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Asatru Introdução A menos de mil anos atrás os antigos sábios da Islândia tomaram uma decisão. Sob pressão política da Europa cristianizada e enfrentando a necessidade de comércio, a assembléia nacional declarou a Islândia como sendo um oficialmente um país cristão. Dentro de poucos séculos os últimos remanescentes do Paganismo Nórdico, acabaram morrendo. Contudo, a Islândia era um país tolerante e os mitos, estórias, e lendas da era pagã felizmente não foram queimados, e com isso, acenderam o fogo das crenças pagãs em gerações posteriores. Em 1972, depois de uma longa campanha feita pelo poeta e Godhi (Sacerdote) Sveinbjorn Beinteinsson, a Islândia novamente reconheceu o paganismo nórdico como uma religião legitima e legalizada. Hoje o paganismo nórdico, conhecido como Asatru ("lealdade aos Deuses" do nórdico antigo), é praticado em vários países além dos países escandinavos. O Asatru também faz parte do grupo das religiões neo-pagãs como o Druidismo, a Wicca, a Bruxaria Tradicional, a Stregheria, etc. Contudo, o Asatru permanece desconhecido pela maioria, até mesmo dentro da comunidade neo-pagã. O mais importante para se lembrar é que o Asatru é uma religião. Não é um sistema de magia ou uma "Prática New Age". A palavra Asatru derivou-se do "As" (Aesir, família principal dos Deuses de Asgard) e "tru" (tru - true - verdade - confiança - lealdade). Ser Asatru é estar ligado com lealdade e confiança aos antigos arquétipos do norte da Europa, contudo, você pode pegar coisas de outras religiões e outros arquétipos e continuar sendo Asatru, basta você ter o panteão nórdico como o seu preferido e sua base nos princípios nórdicos. Outra coisa característica do Asatru é a condenação da conversão, como nas religiões missionárias tipo o cristianismo. Para o Asatru não existe "verdade absoluta"; cada pessoa é dona de si mesma e é capaz de escolher sua "verdade", nenhuma religião é errada. Asatru valoriza seus ancestrais, valoriza o estudo do passado e das origens e valoriza a guerra com sabedoria. O Asatru não é universal e não considera seu caminho como sendo o correto para todos, o Asatru acredita que há espaço para todos os arquétipos no mundo e que todos eles tem o seu valor. Baseado nisso, clamar que Zeus é o mesmo Deus que Odin é loucura. Os Valores do Asatru Uma das funções básicas de qualquer religião é estabelecer um conjunto de valores nas quais os seus seguidores poderão basear suas ações. No Asatru não existe moralismo, nem caos desenfreado. Invés, de pré estabelecermos o que é certo ou errado, o que é bom ou mal, nós lidamos com conceitos filosóficos básicos que são baseados nas lendas dos Deuses. No Asatru o julgamento moral está dentro do coração e da mente humana. Nós como seres humanos com o presente da inteligência, somos sensatos e responsáveis o bastante para determinar o que é melhor para nós e agir adequadamente. As nove virtudes da nobreza da alma, dentro do Asatru são: Coragem, Verdade, Honra, Fidelidade, Disciplina, Hospitalidade, Força de Vontade, Autoconfiança e Perseverança. Os deuses de Asgard Os Deuses nórdicos são divididos em três raças: os Aesir, os Vanir, e os Jotnar (Gigantes). Os arquétipos dos Aesir estão mais ligados a sociedade, as facetas dos seres humanos, etc. Os Vanir estão mais conectados com a Terra, representando a fertilidade e as forças naturais benéficas aos seres humanos. Uma vez teve uma grande guerra entre os Aesir e os Vanir, mas acabou sendo estabelecida e Frey, Freya e Njord vieram morar com os Aesir para selar a paz. Os Jotnar são a terceira raça de Deuses e em costante batalha contra os Aesir, mas não há nem nunca haverá paz entre eles. Os Jotnar representam as forças naturais destrutivas e o caos, que estarão sempre em conflito com os Aesir que representam a sociedade e a ordem. Assim como o fogo e o gelo se misturaram para que o mundo pudesse ser formado, essa interação entre o caos e a ordem é que mantém o mundo equilibrado. Os Principais Deuses Os Deuses mais importantes são Odin, Thor e Frey, que representavam as três classes da antiga sociedade: os Reis, os Guerreiros, e os Fazendeiros. ODIN - Odin é o Pai de Todos, relembrado hoje como o Deus da guerra e da fúria dos vikings. Contudo, ele tem outros aspectos até mais importantes que esses. Nas Eddas, ele é o líder dos Deuses, mas essa posição originalmente era de Tyr, pois Odin tornou-se soberano durante a Era Viking, onde um Deus mais astuto era mais importante que um Deus radicalmente justiceiro. Odin é o Deus da sabedoria e do poder magicko, pois foi ele que resgatou as runas, o alfabeto que guarda os mistérios do universo. Odin também é considerado Deus da morte, por que ele (juntamente com Freya) recebia os guerreiros que chegavam em Valhalla. THOR - Thor é provavelmente o Deus mais conhecido entre os Deuses nórdicos. Ele é um Deus simples, o patrono dos guerreiros e do povo. Thor é conhecido pelas suas grandes aventuras e por suas batalhas contra os gigantes. Ele possui uma tremenda força e o martelo Mjolnir, que foi feito pelos Anões. Mjolnir é considerado o maior tesouro dos Deuses por ser a proteção contra os gigantes. Thor é associado ao trovão, e também é o Deus da chuva e das tempestades. FREY - Frey é o Deus da paz e fertilidade. Ele é um Deus Vanir, mas vive com os Aesir para assegurar o tratado de paz.. Era o Deus cultuado pelos camponeses e fazendeiros, que lhe faziam oferendas para que a fertilidade da Terra fosse mantida durante o ano. A palavra "frey" significa "Senhor", por isso não se tem certeza se era o nome do Deus ou era um titulo. Ele também era conhecido como Ing ou Ingvi, por isso alguns o chamam de Frey Ingvi. FREYA - Freya é a Deusa mais importante e a mais conhecida. Ela é a irmã gêmea de Frey. Freya é uma Deusa que tem duas facetas. Primeiramente, ela é a Deusa do Amor e da Beleza, também é a Deusa da Guerra que recebe os heróis que morrem dos campos de batalha (juntamente com Odin). Ela também é a Deusa das Feiticeiras e da magia shamanica conhecida com Seidhr. Apesar de Freya ser a Deusa do amor e da beleza, ela não é uma Deusa dependente e muito menos "delicada", como as Deusa do amor de outros panteões. FRIGG - Frigg é a misteriosa esposa de Odin. Ela é a Deusa do casamento, da família e das crianças. Ela simboliza a manutenção da ordem, da harmonia e da paz, dentro de casa. Dizia-se que Frigg sabe o futuro, mas nunca revela seus segredos, nem mesmo ao seu esposo Odin. LOKI - Ele é o Deus do Fogo, também conhecido por sua inteligência, suas artimanhas, e suas brincadeiras que causam problemas à Asgard. Ele é aquele que causa o problema e fica rindo de fora, e depois arruma a solução, é o tipo de cara que aprecia uma boa travessura. Ele é aquele que adora falar o que todo mundo sabe que é verdade, mas ninguém tem coragem de dizer bem alto e direto. Sua maior façanha e a mais conhecida é ter conseguido matar Balder. Balder era o Deus mais bonito e amado entre os Deuses e uma das suas virtudes era que nenhum material do mundo poderia feri-lo, com a única exceção do visco que foi considerado tão fraco e pequeno para ser uma ameaça. Assim, Loki pegou o Deus Cego Hod e colocou um dardo feito de visco na sua mão e o guiou para lança-lo. O dardo pegou em Balder, causando assim sua morte. Com a morte de Balder, Loki se uniu aos gigantes e as legiões do caos e declarou guerra aos Deuses, assim começando o Ragnarok. Muitas vezes essa lenda é mal interpretada e com isso Loki acaba sendo visto como o "demônio nórdico", isso é um conceito errôneo. Ignorar Loki, seria ignorar o irmão de sangue de Odin, o companheiro de aventuras de Thor, o provedor de muitos dos benefícios dos Deuses e aquele que destroi o mundo para que ele seja reconstruído das cinzas. Isso é uma parte do ciclo, assim como está na Edda: "Cattle die, and men die, and you too shalldie..." (O gado morre, os homens morrem, e você também deve morrer...) TYR - Embora raramente seja lembrado nos dias de hoje entre os Deuses mais populares, Tyr é extremamente importante. Ele é o Deus da guerra, da justiça e da nobreza. O mito mais importante envolvendo Tyr mostra tanto bravura quanto honra. Ele perdeu sua mão para que o Lobo Fenris pudesse ser capturado pelos Deuses. BALDER - Infelizmente, escritores modernos, de uma linha de pensamento cristã, tentam transformar Balder no "Cristo" nórdico. Balder é o Deus da luz, da beleza e da bondade, mas seu nome significa "guerreiro". É um erro ver Balder como um "Cristo" Nórdico. Balder morreu mais irá retornar após o Ragnarok. HEIMDALL - É o guardião da ponte do arco-íris que leva a Asgard, morada dos Deuses. Sua audição é tão boa que ele pode escutar a grama nascendo na Terra, ou a lã crescendo no dorso da ovelha. A simbologia da ponte do arco-íris é vasta, ela pode significar a conexão entre a matéria e o espírito, pode significar a ligação entre os homens e os Deuses, etc... É Heimdall que vai dar o sinal para os Deuses que o Ragnarok começou. SKADI - É a Deusa do Inverno e da caça. Ela casou-se com Njord, Deus dos Mares, porque acabou se confundindo no concurso de pés mais bonitos. Ela queria se casar com Balder, por isso seu casamento não era tão feliz. Ela também é a Deusa da Justiça, Vingança, e da Cólera Justa Existem muitos outros Deuses dentro do panteão nórdico: Hel, Deusa da morte; Sif , Deusa da Colheita; Bragi, o bardo e poeta dos Deuses; Idunna, Deusa da Juventude; Vidar and Vali, Filhos de Odin; Magni and Modi, Filhos de Thor; Eostre, Deusa da Primavera, Hoenir, o mensageiro dos Aesir; Sunna and Mani, o Sol e a Lua; Ullr, o Deus da caça; and Nerthus, Deusa do Mar e dos Rios, etc. Os Festivais do Asatru Festas principais dentro do Assatru (Equivalentes aos Sabbaths Wiccanianos) 20 até 31 de Dezembro - JUL - Celebração do ano novo nórdico; um festival de 12 noites. Este é o mais importante de todos os festivais. Na noite de 20 de Dezembro, o Deus Frey Ingvi viaja através da Terra trazendo a paz, a confraternização, e o amor para Midgard. Depois da influência cristã, o Deus Balder (Sincretizado com Jesus) é renascido nesse festival como o novo ano Solar. O Deus Wotan (Odin); viaja pelo céu com seu cavalo de oito patas, Sleipnir. Nos tempos antigos, as crianças germânicas e nórdicas deixavam suas botas na janela cheias de açúcar para o cavalo Sleipnir. Em retribuição, Odin deixava um presente como gentileza. Nos temos modernos, Sleipnir foi transformado nas renas e o barbudo Odin acabou virando o simpático Papai Noel. Até hoje existe uma estátua de Odin (ou Thor) na Noruega, que a Igreja acabou transformando na estatua de "São Nicolau". 