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Brasília-DF. AvAliAção ClíniCA FACiAl e CorporAl, elAborAção de FiChA de AnAmnese, elAborAção de TCle, bioéTiCA e responsAbilidAde legAl por ClíniCA de esTéTiCA Elaboração André Luiz Siqueira da Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I BIOÉTICA NA ESTÉTICA ........................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 EVOLUÇÃO DA BIOÉTICA ......................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 HISTÓRIA, PRINCIPAIS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS E ATUAÇÃO DA BIOÉTICA NA ESTÉTICA ............... 13 UNIDADE II ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...... 24 CAPÍTULO 1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ..................................................... 24 UNIDADE III REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL ............................................................................... 30 CAPÍTULO 1 DEFINIÇÃO DE ANAMNESE E SEUS PRINCÍPIOS ........................................................................ 30 CAPÍTULO 2 ASPECTOS PSÍQUICOS NA ESTÉTICA ....................................................................................... 35 CAPÍTULO 3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA ANAMNESE FACIAL ................................................................................................................. 42 CAPÍTULO 4 PRINCIPAIS DISFUNÇÕES ESTÉTICAS DA FACE .......................................................................... 46 CAPÍTULO 5 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA ANAMNESE CORPORAL .......................................................... 58 CAPÍTULO 6 PRINCIPAIS DISFUNÇÕES ESTÉTICAS CORPORAIS ..................................................................... 62 UNIDADE IV PRÁTICAS DE BIOSSEGURANÇA EM UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA ............................................................. 70 CAPÍTULO 1 BIOSSEGURANÇA E OS SEUS PRINCÍPIOS ................................................................................ 70 4 CAPÍTULO 2 TÉCNICAS E MEDIDAS PARA PREVENÇÃO, REDUÇÃO E TRATAMENTO DOS ACIDENTES COM MATERIAIS PERFUROCORTANTES .................................................................................... 80 CAPÍTULO 3 DESCONTAMINAÇÃO DOS INSUMOS DE UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA ....................................... 86 CAPÍTULO 4 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPIS) E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA (EPCS) UTILIZADOS EM UMA CLÍNICA DE ESTÉTICA ................................................... 91 CAPÍTULO 5 TIPOS DE RESÍDUOS GERADOS E OS TIPOS DE SEGREGAÇÕES EM CLÍNICAS DE ESTÉTICAS ...... 98 UNIDADE V PROTOCOLOS MICROINVASIVOS UTILIZADOS EM CLÍNICAS DE ESTÉTICA ............................................. 105 CAPÍTULO 1 PROTOCOLOS PARA REALIZAÇÃO DE INTRADEMOTERAPIA .................................................... 105 CAPÍTULO 2 PROTOCOLOS PARA REALIZAÇÃO DE CARBOXITERAPIA ......................................................... 115 CAPÍTULO 3 PROTOCOLOS PARA APLICAÇÃO DE TOXINA BOTULÍNICA ..................................................... 125 CAPÍTULO 4 PROTOCOLO PARA APLICAÇÃO DE ÁCIDO HIALURÔNICO .................................................... 131 CAPÍTULO 5 PROTOCOLO PARA CRIOLIPÓLISE ........................................................................................ 140 CAPÍTULO 6 PROTOCOLO PARA MICROAGULHAMENTO ........................................................................... 144 CAPÍTULO 7 PROTOCOLO PARA INSERÇÃO DE FIOS DE POLIDIOXANONA (PDO) ...................................... 147 CAPITULO 8 PROCEDIMENTO ESTÉTICO INJETÁVEL PARA MICROVASOS (PEIM) .......................................... 151 UNIDADE VI RESPONSABILIDADE LEGAL DO PROFISSIONAL ESTETA ......................................................................... 156 CAPÍTULO 1 REGULAMENTAÇÃO DA BIOMEDICINA ESTÉTICA.................................................................... 156 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 164 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 165 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução A Biomedicina Estética é a mais recente área de atuação do biomédico. Mediante comprovações científicas dos métodos empregados, o biomédico esteta desenvolve e aplica os procedimentos para tratar as disfunções estéticas do corpo, tais como: rugas, estrias, gordura localizada, lipodistrofia ginoide, flacidez, entre outras.Isso disponibiliza para o paciente o retorno da autoestima e confiança por meio dos tratamentos estéticos. Por outro lado, para o profissional alcançar o sucesso nessa área tão concorrida, ele deve ter disposição para buscar constante atualização, cursos extracurriculares, congressos, simpósios e estágio prático em clínicas, pois todos os dias surgem novos procedimentos, cosméticos e equipamentos que prometem revolucionar o setor. Além disso, conhecer os princípios bioéticos, saber realizar uma anamnese com segurança e compreender quais são os aspectos jurídicos que regem a atuação da biomedicina estética, são fatores primordiais para alcançar o sucesso e a satisfação profissional. Logo, no estudo desta apostila o aluno terá a oportunidade de aprender sobre os fundamentos que compõem a biomedicina estética, bem com irá obter os conhecimentos necessários para começar a trilhar um caminho promissor e repleto de oportunidades. Objetivos » Adquirir conhecimentos fundamentais sobre os princípios bioéticos e acontecimentos históricos que desenvolveram essa ciência. » Promover o conhecimento das principais técnicas utilizadas nas avaliações faciais e corporais. » Aprender a elaborar um Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido e identificar quais são os principais tipos de disfunções estéticas encontrados na rotina clínica. » Conhecer quais são as resoluções que regularizam a biomedicina estética e os embasamentos jurídicos que auxiliam o profissional na sua profissão. » Atualizar os conhecimentos sobre as normas básicas de biossegurança, receber as informações necessárias sobre os tipos de rejeitos originados em uma clínica de estética e orientações sobre os equipamentos utilizados na proteção individual e coletiva dos trabalhadores do setor. 9 UNIDADE IBIOÉTICA NA ESTÉTICA CAPÍTULO 1 Evolução da Bioética Linha do tempo da bioética no Brasil e no mundo A Bioética passou por vários processos até ser consolidada como uma ciência. Para compreender melhor os fatos que regeram o seu surgimento, é necessário ter um conhecimento prévio sobre tais processos. Para isso, a linha do tempo que se encontra a seguir lista os principais acontecimentos bioéticos ao longo da história. 1900 – Surgimento do primeiro documento que estabeleceu com clareza os princípios éticos relacionando à pesquisa com seres humanos, que foi formulado pelo Ministério da Saúde da Prússia. Nesse documento está presente a integridade dos pesquisadores, assim como o consentimento formal do indivíduo que irá participar da pesquisa (SALLES et al., 2010). 1931 – O documento confeccionado em 1900 teve uma baixa repercussão e os abusos nas pesquisas com seres humanos foram os motivos que levaram o Ministro do Interior da Alemanha a estabelecer as “14 diretrizes para as pesquisas com seres humanos e para novos tratamentos” (SALLES et al., 2010). 1933 – 1945 – Durante a Segunda Guerra Mundial, com o advento do nazismo, três episódios importantes levaram as instituições de saúde a se envolverem em políticas racistas e eugenistas de acordo com os princípios de Hitler a partir de 1964, no entanto os eventos que ocasionaram o envolvimento das entidades ocorreram antes. Foram eles: a lei de 14 de junho de 1933, a respeito da esterilização, classificada como uma “prevenção contra uma descendência hereditariamente doente”; o memorando de outubro de 1939, permitindo a eutanásia em indivíduos portadores de doenças incuráveis; e a constituição dos campos de extermínio, em 1941 (SALLES et al., 2010). 10 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA 1947 – Criação do Código de Nuremberg, devido aos fatos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial. Além disso, foi formando o Tribunal Internacional para julgar os nazistas responsáveis pelos experimentos com os prisioneiros nos campos de concentração (SALLES et al., 2010). 1948 – Aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda que não representasse um dever legal, serviu para a formação de dois tratados elaborados pela ONU: o Tratado Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais, e o Tratado Internacional dos Direitos Civis e Políticos (SALLES et al., 2010). 1953 - Watson e Crick descobrem a estrutura do DNA, abrindo novos caminhos para o desenvolvimento da Engenharia Genética. Consequentemente, questionamentos éticos a respeito das aplicações que essa descoberta poderia trazer foram feitos (SALLES et al., 2010). 23 de dezembro de 1954 – O primeiro transplante renal do mundo foi realizado, trazendo vários questionamentos e polêmicas na esfera ética e jurídica, a respeito dos transplantes de órgãos (SALLES et al., 2010). 1960 – Criação do Comitê de Seleção de Diálise de Seattle (GodCommission). Essa comissão tinha como objetivo selecionar os pacientes que iriam realizar hemodiálise, tratamento que tinha sido descoberto recentemente. No entanto, os integrantes do GodCommission não eram especialistas da área de Nefrologia. Este fato ficou marcado como a primeira referência à bioética (SALLES et al., 2010). 