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Livro digital - Direitos Humanos, interseccionalidade e isolamento

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ISOLAMENTO
DIREITOS
 HUMANOS,
Interseccionalidade
e
Nivia Valença Barros
Lobelia da Silva Faceira
Josélia Ferreira dos Reis
Joice da Silva Brum
(organizadoras)
© Nivia Valença Barros, Lobelia da Silva Faceira, Joselia Ferreira dos 
Reis e Joice da Silva Brum (organização)
Gramma Livraria e Editora
Conselho Editorial: Bethania Assy, Francisco Carlos Teixeira da Silva, Geraldo 
Tadeu Monteiro, Gláucio Marafon, Ivair Reinaldim, João Cézar de Castro Rocha, 
Lúcia Helena Salgado e Silva, Maria Cláudia Maia, Maria Isabel Mendes de Almeida, 
Mirian Goldenberg e Silene de Moraes Freire.
Editor: Geraldo Tadeu Moreira Monteiro
Produção editorial e revisão: Juliana Rios
Capa e diagramação: Larissa Luz dos Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 Direitos humanos, interseccionalidade e isolamento /
 Nivia Valença Barros ... [et al.] organização. --
 1. ed. -- Rio de Janeiro : Gramma Livraria e
 Editora, 2020.
 
 Outros organizadores: Lobelia da Silva Faceira,
 Josélia Ferreira dos Reis, Joice da Silva Brum
 Bibliografia
 ISBN 978-65-86052-30-5
 
 1. Cidadania 2. Direito - Aspectos políticos, 3. Direito - Aspectos 
 sociais 4. Direitos humanos, 5. Direitos humanos - Brasil 6. Identidade 
 social, 7. Isolamento social I. Barros, Nivia Valença, II. Faceira, Lobelia 
 da Silva. III. Reis, Josélia Ferreira dos. IV. Brum, Joice da Silva
 20-46563 CDU-347.121
Índices para catálogo sistemático:
1. Direitos humanos : interseccionalidade e isolamento : Direito 347.121
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
Gramma Livraria e Editora
Rua da Quitanda, nº 67, sala 301
CEP.: 20.011-030 – Rio de Janeiro (RJ)
Tel./Fax: (21) 2224-1469
E-mail: gramma.editorarj@gmail.com
Site: www.grammaeditora.com
Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, 
constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)
 ISOLAMENTO
DIREITOS
 HUMANOS,
Interseccionalidade
e
Nivia Valença Barros
Lobelia da Silva Faceira
Josélia Ferreira dos Reis
Joice da Silva Brum
(organizadoras)
DIREITOS HUMANOS, 
INTERSECCIONALIDADE E 
ISOLAMENTO
Organização
Nivia Valença Barros 
Coordenação Editorial 
Joice da Silva Brum
Josélia Reis
Lobelia da Silva Faceira
Nivia Valença Barros
Coordenação Executiva
Ana Beatriz Quiroga
Ida Cristina Rebello Motta
Joice da Silva Brum
Josélia Reis
Karla Amaral
Lobelia da Silva Faceira
Marcelo Ricardo Prata
Rosilene Pimentel
Sandra Monica da Silva Schwarzstein
Sheila Brum
Vânia Quintão
Wilma Pessôa
Revisão
Ana Beatriz Quiroga
SUMÁRIO
PREFÁCIO............................................................................9
Vania Morales Sierra
APRESENTAÇÃO.............................................................17
Nivia Valença Barros 
Lobelia da Silva Faceira 
Josélia Reis 
Joice da Silva Brum 
- PRIMEIRA SEÇÃO - 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento: 
Os desafios no Campo Sociojurídico
 
AS (IM) POSSIBILIDADES DO SERVIÇO SOCIAL E 
DA PSICOLOGIA NO CAMPO SOCIOJURÍDICO NO 
PERÍODO PANDÊMICO..................................................29
Josélia Reis 
Sheila Brum
 
ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE PUNIÇÕES E AS 
ENTRELINHAS DA “SOCIOEDUCAÇÃO”....................55
Nivia Valença Barros 
Ida Cristina Rebello Motta 
Lobelia da Silva Faceira 
VIOLÊNCIA E PRISÃO: OS DESAFIOS DA GARANTIA 
DE DIREITOS NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO....77
Lobelia da Silva Faceira 
- SEGUNDA SEÇÃO -
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento: 
Questões Raciais e de Gênero 
VIOLÊNCIAS DE GÊNERO CONTRA MULHERES E 
MENINAS E OS AGRAVAMENTOS EM ÉPOCA DE 
ISOLAMENTO SOCIAL.................................................103
Nivia Valença Barros 
Rosilene Pimentel 
Joice da Silva Brum 
OS PROCESSOS DE ISOLAMENTO SOCIAL PARA A 
POPULAÇÃO LGBTI+ - PARA ALÉM DA PANDEMIA..129
Nivia Valença Barros 
Ana Beatriz Quiroga 
Marcelo Ricardo Prata
 
Lilian
Realce
Lilian
Realce
Lilian
Realce
Lilian
Realce
VIOLÊNCIA RACIAL NO BRASIL NO CONTEXTO DA 
PANDEMIA DE COVID-19............................................149
Wilma Pessôa 
- TERCEIRA SEÇÃO -
Direitos humanos, Interseccionalidade e Isolamento: 
Os Desafios no Âmbito do Protagonismo e 
do Trabalho Feminino
MOVIMENTO FEMINISTA, TERSECCIONALIDADES 
E AS TÁTICAS DE PROTAGONISMO..........................177
Nivia Valença Barros
Sandra Monica da Silva Schwarzstein 
Karla Amaral 
Ida Cristina Rebello Motta
 
MULHER, TRABALHO E INTERSECCIONALIDADES: 
ISOLAMENTO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE 
COVID-19.........................................................................207
Josélia Ferreira dos Reis 
Vânia Quintão 
Nivia Valença Barros 
 
APONTAMENTOS FINAIS............................................233
QUEM SOMOS.................................................................235
Lilian
Realce
Lilian
Realce
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
PREFÁCIO
direitos humanos em tempo 
de políticas pandêmicas
Vania Morales Sierra
Os direitos humanos têm sido a principal referência para as lutas contra os processos de desumanização que acompanham o avanço da agenda neoliberal e 
o progressivo desmonte das políticas sociais no país. Cons-
tituem uma referência do ponto de vista ético e legal, para a 
definição de limites à exploração econômica e a identifica-
ção de diversas formas de discriminação. Como razão e cri-
tério de moralidade, combinam simultaneamente univer-
salismo e comunitarismo, coletividades e individualidades. 
A universalidade dos direitos humanos é o que permite o 
reconhecimento da “unidade básica do humano”, na varie-
dade das culturas, na multiplicidade das raças, nas diferen-
ças de gênero, nas desigualdades de classe. Como assinalou 
Geertz (1989), a humanidade não tem substancia, e o co-
mum é o fato do humano depender da cultura para desen-
volver a individualidade, “tornar-se humano é tornar-se in-
dividual” (p. 64). As relações de dominação-subordinação, 
sociação-dessociação, guardam significados que podem ser 
apreendidos a partir da compreensão de processos históri-
cos nos quais estão imbricados os componentes estruturais 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento10
e culturais. Neste sentido, a análise dos fenômenos sociais 
torna-se mais complexa e multidimensional.
A temática dos direitos humanos só pode ser pensa-
da na consideração com os inúmeros processos e formas de 
relacionamentos nos quais se elevam o sentimento de des-
respeito e indignação social, diante de situações vivenciadas 
por indivíduos, grupos ou determinada sociedade. No exame 
de casos e de acontecimentos, a presença de fatores estru-
turais pode ser identificada em situações constitutivas da 
problemática da ordem social. Constroem-se assim conhe-
cimentos para a compreensão de “abusos”, “excessos”, viola-
ções, que permitem ultrapassar o fato e alcançar a dimensão 
normativa. Trata-se de um processo permanente de captura 
do “social”, que requer um conjunto de respostas relaciona-
das às questões que daí emergem. Neste sentido, os direitos 
humanos compreendem a comunicação desenvolvida em um 
processo cognitivo de reconhecimento de injustiças, de ava-
liações e de sobreposições, na compreensão da intersecção 
de sistemas de discriminação relacionados à raça, gênero, 
etnia etc. Na perspectiva da interseccionalidade, os direitos 
humanos não são ideologia, pois se constituem e decorrem 
da atualização de problemáticas do “social”. 
Inseridos ou não no quadro legal, os direitos hu-
manos expressam um sentido de justiça não derivado da 
representação abstrata, mas das experiências de sujeição, 
que são multiformes e multicausais. Constituem-se do mo-
vimento de coletividades organizadas na intenção de pro-
vocar uma inversão na relação abstrato/concreto, no sen-
tido que parte do concreto ao abstrato. São forças éticas 
expressas nos movimentos de reivindicação, contestação e 
denúncia. Possuemuma história e um know how específico, 
relacionado a cada área – criança e adolescente, mulheres, 
negros, indígenas, detentos etc., e por isso dependem da 
capacidade cognitiva dos atores em função do desenvolvi-
DVM
Realce
11Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
mento de competências sociais, tais como a política, a téc-
nica e a linguística. 
