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Nathália Gomes Bernardo Sistema Digestório de Equinos - Semiologia Às vezes alguma alteração de cavidade oral pode ser a causa primária de cólica, como em casos onde o animal não realiza a mastigação com eficiência e consequentemente engole a fibra ainda grande. Conduta em casos de equino com cólica= 1º resolver o problema da dor para só depois investir a causa. Fome e apetite não são a mesma coisa. Muita das vezes o que analisamos é o apetite. Ex.: um animal com fome não é muito exigente com o alimento; Já o apetite está relacionado com alimentos mais palatáveis. Sendo assim, durante o exame semiológico, ao avaliar o apetite não adianta utilizar um feno seco -> levar em consideração o tipo de alimento, o modo como foi preparado, modo armazenado, forma como é administrada, frequência, etc. A perda de apetite pode estar relacionada com o trato digestório ou não; pneumonia causa perda de apetite por exemplo. Apetite pervertido-> parorexia-> animal come terra: geofagia; fezes:coprofagia. Na fase inicial da vida enquanto potros, é normal o animal ingerir fezes. Na maioria das vezes alterações de ingestão de água estão associadas ao sistema renal, entretanto também podem ser devido ao trato digestório. Cavalos de lazer ingerem menos água, enquanto atletas consomem mais; mas de forma generalizada os equinos ingerem de 50 a 70mL/kg/dia. Enquanto bovinos fazem preensão de alimento com a língua, equinos utilizam dos lábios e dentes; Sendo assim, alterações principalmente de lábio atrapalham o cavalo na preensão. A mastigação do cavalo é mais curta de um lado e mais ampla do outro. Cavalo é um animal hipsodonte, então tem erupção contínua de dente; A mastigação incorreta gera desgaste irregular dos dentes que causa diversos problemas ao animal. Todo animal tem antímero de preferencia de mastigação, mas o animal fisiologicamente mastiga do outro lado quando sente a necessidade de realizar desgaste dentário deste outro antímero. Dinofagia= dor ao deglutir. Um animal com dificuldade de deglutição não necessariamente pode ser por dinofagia. Disfagia= dificuldade em alimentar-se, seja no tempo de apreensão, mastigação ou deglutição. O intestino do cavalo é longo; o estômago é pequeno... É possível palpar tranquilamente a glândula parótida. Ao abrir a boca do animal ver se há hiperemia, ulceras, lesões, modificação de coloração, etc. Ex.: ulcera na língua: animal não realiza os devidos movimentos, consequentemente a mastigação é comprometida e gera ingestão de fibras grandes. Cavalo possui de 36 a 44 dentes, depende se o animal possui caninos e lupino> hemiarcada: 3 dentes incisivos, pode ter 1 canino, pode ter 3 ou 4 pré-molares e 3 molares. Esôfago=> levar alimento da faringe ao estômago. Encontra-se dorsal a traqueia e depois se lateraliza ao lado esquerdo. Estômago=> Localizado dorsal a cavidade abdominal; possui 2 esfincters: cárdia e piloro; É dividido em porção glandular a porção escamosa. A capacidade volumétrica do estômago de equinos é de 8 a 20L, enquanto o rúmen de bovinos adultos tem capacidade de mais ou menos 200L. O estômago de cavalos é pequeno porque na natureza ele é uma presa, então possui digestão rápida para ter capacidade de fugir (digestão de mais ou menos 40min). O estômago não é possível palpar, auscultar e nem percutir; mas é possível inspecionar indiretamente através de sondagem ou exames complementares como endoscopia. O intestino delgado inicia-se no piloro e termina na curvatura menos do ceco-> válvula ileocecal: localizada no antímero direito dorsal. Antímero direito> ceco, cólon ventral direito, flexura esternal> antímero esquerdo> cólon ventral esquerdo, flexura pélvica> dorsal> cólon dorsal esquerdo, flexura diafragmática >antímero direito> colón dorsal direito, cólon transverso (sai do antímero direito e vai para o meio), cólon menor, reto, ânus. O tempo médio de uma ingesta no equino é de 56 horas; É variável dependendo do tipo de alimentação e manejo. Tempo de passagem da ingesta: esôfago-> 10- 15 segundos; estômago->1-5 horas; intestino delgado-> 1-2 horas; ceco-> 15-20 horas; cólon-> 18-24 horas; reto-> 1-2 horas. Exame Clínico Identificação: idade, sexo, raça, cor, etc. Potros jovens são mais susceptíveis a úlceras gástricas porque é uma fase da vida onde ocorre troca do epitélio gástrico. Animais adultos podem ter problemas digestórios