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ÉTICA NA ÉTICA E MORAL: QUAL É A REAL DIFERENÇA? Ética um ramo da Filosofia, aquela que estuda os valores morais do ser humano, sua convivência em sociedade, julgando condutas que são adequadas ou não, olhando para o que é certo o que é errado, bom ou ruim. Moral, imaginamos algo mais concreto. Ela representa um conjunto de regras que variam de acordo com a cultura e os costumes vigentes em um determinado grupo social. A moral pode ser definida como o campo de atuação da própria ética. ORIGEM GREGA ETHOS (CONDUTA) FAZ UMA REFLEXÃO SOBRE A MORAL É PERENE, CONSISTENTE. NÃO MUDA EXPLICA A MORAL DE MODO RACIONAL É UNIVERSAL . ORIGEM LATINA MORALIS (COSTUME) DIZ RESPEITO ÀS REGRAS DE UMA CULTURA TEM ORIGEM NA CULTURA EXISTEM VÁRIAS MORAIS A MORAL É ALGO DE ORDEM PRÁTICA, SEM REFLEXÃO. É O OBJETO DE ESTUDO DA ÉTICA O campo da moral se dá no campo prático, enquanto o campo da ética ocorre no campo teórico. Da ética para a vida: A ética é um valor social e guia de princípio, crenças e ações. Neste modelo, a ética era considerada e vista como o modo de melhor viver e conviver tanto da vida privada, como na vida comunitária. A concepção ética antiga foi vista sobre várias dimensões: Os pré-socráticos deram a visão ontológica. Pitágoras via a ética de forma matemática. A partir dele, ela sai do campo ontológico e entra em questões práticas. Para Sócrates, a ética é um bem viver. Viver está intimamente ligado ao conhecimento, em uma vivência virtuosa, pois, para Sócrates, virtude é conhecimento, devido ao fato de que todos buscam o bem e a virtude e a justiça é inegavelmente boa. A moral se aproxima da ética, pois torna-se o seu campo de estudo. Porém, mesmo com essa aproximação, as duas não se misturam. Atualmente, há subdivisões em campos dentro da própria Ética que são: Metaética, teoria da significação dos termos e proposições morais e como seus valores podem ser determinados. Normativa, que estuda os meios práticos de se determinar as ações morais. Ética Aplicada, que estuda como a moral é aplicada em situações específicas. Ética Descritiva ou Ética Comparativa, que estuda as visões, descrições e crenças sobre a moral. Ética Moral, que é a reflexão sobre o valor das ações morais, seja no âmbito coletivo, seja no âmbito individual. VULNERABILIDADE E ÉTICA DO CUIDADO: Para refletir sobre a vulnerabilidade e o cuidado, é importante entender dois tipos de correntes antropológicas que estudam tais elementos. De um lado, temos: A antropologia do corpo na linha de um pensamento dualístico, que é um exemplo paradigmático da antropologia cartesiana, que nos faz uma caracterização do corpo como objeto e que, deste conceito, passa uma apresentação do corpo como máquina. Porém, esta linha de pensamento repercute-se em uma outra em que dualismos que são extremamente importantes no contexto da relação com o corpo humano. Em primeiro lugar, temos um dualismo entre a razão e a afetividade/paixão (que são definidas por Descartes como ações do corpo sobre a alma). Em um segundo lugar, há um dualismo entre sujeito e objeto, um dualismo simultaneamente fisiológico e ético, que se centraliza em um sujeito que vê e o objeto é aquilo que é visto. Em terceiro lugar, temos a caracterização de uma razão técnico-instrumental como via de acesso ao corpo/objeto e, finalmente, uma centralização no ser individual (FABRIZ, 2003). A vulnerabilidade é caracterizada como a exposição do ser humano ao que é exterior, numa relação marcada pela assimetria (FABRIZ, 2003). Ela tem diversos sentido, como: No sentido do senso comum: Em que ser vulnerável é estar sujeito a algum tipo de vulneração, agressão ou dano. Na ecologia: Usa esse conceito relacionado a populações que estão sujeitas ao impactos de desastres ecológicos. Na psicologia: É utilizado como a susceptibilidade a determinadas reações negativas diante dos impasses, dos problemas enfrentados pelas pessoas. No serviço social: O pensamento se volta à perspectiva da vulnerabilidade social, a uma densidade de cidadania. Na bioética: Em que foca na pesquisa em seres vivos, ligada às pessoas que estão ligadas a protocolos de pesquisa terem condições ou não de perceberem qual é o risco que elas estão correndo ao participar da pesquisa, quais são os ganhos que elas podem ter e como elas podem se defender de qualquer tipo de encaminhamento que seja desfavorável a elas. No direito: Está vinculado aos direitos humanos. A partir desse ponto, há uma migração para a saúde, especialmente na época da epidemia do HIV/AIDS. A partir deste momento, a vulnerabilidade na saúde passa a discutir o quanto que determinados grupos populacionais estão mais ou menos cobertos pelas suas garantias em termos de direitos humanos. ÉTICA NA SAÚDE Princípio da beneficência Está relacionada ao dever de ajudar, fazer o bem ou promover o bem, mas também está relacionada ao dever de avaliar os riscos de uma situação e seus benefícios potenciais. É o dever de buscar o máximo de benefícios, mas preocupando-se por diminuir ao mínimo os danos e riscos. Voltando ao caso clínico, será que os benefícios da medicação são maiores que os efeitos colaterais que ela causa? Será que o seu atendimento está promovendo o bem de fato? Princípio da não maleficência Trata sobre não se abster de causar danos ou colocar pacientes em risco. Neste item, é muito importante a realização de uma boa avaliação e, para isso, é preciso competência profissional. Sendo assim, também é um preceito da Bioética a constante capacitação, já que o campo da saúde compreende os conhecimentos científicos e técnicos somados às práticas sociais, éticas e políticas. Para o senhor do caso em questão, mesmo sem consciência para decidir sobre sua vida, é o respeito que você tem pela sua dor, é o tempo que você despende tentando encontrar medicações e técnicas que diminuam o seu sofrimento. Princípio da autonomia Está relacionado ao decidir por si mesmo. Ainda que tenha perdido esse poder, o senhor no leito espera de você respeito à dignidade, à privacidade e à liberdade. Nesse princípio, é mais fácil imaginar o dilema no atendimento a um paciente que se recusa a continuar um tratamento. Tirando as peculiaridades de cada situação, o mais importante é que você não esqueça que seu dever é fornecer informações técnicas para orientar a decisão, mas sem manipular o paciente. Se após você explicar com dedicação a importância do tratamento e os danos