A luta pelos direitos humanos envolve todos os es-
paços onde as relações sociais se desenvolvem (conselhos, 
Internet, praça pública, instituições etc.). A identificação de 
cada “público” remete às trajetórias que o constituem como 
grupo social específico. Produz-se então, um repertório de 
conhecimentos e técnicas próprios do campo de ação e de 
intervenção social. Neste processo, mesmo questões da vida 
privada adquirem publicidade, gerando a renovação cons-
tante da cultura, num trabalho incessante de construção da 
própria democracia. Racismo, sexismo, xenofobia, homofo-
bia etc., remetem ao autoritarismo e ao conservadorismo 
moral, que implicam em subtrações da cidadania. Portan-
to, identidades depreciadas evocam situações vivenciadas, 
tanto no público quanto no privado, que expõem formas 
de sujeição, geradas na dinâmica dos relacionamentos so-
ciais, cujos significados atribuídos pelos atores expressam 
elementos da cultura. 
No contexto da pandemia, a sociedade foi atingida 
distintivamente em termos de classes sociais, gênero, raça, 
geração, etnia e lugar de moradia. No entanto, se a aná-
lise da questão permite identificar a variabilidade na in-
tensidade e na forma como a doença atingiu os diferentes 
grupos, a situação de um modo geral se tornou objetiva 
para maior parte da população no Brasil. Ficou evidenciado 
o sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS) diante 
de uma demanda crescente por tratamento da doença. Em 
decorrência dessa fragilidade, o isolamento social surgiu 
como uma medida primordial para minorar ou tornar ad-
ministrável os efeitos da pandemia. Tal medida, no entanto, 
tornou-se uma “patologia” e tem se mostrado um fator de 
vulnerabilidade social, um efeito perverso das medidas de 
prevenção. Vale lembrar que isolar-se significa apartar-se, 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento12
esconder-se da possibilidade de controle institucional ou 
de outros. Na perspectiva durkheimiana, o isolamento so-
cial seria um risco à sociedade, pois o enfraquecimento dos 
vínculos sociais e o afrouxamento do controle social deixa-
riam os indivíduos livres permitindo que agissem conforme 
a própria vontade, podendo, portanto, ser um fator de ano-
mia social. Neste ponto de vista, a relação entre isolamento 
e vulnerabilidade social não se resumiria a uma questão do 
ambiente privado, passando a se referir também a um pro-
blema relacionado à organização da ordem pública em tem-
po de pandemia. Esta pode ter sido uma lição importante 
para a reflexão acerca dos efeitos das mudanças em curso, 
tal como o home office, o ensino online, e todas as novas 
modalidades de confinamento em casa, onde os processos 
de individualização tendem a ser ainda mais intensificados.
No Brasil, o “social” surgiu como o problema da pan-
demia em razão das múltiplas desigualdades sociais exis-
tentes. O enfrentamento da situação tornou imprescindível 
o planejamento das formas de intervenção, pela necessida-
de de reunir medidas de vigilância epidemiológica, assis-
tência social e segurança pública. Neste sentido, superar 
os desafios trazidos com a propagação do contágio impli-
cava em ultrapassar a mera relação saúde-doença, na qual 
a saúde significa apenas ausência de doença. Enfrentar a 
pandemia implicava então em considerar a princípio as 
condições objetivas em termos desigualdade em termos de 
renda, condições de moradia e acesso às políticas sociais. 
Uma resposta do governo se mostrava urgente e a proteção 
social se fazia inevitável. 
Neste contexto, o Sistema Único de Saúde forneceu o 
alarme para a situação da propagação do contágio do novo 
coronavírus, enquanto o Sistema Único de Assistência Social 
trouxe à tona os efeitos da pandemia no cotidiano das popu-
lações em situação de vulnerabilidade total, decorrente da 
13Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
falta de recursos financeiros e de recursos de poder. Grande 
parte da população desempregada, precarizada ou que foi 
perdendo seus empregos durante a pandemia tornara-se um 
problema político inadiável. 
Da parte do governo, as respostas à pandemia têm 
sido dadas a partir de uma política pandêmica sem comando 
e sem plano de enfrentamento, e não há, até o momento, 
coordenação das ações entre os níveis de gestão federal, es-
tadual e municipal. Nas políticas sociais, a ação aparece con-
centrada sobre a transferência de uma renda mínima emer-
gencial. Por sua vez, este governo tem acentuado o risco à 
saúde, a ponto de ser denunciado no Tribunal Penal Interna-
cional, em Haia, por ter cometido genocídio contra os povos 
indígenas e, posteriormente, por crime contra a humanidade, 
somente neste ano de 2020. 
De certo modo, mesmo antes da pandemia, os direitos 
humanos já se mostravam em declínio. O neoconservadoris-
mo de inspiração americana adaptado ao Brasil com o cres-
cimento dos evangélicos na política, a influência da bancada 
ruralista e dos políticos da segurança pública, conseguiu reu-
nir na personalidade paranoica de Bolsonaro os paradoxos 
dessa fusão. Contrário a tudo que defende os direitos huma-
nos, este governo tem desafiado as orientações da Organi-
zação Mundial de Saúde e chegou a ser considerada a pior 
gestão do mundo na pandemia, pelo jornal Washington Post1. 
A confirmação veio nos dados do Índice de Percepção da De-
mocracia, coletados no período entre 20 de abril e 3 de junho, 
que situaram o Brasil na última posição no ranking mundial 
de avaliação das respostas do governo à pandemia2. 
1 THE WASHINGTON POST. Leaders risk lives by minimizing the coro-
navirus. Bolsonaro is the worst. 14/04/2020.
2 FREY, João. Governo Bolsonaro tem a pior avaliação mundial de enfren-
tamento à covid-19. Congresso em Foco. 17/06/2020.
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento14
Em termos de gestão das políticas públicas, Jair Bolso-
naro é incompetente, tosco, autoritário, porém um mal ne-
cessário para a direita, que o prefere no lugar de qualquer 
representante da esquerda. É isso que o transforma no Mito. 
Ele ainda representa a possibilidade de vitória nas eleições 
e, portanto, de realização dos interesses do capital contra os 
limites impostos pelos direitos humanos. Ou seja, o enfra-
quecimento dos direitos humanos exprime a voracidade da 
acumulação do capital, na sua ânsia de romper de vez o pac-
to da socialdemocracia, que tentava enquadrar no direito as 
condições de acumulação capitalista. 
Durante a pandemia, o Banco Central liberou os com-
pulsórios que deveriam ser impostos aos bancos no valor de 
R$ 1,216 trilhão, o equivalente a 16,7% do PIB3. Dados da 
ONG Oxfam revelaram que 42 bilionários brasileiros ganha-
ram 34 bilhões de dólares durante a pandemia, acumulando 
cerca de R$ 820 bilhões4. Observa-se, com isso, que enquanto 
os trabalhadores estão perdendo seus empregos, enfrentan-
do dificuldades para obter os R$ 600,00 do governo, os mais 
ricos estão sabendo como tirar proveito da situação, acele-
rando a capacidade de ampliação do seu capital. Fica claro 
que nem todos perderam nessa pandemia.
Voltando a atenção para a dívida pública, constata-se 
que em 2019, o governo federal pagou R$ 2,8 bilhões por dia 
em juros e amortizações, um total de 38,27% dos gastos. Até 
maio de 2020, o gasto já estava em R$ 4,3 bilhões por dia, to-
talizando 566 milhões, 740 mil, 914 reais, o que corresponde 
a 48, 15% do total de gastos5. Diante desta violência, a gravi-
3 AGÊNCIA ESTADO. Com crise, Banco Central já anunciou R$ 1,2 tri-
lhão em recursos para bancos. Infomoney, 23/03/2020.
4 PLINIO, Teodoro. Oxfam: 42 bilionários brasileiros ganharam 34 bilhões 
de dólares durante a pandemia.Revista Forum, 27/07/2020. 
5 Dados da Auditoria da Dívida Cidadã. Disponível no portal eletrônico: 
https://auditoriacidada.org.br/
15Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
dade da situação de violação de direitos se acentua na medi-
da em que não resta o suficiente do orçamento público para 
o seu enfrentamento. Além disso, a defesa de uma ideologia 
“salvacionista” pentecostal, que relega tudo à esfera privada 
e aos valores cristãos da sociedade tradicional, lança os di-
reitos humanos numa disputa inglória, convertendo-se em 
risco à democracia.
Este livro chega neste contexto, tratando da temática 
dos direitos humanos, conferindo publicidade às injustiças 
que, em grande parte, recaem sobre a política de assistência 
social, porta de entrada das queixas e das necessidades so-
ciais que se tornam públicas, requerendo uma intervenção 
profissional ou mesmo uma resposta na forma de um novo 
programa. Os capítulos aqui reunidos denotam a resistência 
de um grupo de pesquisadores contra as obstruções dos ca-
nais de publicização das situações de violação de direitos so-
fridas durante a pandemia. O percurso teórico-metodológico 
de apreensão dos fenômenos sociais se orienta na perspecti-
va da interseccionalidade não apenas por integrar as dimen-
sões de raça, gênero e classe social, mas também por tratar 
da intersecção do sociojurídico e do assistencial no plano da 
intervenção social. Trata-se de um registro histórico impres-
cindível de análises acerca de determinadas violações de di-
reitos cometidas em contexto de pandemia do coronavírus 
no Brasil, constituindo-se um trabalho elaborado com o má-
ximo de primor por pesquisadores que claramente assumem 
a defesa intransigente dos direitos humanos6. 
