Buscar

MANAUS: UMA ANÁLISE ECOSSISTÊMICA ATRAVÉS DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
MANAUS: UMA ANÁLISE ECOSSISTÊMICA ATRAVÉS DE 
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E DE SAÚDE 
 
 
 
Autores: 
Leandro L. Giatti1 
Carlos Machado de Freitas2 
Sylvain JM Desmoulière3 
Marcilio S. Medeiros3 
Mírcia B. Costa e Silva4 
Antonio Levino da S. Neto3 
 
 
Texto elaborado enquanto síntese preliminar para subsídio ao 
Seminário da pesquisa: “Abordagem ecossistêmica para o 
desenvolvimento de indicadores e cenários de sustentabilidade 
ambiental e de saúde na cidade de Manaus / AM”, realizada com 
financiamento das Vice-Presidências de Pesquisa e de Serviços de 
Referência e Meio Ambiente da Fundação Oswaldo Cruz – Edital 
01/2007 “Cidades Saudáveis: Saúde, Ambiente e Desenvolvimento”. 
 
Instituições dos autores: 
1 – Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – FSP/USP; 
2 – Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana / Escola Nacional de 
Saúde Pública – CESTEH/ENSP 
3 – Instituto Leônidas e Maria Deane / Fundação Oswaldo Cruz – ILMD/Fiocruz 
4 – Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – FVS/AM 
 
 
Manaus, junho de 2011 
 2 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 3 
 
2. CONCEPÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA PARA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES E 
TENDÊNCIAS DA SITUAÇÃO SOCIOAMBIENTAL E POTENCIAIS EFEITOS SOBRE A 
SAÚDE HUMANA EM MANAUS.................................................................................................. 3 
2.1. A Complexidade nos sistemas socioambientais e de saúde e a proposta de 
simplificação por meio do pluralismo metodológico........................................................ 7 
 
3. APLICAÇÃO E ANÁLISE DA MATRIZ FPSEEA PARA MANAUS..........................................11 
3.1. Forças motrizes socieconômicas e pressões ambientais........................................11 
3.2. Situação e exposição......................................................................................... 20 
3.3 Efeitos...................................................................................................................... 30 
3.3.1 Anos Potenciais de Vida Perdidos da população de Manaus................. 37 
3.3.2 Outras doenças e indicadores relevantes na dinâmica de saúde e 
ambiente em Manaus....................................................................................... 40 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 44 
 
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................... 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
1. INTRODUÇÃO 
A urbanização se consagra como fenômeno e tendência mundial, especialmente nas 
últimas décadas, com a industrialização e a concentração de atividades econômicas nos 
centros urbanos dos países em desenvolvimento, onde o processo ocorre rapidamente, 
associado a relevantes mudanças demográficas e sob intensas desigualdades. 
A cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, pode ser vista sob 
peculiaridades bastante relevantes que incidem sobre o processo saúde e doença das 
populações humanas, como sendo uma grande cidade polo na região Pan-Amazônica 
(BECKER e col., 2008), apresentando intenso crescimento econômico e demográfico, com 
ocorrência de profundas e rápidas mudanças ambientais, mantendo diálogo com sua inserção 
nos sistemas naturais de floresta tropical, e com elevada motricidade de mudanças a partir da 
década de 1970 por um intenso processo de fluidez do território nacional (SANTOS, 2009) e 
rápida industrialização promovida inicialmente pela Zona Franca de Manaus (GEO MANAUS, 
2002). 
Como fatores portadores de futuro para esta capital, têm-se: as condições e tendências 
dos processos de desenvolvimento reinantes na Amazônia Legal, com intensos impactos 
ambientais, desigualdades, e prejuízos à qualidade de vida dos habitantes (FREITAS & 
GIATTI, 2010); a continuidade de políticas de incentivos fiscais de apoio à industrialização e ao 
crescimento econômico inerente (PEREIRA, 2005); o desenvolvimento de infraestrutura Sul-
Americana que transforma a Amazônia de periferia para área central na porção continental 
(THÉRY, 2005); e, em um horizonte bastante próximo, a escolha desta capital como uma das 
sedes da Copa do Mundo de Futebol de 2014. 
Neste texto, tendo por base uma abordagem ecossistêmica, procuramos compreender 
como o desenvolvimento urbano de Manaus afeta os serviços dos ecossistemas e as 
condições de bem estar e saúde através do desenvolvimento de um conjunto de indicadores de 
sustentabilidade ambiental e de saúde. Esta compreensão tem como objetivo subsidiar 
propostas de ações que contribuam para tomadas de decisões na gestão urbana e ambiental 
de Manaus que favoreçam a promoção da saúde. 
 
2. CONCEPÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA PARA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES E 
TENDÊNCIAS DA SITUAÇÃO SOCIOAMBIENTAL E POTENCIAIS EFEITOS SOBRE 
A SAÚDE HUMANA EM MANAUS 
Em 2001, as Nações Unidas lançaram o Millennium Ecosystem Assessment (MEA, 
2005), um programa de quatro anos concebido para responder às necessidades de 
informações científicas sobre a relação entre mudanças nos ecossistemas e bem-estar 
humano para os tomadores de decisões políticas. Seus resultados foram divulgados em março 
de 2005 e apontam para a seguinte situação: 
 4 
1. Extensas e rápidas mudanças nos ecossistemas para atendimento de 
crescentes demandas dos humanos; 
2. Uso insustentável e degradação de aproximadamente 60% dos 
recursos naturais estuados, em nível global; 
3. Evidências de mudanças não lineares nos ecossistemas, capazes de 
incidir em graus elevados de alterações sobre bem-estar e saúde de populações 
humanas; 
4. Maior severidade dos efeitos da degradação dos serviços dos 
ecossistemas sobre as populações mais pobres, em processos capazes de exacerbar 
as iniquidades e conflitos sociais. 
Assim, se nos últimos 50 anos a busca crescente de atendimento a demandas e oferta 
de facilidades e conforto vem contribuindo para a melhoria global de indicadores tradicionais de 
saúde, como por exemplo, o aumento na esperança de vida ao nascer ou redução da 
mortalidade infantil, a degradação dos serviços dos ecossistemas e suas consequências não 
apenas se mostram insustentáveis, como contribuem para aumentar as iniquidades entre 
distintos grupos sociais, constituindo cenários complexos no que diz respeito aos 
determinantes sociais e ambientais e a interferência dos mesmos na saúde e no bem estar das 
populações. 
Enquanto proposta de estudos integrados necessários para compreender as mudanças 
holísticas nos ecossistemas, as abordagens ecossistêmicas pressupõem: (1) reunião de 
informações diversas, que possibilitem demonstrar as interfaces entre bens e serviços dos 
vários ecossistemas que devem ser equilibradas com as metas ambientais, políticas, sociais e 
econômicas; (2) formulação de políticas públicas amplas e instituições mais efetivas para 
implementar as mesmas; (3) participação do público na gestão dos ecossistemas, 
particularmente as comunidades locais (WRI, 2000). 
Nesse sentido, adotamos a Abordagem Ecossistêmica em Saúde – AES (FREITAS e 
col., 2009), como subsídio para a compreensão das condições atuais e tendências históricas 
de mudanças nos ecossistemas e seus serviços na cidade de Manaus, bem como as 
consequências para o bem-estar e saúde das populações, e a busca de respostas integradas 
com diversos outros setores e atores, locais, regionais e mesmo nacionais. 
A AES tem como base três aspectos fundamentais: a teoria dos sistemas complexos, a 
hierarquia entre diferentes níveis de organização socioambientais (dos político-administrativos, 
como bairros, distritos, municípios, estados e países, assim como os ecológicos, como 
ecossistemas,biomas e biosfera) e a dinâmica destes diferentes níveis de organização frente 
às diferentes escalas (espaciais e temporais), além de outros aspectos que devem ser 
utilizados para seu estudo e compreensão. Assim, essa abordagem enfoca contextos 
socioambientais complexos, que envolvem diferentes níveis de organização socioambientais 
que são por definição abertos, relativamente auto-organizáveis e adaptativos. 
 5 
Para arcar com o desafio de um enfoque holístico e não setorial, a AES tem como base 