2 de Fevereiro - DISTING - É o festival onde o povo nórdico se preparava para a para a chegada da primavera. Corresponde ao Imbolc wiccaniano. Disting é caracterizado pela preparação da terra para a plantação, a contagem do gado e dos lucros ou prejuizos do ano. Era dito que o nascimento de bezerros em Disting era um sinal de que o ano iria ser de grande prosperidade. 21 de Março - OSTARA - Festa de Eostre, a Deusa da Primavera. É um festival de alegria e fertilidade. É tempo de dar ovinhos coloridos de presente aos amigos, assim como nossos ancestrais faziam, como um simbolo de boa sorte, fertilidade e prosperidade. Essa tradição sobrevive até hoje no moderno feriado de Páscoa, só que os ovos viraram de chocolate. 22 de Abril até 1 de Maio - WALPURGISNACHT - O festival de Walpurgis, uma noite de festa e trevas. Nas nove noites de 22 até dia 30 de Abril, é relembrado o auto-sacrifício de Odin pendurado na Árvore do Mundo Yggdrasil. Na nona noite (30 de Abril, Walpurgisnacht) que ele resgatou as Runas, e simbolicamente morreu por um instante. Neste momento, toda a luz entre os 9 mundos foi extinguida, o caos reinou. No ultimo toque na meia-noite, ele renasce e tudo volta ao normal. 21 de Junho - LITHA - Celebração do Solstício de Verão, quando a força solar está no seu pico. Litha é um festival de poder e atividade. O Deus Balder morre nessa época para renascer em Jul. 1 de Agosto - LAMMAS - Festival da Colheita. 22 de Setembro - MABON - Festival do final da Colheita. 31 de Outubro - WINTERNIGHTS - O começo do inverno nórdico. É uma festa onde se relembra os mortos e os ancestrais. É uma data ótima para jogos divinatórios. "Full Moon Festivals" (Equivalentes aos Esbaths Wiccanianos) Lua Cheia de Janeiro - Festa em honra a Thor. Lua Cheia de Fevereiro - Festa em honra a Freya. Lua Cheia de Março - Festa em honra a Sif. Lua Cheia de Abril - Festa em honra aos elfos, duendes, fadas e espíritos da natureza. Lua Cheia de Maio - Festa em honra a Njord. Lua Cheia de Junho - Festa em honra a Balder. Lua Cheia de Julho - Festa em honra a Loki. Lua Cheia de Agosto - Festa em honra a Frey. Lua Cheia de Setembro - Festa em honra a Odin. Lua Cheia de Outubro - Festa em honra a Tyr. Lua Cheia de Novembro - Festa em honra aos Heróis mortos em batalha que estão em Valhalla Lua Cheia de Dezembro - Festa em honra a Skadi e Ull Os Rituais do Asatru Sacrifício O Sacrifício é o ritual mais comum dentro do Asatru. Nos tempos antigos, se consagrava um animal aos Deuses, o sacrificavam e com sua carne fazia-se um banquete. Como hoje não somos mais camponeses, a oferenda é feita com frutas, bolos, cervejas e vinhos. Muita gente fica com um "pé atrás" quando se fala de um ritual desse tipo. Rituais que são denominados "sacrificios", tem uma certa conotação violenta e sensasionalista, porque tem sido interpretado de forma errônea. Quando se fala em sacrifício vem em mente "comprar" certa entidade para que ela realize sua vontade, tipo jogar um virgem dentro do vulcão para que o mesmo não entre em erupção. Outro conceito errôneo de sacrifício é achar que se ganha algum tipo de energia com o ato de causar o sofrimento do animal. Todos essas conceitos são errôneos, se você pratica algum ritual desse tipo, você está precisando de um psiquiatra. Nossos ancestrais matavam os animais por serem camponeses, e isso era comum na época, porque sua carne era um ótimo sustento e seu couro dava ótima proteção contra o frio. Fazer isso hoje não tem sentido, pois o mundo é outro e o ser humano evoluiu. A concepção de relacionamento com os Deuses é de extrema importância para que se compreenda a natureza do sacrifício. Nós não somos inferiores aos Deuses, e não devemos adorá-los nesse sentido. Nós somos espiritualmente ligados com eles, porque eles são facetas de nós mesmos e das forças naturais da Terra. Eles são o equilíbrio, o ciclo, a vida, a morte, eles são tudo, e nós fazemos parte desse tudo. Por isso o sacrifício não é apenas uma oferenda para conseguir um objetivo e sim uma comunhão com os Deuses. Oferecer um presente é um ótimo símbolo de amizade e comunhão. Entre as runas, Gebo é a que guarda os mistérios do sacrifício. O sacrifício consiste em duas partes, a consagração e a oferenda. O sacerdote ou a sacerdotisa invoca oralmente os Deuses a serem honrados, depois é traçado no ar as runas dos Deuses invocados com a varinha ou o cajado. Depois disso a oferenda é colocada no altar, então é traçado o símbolo do martelo (um T invertido). Com a consagração completada, então é feita a oferenda oralmente aos Deuses. Depois de simbolicamente a divindade ter bebido e comido a oferenda, o sacerdote faz o mesmo e depois também todos os participantes do ritual. Antes de comer e beber da oferenda, saúda-se os Deuses honrados com um Hail, exemplo: "Hail Odin!" A oferenda não é só abençoada pela força dos Deuses, mas também "passou bela lingua" das divindades. Esse tipo de ritual pode até parecer simples, mas é uma poderosa experiência. Libação Uma das celebrações mais comuns dentro doAsatru e também dentro das outras religiões pagãs. A libação é mais simples e social do que o sacrifício, mas a sua importância não é menor. A libação é muito simples. Os convidados ficam sentados, pegam a bebida alcóolica (Vinho ou cerveja é mais recomendado), enchem seus copos, saúdam-se uns aos outros, saúdam os Deuses, oferecem o primeiro gole aos Deuses deixando cair um pouco da bebida no chão e começam a beber. O libação é um ritual onde se deve ficar bêbado em honra aos Deuses, assim como nossos ancestrais e os heróis ficavam. É a celebração da alegria e da confraternização, conta-se estórias, piadas, fala-se besteira, nada disso é proibido, pelo contrário os Deuses adoram isso. Cada rodada pode ser dedicada a alguma coisa, normalmente a libação Asatru tradicional tem três rodadas, a primeira para os Deuses, a segunda para os heróis quem estão em Valhalla e a terceira para os nossos Ancestrais que já não estão mais entre nós. Juramento É uma das mais importantes cerimonias no Asatru. É o ritual onde se confirma a lealdade aos Deuses, contudo não é nenhuma cerimonia oculta ou iniciatória. É nada mais, nada menos que declarar e afirmar sua lealdade aos Deuses nórdicos. É mais ou menos como o exemplo abaixo: Segure um objeto (pode ser qualquer coisa uma pedra, um pingente, mas o mais recomendado é um anel) e parado na frente do Altar, diga: "Eu [nome], juro pelo símbolo do martelo sempre honrar a bandeira de Asgard e seguir o caminho do norte, agindo sempre com honra, coragem e responsabilidade, fiel aos Aesir e Vanir! Que esse anel (ou outro objeto) seja o símbolo da minha aliança com os Deuses!" Depois do ritual pode ser feita uma libação com nove rodadas dedicadas aos nove valores do Asatru. Esse ritual não deve ser realizado sem antes ter absoluta certeza do que você está fazendo. Quando alguém faz um juramento, deve segui-lo por toda a eternidade. Quem não cumpre seus juramentos, seja em qualquer aspecto da vida, no trabalho, na família, nas amizades, não merece respeito, pois não passa de um covarde. As Origens das Runas Como informações históricas e arqueológicas, as runas se destacaram por um período que se estende de 200 A.C., até o final da Idade Média (e até o presente) em uma área da Islândia até a Romênia, do Báltico ao Mediterrâneo. Se levarmos em consideração que as runas nunca foram utilizadas como escrita de caneta e tinta, mas apenas como símbolos talhados ou gravados sobre madeira, osso metal e pedra, essa vasta extensão geográfica é realmente notável e diz muito a respeito de sua atração e durabilidade. Há uma tendência a menosprezar as runas como sendo simplesmente a escrita da Idade Média utilizada por aqueles povos setentrionais que não foram convertidos ao cristianismo e, consequentemente, não aprenderam o monkalpha (alfabeto dos monges) ou alfabeto latino. Por muitas razões, isso é um infortúnio. Estigmatizar simplesmente as runas por serem um alfabeto pagão faz com que muitas de suas outras funções sejam negadas. Em diversos momentos dos últimos 150 anos, os eruditos têm postulado uma variedade de origens para as runas. Uma das teorias advoga que elas sejam originárias da migração para o norte da escrita cursiva grega. Outra, que sejam baseadas no alfabeto latino, o que, pelo menos, tem mérito de destacar algumas similaridades superficiais nos formatos das letras, especialmente quando consideramos que as formas angulares das runas provêm do fato de serem talhadas e não escritas. Se fossem uma escrita de caneta e tinta, as semelhanças poderiam aumentar dramaticamente. A teoria citada com maior freqüência defende que as runas derivam de um alfabeto itálico do norte. Com certeza, quando a evidência