relacionados a alterações de mastigação, desgaste dentário inapropriado, enterólitos, etc. Anamnese: • Manejo e alimentação: o que o animal come? Como é fornecido? Houve mudança da alimentação ultimamente? Mudou o tratador/pessoa que fornece? Quanto de alimento é fornecido? É pesada essa quantidade? É sempre a mesma pessoa que trata do animal? • Controle parasitário: Existe endoparasitas que causam cólicas, como Parascaris equorom, Strongylus vulgaris, etc. Realizou fermifugação? Quando? Como? • Início do processo: Como o animal começou apresentar os sinais? Quando? • Manifestação de episódios anteriores: ex.: animal com cólica recorrente geralmente é por úlcera gástrica ou verminose. Animal já apresentou estes sintomas antes? • Tratamento anterior: Como tratou? Quando foi? Quais medicamentos e procedimentos? Houve melhora? • Defecação de micção: Cavalos urinam de 4 a 6 vezes por dia; Muitos proprietários mencionam que o animal não está urinando, entretanto há possibilidade de que na realidade o proprietário não observou o animal tempo o suficiente para que o animal urinasse-> Frente a estes casos, o veterinário pode acabar administrando diurético ao animal, e caso este animal esteja com problemas digestórios e consequentemente desidratado o diurético pode causar a morte do animal. Os cavalos podem se apresentarem nesta posição da imagem ao lado, além de expor e recobrir o pênis, quando tem desconforto abdominal; Muitos confundem essa posição com problemas de micção. Cavalos até podem ter desconforto abdominal por algum problema originado do sistema urinário, mas é raro. A atitude do animal pode ser lerta, excitado, hiperexitado, apatico, etc. Em relação ao comportamento: animal se debatendo, deitando e levantando, olhando em direção ao flanco, etc. Aparência externa: ás o animal pode não estar rolando no chão no momento em que se analisa, mas ao observa-lo o dorso se encontra sujo de terra. Abdome: quando ocorre ditensão por gás, geralmente é a parte dorsal -principalmente de ceco do antímero direito- que se encontra distendida; se a distensão for por líquido ou ingesta a distensão pode ser mais ventral. Equinos castrados costumam ter abdome maior. Sinais de desconforto abdominal: quando o animal olha para o flanco, não é porque ele olha para um determinado lado que o problema é de origem deste; escoicear o abdome é em casos de muita dor, mas não é um sinal clínico comum. O animal pode estar desde de hiperexitado a deprimido. A cólica é denominada de Síndrome Cólica porque tem várias causas e vários sinais. A dor é classificada em leve, moderada e grave. A leve é quando as manifestações são discretas e o animal não apresenta alterações circulatórias; o animal pode ter sinais como cavar, deitar e levantar-se, olhar o flanco. A dor moderada causa alterações de FC aumentando, animal rola, cava e deita com mais frequência. Em casos de dor grave o animal apresenta intensa alteração circulatória, TPC de 3 ou 4 segundos, mucosas congestas, etc. A gravidade da dor não necessariamente reflete a gravidade do problema; Por exemplo, cavalos que tem compactação de ceco pode ter dor moderada. Além disso a dor pode ser contínua, que geralmente está associada a torções e dilatações gástricas, ou intermitente que geralmente está associada a compactação (ingesta não estáprogredindo; peristaltismo aumenta-> animal sente muita dor e causa resposta de diminuir movimento intestinal que ameniza a dor do animal). Úlceras gástricas também causam dor intermitente. É comum animais com cólica, por alterações do sistema digestório, apresentarem desidratação porque se for por compactação, por exemplo, o organismo tenta solucionar o problema absorvendo mais líquido no intestino e/ou animal também pode parar de ingerir água. Animal com dor, independente se for por cólica ou não, geralmente tem aumento da FC. Exame Físico da Cavidade Oral e Faringe: Se possível, é importante durante o exame físico fornecer alimento ao animal para analisar a preensão de alimento, mastigação e deglutição. Depois, realiza-se palpação externa de região de dente, bochechas e demais áreas para identificar se há sensibilidade/dor e/ou alterações; Também se observa se há simetria de face entre os dois antímeros. Para inspecionar a cavidade oral do animal, é importante fazer lavagem da boca do animal afim de retirar os resíduos alimentares. Abrir a boca: segurar a língua e colocar