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Desenvolvimento da personalidade do adolescente Psicologia do Desenvolvimento: Adolescência Prof.: Bruno Carrasco Capacidade de raciocinar sobre o raciocínio O adolescente experimenta uma mudança qualitativa em sua atividade cognitiva, de pensamento, raciocínio, entendimento e inteligência. De modo bem diferente da criança, segundo Piaget, na adolescência surge a capacidade de raciocinar sobre o raciocínio, isso estimula o raciocínio abstrato. Essa capacidade possibilita ao adolescente especular, abstrair, analisar e criticar, mesmo que ainda sem muita referência. Essa transformação no raciocínio afeta todos os outros aspectos de sua vida, pois ele utiliza as novas capacidades para pensar a respeito de si mesmo e do mundo que o cerca. Lutos dos adolescentes Também ocorrem os “lutos” do adolescente, consequentes de uma série de “perdas” que sofre durante seu desenvolvimento. Sendo estes, basicamente: ● O luto pelo papel social e identidade infantil: a perda dos privilégios da criança, o temor das responsabilidades do adulto; ● O luto pelo corpo infantil perdido, que já era um “velho conhecido”: o jovem sentir-se-ia impotente diante das transformações incontroláveis que sofre; ● O luto pelos pais da infância - seria talvez o mais importante. A criança é muito identificada com seus pais e conta com a provação e o apoio deles em todos os momentos. Sua autonomia está na dependência direta da permissividade dos pais. Polarização A medida que cresce, a criança sente necessidade de se afirmar e criar sua própria identidade, diferenciando-se de seus pais. Para isso, precisa se afastar e divergir deles. Esse processo é conhecido como polarização, quando o jovem se desvia para fora da família, e com isso pode olhar seus pais com uma visão mais crítica, analisando seus conceitos e seus modos de vida. Isso pode gerar um período de agressividade para com os pais ou desvalorização deles. Os pais da infância eram perfeitos, idealizados. De repente o jovem entra em contato com seus erros, suas fraquezas, seus problemas, e tem grande dificuldade em aceitá-los. Discorda das ideias dos pais, e isso lhes geram remorso e culpa; o adolescente oscila entre o desejo de independência e autonomia, e a necessidade de “colo” e proteção, e isso o confunde e angústia a si mesmo e seus pais. Dificuldade dos pais Essa ambiguidade confunde os pais. Eles são severamente criticados e ao mesmo tempo exigidos como provedores de segurança e proteção. Não é nada fácil ser pai de adolescentes. Para eles é um período de muitos “lutos” também: seu filhinho querido mudou, não é mais a criança frágil, doce e carente, mas quase um adulto, contestando sua visão de mundo e seus valores, pondo à prova sua autoridade, desafiando-o constantemente. Os pais já não exercem mais o mesmo controle sobre seus filhos, percebem que eles estão adquirindo sua independência e que ele não é mais necessário. Por outro lado, se sente obrigado a sustentá-los e protegê-los, e é legalmente responsável por eles. Sentimentos dos pais Com as críticas, os pais podem sentir-se velhos e ultrapassados. Velhos conflitos esquecidos podem ressurgir. podendo sentir inveja dos filhos. Afinal, eles estão começando a vida, têm todas as opções possíveis, são mais saudáveis e bonitos, e podem fazer tudo aquilo que os pais deixaram de fazer. Deste modo, os pais também podem atravessar sentimentos difíceis, de perda, sentimento de inadequação, inveja, medo e raiva, entre outros. Crise de identidade O psicanalista alemão Erik Erikson (1902-1994), responsável pela teoria do desenvolvimento psicossocial, considerava que a principal “tarefa” do adolescente seria a aquisição da identidade do ego. A “crise de identidade” seria uma série de processos, onde o mais importante seriam as identificações, por meio do repúdio de umas e da absorção de outras, gradualmente constituindo sua identidade adulta. A chamada “crise de identidade”, que acarreta angústia, dúvidas e dificuldades de relacionamento, surge e parte de conflitos de valores e identificações dos adolescentes, próprios de seu momento de decisões. Identidade e ideologia Associada à noção de identidade estaria a de ideologia, que expressa as ideias de um grupo social. Neste sentido, ela funcionaria positivamente, confirmando a identidade do adolescente, reconhecendo este como parte integrante da sociedade. A aquisição de uma ideologia permitiria ao jovem resolver os seus principais conflitos, fugir da “confusão de valores”, e lhe daria acesso à vida social. Erikson afirmava que os sistemas totalitários exercem uma grande atração sobre os jovens, pois fornecem identidades convincentes