6 Para maiores informações, ver GEERTZ, Clifford. Interpretação das 
Culturas. RJ: LTC, 1989. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
 
APRESENTAÇÃO
Nivia Valença Barros
Lobelia da Silva Faceira
Josélia Reis
Joice da Silva Brum
Este livro é fruto das reflexões e debates produzidos du-rante o Curso de Extensão “Direitos Humanos, Inter-seccionalidade e Isolamento” organizado pelo grupo 
de orientação da Profª Drª Nivia Valença Barros, compos-
to pela pós-doutoranda Profª Drª Lobelia da Silva Faceira 
(UNIRIO); pelas doutoras Josélia Reis (ex-orientanda e atual-
mente vice coordenadora de grupo de pesquisa NUDHESC - 
UFF) e Sandra Monica da Silva Schwarzstein (membro do nú-
cleo de pesquisa NUDHESC - UFF); pelas doutorandas Profª 
Wilma Pessôa (Departamento de Sociologia da UFF), Joice 
da Silva Brum, Ida Cristina Rebello Motta e pelo doutoran-
do Marcelo Ricardo Prata; pela mestra Sheila Brum (membro 
do grupo de pesquisa NUDHESC - UFF) e pelas mestran-
das Ana Beatriz Quiroga, Rosilene Pimentel, Karla Amaral 
e Vania Quintão, que encontram-se  vinculadas ao Núcleo 
de Pesquisa sobre Direitos Humanos, Sociais e Cidadania 
(NUDHESC/UFF), do Programa de Estudos Pós-Graduados 
em Política Social da Universidade Federal Fluminense. 
O curso foi realizado no período de 11 de julho a 08 de 
agosto de 2020, em ambiente virtual, de forma interativa, isto 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento18
é, os encontros não eram gravados previamente, aconteciam 
“ao vivo” e permitiam a interlocução com todos os presentes. 
Esta foi a forma que encontramos para democratizar nossos 
estudos e produções, em meio a pandemia de COVID-19, que 
obrigou muitos países no mundo a manter sua população em 
isolamento. No Brasil, o isolamento devido à pandemia ini-
ciou-se em março e ocorreu em contextos específicos: mui-
tas crises políticas, com a negação das questões científicas e 
médicas por parte do governo federal e aliados; escândalos 
de desvios de verbas da área da saúde; pressões para que a 
população voltasse aos locais de trabalho sem, contudo, ha-
ver uma política para garantir esse retorno; obrigatoriedade 
do trabalho remoto (realizados nas próprias residências) sem 
o devido preparo; alto índice de mortalidade, principalmente, 
da população mais pobre; aumento da violência doméstica; 
desemprego; demora na concessão do auxílio governamental 
para a população pobre; inadequação no processo de sociabili-
dade de crianças e adolescentes (educação e demais atividades 
de participação social); isolamento sem acompanhamento de 
proteção social de muitos idosos. Estes, entre outros contextos, 
fizeram parte de uma conjuntura de instabilidade, angústia e 
dor emocional. Diante deste quadro, a realização deste curso 
foi um ato de resistência e de construção de pontes e saberes.
Assim, a partir da necessidade de pensar com urgên-
cia os desafios postos pela pandemia, nós, profissionais, pes-
quisadores e acadêmicos de diversas áreas de atuação, ana-
lisamos, a partir de inserções variadas no campo da política 
social, os desafios na perspectiva da garantia de direitos hu-
manos e sociais frente aos impactos produzidos pela pande-
mia de COVID-19.
Os capítulos que compõem a coletânea mantêm como 
fio condutor a concepção de Direitos Humanos e Intersec-
cionalidade, sendo relevante conceituar brevemente estas 
categorias teóricas.
19Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
Os direitos humanos consistem em direitos universais 
garantidos a todo e qualquer indivíduo independentemente 
de sua classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou posicio-
namento político. Segundo a Organização das Nações Unidas 
(ONU), os direitos humanos são “garantias jurídicas univer-
sais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões 
dos governos que atentem contra a dignidade humana”. São 
exemplos de direitos humanos o direito à vida, o direito à 
integridade física, o direito à dignidade, entre outros.
Os direitos humanos são garantias históricas, que mu-
dam ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades espe-
cíficas de cada momento, sendo organizados por cada país 
por meio de negociação com organizações como a ONU e em 
encontros e conferências internacionais.
A categoria teórica de interseccionalidade é utilizada a 
partir do conceito tratado por Kimberlé Crenshaw:
A interseccionalidade é uma conceituação do proble-
ma que busca capturar as consequências estruturais 
e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos 
da subordinação. Ela trata especificamente da forma 
pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de 
classe e outros sistemas discriminatórios criam de-
sigualdades básicas que estruturam as posições re-
lativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. 
Além disso, a interseccionalidade trata da forma 
como as ações e políticas específicas geram opres-
sões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo 
aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento 
(CRENSHAW, 2002, p. 177).
Utilizamos a interseccionalidade como uma ferramen-
ta metodológica, não somente fazendo uma referência às fe-
ministas negras, mas seguindo a direção dada de não hierar-
quizar as opressões.
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento20
Os autores, cônscios da complexidade e relevância 
do tema, não têm qualquer preocupação de esgotá-lo, mas 
de publicizar reflexões, estudos e resultados de pesquisas, 
buscando contribuir para adensar o debate sobre os Direitos 
Humanos e a interseccionalidade nos diversos campos da 
política social, dando ênfase aos sujeitos sociais.
O livro é constituído por oito capítulos divididos em 
três seções, além da apresentação, que se propõem a debater 
os desafios dos direitos humanos e sociais no cenário con-
temporâneo, destacando os impactos e agravamentos de-
sencadeados pela pandemia do COVID-19. A primeira seção 
intitula-se “Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamen-
to: Os Desafios no Campo Sociojurídico” e é constituída por 
três capítulos que apresentam o processo de intensificação 
da violação de direitos no campo sociojurídico. A segunda 
seção “Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento: 
Questões Raciais e de Gênero”é composta por três capítulos 
que apresentam debates e reflexões sobre a questão racial 
e de gênero, dando destaque para os processos de violação 
de direitos e intensificação da violência contra mulheres 
e da população LGBTI+ no contexto de isolamento social.  
A terceira seção, “Direitos Humanos, Interseccionalidade e Iso-
lamento: Os Desafios no Âmbito do Protagonismo e do Traba-
lho Feminino” é formada por dois capítulos, que apresentam 
o debate sobre os desafios do trabalho e o protagonismo fe-
minino durante o período da pandemia de COVID-19. 
21Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
PRIMEIRA SEÇÃO - DIREITOS HUMANOS, 
INTERSECCIONALIDADE E ISOLAMENTO: 
OS DESAFIOS NO CAMPO SOCIOJURÍDICO 
O primeiro capítulo, As (Im) possibilidades do Serviço 
Social e da Psicologia no Campo Sociojurídico no Período Pan-
dêmico, busca apresentar uma reflexão sobre a intervenção 
das equipes técnicas no âmbito jurídico, a partir da inserção 
profissional e em pesquisa das autoras. Discutem-se, a partir 
do contexto da pandemia de COVID-19, e do isolamento por 
ela imposto, os limites e possibilidades de contribuição do 
Serviço Social e da Psicologia para a garantia de direitos de 
um grupo particular de usuários dos serviços: pessoas que 
estão cumprindo penas e medidas restritivas de direitos. 
O segundo capítulo, Adolescência e Juventude - Puni-
ções e as Entrelinhas da Socioeducação apresenta uma reflexão 
sobre a adolescência e juventude no Brasil, com a marca per-
versa da desigualdade social, de segregação e de negligências. 
Uma sociedade patriarcal, branca, hierarquizada, misógina 
e excludente, estruturação que só recentemente encontrou 
formas de diminuir a mortalidade precocemente, na primeira 
infância, para estabelecer uma política genocida, de punição 
e de privação de liberdade na adolescência e encarceramento 
na juventude, sob o pretexto de inclusão em um processo de 
socioeducação, que ainda não se materializou. 
O terceiro capítulo, Violência e Prisão: os Desafios da 
Garantia de Direitos no Cenário Contemporâneo analisa os 
processos de produção e reprodução da violência no ce-
nário contemporâneo e os desafios da garantia de direitos 
no sistema penitenciário brasileiro. O estudo parte de uma 
análise dos avanços e contradições que a Lei de Execuções 
Penais (Leis 7.210) efetiva na perspectiva do reconhecimen-
to dos direitos da população carcerária e os desafios de sua 
consolidação na sociedade capitalista, intensificados pela 
pandemia de COVID-19.
