é servir como uma peça contratual entre o(a) 
profissional esteta e o paciente, conforme os princípios jurídicos, defendendo 
os direitos das partes envolvidas na causa junto à justiça e no conselho de classe 
do profissional (SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
Por outro lado, de acordo com uma vertente, o TCLE é um documento 
informativo e esclarecedor. Devido a isso, não deveria ser utilizado como 
instrumento de defesa do profissional, pois, para muitos profissionais 
da saúde que trabalham com procedimentos minimamente invasivos 
(injetáveis), essa tática é vista como um desvio da prática sensata, induzida 
principalmente por profissionais incompetentes, devido à ameaça de 
processos por negligência profissional. Além disso, apesar do paciente ter 
assinado o TCLE concordando com o tratamento, nada impede que entre 
na justiça e processe o profissional esteta em casos de erros ou falta de 
assistência (MINOSSI, 2011).
32
UNIDADE II │ ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Caso o profissional esteta queira utilizar as imagens do paciente em algum 
congresso ou artigo científico, é necessária uma autorização especial ou 
“Autorização do Uso de Imagem”, que pode estar embutida em um item 
dentro do TCLE. Nessa autorização deve estar descrita a maneira como as 
imagens serão utilizadas e como a identidade do paciente será preservada 
(SAKAGUTI; TRINDADE, 2007).
Elaboração do TCLE
De acordo com as normas da resolução no 196/1996, o TCLE é um documento 
elaborado pelo pesquisador ou profissional esteta e precisa ter a assinatura 
ou impressão digital do paciente e/ou responsável legal, bem como o visto 
do profissional. Em alguns casos também é utilizada a assinatura de uma 
testemunha para dar mais credibilidade ao documento. Além disso, o termo 
precisa ser elaborado em uma linguagem acessível, de preferência sem a 
utilização de termos técnicos e deve apresentar os seguintes itens, conforme 
Silva et al. (2005), Sakaguti; Trindade (2007) e Minossi (2011).
 » título (nome do procedimento que será realizado);
 » introdução do experimento ou tratamento;
 » objetivos (finalidade do procedimento);
 » metodologia (descrever a técnica que será utilizada);
 » complicações ou riscos que o tratamento oferece (antes, durante, após);
 » contraindicações do tratamento;
 » benefícios esperados;
 » orientações para o pré e pós-procedimento;
 » informações do profissional, tais como: nome completo, telefone, 
endereço da clínica, número do conselho do profissional;
 » identificação do paciente (nome, CPF, RG, endereço);
 » data, cidade e estado no qual foi realizado o tratamento;
 » garantia de esclarecimento a qualquer momento sobre o tratamento ao 
paciente;
33
ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) │ UNIDADE II
 » termo para o uso de imagem com a garantia de preservação da 
identificação do paciente, caso o profissional queira usar as imagens 
do tratamento em revistas, artigos, congressos, entre outros, 
mediante autorização do uso de imagem;
 » assinatura ou impressão digital das partes envolvidas (paciente, 
profissional esteta e testemunha);
 » declaração de que as informações prestadas foram efetivamente 
entendidas.
Para tornar a compressão do textodo TCLE mais fácil, é imprescindível seguir as 
seguintes orientações (ARAÚJO et al., 2010):
 » elaborar frases curtas, com palavras de fácil entendimento, facilitando 
dessa maneira a localização do paciente sobre temática do TCLE;
 » ser direto e breve na redação do texto, para que o paciente possa ler 
todo o TCLE e absorver todas as informações necessárias;
 » formular todo o texto em linguagem leiga, ou seja, utilizar expressões 
que são comuns à população e à linguagem estética;
 » colocar as informações mais importantes no começo do parágrafo, 
facilitando a absorção do conteúdo mais importante;
 » elaborar frases na ordem direta e na voz ativa;
 » citar os benefícios do tratamento antes dos malefícios que ele pode 
causar;
 » evitar o uso de adjetivos e eufemismo;
 » utilizar títulos e subtítulos em destaque, para introduzir melhor o 
assunto abordado no TCLE e facilitar a compreensão.