que a não medicação pode causar e, ainda assim, o paciente optar por não continuar com a terapia, seu desejo precisa ser respeitado. A única exceção aqui é no caso em que o bem-estar público está acima do bem-estar de um único individual. Por exemplo, quando um paciente contaminado com agente biológico de alta infectividade decide não se tratar. Como a sua decisão coloca em risco a saúde pública, você não poderá permitir que ele deixasse a unidade de saúde sem o encaminhamento correto por mais que esta decisão vá contra a sua vontade. Esse é o momento em que você irá se esbarrar no princípio da justiça, que trata sobre a distribuição adequada de direitos e deveres. Ser justo com o senhor do caso é enxergar sua necessidade. O que você deveria fazer nesse caso? A decisão é sua e deve ser tomada junto ao corpo técnico da instituição. Se os cuidados a este senhor se igualam como você cuidaria de si mesmo, isto é sinal de que provavelmente você está agindo da maneira correta. O QUE É A BIOÉTICA? A Bioética foi criada em 1971 pelo professor Van Rensselaer Potter como uma disciplina acadêmica, que faria uma conexão entre as ciências e as humanidades. Para esse professor, a sobrevivência da humanidade dependia de uma ética baseada em conceitos biológicos. Então, por isso, o termo bioético.A Bioética é composta por algumas teorias. O utilitarismo: Foca no ato correto que deve ser tomado em cada circunstância e esse ato correto vai ser o que for mais positivo para um maior número de pessoa. No utilitarismo, é importante, em algumas situações, olhar para as necessidades de todos os indivíduos envolvidos e tomar uma decisão (MOTTA, 2012). Baseada na obrigação ou Kantismo: Aquela que determina a adequação de uma ação, não baseada em suas consequências, mas por certas características que vão estar presentes nessa ação. Baseada na virtude ética do caráter: Foca nos agentes que realizam as ações e as escolhas em uma determinada situação. Ela dá maior destaque às virtudes e ao caráter virtuoso desses agentes Baseada nos direitos, individualismo liberal: Dá ênfase aos direitos presentes em uma situação e no peso e na força que eles vão ter naquele momento como determinante para a tomada de decisões. Baseada na comunidade, comunitarísmo: Considera que o que é fundamental na ética provém de valores comunitários, como o bem comum ou práticas tradicionais de uma certa comunidade. Ética do cuidado: É baseada nos relacionamentos. Coloca o afeto e o compromisso emocional como determinantes para a tomada de decisões. A casuística: É uma abordagem a partir de casos concretos. Foca em decisões práticas a partir de situações específicas. Considera que a moralidade apropriada surge desta análise específica de cada caso concreto. A abordagem princialista: Considerada como a teoria mais difundida na Bioética, se baseia em um conjunto de quatro princípios que norteiam as decisões e discussões das grandes questões da área: justiça, autonomia, não maleficência e beneficência.. A Bioética se trata de uma matéria transdisciplinar, que permite a cooperação, interação de diversas outras matérias. Ela é dividida em duas esferas: Situações emergentes são aquelas em que a sociedade tem que lidar agora, como a aplicação da tecnologia em saúde e os conflitos resultantes. Nesse contexto, encontramos situações como a fertilização in vitro, a eugenia, a clonagem As situações persistentes, por outro lado, estão com a sociedade desde os seus primórdios. Podemos pensar nas situações que envolvem o aborto, o direito de morrer etc. Principialismo e a bioética Em 1974, o governo americano, em resposta a alguns escândalos relacionados a experimentações com direitos humanos que ocorreram na época, constituiu uma comissão nacional (Comissão Nacional sobre Proteção dos Sujeitos da Pesquisa Biomédica e Comportamental) para a pesquisa biomédica e comportamental. Após quatro anos, essa comissão publicou o relatório Belmont, que identificava três princípios como norteadores da experimentação com seres humanos: Autonomia Justiça Beneficência A ética do cuidado A ética do cuidado se originou a partir de estudos feministas, com as obras de Nel Nodding, Virginia Held, Carol Gilligan e Annette Baier, surgindo como um contraponto às éticas tradicionais, que teriam uma tendência de raciocínio moral mais masculino, levando em conta questões de justiça, imparcialidade, direitos, mas não estaria considerando o ponto de vista moral feminino, construído a partir das relações íntimas entre as pessoas e os valores destas relações íntimas, por exemplo, a compaixão e a fidelidade (ANTONY, 2012). Abordagem deontológica da bioética A teoria deontológica recebe este nome porque se refere ao dever ser, às obrigações que existem em uma determinada situação, em contraponto a teoria ontológica, que se refere ao ser. Essa norma moral gera preceitos. Então, as teorias deontológicas sempre vão se desenvolver a partir de alguns conceitos sobre ações específicas que gerariam os preceitos. Em suma, esses preceitos vão se concentrar em regras sobre ações específicas. Não são princípios morais, pois vão se referir especificamente a uma determinada ação. O valor moral de uma ação não se concentra nas consequências de um ato, mas nas características desta ação. Entendendo a história O termo “bioética” foi criado pelo bioquímico Van Rensslaer Potter, em 1971. Com o sentido de “ciência de sobrevivência”, esse autor entendia que era necessário o desenvolvimento de uma ética global para tratar a relação do ser humano com o meio ambiente e preservar a biosfera. A Universidade de Georgetown, por sua vez, fundou no mesmo período o Instituto Kennedy para o Estudo da Reprodução Humana e Bioética. Nesse contexto, o termo recebeu um novo significado, que atendia aos estudos realizados no campo médico e biológico. Desde então, o termo bioética pode ser utilizado para se referir a uma ética global, com questões ambientalistas e mais universais ou de uma ética aplicada ao campo biomédico. A Enciclopédia de Bioética, lançada em 1978, define bioética como “o estudo sistemático da conduta humana no campo das ciências da vida e da saúde, examinada a luz dos valores e princípios morais”. Os autores propõem uma análise ética, caso a caso, na clínica e pesquisa mediante a avaliação de quatro princípios éticos que, segundo o Conselho Nacional de Saúde Brasileiro (1996), são definidos assim: Respeito à autonomia é reconhecer que cabe a