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento22
SEGUNDA SEÇÃO - DIREITOS HUMANOS, 
INTERSECCIONALIDADE E ISOLAMENTO: 
QUESTÕES RACIAIS E DE GÊNERO 
O primeiro capítulo, Violência de Gênero Contra Mu-
lheres e Meninas e os Agravamentos em Época de Isolamento 
Social promove reflexões sobre a violência doméstica e fa-
miliar de gênero contra mulheres e meninas, o seu agra-
vamento no contexto do isolamento social e as principais 
respostas da política pública para o seu enfrentamento. 
Busca-se destacar os múltiplos fatores que permeiam o “fi-
car em casa” para mulheres e meninas evidenciando um 
preocupante aumento das situações de violência, pensan-
do-se na intersecção de diferentes discriminações que atin-
gem mulheres e meninas. O capítulo também analisa os da-
dos sobre o aumento da violência e feminicídio, os efeitos 
da diminuição da procura por serviços especializados e as 
principais respostas de políticas públicas para o enfrenta-
mento destas situações para a garantia dos direitos huma-
nos de meninas e mulheres. 
O segundo capítulo, Os processos de Isolamento Social 
para a População LGBTI+ - para Além da Pandemia apre-
senta reflexões sobre o isolamento social imposto à parcela 
significativa da população LGBTI+ em suas vivências co-
tidianas. Os autores traçam um paralelo com algumas das 
questões vividas pela população devido à pandemia causa-
da pelo coronavírus, apresentando dados estatísticos sobre 
as violências contra pessoas LGBTI+. O capítulo também 
problematiza elementos políticos e éticos que fundamen-
tam o ódio contra a comunidade LGBTI+, resultando na 
necessidade de um olhar mais atento para a compreensão 
e enfrentamento da LGBTIfobia em tempos de pandemia.  
São discutidos os efeitos do isolamento vividos e a vul-
nerabilidade da população LGBTI+, buscando, da mesma 
23Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
forma, analisar o papel do Estado e a carência de políticas 
públicas efetivas, como por exemplo, as ações dos movi-
mentos sociais LGBTI+ diante dos efeitos do isolamento. 
O terceiro capítulo Violência Racial no Brasil no Contexto 
da Pandemia de COVID-19 visa promover uma reflexão ini-
cial sobre como a pandemia impactou a violência racial no 
Brasil em seus múltiplos aspectos: históricos, sociais, eco-
nômicos, políticos, culturais, de gênero e também sobre os 
aspectos subjetivos que permeiam estes contextos. Tais re-
flexões são discutidas partir de conceitos importantes da 
análise teórica do fenômeno do racismo estrutural e de 
suas características no Brasil em relação às questões como 
classe, gênero, movimentos sociais, interseccionalidade e 
violência institucional, em especial. Nesse sentido, desta-
ca-se, em primeiro lugar, as especificidades da pandemia 
no modo como impacta a vida social, na medida em que 
impõe condições e limites aos padrões de relações sociais 
cotidianas em vários de seus aspectos, em geral, e no as-
pecto da violência, em particular. A seguir, reflete como o 
impacto da pandemia se diferencia, no Brasil, conforme os 
grupos sociais, suas condições de vida e status. Busca-se 
assim perceber a complexidade dessa relação, sua multipli-
cidade e interseccionalidade. A partir daí, debruça sobre a 
relação entre pandemia, violência e racismo, considerando 
a discussão do racismo no Brasil, suas características prin-
cipais no plano estrutural e sua manifestação institucional, 
através da violência do Estado, e, no social, como violência 
de gênero e de classe. Por fim, trata da dialética do racismo 
em tempos de pandemia e de “pandemônio”, analisando o 
papel do Estado brasileiro nas atuais políticas e práticas 
dirigidas à população negra e periférica e como elas atuam 
num contexto excepcional de controle sanitário.
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento24
TERCEIRA SEÇÃO - DIREITOS 
HUMANOS, INTERSECCIONALIDADE E 
ISOLAMENTO: OS DESAFIOS NO ÂMBITO 
DO PROTAGONISMO E DO TRABALHO 
FEMININO 
O primeiro capítulo, Movimento Feminista, Interseccio-
nalidades e as Táticas de Protagonismo apresenta reflexões 
sobre o Movimento de Mulheres e as táticas de protagonis-
mo feminino adotadas em um período de isolamento. As 
autoras destacam a importância dos movimentos sociais e 
do movimento feminista para as conquistas das mulheres e 
de seu protagonismo social. Destacam a Economia Solidária 
para as mulheres, como uma tática que surge para a geração 
de renda com possibilidade de autonomia financeira e esta-
belecimento de outros tipos de vínculos e relações de traba-
lho, bem como a organização coletiva com outras mulheres. 
As reflexões são pautadas na interseccionalidade, classe, gê-
nero e  raça e correlacionam tais contextos com o isolamento 
social imposto pela pandemia de COVID-19. 
O segundo capítulo, Mulher, Trabalho e Intersecciona-
lidades: Isolamento no Contexto da Pandemia de COVID-19 
apresenta reflexões sobre os efeitos do isolamento em tem-
pos da pandemia de COVID-19, para mulheres trabalhado-
ras que também acumulam as tarefas na esfera privada. As 
autoras se pautam na interseccionalidade - classe, raça e 
gênero, bem como sobre o papel dos movimentos feminis-
tas, procurando assim, estabelecer a compreensão sobre os 
desafios da mulher na árdua tarefa de agregar ao seu co-
tidiano múltiplas responsabilidades, nos espaços públicos 
e privados e a potencialização deste último em tempos de 
isolamento. Destaca também a diferenciação entre serviço 
doméstico e o trabalho doméstico realizado pelas emprega-das domésticas.
25Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
É possível dizer, considerando a relevante contribuição 
de cada uma das autoras e autores, que o livro aponta as 
contradições e desafios no âmbito da garantia dos direitos 
humanos e sociais de grupos e sujeitos em situação de vul-
nerabilidade social, ressaltando a intensificação de diversas 
formas de exclusão e violência, durante o período de distan-
ciamento social, ocasionado pela COVID-19.
Esperamos assim, que esta produção elaborada por 
pesquisadoras e pesquisador possa colaborar para o apro-
fundamento de outras tantas reflexões sobre as temáticas 
aqui abordadas. Destacamos que somente a vivência em um 
grupo de pesquisa tornou este livro possível.
P R I M E I R A S E Ç ÃO
Direitos humanos, 
Interseccionalidade e Isolamento: 
Os desafi os no Campo Sociojurídico
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
 
 
 
AS (IM) POSSIBILIDADES DO 
SERVIÇO SOCIAL E DA PSICOLOGIA 
NO CAMPO SOCIOJURÍDICO NO 
PERÍODO PANDÊMICO
Josélia Reis
Sheila Brum
Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as 
pessoas falarem e de seus discursos proliferarem in-
definidamente? Onde, afinal, está o perigo? 
(Michel Foucault, 2016)
O objetivo deste capítulo é a apresentação de uma re-flexão sobre a intervenção das equipes técnicas, com-postas por assistentes sociais e psicólogos, no âmbito 
jurídico, a partir da inserção profissional e em pesquisa das 
autoras, em um momento histórico específico. Discute-se, a 
partir do contexto da pandemia de COVID-19, e do isolamen-
to por ela imposto, os limites e possibilidades de contribuição 
do Serviço Social e da Psicologia para a garantia de direitos 
de um grupo particular de usuários dos serviços: pessoas que 
estão cumprindo penas e medidas restritivas de direitos. O fio 
condutor nesta trajetória é o conceito de direitos humanos 
numa perspectiva dialética, tal como nos sugere Jefferson Lee 
(2014, p.245), ao sinalizar que direitos são sempre sociais e que 
também são sempre humanos. Além disso, importante ressal-
tar que existem “dimensões dos direitos humanos estritamen-
te ligadas a dimensões jurídicas da vida social” (idem, p.277). 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento30
Assim, ao tratar das formas como a sociedade se re-
laciona com os sistemas de justiça, cuida-se de questões 
que envolvem os direitos humanos, seja para a defesa de 
direitos individuais, coletivos ou difusos, seja na condição 
de pessoa a quem foi dirigida uma sanção judicial em virtu-
de da violação das normas em uma determinada sociedade. 
A aplicação de penas e medidas alternativas, sanções em 
tese mais leves e que deveriam substituir o encarceramen-
to, demandam no Brasil, de uma forma geral, o acompa-
nhamento de Equipes Técnicas compostas por assistentes 
sociais e psicólogos. 
Inicialmente, este trabalho foi desenvolvido por pro-
fissionais do quadro do Poder Judiciário, mas vem sendo 
paulatinamente deslocado para acompanhamento pela rede 
da política de assistência e, eventualmente para a atuação de 
profissionais autônomos, contratados para avaliação pontual 
no início da execução.  Neste sentido, do ponto de vista da 
estrutura para a realização do trabalho de acompanhamento 
das pessoas em cumprimento de penas e medidas alternati-
vas, esbarra-se num primeiro limite que é a falta de estrutura 
(Sierra e Reis, 2018, p.137) acompanhada de uma demanda 
crescente, por exemplo, do trabalho de assistentes sociais, 
principalmente, cujas condições de trabalho  são, antes de 
tudo, precarizadas. 
