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FISIOLOGIA: CORAÇÃO 1 Fisiologia da contração cardíaca Fisiologia do músculo cardíaco O coração é composto por 3 tipos de músculos: • Atrial: contração parecida com a musculatura esquelética, com duração maior • Ventricular: igual o atrial • Fibras especializadas excitatórias e condutoras: se contraem fracamente (poucas fibras contráteis), mas apresentam descargas elétricas rítmicas automáticas ou fazem a condução desses potenciais de ação pelo coração → sistema excitatório do coração Histologia do músculo estriado cardíaco Olhar o resumo de Histologia do Tecido Locomotor. É importante lembrar que entre as fibras cardíacas apresentam os discos intercalares, onde as membranas fundem-se entre si para formar junções comunicantes permeáveis, que permitem uma rápida difusão dos íons entre as fibras cardíacas. Portanto, a propagação do potencial de ação é facilitada com esses discos. Dessa forma, o miocárdio forma um sincício de células musculares. O coração é formado por dois sincícios, o atrial e o ventricular, que são separados pelo tecido fibroso que dá o arcabouço do coração. Sendo assim, o estímulo de potencial de ação criado no átrio não é passado para o ventrículo devido ao esqueleto fibroso. Em vez disso, o PA é conduzido dos átrios para os ventrículos por meio de um sistema especializado de condução, chamado feixe A-V (ou fascículo atriovetricular) com alguns milímetros de diâmetro. POTENCIAIS DE AÇÃO NO MÚSCULO CARDÍACO O potencial de ação na fibra cardíaca tem amplitude de cerca de 105 milivolts (-85 mV para +20 mV). Após o potencial em ponta (spike) inicial, a membrana permanece despolarizada por cerca de 0,2 segundos (platô) e depois ocorre a sua rápida repolarização. Esse platô faz com que a contração ventricular dure até 15x mais que uma contração dos Mm. esqueléticos. Efeito platô Esse efeito platô se deve, pois os músculos cardíacos apresentam, além dos canais rápidos de sódio ativados por voltagem (como nos Mm. esqueléticos), os canais de cálcio do tipo L (canais lentos de cálcio). Esses canais diferentes são mais lentos para se abrirem, permitindo um influxo de íons cálcio e sódio nas fibras cardíacas, o que mantêm a despolarização contínua por mais tempo e, portanto, a contração muscular. Além disso, esses íons cálcios que entram em um segundo momento, potencializa a contração muscular cardíaca, já que o Ca+2 está totalmente envolvido no processo de contração. Ademais, outro fator que explica esse efeito platô é a diminuição da permeabilidade da membrana celular miocárdica aos íons potássio. Esse processo é causado pelo influxo excessivo de Ca+2. Assim, essa redução dificulta a saída dos íons K+, dificultando a repolarização imediata da fibra. Após o fechamento dos canais de cálcio L, a permeabilidade da membrana ao potássio aumenta, o que causa a rápida repolarização celular. FISIOLOGIA: CORAÇÃO 2 Período refratário do miocárdio Trata-se do tempo durante o qual o impulso cardíaco normal não pode reexcitar área já excitada do miocárdio, devido à falta de íons para a geração do PA. O período refratário normal do ventrículo é de 0,25 a 0,30 segundo. Existe ainda o período refratário relativo de cerca de 0,05 segundo, durante o qual é mais difícil excitar o músculo do que nas condições normais, mas que ainda assim pode ser excitado por impulso excitatório mais intenso. O período refratário do músculo atrial é bem mais curto que o dos ventrículos, cerca de 0,15 segundo para os átrios. Túbulos Transversos Assim como na musculatura esquelética, o PA iniciado na membrana da fibra muscular é difundido pelos túbulos T para a região mais interna da fibra. A despolarização dos túbulos