cada indivíduo possuir certos pontos de vista e que é ele que deve deliberar e tomar decisões seguindo seu próprio plano de vida e ação, embasado em crenças, aspirações e valores próprios, mesmo quando divirjam daqueles dominantes na sociedade. Deve-se “respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes quando as pesquisas envolvem comunidades”. Sobre a não maleficência, afirma que as pesquisas com seres humanos devam dar garantia de que danos previsíveis serão evitados. Também considera “dano associado ou decorrente da pesquisa ― agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou a coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico”. Beneficência: Quando “houver benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e ou comunidades”. E ainda “assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa”. Justiça: Quanto ao princípio da Justiça, diz que, a eticidade da pesquisa requer “relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária”. Um caso muito conhecido, quando falamos sobre ética em pesquisa, é o de Tuskegee, que ocorreu no Alabama, EUA. Para que você entenda a crueldade dessa pesquisa, apenas 74 dos 600 homens que participaram estavam vivos na época da denúncia. Durante a Segunda Guerra Mundial, foram encontrados registros das maiores atrocidades realizadas por médicos nazistas, nos campos de concentração, na Alemanha. Experimentos com seres humanos foram desenvolvidos sem a menor preocupação moral, eram mortais e baseados na teoria eugenista de Hitler, que buscava a melhoria da raça alemã. Regulamentação de pesquisas envolvendo seres humanos Em 1931, em resposta às atrocidades cometidas por médicos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, o Ministério da Saúde Alemã estabeleceu regulamentações básicas para a realização de pesquisas. Com isso, em 1947, ocorreu um julgamento no qual 20 médicos foram condenados por assassinato. A partir desse julgamento, surgiu o Código de Nuremberg, que apresenta 10 princípios éticos para pesquisa com seres humanos: 1. Obter o consentimento voluntário do participante. 2. Produzir resultados vantajosos. 3. Ser baseada em resultados deexperimentação em animais e estudos anteriores. 4. Evitar sofrimento e danos. 5. Ser conduzida por pessoas cientificamente qualificadas. 6. Ter sua continuação suspensa, se constatado que poderá causar dano, invalidez ou morte. 7. Não deve ser feita se existir risco de ocorrer morte ou invalidez permanente. 8. Ter grau de risco aceitável e limitado pela importância do problema que se propõe resolver. 9. Proteger o paciente de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte. 10. Dar liberdade ao paciente de se retirar em qualquer momento da pesquisa. Em 1964, surgiu a primeira versão da Declaração de Helsinque, aprovada pela Associação Médica Mundial. Em 1975, ela sofreu sua primeira revisão, quando foi incluído que todo projeto de pesquisa deveria ser apreciado e aprovado por um comitê de ética. Posteriormente, revisões foram feitas nos anos de 1983, 1989, 1996, 2000 e 2008, e em todas as versões, há um texto-padrão que não foi modificado e apresentam sempre os itens a seguir: Obter o consentimento do participante, após ser totalmente esclarecido. Ser baseada em experiências laboratoriais in vitro, em animais, e em conhecimento da literatura científica. Ter o protocolo de pesquisa aprovado por um comitê independente. Ser conduzida apenas por pessoas cientificamente capacitadas. Ser o risco para a pesquisa, proporcional à importância do objetivo Ter avaliação dos riscos comparada com os benefícios previstos, respeitada e assegurada a integridade do participante. Em 1978, foi gerado o Relatório Belmont, que apresentava três princípios éticos básicos para a realização de pesquisas, são eles: Princípio do respeito às pessoas: diz respeito a autonomia, proteção, consentimento à pesquisa, informações sobre a pesquisa e o voluntariado livre à pesquisa. Princípio da beneficiência: diz respeito ao bem-estar do participante da pesquisa e a não causar danos. Princípio da justiça: diz respeito a equidade nos benefícios da pesquisa e na escolha dos participantes. Regulamentação de pesquisas envolvendo animais Em 1927, surgiu o primeiro documento que registrava que todos os seres são dignos de respeito. E, finalmente, em 1959, surgiu uma teoria que realmente estabelecia uma relação de respeito com os animais, em que os três eixos principais eram: Fazer uso de formas mais primitivas de vida em pesquisas. Utilizar o menor número possível de animais nos experimentos. Durante a realização dos experimentos, os animais devem ter seu sofrimento reduzido por meio de técnicas para proporcionar conforto. Durante a década de 1990, as discussões sobre o uso de animais em pesquisas aumentaram consideravelmente, pois o uso de animais em pesquisas é uma estratégia valiosa e os profissionais precisam ter o entendimento das legislações, regulamentações e das questões bioéticas que envolvem esta prática. As questões bioéticas quanto ao uso de animais em experimentos contribuem para a fiscalização e para impor limites nos procedimentos realizados durante as pesquisas. A primeira Lei brasileira sobre o uso de animais em pesquisas foi a Lei n° 6638/79. Em 1997, o Projeto de Lei 3.964 criou a Comissão de Ética para Uso de Animais (Ceua) e sugeriu a criação de um conselho para controlar as atividades de pesquisas com animais. Em 2008, a Lei 11.994 regulamentou as Comissões de Ética para o Uso de Animais e criou o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). Em 2009, o Decreto 6.899, criou o Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais (Ciuca). Atualmente, discussões sobre a vulnerabilidade dos animais em uso de pesquisas tem sido foco da abordagem sobre a ética animal e, com isso, a expectativa é que se consiga levar para o campo das pesquisas com animais as questões que são consideradas na pesquisa com seres humanos. Existem três áreas principais de uso animal em pesquisas: Como alternativa a essas práticas, estudiosos sugerem a utilização de testes in vitro e outras possibilidades que não o uso de animais. Descrever conceitos gerais dos cuidados paliativos e reflexões sobre a morte Os cuidados paliativos têm por objetivo conceder morte digna, ou seja, são práticas e procedimentos para cuidar do enfermo que não responde mais às possibilidades de tratamento para uma determinada doença. O Princípio da Sacralidade da Vida