Diante dos desafios postos, observa-se que o primeiro 
limite se dá justamente pela estrutura dos serviços. Embo-
ra esta questão não seja aprofundada neste momento, urge 
sinalizar, tal como Josélia Reis (2019) apresenta em sua tese 
de doutoramento, para que a categoria e suas instituições 
representativas e de fiscalização atentem para a sedutora ar-
madilha dos cadastros de profissionais para “trabalhar sem 
concurso para o Judiciário”. 
Por outro lado, para as equipes que integram os qua-
dros permanentes das Instituições, a tensão e a disputa do 
31Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
campo são uma constante, na medida em que as relações 
neste âmbito são marcadas por poderes institucionalmente 
constituídos e por forte hierarquia.
Pensar nas possibilidades e limites da atuação técnica 
em determinados contextos institucionais ainda é considera-
do um clichê, ou seja, algo repetido, bem conhecido. Mas, ao 
mesmo tempo, se reveste de importância na medida em que 
permite analisar conjunturas, registrar momentos históricos 
e organizar para a superação das questões que obstaculizam 
a intervenção profissional. 
Assim, neste contexto que se estrutura a presente re-
flexão sobre a atuação do Serviço Social e da Psicologia no 
âmbito jurídico, no que tange às possibilidades e limites da 
contribuição desses profissionais durante o  período de isola-
mento social,  imposto pela pandemia de COVID-19, doença 
causada pelo vírus SARS-Cov 2,  a qual  expõe e  potencializa  
desigualdades sociais produzidas pelo contexto neoliberal, 
que, em muitos casos, avilta os direitos humanos das popu-
lações mais vulneráveis,  como  os pobres, negros, encarce-
rados, dentre outros. Parte-se da atuação cotidiana, a qual 
é pensada a partir do acúmulo de reflexões realizadas em 
pesquisas articuladas com a academia.  
Um dos elementos que integram esta análise é o mal 
estar. E este encontra-se na vivência e no discurso dos usuá-
rios dos serviços, mas também se dá para os profissionais, 
uma vez que há o contato direto com as mazelas vividas 
pela população usuária e a inserção em um espaço marcado 
por uma dissimetria de poderes, com ideários positivistas. 
Desta forma, impacta tanto assistentes sociais, quanto psi-
cólogos, já que convivem diretamente neste espaço e em 
contato frequente com situações de sofrimento, muitas ve-
zes “oriundo das condições materiais/afetivas produzidas 
no contexto das desigualdades sociais da sociedade capita-
lista” (Pereira, 2010, p.164). 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento32
Pandemia, execução penal e ação profissional
A situação pandêmica tem tido como consequên-
cia uma mudança brusca e radical das relações sociais e da 
economia mundial, com graves incidências sobre a saúde 
mental da população planetária, conforme apontado por An-
tônio Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas (2020). 
E para os profissionais do campo psicossocial, trabalhadores 
do Judiciário,  aponta para um desafio no que tange a uma 
práxis que promova a garantia de direitos daqueles envolvidos 
em  conflitos judiciais, em especial  os que buscam este espaço 
por falta de acesso a benefícios previstos em lei  e os que  se 
encontram em  cumprimento de penas alternativas. 
Inseridos em um espaço de trabalho com fortes traços 
positivistas, marcado por relações de poder potencializadas 
e por uma lógica hierárquica, conforme acima apontado, 
esses profissionais precisam pensar  em formas de trabalho 
que preservem o compromisso firmado em seus Códigos 
de Ética - ambos amparados nos valores preconizados pela 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, e  que garan-
tam a prestação de um serviço de qualidade à sociedade, ain-
da que em uma situação adversa,  como a do momento, que 
impõe limites ao trabalho presencial e que impacta a rede de 
serviços das diversas políticas públicas. 
O lugar de fala das autoras é situado no Poder Judi-
ciário Federal, especificamente na esfera da Execução Penal, 
com atuação em penas e medidas alternativas, também co-
nhecidas como restritivas de direitos. No Poder Judiciário Fe-
deral, tratam-se conflitos que têm necessariamente a União 
Federal como uma das partes do processo. Assim, quando se 
fala de penas e medidas alternativas na esfera federal, tra-
ta-se de crimes cometidos com menor risco à pessoa e que 
envolvem a União, suasautarquias, empresas e fundações. 
33Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
Mas, o fato de se tratar de crimes contra a União e 
com menor risco à pessoa, não exime seus autores do estig-
ma de terem em algum momento da vida entrado em confli-
to com as leis ou de serem denominados como criminosos. 
E, por este motivo, há um desafio maior para a garantia de 
direitos destes sujeitos, na medida em que um forte conteú-
do moral, de base cristã, permeia o imaginário social, arti-
culando a ideia de pena, a ser cumprida como restauração 
por uma ação nociva à sociedade, com a penitência que faz 
do sofrimento o elemento redentor do indivíduo. Na maio-
ria dos casos, a própria pessoa que está cumprindo a pena 
e que é atravessada por ideias estigmatizantes, relaciona-
das àqueles que cometeram algum tipo de crime, vivencia 
maior dificuldade em relação à situação processual, pois se 
vê no lugar daqueles que passou a identificar como “anor-
mais”, “periculosos”...  Esta situação aponta para o que Go-
ffman (1975, p. 16) destaca sobre o indivíduo estigmatizado:
Seus sentimentos mais profundos sobre o que ele é 
podem confundir a sua sensação de ser uma “pessoa 
normal” um ser humano como qualquer outro, uma 
criatura, portanto, que merece um destino agradável 
e uma oportunidade legítima.
Observa-se, ainda, no que diz respeito aos relatos das 
pessoas em cumprimento de pena,  o medo de julgamentos 
morais e prejuízos sociais, o que leva à omissão da situação 
processual dos indivíduos com os quais convivem, ocasio-
nando a falta de suporte de pessoas próximas para o enfren-
tamento das dificuldades geradas pelo processo penal. Esta 
situação é, muitas vezes, identificada pela psicologia como 
um fator ansiogênico. A questão se complexifica quando há 
também, em alguns casos, adoecimento psíquico, os quais 
ratificam a importância de um trabalho articulado com a 
rede de assistência em saúde mental.
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento34
É importante pensar o lugar de onde se fala e o perfil 
da população usuária, em se tratando da área penal, também 
é importante ressaltar que não obstante o tipo de crime 
cometido, estes indivíduos precisam da garantia de seus 
direitos ao tempo em que se responsabilizam e respondem 
por ações que prejudicaram a comunidade em geral. 
 Desta forma, um dos principais fatores que incidem e 
causam impacto na vida das pessoas que  estão envolvidas 
em uma situação penal, acusadas do cometimento de 
um crime, é a imagem do criminoso, construída no senso 
comum, por meio da indústria cultural como aquele sujeito 
de alta periculosidade que tem como principal objetivo em 
sua relação com o grupo social, causar o mal a quem o cerca. 
Acontece que esta imagem não é só carregada de noções pré-
concebidas sobre o comportamento do criminoso, o racismo 
estrutural delineia um perfil de classe que possui importante 
recorte étnico racial a esta figura. 
O discurso oficial constrói uma narrativa onde as clas-
ses pauperizadas são vistas como perigosas e, portanto, de-
mandam controle social com vistas à manutenção da ordem, 
ainda que de forma violenta. É por este motivo que uma incur-
são policial na favela, que resulte na morte de várias pessoas, 
ainda é socialmente aceita no Brasil, embora seja criticada por 
estudiosos e organismos de defesa dos direitos humanos. Po-
demos considerar tal discurso como herança das ideias lom-
brosianas de criminoso nato que, embora bastante criticadas 
por diversos autores, deixaram forte marca no âmbito penal, 
além da atuação da medicina e da psicologia, que no século 
XX funcionaram como dispositivos fundamentais aos julga-
mentos e ofereceram elementos para o “conhecimento do cri-
minoso”, muitas vezes atribuindo graus de periculosidade às 
pessoas e dando respaldo à práticas segregacionistas.
Segundo Maria Lúcia Karam (2010) houve uma “trá-
gica aliança reforçadora dos danos, das dores e enganos 
35Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
que sustentam as nocivas ideias de punição, privação de li-
berdade, estigmatização e exclusão como suposta forma de 
controle dos comportamentos etiquetados como “crimes”. 
Cristina Rauter (2003, p. 84) chama atenção para o que de-
nomina de “exercício de futurologia”, prática relacionada 
à  avaliação do grau de periculosidade e à possibilidade de 
prever reincidências. Quanto a este aspecto, não se pode 
negligenciar a atenção crítica às demandas dirigidas aos 
profissionais no âmbito jurídico, sendo estas muitas vezes 
permeadas por ideais classificatórios e normalizantes.
Tendo como matriz norteadora os compromissos pro-
fissionais e a estrutura da política de alternativas penais, 
apontadas com grande ênfase no Manual de Gestão Para 
as Alternativas Penais (2017), elaborado pelo  Departamen-
to  Penitenciário Nacional - DEPEN (Ministério da Justiça e 
Cidadania), o papel da equipe técnica é construído na pers-
pectiva da viabilização da garantia de direitos, de forma que 
os usuários tenham  preservadas sua  cidadania, dignidade 
e liberdade. Tal garantia começa com o direito de escuta e 
com  a  identificação de interesses, habilidades e necessida-
des, para que  seja realizado um plano de trabalho singular 
com cada pessoa, o que inclui  a elaboração de um relatório 
endereçado ao juízo com sugestão de instituição e atividade 
para o cumprimento da pena alternativa, além de  encami-
nhamentos à rede de apoio e à rede de  serviços públicos.   