T causa a liberação de íons cálcio dos túbulos sarcoplasmáticos da fibra, causando o deslizamento do complexo actina-miosina (contração muscular). Um mecanismo diferente presente nas fibras cardíacas é a grande quantidade de íons cálcio liberados pelos próprios túbulos T no momento da sua despolarização, pela abertura de canais de cálcio dependente de voltagem e o consequente influxo de cálcio. Isso se deve pois no interior dos túbulos T existe em grande quantidade de mucopolissacarídeos com carga eletronegativa que se ligam a íons cálcio, mantendo-os disponíveis para entrarem nas fibras do miocárdio. A entrada de cálcio ativa canais de liberação de cálcio, também chamados canais de receptores de rianodina, na membrana do retículo sarcoplasmático, o que desencadeia a liberação de cálcio para o sarcoplasma. Sem esse Ca+2 adicional dos túbulos T, a contração miocárdica seria reduzida, devido ao seu retículo sarcoplasmático menos desenvolvido (menor quantidade de Ca+2). Repolarização Ao final do platô, o influxo de cálcio é interrompido pelo fechamento dos canais de cálcio L na membrana e dos canais de liberação de cálcio dos túbulos T. Por conseguinte, os íons de Ca+2 são bombeados para o retículo sarcoplasmático (bomba de cálcio adenosina trifosfatase - ATPase) e para o líquido extracelular dos túbulos T (trocador de sódio-cálcio). Os íons Na+ que causaram o início da despolarização pelos canais de sódio dependentes de voltagem são bombeados para fora da fibra cardíaca pela bomba de sódiopotássio-ATPase. A imagem representa, na direita, o influxo de cálcio para o sarcoplasma da fibra cardíaca e a consequente contração muscular; já na esquerda ocorre o relaxamento da fibra e o bombeamento de cálcio e sódio para fora da fibra. CICLO CARDÍACO Cada ciclo é iniciado pelo nó sinoatrial (ou sinusal), presente próximo a abertura da veia cava superior, no qual, o PA se difunde rapidamente pelos dois átrios. O estimulo nervoso para o ventrículo é transmitido apenas pelo fascículo AV presente no septo interventricular. O esqueleto fibroso (principalmente os anéis fibrosos atrioventriculares) que sustenta o coração forma uma barreira que impede a passagem do estímulo elétrico, a não ser pelo fascículo AV. FISIOLOGIA: CORAÇÃO 3 Então, até a passagem do estímulo nervoso para os ventrículos, ocorre um retardo de mais de 0,1 segundos, fazendo com que os átrios se contraiam antes dos ventrículos. Logo, os átrios agem como bomba de escova para os ventrículos; e os ventrículos fornecem a força para propelir o sangue pelo sistema vascular do corpo Diástole e sístole O ciclo consiste na diástole (período de relaxamento → enchimento do ventrículo de sangue), seguido da sístole (contração ventricular). O ciclo completo é de, geralmente, 72 batimentos/min. As três curvas superiores exibem as variações da pressão na aorta no ventrículo esquerdo e no átrio esquerdo, respectivamente. A quarta curva representa as variações do volume ventricular esquerdo; a quinta, o eletrocardiograma; e a sexta, um fonocardiograma, que é o registro dos sons produzidos pelo coração — sobretudo pelas válvulas cardíacas — durante o bombeamento Eletrocardiograma O eletrocardiograma apresenta as ondas P, Q, R, S e T: • P: disseminação da despolarização pelos átrios (seguido de contração atrial) • Q, R e S: despolarização elétrica dos ventrículos (seguido de contração ventricular) • T: estágio de repolarização dos ventrículos (seguido de relaxamento ventricular) Átrios funcionam como pré-bombas para os ventrículos Geralmente, cerca de 80% do sangue contida no átrio, vai direto pro ventrículo (pela gravidade) sem a contração atrial; a contração atrial só serve para encher os 20% restantes. Então, os