34
UNIDADE III
REALIZAÇÃO DE 
ANAMNESE FACIAL 
E CORPORAL
CAPÍTULO 1
Definição de anamnese e seus 
princípios
Anamnese em procedimentos estéticos
A palavra anamnese é originaria do grego, ana significa trazer de volta e mnsese 
refere-se a memória. Ou seja, podemos definir anamnese como sendo uma 
entrevista realizada pelos profissionais da saúde que visa resgatar as informações 
de uma determinada patologia (PORTO, 2004). Dessa maneira, ela apresenta 
comunicação não verbal (sinais, comportamento), verbal e escrita (SOARES et 
al., 2014). São por meio dessas informações que o profissional esteta vai guiar-se 
para realizar a entrevista.
Uma boa anamnese é aquela que oferece contato entre o profissional de saúde e 
o paciente. No entanto, para realizar esse procedimento com destreza é preciso 
dedicação e tempo adequado de atendimento. Pede-se para o profissional que, 
antes de começar a consulta avalie como está seu humor, atenção e disposição. 
Caso essas três características apresentem déficit o atendimento poderá ser 
prejudicado e a relação cordial entre profissional esteta e paciente não existirá. 
Além disso, cumprimentar o paciente, ter um tom de voz adequado e olhar 
direcionado para ele demonstram interesse e dedicação por parte do profissional 
em ouvir as queixas do paciente (CARRIÓ, 2012).
É durante a consulta que a relação entre o profissional esteta e o paciente começa. 
A habilidade de realizar uma boa anamnese é adquirida com a vivência no 
consultório. Ademais, cada profissional possui suas particularidades na condução 
de uma entrevista, não obstante, existem algumas regras básicas que precisam ser 
seguidas, tais como:
35
REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III
1. deixar o paciente expor suas queixas livremente. Ouvir com atenção 
todas as informações passadas;
2. não fazer as perguntas de uma forma mecânica e enfadonha;
3. evitar perguntas sugestivas, que podem ser respondidas com um 
simples “sim” ou “não”;
4. utilizar uma linguagem de fácil entendimento e sem termos técnicos;
5. ter empatia, isto é, ter a capacidade de compreender o sentimento 
ou reação do paciente colocando-se no lugar dele (SENRA; 
MORAES, 2012).
Determinados pacientes que apresentam algum tipo de disfunção estética, 
podem ter transtornos psicológicos que potencializam as imperfeições. 
No entanto, as disfunções que esses pacientes possuem são classificadas 
como aceitáveis. Porém, devido aos transtornos, essas imperfeições são 
multiplicadas pelo indivíduo. Com isso, cabe ao profissional ter a destreza 
para identificar esse tipo de comportamento no paciente, para realizar uma 
anamnese correta e sem influência dos fatores psicológicos. Alguns desses 
comportamentos são:
1. ter expectativa bastante elevada sobre o tratamento (fantasia x 
realidade) ou causa obscura que levou o paciente a buscar tratamentos 
estéticos;
2. estar realizando o procedimento estético para agradar outras pessoas;
3. apresentar delírios, perda de contanto com a realidade, alucinações, 
isto é, psicose;
4. ter distúrbio de ansiedade e de afeto;
5. exagerar nos defeitos estéticos (transtorno dismórfico corporal e 
vigorexia);
6. ter distúrbio de somatização. Esse transtorno, quando presente 
nos pacientes, podem causar sofrimento significativo ou prejuízo 
no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas 
importantes, devido às anomalias estéticas. Os sintomas são: 
palpitações, vômitos, náuseas, tonturas, indiferença sexual, 
intolerância alimentar, entre outros (SENRA; MORAES, 2012).
