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Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) Conceito: afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado anormal do conteúdo gastroduodenal para esôfago e/ou órgãos adjacentes, acarretando um espectro variável de sintomas esofágicos e/ou extraesofágicos, associados ou não a lesões teciduais. Dispepsia: um complexo sintomático de dor ou desconforto epigástrico que se acredite que tem origem na via digestiva superior e pode incluir quaisquer dos sintomas seguintes: Azia, regurgitação ácida (ou regurgitação de qualquer outro tipo), eructações excessivas, aumento da distensão abdominal, náuseas, sensação de digestão anormal/lenta ou saciedade precoce. Introdução: Prevalência mundial estimada de 8% a 33%. BRASIL: 11,9% da população (20 milhões). Todas as faixas etárias e ambos os sexos. Patogênese Barreira antirrefluxo – junção esôfago gástrica (JEG): é um ponto de contração no esfíncter esofágico inferior, tem um tônus basal que o mantem fechado e, à medida que o alimento chega, ele dilata e relaxa para comportar o alimento. Mecanismos de refluxo: - Relaxamento transitório esfíncter esofágico inferior (EEI) -> momento de passagem do alimento. - Relaxamento do EEI induzido pela deglutição. - Hipotensão do EEI (relaxamento) permite que o alimento passe. Logo depois do alimento passar, esse EEI volta a posição inicial fechado para evitar que o alimento retorne. Depuração esofágica de ácido: ➔ Depuração de volume: A peristalse empurra o volume de ácido para baixo. ➔ Depuração ácida As secreções das glândulas salivares e esofágicas funcionam como um tampão para depurar quimicamente esse ácido. Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Esses dois mecanismos em bom funcionamento não teremos refluxo, mas se um deles falha, começamos a ter uma exposição crônica do esôfago a um conteúdo ácido. No entanto, o tecido esofágico não tem preparo para receber ácidos, então a persistência desse problema trará, a longo prazo, a doença do refluxo. Hérnia de hiato É um componente importante na DRGE, mas nem sempre está presente, porém quando está, é um fator agravante, O hiato diafragmático onde fica ancorado a JGE por uma fraqueza nessa parede, permite que o estômago suba, formando uma bolsa ácida. Desse modo, o refluxo se torna muito mais propício para ocorrer. A hérnia de hiato é uma causa frequente de refluxo. Resistência do tecido Existe uma defesa epitelial antirrefluxo: ➔ Estrutural Epitélio escamoso não queratinizado bem justo, “apertado”. Complexos juncionais intercelulares firmes. ➔ Funcional Tamponamento; Eliminação de H+. Fatores gástricos: - Esvaziamento gástrico lento - Composição do RGE - Aumento da pressão intra- abdominal (gestação/obesidade) Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Fatores que favorecem o refluxo: A nível supraesofágico: xerostomia. Corpo do esôfago: problemas de hipomotilidade, peristalse fragmentada, motilidade inefetiva, junções debilitadas. Junção gastroesofágica: hérnia de hiato Estômago: retardo no esvaziamento, hipersecreção de ácidos. Fatores que evitam o refluxo: A nível supraesofágico: boa produção de saliva. Corpo esofágico: peristalse e junções intactas. Estômago: esvaziamento normal. Manifestações Clínicas: Típicas: - Pirose - Regurgitação ácida Sintomas por 2 ou mais dias por semana por um período mínimo de 4-8 semanas. A intensidade e a frequência são fracas preditoras da presença ou da gravidade da esofagite. Atípicas: - Tosse crônica, asma (exacerba quadros asmáticos), bronquiectasia, pneumonia recorrente (microaspiração do conteúdo que ascende). - Halitose, erosão dental, aftas. - Rouquidão, pigarro, sinusite crônica. - Dor torácida não cardíaca (mas pode simular uma doe cardíaca), globus faríngeo (sensação de bolo alimentar). As manifestações típicas ajudam no diagnóstico principal, enquanto as atípicas ajudam no diferencial. Complicações: Esofagite erosiva: ulcerações no esôfago em consequência dessa exposição crônica. Esôfago de Barret: metaplasia/mudança do tipo de célula no tecido esofagiano e surgem células semelhantes às encontradas na mucusa intestinal. É um fator de risco para adenocarcinoma. Adenocarcinoma esofágico Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Estenoses pépticas: pontos de estenose por conta da agressão ácida