átrios funcionam como uma bomba de escova (primer pump), que melhor a eficácia do bombeamento ventricular em 20%. Assim, quando os átrios deixam de funcionar a diferença dificilmente será notada, a menos que a pessoa se exercite. Enchimento dos ventrículos Na sístole ventricular, ocorre um acúmulo de sangue nos átrios (alta pressão), pois as valvas AV estão fechadas. Quando a sístole cessa e ocorre o relaxamento domiocárdio e dos músculos papilares, a pressão no interior dos ventrículos diminui abruptamente e as valvas se abrem. Então, por diferença de pressão e por força gravitacional, boa parte do sangue (80%) flui dos átrios para os ventrículos, causando o aumento do volume ventricular (mostrado no gráfico) → é o chamado período de enchimento rápido ventricular (ocorre no segundo terço da diástole). No último terço da diástole, ocorre a contração dos átrios, contribuindo com mais 20% do sangue para os ventrículos. Contração isovolumétrica dos ventrículos É o período em que os ventrículos contraem, mas ainda não fazem pressão suficiente sobre o sangue para abrir as valvas semilunares aórtica e pulmonar. Então, nesse momento, ocorre a contração do ventrículo, mas sem alteração do volume de sangue (isovolumétrica). Período de ejeção Quando a pressão no ventrículo esquerdo chega a um pouco mais de 80 mmHg e o ventrículo direito a 8 mmHg, ocorre a abertura das suas respectivas valvas semilunares, o que causa a ejeção do sangue. Cerca de apenas 60% do sangue contido nos ventrículos é ejetado; dessa quantidade, 70% é ejetado no primeiro 1/3 do período FISIOLOGIA: CORAÇÃO 4 (período de ejeção rápida) e os 30% restantes ocorrem nos outros 2/3 (período de ejeção lenta). Período de relaxamento isovolumétrico Após a sístole, o relaxamento ventricular é repentino, diminuindo a pressão intraventricular. Portanto, o sangue ejetado tende a voltar para os seus ventrículos, o que causa o fechamento das valvas aórtica e pulmonar. Durante cerca de 0,03 a 0,06 segundo, o músculo continua a relaxar sem alterar seu volume. Posteriormente, as valvas A-V se abrem para encher os ventrículos de sangue novamente. Volume Diastólico Final, Volume Sistólico Final e Débito Sistólico • V. Diastólico final: volume do enchimento normal do ventrículo ao final da diástole → cerca de 110 a 120 ml • V. Sistólico final: volume restante após a sístole → cerca de 40 a 50 ml • Débito sistólico (stroke volume): é a quantidade ejetada → cerca de 70ml em média OBS! A fração de ejeção é o débito sistólico/V. diastólico final. Normalmente é 0,6 (60%). Todavia, vale ressaltar que esses valores podem se alterar em condições de aumento do débito cardíaco, quando chega mais sangue aos ventrículos, o coração bate mais forte e etc. VALVAS CARDÍACAS As valvas tricúspide e mitral evitam o refluxo sanguíneo para os átrios durante a sístole; já as valvas semilunares impedem o refluxo da aorta e tronco pulmonar para os ventrículos na diástole. Essas valvas abrem e se fecham passivamente, devido à pressão que o sangue causa nelas. Os músculos papilares, presentes nas valvas atrioventriculares, contraem-se junto aos ventrículos (trabéculas cárneas manda o estímulo nervoso) e elas NÃO ajudam as valvas a se fechar, mas sim, evitam que as extremidades das valvas não se abram para o lado o lado dos átrios (abaulamento) com a pressão sanguínea na sístole. As valvas semilunares são um pouco diferentes. Elas são abertas com a pressão sanguínea da sístole, e o prolapso sanguíneo na diástole faz com que elas se fechem, devido ao seu formato semilunar. Essas valvas apresentam uma abertura menor, causando uma velocidade muito grande do sangue ejetado através delas. Logo, elas estão muito mais sujeitas a