36
UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL
O profissional esteta deve apresentar determinadas atitudes para conduzir uma 
anamnese de forma confortável e segura. Para isso, é importante ressaltar os 
seguintes comportamentos, segundo Senra e Moraes (2012):
1. manter a calma e seriedade na consulta, para passar conforto ao 
paciente;
2. ter disposição para ouvir as queixas do paciente;
3. explicar com detalhes como planeja reverter a disfunção estética;
4. não apresentar atitudes defensivas, porém a formalidade e 
cordialidade são necessárias;
5. estar com paciência, para definir claramente quais são os 
comportamentos aceitáveis e inaceitáveis.
Algumas perguntas são classificadas como essenciais em uma anamnese. Por 
meio delas é possível obter informações relevantes sobre a vida do paciente e 
as expectativas que ele tem com a realização dos tratamentos estéticos. Algumas 
dessas perguntas são:
1. Já realizou algum tipo de tratamento estético?
 › Se a resposta for sim, quais foram os tratamentos?
 › Ficou satisfeito com os resultados obtidos?
2. Nos próximos dias participará de algum evento importante, tais 
como: casamento, formatura, aniversário?
 › A resposta sendo positiva, explique o tempo de recuperação do 
procedimento.
3. Está grávida ou pretende engravidar nos meses em que estiver 
realizando os tratamentos?
 › Mulheres grávidas devem evitar a realização de tratamentos 
estéticos, pois, os procedimentos podem interferir na gravidez.
4. Trabalha ou vive em um local com exposição ao sol?
 › Pacientes devem evitar exposição ao sol durante os tratamentos 
estéticos. Especialmente na realização de peelings, lasers, CO2 
fracionado, entre outros. Para evitar pigmentações na pele.
37
REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III
5. Tem herpes labial?
 › Em casos de pacientes com herpes labial é importante alertá-lo 
sobre o risco da herpes aparecer devido aos procedimentos 
estéticos. Com isso, tomar o medicamento de costume do 
paciente, antes de começar o tratamento, ajuda a prevenir o 
aparecimento da herpes.
6. Apresenta algum tipo de dermatite?
 › Pacientes com dermatite têm a pele bastante sensível. Devido a 
isso, o profissional deve ter um cuidado extra na execução dos 
procedimentos para não lesionar a pele.
7. Tem alergia a algum tipo de medicamento ou substância?
 › Pacientes alérgicos precisam de uma atenção especial para evitar 
possíveis complicações.
8. Utiliza marca-passo?
 › Pacientes portadores de marca-passo não podem realizar 
radiofrequência, pois o procedimento pode alterar o funcionamento 
do aparelho.
9. É hipertenso?
 › Pacientes hipertensos podem ficar nervosos durante a realização 
de algum procedimento estético, ocorrendo elevação da pressão 
sanguínea.
10. Está realizando algum tratamento médico no momento?
 › Alguns tratamentos médicos podem ter como efeitos colaterais 
disfunções estéticas. Nesses casos, o paciente deve levar na 
consulta uma autorização do médico responsável liberando o 
paciente para a realização de tratamento estético. Além disso, 
o profissional esteta deve estudar o caso e analisar possíveis 
interações entre o tratamento médico e o estético.
11. Tem algum tipo de distúrbio hormonal?
 › Alterações hormonais podem causar acnes, sobrepeso, manchas, 
excesso de pelo, entre outras disfunções estéticas.
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UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL
12. Tem antecedentes oncológicos?
 › Neste tipo de caso, deve-se pedir que o paciente leve na consulta 
uma autorizaçãodo médico oncologista liberando-o para a 
realização de tratamentos estéticos. Porém, caso o paciente 
tenha neoplasia, o tratamento não deve ser realizado.
O profissional esteta pode elaborar outros tipos de perguntas de acordo com 
a sua experiência e necessidade, uma vez que cada profissional tem suas 
particularidades que compõem a anamnese.
Além disso, o profissional esteta tem capacidade plena para interpretar os 
laudos de testes laboratoriais. Com isso, se possível, o paciente deve levar 
na consulta os exames laboratoriais realizados nos últimos meses. Caso 
contrário, o paciente deve consultar-se antes com um médico e solicitar 
exames laboratoriais de rotina: hemograma, colesterol total, HLD, LDL, 
VLDL, triglicerídeos, glicemia, entre outros, e levar posteriormente na 
consulta com o profissional esteta.