arqueológica é levada em conta, isso parece ter alguma veracidade. Existem ainda outras idéias menos definidas que precisam ser exploradas. As runas apresentam também uma forte semelhança com vários símbolos do hallristningar, os símbolos do culto pré-histórico usados pelos povos setentrionais e registrados em gravuras em rochas. E não importa qual seja a origem das runas, existem a debatida questão sobre quem foi a primeira pessoa que realmente utilizou a escrita. Teria sido desenhada por uma comissão ou teria sido criada como obra de um único indivíduo inspirado? Provavelmente nunca saberemos e isso, por si só, aumenta o poder e o mistério da escrita rúnica. Os mistérios dos dez números A Mônada "O Número Um existe e é concebido independentemente dos outros números. Tendo lhes vivificado através do curso dos dez números, ele os deixa para trás e retorna à unidade" (Dos Erros e da Verdade). "Todos os números são derivados da unidade como a sua emanação ou produto, enquanto que o princípio da unidade está nela mesma e é de si própria derivada. Na unidade, tudo é verdadeiro. Tudo que é eterno é a partir da unidade, perfeito, enquanto que tudo que é falso, está separado da unidade. A unidade multiplicada por si mesmo nunca dá mais do que um pois ele não pode proliferar a partir de si mesmo" (Os Números). "Se a unidade pudesse se gerar e se equiparar ao seu próprio poder, ela se destruiria, como a ação que se opera em cada raiz é finalizada por aquela operação. Para que a unidade produzisse uma verdade central essencial, teria de haver uma diferença entre a semente e o produto, a raiz e o poder. De acordo com a lei das sementes e do produto, ao produzirem seus poderes eles tornam-se inúteis. portanto, Deus não poderia reproduzir a Si mesmo sem padecer. Do princípio, Ele se tornaria o meio e então, se aniquilaria em seus termos. Mas como o princípio, o meio e o final não são Nele diferenciados, já que Ele é tudo isto de uma vez só, sem sucessão nas Suas ações ou diferenças em Seus atributos, esta unidade nunca pode produzir a si mesma e portanto, nunca foi gerada e nem extinta" (Os Números). "Entre as coisas visíveis, o Sol é o símbolo da unidade da ação divina, mas é uma unidade temporal e composta, que não tem os mesmos direitos que pertencem ao seu protótipo" (Obras Póstumas). Da mesma forma, a sucessão contínua de gerações físicas formam uma unidade temporal, que é um signo desfigurado da simples, eterna e divina unidade. Estas imagens não devem ser negligenciadas, pois elas refletem o seu modelo distante. "Os extremos se tocam sem se parecerem; portanto, os seres puros vivem vidas simples; aqueles que estão em expiação tem uma vida composta, ou vida mesclada à morte; seres soberanamente criminosos e aqueles que a eles se assemelham, vivem e viverão, simplesmente na morte, ou na unidade do mal" (Os Números). Ao contemplarmos uma verdade importante, como o poder universal do Criador, Sua majestuosidade, Seu amor, Sua profunda luz ou Seus outros atributos, nós nos elevamos com todo nosso ser em direção do modelo supremo de todas as coisas; todas as nossas faculdades são suspensas para que possamos ser preenchidos com a Sua presença, com Quem na verdade nos tornamos um. Ele é a imagem viva da unidade e o Número Um é a expressão desta unidade ou união indivisível, que existindo intimamente entre todos os atributos da união de forças que Ele é, deveria existir igualmente entre Ele e todas as suas criaturas e produtos. "Mas depois de exaltarmos a nossa contemplação em direção a esta fonte universal, se trouxermos nossos olhos de volta para nós mesmos e nos preenchermos com a nossa própria contemplação, para que possamos nos ver como a fonte daquelas luzes ou daquela satisfação interior que derivamos de nossa fonte superior, estabelecemos assim dois centros de contemplação, dois princípios separados e rivais, duas bases dissociadas - ou, resumindo, duas unidades, das quais uma é real e a outra é aparente e ilusória" (Os Números). A Díada "O número dois tem princípio nele mesmo, mas não se origina de si mesmo" (Os Números). É impossível se produzirdois de um e se algo se separa dele pela violência, só pode ser ilegítimo e uma diminuição de si mesmo. Mas esta diminuição é aquela do âmago do ser, pois de outra forma, este seria apenas um. A diminuição feita no âmago é realizado no meio do ser, pois dividir qualquer coisa ao meio é cortá-la em duas partes. Esta é a verdadeira origem do binário ilegítimo. "Mas a diminuição em questão não torna a unidade menos completa, pois esta não é suscetível a nenhuma alteração; a perda recai sobre o ser que procura atacar a unidade. Portanto, o mal é estranho à unidade. Mas o centro, sem sair de seu valor, é removido para corrigi-lo por que há algo de si mesmo no ser diminuído. Desta forma, podemos entender não só a origem do mal, mas também que ele não é um poder hipotético, já que todos nós o tornamos real em quase todos os momentos de nossa existência" (Os Números). A díade é portanto, o poder perverso que serve como receptáculo de todos os flagelos da justiça divina, que são ligados às coisas materiais e perceptíveis para o castigo de seu líder e de seus seguidores, que voluntariamente abandonaram o âmago divino do seu correspondente espiritual. Sendo assim condenados ao exílio e a atravessarem todo o horror de viver a separação da fonte da vida. "As virtudes inatas das formas corpóreas foram projetadas para conter este poder perverso e quando o homem permite que as virtudes que existem em seu corpo sejam enfraquecidas por esta vontade vil e criminosa, os poderes perversos assumem o controle e atuam na destruição daquele corpo" (Obras Póstumas). A díade também é, de acordo com Saint-Martin, o verdadeiro número da água. A Tríade "O Número Três não deriva seu princípio de si próprio e nem mesmo tem um princípio" (Os Números). As observações a respeito deste número são dispersas e obscuras, incluindo referências vagas a uma lei temporal da trindade, da qual a lei temporal da dualidade depende completamente. "Na ordem divina, 3 é a Santíssima Trindade, como 4 é o ato de sua explosão e o 7, o produto universal e a imensidão infinitas que resultaram das maravilhas desta explosão" (Corresp. Teosófica, carta LXXVI). "O número três nos é revelado só através dos 12 unificados, como o 4 é por nós conhecido apenas pela sua explosão ou multiplicação por 7, que nos dá 16, e como 7, que é a soma deste 16 (1+6 = 7), descreve a nossa supremacia temporal (3) e espiritual (4), ou a imensidão de nosso destino, como humanos" (Corresp. Teosófica, carta LXXVI). O número três atua na direção das formas nas esferas celeste e terrestre; isto é, sendo ternário, em todos os corpos, o número dos princípios espirituais. "Todos os nomes e símbolos que recaírem neste número pertencem às formas, ou devem ter algum efeito sobre as formas" (Os Números). Acima do celeste, foi o pensamento da Divindade que concebeu o projeto de produzir este mundo, e assim o fez de forma ternária, porque esta era a lei das formas, inata ao pensamento divino. "Agora, os pensamentos de Deus são seres. A ação harmoniosa e unanime na Divina Trindade é representada pelos três padres quando eles conduzem juntos a Missa" (Os Números). O Três é, também, o número das essências ou elementos dos quais os corpos são universalmente compostos. Por este número, a lei que dirige a formação dos elementos é expressa e os elementos são resumidos a três, por Saint-Martin, baseado no fato de que há apenas três dimensões, três divisões possíveis de qualquer coisa sensória, três figuras geométricas originais, três faculdades inatas em qualquer ser, três mundos temporais, três níveis na Maçonaria, e como esta lei da tríade demonstra a si mesmo universalmente, de forma tão clara, é razoável supor que o três também está no número dos elementos que são a base de qualquer corpo. "Se o número três é imposto a tudo que é criado, é porque ele imperava em suas origens" (Obras Póstumas). "Se tivessem havido quatro, ao invés de três elementos, eles teriam sido indestrutíveis e o mundo eterno. Sendo três, eles são esvaziados da existência permanente, porque eles não têm unidade, como fica claro para aqueles que conhecem as verdadeiras leis dos números" (Dos Erros e da Verdade). "A razão, qualquer que seja ela, parece conflitar com outra afirmação de que pode haver três em um, numa Trindade Divina, mas não um em três, porque aquilo que é um em três deve estar sujeito no fim, a morte" (Dos Erros e da Verdade). "O três não é só o número da essência e da lei que dirige todos os elementos, mas também, as suas incorporações" (Dos Erros e da Verdade). "Ele é, finalmente, um número mercurial terrestre que representa a parte sólida dos corpos, em correspondência simbólica com a alma (sêxtuplo) dos animais, do qual é o primeiro produto e o de todos os princípios intermediários de todas as classes" (Obras Póstumas). A Pentada No misticismo numérico de Saint-Martin, o quinário é o número do princípio maléfico. Portanto, seu pensamento difere, como já havíamos dito, daqueles sistemas ocultos de numeração que vêem no 5 uma forma especial do microcosmos ou do homem. Também é um aspecto do caráter fragmentário da doutrina Martinista dos números, pois ficamos sem detalhes a respeito das propriedades do quinário, ou da péntada. Aqui somos levados a imaginar que Saint-Martin reteve muitas informações a respeito deste número. "É dito que 2 se torna 3 pela sua diminuição, 3 se torna 4 pelo seu centro, 4 é falsificado pelo seu centro duplo, que perfaz 5; e 5 é restringido pelos números 6, 7, 8, 9, 10, que formam os corretores e retificadores da péntada maléfica" (Os