Considera que a vida consiste num bem — concessão da divindade ou manifestação de um finalismo intrínseco da natureza, tendo, assim, um estatuto de sagrado, e por isso não é mensurável do ponto de vista de todos os cálculos, que possam, eventualmente, ser feitos sobre ela, não podendo ser interrompida, nem mesmo por expressa vontade de seu detentor. (SIQUEIRA-BATISTA; SCHRAMM, 2005) De acordo com esse princípio, a vida é considerada sagrada, e isso o coloca como um grande objetor da eutanásia e do aborto. O Princípio do Respeito à Autonomia da Pessoa Pressupõe que se considerem, definitivamente, as escolhas livres dos sujeitos quando se trata de questões morais. A argumentação pela autonomia nesse princípio enfatiza o respeito à liberdade de escolha da pessoa, isto é, sua competência em decidir, autonomamente, aquilo que considera importante para viver, incluindo os processos de nascer e morrer, de acordo com os seus valores e interesses legítimos. Sendo assim, de acordo com a PRA, cada indivíduo tem o direito de tomar as decisões sobre a sua vida da maneira que achar melhor. Cuidados paliativos e morte Os cuidados paliativos surgiram como modelo sistematizado de atenção à saúde da pessoa no fim de vida, no fim do século XX, em 1967, em Londres, por Cicely Saunders, considerada a pioneira na prática dos cuidados paliativos. Cicely atuava junto a pacientes oncológicos no fim de vida. O cuidado paliativo é a abordagem que visa a promoção da qualidade de vida de pacientes e seus familiares, através da avaliação precoce e controle de sintomas físicos, emocionais, sociais e espirituais desagradáveis, no contexto de doenças que ameaçam a continuidade da vida. A assistência é realizada por uma equipe multiprofissional durante o período do diagnóstico, adoecimento, finitude e luto (WHO, 2007). O propósito dos cuidados paliativos deve estar voltado para proporcionar qualidade de vida e dignidade no fim de vida dos pacientes sem possibilidades terapêuticas e não estender o processo de morte. Durante esse período, questões de cunho religioso e psicológico devem ser consideradas. Para Matsumoto (2009) apud Manual de Cuidados Paliativos (BRASIL, 2020), uma prática adequada de cuidados paliativos exige seguir os princípios abaixo: Iniciar o mais precocemente possível o acompanhamento em cuidados paliativos junto a tratamentos modificadores da doença. Incluir toda a investigação necessária para compreender qual o melhor tratamento e manejo dos sintomas apresentados. Reafirmar a vida e sua importância. Compreender a morte como processo natural sem antecipá-la nem postergá-la. Promover avaliação, reavaliação e alívio impecável da dor e de outros sintomas geradores de desconforto. Perceber o indivíduo em toda sua completude, incluindo aspectos psicossociais e espirituais no seu cuidado. Para isso, é imprescindível uma equipe multidisciplinar. Oferecer o melhor suporte ao paciente focando na melhora da qualidade de vida, influenciando positivamente no curso da doença quando houver possibilidade e auxiliando-o a viver tão ativamente quanto possível até a sua morte. Compreender os familiares e entes queridos como parte importante do processo, oferecendo-lhes suporte e amparo durante o adoecimento do paciente e também no processo de luto após o óbito. Outro ponto importante no desenvolvimento dos cuidados paliativos é a atenção à família, porque durante esses estágios de cuidados paliativos a família fica fragilizada por saber que perderá um ente querido e,mesmo assim, todos os integrantes estão envolvidos direta ou indiretamente nos cuidados prestados ao paciente. Infelizmente, para o paciente e seus familiares, estar no programa de cuidados paliativos significa a proximidade da morte. Kübler-Ross sistematizou os estágios da morte para nos ajudar a entender melhor e acompanhar os pacientes terminais, amenizando esse instante de sofrimento. Eutanásia, distanásia e ortotanásia A palavra eutanásia é de origem grega e tem significado de “boa morte”. A eutanásia é um dos temas mais polêmicos da bioética de fim da vida. Países como a Bélgica, Holanda, Austrália e Suíça possuem leis de aprovação para prática da eutanásia. No Brasil, é considerada crime. Nos países onde esta prática é permitida, alguns aspectos legais precisam ser respeitados: Solicitação livre e voluntária. Avaliação extremamente criteriosa. Constatação de que não há possibilidades de tratamento ou cura. Tais medidas são tomadas para evitar situações de abuso, principalmente com o grupo de idosos, deficientes físicos e pacientes em estado vegetativo. É preciso estar atento às definições de eutanásia (tabela 1), pois é comum ver as pessoas fazendo confusão entre ela e o suicídio assistido. A eutanásia ocorre por intermédio de terceiros, enquanto o suicídio assistido é realizado pela própria pessoa. A distanásia e a ortotanásia também são termos para se discutir o fim de vida, mas não são tão conhecidos quanto a eutanásia. A distanásia é resultado de ações/procedimentos médicos que se tornam mais nocivos do que benéficos ao tratamento, causando dor e sofrimento ao enfermo. A ortotanásia vem para falar sobre a morte com dignidade. É o processo de aceitação natural da morte, momento em que se deve utilizar estratégias para amenizar o sofrimento, por meio de cuidados paliativos que poderão ser executados. Nesse processo, há suporte religioso, psicológico e de analgesia. Pode-se dizer que a ortotanásia é a morte humanizada. Aborto O aborto é um tema polêmico no Brasil e tem fomentado vários debates nos campos político, médico, religioso e filosófico. Entretanto, o que acontece no Brasil não é regra. O aborto era praticado na antiguidade por diferentes culturas e passou a ser malvisto por influência da igreja católica a partir de 1869. Outros fatores que contribuíram para a mudança na sociedade quanto à aceitação do aborto foram as grandes baixas populacionais da Primeira Guerra Mundial e o baixo índice de natalidade em países da Europa Ocidental no século XX. Do ponto de vista bioético vale visitarmos os conceitos propostos por Diniz e Almeida (1998), para classificar o aborto, tendo em vista que existem diferentes modos de classificação (tabela 2). Os autores apresentam o aborto como: 1– Interrupção voluntária da gravidez; 2 – Interrupção terapêutica da gravidez; 3 – Interrupção eugênica da gravidez; e 4 – Interrupção seletiva da gravidez. O ponto definitivo para o aborto entrar nas rodas