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ESCOLA FIOCRUZ DE GOVERNO-EFG/GEREB/FIOCRUZ PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA COM ÊNFASE EM SAÚDE DA POPULAÇÃO DO CAMPO - RMSFSPC Residente: Gustavo Guazzelli Nanni Profissão: Psicólogo NAE: UBS: Data: 21/03/2021 Resenha crítica dos filmes “O veneno está na mesa” (I e II) Os filmes “O veneno está na mesa” (I e II) procuram apresentar ao espectador que nossos alimentos estão contaminados por agrotóxicos. Vão além, porque a produção de alimentos vai além do produto em si. Estão no ar, na água, nos alimentos processados, em nosso sangue, em nosso adoecimento, no sofrimento das famílias, na destruição da terra. Através de uma narrativa que incomoda e faz sentir a dimensão do problema, também apresentam alternativas reais – agroecologia, agroflorestal, produção orgânica – ao modelo hegemônico da agroindústria, grande responsável pelas intoxicações por agrotóxicos. De uma forma geral, os agrotóxicos são produtos derivados de experimentos desenvolvidos na Alemanha nazista, enquanto estratégia de aniquilamento dos povos-alvos do Reich nos campos de concentração. O uso desta tecnologia enquanto equipamento de guerra perdurou ao longo dos anos e seria incorporado à agricultura com o advento da Revolução Verde nas décadas de 1960-1970, resultando no que hoje chamamos do modelo da agricultura convencional. A Revolução Verde foi impulsionada por governos, organismos internacionais, universidades, centros de pesquisas agropecuárias e pelas empresas de insumos (sementes, fertilizante e agrotóxicos) e financiada pelo Banco Mundial e o Banco Interamericano. Têm seus pilares na agroquímica, na mecanização e na manipulação genética[footnoteRef:1]. É, em síntese, a intensificação da penetração capitalista no campo, com o objetivo da maximização do lucro através da manipulação irresponsável da natureza. [1: ZAMBERLAM, Jurandir; FRONCHETI, Alceu. Agroecologia: caminho de preservação do agricultor e do meio ambiente. Editora Vozes, 2012.] Os filmes revelam uma outra dimensão do significado desta manobra: uma ruptura que marca um processo de destruição dos saberes ancestrais de manejo da terra. Existe um outro episódio histórico que serve de analogia a este acontecimento: a queimada proposital da biblioteca de Córdoba, região de Al-Andalus, no século XIII, pela monarquia espanhola. A queimada de bibliotecas foi um importante e recorrente método de epistemicídio - destruição de formas de conhecimento e culturas - do projeto colonial, o qual viria a ser utilizado, inclusive, na colonização das Américas[footnoteRef:2]. [2: GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 25-49, 2016.] A analogia histórica serve para evidenciar tanto a semelhança entre estes acontecimentos, quanto revelam, que métodos bastante arcaicos de colonização e dominação, continuam a existir sob uma nova roupagem, a da modernização. Todavia, é preciso estar atento e sensível as lutas que emergem das contradições do capitalismo. MST, Associação Nacional de Agroecologia e tantas outros movimentos/organizações, propõe uma alternativa a este modelo destruidor de vida: a agroecologia. Através de uma atitude de responsabilização e diálogo entre ser humano e natureza, compreendidas como interdependentes, pequenos agricultores e agricultores familiares estão impulsionando um movimento de mudança, que combina saúde e preservação numa mesma prática. É possível assim, que a conscientização encontre a transformação, de modo que nossas mãos toquem o mundo de um outro jeito e a forma pela qual olhamos o mundo através de nossos olhos também. 1
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