Números). O número também se liga ao que Saint-Martin nos diz a respeito da aplicação dobrada de todos os números. Números verdadeiros sempre produzem, invariavelmente, a vida, a ordem e a harmonia. Portanto, eles sempre agem a favor e nunca são negativos, mesmo quando servem de açoites da justiça, castigando para reparar o mal. Ao passar pela mutação em seres livres, o caráter dos números é assim transformado, porque são outros números que tomam os seus lugares, enquanto que as suas prerrogativas originais permanecem sempre as mesmas em suas essências. Os números falsos, ao contrário, nada produzem. Podem imitar a verdade como macacos, mas nunca conseguem reproduzi-la. Eles se manifestam no desmembramento, nunca na criação, porque eles se tornaram falsos pela divisão e perderam a capacidade criativa. Uma prova disto é encontrada na lenda das cinco virgens tolas, que ficaram sem óleo (para se perfumar e ungir) porque sua conduta as havia separado das suas outras cinco companheiras e também de seus noivos. As virgens sábias concebiam apenas através de seus maridos e quando elas se uniam a eles, elas não eram mais 5, mas sim 10, já que cada uma se unia a um deles. Ou então, eram 6, se o marido for representado apenas por 1 (por uma idéia, um princípio). Portanto, as outras 5 virgens são tão limitadas e insignificantes nos seus verdadeiros números que, incapazes de renovar seu óleo, são forçadas a se refugiar na prudência e a acertar as contas com a caridade, que pode ser encontrada apenas nos números vivificadores, cuja força flui do núcleo do amor. Entretanto, devemos distinguir entre os números falsos quando são empregados para realizar a reintegração e quando estão perpetuando suas próprias injustiças. Neste caso, eles são totalmente entregues a si mesmos e separados da verdade. Mas ao serem usados como instrumentos de reintegração, seres verdadeiros assumem as suas formas e caráter para descender às suas regiões infectas. "Ao assumir as formas destes números falsos, estes outros Seres as corrigem, relacionando-as aos números legítimos, assim opondo o verdadeiro ao falso. Desta maneira, estes Seres também produzem a morte da morte" (Os Números). A Héxada Este Número é a forma pela qual cada operação se realiza. Não é um agenteindividual, mas possui uma afinidade com tudo aquilo que age e nenhum agente realiza qualquer ação sem passar por este número. O seis é a correspondência eterna da circunferência divina com Deus. Por este motivo, Deus que tudo cria, abarca e tudo circunda. A circunferência é composta por seis triângulos equiláteros. Os quais são produtos de dois triângulos que agem um sobre o outro. O seis é a expressão dos seis atos do pensamento divino, manifestados nos 6 dias da criação e destinados a realizar a sua reintegração. Portanto, este número é a forma através da qual tudo se gera, apesar de não ser nem seu princípio e nem seu agente. É na adição teosófica (adição teosófica é a soma dos algarismos unitários que compõe um número. Assim, a adição teosófica de 10 é igual a 1, por que 1 + 0 = 1) do número três que encontramos a prova da influência que o seis tem sobre a corporificação dos princípios. As Escrituras remontam o seis à origem das coisas e o levam para além das coisas. Tendo realizado o trabalho dos 6 dias, o seis põe, no Apocalipse, perante o trono do Eterno, 4 animais de 6 asas e 24 anciãos, que se prostram perante Deus. Com isto vemos que o seis é a maneira universal das coisas, porque tem o mesmo caráter na ordem universal e assim sendo, nossas faculdades trinas têm de seguí-lo para obterem a realização de suas ações: Pensamento, 1; Vontade, 2; Ação, 3 que é igual a 6. Os 24 anciãos do Apocalipse são iguais a 6, que é por assim dizer: 1, 3, 4, 7, 8, 10. Estes números somados formam 33, incluindo o zero - que é a imagem e evidência das aparições corpóreas. Mas eles somam 24 sem o zero. Portanto, estes seis números sozinhos são reais e imateriais, agiram e agirão eternamente. E isto é o mesmo que dizer que há eternamente dois poderes: aquele de Deus e aquele do Espírito. O seis foi ultrajado nas várias prevaricações que fizeram com que o Reparador descesse a esta Terra; foi necessário que ele viesse reparar aquela realidade. Por esta razão, ele transformou a água, contida nos 6 jarros no casamento de Canaã, em vinho. "Não é menos verdade que a héxada, sendo apenas a forma de atuação de todas as coisas, não pode ser vista, precisamente, como um número ativo e real, mas sim como uma lei eterna impressa em todos os números. Também sendo aquilo sobre o que o homem tinha o domínio, originalmente, e sobre o que ele irá governar novamente, depois da sua Reintegração" (Os Números). Finalmente, o número 2 opera na héxada de formas que são apenas uma adição passiva dos dois princípios (Deus e o Espírito). A raiz destes é dois e é também o agente de suas formas e sensações pela multiplicação de seus próprios elementos. A Hêptada "O Número do setenário espiritual significa o próprio Poder Divino" (Obras Póstumas). Este é o número das formas universais do Espírito; o seu fruto sendo encontrado nos seus múltiplos. O quadrado de 7, é 49, é portanto o 7 em desenvolvimento, enquanto que em sua raiz, é o 7 concentrado. Esta explicação se faz necessária antes de prosseguir, para chegar ao 8, que é o espelho temporal do invisível incalculável denário (série de dez). Enquanto passa de 7 à 8, através da grande unidade com a qual se reúne, ele também passa de 49 ao 50, através da mesma unificação com a unidade. E leva o elemento quaternário da alma humana à sua integração ao faze-lo transcender e abolir o caráter de 9 (novenário) das aparências, que é o nosso limite e a causa de nossas privações. "Isto demonstra que 5 é igual a 8 e que 8 é igual a 5, na grande maravilha que o Divino Reparador produziu para nós, para que possamos nos regenerar" (Corresp. Teosófica, carta XC). Obs.: Nesta carta, Saint-Martin afirma que esta revelação foi feita diretamente para sua inteligência; e que não se originou de nenhum homem .O sete é produto de uma única operação: 4 x 4 = 16 = 1+ 6 (redução teosófica) = 7. "A hêptada é ao mesmo tempo o número do Espírito, por que se origina do Divino e perfaz 28, na contagem de seu poder duplo contrário ao poder lunar. Deveria ser notado que o número 28 indica que a Palavra não se realizou, até a segunda prevaricação. Mas estas são simples palavras, porque 7 vindo de 76 não é raiz (redução teosófica), nem é o poder fundamental de 4, pois penetra na raiz apenas através da adição" (Os Números). "Independentemente da raiz numérica (Raiz Numérica: neste texto, o termo raiz numérica é empregado para designar o produto da redução teosófica) que expressa o poder setenário da alma, podemos descobri-la nos poderes sobre a trindade dos elementos e a dos princípios. Este poder sobre as duas trindades (dois triângulos) forma o eixo central humano. A alma é o centro destes dois triângulos. Se, ao invés deste centro, analisarmos o poder da alma sobre o que é celestial, encontraremos de forma mais clara o poder setenário da alma sobre o físico e o espiritual" (Os Números). Mas 7 x 7 = 49 x 7 = 343. O homem é elevado a este posto, ou melhor, emancipado desta forma, só quando seu poder é triplicado, formando o seu cubo. É nos elementos deste cubo que podemos enxergar claramente o destino deste homem primordial, já que ele foi posto entre o triângulo superior - do qual derivou tudo - e o triângulo inferior, o qual ele domina. Para conhecermos as verdadeiras propriedades de um ser, o seu poder tem de ser analisado de forma cúbica (elevado à terceira potência), pois somente assim todas as suas potencialidades são reveladas, ou desenvolvidas. O Número Sete também indica que a manifestação da justiça universal, ou temporalidade, deve ser enviada a todos os prevaricadores, apesar de ser o número Quatro o agente que executa esta justiça. Como este agente é o Espírito e o Espírito não pode aparecer no tempo sem uma embalagem corpórea, Este é feito perceptível pela seteneidade, que é o corpo do quaternário, como o seis é o corpo do setenário, assim como a trindade material é o corpo do seis que a executou. Concluindo, o quaternário é o corpo da unidade, que não pode ser manifestada neste mundo em sua forma absoluta, mas deve subdividir os poderes que foram colocados na criação, para que possamos entendê-la. A Ôctada É apenas depois do quadrado do Espírito se haver completado, que a ôctada pode ter lugar. Enquanto que o seu trabalho pode ser conhecido claramente apenas através do número 50, porque daí o número da injustiça e o número da matéria são dissipados pela influência vivificadora e regeneradora da Unidade que as substitui. Ao que tange a Unidade Absoluta, ou o Pai, ninguém nunca viu, ou O deverá ver neste mundo, exceto pelas oitavas e por meio da ôctada, as únicas formas de alcança-lo. "O número 50 desapareceu quando a Santíssima Oitava se aproximou, porque os dois não poderiam coexistir. A injustiça e as aparências não se sustentariam perante a unidade e o seu poder. Isto é a razão de ser da Divina Igreja, fora à qual, nenhum homem pode ser salvo e contra a qual os portais do inferno não devem prevalecer. Esta (a ôctada) é a chave que abre e ninguém fecha, ou que tranca e ninguém mais abre" (Os Números). Cristo é trino em seus elementos de atuação, assim como em seus fundamentos Seu número é 8, e sua extração mística nos mostra que em seu trabalho na Terra ele foi de uma vez só divino, corpóreo e perceptível. Apesar de ser, ao se considerar sua ordem eterna, divino em seus três elementos. Ele era o caminho, a verdade e a vida. Era necessário que ele compreendesse em si mesmo o