1960 – O Concílio Vaticano II foi convocado pelo Papa João Paulo XXIII para discutir uma reconstrução da Igreja Católica, pois ela iria se tornar mais aberta ao mundo moderno e aos problemas éticos (SALLES et al., 2010). 1960 – A igualdade dos diretos civis para todas as pessoas (negros e brancos) é defendida por Martin Luther King. Além disso, ele pede o término da segregação racial e do preconceito trabalhista (SALLES et al., 2010). 1960 – Ascensão do movimento Hippie. Os integrantes do movimento defendiam a liberdade sexual, proteção à natureza, não toleravam qualquer tipo de violência física. O capitalismo foi questionado e os hippies defendiam a partilha dos recursos (SALLES et al., 2010). 1961 – A vida sexual e social das mulheres foi transformada com o advento da pílula anticoncepcional. Com isso, uma Bioética Feminista é criada para defender a autonomia da mulher em relação ao seu corpo (SALLES et al., 2010). 1964 – A Declaração de Helsinki foi aprovada pela Assembleia Médica Mundial. Esse documento é visto com uma melhoria realizada no Código de Nuremberg. Devido a isso, 11 BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I seus requisitos de ética médica são utilizados por vários países atualmente (SALLES et al., 2010). 1966 – Os periódicos científicos de renome no mundo acadêmico são analisados por um artigo intitulado: “New England Journal of Medicine”. O objetivo foi investigar as pesquisas com seres humanos. O artigo concluiu que 12% dos estudos continham vários desvios éticos (SALLES et al., 2010). 1967 – O primeiro transplante cardíaco do mundo é realizado na África do Sul pelo cardiologista Dr. Christian. O conceito de morte é revisto pela sociedade médica (SALLES et al., 2010). 1968 -A revista científica “New England Journal of Medicine” apresenta uma nova definição de morte cerebral. Com isso, o conceito de parada cardiorrespiratória é questionado, estabelecendo intenso debate sobre a origem dos órgãos destinados aos transplantes. Os temas eutanásia e distanásia também são discutidos devido ao impacto causado pelo artigo publicado na revista (SALLES et al., 2010). 1969/1970 – Daniel Callahan funda o “Hastings Center” nos Estados Unidos. O objetivo da entidade é encontrar soluções éticas para determinados problemas (SALLES et al.,2010). 1970/1971 – A palavra “bioética” foi utilizada pela primeira em artigos publicados pelo oncologista, bioquímico e biólogo Van Rensselaer Potter intitulado: Bioethics: The Science of Surviral e Biocybernetics and Survival. Uma compilação de artigos foi publicada em forma de livro, Bioethics: Bridge to the Future. O cientista fazia parte do corpo docente da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. De acordo com muitos autores, foi a partir dos estudos de Potter que nasceu a Bioética (SALLES et al., 2010). 1971– Sediado na Universidade de Georgetown nos Estados Unidos, o Instituto Kennedy é fundado.A entidade torna-se o primeiro centro do mundo destinado à leitura e discussão de temas voltados para a Bioética. Funda-se a primeira pós- graduação em Bioética (SALLES et al., 2010). 1974 – O termo “bioética” é introduzido na Livraria do Congresso Americano (SALLES et al., 2010). 1974 – O Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar dos Estados Unidos apresenta o Relatório Belmont, devido aos problemas oriundos do Estudo Tuskegge (1932 a 1972). Esse estudo realizou uma pesquisa sobre sífilis em uma população negra sem adotar os princípios éticos (SALLES et al., 2010). 1978 – A reprodução humana assistida começa a ter renome após o nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown, com o que novos questionamentos éticos são levantados (SALLES et al., 2010). 12 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA 1979 – Um livro, Principles of Biomedical Ethic, que pertence à corrente bioética chamada Principialismo é publicado pelos autores T. Beauchamp e J. Childress (SALLES et al., 2010). 1979 – O livro Ética Prática é publicado por Peter Singer. A obra discute os motivos pelos quais a vida de todos os seres vivos precisa ser respeitada (SALLES et al., 2010). 1986 - O livro Fundamentos da Bioética é lançado por H. Tristam Engelhard. Na obra, estão presentes as teorias religiosas (SALLES et al., 2010). 1990 – O Projeto Genoma Humano é iniciado (SALLES et al., 2010). 1992 – Na cidade de Amsterdã (Holanda) acontece o primeiro Congresso Mundial de Bioética, patrocinado pela International Association of Bioethics (SALLES et al., 2010). 1996 – O Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil publica a resolução n o 196/1996 com todas as normas e orientações para a realização de pesquisa com seres humanos (SALLES et al., 2010). 1997 – O primeiro mamífero do mundo é clonado, uma ovelha chamada Dolly. A clonagem foi realiza através da transferência nuclear. Devido a isso, uma grande discussão a respeito da clonagem humana foi realizada, pois a mesma metodologia poderia ser empregada para clonar seres humanos (SALLES et al., 2010). 2002 – O Brasil sedia o VI Congresso Mundial de Bioética (SALLES et al., 2010). 2003 – O Conselho Federal de Medicina publica a revista Bioética, abordando a bioética de maneira ampla e interdisciplinar (SALLES et al., 2010). 2004 – O Centro Universitário São Camilo, sediado na cidade de São Paulo, cria o primeiro mestrado em Bioética do Brasil (SALLES et al., 2010). 2005 – A Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS), na cidade de Pouso Alegre em Minas Gerais, cria o segundo mestrado em Bioética do Brasil (SALLES et al., 2010). 2008 – O Conselho Federal de Medicina, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em Portugal, criam o programa de doutorado em Bioética (SALLES et al., 2010). 2010 – A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), situada na cidade do Rio de Janeiro, , introduz o doutorado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde (SALLES et al., 2010). 13 CAPÍTULO 2 História, principais princípios bioéticos e atuação da bioética na estética Processos históricos A bioética é a ciência que mais cresce em todo o mundo. Ela é um campo que integra várias matérias cujos pesquisadores chamam de transdisciplinaridade. Ou seja, é a junção de vários conceitos de disciplinas diferentes. Estimulada pela mídia, temas como células-tronco, clonagem, aborto, eutanásia, banco de órgão, entre outros, acabaram por despertar o interesse da sociedade e dos pesquisadores. Os conhecimentos e reflexões sobre esses temas polêmicos se difundiram pelo mundo inteiro, transformando a bioética na ciência do momento (SAKAGUTI, 2007). Não existe um consenso entre os cientistas que trabalham com bioética a respeito de um acontecimento específico que deu origem a ela. No entanto, existem vários fatores e contextos históricos que, somados, levaram ao seu surgimento. Dentre os vários acontecimentos que levaram ao surgimento da bioética podemos destacar a Segunda Guerra Mundial (SAKAGUTI, 2007). Além disso, a religião esteve presente no nascimento da bioética, por meio de análises realizadas e propostas geradas em torno dos avanços tecnológicos alcançados pela área médica. Na década de 1950, a grande maioria dos professores ou autores de bioética eram rabinos, pastores ou teólogos católicos (SAKAGUTI, 2007). Após a Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1950 e 1960, observamos o surgimento de movimentos de reivindicação dos direitos individuais, tais como: movimentos feministas, proteção à criança e à juventude, contra a segregação racial, revolução sexual, entre outros (SAKAGUTI, 2007). Todos esses movimentos foram fundados devido a dois documentos que surgiram com o término da Segunda Grande Guerra: O Código de Nuremberg (1947) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) (SAKAGUTI, 2007). O Código de Nuremberg surgiu devido aos problemas éticos ocasionados pelas pesquisas com seres humanos durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas foram julgados e condenados pelo Tribunal de Nuremberg por cometerem os mais perversos atos de crueldade contra a humanidade (SAKAGUTI, 2007). 