de investigação o pluralismo metodológico, capaz de reunir, tratar e analisar dados e 
informações diversas; envolver a participação do público, particularmente as comunidades 
locais; observações de campo que permitam o olhar e auscultar da realidade local. Desse 
modo, possibilitando constituir narrativas de tendências e possíveis futuros ou cenários 
plausíveis na interface entre os processos que moldam simultaneamente as situações 
socioambientais, as condições de vida e a situação de saúde das populações. Deve resultar na 
proposição de estratégias de monitoramento, gestão e políticas públicas que, tendo por base 
os princípios e processos de aprendizagem social, envolvam a colaboração entre especialistas 
e atores sociais locais (WALTNER-TOEWS, 2001 e 2004; KAY e col., 1999). 
Como orientação essencial, adotamos que a principal meta dos processos de 
desenvolvimento econômico e urbano é o bem-estar e a melhoria das condições de vida e 
situação de saúde das populações, que devem ser pautados por princípios de sustentabilidade 
ambiental e equidade social como norteadores de análise e busca de soluções. Assumimos 
que a sustentabilidade deve ser fundamentada pelo princípio ético de equidade em relação às 
gerações presentes e futuras, tanto em relação aos determinantes das condições de vida e 
situação de saúde (emprego, renda, desigualdades e condições de vida), como aos ambientais 
(manutenção dos serviços dos ecossistemas que servem de suporte à vida). Ao ter este 
horizonte, consideramos que quanto maiores às iniquidades sociais, mais as populações ou 
grupos populacionais da cidade de Manaus se tornam vulneráveis em termos sociais e 
ambientais. Estes grupos populacionais acabam vivenciando de modo mais intenso e ampliado 
os efeitos negativos ocasionados pelas inúmeras atividades socioeconômicas, legais e ilegais, 
que degradam os serviços dos ecossistemas e com isto comprometem, de modos direto e/ou 
indireto, os sistemas de suporte à vida e bem-estar, afetando suas condições de vida e saúde 
(FREITAS e PORTO, 2006). 
Nesta concepção de sustentabilidade, a situação de saúde não pode ser tratada como 
dissociada das condições de vida e bem-estar e das mudanças socioambientais e seus 
impactos nos ecossistemas. Estas mudanças e impactos condicionam contextos e situações 
socioambientais que resultam de diversos determinantes sociais e econômicos que se 
expressam como forças motrizes e pressões. Conformam uma complexa cadeia de efeitos 
diretos e indiretos, mediados e modulados, que se combinam e se sobrepõem 
simultaneamente, em diferentes níveis de organização socioambientais e escalas e temporais, 
bem como envolvem múltiplos determinantes sociais e ambientais (HALES et al., 2004). 
Com isto, as mudanças e impactos em situações socioambientais, podem envolver 
desde efeitos mediados que envolvem escala temporal de semanas/meses e espacial 
local/regional, como as mudanças ambientais que alteram a distribuição e comportamento dos 
vetores e hospedeiros, resultando em epidemias como malária e dengue, ou até mesmo 
eventos como secas e enchentes que irão exacerbar infecções originárias da água para 
consumo humano, sendo que as conseqüências para os humanos podem ocorrer em intervalos 
 6 
de dias, meses ou até mesmos ao longo de anos. Além destes efeitos, não podemos também 
deixar de considerar uma perspectiva de médio e longo prazo para a sustentabilidade. Os 
efeitos modulados referem-se aos provenientes de amplas mudanças socioambientais que 