divino, uma alma sensória e o corpóreo, para atuar aqui embaixo, na esfera perceptível. Toda a criação - porque mesmo o nosso pensamento não pode ser manifestado se não estiver associado ao nosso invólucro individual mais grosseiro - não pode ser manifestado sem a mediação de uma ligação material individual. Por isso, o Divino Reparador não poderia estar associado à sua Natureza corpórea (Cristo), senão atravésde uma alma sensória. Esta alma O investe do número 4, seu Ser Divino é representado pelo número 1 e seu corpo pelo número 3. Em nós, a alma divina é representada pelo número 4, o corpo pelo 9, enquanto que Saint-Martin afirmava que o número de nossa alma sensória era por ele desconhecido. Mas ele tinha razão ao pensar que fosse o mesmo do Salvador, porque em todos os outros elementos semelhantes aos nossos, que ele possuía, ele invariavelmente detinha números superiores. A chave do homem consiste nesta alma sensória; através desta é que ele é integrado à sua natureza sensória, ou animal e corporal. Mas como ele não é posto nesta prisão de livre e espontânea vontade, como Cristo o foi, não pode ser esperado do homem conhecer as chaves que o trancam. Saint-Martin pensava, no entanto, que este número correspondia ao seis. A Eneáda Nove é o número de todo limite espiritual, como a circunferência material é o limite dos princípios elementais que lá agem. Portanto, o nove representa o curso de todas as expiações infringidas à humanidade, pela justiça divina. O homem decaiu ao querer avançar do 4 ao 9 e apenas pode ser restaurado ao voltar do 9 ao 4. Esta lei é terrível, mas não é nada se comparada com aquela do número 56, que é assustador para quem o encara, já que eles não podem chegar aos 64, até terem atravessado todas as suas provações. A passagem do 4 ao 9 é a passagem do espírito para a matéria, que em dissolução, de acordo com os números, perfaz 9. A respeito da lei do 56, esta depende do conhecimento das propriedades e condições do número 8, que foram parte da luz obtida por Saint-Martin por meio de sua iniciação, não sendo explicadas em maiores detalhes. "Mas é sabido que os criminosos permaneceram no número 56, enquanto que os justos e purificados chegarão ao 64, ou à Unidade" (Corresp. Teosófica, carta XIII). Saint-Martin afirma que recebeu este conhecimento da escola de Martinez de Pasqually. Quaisquer que sejam os poderes elevados ao número 9, ele sempre permanece sendo 9, porque, como 3 e 6, tem apenas um poder ternário, enquanto que 4, 7, 8 e 10 são poderes secundários e sendo, somente a unidade, o primeiro poder. Portanto a unidade, em todas as multiplicações possíveis resulta somente em um, porque, como já foi visto, ela não pode se separar e se reproduzir a si mesma. Ela (a Unidade) se manifesta fora de si por seus poderes secundários e ternários, eternamente ligados à Unidade. "Se soubéssemos o caminho através do qual a unidade afeta a manifestação de seus poderes, seríamos seus iguais. No entanto, sabemos que ela realiza suas expansões apenas nesta série de dez aqui apresentada. As expansões sozinhas operam apenas fora desta série. Há expansões espirituais e das formas que atuam por leis diferentes e produzem resultados distintos. Os poderes secundários estão ligados diretamente ao centro, mas os ternários se ligam ao centro só de forma mediadora (como meios para expressá-lo) assim produzindo formas, sem uma lei criativa ou geradora, pois esta característica é da Unidade e sem leis administrativas, pois estas são restritas aos poderes secundários" (Os Números). A Década Pela união do setenário espiritual e do ternário temporal, obtemos o tão famoso denário, que está sempre presente nos pensamentos de um Iniciado. Como uma imagem da Divindade em si mesmo, a década (ou série de dez), realiza a Reconciliação de todos seres ao fazê-los retornar à unidade. "O denário temporal é formada de dois números, o 3 e o 7, mas o seu caráter está diretamente relacionado à unidade e não está sujeito a qualquer divisão ou substração" (Obras Póstumas). "Quando os números são ligados à década, nenhum deles apresenta qualquer traço de corrupção ou deformidade; sendo que estas características se manifestam apenas em suas separações. Entre os números com estas características específicas alguns são totalmente maus, como 2 e 5, que sozinhos são capazes de dividir a série sagrada de dez. Outros, estão num processo ativo, de sofrimento ou cura, como acontece com o 4, o 7 e o 8. Outros ainda são dados apenas pela sua aparência, como o 3, o 6 e o 9. Mas nada disto é visto na série completa de dez, porque naquela ordem suprema não há deformações, ilusões, ou sofrimentos" (Os Números). A Métrica de Saint-Martin Entre os legados literários de Saint-Martin estão "Phanos: Um Poema sobre Poesia" e uma diversidade de versos espalhados. Ele também publicou durante sua vida, um livreto métrico chamado "O Cemitério de Amboise", enquanto que em suas Obras Póstumas há um ensaio, em prosa: "Poesia Profética, Épica e Lírica". Saint-Martin via a poesia profética como pertencente à primeira ordem, porque era derivada do primeiro princípio da inspiração e emoção. Para ele, o verdadeiro tema da poesia é a lei divina em todas as categorias às quais ela se aplica e não o amor humano e ainda menos a natureza material, como queriam muitos poetas e artistas de sua época. Portanto, ele encarava a maioria da poesia épica e lírica como uma impertinência, um desvio. A respeito da métrica dos versos, ele postula um axioma que é muito característico, pois, como muitas opiniões de Saint-Martin, nunca haviam passado pela concepção de outros homens. "A música suprema não tem métrica e a poesia pertence a esta classe." (Obras Póstumas). O que é muito mais do que dizer simplesmente que, a poesia deveria ser avaliada mais pelo seu conteúdo, do que pela sua forma. Estas duas perspectivas são, em certo sentido, impossíveis de coexistirem, ou pelo menos, incompatíveis. Pelo menos naquela época, onde se afirmava que a palavra divina deveria tomar uma forma divina, para ser válida e merecedora de adoração. A definição de Saint-Martin é a melhor daquelas duas, porque não utiliza o raciocínio lógico, mas sim metáforas. A outra é uma falácia comum. A poesia perfeita é um espírito (idéia) perfeito, casada com uma forma da mesma qualidade. Quando as duas (idéia e forma) não estão muito bem associadas, então já não estamos falando de poesia. Assim como o espírito do homem não é humano se não tiver a forma (o corpo) de um homem. No entanto, não há motivos para nos estendermos sobre um argumento a respeito do qual ninguém discute. A respeito da concepção de que os exercícios de métrica dos versos de Saint-Martin não são poesia, há algo neste tema que compromete o assunto com aqueles que o admiram. Tentar dar uma versão de seus versos, versão esta que deveria ser compreendida pelo ponto de vista de que uma tradução do francês para o português não tem o mesmo apelo (estético, literário e semântico) daqueles versos concebidos em sua língua original, estaria portanto fora de uma análise correta a tentativa de análise da métrica de Saint-Martin em nosso idioma. A Psicologia Holística Teorias Organísmicas da Personalidade Humana Carlos Antonio Fragoso Guimarães Desde que René Descartes estabeleceu seu método de análise como um instrumento cientificamente eficaz no estudo dos fenômenos físicos e humanos, exaltando o reducionismo e as relações causais entre as partes que constituem um todo complexo, no século XVII, e postulou uma divisão estrita entre corpo e mente - ou entre a res extensa e a res cogitans -, que as diversas disciplinas acadêmicas tentam se adaptar a um esquema cartesiano de explicação dos diversos fenômenos a que se dedicam. Assim sendo, na esteira da tradição biomédica, a Psicologia foi, desde Wundt, moldada como uma disciplina voltada para a análise do comportamento humano de acordo com preceitos academicamente aceitos de reducionismo e mecanicismo. Tal bagagem referencial vem dificultando o entendimento das relações complementares e a maneira como a mente e o corpo interagem. Wundt, que é considerado o pai da Psicologia experimental moderna, seguindo a tradição empírica tão cara ao século XIX - tradição esta queadvém dos enormes sucessos da Física Clássica de Issac Newton, que, por seu turno, foi precedida pela preparação de uma filosofia racionalista apropriada e em grande parte desenvolvida por René Descartes - estabeleceu uma orientação atômica ou elementarista dos processos mentais, a qual sustentava que todo o funcionamento do nosso psiquismo poderia ser analisado em elementos básicos, elementares e indivisíveis ( como os átomos elementares e indivisíveis que constituiriam o universo mecânico imaginado por Newton), e que seriam os tijolos constituintes das nossas sensações, sentimentos, memória, etc. Esta abordagem reducionista e mecanicista, muito simplória para dar conta de toda a imensa e complexa riqueza do psiquismo humano, logo suscitaram uma forte oposição entre muitos psicólogos e filósofos europeus, que não aceitavam a natureza extremamente fragmentária da psicologia de Wundt. Estes críticos europeus enfatizavam uma compreensão unitária entre a consciência e a percepção, e, em parte, de sua inter-relação com o organismo como um todo. Esta pioneira abordagem holística em Psicologia deu origem a uma importante escola na Alemanha: a Gestalt. A Psicologia da Gestalt Formulada entre fins do século passado e início do nosso século, a Psicologia dos Padrões de Totalidade ou de Totalidades Significativas(Gestalten, em alemão) surgiu como um protesto contra a tentativa de se compreender a experiência psíquico-emocional através