14 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA Já a declaração Universal dos Direitos Humanos, criada pela então recém-constituída, Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, foi uma conquista da humanidade. Essa declaração promove a proteção contra os abusos de poderes autoritários e o direito ao livre-arbítrio. Outra diretriz muito importante realizada pela ONU foi a Declaração dos Direitos da Criança (1959), ressaltando a proteção pela sociedade daqueles que são mais frágeis e desprotegidos, as crianças. O Código de Nuremberg e as declarações formuladas pela ONU promulgaram os mesmos objetivos: a liberdade e a dignidade de cada ser humano (SAKAGUTI, 2007). Outro fator de extrema importância que auxiliou o surgimento da Bioética foi a alteração da relação entre o médico e o paciente, que muitos autores classificam como “desumanização do atendimento aos pacientes”. Ou seja, teríamos um afastamento do profissional responsável pelos cuidados individuais de cada doente (SAKAGUTI, 2007). Nos primórdios do século XX, a relação entre médico e paciente era de total confidencialidade. Era muito comum o profissional ir até a casa do enfermo realizar consultas e tratar de todos os membros da família. Por isso, as famílias consultavam- se com o mesmo médico durantes anos. No entanto, no começo da década de 1960, essa relação afetuosa mudou devido ao aumento do número de hospitais, à inserção de equipamentos de diagnósticos e de análises clínicas, das pesquisas clínicas e ao advento das especializações médicas. A facilidade e a comodidade, aliados ao ponto de vista econômico de concentrar em um mesmo local todos os profissionais da saúde, onde poderiam trabalhar juntos para atingir os melhores resultados, ajudaram a mudar essa relação (SAKAGUTI, 2007). As residências médicas levaram os médicos a concentrar seus conhecimentos em uma determinada parte do corpo. Porém, ao mesmo tempo em que se especializavam esqueciam-se de como tratar o conjunto, o corpo humano (SAKAGUTI, 2007). Dessa forma, o paciente passou a ser tratado como um número de série ou de acordo com a patologia que portava, perdendo a sua identidade. A mudança na forma de tratamento dos médicos não mais permitiu estreitar os laços na relação médico- paciente e a identificação de médico da família foi perdida por esses profissionais (SAKAGUTI,2007). Em 1969, foi publicado, nos Estados Unidos, o Código de Direitos do Paciente Hospitalizado, documento que ratificava os direitos do paciente. Tal declaração garantia que o enfermo seria respeitado e teria total autonomia sobre as decisões referentes ao seu corpo (SAKAGUTI, 2007). 15 BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I Durante 1969 foi realizada uma reunião organizada pelo psiquiatra Willard Gaylin e pelo filósofo Daniel Callahan. Eles reuniram psiquiatras e filósofos para estudar e elaborar normas a respeito das pesquisas e experimentaçãono campo da saúde médica. Esses atos levaram à formação do Institute of Society, Ethics and Life Sciences, com sede em Hastingon Hundson, Nova Iorque – EUA (SAKAGUTI, 2007). Esta entidade tinha como objetivo estudar sistematicamente a ética e as ciências da vida. Além disso, o instituto de pesquisa prezava em ser um centro de estudo totalmente laico, sem fins lucrativos, com uma alta atividade educativa com o público geral. Com isso, a instituição ficou conhecida como Hastings Center (SAKAGUTI, 2007). Somente em 1970 o termo “Bioética” foi utilizado pela primeira vez. Esse fato ocorreu nos Estados Unidos por meio da publicação do artigo intitulado The sience of survival escrito pelo oncologista Van Rensselaer Potter. Em 1971, o bioquímico, biólogo e oncologista publicou um artigo que virou referência na área, Bioethics: bridge to the future (SAKAGUTI, 2007). O processo de formação da palavra “Bioética” é baseado na junção dos termos “bio”, que significa saber biológico, com a palavra “ética” que faz uma relação com os valores humanos. Porém, foi através de uma reportagem realizada pela revista Time que o livro de Van Potter tornou-se conhecido pelo público em geral e, desde então, a palavra Bioética entrou no nosso vocabulário (SAKAGUTI, 2007). Filme – Julgamento de Nuremberg - Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os países aliados reuniram-se em Nuremberg, na Alemanha, para decidirem o destino de oficiais nazistas, julgados por seus bárbaros crimes cometidos nos campos de concentração, em nome da loucura do III Reich. Entre eles estão o notório Hermann Goering (interpretado por Brian Cox, de Coração Valente). Com os ombros pesados pela responsabilidade e todos os olhos do mundo voltados para aquela corte, o promotor Robert Jackson (Alec Baldwin, de O Sombra), questiona os direitos dos acusados. É como fazer valer a justiça no mais importante julgamento da história. Com ricos detalhes sobre O Julgamento de Nuremberg, este filme – cuja produção executiva é co-assinada por Alec Baldwin – manteve-se fiel até às transcrições das fitas gravadas na corte, aqui também reproduzida fielmente. Todo o drama e o dilema dos acusadores foram minuciosamente recriados nesta produção inquestionavelmente perfeita. 16 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA Princípios bioéticos Os fundamentos da Bioética ou Ética não são os seus princípios, no entanto, os princípios éticos norteiam o caminho referente à reflexão ética e representam um conglomerado de referências e meios que contribuem para a construção da ação ética. Existem diferentes modelos bioéticos, cada um propõe seus princípios, apresentando- os em uma determinada ordem. Essa hierarquia não representa uma hegemonia entre um e outro princípio, representa apenas a ordem na qual foi construída a reflexão ética (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). No Modelo Personalista os princípios bioéticos são distribuídos em: » Princípio da defesa da vida física: defende a vida física, pois se entende que ela é coessencial para promover os valores humanos, e, portanto, sempre deve ser preservada (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). » Princípio da liberdade e responsabilidade: ressalta a responsabilidade do profissional de saúde em tratar o paciente, como um fim, uma finalidade e jamais como um meio. Ademais, relata a responsabilidade do cuidador, médico ou não, de não aceitar um pedido do paciente caso interprete a súplica como inaceitável por sua consciência moral (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). » Princípio terapêutico: este princípio é conectado com a proporcionalidade das terapias para avaliar os riscos e benefícios. De acordo com esse princípio, é permitido intervir sobre a vida de um paciente fazendo mutilações físicas em uma cirurgia quando isso permitir a manutenção da vida. Exemplo: amputação de um membro que foi dilacerado em um acidente ou remoção de tumor (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). » Princípio da sociabilidade e de subsidiariedade: sociabilidade respaldada na prerrogativa que cada indivíduo participe de uma sociedade, tendo responsabilidade com essa. Cada pessoa tem sua incumbência na preservação da ordem social, permitindo que todos possam viver de forma adequada. Já a subsidiariedade relaciona- se com as responsabilidades dos organismos (governamentais) da sociedade com cada indivíduo. Por exemplo: um pequeno grupo social (ONG), associação, entre outros, está desenvolvendo um projeto social e necessita de ajuda. Os gestores públicos devem apoiar essa iniciativa, oferecendo recursos para que aquela entidade possa se manter e se desenvolver (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). 17 BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I É importante ressaltar que, na literatura, podem ser encontrados outros modelos de princípios bioéticos, que nascem de diferentes escolas éticas. Entre os muitos existentes, será destacado aquele que é mais utilizado pelos bioeticistas brasileiros. Trata-se do modelo bioético intitulado Principialismo, que foi proposto por Beauchamps e Childress em 1989. Esses autores demonstram os seguintes princípios: autonomia, justiça, beneficência e não maleficência (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). Princípio da não maleficência Como o próprio nome já diz, esse princípio da bioética obriga o profissional da saúde a não causar nenhum tipo de malefício ao paciente. Muitos autores consideram o princípio da não maleficência como o princípio fundamental da escola Hipocrática. Além disso, ele é utilizado constantemente para impor uma condição moral ao profissional da área da saúde. Trata-se, portanto, do dever ético mínimo que um profissional esteta precisa ter para exercer sua profissão. O não cumprimento desse princípio coloca o profissional em uma situação de prática negligente (LOCH, 2002). Este princípio tem grande importância, pois, em muitos casos, os riscos de causar danos ao paciente são inseparáveis de determinado procedimento que é destinado a tratar um tipo de disfunção. Qualquer procedimento estético envolve riscos e o paciente tem que estar ciente dos possíveis problemas. Por exemplo, um procedimento de pelling pode causar uma queimadura na pele do paciente se for executado erroneamente. No entanto, do ponto de vista ético, esse malefício pode ser justificado se o benefício esperado com o procedimento for beneficiar o paciente por meio da regeneração tecidual ocasionada por uma queimadura controlada. No exemplo supracitado, os danos ao paciente são relativamente pequenos e não oferecem risco de morte. Porém, se o paciente tiver algum tipo de alergia aos componentes utilizados pelo pelling, o risco de ocasionar malefícios definitivos é elevado. Com isso, o procedimento não poderá ser realizado. Princípio da beneficência Este princípio da beneficência apoia-se na proposta de que devemos fazer o bem ao próximo. Quando utilizado por profissionais da estética, o trabalhador tem o dever moral de zelar pela saúde do paciente, não apenas no que diz respeito à assistência técnica, mas também deve ser levada em consideração a ética. Ou seja, todos os conhecimentos e habilidades adquiridos pelo profissional ao longo da sua formação devem ser usados 18 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA para servir o paciente, visando sempre minimizar os riscos e potencializar os benefícios do tratamento (KOTTOW, 1995). O presente princípio obriga o profissional da saúde a não causar danos intencionais à saúde do paciente. Além disso, obriga o profissional a promover o bem-estar daquele, por meio das seguintes ações (LOCH, 2002): » prevenir ou remover algum malefício (LOCH, 2002), neste caso seriam as disfunções estéticas; » fazer o bem ao paciente. Ou seja, por meio dos procedimentos estéticos devolver ao paciente a autoestima. Esse princípio