de discussão foram as transformações sociais que ocorreram na década de 1960, com o empoderamento político feminino e pela liberdade sexual reprodutiva, em que o ato sexual não estaria atrelado à reprodução. No código penal brasileiro, o aborto é considerado um crime contra a vida, mas permite a prática de aborto realizada por profissional médico, realizado nas circunstâncias em que a vida da gestante estiver em risco ou quando a gestação for fruto de estupro, e este será autorizado pela gestante ou por um representante legal, caso a vítima seja menor de idade ou incapaz. O aborto, assim como a eutanásia, está envolto na discussão dos princípios de respeito à vida e da sacralidade à autonomia da pessoa. Por um lado, os defensores do princípio à vida dizem que, como a vida é sagrada, defender o aborto se torna algo absolutamente impossível. Já o grupo que defende a autonomia da pessoa, em sua maioria formado por grupos de feministas, entendem que a decisão deve ser tomada pela mulher, pois ela diz respeito a sua vida, sua sexualidade, seu corpo e reprodução. PROFISSIONAIS DA SAÚDE Profissionais de saúde lidam a todo momento com os extremos da vida: o nascimento e a morte. Nessa relação, o profissional precisa seguir alguns valores que são estabelecidos por categoria profissional dentro da área da saúde e estabelecem responsabilidades éticas. Deontologia Etimologicamente, deontologia, provém do grego deon, deontos (dever) e logos (tratado), sendo qualificada como a ciência que estuda os deveres de um grupo profissional. Deontologia é a ciência que se preocupa com os deveres e as responsabilidades de cada categoria dos profissionais de saúde, estabelecendo seus deveres e proibições. No campo das discussões da ética profissional, não há grandes diferenças entre as palavras, ética, moral e deontologia, pois todas se referem diretamente ao comportamento humano, com apenas algumas características diferentes. Ética Entendeu-se e ainda considera-se “ética”, além das considerações expostas, como o enfoque dos aspectos diretamente relacionados à honestidade profissional, como justiça, lealdade, prudência e outros. Moral À moral atribui-se, às vezes, conotação sobrenatural, sendo frequentemente confundida com a religião. Deontologia À Deontologia atribui-se a preocupação mais direta com os deveres de um grupo profissional em relação às suas atribuições e responsabilidades profissionais, que são estabelecidas pelos Conselhos Federais e Regionais de cada categoria. A fiscalização do exercício profissional é uma função do Estado, mas não é assumida diretamente por ele, institui autarquias vinculadas ao poder público com essa finalidade. Humanização e os profissionais de saúde A gênese da palavra “humanização” advém do conceito de humanismo, que, por sua vez, deriva do latim humanus. Ao longo da história da humanidade, a concepção de humanismo foi sendo reconstruída, considerando as diferentes formas e meios pelos quais o homem se posicionava nas suas relações com o outro e com o meio. A história da inserção da humanização como política nacional inicia-se a partir do ano 2000, com as experiências positivas apontadas, isoladamente, por coletivos de trabalhadores de um SUS, tendo sido discutidas, principalmente, na XI Conferência Nacional de Saúde. São elas: O Programa Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar; O Programa de Humanização do Pré-Natal ao Nascimento; O método Mãe Canguru; e As estratégias de Acreditação Hospitalar. Transplante de órgãos e tecidos Segundo o dicionário on-line Dicio, “transplante” significa: “Operação cirúrgica que consiste na implantação no corpo humano (ou dos animais) de um órgão extraído de outro ser humano (ou animal). A mesma operação em que se usa tecido colhido do próprio indivíduo”. Quando falamos de transplantes, devemos atentar para os tipos e as particularidades de cada caso: Xenotransplante Realizado com órgãos e tecidos de outras espécies de animais. Esse tipo de transplante ainda está em estudo por conta dos fatores de rejeição. Alotransplante intervivos Quando um transplante é realizado com órgão doado por doador vivo. Por exemplo, transplante de um dos pulmões. Alotransplante de doador falecido Quando o transplante é realizado com órgão de doador falecido. Por exemplo, transplante do coração. No Brasil, essa lista é única e cadastrada por estados e regiões de acordo com a necessidade e a gravidade do receptor. Assim se forma o banco do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Para cada tipo de órgão (coração, rim, pulmão) a ser transplantado, é gerada uma lista diferente. É importante destacar que o órgão é doado para o primeiro da lista do SNT que seja compatível e dê o consentimento por escrito; em caso de ser juridicamente incapaz,o consentimento será manifestado pelo representante legal. Não pode ser feito transplante sem o receptor estar na lista e a família não pode direcionar para quem vai aquela doação. A seguir, veja o passo a passo dos transplantes. Primeiro passo O hospital notifica a central de transplantes sobre um paciente com morte encefálica ou parada cardiorrespiratória. Segundo passo A central de transplante pede confirmação do diagnóstico de morte encefálica e faz os testes de compatibilidade entre o doador e os principais receptores. Terceiro passo Quando há mais de um receptor compatível, a decisão de quem receberá o órgão passa por critérios como tempo de espera e urgência do procedimento. Quarto passo A central de transplante emite uma lista de potenciais receptores para cada órgão e comunica os hospitais. Quinto passo A equipe de transplante junto com a central de transplante adotam as medidas necessárias para viabilizar a retirada dos órgãos (meio de transporte, cirurgião, pessoal de apoio etc.). Sexto passo Os órgãos são retirados do doador e transportados até o receptor. Sétimo passo Por fim, neste último passo, o receptor recebe os órgãos e o transplante é realizado Os transplantes podem ser realizados tanto em instituições públicas quanto em privadas , desde que tenham equipe treinada e certificada para a realização do transplante, bem como cadastro e certificado da instituição hospitalar. O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) foi criado pelo Decreto nº 9.175 de 18 de outubro de 2017. É formado por diferentes órgãos: o Ministério da Saúde (MS); as secretarias de saúde dos estados e municípios; os centros nacionais e estaduais