de uma análise atomística-mecanicista tal como era proposto por Wundt - análise esta no qual os elementos de uma experiência são reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada um destes componentes são peças estudadas isoladamente dos outros, ou seja, a experiência é entendida como a soma das propriedades das partes que a constituiriam, assim como um relógio é constituído de peças isoladas. A principal caraterística da abordagem mecanicista é, pois, a de que a totalidade pode ser entendida a partir das características de suas partes constituidas. Porém, para os psicólogos da Gestalt, a totalidade possui características muito particulares que vão muito além da mera soma de suas partes constitutivas. Como exemplo, poderíamos tomar uma fotografia de jornal é que constituída por inúmeros pontinhos negros espalhados numa área da folha de jornal. Nenhum desses pontinhos, isoladamente, pode nos dizer coisa alguma sobre a fotografia. Apenas quando tomamos a totalidade da figura, é que percebemos a sua significação. A própria palavra Gestalt significa uma disposição ou configuração de partes que, juntas, constituem um novo sistema, um todo significativo. Sendo assim, o princípio fundamental da abordagem gestáltica é a de que as partes nunca podem proporcionar uma real compreensão do todo, que emerge desta configuração de interações e interdependências de partes constituintes. O todo se fragmenta em meras partes e/ou deixa de ter um significado quando é analisado ou dissecado, ou seja, deixa de ser um todo. Esta escola teve como principais expoentes Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka. Posteriormente, Kurt Lewin elaboraria uma teoria da personalidade com base na compreensão gestáltica da totalidade significativa, onde se estipula que o comportamento do indivíduo é a resultante da configuração de elementos internos num "espaço vital", que é a totalidade da experiência vivencial do indivíduo num dado momento ( ou seja, todo o conjunto de experiências que se faz sentir num dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo ). Estas idéias foram, em parte, adotadas por Carl Rogers em sua teoria da personalidade, conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa já que é o cliente que dirige o andamento do processo psicoterapêutico, trazendo e vivenciando o material pessoal exposto nas sessões. Já o psicoterapeuta Frederick S. Perls desenvolveria uma corrente de psicoterapia baseada nos fundamentos da escola da gestalt, pondo em prática uma ação terapêutica voltada aos padrões vivenciais significativos do indivíduo. Esta corrente é conhecida como Gestalt-Terapia. A Psicologia Organísmica de Kurt Goldstein Jan Smuts, militar e estadista inglês, que se tornou uma figura importante na história da África do Sul, é freqüentemente reconhecido e citado como o grande pioneiro e precursor filosófico da moderna teoria organísmica ou holística do século XX. Seu livro seminal intitulado Holism and Evolution, de 1926, exerceu uma grande influência sobre vários cientistas e pensadores, muito embora, na época de seu lançamento, tenha passado quase despercebido da elite intelectual da primeira metade do século, tendo só aos poucos ganhando seu merecido espaço nos meios acadêmicos e filosóficos, principalmente graças ao impacto que exerceu em pensadores e teóricos do porte de um Alfred Adler, famoso teórico da personalidade e discípulo dissidente de Sigmund Freud; ou de um Adolf Meyer, psicobiólogo; ou na recente e menos mecanicista linha médica, dentro da alopatia, chamada de psicossomática, etc. Smuts cunhou o termo holismo da raiz grega holos, que significa todo, inteiro, completo. Mas as verdadeiras bases da concepção holística, ou do pensamento holístico, vêm verdadeiramente de muito antes, desde Heráclito, Pitágoras, Aristóteles e Plotino até Spinoza, Goethe, Schelling, Flammarion e Willian James (Hall e Lindzey, 1978; Crema, 1988; Guimarães, 1996). Um dos maiores expoentes do pensamento holístico em psicologia e em psiquiatria é Kurt Goldstein. Ele formulou a sua teoria holística da psique a partir de seus estudos e observações clínicas realizados em soldados lesionados no cérebro durante a I Guerra Mundial, e de estudos sobre distúrbios de linguagem. Deste leque de observações, Goldstein chegou à conclusão (hoje mais ou menos óbvia) de que um determinado sintoma patológico não pode ser compreendido ou reduzido a uma mera lesão orgânica localizada, mas como tendo características e/ou fortes reforços ou abrandamentos do organismo como um todo, como um conjunto integrado, como um holos e não como um conjunto de partes mais ou menos independentes. Segundo Goldstein, o corpo e a mente não podem ser vistos como entidades separadas, tais como separamos o software do hardware, pois ambos só se expressam na conjunção, na união e íntima conexão de ambos. O organismo é uma só unidade e o que ocorre em uma parte afeta o todo, como já era reconhecido pela da medicina Homeopática e pelas artes da cura não ocidentais, como na medicina chinesa, e na sabedoria das tradições populares e xamanísticas de povos ditos "primitivos" (Capra, 1986; Eliade, 1997; Guimarães, 1996). Qualquer fenômeno, quer seja positivo ou não, se passa tanto ao nível fisiológico quanto psicológico, ou seja, se passa sempre no contexto do organismo como um todo, a menos que se tenha isolado artificialmente este contexto, como se fez nas ciências e nos meios acadêmicos desde Descartes, com as esferas da Res Cogitans, que é a esfera do mental, e da Res Extensa ou a esfera do físico, e a ramificação entre ciências naturais e ciências humanas. Ora, não existe real diferenciação (no sentido de mensuração) entre estes dois ramos. Assim, qualquer redução ou caracterização em um ou outro destes critérios (físico e mental) é um isolamento artificial e, consequentemente, parcial. As leis do organismo são as leis de uma totalidade dinâmica, que harmoniza as "diferentes" partes que constituem esta totalidade. Portanto, é necessário descobrir as leis pelas quais o organismo inteiro funciona, para que se possa compreender a função de qualquer de seus componentes, e não o inverso, como se tem feito até hoje (Hall e Lindzey, 1978). É este o princípio básico da teoria organísmica ou holística em saúde, principalmente em Psicologia. Goldstein acreditava que os sintomas patológicos eram uma interferência do meio sobrea organização do todo, ou eram, em menor grau, conseqüências de anomalias internas. Mas, de qualquer forma, a tendência intrínseca ao equilíbrio dinâmico poderia levar o indivíduo a se adaptar à nova realidade, desde existam os meios que sejam apropriados para isso. Assim, Goldstein via em todo o ser vivo uma tendência de auto-realização que significaria uma esforço constante para a realização das potencialidades inerentes dos seres vivos, mesmo que haja um meio hostil. É assim que, mesmo em ambientes não propícios, vemos nascerem plantas que, mal grado, não consigam se desenvolver totalmente, mesmo assim teimam em nascer, mesmo que venham a morrer ou a se atrofiarem em breve, mas a ânsia de viver é mais forte. Esta idéia de auto-realização ou de auto-atualização foi, posteriormente, adotada por teóricos vários, desde Carl Rogers até biólogos, como Maturana. Andras Angyal e o conceito de Biosfera Assim como Goldstein, Andras Angyal, húngaro naturalizado americano, não poderia conceber uma ciência que não fosse holística, alcançando a pessoa e a vida como um todo. Mas, ao contrário de Goldstein, Angyal não podia admitir numa distinção entre o organismo e o meio-ambiente, assim como um físico relativista não pode acreditar numa separação rígida entre matéria e energia. Angyal afirma que organismo e meio ambiente se interpenetram de uma forma tão complexa que qualquer tentativa para separá-lo expressa uma visão mecanicista do mundo que destrói a unidade natural de todas as coisas (unidade sutil, é verdade, mas bem visível na interdependência bio-ecológica e social de todos os seres vivos), o que cria uma diferenciação artificial e patológica entre o organismo e o meio (Hall e Lindzey, 1978; Capra, 1986), o que estimula todo o tipo de crime social e ecológico que vemos em nosso século. Se, na história da humanidade, houve grandes catástrofes naturais e grandes genocídios através da mão humana em nome da religião, por exemplo, mesmo assim nunca se matou tanto como em nossos dias, em nome de uma concepção de mundo mecanicista- racionalista e capitalista, onde tudo foi separado de tudo, e os seres vivos são vistos como máquinas e nada mais. Angyal criou o termo biosfera para traduzir uma concepção holística ou ecológica que compreenda o indivíduo e o meio "não como partes em interação, não como constituintes que tenham uma existência independente dos demais, como peças de um relógio, mas como aspectos de uma mesma realidade, que só podem ser separados realizando-se uma abstração" (Angyal, cit. em Hall e Lindzey, 1978, p. 43). A biosfera, portanto, em seu sentido mais amplo seria mais ou menos como a atual concepção de Gaia, ou da Terra viva. A biosfera pode ser vista em vários níveis, inclusive no nível humano, onde um indivíduo constitui uma biosfera particular em relação ao seu conjunto orgânico e psíquico, assim como uma sociedade, etc. Assim, a Biosfera inclui tanto os processos somáticos quanto os psicológicos (individuais e coletivos) e os sociais, que podem ser estudados assim, separadamente, mas só até certo ponto. Segundo Hall e Lindzey (1978), embora seja a Biosfera um todo indivisível, ela é composta e organizada por sistemas estruturalmente articulados. A tarefa do cientista seria, assim, de identificar as linhas de demarcação determinadas na biosfera pela estrutura natural do todo em si mesmo. Assim, um homem se diferencia de outro homem, mas ambos possuem características que nos permitem classificá-los como homens e não como peixes, etc. O organismo individual, um sujeito, portanto, constitui um pólo da biosfera, e o meio ambiente, natural e social, o outro polo. Toda a dinâmica essencial da vida está fundada na interação entre estes dois pólos. Angyal postula que não são os processos de um ou de outro que determinam ou refletem a realidade, mas a interação contínua de ambos. Assim, a vida como um todo unitário nos daria uma nova visão e a possibilidade de percebermos fenômenos e detalhes que nos escapam no estudo polar de ambos os níveis da realidade. Bibliografia Hall, Calvin S. & Lindzey, Gardner. Theories of Personality, 3º Ed., Jonh Wiley & Sons, Inc. 1978 Fadiman, James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade. Ed. Harbra, São Paulo, 1986 Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986. Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência, Ed. Persona, João Pessoa, 1996 Iniciação e ritos de passagem Por Jan Duarte Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou ritos de passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representavam igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo portanto tanto o cunho individual quanto o coletivo. Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome, previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez, de forma solene. Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia. Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação, marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se para o casamento. Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao derramamento de sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade (pela procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã. Variadas cerimônias marcavam, ainda, a idade adulta. Entre os nativos norte- americanos, algumas tribos praticavam um rito onde a pele do peito dos jovens guerreiros era trespassada por espetos e repuxada por cordas. A dor e o sangue derramado eram, dessa forma, considerados como uma retribuição à Terra das dádivas que a tribo recebera até ali. Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no reino dos mortos e garantia o retorno futuro ao mundo dos vivos. Todas essas cerimônias, no entanto, marcavam pontos de desprendimento. Velhas atitudes eram abandonadas e novas deviam ser aceitas. A convivência com algumas pessoas devia ser deixada para trás e novas pessoas passavam a constituir o grupo de relacionamento direto. Muitas vezes, a cada uma dessas cerimônias, a pessoa trocava de nome, representando que aquela identidade que assumira até então, não mais existia - ela era uma nova pessoa. Nos tempos atuais e nas sociedades modernas, muitos desses ritos subsistiram, embora muitos deles esvaziados do seu conteúdo simbólico. Batismo e festas de aniversário de 15 anos, por exemplo, são resquícios desse tipo de cerimônia, que hoje representam muito mais um compromisso social do que a marcação do início de uma nova fase na vida do indivíduo. No entanto, a troca do símbolo pela ostentação pura e simples, acaba criando a desestruturação do padrão social. Tomando o batizado cristão como exemplo, poderia- se perguntar quantas pessoas que batizam os seus filhos são, realmente, cristãs. Quantas pretendem realmente cumprir a promessa solene, feita em frente ao seu sacerdote, de manter a criança na fé dos seus antepassados? Obviamente, nas sociedades primitivas, tais promessas eram obrigações indiscutíveis e sagradas. Rompê-las era colocar em risco a própria sobrevivênciada tribo como unidade coerente, o que não era, ao menos, cogitável. A Iniciação dos Xamãs e Heróis Ao lado dos ritos que abordamos, de certa forma institucionalizados e regulados pela família e pela sociedade, haviam outros ritos específicos, que poderiam configurar uma categoria distinta de passagem ou iniciação. Embora pudessem acontecer depois de alguma preparação, era comum que esses ritos ocorressem espontâneamente, a partir de uma casualidade que era então tida como propiciada pelos deuses. Estes eram os ritos de iniciação dos xamãs ou dos heróis. Muitas pessoas, após passarem incólumes por algum tipo de experiência traumática, que poderia ter provocado a sua morte, eram consideradas como pertencendo a uma classe especial. Estados semicomatosos induzidos por doenças, picada de animais peçonhentos, etc, eram normalmente considerados como modificadores da pessoa, que retornaria desses estados possuindo uma nova e mais clara visão do mundo. Essas pessoas, geralmente, eram alçadas à condição de xamãs pela tribo. Por um outro lado, o contrário também poderia acontecer: dentro do processo normal de treinamento de um xamã, chegava-se a um ponto em que determinadas provas deveriam ser enfrentadas, para que o treinando comprovasse a sua capacidade de enfrentar seus medos e seus próprios limites físicos e mentais. Isolamento, frio, fome, às vezes extremos, eram utilizados nesse sentido. A idéia aqui, portanto, não era a de rito de passagem simplesmente como transição de um período para outro da vida, mas também como de um estado de consciência para outro. Ou seja: essa forma de rito não depreendia uma idade ou ocasião específica, e nem ao menos uma cerimônia específica. Poderia acontecer a qualquer momento da vida, por acaso ou por escolha própria, e tinha um cunho de transformação de personalidade mais profundo, geralmente associado a uma missão a cumprir, após a iniciação. O caráter de morte e renascimento nesses ritos era profundamente marcado. Vê-se tal caráter em diversas lendas de heróis mitológicos, como, por exemplo, no mito egípcio de Osíris, que possui todas as características associadas ao processo das iniciações míticas. Osíris era uma divindade civilizadora - a ele era atribuída a invenção da escrita e o desenvolvimento da agricultura. No mito, seu corpo é despedaçado e espalhado por todo o Egito; em seguida sua esposa Ísis empreende uma longa busca pelos seus pedaços, e reúne-os para que ele gere com ela seu filho Hórus, que irá prosseguir seu trabalho civilizador. Há de se notar que Ísis, além de esposa, era irmã de Osíris, ou seja: a idéia é que os dois, na verdade, eram duas faces distintas de uma mesma pessoa. Osíris representa o aspecto de nossos conhecimentos prévios que hão de ser desfeitos, ao passo que Ísis representa a parte de nós que realiza a busca e a reconstrução. Note-se, também, que Osíris (o conhecimento), após ser reconstruído, não permanece existindo, mas apenas cumpre a função de gerar em Ísis um novo ser, filho da fusão entre as duas partes. A mensagem, portanto, é: aquele que busca o conhecimento deverá morrer (perder a individualidade, desfazer-se), recolher suas partes através de um árduo e longo trabalho e, por fim, transformar-se em um novo ser, com uma missão a cumprir. O Significado das Iniciações no Paganismo O termo iniciação tem sido bastante mal compreendido dentro do paganismo atual. Confunde-se iniciação com "início", e muitos julgam que a iniciação seria uma espécie de cerimônia de admissão em certas vertentes do paganismo. Contrapõe-se a figura do iniciante à do iniciado, o que é correto apenas em parte. Na realidade, há de se encarar o paganismo, se não como uma religião (já que essa palavra geralmente implica dogma e sistematização), pelo menos como uma forma de manifestação da religiosidade natural do ser humano. Dessa maneira, não faria sentido um ritual específico para que uma pessoa pudesse praticá-lo, da mesma maneira que nenhuma condição é pré-estabelecida para que alguém frequente uma igreja. Por um outro lado, para a maioria das pessoas, adotar essa forma pagã de religiosidade significa romper, de qualquer maneira, com velhos dogmas e sistemas, ou seja: é uma forma de passagem. Já que a própria concepção pagã, como descrevemos no início deste texto, preconiza a marcação das passagens com celebrações específicas, a idéia da existência de uma cerimônia de iniciação (ou várias) estaria portanto justificada. O que se vê, no entanto, não é isso. A idéia da iniciação, por ser mal compreendida, é comumente descrita como uma espécie de ritual mágico, que pode ser realizado sozinho e que transformaria as pessoas em bruxos. Isso é, pura e simplesmente, uma deturpação da idéia. O rito de passagem tem suas próprias funções, como vimos: ele marca transições, marca o assumir de novos hábitos e responsabilidades e marca a aceitação de uma pessoa por um determinado grupo. Não se poderia esperar, no entanto, que essas transformações fossem efetivadas sem uma preparação específica. Voltando às sociedades tribais, podemos observar que os jovens, no decorrer de sua vida, são constante e cotidianamente preparados para os momentos de seus ritos de passagem. Apenas como exemplo, o futuro caçador passa por vezes anos acompanhando os grupos de caça, assumindo funções progressivamente mais importantes nesses grupos, até finalmente chegar a abater, sozinho, a sua primeira presa. Quando isso acontece, ele passa pela cerimônia que marca a sua aceitação pelo grupo dos caçadores, tendo provado que é digno de fazer parte desse grupo. Assim, a idéia de uma cerimônia de iniciação dentro do paganismo, se admitida como necessária, há de ter essas mesmas características. Passar por essa cerimônia significa que o iniciado adquiriu conhecimento e prática, e por isso mesmo tornou-se digno de fazer parte de um grupo. Logo, isso não pode ser nem um ato prévio nem um ato solitário. É incongruente tanto dizer-se que novas atitudes