Essa conduta é extremante importante, pois o profissional tem que saber como 
está a saúde do paciente antes de começar os procedimentos, especialmente 
para aqueles tratamentos que promovem a liberação de lipídios, tais como: 
intradermoterapia, ultrassom cavitacional, criolipólise, hidrolipoclasia, entre 
outros. Dessa maneira, evita-se uma alteração acentuada nos níveis lipídicos e 
possíveis patologias.
Já os procedimentos que provocam sangramento como microagulhamento, 
o profissional deve analisar primeiro se o paciente não tem algum problema 
de coagulação. Com isso, surge também a importância de solicitar o exame de 
coagulograma aos médicos e posteriormente levar o resultado na consulta com o 
profissional esteta.
Elaboração da ficha de anamnese
A ficha de anamnese deve ser elaborada de acordo com os procedimentos que 
o profissional realiza. Não obstante, a ficha não dever ser entendida apenas 
como uma ficha cadastral que irá conter os dados do paciente, mas como um 
documento que contém informações relevantes sobre o paciente e irá auxiliar 
na correta escolha do procedimento mais indicado para tratar determinada 
disfunção estética.
39
REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III
Ademais, não existe um modelo pré-determinado para elaboração de uma 
ficha de anamnese. Cada profissional esteta deve elaborar a sua própria ficha 
de acordo com a sua vivência clínica e os procedimentos que realiza. No 
entanto, os pontos que foram abordados no tópico anterior desta apostila são 
fundamentais, logo, é importante que eles estejam presentes, pois norteiam 
o profissional durante a consulta.
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CAPÍTULO 2
Aspectos psíquicos na estética 
Um aspecto bastante importante relacionando com a qualidade de vida é a 
autoimagem. A insatisfação com o próprio corpo é responsável por vários 
comportamentos, como perda de peso, aumento de atividade física, aquisição de 
cosméticos, procura por procedimentos estéticos, compra de roupas. Logo, é 
através do contexto biopsicossocial que podemos ir além, conhecendo-se os vários 
fatores que interagem e produzem estados de saúde e de doença, evidenciando 
a reciprocidade do corpo e da mente. Os fatores que influenciam esta temática 
podem ser os mais variados possível, tais como psicológicos, fisiológicos, sociais 
e ambientais. Todos eles se relacionando com o bem-estar emocional e com a 
qualidade de vida (SENRA; MORAES, 2012). 
Existem várias formas de conduzir uma anamnese em estética com ênfase 
na saúde mental do paciente e, caso o indivíduo apresente algum distúrbio 
psicológico, é contraindicado realizar o procedimento estético, evitando com 
isso complicações posteriores (SENRA; MORAES, 2012).
Nos dias atuais encontramos uma prevalência alta de alterações psiquiátricas na 
população em geral. Assim, a detecção de transtornos psíquicos é importante na 
consulta estética dos pacientes que procuram tais procedimentos. A avaliação 
desses indivíduos deve ser focalizada em itens como motivações e expectativas, 
preocupações acerca da aparência e da imagem corporal, além do estado 
psíquico atual. Alguns pacientes usam rotineiramente medicamentos 
psiquiátricos, dentre eles podemos destacar os antidepressivos. Um parecer, 
se possível por escrito, da condição estável do paciente oferece um pouco 
mais de segurança ao profissional esteta na condução do caso (SENRA; 
MORAES, 2012). 
Atuação do corpo como objeto estético
Além das características funcionais de um corpo saudável, ele pode ser 
visto através de uma perspectiva estética. Uma imagem negativa sobre 
o seu próprio corpo pode desenvolver sentimentos de vergonha, baixa 
autoestima, depressão e ansiedade. A percepção subjetiva do paciente 
sobre o resultado obtido com o procedimento está diretamente ligada à 
preocupação com sua própria imagem, sobre a sua vida afetiva e sexual. 