provoca a fibrose do tecido e pontos de estreitamento. Sinais de alarme: - Disfagia, odinofagia, dor persistente, sintomas bronquiais recorrentes, pneumonia aspirativa, disfonia, tosse recorrente ou persistente, hemorragia gastrointestinal, náuseas e/ou vômitos frequentes, anemia ferropriva, perda ponderal não intencional, linfadenopadia, tumoração epigástrica, histórico familiar de adenocarcinoma esofágico ou gástrico (1º grau), sintomas atípicos de início recente entre os 45-55 anos. Manejo do paciente: O diagnóstico normalmente é clínico, através na observação dos sintomas típicos. Paciente com tosse + regurgitação por dois ou mais dias de 4-8 semanas é um forte candidato a DRGE. A maioria dos sinais de alarme são sintomas atípicos, então é preciso ficar atento a presença deles. O paciente apresentando sintomas típicos será submetido a uma terapia empírica de supressão ácida com IBP (inibidores de bomba de prótons). IBP: omeprazol, pantoprazol, etc. Inicia a terapia com uma dose de 20gm, uma vez ao dia, pela manhâ, idealmente 30 minutos antes da primeira refeição. A terapia tem duração de 8 a 12 semanas. Além da terapia medicamentosa o paciente deve adotar as medidas comportamentais antirrefluxo (alimetação, elevação da cabeceira, tabagismo). Caso o paciente apresente refratariedade ao IBP, após esse período, deve-se requisitar a Endoscopia Digestiva Alta (EDA). A EDA não deve ser indicada para todos, recomenda-se para pacientes com sintomas atípicos, com sinais de alarme e fatores de risco para Esôfago de Barret e refratários ao IBP. Após a EDA se for confirmado a DRGE, inicia o tratamento medicamentoso e comportamental. Caso contrário, se não for comprovado, encaminha para os testes de monitorização do refluxo ambulatorial EMN. Se na terapia empírica o paciente apresentou melhora, o diagnóstico está feito. Endoscopia digestiva alta Identifica complicações; Identifica a presença e o grau de esofagite. EDA normal não exclui o diagnóstico de DRGE, a EDA alterada não confirma DRGE. Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Manejo ambulatorial: - pHmetria esofágica convencional - pHmetria sem fio - Impedâncio-pHmetria Se houver falha total do tratamento com IBP, deve ser suspenso pelo menos 1 semana antes de fazer a monitorização do pH de 25h (se necessário, pode usar antiácido de resgate) para avaliar a persistência do refluxo ácido. Se os sintomas do refluxo refratário responderem parcialmente, realizar monitorização do pH de 25h (com ou sem monitorização da impedância esofágica) e seguir administrando IBP, para avaliar a persistência do refluxo ácido apesar do tratamento. Ocasionalmente, pode ser necessária monitorização do pH de 24h, com monitorização da impedância esofágica, com e sem tratamento com IBP. ➔ pHmetria esofágica convencional: identificar os portadores de DRGE sem esofagite. Documentar e caracterizar o padrão de refluxo gastroesofágico: ortostático, supino ou combinado. Estudar a participação do refluxo ácido nas manifestações atípicas do refluxo. Estudar a recidiva dos sintomas do pós-operatório. Estabelecer a correlação entre os sintomas relatados pelo paciente e os episódios de refluxo ácido.Limitações: intolerância da sonda nasal de pHmetria, não avalia a ocorrência de refluxo não ácido. Importância: 2/3 são ácidos 1/3 não ácidos: maior frequência no período pós-prandial. 40% dos pacientes com DRGE erosiva e 60% DRGE não erosiva apresentam persistência dos sintomas apesar de estarem recebendo doses adequadas de IBP. ➔ Impedâncio-pHmetria Padrão ouro; Amplia a capacidade de detecção da pHmetria convencional para todos os tipos de refluxo; Trânsito esofágico: líquido, gases ou misto; Direção do fluxo; Pode ser ácido, fracamente ácido e alcalino. Indicações: Persistência dos sintomas mesmo na vigência de terapia antisecretora. Suspeita clínica ou endoscópica de DRGE não comprovada por pHmetria convencional. Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Pacientes com sintomas de DRGE e em situação de acloridria, por exemplo, gastrite atrófica. Pacientes com sintomas de DRGE pós gastrectomia. Nathália Machado – Tut 01 – 2020.2 Terapia à esquerda para o paciente que não tem confirmado o H. pylori e, à direita, para aqueles que tem a confirmação do H. pylori. Manejo ambulatorial:
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