abrasões mecânicas. VOLUME DA PRESSÃO AÓRTICA Quando o VE se contrai, ocorre a distensão das paredes da aorta, aumentando sua pressão até cerca de 120 mmHg (acompanhar o gráfico). Em seguida, ocorre um pequeno fluxo sanguíneo retrógrado no início da diástole e com o fechamento da valva aórtica que causa um pequeno aumento de pressão (incisura que ocorre no gráfico). Após o fechamento da valva, a pressão aórtica cai vagarosamente com a contração elásticas das paredes aórticas (causadas pela distensão inicial) e com o fluxo sanguíneo fluindo para os vasos periféricos. As curvas de pressão da artéria pulmonar são parecidas, apenas muda os valores de pressão. OBS! Os sons cardíacos ouvidos na ausculta são causados pelo fechamento abrupto das valvas. O fechamento das valvas atrioventriculares forma a primeira bulha; o fechamento das valvas semilunares é a segunda bulha. Diagrama Volume-Pressão O diagrama volume-pressão do VE (imagem abaixo) representa as fases do ciclo cardíaco: 1. Fase 1 (A→B): Período de enchimento. Inicia-se com o volume sistólico final (cerca de 50 mL) e com uma FISIOLOGIA: CORAÇÃO 5 pressão baixa na parede dos ventrículos. A abertura da valva AV proporciona o aumento do volume sanguíneo no VE, chegando até cerca de 120 mL. A pressão aumenta um pouco pela distensão da parede ventricular para acomodar o sangue (essa pressão é chamada de pré-carga). 2. Fase II (B→C): Período de contração isovolumétrica. Apesar da contração das fibras, o volume do ventrículo não se altera, pois ainda não foi atingido a pressão aórtica, a qual abre a valva semilunar aórtica e ocorre ejeção do sangue. A contração das fibras vai aumentando a pressão do VE até que se iguala à pressão aórtica, abrindo a valva. 3. Fase III (C→D): Período de ejeção. Ocorre o aumento da pressão do ventrículo pela contração das fibras cardíacas (pressão chamada de pós-carga) e o volume diminui pela ejeção de sangue do ventrículo. 4. Fase IV (D→A). Período de relaxamento isovolumétrico. A contração das fibras é cessada e, pelo refluxo sanguíneo na aorta, a válvula aórtica se fecha. A pressão ventricular diminui devido ao relaxamento das fibras musculares e o volume não se altera pois ainda não houve abertura da válvula mitral para a entrada de sangue. Como ocorre na física convencional, a área desse diagrama representa a produção efetiva de trabalho externo do ventrículo durante o ciclo da contração. O gráfico pode variar de acordo com a atividade simpática estimulando o coração, sendo que pode ocorrer: • Um maior volume sanguíneo entrando na Fase I, o que causa um aumento da pressão progressiva nessa fase, já que as fibras cardíacas e o pericárdio apresentam um volume limite de distensão. • Diminuição da Fase II, pois a pressão já vai estar alta com a pressão de distensão criada • A pressão máxima alcançada na fase III é acentuada pelo maior afastamento das miofibrilas, causado com o aumento do volume do ventrículo na fase I A área verde marcada por PE é chamada de energia potencial, que é o trabalho adicional que seria criado se o ventrículo conseguisse esvaziar completamente todo o sangue da sua câmara a cada contração. Energia do coração Aproximadamente 70% a 90% da energia utilizada pelo coração para o trabalho da contração geralmente deriva do metabolismo oxidativo dos ácidos graxos, com cerca de 10% a 30% vindo de outros nutrientes, especialmente lactato e glicose. Assim, a intensidade (ou velocidade) do consumo de oxigênio pelo coração é medida excelente da energia química liberada enquanto o coração realiza seu trabalho. Todavia, estudos experimentais mostraram que o consumo de oxigênio do coração e o gasto de energia química durante a contração estão diretamente