41
REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III
Os pacientes que apresentam expectativas acima da média com os 
procedimentos estét icos podem estar passando por vários problemas e 
enxergam naquele procedimento a chance de reatar um relacionamento 
afet ivo, por exemplo. Esta teoria é apoiada por vários estudos que 
revelam que indivíduos submetidos a procedimentos estét icos em 
demasia têm elevados índices de psicopatologias (SENRA; MORAES, 
2012). 
Existe uma clara evidência desse comportamento na sociedade à qual 
pertencemos. O contexto atual e cultural diz que “o belo é bom”, portanto, as 
pessoas atraentes são vistas de forma diferente. Elas são reconhecidas como 
mais inteligentes e de maior competência social, especialmente pela mídia 
(SENRA; MORAES, 2012). 
O paciente na estética
Os procedimentos estéticos atuais estão alcançando resultados maravilhosos, 
isto é inegável. No entanto, quando os procedimentos são mostrados em 
programas de televisão ou nas redes sociais muitos pacientes podem adquirir 
perspectivas irreais sobre os resultados. Em muitos casos os pacientes 
esperam ficar parecidos com outras pessoas, em especial celebridades 
(SENRA; MORAES, 2012). 
A sociedade constantemente impõe padrões estéticos de acordo com o 
interesse mercadológico, que devem ser ponderados para não se tornarem 
padrões obrigatoriamente aceitos e adequados para todas as pessoas. Durante 
a anamnese os pacientes precisam ser lembrados de que os procedimentos 
podem melhorar a aparência, porém não resultarão em perfeição. 
Normalmente é necessária a realização de várias sessões para atingir os 
objetivos pretendidos, envolvendo tempo para a recuperação e altas despesas 
(SENRA; MORAES, 2012). 
Logo, essa abordagem é fundamental na anamnese, especialmente 
na primeira consulta. É primordial que o paciente explique com suas 
próprias palavras o que o desagrada. O profissional esteta deve ouvir 
cuidadosamente as queixas do paciente e fazer anotações técnicas sobre 
tais reclamações, para que possa ser anal isado se tais queixas do 
indivíduo condizem com o que o prof issional está observado. Nesta hora 
o senso crí t ico do profissional fará um grande diferencial na condução 
do caso (SENRA; MORAES, 2012). 
42
UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL
Aspectos gerais de uma anamnese em um 
paciente portador de aspectos psíquicos
A melhor forma de entrevistar o paciente e conseguir extrair dele informações 
relevantes é algo que se adquire com o tempo e com a experiência ao longo dos 
vários atendimentos prestados durante a carreira. No entanto, é importante 
que, no decorrer da anamnese, que os sinais e sintomas citados a seguir sejam 
percebidos (SENRA; MORAES, 2012):
 » na aparência: adequada, bizarra, exibicionista;
 » na atitude: amistosa, interessada, hostil, inibida, desconfiada, 
arrogante, teatral, manipuladora, lamuriosa, querelante, simuladora, 
sedutora;
 » na atenção: memória, linguagem, pensamento, vontade, 
pragmatismo, consciência;
 » nos sintomas gerais: humor rebaixado, fatigabilidade, medo, sono, 
apetite, dores musculares, capacidade de concentração. 
Além disso, deve-se:
 » investigar episódios de choro, irritação, isolamento social, sensação de 
desesperança e pensamentos suicidas;» suspeitar de pensamentos e comportamentos obsessivos;
 » destacar as alterações afetivas próprias e os episódios dos 
relacionamentos sociais. 
Transtorno dismórfico corporal e suas 
características clínicas
O transtorno dismórfico corporal (TDC) é caracterizado pela preocupação com 
defeitos inexistentes ou leves na aparência física, de tal forma que os pacientes 
acreditam que parecem anormais, pouco atraentes, feios ou deformados, 
quando na realidade são normais. A preocupação com essas supostas falhas 
leva a comportamentos repetitivos (por exemplo, verificar a aparência em 
espelhos constantemente) que são difíceis de controlar e não são agradáveis. 