afetam a saúde humana por meio desde situações críticas, como a fome e escassez de 
alimentos, os conflitos e as violências, até àquelas que adquirem uma certa “normalidade”, 
como as doenças crônicas e degenerativas (câncer, diabetes, cardiovasculres, entre outras) 
sendo suas origens sutis e/ou indiretas, possuindo escala temporal de anos ou décadas e 
espacial que pode variar do regional ao nacional. Por fim, há as falhas e/ou rupturas nos 
sistemas socioambientais que podem resultar em propriedades emergentes, como grandes 
mudanças ambientais globais, entre elas o clima, exigindo longo prazo para as adaptações 
sociais e no curto prazo atingindo milhões ou bilhões de pessoas em escala global. Os efeitos 
sobre a saúde podem variar desde pandemias aos associados aos desastres “naturais”. A 
questão é que para cada um destes efeitos que afetam os diferentes níveis de organização 
socioambiental, os de maior escala espacial e temporal não deixam de simultaneamente 
envolver e afetar os de menor escala, contendo-os simultaneamente. 
Dois estudos relativamente recentes demonstram esta complexidade dos 
determinantes sociais e ambientais e sua cadeia de efeitos. O primeiro realizado por PRÜSS-
ÜSTÜN e CORVALÁN (2006) nos revela que os fatores de ordem ambiental contribuem 
fortemente para os quadros globais de morbimortalidade, estimando que 24% da carga total de 
doenças e 23% de todos os óbitos podem ser fortemente atribuíveis a fatores ambientes. Este 
mesmo estudo ressalta também como esta carga ambiental de doenças se expressa de modo 
desigual e iníquo em várias porções do planeta. Nos países em desenvolvimento, por exemplo, 
prevalecem importantes doenças de elevada carga ambiental, como as diarreicas, nas quais os 
fatores ambientais respondem por até 94% da causalidade. No segundo estudo, estes mesmos 
autores assinalam que o desenvolvimento econômico não resulta em uma redução linear da 
carga ambiental de doenças, uma vez que países com PIB per capita similar ao do Brasil 
podem ter uma variação na ordem de 2 vezes e meia à mais em termos de impactos à saúde 
ambiental (PRÜSS-ÜSTÜN e col., 2008). 
Uma vez que mudanças ambientais podem resultar em propriedades emergentes e de 
grande magnitude sobre os humanos (HALES et al., 2004), determinados grupos populacionais 
podem sofrer exposições muito mais severas quando submetidas a sobreposição de distintos 
padrões de riscos ambientais. Smith e Ezzati (2005) classificam estes riscos em três grupos, de 
diferentes categorias espaciais: 
I. O primeiro, no âmbito do domicílio, vinculado ao processo de 
desenvolvimento precário e iníquo em que se encontra ainda um déficit no 
saneamento ambiental básico, precárias moradias e associação com subnutrição; 
 7 
II. O segundo, na comunidade, vinculado ao processo de 
desenvolvimento desregulado associado à urbanização e industrialização, 
exposições ambientais, questões de saúde do trabalhador, bem como expansão 
das fronteiras agrícolas, cujos produtos e subprodutos tóxicos e poluentes afetando 
as comunidades e os trabalhadores; 
III. O terceiro em escala global, ainda emergente, resulta do macro 
fenômeno da globalização desigual e da crise da insustentabilidade ambiental 
global, vivamente expresso na intensa urbanização, degradação dos ecossistemas 
e mudanças do clima. 
Segundo Franco Netto e col. (2009), em países como o Brasil, ocorrem combinações e 
sobreposições desses padrões de riscos ambientais, em distribuições espaciais que 
acompanham as iniquidades sociais de distintos grupos populacionais (ver Figura 1). 
 