relacionados com a área sombreada total. O consumo de oxigênio também tem se demonstrado ser quase proporcional à tensão que ocorre no músculo cardíaco durante a contração, multiplicada pela duração do tempo que a contração persiste, chamada índice tensão-tempo. Pela tensão ser alta quando a pressão sistólica é alta, correspondentemente mais oxigênio é usado. Durante a contração cardíaca, de toda a energia química utilizada, a maior parte é convertida em calor, o resto é o trabalho. Então, a eficiência (trabalho/energia total consumida) do coração gira em torno de 20 a 25%. Em pessoas com insuficiência cardíaca, essa eficiência pode cair até 5% a 10%. Efeitos dos íons potássio O excesso de potássio no meio extracelular pode fazer com que o coração se dilate e fique flácido. Isso se deve FISIOLOGIA:CORAÇÃO 6 pois uma grande [K+] diminui o potencial de repouso das membranas das fibras miocárdicas, o que causa uma despolarização parcial da membrana celular, deixando o potencial de membrana menos negativo. À medida que o potencial de membrana diminui, a intensidade do potencial de ação também diminui, o que faz as contrações do coração serem progressivamente mais fracas. Efeitos dos íons cálcio O excesso de íons cálcio causa efeitos quase opostos aos dos íons potássio, induzindo o coração a produzir contrações espásticas. A causa disso é o efeito direto dos íons cálcio na deflagração do processo contrátil cardíaco. Já a falta de cálcio causa fraqueza cardíaca. Efeito da temperatura no funcionamento cardíaco A temperatura corporal aumentada aumenta a frequência cardíaca. Enquanto a redução da temperatura leva à queda da frequência. Isso se deve pelo fato de o calor aumentar a permeabilidade das membranas do músculo cardíaco aos íons que controlam a frequência cardíaca, com resultante aceleração do processo de autoestimulação. SISTEMA EXCITATÓRIO E CONDUTOR DO CORAÇÃO O nodo sinusal (ou nó sinoatrial) é o principal gerador de impulsos nervosos do coração. Esses impulsos gerados são transmitidos pelas fibras cardíacas condutoras para os átrios e para o nodo atrioventricular (nó AV), o qual, por sua vez, conduz os impulsos para o ventrículos pelos ramos direito e esquerdo dos ramos das fibras de Purkinje. Nó sinoatrial É um conjunto de músculo cardíaco especializado, situado na parede posterolateral superior do AD imediatamente abaixo e pouco lateral à abertura da veia cava superior. As fibras desse nó não apresentas filamentos contráteis. Elas se conectam diretamente às fibras musculares atriais, de modo a propagar os PAs gerados. Nó atrioventricular Está situado na parede posterior do átrio direito, atrás da valva tricúspide. Esse nó recebe impulsos nervosos do nó sinoatrial pelas vias intermodais e propaga o potencial de ação (PA) para os ventrículos, com um levo retardo temporal. Ritmicidade elétrica das fibras sinusais As fibras do nó sinoatrial, nó AV e fibras de Purkinje apresentam a capacidade de se autoexcitarem ritmicamente. Autoexcitação do Nó sinoatrial O nó sinoatrial apresenta um potencial de repouso da membrana mais positivo (-55 a -60 mV) comparado aos potencias de fibras musculares esqueléticas (-85 a -90 mV), por exemplo, devido à maior permeabilidade aos íons Ca+2 e Na+, que aumenta o potencial da membrana. Nesse valor de -55 mV de potencial de membrana, alguns poucos canais rápidos de sódio dependentes de voltagem estão parcialmente abertos, o que causa a seguinte sequência de fatores: 1. Alguns íons Na+ fluem para a célula devido a esses canais de sódio parcialmente abertos; 2. Essa atividade aumenta a voltagem da membrana, o que acarreta ainda mais na abertura dos canais de Na+; 3. Ainda mais íons fluem para dentro; 4. Limiar de