O TDC é comum, mas geralmente sub-reconhecido, causa sofrimento clínico 
significativo e é frequentemente associado à ideação e comportamento suicida 
(UPTODATE, 2019).
43
REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III
Pacientes com TDC podem apresentar-se a profissionais da estética ou da 
saúde mental como psicólogos ou psiquiatras. A maioria dos pacientes 
procura tratamento cosmético e não psiquiátrico para detectar seus defeitos 
supostamente físicos. Dessa forma, o tratamento estético é ineficaz para a 
maioria dos pacientes e pode ser arriscado para os profissionais estetas, uma vez 
que, mesmo que o procedimento seja executado de forma perfeita e os resultados 
sejam ótimos, o paciente pode não ficar satisfeito (UPTODATE, 2019).
Pacientes com TDC estão preocupados com defeitos inexistentes ou leves 
na aparência f ís ica de uma ou mais partes do corpo. As preocupações 
com a aparência são dif íceis de resist ir ou controlar e ocorrem por 
uma média de três a oito horas por dia. As áreas do corpo são vistas 
como pouco atraentes, repulsivas, anormais ou deformadas, e a lguns 
pacientes se descrevem como parecendo uma aberração, um monstro, 
uma vít ima de queimadura. As preocupações com a aparência são em 
parte perturbadoras porque são inaceitáveis na percepção do eu para 
os outros, e em muitos casos envolvem a crença de que outras pessoas 
zombam e rejeitam a pessoa por causa de sua aparência (UPTODATE, 
2019). 
A maioria dos pacientes no curso da doença está preocupada com a exposição 
de várias áreas do corpo, média de cinco a sete áreas diferentes. No 
entanto, alguns pacientes estão excessivamente preocupados com apenas 
uma área do corpo, enquanto outros não gostam de praticamente nenhum 
aspecto de sua aparência. As principais partes do corpo mais detestáveis 
são (UPTODATE, 2019):
 » pele (acne, cicatrizes, manchas, coloração ou rugas);
 » cabelos (calvície ou excesso de pêlos faciais ou corporais);
 » nariz (tamanho ou forma);
 » abdome (gordura localizada);
 » seios (pequenos ou grandes); 
 » olhos.
No entanto, qualquer área do corpo pode ser o foco da preocupação. Além 
disso, aflições com simetria são comuns, por exemplo narinas desiguais, 
olhos em níveis diferentes um do outro (UPTODATE, 2019).
44
UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL
Entre os pacientes com TDC, é mais provável que as mulheres se preocupem 
com o peso, tamanho dos quadris, nádegas, seios, pernas e excesso de pelos 
faciais ou corporais. Os homens são mais propensos do que as mulheres a 
se preocuparem com a queda de cabelo (calvície), tamanho do órgão genital 
e a ter transtorno dismórfico muscular, também conhecido como vigorexia 
(UPTODATE, 2019). 
Todos os indivíduos com TDC demonstram comportamentos repetitivos em 
algum momento durante o curso de sua doença. Esses comportamentos podem 
ser pistas de que uma pessoa tem TDC. Dessa forma, o profissional esteta 
precisa ficar atento aos comportamentos que serão relatados a seguir durante a 
realização da sua anamnese:
 » Esconder áreas corporais: cerca de 90% dos pacientes tentam 
esconder ou encobrir as áreas indesejadas do corpo. Isso pode incluir 
o uso de chapéu e óculos de sol, maquiagem pesada, utilização 
de roupas não apropriadas para a época do ano. Por exemplo: 
uso de casaco em pleno verão, utilização de um corte de cabelo 
para esconder uma parte do rosto. Cerca de um quarto dos 
pacientes com TDC se bronzeia demais para escurecer a pele 
“pálida”, para minimizar a percepção de acne ou de rugas. Este 
ato de tentar esconder determinadas partes do corpo envolve 
um comportamento repetitivo e compulsivo, como aplicar 
repetidamente maquiagem ou ajustar com frequência a roupa 
ou a posição do corpo. Este comportamento tem como objetivo 
evitar sentir a vergonha que ocorre quando as áreas do corpo 
“defeituosas” são vistas por outras pessoas (UPTODATE, 2019).