Figura 1 - Inter-relação entre os três grupos de mudanças ambientais e seus potenciais impactos 
que podem afetar grupos populacionais vulneráveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Grupo populacionais 
vulneráveis às 
mudanças ambientais 
dos grupos I e II 
Grupo III - Mudanças 
ambientais acopladasas 
mudanças ambientais 
globais 
Grupo II - Mudanças 
ambientais acopladas ao 
desenvolvimento industrial, 
dos serviços urbanos e 
fronteiras agrícolas 
Grupo I - Mudanças 
ambientais acopladas à 
pobreza e as precárias 
condições de saneamento 
ambiental 
Grupo populacionais 
vulneráveis às 
mudanças ambientais 
dos grupos II e III 
 
Grupo populacionais 
vulneráveis às 
mudanças ambientais 
dos grupos I e III 
 
Grupo populacionais 
vulneráveis às 
mudanças ambientais 
dos grupos I, II e III 
 
 
Fonte: Franco Netto et al. (2009, p. 59) 
 
2.1. A Complexidade nos sistemas socioambientais e de saúde e a proposta de 
simplificação por meio do pluralismo metodológico 
Partindo da premissa de que as manifestações de bem-estar, saúde ou doença nas 
populações ocorrem em sistemas socioambientais complexos, temos que compreendê-los 
enquanto sistemas abertos, envolvendo diferentes níveis de organização socioambiental e com 
 8 
capacidade de auto-organização em torno de atratores, dinâmicos e adaptativos (KAY e col., 
1999; WALTNER-TOEWS, 2001 e 2004; LEBEL, 2003). 
Nesse sentido, denominam-se atratores as situações, eventos, matéria ou energia que 
inseridos em um sistema podem se constituir de estímulos positivos ou negativos, cuja 
dinâmica por eles condicionada impulsiona o processo de auto-organização em função de 
processos circulares de retroalimentação (feedbacks). É essa dinâmica que permite 
adaptações contínuas para a manutenção da estabilidade da situação socioambiental corrente. 
Porém, como os atratores que tornam os sistemas propensos à determinados tipos de 
organização hegemônica são múltiplos e nem sempre seguem um padrão de 
complementaridade e cooperação, mas, ocasionalmente, de competição e contradição, estes 
podem incidir na emergência de novos estados e situações, fragmentações, surpresas e 
mesmo catástrofes que são também possíveis (KAY e col., 1999). 
Entre os objetivos e desafios da AES encontra-se determinar elos entre a saúde das 
populações humanas e os eventos ou fenômenos que organizam os sistemas socioambientais 
(KAY e col., 1999). Os agrupamentos destes sistemas ocorrem em múltiplos níveis de 
organização socioambiental e escalas temporais, que tendem a se organizar em circuitos de 
retroalimentação. Também, estes sistemas apresentam estruturas hierárquicas livres em que 
relações de reciprocidade podem ocorrer dentro de um mesmo nível ou entre distintos níveis 
de organização socioambiental. Esses circuitos envolvem forças motrizes e pressões 
socioeconômicas que se conectam tanto com a estabilidade, como com as mudanças na 
situação socioambiental, assim como o quadro de bem-estar, condições de vida e situação 
saúde das populações humanas (WALTNER-TOEWS, 2001 e 2004). 
A análise da complexidade inerente aos sistemas socioambientais tem como objetivo 
identificar os atratores e pontos críticos de instabilidade ou vulnerabilidade que podem resultar 
na emergência espontânea de novos padrões e estruturas de relações, bem como de novas 
formas de organização (social e ambiental). Esta abordagem requer tratar o sistema 
socioambiental dialeticamente, sendo chave o conceito de “contradição” e permitindo integrar o 
aparentemente paradoxal conceito de “destruição criativa” na estrutura geral. Isto significa que 
a análise deste sistema socioambiental complexo implica que ao mesmo tempo em que este 
sistema pode ser descrito e analisado a partir de uma complexidade ordinária, esta mesma não 
é suficiente (KAY e col, 1999; FUNTOWICZ e RAVETZ, 1994). 
Dessa forma, podemos considerar que, se de um lado o sistema socioambiental, 
enquanto amálgama entre ações humanas e ecossistemas pré-existentes, pode apresentar 
características mecanicistas e funcionais típicas de uma complexidade ordinária, por outro 
lado, esse sistema também pode apresentar características típicas de sistemas complexos 
emergentes. Nestes, mais do que estabilidade dinâmica dos seus componentes ou 
subsistemas orientados para uma teleologia funcional, temos uma oscilação frequente entre a 
intencional meta de hegemonia de determinados projetos e atratores para o sistema 
socioambiental e a fragmentação resultante do conflito entre e com os outros projetos e 