estabilidade é atingido, canais de cálcio do tipo L são ativados e o potencial de ação se inicia; 5. Os canais de sódio se fecham, seguindo dos canais de cálcio tipo L alguns milissegundos depois; 6. Ocorre a abertura dos canais de K e a membrana se repolariza até -55 a -60 mV, os canais de K se fecham, e então, ocorre o ciclo novamente após alguns milissegundos (período de reposição dos íons). Outras fibras autoexcitatórias O nó AV e as fibras de Purkinje também são autoexcitatórias. Todavia, o nó SA apresenta uma ritmicidade maior (maior frequência de disparos), então ele modula a atividade excitatória das outras fibras (melhor explicado depois). Transmissão do impulso nevoso FISIOLOGIA: CORAÇÃO 7 Os potenciais de ação originados no nó SA são propagados pra as fibras musculares atriais (por todo os átrios) e por fim, para o nó AV. A condução pela musculatura atrial tem velocidade de cerca de 0,3 m/s; entretanto, algumas faixas de fibras condutoras especializadas atriais transmitem os impulsos mais rapidamente (1 m/s), são elas: • Banda interatrial anterior: cursa pelas paredes anteriores dos átrios até alcançar o átrio esquerdo (transmite o impulso para o AE) • Vias intermodais anterior, média e posterior (está demonstrado na imagem anterior): elas passam pelo AD e transmitem o impulso nervoso rapidamente até o nó AV, que é o destino final dessas vias Em seguida, o nó AV propaga o impulso nervoso pela porção penetrante do feixe AV (ou fascículo AV), que penetra a região do septo interatrial do esqueleto fibroso do coração e transmite o impulso para a porção distal do feixe AV (fibras de Purkinje). No nó AV ocorre um retardo na passagem do impulso para o fascículo AV, que demora cerca de 0,09 segundo; já a passagem do impulso do fascículo para a porção distal demora mais cerca de 0,04 segundo. Por conseguinte, a transmissão do impulso pelas fibras de Purkinje para todo os ventrículos demora mais 0,03 segundo. Sendo assim, a passagem do impulso nervoso do nó sinoatrial para os átrios demora cerca de 0,03 segundo, ocorrendo a contração do AD e AE. Já a passagem do estímulo nervoso do nó AV para as fibras musculares dos ventrículos, demora cerca de 0,16 segundo. Então, há um retardo total de 0,16 segundo entre a contração atrial e a contração ventricular. Esse fator e muito importante para a fisiologia cardíaca, pois permite que o conteúdo atrial se esvazie totalmente para que ocorre a contração ventricular. Ou seja, resumindo, o processo de contração ocorre da seguinte maneira: 1. Autoexcitação do nó sinoatrial 2. Passagem do impulso para o nó AV e para as fibras musculares atriais (0,03 segundo) 3. Propagação do impulso do nó AV para o fascículo AV (0,09 segundo → total: 0,12 seg) 4. Passagem do impulso pelo fascículo AV até as fibras de Purkinje (0,04 seg → total: 0,16 seg) 5. Propagação das fibras de Purkinje para os ventrículos (0,03 seg → total: 0,19 seg → diferença de tempo da contração atrial para a contração ventricular: 0,16 seg) A causa da condução lenta das fibras do nodo AV e do feixe penetrante AV é o reduzido número de junções comunicantes entre as sucessivas células das vias de condução. Fibras de Purkinje As fibras de Purkinje são as projeções que saem do nodo AV, formam o nó AV e se divide nos ramos direito e esquerdo do feixe que cursam pelo endocárdio respectivamente nos dois lados do septo ventricular em direção ao ápice cardíaco e dividindo-se em ramos cada vez menores. Por conseguinte, os ramos se dispersam lateralmente em torno de cada câmara ventricular e retornam em direção à base do coração. Exceto em sua porção inicial (fascículo AV), as fibras de Purkinje são fibras muito calibrosas e conduzem os potenciais de ação