necessita de ações positivas por parte do profissional esteta. Faz-se necessário que o profissional trabalhe para beneficiar o seu paciente. Os procedimentos que serão realizados precisam ser avaliados e analisados, levando em conta o benefício versus riscos e/oucustos (LOCH, 2002). Por exemplo, determinado paciente deseja realizar um tratamento com toxina botulínica. No entanto, o profissional esteta deve alertar o seu paciente sobre os riscos que o procedimento causa e os seus benefícios. Além disso, o profissional deve argumentar o motivo pelo qual os benefícios são maiores que os malefícios, o que justificaria a realização do procedimento. Princípio do respeito à autonomia O respeito à autonomia significa respeitar o livre-arbítrio de cada ser humano. Ou seja, uma pessoa deve julgar se determinado tratamento estético é ou não bom para si. Mas, para que a pessoa possa exercer a autodeterminação é imprescindível respeitar duas condições básicas (LOCH, 2002): » o paciente deve ter clareza intelectual para compreender as razões pelas quais vai realizar o procedimento (LOCH, 2002) e deliberação para escolher com coerência entre as alternativas de tratamentos estéticos apresentados; » opaciente precisa ter liberdade, ou seja, autonomia sobre as escolhas cabíveis (BEAUCHAMP e CHILDRESS, 1994). O princípio da autonomia baseia-se na relação de proximidade entre paciente e profissional da saúde. Este princípio sentencia o profissional esteta a comunicar 19 BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I todas as informações possíveis sobre o tratamento, com o objetivo de promover uma compreensão da disfunção estética e das metodologias empregadas para revertê-la. Dessa maneira, o paciente tem condições plenas de tomar a decisão, se irá ou não realizar o tratamento. Respeitar a autonomia vai mais além, significa também ajudar o paciente a superar seus sentimentos de dependência. Para formalização das informações passadas pelo profissional esteta ao paciente, é necessário apresentar o consentimento informado. Essa declaração é classificada com uma decisão voluntária do paciente. O veredito pode ser promulgado de forma verbal ou escrita. Por meio dele o paciente é informado dos riscos e benefícios que o tratamento estético traz, e confirma que recebeu todas as orientações e teve suas dúvidas esclarecidas pelo profissional. O consentimento informado deve ser entendido como um documento firmado pelo profissional esteta e pelo paciente, pois contempla os fundamentos legais do problema. O termo deve ser visto como um processo de relacionamento entre as partes, tendo o profissional de saúde a obrigação de indicar todos os pontos do tratamento e ajudar o paciente a escolher a melhor opção de acordo com os seus dogmas (LOCH, 2002). Princípio da justiça A palavra justiça é derivada do latim “iustitia” e expressa o significado de equidade, leis, exatidão, bondade, benignidade, justiça. Essa palavra foi introduzida na língua portuguesa no século XIII. O seu significado também pode ser interpretado como algo que está em conformidade com o que é de direito, com o que é justo (ÂMBITO JURÍDICO, 2015). Na bioética, o princípio da justiça faz referência a respeitar com imparcialidade o direito de cada indivíduo. Dessa maneira, não seria ético tomar uma decisão que levasse o profissional esteta ou o paciente a se prejudicar. É a partir desse princípio que se estrutura a chamada “objeção de consciência”, que representa o direito de determinado profissional a recusar-se a realizar um procedimento, aceito ou reivindicado pelo paciente, mas que vai contra as convicções éticas desse profissional (RAMOS e JUNQUEIRA, 2007). 20 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA Relação entre o profissional esteta e o paciente à luz do paternalismo O paternalismo é definido como um comportamento impositivo praticado pelos profissionais da saúde. Também poderíamos dizer que o paternalismo é um modelo de autoritarismo, devido ao fato de uma pessoa exercer sobre outro individuo várias decisões sem o seu consentimento (COHEN e MARCOLINO, 2002). Esta conduta é um problema de difícil avaliação, devido ao fato de quando e quanto essa prática é adotada. Dessa maneira, ela se torna o centro de bastantes problemas éticos (COHEN e MARCOLINO, 2002). Analise os comportamentos: » cuidar do enfermo sem o seu consentimento; » utilizar algum tipo de placebo; » não dizer ao paciente algum tipo de informação sobre o estágio da patologia que ele apresenta; » realizar algum procedimento estético sem informar ao paciente que outros profissionais estetas utilizam métodos diferentes. Os comportamentos supracitados são, na sua plenitude, classificados como paternalistas (COHEN e MARCOLINO, 2002). De acordo com ensinamentos de Dworkin (1971), o paternalismo é o ato de interferir no livre-arbítrio, baseado na justificativa de manter o bem-estar, felicidade e necessidades da pessoa reprimida. Por outro lado, Culver e Gert (1982) dizem que o comportamento parternalista deve ser empregado somente quando se acredita nos seguintes itens: » sua ação beneficia o paciente; » sua ação envolve a quebra de uma regra moral do paciente; » seus atos não têm o consentimento do paciente, nem no passado, nem no presente, nem aparecerá no futuro. De maneira mais clara, as ideias de Culver e Gert explicam que somente devemos agir paternalisticamente em relação a um paciente quando a intenção for beneficiá-lo e não ao executor do ato ou a terceiros. 21 BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I Existem duas formas de beneficiar uma pessoa. A primeira é promover algum bem para o indivíduo, tais como: produzir prazer, liberdade ou oportunidade. A segunda forma é buscar inibir ou amenizar um mal que está acometendo o paciente, pode ser uma dor ou incapacidade de realizar algo (COHEN e MARCOLINO, 2002). É importante salientar que o paternalismo é fundamentando nos princípios da beneficência e da não maleficência. Ou seja, no geral, esses princípios priorizam que o paciente seja tratado com respeito e dignidade. Para isso, é primordial não causar nenhum tipo de malefício ao indivíduo e prezar sempre pelos resultados benéficos. Por outro lado, também podemos fazer uma análise do paternalismo baseando-se no princípio da autonomia. Esse princípio foi formalizado somente em 1947, por meio do Código de Nuremberg, no qual foram estabelecidas normas para a realização de pesquisa com seres humanos. Desde então, é obrigatória a apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ao indivíduo que participará de determinada pesquisa laboral (FREITAS e HOSSNE, 1998). A palavra autonomia tem sua origem no idioma grego em que “auto” significa “próprio” e “nomos” relaciona-se a “leis, regras”. Ou seja, autonomia significa ter autodeterminação ou autogoverno sobre as suas próprias decisões que irão afetar a integridade, a saúde, as relações interpessoais, a vida, e a integridade (FILHO, 2011). Indivíduos caracterizados como autônomos são aqueles que têm a liberdade de pensamento. Para uma situação ser classificada como autônoma é necessário haver alternativas de escolhas. A liberdade de opção tem que estar presente. Não obstante, a pessoa deve ser capaz de julgar as alternativas e escolher aquela que for melhor para si de acordo com seus princípios (FILHO, 2011). Seguindo essa linha de pensamento, podemos citar o filósofo Franklin Leopold (LEOPOLDO e SILVA, 1998), para quem o paternalismo é o resultado de uma relação assimétrica entre o profissional de saúde e o paciente. Evidenciada pela fragilidade do paciente à frente do profissional esteta. Nesse tipo de relação encontramos uma desproporção, pois o cuidado prestado anula o paciente, que é o objeto da relação. O profissional esteta detém o saber dos procedimentos estéticos deixando o paciente à mercê das influências do profissional (FILHO, 2011). Na estética, um exemplo claro de paternalismo é a seguinte situação: um paciente pretende realizar uma sessão de ultrassom cavitacional, no entanto, para potenciar os efeitos do tratamento o profissional esteta, sem o consentimento do paciente, introduz soro fisiológico no abdome. 22 UNIDADE I │ BIOÉTICA NA ESTÉTICA É sabido que a hidrolipoclasia consegueeliminar mais medidas. O profissional esteta, quando decidiu realizar esse procedimento, teve como objetivo promover um benefício ao paciente (princípio da beneficência), além disso, a hidrolipoclasia não causa nenhum malefício (princípio da não maleficência). No entanto, o profissional esteta praticou um ato de paternalismo, pois fez a injeção de soro sem o consentimento do paciente. Se o paciente tivesse autorizado o uso do soro fisiológico, essa situação não seria classificada como paternalista. Envelhecimento populacional, aparência social e benefícios propostos pela estética seguindo os princípios bioéticos Os brasileiros estão gastando cada vez mais com procedimentos estéticos. O Brasil já ocupa a segunda colocação do ranking mundial entre os países que mais gastam com esses serviços, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Devido a isso, em 2014 foi estimado que o mercado brasileiro movimentou cerca de R$ 136 bilhões e, para 2015, houve um crescimento de 10%. O aumento do mercado deve-se à ascensão das classes D e E, e à crescente participação da mulher brasileira no mercado de trabalho, ocasionando a elevação da renda familiar (Estado de Minas. Disponível em: www. em.com.br/app/ noticia/economia/2014/11/02/internas_economia,585899/estetica- deve-fechar-o- ano-com-crescimento-de-77-mesmo-com-economia-desaquecida.shtml.). O público masculino também estimulou o aumento do faturamento no setor. Cada vez mais preocupados com a aparência, os homens estão investindo constantemente no seu bem-estar. Esse público busca um tratamento diferenciado e exclusivo, com privacidade, agilidade e conforto. A execução de um serviço regado com pequenos agrados, tais como: drinks, sucos, orientações alimentares, entre outros, levam à fidelização do paciente (Sebrae, disponível em: https://www.sebrae.com.br/appportal/ reports.do?metodo=runReportWEM&nomeRelatorio=ideiaNegocio&nomePDF=Como%20 montar%20um%20centro%20de%20est%C3%A9tica&COD_IDEIA=39187a51b9105410Vg nVCM1000003b74010a____ > acessado em: 13 jan. 2020.arquivopdf.sebrae.com.br/ customizado/acesso-a-mercados/conheca-seu-mercado/ inteligencia-de-mercado/ servicos-%20mercado%20de%20estetica.pdf). Um fator bastante significativo que deve ser levado em consideração ao analisar o faturamento do setor é o envelhecimento populacional. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) revelam que a população brasileira está envelhecendo em um ritmo acelerado. Isso se deve aos avanços da medicina, que proporcionaram uma maior expectativa de vida. De acordo com o IBGE, em 2025, o Brasil será a sexta http://www/ https://www.sebrae.com.br/appportal/reports.do?metodo=runReportWEM&nomeRelatorio=ideiaNegocio&nomePDF=Como%20montar%20um%20centro%20de%20est%C3%A9tica&COD_IDEIA=39187a51b9105410VgnVCM1000003b74010a____ https://www.sebrae.com.br/appportal/reports.do?metodo=runReportWEM&nomeRelatorio=ideiaNegocio&nomePDF=Como%20montar%20um%20centro%20de%20est%C3%A9tica&COD_IDEIA=39187a51b9105410VgnVCM1000003b74010a____ https://www.sebrae.com.br/appportal/reports.do?metodo=runReportWEM&nomeRelatorio=ideiaNegocio&nomePDF=Como%20montar%20um%20centro%20de%20est%C3%A9tica&COD_IDEIA=39187a51b9105410VgnVCM1000003b74010a____ https://www.sebrae.com.br/appportal/reports.do?metodo=runReportWEM&nomeRelatorio=ideiaNegocio&nomePDF=Como%20montar%20um%20centro%20de%20est%C3%A9tica&COD_IDEIA=39187a51b9105410VgnVCM1000003b74010a____ 23 BIOÉTICA NA ESTÉTICA │ UNIDADE I nação do mundo com o maior número de pessoas com idade superior aos 70 anos. Serão cerca de 33 milhões de brasileiros, o que representará aproximadamente 13% da população (IBGE). O processo de envelhecimento não é visto com naturalidade por grande parte dos pacientes. Muitos desejam eternizar a beleza que possuíam na juventude, e aqueles que se encontram na idade adulta buscam constantemente novas maneiras de burlar o ciclo natural da vida. Dessa forma, a autoestima do paciente fica abalada, trazendo insegurança, dúvida e incerteza. Com isso, os tratamentos estéticos surgem como provedores da resolução dos problemas supracitados (HELOU, 2010). Os valores da nossa sociedade são pautados nos seguintes referenciais: juventude e beleza física. Quando determinado paciente olha para o espelho e as marcas do tempo já estão presentes em seu corpo, esse fato pode ser, para muitos indivíduos, apavorante ou até mesmo ameaçador. A partir desse momento, o tempo é tratado como o principal inimigo, pois, passa e levar consigo todo o frescor da pele, a agilidade dos movimentos e a tonicidade dos músculos e tecidos (HELOU, 2010). A sociedade ocidental é sustentada por dogmas que priorizam a aparência como cartão de visitas de qualquer indivíduo. O fato de determinada pessoa ter uma boa aparência sentencia se ela será ou não aceita em determinado ciclo social. Tais valores são difundidos pelas redes sociais, revistas, jornais, cinemas, desfiles, comerciais, entre outros. A propagação midiática quem na maioria das vezes, vende imagens de indivíduos bem-sucedidos, associadas a uma beleza e juventude sem igual, estimula esse tipo de comportamento. Com isso, essas características tornam-se motivacionais para a obtenção de sucesso, seja ele financeiro ou social (HELOU, 2010). Os gastos com procedimentos estéticos já comprometem uma quantia generosa do orçamento familiar. De acordo com um estudo realizado por Helou em 2010, no qual a pesquisadora entrevistou várias mulheres indagando porque elas gastavam tanto dinheiro com procedimentos estéticos, a resposta foi unânime: “Por causa da sociedade”. Logo, o profissional esteta que irá atender seu paciente deve primeiramente realizar uma anamnese com bastante destreza e respeitar os princípios da Bioética.Muitas vezes o paciente pode querer fazer determinado procedimento baseado nos resultados obtidos por um amigo ou familiar. Pode, ainda, ter visto algo nas mídias sociais que determinado tratamento promete realizar milagre. No entanto, cada organismo tem suas particularidades e deve sempre ser tratado como um ser único. Assim, é primordial individualizar os tratamentos estéticos. 24 UNIDADE II ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) CAPÍTULO 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) Origem do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) O documento intitulado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi criado nos primórdios da Bioética, devido à preocupação que existia com as pesquisas realizadas com seres humanos. Essa apreensão perdura até os dias atuais e ocupa lugar de destaque nas discussões das pesquisas farmacológicas (SAKAGUTI e TRINDADE,2007). O primeiro relato sobre a utilização do TCLE foi um documento elaborado para estabelecer uma relação entre o pesquisador e o pesquisado. O registro é datado de 19 de outubro de 1833. O médico estadunidense, Willian Beaumount (1785-1853) realizou seus trabalhos com o consentimento de Alexis St. Martin, que apresentava um ferimento provocado por arma de fogo, no qual era possível observar o seu estômago (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). No documento firmado entre as partes ficou estabelecido que o médico iria custear todas as despesas do pesquisado, além disso, forneceria uma remuneração no valor de U$ 150,00. O estudo durou um ano e sofreu fortes críticas éticas pela forma como foi desenvolvido. O pesquisado não recebeu todas as informações necessárias e o seu envolvimento com o experimento não aconteceu de forma voluntária. No entanto, esse relato é considerado o vanguardista do TCLE (MINOSSI, 2011). 25 ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) │ UNIDADE II Durante a história da Bioética, observamos que nem sempre houve uma preocupação com o participante de um experimento ou até mesmo de um procedimento médico. Existe uma infinidade de relatos com desrespeito causado por cientistas ou médicos que não se preocupavam com a autonomia daspessoas. Esses fatos envolviam dor, sofrimento, humilhação e até mesmo mortes. O perfil das pessoas que tinham sua autonomia privada era de prisioneiros de guerra, pobres, escravos e condenados à morte (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). Foi somente a partir do Código de Nuremberg que o consentimento voluntário passou a ser tratado com uma prerrogativa dos pesquisados. Em seu art. 1 o , o Código destaca que o consentimento voluntário do ser humano é essencial para o desenvolvimento de uma pesquisa. No entanto, vários médicos e cientistas não respeitam essa diretriz. O motivo seria a associação que muitos profissionais faziam com os crimes cometidos durante a guerra. Com isso, suas penalidades ou exigências não valeriam para as pesquisas realizadas no pós-guerra (SAKAGUTI e TRINDADE,2007). Também podemos descartar a Declaração Universal dos Direitos do Homem que foi assinada em dezembro de 1948, na cidade de Paris, representando a primeira tentativa da humanidade em estabelecer paramentos humanitários válidos para todos os habitantes do planeta, independente de cor, sexo, classe social, religião, língua, entre outros (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). No fim dos anos 1950, nos Estados Unidos, vários pacientes começaram a denunciar pesquisadores que omitiram informações a respeito dos procedimentos. Porém, foi somente a partir da década de 1960 com a Declaração de Helsinque que os consentimentos passaram a receber uma análise mais detalhada (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). Por fim, em 1993, ocorreu a criação das “Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas da Área da Saúde Envolvendo Seres Humanos”, documento que promoveu uma valorização dos TCLE em todas as pesquisas com seres humanos (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). Aplicação do TCLE no Brasil No Brasil, a regulamentação do TCLE começou com a produção de dois documentos elaborados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM – Resolução n o 1081, de 12 de março de 1982) e pelo Ministério da Saúde na década de 1980 (Portaria n o 16, de 27 de novembro de 1981). Esses documentos estabeleceram as normas para a utilização do TCLE nos primórdios na década de 1980 (MINOSSI, 2011). 