 9 
atratores existentes. Este processo de oscilação resultante do conflito entre hegemonia (que 
busca suprimir e não resolver as contradições) e fragmentação (que não só potencializa as 
contradições, como potencializa a coexistência de forças antagônicas), pode conduzir a 
circuitos de retroalimentação com diferentes desfechos, como: 1) contradições 
complementares em que ocorre um equilíbrio dinâmico entre as forças antagônicas; 2) 
contradições destrutivas em que ocorre o colapso de componentes ou subsistemas, ou mesmo 
do próprio sistema; 3) tensões criativas, nas quais as resoluções para os conflitos entre 
hegemonia e fragmentação são concluídas por meio de transformações qualitativas no sistema 
(KAY e col, 1999; FUNTOWICZ e RAVETZ, 1994). 
Desse modo, compreendemos que não basta identificar perturbações lineares na 
estabilidade dinâmica (como surtos de doenças ou crescimento das taxas de morbimortalidade 
de determinados agravos) e tratá-las com intervenções pontuais. Necessita-se investigar e agir 
sobre sinais que apontam para novas formas de organização em torno de novos atratores e 
propriedades emergentes que podem resultar em alterações radicais ou rupturas nos serviços 
dos ecossistemas e efeitos severos sobre a saúde, bem-estar e condições de vida, exigindo 
longo prazo para recuperação ou adaptação (WALTNER-TOEWS, 2001 e 2004; KAY e col., 
1999; HALES e col., 2004). 
Como parte fundamental de uma AES, este texto trata de definir a situação/problema 
(articulando uma agenda sobre problemas que devem ser compreendidos e resolvidos) e a 
partir daí, desenvolve uma narrativa sobre o sistema socioambiental, condições de vida e 
situação de saúde. Também se propõe a identificar e analisar os atratores e mudanças-chave, 
tendências e padrões, presentes e passadas, percebidas e identificadas pelos pesquisadores, 
utilizando-se primordialmente de dados e indicadores amplamente produzidos e publicados por 
distintas fontes, tais como IBGE, DATASUS, Secretarias do Estado do Amazonas, Secretarias 
do Município de Manaus, Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, dentre 
outros. 
Do ponto de vista operacional, para o estudo da situação/problema aplicamos nesta 
análise o modelo Forças Motrizes-Pressões-Situação-Exposição-Efeitos-Ações – FPSEEA, 
proposto pela Organização Mundial da Saúde (CORVALÁN e col., 2000). Sua principal 
vantagem sobre os outros modelos de indicadores é considerar de modo mais destacado as 
exposições ambientais dos humanos nas diferentes situações ambientais, com seus 
consequentes efeitos sobre a situação saúde (Ver Figura 2). Ao mesmo tempo este modelo 
permite vislumbrar que os efeitos sobre as situações de saúde das populações resultam de um 
amplo processo histórico e socioambiental, de modo que é impossível compreende-la 
dissociada dos seus determinantes sociais e ambientais envolvendo forças motrizes, pressões 
e situações ambientais, até as exposições e os efeitos, exigindo ações em todos os níveis, da 
atenção à saúde, até os aspectos relacionados ao modelo de desenvolvimento econômico. 
As forças motrizes (como crescimento populacional e econômico, urbanização, 
reprodução de desigualdades) correspondem à camada de informações sobre os aspectos que 
 10 
de modo amplo e em uma escala macro influenciam os vários processos ambientais, estes por 
sua vez resultam em uma segunda camada de informações, que tratam das pressões sobre o 
meio ambiente (os ecossistemas e seus serviços). As pressões são geradas por todos os 
setores de atividades econômicas e infraestrutura — transporte, energia, habitação, agricultura, 
indústria, turismo, etc. — que se encontram distribuídose se relacionam a diversos modos de 
ocupação do espaço e que se conectam com os diferentes estágios da cadeia produtiva. 
Forças motrizes e pressões conformam atratores que organizam o sistema 
socioambiental, assim como as condições de vida e de saúde. Resultam, desse modo, na 
terceira camada de informações, referida a situação ambiental e que concentra os dados, 
indicadores e informações que apontam para as alterações e degradação dos ecossistemas e 
seus serviços. É na situação ambiental transformada e/ou degradada que se realizam as 
exposições ambientais. Estas, por sua vez, se relacionam aos diversos modos em que as 
populações são expostas - nos ambientes que vivem, trabalham e circulam - aos potenciais 
efeitos sobre as condições de vida, bem-estar e saúde. 
 