Conforme apontado por Patrícia Carneiro:
Para a efetivação do cumprimento das penas e me-
didas alternativas é necessária a existência de uma 
rede social de apoio. Essa rede social é constituída 
por instituições cadastradas (...) que se propõem a 
receber beneficiários para cumprimento de penas e 
medidas (CARNEIRO, 2006, p.41).
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento36
Esta é uma práxis complexa e difícil, na medida em 
que a ordem neoliberal, também inscrita no Judiciário,  está 
comprometida com exigências de celeridade, de  produção e 
impõe  restrições à escuta de um sujeito que se encontra em 
um momento singular de conflito com a lei, o qual suscita, 
para muitos,  sentimentos que esbarram no desamparo estru-
tural do humano e que são evidenciados  por meio de relatos 
relacionados:  à insegurança com o futuro,  ao  medo da per-
da da liberdade e do convívio familiar, ao receio da  privação 
de direitos e de seus meios de subsistência, vergonha perante 
os seus pares, medo da perda de credibilidade pessoal  junto 
a familiares, amigos, colegas de trabalho,  dentre outros.  Tais 
situações, em alguns casos, podem ser deflagradoras ou po-
tencializadoras de situação de adoecimento psíquico.
Assim, a rede de serviços é utilizada num duplo movi-
mento: se por um lado é preciso conhecer e articular os ser-
viços para possíveis encaminhamentos das pessoas atendidas 
na esfera criminal, por outro também se depende dos equipa-
mentos para que se possa efetivar a prestação dos serviços co-
munitários. Via de regra, a identificação e habilitação das ins-
tituições para recebimento das pessoas em cumprimento de 
penas e medidas alternativas é seguida pelo acompanhamento 
por parte dos membros da Equipe Técnica, os quais as dividem 
em grupos seguindo a lógica da referência por técnico.  
Este trabalho requer de psicólogos e assistentes sociais 
contatos telefônicos frequentes; visitas institucionais regu-
lares e, atualmente no contexto da pandemia, reuniões por 
videoconferência onde se atualizam as questões institucio-
nais; discute-se a rotina do acompanhamento para gestores 
recém-chegados e que nem sempre conhecem a existência da 
parceria com o Poder Judiciário para a prestação de serviços 
comunitários, além de estabelecerem planos individuais de 
acompanhamento para cada prestador de serviços, respei-
tando seus limites; suas capacidades e viabilizando a inclu-
37Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
são no espaço institucional por meio do desenvolvimento de 
umtrabalho que tenha relação com sua história, interesses e  
suas potencialidades. 
Há demanda, também, junto aos representantes ins-
titucionais e aos responsáveis diretos pelo acompanhamen-
to dos sujeitos em cumprimento das penas e medidas alter-
nativas de uma reflexão sobre estas serem um direito dos 
sujeitos, uma medida de responsabilização necessária para 
determinadas situações de infração penal e para a superação 
da ideia não só de periculosidade, mas de penalidade des-
vinculada da noção de penitência, esta última relacionada a 
um forte conteúdo moralista. Superar a cultura punitivista 
é um desafio de grande monta e requer dos profissionais a 
busca constante pela qualificação e o exercício intelectual, 
que não necessariamente começará na academia, mas an-
tes, na prática profissional e que pode se articular com as 
produções acadêmicas no sentido de consolidar as reflexões 
do campo sociojurídico. 
É preciso esclarecer que a demanda pela atuação 
técnica junto aos usuários no campo sociojurídico tem 
relação direta com a multiplicação de estatutos e normas 
legais tanto no que se refere ao âmbito criminal, quanto ao 
que Vania Sierra e Josélia Reis (2018, p. 142) destacam, quan-
to à proteção social. Assim, para o Serviço Social:
Por se tratar de uma profissão em que a defesa dos 
direitos da classe trabalhadora está definida no Có-
digo de Ética e no seu projeto ético-político, o debate 
sobre o Poder Judiciário e o aumento das demandas 
judiciais (...) não pode ser apenas lateral, já que o 
Direito e o Poder Judiciário estão situados no centro 
das democracias constitucionais.  
Esta demanda esbarra com situações, em alguns ca-
sos, onde o adoecimento psíquico é uma realidade, em ou-
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento38
tros há questões da saúde geral ou aspectos socioeconômi-
cos preponderantes que podem se relacionar com a situação 
processual e/ou interferir e até obstaculizar o cumprimento 
das sanções impostas. Nestes momentos, a articulação com a 
rede de serviços torna-se um imperativo.
No que tange às situações em que há um compro-
metimento da saúde mental são observados, em alguns ca-
sos, quadros de  depressão, alterações cognitivas, ansiedade, 
alterações do sono, fobias, dentre outras situações, as quais  
são motivo de articulação específica  com a rede de saúde 
mental para o cuidado e também  de maior atenção quanto 
ao acompanhamento do cumprimento da pena, principal-
mente quando a modalidade diz respeito à prestação de ser-
viços comunitários.   Quanto a este aspecto, no que tange à 
psicologia, Leila Torraca, na apresentação do livro “Temas de 
Psicologia Jurídica” (2000, p.7) aponta que: 
A psicologia adjetivada como jurídica deve dedi-
car atenção especial à saúde mental dos indivíduos 
atendidos, promovendo uma reflexão crítica dos im-
passes e interrogantes constantemente dirigidos aos 
que atuam neste âmbito. Rejeita-se o papel exclusi-
vamente pericial, influência do ideário Positivista, 
quando vislumbrava-se que desvendar segredos ou 
conteúdos psíquicos contribuiria para uma efetiva 
aplicação das leis.
Outras situações que envolvem a dinâmica do traba-
lho e que suscitam maiores desdobramentos são as pessoas 
que se encontram em situação de vulnerabilidade, deman-
dando a intervenção do Serviço Social para encaminhamen-
to de providências no sentido de orientação e articulação 
com a rede de serviços para garantia de acesso às políticas 
públicas como, por exemplo, saúde e assistência social.  
Importante ressaltar que a demanda encaminhada 
pelo Direito, conforme já sinalizado, na maioria das vezes, é 
39Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
atravessada  pelas marcas do positivismo penal - que possui 
ideais avaliativos vinculados à defesa social e às concepções 
preconceituosas em relação àqueles que cometeram crime - e 
pelo  modelo penal  retributivo que pode justificar ideais de 
vingança, ambos com consequentes riscos de negligência de 
aspectos importantes da subjetividade  e do mal-estar que 
aflige a maioria daqueles que são apenados. 
Jean Oury propõe em O Coletivo, a necessidade de se 
questionar a má utilização das hierarquias, na medida em 
que elas são esmagadoras das iniciativas. Ele aponta a neces-
sidade de os profissionais se articularem, o que é uma reco-
mendação importante para aqueles que trabalham com pes-
soas em cumprimento de pena que, embora não estejam em 
um espaço como o exemplificado por Oury, estão expostos à 
forte hierarquia institucional.
Atente-se ao fato de que um sujeito, quando classifi-
cado “criminoso”, tendo ele cometido crime ou sido injus-
tamente condenado (situação possível de acontecer), fica 
exposto ao julgamento dos demais, aos mais diversos pre-
conceitos e à exclusão. Não são raros aqueles que omitem a 
vivência criminal das pessoas de sua convivência e temem 
que as mesmas tomem conhecimento do fato de estarem 
cumprindo pena, ainda que alternativa, pela preocupação 
com a estigmatização, sendo este também um fator ansiogê-
nico. Neste sentido, para Goffman:
(...) diante da necessidade de manipulação de in-
formação sobre algo pessoal, as relações estabeleci-
das ficam comprometidas, carentes de informações 
compartilhadas e, mesmo relações recentes, podem 
constituir um perigo quanto à exposição de informa-
ções (GOFFMAN, 1975, p.98). 
Há o medo da não inserção no mercado de trabalho e 
da demissão por descoberta do processo penal. Não apenas 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento40
demissões, mas também divórcios são relatados como decor-
rentes da situação processual. De uma forma geral, a crimina-
lização gera impactos em vários âmbitos da vida de uma pes-
soa, dentre eles o familiar e o social, além de prejuízos à saúde.
Levando-se em consideração que o direito é um dis-
positivo civilizatório de grande credibilidade na sociedade 
ocidental, podemos supor que não é sem consequências psí-
quicas ser por ele classificado como criminoso. No caso da 
maioria das pessoas por nós atendidas, a vivência é de inten-
so mal-estar, conforme anteriormente mencionado. Em seus 
relatos demonstram temor de serem causa de decepção para 
pais e filhos, de serem julgados ou depreciados pelas pessoas 
de sua convivência. Há uma preocupação em defenderem a 
autoimagem, enfatizam que nunca tiveram problemas com a 
justiça, o que é fato entre a maioria, e que estar sub judice é 
motivo de constrangimento. 