26 UNIDADE II │ ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Durante a primeira Conferência Brasileira de Bioética, realizada em julho de 1996, foi confirmado que na pesquisa brasileira muitos pesquisados raramente eram informados ou até mesmo perguntados se gostariam de participar de um estudo. Devido a isso, o Conselho Nacional de Saúde revisou as normas éticas para a realização de pesquisas com seres humanos no país, estabelecidas pela Resolução n o 1/1988. Essa resolução foi formulada em 1988, e estabelece que todas as pessoas que participassem de pesquisa em território brasileiro deveriam ser informadas por escrito de todos os riscos e objetivos do estudo. Elas teriam a sua autonomia respeitada, para decidir se iriam ou não participar do estudo (HARDY et al., 2002). Com isso, uma comissão do Conselho Nacional de Saúde foi formada e ouviu diferentes nichos da população para elaborar um documento detalhado e abrangente. Ao fim do processo, a Resolução n o 196/1996 sobre Pesquisas Envolvendo Seres Humanos foi publicada e encontra-se atualmente em vigor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996). Essa resolução define TCLE como: A anuência do sujeito da pesquisa e/ou seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). A expressão Termo de Cconsentimento Livre e Esclarecido é uma tradução dos termos da língua francesa consentement livre et ésclaire que, por sua vez, deriva da expressão inglesa informed consent (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). As instruções presentes na Resolução n o 196/1996 relatam que todas as pesquisas que utilizam seres humanos, independente da área de atuação, devem submeter seu estudo a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Todas as instituições brasileiras que realizam esse tipo de pesquisa foram obrigadas a construir um CEP. Na impossibilidade de uma instituição construir um CEP, ela deve submeter seus trabalhos ao CEP de outro centro, preferencialmente o CEP de uma faculdade, universidade, instituto de pesquisa ou outro órgão com indicação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS) para realização dos seus trabalhos (HARDY et al., 2002). O TCLE deve ser submetido ao CEP de acordo com as diretrizes da resolução n o 196/1996. O comitê irá avaliar se o TCLE esclarece os pontos principais da pesquisa 27 ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) │ UNIDADE II e se permite que o indivíduo pesquisado apresente autonomia e voluntariedade para tomar sua decisão. No entanto, em procedimentos que são realizados dentro do consultório, não se faz necessário que o TCLE passe pela aprovação de um CEP, porque não está sendo realizada uma pesquisa científica. Porém, é de extrema importância que o documento seja avaliado por um advogado especialista em ética, para garantir que tenha sido redigido de acordo com os princípios éticos, além de garantir a idoneidade do documento. Aspectos legais do TCLE De acordo com a resolução n o 196/1996, o TCLE deve ser preenchido em duas vias. O documento deve conter a identificação do participante de uma pesquisa e/ou paciente, do representante legal (caso exista), nome do pesquisador e/ou profissional esteta, data e assinatura de todos em todas as folhas. Uma via fica com o paciente e/ou pesquisado e a outra é arquivada pelo profissional (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). Uma das finalidades do TCLE é servir como uma peça contratual entre o(a) profissional esteta e o paciente. Conforme os princípios jurídicos, defendendo os direitos das partes envolvidas na causa junto à justiça e ao conselho de classe do profissional (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). Por outro lado, de acordo com uma vertente, o TCLE é um documento informativo e esclarecedor. Assim, não deveria ser utilizado como instrumento de defesa do profissional. Para muitos profissionais da saúde que trabalham com procedimentos minimamente invasivos (injetáveis), essa tática é vista como um desvio da prática sensata, induzida principalmente por profissionais incompetentes, devido à ameaça de processos por negligência profissional. Além disso, apesar do paciente ter assinado o TCLE concordando com o tratamento, nada impede que ele entre na justiça e processe o profissional esteta em casos de erros ou falta de assistência por parte do profissional (MINOSSI, 2011). Caso o profissional esteta queira utilizar as imagens do paciente em algum congresso ou artigo cientifico, é necessária uma autorização especial ou “Autorização do Uso de Imagem”, que pode estar embutida em um item dentro do TCLE. Nessa autorização, deve estar descrita a maneira pela qual as imagens serão utilizadas e como a identidade do paciente será preservada (SAKAGUTI e TRINDADE, 2007). 28 UNIDADE II │ ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Elaboração do TCLE De acordo com as normas da resolução n o 196/1996, o TCLE é um documento elaborado pelo pesquisador ou profissional esteta e precisa ter a assinatura ou impressão digital do paciente e/ou responsável legal e visto do profissional. Em alguns casos também é utilizada a assinatura de uma testemunha para dar mais credibilidade ao documento. Além disso, o termo precisa ser elaborado em uma linguagem acessível, de preferência sem a utilização de termos técnicos e deve apresentar os seguintes itens (SILVA et al.,2005; SAKAGUTI e TRINDADE, 2007; MINOSSI, 2011): » título (nome do procedimento que será realizado);» introdução do experimento ou tratamento; » objetivos (finalidade do procedimento); » metodologia (descrever a técnica que será utilizada); » complicações ou riscos que o tratamento oferece (pré-tratamento, durante, após); » contraindicações do tratamento; » benefícios esperados; » orientações para o pré e pós-procedimento; » informações do profissional, tais como: nome completo, telefone, endereço da clínica, número do Conselho do profissional; » identificação do paciente (nome, CPF, RG, endereço); » data, cidade e estado onde foi realizado o tratamento; » garantia de esclarecimento a qualquer momento sobre o tratamento do paciente; » termo para o uso de imagem com a garantia de preservação da identificação do paciente, caso o profissional queira usar as imagens do tratamento em revistas, artigos, congressos, entre outros, mediante autorização do uso de imagem; » assinatura ou impressão digital das partes envolvidas (paciente, profissional esteta e testemunha); » declaração de que as informações prestadas foram efetivamente entendidas. 29 ASPECTOS GERAIS E CONFECÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) │ UNIDADE II Para tornar a compressão do texto do TCLE mais fácil, é imprescindível seguir as seguintes orientações (ARAÚJO et al., 2010): » elaborar frases curtas, com palavras de fácil entendimento, facilitando dessa maneira a localização do paciente sobre temática do TCLE; » ser direto e breve na redação do texto para que o paciente possa ler todo o TCLE e absorver todas as informações necessárias; » formular todo o texto em linguagem leiga, ou seja, utilizar expressões que são comuns à população e à linguagem estética; » colocar as informações mais importantes no começo do parágrafo, facilitando a absorção do conteúdo mais importante; » elaborar frases na ordem direta e na voz ativa; » citar os benefícios do tratamento antes dos malefícios que pode causar; » evitar o uso de adjetivos e eufemismo; » utilizar títulos e subtítulos em destaque, para introduzir melhor o assunto abordado no TCLE e facilitar a compreensão. 30 UNIDADE III REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL CAPÍTULO 1 Definição de anamnese e seus princípios Anamnese em procedimentos estéticos A palavra anamnese é originaria do grego, ana significa trazer de volta e mnsese refere-se a memória. Ou seja, podemos definir anamnese como sendo uma entrevista realizada pelos profissionais da saúde que visa resgatar as informações de determinada patologia (PORTO, 2004). Dessa maneira, ela apresenta comunicação não verbal (sinais, comportamento), verbal e escrita (SOARES et al., 2014). É por meio dessas informações que o profissional esteta vai guiar-se para realizar a entrevista. Uma boa anamnese é aquela com contato entre o profissional de saúde e o paciente. No entanto, para realizar esse procedimento com destreza é preciso dedicação e tempo adequado de atendimento. Pede-se para o profissional que antes de começar a consulta avalie como está seu humor, atenção e disposição. Caso essas três características apresentem déficit, o atendimento poderá ser prejudicado e a relação cordial entre profissional esteta e paciente ficará prejudicada. Além disso, cumprimentar o paciente, ter um tom de voz adequado e olhar direcionado demonstram interesse e dedicação por parte do profissional em ouvir as queixas do paciente (CARRIÓ, 2012). É durante a consulta que a relação entre o profissional esteta e o paciente começa. A arte de realizar uma boa anamnese é adquirida com a vivência no consultório. Cada profissional tem suas particularidades na condução de uma entrevista. Há algumas regras básicas que precisam ser seguidas, tais como (SENRA e MORAES, 2012): » deixar o paciente expor suas queixas livremente. Ouvir com atenção todas as informações passadas; 31 REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III » evitar fazer perguntas de forma mecânica e enfadonha; » evitar perguntas sugestivas, que podem ser respondidas com um simples “sim” ou “não”; » utilizar uma linguagem de fácil entendimento e sem termos técnicos; » ser empático com o paciente, isto é, o profissional esteta deve ter a capacidade de compreender o sentimento ou reação do paciente colocando-se no lugar dele. Determinados pacientes que apresentam algum tipo de disfunção estética podem apresentar transtornos psicológicos que potencializam as imperfeições. No entanto, as disfunções que esses pacientes possuem são classificadas como aceitáveis, porém, devido aos transtornos, essas imperfeições são multiplicadas pelo indivíduo. Com isso, cabe ao profissional ter a destreza para identificar esse tipo de comportamento no