o dedo no palato duro e utilizar auxilio de uma lanterna -> avaliação rápida. Ao fim do exame, se necessário, sedar o animal e utilizar abre-bocas; não fazer este procedimento no início do exame porque afetaria nos parâmetros do animal, como a motilidade intestinal, ect. -> Observar dentes, línguas, bochechas e tracionar a língua afim de observar faringe que pode estar inflamada, hiperêmica, presença de placa de pus, etc. Animais que derrubam alimento ao comer geralmente tem alteração de mastigação causada por exemplo por desconforto em determinada região. Já animais que abrem muito a boca durante a mastigação geralmente tem problemas de origem dentária, como o chamado ‘degrau’ que é quando um dente cresce muito. Geralmente, durante o movimento de lateralização da mandíbula a boca do animal se abre. Espéculo bucal= abre-bocas. O animal tem que ser sedado e barra a avaliação na cavidade a boca deve ter limpa de resíduos alimentares. - Pontas dentárias; -Ganchos: prolongamento geralmente no segundo pré-molar ou no terceiro molar. Se necessário realizar desgaste dentário. Problemas relacionados a mastigação (como dentes) causam ingestão de fibras maiores que podem causar compactação. Sinais Clínicos relacionados a enfermidades dentárias: sobre a relutância em alimentar-se, o animal até ingere alimento quando sente fome, mas nega-se a comer fora dessa situação mesmo quando o alimento é muito palatável. A halitose pode ser por acúmulo de alimento na cavidade oral. *Um cavalo na natureza pasta de 16 a 18 horas por dia; já um animal que vive na baia pasta bem menos e consequentemente tem menos desgaste dentário que pode causar problemas de oclusão e, por isso, é importante que ao menos uma vez ao ano este animal tenha a dentição inspecionada. Exame Físico do Esôfago Em casos de obstrução cervical, é possível palpar apenas se a obstrução for na porção cervical do esôfago. É possível observar o bolo alimentar passando pelo esôfago. Equinos logo após exercício que não ingeriram água e foram comer é comum ocorrer obstrução porque não ocorre salivação adequada. Um cavalo produz cerca de 25L de saliva por dia. Megaesôfago é raro em grandes animais. O exame físico do esôfago é feito com auxílio de sonda nasogástrica (mais comum) ou endoscópio. Exame Físico do Abdome • Palpação externa: também é chamada de teste do rebote que serve para avaliar dor. Empurrar a mão no abdome do cavalo na região lateral e soltar rapidamente, enquanto uma segunda pessoa analisa a face do animal afim de observar se há demonstrações de dor; Geralmente há bastante demonstração de dor em casos de peritonite. • Percussão: Quando o abdome está distendido, através da percussão é possível avaliar se é por gás, líquido, sólido. • Auscultação Abdominal: O correto é auscultar o abdome do cavalo na devida sequência: válvula ileocecal (lado direito), cólon ventral direito, colón ventral esquerdo, cólon dorsal esquerdo e sons do intestino delgado (região dorsal e mais audível do lado esquerdo). É importante avaliar se o peristaltismo está aumentado, diminuído ou ausente-> avaliar em cada um dos quadrantes. Na válvula ileocecal tem-se o som de descarga; auscultar no mínimo três minutos; No equino não existe um padrão de quantas descargas deve- se ouvir, mas em três minutos o ideal é auscultar ao menos uma. No cólon ventral direito o som é borborigmo. Sondagem A sondagem é realizada em casos de desconforto abdominal – síndrome cólica- onde o intuito é avaliar o estômago, já que este órgão não é possível de auscultação, palpação e nem percussão. Sondagem= inspeção indireta. Todos os animais com síndrome cólica devem ser sondados para descartar a possibilidade da origem do problema ser estômago. A sondagem tem objetivo de descompressão (ex.: retirar conteúdo que causa dilatação do estômago), diagnóstico (ex.: em casos de sobrecarga gástrica onde se retira o alimento ingerido) e tratamento (ex.: fluidoterapia pela sonda; fornecimento de alimento, óleo mineral e medicamentos). *Cavalos não vomitam (porque não tem o centro do vômito desenvolvido, a cárdia é muito desenvolvida e o palato mole é muito alongado) e nem realiza eructação. A sonda deve ser de silicone; deve ser lubrificada (com óleo mineral) e introduzida mediamente e ventralmente na narina –> chegando na glote devemos assoprar para estimular a deglutição animal -> é bom continuar soprando durante a passagem da