de transplantes; as estruturas especializadas para a procura e a doação de órgão, tecidos e células; as estruturas de processamento para preservação dos órgãos; as redes de serviços auxiliares específicos para o transplante; e os estabelecimentos e as equipes especializadas que realizam o transplante. O SNT é responsável pela regulamentação, pelo controle e pelo monitoramento de todo o processo de doações e transplantes realizados no país. Tem como objetivos os processos de doação, que só são atingidos com as ações conjuntas de promoção da doação, logística, autorização e renovação das equipes e hospitais para a realização de transplantes, captação de órgãos e acompanhamento dos pacientes transplantados. As equipes também devem ser constantemente treinadas e capacitadas. Legislações sobre os transplantes de órgãos e tecidos no Brasil A Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, serve como base legal até hoje para a realização de transplantes de órgãos e tecidos. No entanto, ao longo dos anos, foram necessárias algumas alterações na legislação para melhorar a qualidade e a segurança dos transplantes. A Lei nº 9.434/1997, por exemplo, autorizava que qualquer pessoa juridicamente capaz poderia doar seus órgãos duplos, mas de forma gratuita e sem prejuízos ao doador. Essa questão levantava um grande debate bioético, pois poderia incentivar a comercialização de órgãos. Imagine a seguinte situação: uma criança de 2 anos de idade, filha de pais ricos, que precisasse de transplante de rim. Se não houvesse nenhum parente compatível, essa família poderia oferecer dinheiro pelo órgão de uma criança de uma família que necessitasse de dinheiro. Doação de órgãos A doação de órgãos é a ação de doar partes ou totalidade dos órgãos e tecidos de uma pessoa, o doador (vivo ou morto), para serem utilizados pelo receptor (pessoa que recebe) no tratamento do seu problema de saúde. Tanto o doador como o receptor têm direitos fundamentais: o direito à vida, à formação dos direitos de personalidade, à integridade física e a seu próprio corpo. Os direitos fundamentais são a base para todos os outros direitos dos indivíduos. A legislação define dois tipos de doadores: Doador vivo Pessoa maior de idade e juridicamente capaz, saudável e que concorde com a doação, desde que não prejudique sua própria saúde. Podem ser doadores vivos os parentes até o quarto grau e os cônjuges. Não parentes, só com autorização judicial, exceto para medula óssea. Os órgãos que podem ser doados são: um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea, parte dos pulmões. Doador falecido Pessoa com diagnóstico de morte encefálica ou com morte causada por parada cardiorrespiratória. O doador falecido pode doar: rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado, intestino e tecidos (córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e artérias). No entanto, como veremos, o órgão doado depende do tipo de morte. Em ambos os casos, é necessária a autorização prévia, já que a doação é um ato voluntário e sem fins lucrativos. Entretanto, o doador vivo ou seu representante legal pode a qualquer momento, antes da doação, decidir não doar. No caso do transplante de doador falecido, este deve deixar sua vontade expressa à família, a qual deve realizar a autorização, uma vez que no Brasil o desejo após a morte deve ser confirmado pela família. Morte encefálica: Ocorre quando há a perda irreversível e completa das funções encefálicas cerebrais, ou seja, as funções do córtex cerebral e do tronco encefálico, com inevitável parada cardíaca e, assim, a morte do indivíduo. Inicialmente, mesmo detectada a morte encefálica, ainda pode haver batimentos cardíacos, mas como a respiração acontece apenas com auxílio do ventilador mecânico, o coração bate apenas por poucas horas. O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado pela Resolução nº 2.173, de 23 de novembro de 2017, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Os critérios de morte encefálica são rígidos para evitar erros e garantir uma doação segura. A legislação define três pré-requisitos para a constatação de morte encefálica: Coma com causa conhecida e irreversível. Ausência de hipotermia, hipotensão ou distúrbio metabólico grave. Exclusão de intoxicação exógena ou efeito de medicamentos psicotrópicos. Em outras palavras, o paciente deve estar em coma e não responder a estímulos externos nem ter reflexos, além de apresentar apneia (parar de respirar). A constatação de morte encefálica deve ser feita por dois médicos com capacitação específica e que não façam parte da equipe de remoção e de transplante, observando o protocolo estabelecido que define critérios precisos, padronizados e passíveis de serem realizados em todo o território nacional. Os critérios para identificar a morte cerebral ou encefálica são rígidos — são necessários dois exames clínicos com intervalo mínimo de uma hora. Doação de sangue Para a realização da doação de sangue, existem alguns critérios específicos a serem seguidos. A Portaria nº 158/2016 e a RDC 399/2020 eliminam a restrição de doação de sangue por homens que fizeram sexo com outros homens e/ou com suas parceiras sexuais. Ainda, a Portaria de Consolidação nº 5/2017, a partir da página 366, traz uma lista completa dos critérios que impedem temporariamente ou definitivamente a doação. Em relação aos transplantes de medula óssea, os dados dos receptores e doadores são cadastrados em um banco chamado Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Normalmente, o cadastro é feito nos serviços especializados de hemoterapia. Por exemplo, no Rio de Janeiro, é feito no Hemorio e no INCA. Doação de células-tronco Outro tipo de doação que vem crescendo no país é a de células-tronco que são ou retiradas do cordão umbilical do recém-nascido ou obtidas de embriões a partir da fertilização in vitro. As células-tronco surgem no ser humano ainda na fase embrionária, previamente ao nascimento, e são células primordiais responsáveis pela criação e renovação constante de órgãos e sistemas. A Lei nº 11.105/2005 define que se deve ter a autorização dos genitores paraa utilização das células-tronco embrionárias em pesquisas laboratoriais e terapias. Além disso, elas devem ser doadas e nunca comercializadas. Os embriões doados devem ser inviáveis e estar congelados há três anos ou mais. No caso das células do cordão umbilical, podem ser utilizadas para futuros tratamentos do