serão assumidas sem que tenhamos nos preparado para isso, quanto nos admitirmos num "grupo" do qual apenas nós fazemos parte. As Jornadas Iniciáticas Uma vez compreendido que a iniciação é o resultado de um processo mais ou menos longo de compreensão, conhecimento e prática, que leva a uma mudança de status pessoal por marcar uma mudança de hábitos; que ela é a culminância de um processo e não o processo em si, há de se entender como esse processo se dá. Um processo de iniciação é um processo de trabalho da personalidade, que envolve, como dissemos, a desconstrução de padrões pré-estabelecidos e a construção de novos padrões, que passarão a nortear a nossa conduta e existência. Vemos uma representação desse processo nos arcanos maiores do tarô: cada um deles representa um passo, um degrau, um conhecimento específico que se deve adquirir, ao longo de um caminho iniciático. Esse caminho é, no tarô, percorrido pelo Louco, que justamente por isso é o arcano sem número, podendo se encontrar, portanto, em qualquer uma das posições, ou estágios do caminho. O Louco representa a própria desconstrução. Consideramos louco tudo aquilo que não é estruturado, tudo aquilo que é, de certa forma, caótico ou vazio. No entanto, a real estruturação apenas pode surgir do caos; caso contrário, o que se dá é apenas uma reformulação, ou mesmo apenas um ajuste. É emblemática a frase que surge em praticamente todas as cosmogonias, com ligeiras variações: no princípio era o caos. Uma jornada iniciática não pode partir de preceitos estabelecidos. Muito pelo contrário: ela deve começar justamente pela eliminação de todo e qualquer conceito que possa, de alguma forma, direcionar ou influenciar o caminho de quem se propõe a empreendê-la. Note-se que o Louco se encontra, justamente, à beira do abismo. O próximo passo, que ele já começou a dar, o lançará no desconhecido,sem nenhum ponto de apoio, deixando para trás tudo aquilo que é sólido. Lançar-se no abismo (domínio do Ar e, portanto, dos inícios) significa, também, mergulhar na própria consciência, ir ao fundo de si mesmo, atirar-se ao fundo do poço de nossa personalidade. Ao atingirmos o fundo do poço, só existe um caminho de saída: para cima. Logo, apenas ao atingi-lo poderemos empreender a escalada; construir, degrau por degrau, a escada que nos levará das profundezas escuras de volta ao Sol, para que possamos, novamente, ver o Mundo. Esse é, portanto, o teor da jornada iniciática, da qual a cerimônia de iniciação, o rito de passagem, marca simplesmente a culminância do processo. Por isso mesmo, em sua celebração, o rito busca reprisar os episódios da jornada, refazer a desconstrução e reconstrução da personalidade, representar em momentos aquilo que, por vezes, levou anos. No decorrer de nossa vida, podemos passar por diversos processos desse tipo, conscientes ou não, orientados ou não. O final de cada um desses processos é apenas o início do próximo. Um exemplo disso nos é dado pela própria vida, a grande jornada iniciática em si, que encerra todo o processo cíclico de nascimento, aprendizagem, morte e renascimento. Somos matéria bruta ao nascermos e, ao longo dos anos, adquirimos o conhecimento que nos dá, na velhice, a clara visão do mundo, tão decantada como a sabedoria que surge com a idade. O próximo passo, no entanto, é novamente o mergulho no abismo, no desconhecido. Chave absoluta das ciências ocultas dada por Guilherme de Postel e completado por Eliphas Levi A religião diz: Acreditai e compreendereis. A ciência vem vos dizer: Compreendei e acreditareis. "Então, toda a ciência mudará de fisionomia; o espírito, por muito tempo destronado e esquecido, retomará seu lugar; será demonstrado que as tradições antigas são inteiramente verdadeiras; que o paganismo não passa de um sistema de verdades corrompidas e deslocadas; que basta limpá-las, por assim dizer, e recolocá-las em seu lugar, para vê-las brilhar com todo o esplendor. Em uma palavra, todas as idéias mudarão; e, uma vez que, de todos os lados, uma multidão de eleitos clama em concerto: "Vinde, Senhor, vinde!", por que reprovaríeis os homens que se lançam nesse futuro majestoso e se glorificam de adivinhá-lo?" Joseph de Maistre, Soirées de Saint- Pétersbourg Os espíritos humanos têm a vertigem do mistério. O mistério é o abismo que atrai, sem cessar, nossa curiosidade inquieta por suas formidáveis profundezas. O maior mistério do infinito é a existência de Aquele para quem e somente para Ele - tudo é sem mistério. Compreendendo o infinito, que é essencialmente incompreensível, ele próprio é o mistério infinito e externamente insondável, ou seja, ele é, ao que tudo indica, esse absurdo por excelência, em que acreditava Tertuliano. Necessariamente absurdo, uma vez que a razão deve renunciar para sempre a atingi-lo; necessariamente crível, uma vez que a ciência e a razão, longe de demonstrar que ele não é, são fatalmente levadas a deixar acreditar que ele é, e elas próprias a adorá-lo de olhos fechados. É que esse absurdo é a fonte infinita da razão, a luz brota eternamente das trevas eternas, a ciência, essa Babel do espírito, pode torcer e sobrepor suas espirais subindo sempre; ela poderá fazer oscilar a Terra, nunca tocará o céu. Deus é o que aprenderemos eternamente a conhecer. É, por conseguinte, o que nunca saberemos. O domínio do mistério é um campo aberto às conquistas da inteligência. Pode-se andar nele com audácia, nunca se reduzirá sua extensão, mudar-se-á somente de horizontes. Todo saber é o sonho do impossível, mas ai de quem não ousa aprender tudo e não sabe que, para saber alguma coisa, é preciso resignar-se-a estudar sempre! Dizem que para bem aprender é preciso esquecer várias vezes. O mundo seguiu esse método. Tudo o que se questiona em nossos dias havia sido resolvido pelos antigos; anteriores a nossos anais, suas soluções escritas em hieróglifos não tinham mais sentido para nós; um homem reencontrou sua chave, abriu as necrópoles da ciência antiga e deu a seu século todo um mundo de teoremas esquecidos, de sínteses simples e sublimes como a natureza, irradiando sempre unidade e multiplicando-se como números, com proporções tão exatas quanto o conhecimento demonstra e revela o desconhecido. Compreender essa ciência é ver Deus. O autor deste livro, ao terminar sua obra, acreditará tê-lo demonstrado. Depois, quando tiverdes visto Deus, o hierofante vos dirá: Virai-vos e, na sombra que projetais na presença desse sol das inteligências, ele fará aparecer o Diabo, o fantasma negro que vedes quando não olhais para Deus e quando acreditais ter preenchido o céu com vossa sombra, porque os vapores da terra parecem tê-la feito crescer ao subir. Pôr de acordo, na ordem religiosa, a ciência com a revelação e a razão com a fé, demonstrar em filosofia os princípios absolutos que conciliam todas as antinomias, revelar enfim o equilíbrio universal das forças naturais, tal é a tripla finalidade desta obra, que será, por conseguinte, dividida em três partes. Mistério dos outros mundos, forças ocultas, revelações estranhas, doenças misteriosas, faculdades excepcionais, espíritos, aparições, paradoxos mágicos, arcanos herméticos, diremos tudo e explicaremos tudo. Quem pois nos deu esse poder? Não tememos revelá-lo a nossos leitores... ...Existe um alfabeto oculto e sagrado que os hebreus atribuem a Henoch, os egípcios a Tot ou a Mercúrio Trismegisto, os gregos a Cadmo e a Palamédio. Esse alfabeto, conhecido pelos pitagóricos, compõe-se de idéias absolutas ligadas a signos e a números e realiza, por suas combinações, as matemáticas do pensamento. Salomão havia representado esse alfabeto por setenta e dois nomes escritos em trinta e seis talismãs e é o que os iniciados do Oriente denominam ainda de as pequenas chaves ou clavículas de Salomão Essas chaves são descritas e seu uso é explicado num livro cujo dogma tradicional remonta ao patriarca Abraão, é o Sepher Yétsirah, e, com a inteligência do Sepher Yétsirah, penetra-se o sentido oculto do Zohar, o grande livro dogmático da Cabala dos hebreus. As clavículas de Salomão, esquecidas com o tempo e que se dizia estarem perdidas, nós as encontramos, e abrimos sem dificuldade todas as portas dos antigos santuários, onde a verdade absoluta parecia dormir, sempre jovem e sempre bela, como aquela princesa de um conto infantil que espera durante um século de sono o esposo que deve despertá-la. Depois de nosso livro, ainda haverá mistérios, mas mais alto e mais longe nas profundezas infinitas. Esta publicação é uma luz ou uma loucura, uma mistificação ou um monumento. Lede, refleti e julgai. A Meditação da Introspecção (Vipassana Bhavana): Como funciona. Do livro "O Budismo Vivo e o Mundo Contemporâneo" de Lama Anagarika Govinda A Meditação Vipássana chamada de Meditação da Introspecção ou da Percepção opera em dois níveis: no nível psicológico e no nível espiritual. No nível psicológico a meditação ajuda-nos primeiro a chegar a um acordo com os nossos estados mentais negativos. Aprendendo a observar atentamente as nossas variações de humor e aceitando-as, iremos conhecer os nossos eus secretos: os estados mentais de raiva, culpa, ansiedade, tristeza e depressão. A meditação nos ensina como lidar com todos eles. Estando consciente desses estados, não tentando fugir deles mas aceitando-os realmente como são. Isto significa que nós nem os ampliamos nem fazemos as coisas piores fantasiando, nem sonhamos acordados pensando nos deixar ser apanhados pelas emoções. Ao invés disso, desenvolvemos a conscientização e a observação, nós permitimos que os estados mentais sejam eles mesmos. Então experimentamos por nós mesmos exatamente o que o Buda ensinou: observando e vigiando