No contexto de trabalho diário, as pessoas que apre-
sentam demandas jurídicas, endereçadas aos profissionais da 
equipe técnica, demonstram perplexidade e apreensão com a 
condenação jurídica, o que enfatiza a necessidade de escuta, 
principalmente quando descumprem a pena alternativa, si-
tuação em que ela pode ser convertida em prisão.
Diante da situação complexa que apresenta o Judiciá-
rio, conforme acima especificada, a práxis deve ser pauta-
da em reflexões e interrogações constantes que não se res-
trinjam às  atividades avaliativas, mas que incluam a leitura 
crítica de um contexto social que limita e/ou impede o acesso 
aos direitos, o que muitas vezes é o motivo do aumento 
da criminalidade. Um contexto que conclama o ódio e o 
recrudescimento penal, com expectativas de classificação, 
segregação e extermínio como solução para os conflitos 
sociais, onde o direito penal, muitas vezes, acaba por ratificar 
a violência policial, principalmente em seu aspecto seletivo 
e de cunho racista. 
41Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
Conforme apontado em dissertação de mestrado por 
Sheila Brum Fonseca (2018), ao falar sobre as Teorias da Pena:
A pena, enquanto resposta ao evento denominado 
crime, vem sendo, ao longo do tempo, naturalizada 
como solução exclusiva para o mal-estar causado 
por tal evento. Na maioria das vezes, caracterizada 
por coação, privação e violência estatal legitimada, a 
punição é justificada por diversas teorias, cada uma 
delas difusora de concepções específicas e, a nosso 
ver, simplificadassobre o crime, o criminoso e as for-
mas de controle de ambos (FONSECA, 2018, p.24).
O incômodo social gerado pelo crime e pela violência 
é manipulado pela mídia, por meio da espetacularização dos 
mesmos e da criação de “bodes expiatórios” para o mal-es-
tar na civilização. São enfatizados os crimes cometidos por 
jovens, negros, pobres, moradores de favelas, o que ocorre 
sem o devido enquadramento das situações de privação e de 
desigualdade social às quais são submetidos. Igualmente vio-
lento, o contexto social de desigualdade ceifa sonhos, possi-
bilidades de desenvolvimento social e, muitas vezes, vidas de 
pessoas na mais tenra idade.
O enquadramento da situação criminal focado em de-
terminadas raças e populações, vem gerando, ao longo do 
tempo, a busca de respostas para o crime em explicações re-
lacionadas a um déficit no criminoso, portador de anomalias 
físicas ou psíquicas. Situação que transfere para determina-
dos grupos os diversos problemas gerados pela ordem ca-
pitalista vigente, que privilegia poucos, em detrimento dos 
direitos de muitos. 
Como profissionais do campo psicossocial, cujo com-
promisso é firmado em alinhamento com os princípios dos 
direitos humanos, com a escuta de sujeitos e a defesa de seus 
direitos, entende-se que quanto maior a hostilidade penal e 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento42
as exigências  de celeridade nas atividades que movimentam 
a máquina penal, maior a necessidade e importância de uma 
atuação compromissada junto às pessoas em cumprimento 
de pena e da ratificação de nossos compromissos profissio-
nais. Principalmente porque há um crescente antagonismo 
entre a celeridade da punição e vagar letárgico da garantia 
de direitos. Faz-se necessário, portanto, evitar qualquer atua-
ção que compactue com injustiças e arbitrariedades; assim 
como a atenção ao imaginário social que associa crime e vio-
lência às parcelas mais vulneráveis da população. 
Em um trabalho de 1930, intitulado o “Mal-estar na 
Civilização”, Freud aponta que o homem vive um mal-es-
tar em relação às exigências da pulsão e as restrições da 
civilização. Para respeitar as leis, o homem precisa pagar 
um alto preço de renúncias. Há momentos nos quais as 
restrições civilizatórias não são suficientes para conter a 
agressividade, que não é exclusiva de determinados grupos.  
Segundo Freud, 
[...] os homens não são criaturas gentis que desejam 
ser amadas, são criaturas entre cujos dotes pulsio-
nais deve-se levar em conta uma poderosa quota de 
agressividade. Assim, o próximo é, para ele, alguém 
que o tenta a exercer sobre ele sua agressividade, 
explorar sua capacidade de trabalho sem compen-
sação, utilizá-lo sexualmente sem consentimento, 
apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe 
sofrimento, torturá-lo e matá-lo (FREUD, 1930, p.33).
O fundador da psicanálise aponta a agressividade 
como uma possibilidade do humano em geral. Fazendo parte 
do convívio entre pessoas, desde os tempos primórdios, ela 
não é atribuída a grupos específicos. A civilização impõe res-
trições, por meio do direito, com o objetivo de impedir que 
o gozo de alguns coloque em risco os direitos dos demais. 
43Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
Entretanto, não são difíceis de constatar as mais diversas si-
tuações que escapam a tal controle. 
Ainda segundo Freud (1930) a garantia de que a lei 
não será violada a favor de um indivíduo é uma exigência da 
civilização, o que, no caso do Brasil, não tem ocorrido desta 
forma e tem gerado prejuízo e vulnerabilidade para muitos. 
Segundo Birman (1999, p. 281):  
Com efeito, o Brasil tem hoje uma das constituições 
mais avançadas do mundo, coisa para ninguém botar 
defeito, mas os princípios dessa constituição, infe-
lizmente, não funcionam nas práticas sociais da jus-
tiça. Podemos afirmar, sem pestanejar, que se trata 
de uma das sociedades mais injustas do mundo, não 
obstante a beleza formal de sua constituição, já que 
não funciona concretamente para instituir a Justiça. 
Acrescente-se que, atualmente, tem sido alterada para 
a destituição de direitos antes por ela previstos. Birman 
(1999, p. 281) aponta ainda que: 
Além disso, nosso código criminal é profundamente 
marcado pela longa tradição escravagista e patrimo-
nialista da sociedade brasileira. Assim, o roubo, mes-
mo de uma bagatela - uma bicicleta, por exemplo-, 
recebe uma punição bem mais severa do que uma 
agressão física. Existe, pois uma evidente assincro-
nia entre a constituição bastante avançada - do pon-
to de vista dos seus princípios democráticos - e as 
práticas de processo criminal. 
No contexto de trabalho das equipes técnicas há uma 
diferença radical entre as pessoas que são criminalizadas, 
tendo em vista que tanto  chegam para acompanhamento, 
aqueles que não possuem renda ou uma renda muito bai-
xa, os quais passam pelas mais diversas privações e vulne-
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento44
rabilidades sociais e que apresentam muita dificuldade para 
cumprir as determinações judiciais, principalmente àquelas 
referentes ao pagamento de multas e prestações pecuniárias,  
quanto também são atendidas pessoas com altos rendimen-
tos financeiros com todo um suporte de defesa técnica, e 
com condições de arcar com as sanções de ordem econômica 
sem maiores dificuldades. Essas diferenças não podem ser 
negligenciadas e o acompanhamento dos primeiros, deman-
da maior atenção e articulação interinstitucional no que diz 
respeito ao acesso aos direitos.
A prática profissional não deixa de ser desafiada coti-
dianamente por concepções estigmatizantes em relação ao 
criminoso, por ideias de correção e retribuição, o que tem 
impactos sobre a demanda que é feita pelo Direito. Esta, na 
maioria das vezes, imprime foco na viabilização do cumpri-
mento da pena, sem levar em conta a garantia de direitos, o 
que ocorre por meio das exigências de aumento do núme-
ro de pessoas entrevistadas em detrimento do tempo gasto 
com escuta e acompanhamento. A leitura crítica do con-
texto social, das concepções que atravessam a demanda e 
a afirmação de compromissos profissionais não podem dei-
xar de compor de forma significativa e intensa o trabalho 
com as pessoas em cumprimento de pena. Quanto a este 
aspecto, destacamos dos princípios do Código de Ética dos 
Assistentes Sociais, o reconhecimento da liberdade como 
valor ético central e a defesa intransigente dos direitos hu-
manos; e do Código de Ética  Profissional da Psicóloga, o 
trabalho baseado no respeito e na promoção da liberdade, 
da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, 
apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos. 
No que diz respeito à atuação profissional no período 
de isolamento social, algumas considerações de viés críti-
co merecem ser traçadas. A pandemia de COVID-19 teve 
45Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
um impacto significativo para os profissionais do serviço 
social e psicologia atuantes no Judiciário. Em evento on-
line realizado pelo Sindjustiça - RJ no dia  04 de junho de 
2020, “Ciclo de Debates Interdisciplinares em Tempos de 
Pandemia”, no qual estiveram presentes representantes do 
serviço social e da psicologia para reflexões sobre os limites 
e possibilidades do exercício profissional destas categorias 
no Poder Judiciário, uma grande preocupação destes traba-
lhadores foi a estruturação do trabalho diante da situação 
de isolamento e a questão de como realizar avaliações por 
meio remoto, garantindo as condições éticas e técnicas da 
atuação profissional.
Os desafios postos pela pandemia levaram inicial-
mente ao isolamento e à suspensão total das atividades em 
fóruns e a adoção de trabalho remoto, levando em conta que 
estes trabalhadores obrigatoriamente se organizassem para 
dar conta da estrutura necessária para a realização das ativi-
dades. Ter recursos de informática, acesso à rede mundial de 
computadores e articular as tarefas profissionais com o ser-viço doméstico e com a dinâmica familiar são os requisitos 
indispensáveis para tal. 