paciente, para realizar uma anamnese correta e sem influência dos fatores psicológicos. Alguns desses comportamentos são (SENRA e MORAES, 2012): » ter expectativa bastante elevada sobre o tratamento (fantasia x realidade) ou causa obscura que levou o paciente a buscar tratamentos estéticos; » estar realizando o procedimento estético para agradar outras pessoas; » apresentar delírios, perda de contanto com a realidade, alucinações, isto é, psicose; » ter distúrbio de ansiedade e de afeto; » exagerar nos defeitos estéticos (transtorno dismórfico corporal e vigorexia); » ter distúrbio de somatização. Esse transtorno, quando presente nos pacientes, pode causar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes, devido às anomalias estéticas. Os sintomas são: palpitações, vômitos, náuseas, tonturas, indiferença sexual, intolerância alimentar, entre outros. O profissional esteta deve adotar determinadas atitudes para conduzir uma anamnese de forma confortável e segura. Para isso, é importante ressaltar os seguintes comportamentos (SENRA e MORAES, 2012): » manter a calma e seriedade na consulta para passar conforto ao paciente; 32 UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL » ter disposição para ouvir as queixas do paciente; » explicar com detalhes como planeja reverter a disfunção estética; » não apresentar atitudes defensivas, mas formalidade e cordialidade são necessárias; » ter paciência para definir claramente quais são os comportamentos aceitáveis e inaceitáveis. Algumas perguntas são classificadas como essenciais em uma anamnese. Por meio delas é possível obter informações relevantes sobre a vida do paciente e as expectativas que tem com a realização dos tratamentos estéticos. Algumas dessas perguntas são: » Já realizou algum tipo de tratamento estético? › Se a resposta for sim, quais foram os tratamentos? › Ficou satisfeito com os resultados obtidos? » Nos próximos dias participará de algum evento importante, tais como: casamento, formatura, aniversário? › A resposta sendo positiva, deve-se explicar o tempo de recuperação do procedimento. » Está grávida ou pretende engravidar nos meses em que estiver realizando os tratamentos? › Mulheres grávidas devem evitar a realização de tratamentos estéticos, pois os procedimentos podem interferir na gravidez. » Trabalha ou vive em um local com exposição ao sol? › Pacientes devem evitar exposição ao sol durante os tratamentos estéticos, especialmente na realização de peelings, lasers, CO 2 fracionado, entre outros, para evitar pigmentações na pele. » Tem herpes labial? › Em casos de pacientes com herpes labial é importante alertá-lo sobre o risco da herpes aparecer devido aos procedimentos estéticos. Com isso, deve-se tomar o medicamento de costume do paciente antes de começar o tratamento, o que ajuda a prevenir o aparecimento da herpes. 33 REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III » Tem algum tipo de dermatite? › Pacientes com dermatite têm a pele bastante sensível. Com isso, o profissional deve ter um cuidado extra na execução dos procedimentos para não lesionar a pele. » Tem alergia a algum tipo de medicamento ou substância? › Pacientesalérgicos precisam de uma atenção especial, para evitar possíveis complicações. » Utiliza marca-passo? › Pacientes portadores de marca-passo não podem fazer radiofrequência, pois o procedimento pode alterar o funcionamento do aparelho. » Tem hipertensão? › Pacientes hipertensos podem ficar nervosos durante a realização de algum procedimento estético, ocorrendo elevação da pressão sanguínea. » Está realizando algum tratamento médico no momento? › Alguns tratamentos médicos podem provocar disfunções estéticas como efeitos colaterais. Nesses casos, o paciente deve levar na consulta uma autorização do médico responsável liberando-o para a realização de tratamento estético. Além disso, o profissional esteta deve estudar o caso e analisar possíveis interações entre o tratamento médico e o estético. » Tem algum tipo de distúrbio hormonal? › Alterações hormonais podem causar acne, sobrepeso, manchas, excesso de pelo, entre outras disfunções estéticas. » Tem antecedentes oncológicos? › Neste caso deve-se pedir que o paciente leve na consulta uma autorização do médico oncologista liberando-o para a realização de tratamentos estéticos. Porém, caso o paciente esteja com a neoplasia, o tratamento não deve ser realizado. O profissional esteta pode elaborar outros tipos de perguntas de acordo com a sua experiência e necessidade, pois, cada profissional tem suas particularidades que compõe a anamnese. 34 UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL O profissional esteta tem capacidade plena para interpretar os laudos de testes laboratoriais. Com isso, se possível, o paciente deve levar para a consulta os exames laboratoriais realizados nos últimos meses. Caso contrário, o paciente deve consultar-se antes com um médico e solicitar exames laboratoriais de rotina: hemograma, colesterol total, HLD, LDL, VLDL, triglicerídeos, glicemia, entre outros, e levar, posteriormente, na consulta com o profissional esteta. Essa conduta é extremante importante, pois o profissional tem que saber como está a saúde do paciente antes de começar os procedimentos. Isso é necessário especialmente para aqueles que promovem a liberação de lipídios, tais como: intradermoterapia, ultrassom cavitacional, criolipólise, hidrolipoclasia, entre outros. Dessa maneira, evita- se uma alteração acentuada nos níveis lipídicos e possíveis patologias. Já os procedimentos que provocam sangramento como microagulhamento, o profissional deve analisar primeiro se o paciente não tem algum problema de coagulação. Com isso, surge também a importância de solicitar o exame de coagulograma aos médicos e posteriormente levar o resultado na consulta com o profissional esteta. Elaboração da ficha de anamnese A ficha de anamnese deve ser elaborada de acordo com os procedimentos que o profissional realiza. Entretanto, a ficha não dever ser entendida apenas como uma ficha cadastral que irá conter os dados do pacientes, mas ser vista como um documento que contém informações relevantes sobre o paciente que irão auxiliar na correta escolha do procedimento mais indicado para tratar determinada disfunção estética. Ademais, não existe um modelo pré-determinado para elaboração de uma ficha de anamnese. Cada profissional esteta deve elaborar a sua própria ficha de acordo com a sua vivência clínica e os procedimentos que realiza. No entanto, os pontos que foram abordados no tópico anterior desta apostila são fundamentais, logo, é importante que eles estejam presentes, pois norteiam o profissional durante a consulta. 35 CAPÍTULO 2 Aspectos psíquicos na estética Um aspecto bastante importante relacionando com a qualidade de vida é a autoimagem. A insatisfação com o próprio corpo é responsável por vários comportamentos, como perda de peso, aumento de atividade física, aquisição de cosméticos, procura por procedimentos estéticos, compra de roupas. Logo, é através do contexto biopsicossocial que podemos ir além, conhecendo os vários fatores que interagem e produzem estados de saúde e de doença, evidenciando a reciprocidade do corpo e da mente. Os fatores que influenciam esta temática podem ser os mais variados possíveis, tais como psicológicos, fisiológicos, sociais e ambientais. Todos eles se relacionam com o bem-estar emocional e com a qualidade de vida (SENRA e MORAES, 2012). Existem várias formas de conduzir uma anamnese em estética com ênfase na saúde mental do paciente e, caso o indivíduo apresente algum distúrbio psicológico, é contraindicada a realização do procedimento estético, evitando com isso complicações posteriores (SENRA e MORAES, 2012). Nos dias atuais encontramos uma alta prevalência de alterações psiquiátrics na população em geral. A detecção de transtornos psíquicos é importante na consulta estética dos pacientes que procuram tais procedimentos. A avaliação desses indivíduos deve ser focalizada em itens como motivações e expectativas, preocupações acerca da aparência e da imagem corporal, além do estado psíquico atual. Alguns pacientes fazem uso rotineiro de medicamentos psiquiátricos, dentre os quais podemos destacar os antidepressivos. Um parecer, se possível por escrito, da condição estável do paciente oferece um pouco mais de segurança ao profissional esteta na condução do caso (SENRA e MORAES, 2012). Atuação do corpo como objeto estético Além das características funcionais de um corpo saudável, ele pode ser visto através de uma perspectiva estética. Uma imagem negativa sobre o próprio corpo pode desenvolver sentimentos de vergonha, baixa autoestima, depressão e ansiedade. A percepção subjetiva do paciente sobre o resultado obtido com o procedimento está diretamente ligada com a preocupação com a própria imagem, sobre a sua vida afetiva e sexual. Os pacientes que apresentam expectativas acima da média com os procedimentos estéticos podem estar passando por vários problemas e enxergam naquele procedimento a chance de reatar um relacionamento afetivo, por exemplo. Esta teoria é apoiada por 36 UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL vários estudos que revelam que indivíduos submetidos a procedimentos estéticos em demasia têm elevados índices de psicopatologias (SENRA e MORAES, 2012). Existe uma clara evidência de comportamento na sociedade à qual pertencemos. O contexto atual e cultural diz que “o belo é bom”, portanto, as pessoas atraentes são vistas de forma diferente. Elas