sonda no esôfago, porque este encontra-se colabado, e dessa forma causa menos atrito entre a ponta da sonda e a mucosa esofágica -> ao chegar no estômago podemos ouvir o barulho e sentir o cheiro; caso o estômago esteja muito cheio/distendido, logo o conteúdo irá voltar pela sonda; caso não volte nenhum conteúdo “espontaneamente” o procedimento é administrar água pela sonda e sugar com intuito de recupera-la -> Pode iniciar colocando 2L de água e recuperar e aumentar gradativamente ou (pouco recomendado) colocar água com a sonda erguida até que não seja mais possível e posteriormente recuperar. Quando há suspeita de compactação, pode-se utilizar água morna. A avaliação de conteúdo (antes de administrar água) pode ser pelo cheiro, pH (gástrico 3.5-3.8), coloração, volume, etc. É importante avisar o proprietário que durante a sondagem pode haver sangramento. Palpação Retal Ao retirar ao fezes da ampola retal aproveitas para analisa-las: tamanho de fibras, presença de vermes, parasitas, muco ou alguma alteração. Ventralmente as estruturas palpáveis são cólon menor (onde há presença de cíbalos de fezes; “bolinhas” -> animais com diarreia não tem formação de cíbalos); flexura pélvica -> consistência pastosa/ é comum ocorrer deslocamento desta flexura; bexiga; útero nas fêmeas ou anéis inguinais nos garanhões (nos animais castradas estas estruturas diminuem de tamanho e, por isso, são difíceis de serem palpadas). Dorsalmente é possível palpar a artéria aorta pulsando; vasos mesentéricos -> avaliar e há aneurisma e sensibilidade durante a palpação destas estruturas. Do lado direito é possível palpar ceco que tem formato de vírgula (,) -> avaliar a anatomia (pode estar deslocado -> tenia do ceco:prega do ceco) e a consistência do conteúdo. Na maioria dos casos é possível palpar ceco-> geralmente se não dor possível palpar o ceco não indica nenhum problema. No seco pode ocorrer deslocamento ou timpanismo (procedimento: tiflocentese). Do lado esquerdo palpa-se o cólon dorsal esquerdo; entre o rim e o baço se encontra o ligamento nefroesplênico que é um local onde alguma alça pode se localizar (anormal); é possível palpar as bordas caudais do rim e do baço. Nem sempre é possívelpalpar ligamento nefroesplênico. Pode ocorrer encarceramento de ligamento nefroesplênico que leva a distensão de todas as vísceras. Se durante a palpação for possível, por exemplo, palpar o intestino delgado é um indicativo de algum problema porque fisiologicamente não é possível. Não é comum ocorrer sangramentos durante a palpação retal de equinos, como em vacas. As causas mais comuns de cólica são estomacais, como úlceras e sobrecarga. Sempre se faz sondagem em casos de cólica. Exames Complementares • Hemograma: o VG (volume globular) pode estar elevado por motivos de desidratação. • Paracentese Abdominal: colher o líquido peritoneal e avalia-lo micro e macroscopicamente. 1º) Identificar o ponto mais ventral no abdome do cavalo. 2º) Realizar tricotomia do local. 3º) Realizar assepsia do local: iodo e álcool. 4º) Utilizar luva estéril. 5º) Introduzir agulha 40:12 na linha alba devagar até que o líquido comece a fluir: colher em tubo com e anti coagulante. Em vez da agulha pode-se utilizar a canula, mas como está não atravessa a pele, anteriormente é necessário realizar um pequeno corte com o bisturi. O líquido peritoneal indica celularidade do local; isso significa que em casos de hipóxia do intestino ou torção, pode acarretar em aumento da permeabilidade e assim ter mais células no líquido peritoneal que altera a coloração deste. Rupturas de alça intestinal ruptura de estômago, hemorragia, ruptura de baço: também alteram a coloração do líquido. O líquido peritoneal normal é amarelo palha bem claro. Em casos de peritonite o líquido se torna amarelo turvo ou branco porque a celularidade está muito aumentada e bactérias. Em casos de líquido peritoneal sanguinolento é devido hemácias livres no abdome que pode ser por hemorragia (torção pode levar a hemorragia). Já o líquido esverdeado remete que a alça intestinal está rompida ou durante o procedimento foi pulsionado uma alça. Animais com abdome muito distendido dificilmente é possível coletar líquido sem perfurar uma alça. • Raio X • Endoscopia • Ultrassom abdominal: não é possível avaliar todas as estruturas abdominais em grandes animais. • Laparoscopia
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