com velocidade de 1,5 a 4 m/s. Essa velocidade permite a transmissão quase instantânea (0,03 seg) do impulso por todo o músculo ventricular. Essa transmissão rápida é creditada pela permeabilidade muito alta das junções comunicantes nos discos intercalares, em que os íons são facilmente transmitidos de célula a célula. Transmissão do impulso cardíaco pela musculatura ventricular A extremidade final das fibras de Purkinje penetram cerca de 1/3 da espessura do miocárdio; logo, o resto da transmissão nervosa ocorre pelas próprias fibras cardíacas. A velocidade dessa transmissão é de cerca de 0,3 a 0,5 m/s. Então, a transmissão do impulso da superfície endocárdica até a superfície epicárdica leva mais 0,03 segundo. Ou seja, a partir da estimulação da primeira fibra cardíaca ventricular pelas fibras de Purkinje até a última, demora cerca de 0,03; isso faz então que o ventrículo se mantenha FISIOLOGIA: CORAÇÃO 8 contraído por mais tempo, o que ajuda a ejetar maior parte do sangue contido nos ventrículos. Transmissão unidirecional pelo feixe AV O feixe AV tem uma incapacidade de conduzir o impulso nervoso retrogradamente (ventrículos → átrio), permitindo apenas a passagemdo impulso do átrio para os ventrículos. CONTROLE DA EXCITAÇÃO E DA CONDUÇÃO NO CORAÇÃO Nó sinoatrial como marca-passo Como dito, outras partes do coração, além do nó sinoatrial, também apresentam autoexcitação rítmica; mas, quem controla a frequência cardíaca é o nó SA, pois é ele que apresenta maior frequência de disparos, controlando essas outras estruturas (Fibras de Purkinje e Nó AV). As fibras do nodo A-V, quando não estimuladas a partir de local externo, emitem descargas intrínsecas rítmicas, com frequência aproximada de 40 a 60 vezes por minuto, e as fibras de Purkinje têm frequência de descarga entre 15 e 40 vezes por minuto. Esses valores diferem dos da frequência normal do nodo sinusal, de 70 a 80 vezes por minuto. Marca-passos Anormais (Ectópicos) Em algumas situações, as fibras de Purkinje ou o nó AV desenvolvem descargas rítmicas mais rápidas que o nó SA. Nesse caso, o marca-passo passa a ser o com frequência maior, sendo chamado de marca-passo ectópico. Esse novo marca-passo produz sequências anormais da contração das diferentes partes do coração e pode comprometer, de modo significativo, o bombeamento Uma outra forma de se estabelecer um marca-passo ectópico é o bloqueio da condução do impulso cardíaco do nó SA para as outras partes do coração. Sendo assim, o novo marca-passo passa a ser o nó AV. Quando ocorre um bloqueio no nó AV, os átrios contraem-se em uma frequência normal, enquanto os ventrículos vão se contrair na ritmicidade que as fibras de Purkinje se autoexcitarem. Após bloqueio A-V repentino, o sistema de Purkinje não inicia imediatamente a emissão de impulsos, mas apenas após o intervalo de 5 a 20 segundos, pois antes do bloqueio as fibras de Purkinje estavam “sobrepujadas” (overdriven) pelos rápidos impulsos sinusais e se encontravam consequentemente em estado de supressão. Essa demora na retomada dos batimentos faz a pessoa desmaiar após 4 a 5 segundos. Essa retomada tardia é chamada de síndrome de Stoke-Adams. REGULAÇÃO DO BOMBEAMENTO CARDÍACO Durante uma atividade física, por exemplo, o coração necessita bombear mais sangue para o organismo. Os meios básicos para isso são: (1) regulação cardíaca intrínseca em resposta às variações no aporte do volume sanguíneo em direção ao coração; e (2) controle da frequência cardíaca e da força de bombeamento pelo sistema nervoso autonômico. Regulação intrínseca do bombeamento cardíaco – Mecanismo de Frank-Starling De acordo com o aumento do perfil de gasto energético adotado em uma atividade física, por