Figura 2 – Matriz de Indicadores no Modelo Forças Motrizes, Pressões, Estado, 
Exposição, Efeitos e Ações (FPSEEA) 
 
Fonte: adaptado de Corvalán e col., 2000. 
 
Das exposições ambientais resultam os efeitos sobre a saúde, manifestados na forma 
de agravos e registrados em sistemas de informações enquanto morbidade e mortalidade. 
Nesta análise em cadeia, a compreensão dos efeitos ocorre por resultado de um amplo leque 
 11 
de fatores, distribuídos em diferentes camadas. Isto significa que as ações e respostas 
tenham que ser formuladas de modo a atingir simultaneamente as múltiplas camadas da 
cadeia desenvolvimento <-> meio ambiente <-> população. Algumas ações e respostas podem 
ser de curto prazo e remediadoras, restritas as políticas de atenção à saúde e serviços de 
saúde. Outras de médio prazo e preventivas, atuando sobre a redução/eliminação das 
exposições e melhoria da qualidade ambiental (redução dos níveis de poluição no solo, águas 
e ar; melhoria das vias de transporte e do transporte púlbico, etc.) ou de longo prazo e 
precaucionárias, envolvendo transformações sobre as pressões e forças motrizes que afetam 
as cidades, estados, países ou regiões. 
Embora o modelo FPSEEA ajude a organizar os dados, indicadores e informações em 
diferentes camadas, deve se evitar o emprego do mesmo de modo mecânico e linear. O 
resultado seria contrário ao proposto, obscurecendo o complexo processo de desenvolvimento 
econômico e urbano, e as consequentes mudanças na situação ambiental e na relação entre 
exposições e efeitos sobre a situação de saúde, limitando a compreensão das condições e 
tendências. Por outro lado, dentro dos modelos indicadores utilizados pelo setor saúde, este é 
o que de modo mais amplo possibilita levantar um conjunto diversificado de dados (saúde, 
meio ambiente, economia, sociedade, política, etc.) sobre municípios e cidades. Permite tratá-
los numa perspectiva (eco)sistêmica (não linear) e como integrando um “sistema complexo”, 
em que cada uma de suas camadas interage com as outras, ao mesmo tempo em que nos 
aproxima do debate sobre os determinantes socioambientais da saúde (SOBRAL e FREITAS, 
2009). 
 