são reconhecidas como mais inteligentes e de maior competência social, especialmente pela mídia (SENRA e MORAES, 2012). O paciente na estética Os procedimentos estéticos atuais estão alcançando resultados maravilhosos, isto é inegável. No entanto, quando os procedimentos são mostrados em programas de televisão ou nas redes sociais muitos pacientes podem adquirir perspectivas irreais sobre os resultados, em muitos casos os pacientes esperam ficar parecidos com outras pessoas, em especial celebridades (SENRA e MORAES, 2012). A sociedade constantemente impõe padrões estéticos de acordo com o interesse mercadológico, que devem ser ponderados para não se tornarem padrões obrigatoriamente aceitos e adequados para todas as pessoas. Durante a anamnese, os pacientes precisam ser lembrados de que os procedimentos podem melhorar a aparência, porém eles não resultarão em perfeição. Normalmente, é necessária a realização de várias sessões para atingir os objetivos pretendidos, envolvendo tempo para a recuperação e altas despesas (SENRA e MORAES, 2012). Logo, essa abordagem é fundamental na anamnese, especialmente na primeira consulta. É primordial que o paciente explique com as próprias palavras o que o desagrada. O profissional esteta deve ouvir cuidadosamente as queixas do paciente e fazer anotações técnicas sobre tais reclamações, para que possa ser analisado se tais queixas do indivíduo condizem com o que o profissional está observando. Nesta hora, o senso crítico do profissional fará um grande diferencial na condução do caso (SENRAe MORAES, 2012). Aspectos gerais de uma anamnese em um paciente com aspectos psíquicos A arte de entrevistar o paciente e conseguir extrair dele informações relevantes é algo que se adquire com o tempo e com a experiência ao longo dos vários atendimentos prestados durante a carreira. No entanto, é importante que, no decorrer da 37 REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III anamnese, os sinais e sintomas que serão citados a seguir sejam percebidos (SENRA e MORAES, 2012): » na aparência: adequada, bizarra, exibicionista; » na atitude: amistosa, interessada, hostil, inibida, desconfiada, arrogante, teatral, manipuladora, lamuriosa, querelante, simuladora, sedutora; » na atenção: memória, linguagem, pensamento, vontade, pragmatismo, consciência; » nos sintomas gerais: humor rebaixado, fatigabilidade, medo, sono, apetite, dores musculares, capacidade de concentração. Além disso, deve-se: » investigar episódios de choro, irritação, isolamento social, sensação de desesperança e pensamentos suicidas; » suspeitar de pensamentos e comportamentos obsessivos; » destacar as alterações afetivas próprias e os episódios dos relacionamentos sociais. Transtorno Dismórfico Corporal e suas características clínicas O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é caracterizado pela preocupação com defeitos inexistentes ou leves na aparência física, de tal forma que os pacientes acreditam que parecem anormais, pouco atraentes, feios ou deformados, quando, na realidade, são normais. A preocupação com essas supostas falhas leva a comportamentos repetitivos (por exemplo, verificar a aparência em espelhos constantemente), que são difíceis de controlar e não são agradáveis. O TDC é comum, mas geralmente sub-reconhecido, causa sofrimento clínico significativo e é frequentemente associado à ideação e a comportamento suicida (UPTODATE, 2019). Pacientes com TDC podem apresentar-se a profissionais da estética ou da saúde mental como psicólogos ou psiquiatras. A maioria dos pacientes procura tratamento cosmético e não psiquiátrico para detectar seus defeitos supostamente físicos. Dessa forma, o tratamento estético é ineficaz para a maioria dos pacientes e pode ser arriscado para os profissionais estetas, uma vez que, mesmo que o procedimento seja 38 UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL executado de forma perfeita e os resultados sejam ótimos, o paciente pode não ficar satisfeito (UPTODATE, 2019). Pacientes com TDC estão preocupados com defeitos inexistentes ou leves na aparência física de uma ou mais partes do corpo. As preocupações com a aparência são difíceis de resistir ou controlar e ocorrem por uma média de três a oito horas por dia. As áreas do corpo são vistas como pouco atraentes, repulsivas, anormais ou deformadas, e alguns pacientes se descrevem como parecendo uma aberração, um monstro, uma vítima de queimadura. As preocupações com a aparência são em parte perturbadoras porque são inaceitáveis na percepção do eu para os outros, e em muitos casos envolvem a crença de que outras pessoas zombam e rejeitam a pessoa por causa de sua aparência (UPTODATE, 2019). A maioria dos pacientes no curso da doença está preocupada com a exposição de várias áreas do corpo, média de cinco a sete áreas diferentes. No entanto, alguns pacientes estão excessivamente preocupados com apenas uma área do corpo, enquanto outros não gostam de praticamente nenhum dos aspectos de sua aparência. As principais partes do corpo mais detestáveis são (UPTODATE, 2019): » pele (acne, cicatrizes, manchas, coloração ou rugas); » cabelos (calvície ou excesso de pelos faciais ou corporais); » nariz (tamanho ou forma); » abdômen (gordura localizada); » seios (pequenos ou grandes); » olhos. No entanto, qualquer área do corpo pode ser o foco da preocupação. Além disso, aflições com simetria são comuns, por exemplo: narinas desiguais, olhos em um nível diferente um do outro (UPTODATE, 2019). Entre os pacientes com TDC, é mais provável que as mulheres se preocupem com o peso, tamanho dos quadris, nádegas, seios, pernas e excesso de pelos faciais ou corporais. Os homens são mais propensos do que as mulheres a se preocuparem com a queda de cabelo (calvície), tamanho do órgão genital e a ter transtorno dismórfico muscular, também conhecido como vigorexia (UPTODATE, 2019). Todos os indivíduos com TDC apresentam comportamentos repetitivos em algum momento durante o curso de sua doença. Esses comportamentos podem ser pistas de 39 REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL │ UNIDADE III que uma pessoa tem TDC. Dessa forma, o profissional esteta precisa ficar atento aos comportamentos que serão relatados a seguir durante a realização da sua anamnese, segundo a UPTODATE (2019): » Esconder Áreas Corporais: Cerca de 90% dos pacientes tentam esconder ou encobrir as áreas indesejadas do corpo. Isso pode incluir o uso de chapéu e óculos de sol, maquiagem pesada, utilização de roupas não apropriadas para a época do ano (por exemplo, o uso de casado em pleno verão), utilização de um corte de cabelo para esconder uma parte do rosto. Cerca de um quarto dos pacientes com TDC se bronzeia demais para escurecer a pele “pálida”, para minimizar a percepção de acne ou rugas. Este ato de tentar esconder determinadas partes do corpo envolve um comportamento repetitivo e compulsivo, como aplicar repetidamente maquiagem ou ajustar com frequência a roupa ou a posição do corpo. Este comportamento tem como objetivo evitar sentir vergonha quando as áreas do corpo “defeituosas” são vistas por outras pessoas. » Comparação: Quase 90% dos pacientes frequentemente comparam seus corpos aos de outras pessoas ao seu redor ou com pessoas em revistas, rede sociais ou na televisão. Esse comportamento pode preocupar tanto os pacientes que eles apresentam dificuldade de concentração, desenvolvimento de uma conversa e realização de tarefas. Além disso, a comparação muitas vezes aumenta o sofrimento porque os pacientes com TDC tendem a não apenas subestimar sua atratividade, mas também superestimam a atratividade de outras pessoas. » Verificação em Espelhos: Quase 90% dos pacientes com TDC verificam compulsivamente seus defeitos percebidos em espelhos e em outras superfícies refletidas, por exemplo janelas, costas de colheres, telefones celulares. Fazendo isso por horas todos os dias, durante a verificação no espelho, os pacientes podem adotar outros comportamentos, como limpeza excessiva ou palpação da pele. » Higiene Excessiva: Mais da metade dos pacientes faz higienização excessiva. Os pacientes podem pentear repetidamente os cabelos, aplicar maquiagem várias vezes ou arrancar os pelos faciais “excessivos” ou “uniformizar” sobrancelhas ou costeletas continuamente. No entanto, o fato de arrancar os pelos ou cabelos pode estar associado a outro distúrbio psíquico chamado de tricotilomania. 40 UNIDADE III │ REALIZAÇÃO DE ANAMNESE FACIAL E CORPORAL » Buscando a Segurança de Outras Pessoas: Cerca de metade dos pacientes frequentemente buscam garantias de outras pessoas sobre o seu visual. Os pacientes desejam saber se a sua aparência é convidativa ou não. No entanto, mesmo que a resposta seja positiva sobre o seu visual, eles normalmente não acreditam na resposta, pois geralmente têm pouca ou nenhuma percepção da realidade. » Troca de Roupa: Quase metade dos pacientes trocam de roupa muitas vezes (por exemplo, mais de 4) por dia para tentar camuflar áreas corporais não desejadas. » Compras Compulsivas: Algumas pessoas compram compulsivamente produtos para a pele ou cabelo e maquiagem para minimizar suas “falhas”. Em geral, ficam decepcionados com os resultados com esses cosméticos. » Ansiedade Social: Ansiedade social é uma característica comum nos pacientes TDC. Muitos indivíduos se isolam porque temem que outras pessoas vejam a “deformidade”, ou receiam rejeição por causa de sua “feiúra”. Assim, alguns pacientes ficam em casa e
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