próprio doador. Mas atenção: as instituições que realizarem a pesquisa ou a terapia com essas células devem ter projetos aprovados por um Comitê de Ética. Aspectos bioéticos do transplante de órgãos e tecidos As questões éticas e bioéticas do transplante de órgãos e tecidos dependem também de fatores pessoais, religiosos, socioeconômicos, afetivos e até geográficos. Reprodução humana assistida Reprodução humana assistida (RHA) é o procedimento realizado com técnicas de coleta de óvulos e espermatozoides e de fecundação em laboratório. Existem alguns tipos de técnicas de RHA: inseminação intrauterina (IIU); fertilização in vitro (FIV); FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI); doador de sêmen (inseminação de doador) ou óvulos (doação de óvulos). O status moral do embrião parece ser a questão ética mais delicada, pois é difícil estabelecer quando um embrião inicia a vida, se é na formação do embrião ou, como muitos conservadores acreditam, no momento da fecundação. Além disso, durante as técnicas de reprodução assistida, por vezes os embriões menos viáveis são eliminados, o que poderia ser considerado um aborto e, assim, ser tratado eticamente como tal. Legislações da reprodução humana assistida A Resolução do CFM nº 2.294/2021 traz alterações nas normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida e revoga a RDC nº 2.121 de 21 de setembro de 2017. Segundo a legislação, a RHA deve ser utilizada apenas para fins de procriação e as técnicas podem ser usadas para a doação de gametas femininos e masculinos, embriões e tecidos germinativos. Veja, a seguir, algumas normas para a realização dessas técnicas. Podem ser realizadas em heterossexuais, homoafetivos e transgêneros, bem como a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina. Para manter a segurança do procedimento, nas mulheres, a faixa etária permitida é de 18 a 50 anos. Pacientes com mais de 50 anos de idade só podem se submeter à RHA, salvo algumas exceções autorizadas pela equipe médica, após a realização de exames e a avaliação dos riscos de uma gestação tardia. Mulheres até 37 anos podem receber dois embriões; depois dessa idade, três embriões. No caso de gravidez múltipla, é proibido o uso de técnicas para a redução embrionária. É necessária a autorização de todos os envolvidos no processo (doadores de gametas, pais e barriga solidária) pelo consentimento livre e esclarecido. A Resolução nº 2.294 ainda define que a escolha do sexo ou de outras características da futura criança não pode ser feita, mas permite evitar doenças genéticas graves nos descendentes, critério avaliado pelo mapeamento genético. No caso de confirmação, os embriões podem ser descartados ou encaminhados para pesquisa, mas a decisão deve estar bem documentada. Além disso, a legislação permite que a reprodução assistida post mortem seja realizada desde que haja autorização específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado. As técnicas de RHA também podem ser utilizadas com o intuito de selecionar embriões (para o tratamento com células-tronco) compatíveis com um irmão que apresenta alguma doença genética, por exemplo. Sobre a cessão temporária do útero (barriga solidária), só poderá ser realizada quando a paciente apresenta problemas uterinos que contraindiquem a gestação. Pode ser realizada também em caso de união homoafetiva ou em mulheres solteiras. Para isso, a cedente temporária do útero deve ter ao menos um filho vivo e pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até quarto grau. Outros casais precisam de autorização do CFM. A barriga de aluguel deve ser voluntária, sem caráter lucrativo ou comercial. Planejamento reprodutivo O tema reprodução humana é amplo e gera muitas controvérsias. Quando o abordamos, não podemos estudar somente a geração de um outro ser humano, mas também o desejo dos indivíduos à não concepção. Em geral, esse assunto é colocado de lado quando se realiza assistência ao planejamento reprodutivo. O planejamento reprodutivo é definido no artigo 2º da Lei nº 9.263/1996, da seguinte forma: Entende-se o planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. (LEI Nº 9.263/1996, ART. 2º) Entendemos que o direito reprodutivo é a atenção no planejamento familiar, devendo considerar o contexto de vida de cada pessoa e o direito de todos de optar pela reprodução sem discriminação, coerção ou violência. Nesse sentido, todos os serviços de saúde deveriam oferecer: Ações educativas individuais ao casal e em grupo. Acesso a informações sobre os meios, os métodos e as técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade que não comprometam a vida e a saúde das pessoas e que garantam direitos iguais para a mulher e para o homem, num contexto de escolha livre e informada. Profissionais de saúde que conheçam os métodos contraceptivos, para melhor prestar assistência aos cidadãos. Informação sobre as diferentes opções de métodos anticoncepcionais para todas as etapas da vida reprodutiva, de modo que homens e mulheres pudessem ter a possibilidade de escolher o método de anticoncepção mais apropriado às suas necessidades e circunstâncias de vida. Os métodos contraceptivos são divididos em métodos temporários e definitivos. Métodos temporários Os métodos contraceptivos temporários podem ser reversíveis, ou seja, a qualquer momento a mulher pode interromper seu uso para engravidar. Métodos definitivos Os métodos contraceptivos definitivos impedem a gravidez, ou seja, realizam a esterilização. Epidemia e pandemia: principais conceitos Em 1947, a Organização Mundial da Saúde definiu saúde como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (SEGRE; FERRAZ, 1997). O termo “epidemiologia” deriva do grego (epi: sobre; demo: população; logos: estudo) e significa “estudo sobre a população”. Veja, a seguir, como a epidemiologia define epidemia, pandemia, surto e endemia. Histórico das pandemias no mundo PESTE DO EGITO (430 A.C.) PESTE ANTONINA ( 165-180) PESTE DE JUSTINIANO (541 -544) PESTE NEGRA (1300) VERIOLA (1520) GRIPE ESPANHOLA ( 1918- 1920) GRIPE SUÍNA ( 2009-2010) COVID-19 Notificação dos agravos e manejo em casos de epidemia/pandemia Atualmente, no Brasil existe uma lista de doenças que devem ser notificadas ao Ministério da Saúde que, por sua vez, trabalha com diversos sistemas que geram dados sobre a saúde. No contexto de epidemia ou pandemia, dois sistemas ganham destaque: o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). O