 » Comparação: quase 90% dos pacientes frequentemente 
comparam seus corpos aos de outras pessoas ao seu redor 
ou com pessoas em revistas, redes sociais ou televisão. Esse 
comportamento pode preocupar tanto os pacientes que eles 
apresentam dificuldade de concentração, de desenvolvimento de 
uma conversa e de realização de tarefas. Além disso, a comparação 
muitas vezes aumenta o sofrimento porque os pacientes com 
TDC tendem a não apenas subestimar sua própria atratividade, 
mas também superestimam a atratividade de outras pessoas 
(UPTODATE, 2019).
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REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III
 » Verificação de espelhos: quase 90% dos pacientes com TDC 
verificam compulsivamente seus defeitos percebidos em espelhos 
e em outras superfícies refletidas, por exemplo janelas, costas de 
colheres, telefones celulares. Fazendo isso por horas todos os dias, 
durante a verificação no espelho, os pacientes podem apresentar 
outros comportamentos, como limpeza excessiva ou palpação da 
pele (UPTODATE, 2019).
 » Higiene excessiva: mais da metade dos pacientes se higieniza 
excessivamente. Os pacientes podem pentear repetidamente os 
cabelos, aplicar maquiagem várias vezes ou arrancar os pelos 
faciais “excessivos” ou “uniformizar” sobrancelhas ou costeletas 
continuamente. No entanto, o fato de arrancar os pelos ou cabelos 
pode estar associado a outro distúrbio psíquico chamado de 
tricotilomania (UPTODATE, 2019). 
 » Buscando a segurança de outras pessoas: cerca de metade 
dos pacientes frequentemente buscam garantias de outras pessoas 
sobre o seu visual. Os pacientes desejam saber se a sua aparência é 
convidativa ou não. No entanto, mesmo que a resposta seja positiva 
sobre o seu visual eles normalmente não acreditam na resposta, 
pois geralmente têm pouca ou nenhuma percepção da realidade 
(UPTODATE, 2019). 
 » Troca de roupa: quase metade dos pacientes trocam de roupa muitas 
vezes (por exemplo, mais de 4) por dia para tentar camuflar áreas 
corporais não desejadas (UPTODATE, 2019).
 » Compras compulsivas: algumas pessoas compram compulsivamente 
produtos para a pele ou cabelo e maquiagem para minimizar suas 
“falhas”. Em geral, ficam decepcionados com os resultados com esses 
cosméticos (UPTODATE, 2019).
 » Ansiedade social: ansiedade social é uma característica comum 
nos pacientes TDC. Muitos indivíduos se isolam porque temem 
que outras pessoas vejam a “deformidade”, ou receiam rejeição 
por causa de sua “feiúra”. Assim, alguns pacientes ficam em 
casa e muitos evitam interações sociais. O isolamento social 
pode fazer com que os pacientes com TDC sejam diagnosticados 
erroneamente com transtorno de ansiedade social (UPTODATE, 
2019). 
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UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL
 » Angústia emocional: TDC está associado a baixa autoestima, 
além de altos níveis de humor deprimido, ansiedade, raiva, 
hostilidade, desesperança, culpa, vergonha, repulsa, perfeccionismo 
(UPTODATE, 2019). 
 » Intervenções estéticas: a maioria dos pacientes com TDC 
procura e obtém tratamentos estéticos e cirurgias plásticas na 
tentativa de “consertar” suas falhas na aparência (UPTODATE, 
2019).
 » Outros comportamentos: Os pacientes podem apresentar muitos 
outros comportamentos para tentar corrigir ou ocultar as falhas 
de aparência percebidas. Por exemplo, os indivíduos podem 
rotineiramente verificar

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