e rígidas, e portanto, facilmente assimiláveis. A identidade democrática, segundo o autor, seria menos atraente, pois envolve a liberdade de escolha, e a angústia decorrente dela, ao invés de fornecer uma identidade imediata e “pronta”. “Meu partido é um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia, eu quero uma pra viver.” (Trechos da canção “Ideologia”, de Cazuza) Necessidade de pertencimento a um grupo É no momento da adolescência que surge uma enorme necessidade de se sentir pertencente a um grupo. O grupo ajuda o indivíduo a criar sua própria identidade num contexto social. No grupo há uma certa uniformidade de comportamento, de pensamento e de hábitos, estabelecendo sentidos e um horizonte para o momento de angústia e perturbação que experimenta o adolescente. O adolescente procura conforto em sua roda de amizades, padronizando suas ideias e atitudes. Um serve de modelo para o outro, e de manutenção dos modos de ser, agir e sentir. Curtem as mesmas experiências e descobertas, e as vivenciam juntos. Sofrem de angústias semelhantes, e o grupo funciona como protetor perante elas. As “tribos jovens” Tribo é um termo que vem do latim 'tribus', corresponde a um agrupamento de pessoas que compartilham costumes parecidos, uma mesma língua (ou linguagem, no caso de gírias específicas), gostos e desgostos, tradições e modos específicos de se relacionar. Na história da humanidade, este termo muitas vezes foi usado de maneira pejorativa sobre um grupo de pessoas com uma cultura "inferior", porém este uso se modificou após as críticas ao etnocentrismo, ampliando a concepção de tribo para os diferentes agrupamentos humanos. Entre os jovens é muito comum o pertencimento a grupos ou “tribos”, seja de rockeiros, metaleiros, funkeiros, religiosos, emos, nerds, etc. O futuro e a escolha da profissão Coexistem vários fatores que podem influenciar na escolha da futura profissão para o jovem: sua saúde, as tendências e habilidades inatas, sua educação, a estrutura e tradição familiar, a ocupação e abertura dos pais, os grupos culturais que convive, seu acesso à escola e aos estudos, as possibilidades de sua cidade, e especialmente a classe sócio-econômica à qual pertence o indivíduo. As opções que se oferecem a um jovem de bom nível de renda são muito diferentes das possibilidades de um menino de doze anos, analfabeto, que precisa sustentar a família de sete irmãos num barraco de um cômodo. Muitas vezes o jovem de boa renda pode optar por diversas profissões, enquanto que o jovem de baixa renda precisa “aceitar o que lhe aparece”, acabando geralmente em trabalhos que não se identifica, com atividades repetidas e baixa remuneração. A dificuldade da escolha da profissão Nesse momento de sua vida, por volta dos quinze ou dezesseis anos, o adolescente geralmente ainda desconhece a si mesmo e suas aptidões, desconhece o significado e a realidade de cada profissão, desconhece o mercado de trabalho. Neste momento ele se vê pressionado pela família, pela escola e pela sociedade a decidir a profissão que teoricamente deverá exercer pelo resto de sua vida. A decisão muitasvezes será tomada sem qualquer reflexão (até porque não há bases para refletir), em meio à angústia e à tensão, facilitando também a interferência externa (da família, especialmente). Escolher uma profissão que se realize É muito importante ressaltar que as opções não se fixam no vestibular. O adolescente, na verdade, não precisa fazer o vestibular, ou pelo menos, não precisa fazê-lo num determinado momento. Não é obrigado a ter uma profissão só pelo resto da vida, nem é indispensável que ele seja médico, analista de sistemas, engenheiro ou coisa do gênero. Ou seja, o adolescente não é obrigado a “entrar no esquema” segundo o que a sociedade costuma exigir dele. Há uma infinidade de possibilidades, e é interessante que cada adolescente possa experimentar diferentes caminhos e profissões, até se sentir seguro de uma que realmente seja de seu interesse e que se identifique e se realize exercendo. Referências Bibliográficas BECKER, Daniel. O que é adolescência. São Paulo: Brasiliense, 1999. BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. Por: Bruno Carrasco Professor de filosofia e psicologia, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e em pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia e em psicologia existencial humanista e fenomenológica, pós-graduando em aconselhamento filosófico. www.brunodevir.blogspot.com www.instagram.com/brunodevir www.fb.com/brunodevir http://www.brunodevir.blogspot.com http://www.instagram.com/brunodevir http://www.fb.com/brunodevir
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