Sinan registra as doenças e os agravos que podem ser transmitidos e gerar surtos, epidemia e pandemia se não forem controlados. Eles devem ser informados a partir de uma ficha de notificação disponível em todas as unidades de saúde públicas e privadas. Veja a seguir como funciona o registro no Sinan. A ficha deve ser preenchida pelo profissional de saúde que atender o paciente portador da doença (suspeita ou confirmada). É um dever ético e moral realizar essa notificação. O não preenchimento dessa ficha pode acarretar em problema de saúde pública e o profissional pode responder a processo por essa omissão. Os dados digitados no sistema geram um banco de dados em nível municipal,estadual e federal. Com esses números, planos estratégicos de ação são traçados pelo poder público de acordo com a gravidade, a incidência, a prevalência e o potencial de morbimortalidade da doença. Um exemplo bem atual de protocolo ocorre na pandemia da covid-19. As notificações ao Sinan são feitas após o diagnóstico ou a suspeita de contaminação pelo vírus. Entretanto, caso a suspeita de infecção seja negativa, a ficha de notificação deve ser finalizada. Juntamente com os dados do Sinan são verificados os dados do SIM. Os dados conjuntos definem a necessidade de medidas de isolamento, como o lockdown, em cidades com alta incidência de casos de covid-19. Questões bioéticas na pandemia/epidemia Várias opções de tratamentos apareciam como alternativas de cura, como a hidroxicloroquina, ivermectina e o anita, medicamentos utilizados para outras enfermidades e que para o coronavírus ainda não tinham eficácia garantida. Ao longo da pandemia, e depois da análise de vários estudos, a OMS comprovou a não eficácia no tratamento da doença com essas medicações. Durante uma pandemia ou epidemia, conflitos bioéticos e éticos são vivenciados pelos profissionais da saúde. Com a covid-19, os conflitos chegaram a extremos como estes: “Tenho apenas uma vaga no CTI e dois pacientes infectados graves, um jovem e outro idoso, é correto eu dar a preferência ao jovem, uma vez que no Brasil temos uma legislação que prioriza o atendimento ao idoso?” “Como escolher entre a vida e a morte de uma pessoa, todas as pessoas são iguais, como priorizar alguém?” “É correto na iminência da morte ou em pacientes graves tentar qualquer alternativa de tratamento sem que tenha eficácia garantida pela ciência?” Um outro grande problema enfrentado no combate da pandemia da covid-19 é a conscientização de cada indivíduo sobre as medidas de biossegurança e os conceitos éticos sobre respeito ao próximo. Sabemos que o não cumprimento das medidas de biossegurança pela população influencia diretamente no aumento dos números de casos positivos. Deve encontrar-se um equilíbrio entre os princípios da autonomia e o bem-estar coletivo sempre pautado na ética. Primeiramente, os governos devem incentivar a vacinação voluntária, mostrando os benefícios e a segurança da vacinação, para depois pensar em medidas mais rígidas, se soluções não forem encontradas. Segundo a OPAS (2021, p. 6), “Semelhante a outras normas de saúde pública, as decisões sobre a vacinação obrigatória devem ser apoiadas pelas melhores evidências disponíveis, e devem ser tomadas por autoridades de saúde pública legítimas de uma maneira que seja transparente, justa, não discriminatória e que envolva a contribuição das partes afetadas”. Atendimento à pessoa com deficiência (PcD) Pessoa com deficiência Ao longo do século XX, tivemos mudanças importantes no desenvolvimento dos direitos das pessoas com deficiência. A maior delas foi a inclusão social, que se tornou lei e política pública, permitindo a diminuição do abismo existente e a inclusão desse grupo na sociedade. No entanto, ainda vivemos em uma sociedade com grande desigualdade social, discriminatória e excludente, que torna esse grupo vulnerável e dificulta a sua total inserção. Deficiências atribuídas à PcD As deficiências devem ser diagnosticadas por médicos especialistas e com emissão de laudo. Veja, a seguir, os tipo de deficiências que podem ser atribuídas à PcD. Legislações relacionadas à PcD A primeira legislação a se referir à deficiência foi a Constituição Federal de 1988, que trouxe direitos específicos às PcD, mas apenas para algumas deficiências, como direito de prioridade em filas e aposentadoria especial e abordava mais as deficiências físicas, auditivas e visuais. Segundo a Constituição, é dever das três esferas de governo garantir os direitos das pessoas com deficiência. Com a Lei nº 13.146, alterou-se a definição de quem são os indivíduos classificados com deficiência, bem como os seus direitos. A partir daí se iniciou o movimento de conscientização da sociedade e dos profissionais que lidam diretamente com a PcD, para que ajam com ética e façam cumprir seus direitos. Para a aplicação dessa lei, devemos considerar algumas situações, a saber: A Lei nº 13.146/2015 ainda trata do respeito aos direitos civis da PcD, que estão definidos no artigo 6º: I. casar-se e constituir união estável; II. exercer direitos sexuais e reprodutivos; III. exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV. conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V. exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI. exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. (LEI Nº 13.146/2015, ART. 6º) Questões éticas relacionadas ao atendimento da PcD A garantia de direitos de dignidade e cidadania no campo das políticas públicas é fundamental tanto para a prevenção de incapacidades como para a promoção da saúde e para a ampliação da autonomia e das possibilidades de inclusão e reabilitação, devendo ocupar a preocupação central na articulação dos cuidados. Precisamos também resgatar as diretrizes em que se baseiam o Sistema Único de Saúde (SUS): a integralidade e a equidade. Veja a seguir. Integralidade É preciso ver o indivíduo como um todo. Por exemplo, a pessoa com deficiência física não precisa apenas de cadeira de rodas, andador, muleta, prótese ou órtese, ele requer um atendimento integral — e os problemas psicológicos advindos de sua situação entram nesse quesito. Equidade Baseia-se em tratar o diferente de forma diferente. Por exemplo, nem todos as pessoas com deficiência auditiva precisam de implantes ou aparelhos de audição, ou seja, o indivíduo deve ser assistido de acordo com a necessidade particular.
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