Além disso, pouco se considerou o desgaste emocional 
de quem, como todos, se encontra diante de um cenário mun-
dial de ameaça de aniquilação por uma doença desconhecida 
e cujos efeitos não possuem um padrão que permita resposta 
adequada. Na sequência, a demanda por formas alternativas 
de atendimento ao público foram postas, principalmente na 
figura das videoconferências, utilizadas para a realização das 
audiências, que no contexto da pandemia, contaram com a 
presença dos profissionais da equipe técnica, bem como na 
requisição institucional pela realização de entrevistas por 
meio remoto para garantia do retorno ou do início da presta-
ção de serviços comunitários pelas pessoas em cumprimento 
de penas e medidas alternativas. 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento46
Para estes últimos também foi pensada a possibili-
dade de realização de trabalho remoto, no entanto, tal mo-
dalidade de trabalho exige não só o conhecimento formal, 
adquirido no decorrer de anos de estudos (mesmo que até o 
Ensino Médio); mas habilidade no uso de mídias e de recur-
sos digitais, bem como a existência dos mesmos recursos 
exigidos dos profissionais em teletrabalho. Ou seja, é ne-
cessário que estes sujeitos possuam equipamentos eletrôni-
cos e acesso à Internet.
As pessoas em cumprimento de penas e medidas alter-
nativas possuem, dentre as obrigações periódicas, a apresen-
tação pessoal à vara para comprovar o cumprimento das pe-
nas e, também, para atualizar os dados de contato e endereço. 
A partir do contexto da pandemia, estas sofreram alteração, 
sendo adotada a via digital para comprovação, o que acarre-
tou dificuldades na medida em que não havia disponibiliza-
ção de meios de contatos ágeis com os usuários do serviço. 
A preocupação maior, neste caso, se dirige àquelas pessoas 
idosas, ou mais pobres, cujo acesso à tecnologia é limitado. 
Neste sentido, já se percebem impactos importantes porque 
tais pessoas não possuem, por exemplo, endereço de correio 
eletrônico (e-mail) e, na impossibilidade de linhas de telefo-
ne institucionais, as alternativas são reduzidas para tentar 
contatá-las, contribuindo para a morosidade dos contatos e 
obstaculizando o acompanhamento destas pela equipe técni-
ca. Portanto, a exclusão digital é um elemento agravante na 
realidade do isolamento social e das alternativas pensadas 
para dar continuidade às rotinas institucionais. 
Além da exclusão digital, as questões técnicas e éti-
cas que perpassam o fazer profissional de assistentes so-
ciais e psicólogos são desafiados pela perspectiva de aten-
dimentos remotos. Questiona-se como se garantir o direito 
dos usuários ao sigilo e como garantir as condições éticas e 
técnicas da entrevista. Além disso, como garantir que todos 
os usuários tenham acesso?
47Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
O trabalho da equipe técnica não se restringe às en-
trevistas, elaboração de relatórios e encaminhamentos para 
cumprimento da pena, ele implica  acompanhamento que 
se dá por meio de novos momentos de escuta além da en-
trevista inicial, muitas vezes demandados pela pessoa em 
cumprimento por meio de contato telefônico direto com a 
equipe técnica, sendo este um meio de comunicação utiliza-
do com frequência pelos usuários (pessoas em cumprimen-
to de pena e instituições). 
No contexto pandêmico, houve uma interrupção brus-
ca das atividades presenciais e o recurso telefônico deixou, 
por um período, de ser acessível para aqueles que cumprem 
penas, o que gerou preocupação na equipe, tendo em vis-
ta a hipótese de que a preocupação com o cumprimento da 
pena, o medo da conversão em prisão seriam um acréscimo 
nas preocupações e dificuldades geradas pela pandemia. Por 
esse motivo os profissionais tiveram como uma das prin-
cipais ações a solicitação do resgate dos meios de contato 
com os usuários, o que foi resgatado, parcialmente, ao lon-
go da situação de isolamento social, possibilitando a escuta 
e o acolhimento das preocupações e dúvidas em relação ao 
cumprimento da pena. Outro fator importante foi o acom-
panhamento das recomendações dos respectivos conselhos 
profissionais no enfrentamento dos desafios impostos pela 
necessidade de interrupção do trabalho presencial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da apresentação das questões postas pelo 
isolamento provocado pela pandemia COVID-19, buscou-
se apresentar os desafios postos para as equipes interdisci-
plinares que atuam no Poder Judiciário Federal. O ponto de 
partida é a experiência e o acúmulo de conhecimento pro-
duzido no decorrer da atuação técnica, que foi construída 
em articulação com o espaço acadêmico. O contexto atual 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento48
apresenta elementos que reforçam questões antigas e apre-
sentam novos desafios no fazer das equipes compostas por 
assistentes sociais e psicólogos. Estes desafios mobilizaram 
as instituições de fiscalização do exercício profissional a 
pensarem a questão e, no Rio de Janeiro, o Conselho Regio-
nal de Serviço Social, criou grupo de trabalho para mapear 
as demandas e ações implementadas pelas instituições do 
campo sociojurídico. Tanto para psicólogos, quanto para 
os assistentes sociais do Poder Judiciário, a perspectiva de 
entrevistas por videoconferência é contraditória: ao tempo 
em que pode proporcionar a continuidade do trabalho com 
a população usuária que consegue o acesso a este meio, por 
outro lado, pode acarretar prejuízo quanto à garantia do 
sigilo e em algumas áreas, como as que tratam das questões 
de violência doméstica e área criminal, entende-se que há 
um prejuízo pela falta do contato presencial. 
Tanto para a Psicologia, quanto para o Serviço Social 
a garantia do sigilo e a qualidade dos serviços prestados são 
fundamentais, conforme preconizado em seus  Códigos de 
Ética e nas regulamentações profissionais, o que é causa de 
preocupação frente à possibilidade da entrevista remota em 
um espaço em que não é o da clínica ou o da garantia de 
acesso a políticas e benefícios, visto que a maioria das entre-
vistas são derivadas de determinação judicial, variável im-
portante que exige maior cuidado por parte do profissional. 
Quanto ao Conselho de Psicologia, vários recursos foram 
criados no sentido de orientar a categoria e, no que tange 
ao exercício da profissão no judiciário foi elaborado o Ofício 
Circular 63/202 de 11 de maio de 2020 que aponta, dentre 
outros fatores, a importância de: 
reconhecer peculiaridades e limites da atuação pro-
fissional em serviços cuja qualidade pode ser preju-
dicada pela modalidade de atendimento psicológico 
remoto, como é o caso da psicóloga que atua no Po-
49Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento
der Judiciário e é comumente acionada para emitir 
laudos decorrentes de avaliação psicológica em pro-
cessos judiciais. 
Esses têm sido recursos fundamentais para os psicó-
logos do campo sociojurídico, como referência para nossas 
ações nesse período de maiores dificuldades. 
No tocante às relações interpessoais no trabalho, 
houve potencialização dos embates na medida em que nem 
sempre as instâncias institucionais conseguem perceber as 
especificidades do trabalho técnico e, o senso comum de 
que assistentes sociais e psicólogos centram seu trabalho 
na realização de entrevistas, acaba por encobrir uma série 
de ações que ultrapassam em muito a entrevista prévia para 
a sugestão de instituições para a prestação de serviços co-
munitários. A articulação com a rede de serviços e políticas 
foi seriamente afetada, já que estas instituições também fo-
ram seriamente impactadas com a pandemia. Assim, houve 
comprometimento dos encaminhamentos para acesso a es-
tas instituições. Além disso, a suspensão do pagamento de 
prestações pecuniárias durante o período acabou afetando 
em alguma medida os serviços de assistência prestados por 
instituições que mantiveram atividades emergenciais paraatender a população neste momento. 
Assim, entre a “luta” para garantir o espaço de escuta e 
o desafio de implementar a entrevista à distância, as questões 
da ação de assistentes sociais e psicólogos vão se multiplican-
do de forma complexa e cumulativa, tal como a realidade con-
temporânea no contexto neoliberal. O desafio principal conti-
nua o mesmo, garantir e viabilizar espaços de escuta, o acesso 
a direitos e preservar, conforme os códigos de ética profissio-
nal, o respeito e a dignidade da pessoa humana. Um desafio 
majorado quando falamos de pessoas envolvidas em situações 
processuais marcadas pelo signo do crime. 
Direitos Humanos, Interseccionalidade e Isolamento50
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ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE 
PUNIÇÕES E AS ENTRELINHAS DA 
“SOCIOEDUCAÇÃO”
Nivia Valença Barros
Ida Cristina Rebello Motta
Lobelia da Silva Faceira
  “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois 
passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez pas-
sos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu 
caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? 
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”
(Fernando Birri, apud Eduardo Galeano. In: Las pala-
bras andantes. Publicado por Siglo XXI, 1993).
Neste capítulo buscamos refletir sobre os adolescentes e jovens, pobres, pardos e pretos no Brasil, maior parcela brasileira neste segmento geracional, 
que sofrem o processo de punição, encarceramento e 
cumprimento

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