exemplo, ocorre o aumento da captação venosa dos tecidos, causado pela vasodilatação das arteríolas, que leva a um maior fluxo sanguíneo e, por tanto, maior disponibilidade nutritiva e energética para determinado tecido. Então, com essa maior captação venosa, ocorre o aumento do volume sanguíneo que chega até o AD pelas veias cavas inferior e superior. Logo, pelo chamado mecanismo cardíaco de Frank-Starling, o coração consegue, dentro dos limites fisiológicos, expandir (por distensão da musculatura cardíaca) a sua capacidade ventricular para acomodar todo o sangue venosa que a ele chega e bombeá-lo para as artérias pulmonares com mais força. Ou seja, dentro de limites fisiológicos, o coração bombeia todo o sangue que a ele retorna pelas veias. A distensão da musculatura cardíaca com o aumento do volume sanguíneo, causa uma distensão nos filamentos de actina e miosina, deixando-os dispostos em ponto mais próximo do grau ideal de superposição para a geração de força. Dessa forma, a musculatura ventricular consegue aumentar a sua força com a sua distensão e, portanto, ejetar mais sangue venoso, o que explica o funcionamento do mecanismo de Frank-Starling. Além do aumento do volume do miocárdio, um outro mecanismo que amplifica o bombeamento é a distensão das paredes do AE, que aumenta diretamente a frequência cardíaca por 10 a 20%. Os gráficos demonstram que o amento da pressão atrial, causado pelo FISIOLOGIA: CORAÇÃO 9 aumento do aporte sanguíneo, ocorre o aumento do trabalho sistólico, pela maior quantidade de sangue que chega aos ventrículos. Controle do coração pela inervação autônoma O estímulo nervoso simpático e parassimpático está intimamente ligado à regulação do débito cardíaco. Inervação simpática A inervação simpática, sob circunstâncias normais, tem uma pequena descarga contínua sobre o coração, a fim de manter o bombeamento cerca de 30% acima do que seria sem a presença de estímulo simpático. O aumento da estimulação pode aumentar o débito cardíaco até seu dobro ou triplo. A estimulação simpática faz a liberação do hormônio norepinefrina pelas terminações nervosas. Esse composto estimula os receptores adrenérgicos beta 1, o qual acredita- se que atue no aumento da permeabilidade sódio-cálcio das fibras musculares cardíacas, facilitando o influxo desses íons e o disparo do potencial de ação (PA). No nodo A-V e nos feixes A-V, o aumento da permeabilidade aos íons sódio-cálcio torna mais fácil para o potencial de ação excitar as porções sucessivas do sistema condutor, reduzindo o tempo de condução entre os átrios e os ventrículos OBS! A inervação simpática também causa aumento da força de contração do miocárdio pelo maior influxo de Ca+2 Inervação parassimpática (vagal) Um estímulo vagal forte pode diminuir a força de contração miocárdica por 20% a 30% e até parar os batimentos por alguns segundos. As fibras parassimpáticas estão conectadas aos nós sinoatrial e atrioventricular, diferente dos nervos simpáticos, que estão dispostos por toda musculatura cardíaca. A estimulação parassimpática nos nós SA e AV são feitos pela liberação de acetilcolina (ACh) nas terminações vagais. Esse hormônio tem dois efeitos principais: • Diminui o ritmo do nó SA • Reduz a excitabilidade das fibras juncionais AV (entre o nó SA e o nó AV) Esse processo ocorre, pois, a ACh aumenta a permeabilidade da membrana aos íons potássio, permitindo o seu efluxo das fibras excitatórias. Isso causa uma hiperpolarização das fibras (ficam com potencial mais negativo, com cerca de -65 a -75 mV), o que diminui a frequência de disparos pelo maior tempo necessário até chegar ao limiar de estabilidade no ciclo da autoexcitação.
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