3. APLICAÇÃO E ANÁLISE DA MATRIZ FPSEEA PARA MANAUS 
3.1. Forças motrizes socieconômicas e pressões ambientais 
O Estado do Amazonas em termos espaciais é a maior unidade da federação com área 
de 1.601.920 Km2, dividido em 62 municípios, componente da região Norte do país e da macro-
região Amazônia Legal delimitada pelos estados onde ocorre o bioma Amazônia. A respeito 
dos remanescentes de vegetação nativa, o estado do Amazonas ainda apresenta uma das 
melhores condições de conservação, onde apenas 2,3% de sua cobertura original de floresta 
foi desmatada até o ano de 2009. Sua capital, o município de Manaus, possui área 11.474 Km2 
(0,73% da área do estado) e um desmatamento total acumulado até 2009 de 1.226,8 Km2, 
equivalente a 10,6% da área municipal (INPE/PRODES, 2010). Segundo o trabalho de Miranda 
e col (2005), a área efetivamente urbanizada no município de Manaus em 2000 corresponderia 
à apenas 229 Km2, representando 1,9% do mesmo. Por outro lado, Oliveira e Costa (2007) 
afirmam que a área urbanizada de Manaus corresponde a 4% da área do município. Ainda com 
relação a extensão territorial, Manaus é a segunda maior entre as capitais. Perde apenas para 
Porto Velho. A extensão territorial dos municípios é fundamental para entender as redes e os 
fluxos de influências (se é que existem), da cidade e do urbano (RODRIGUES, 2009). 
 12 
Manaus tem seus limites com os seguintes municípios amazonenses: ao Norte, com 
Presidente Figueiredo; a Leste com Rio Preto da Eva e Itacoatiara; ao Sul com Careiro da 
Várzea e Iranduba; e a Oeste com Novo Airão. Esta capital localiza-se aos 03o de latitude Sul e 
60o de longitude Oeste, assentada sobre um baixo planalto que se desenvolve na barranca da 
margem esquerda do rio Negro, nas imediações da confluência do rio Solimões – onde se 
forma o Amazonas – e também nas proximidades da foz do rio Tarumã com o Rio Negro (GEO 
MANAUS, 2002). 
Historicamente Manaus teve uma importância em vários períodos por sua localização 
estratégica que permite acesso a uma extensa rede hidroviária. Esta localização contribuiu 
para que Manaus se tornasse um importante núcleo urbano de apoio a qualquer atividade 
econômica na região e constituiu as bases para a formação de uma cidade mundial situada no 
coração da floresta e distante 2.000 Km do oceano Atlântico. Nos ciclos extrativistas foi um 
importante interposto para exportação, como também a conexão com países e continentes, 
permitindo um dinâmico e variado comércio. Para Becker e Stenner (2008), Manaus reproduziu 
um modelo de urbanização contra hegemônico, característico da Amazônia, em que as cidades 
foram implantadas ao longo de rios antes de qualquer atividade agrícola organizada, 
delineando por si o povoamento e a produção em seu entorno. Oliveira e Schor (2008) 
ressaltam a importância portuária da localização privilegiada de Manaus em termos de 
circulação de mercadorias para o hinterland e da região para o resto do mundo, concentrando 
principalmente o fluxo para a Amazônia Ocidental, tanto no período da borracha como na 
atualidade com a Zona Franca de Manaus, centralizadora de atividades econômicas e 
promotora de rápida ampliação da malha urbana com consequente surgimento de contradições 
extremas. 
No atual processo de desenvolvimento, o crescimento e a importância da 
industrialização promovida pela Zona Franca de Manaus reforçam o papel desta cidade 
enquanto uma liderança na macrorregião. Como observa Becker e Stenner (2008), este 
processo, por sua vez, vem gerando externalidades dinamizando outros serviços e comércios 
essenciais, interferindo amplamente na economia, de modo que a própria condição urbana 
dinamiza Manaus e a Zona Franca em seu conjunto. 
Esta explosão industrial contemporânea de Manaus tem transformado a cidade e sua 
situação na região como um todo. Nesta fase econômica, diferentemente dos modelos 
extrativo-mercantis anteriores, a industrialização é promovida pelo Estado e se relaciona 
estritamente com o urbano, e não mais com a economia tradicional da floresta, predominante 
em todos os ciclos posteriores. Como observa Santos (2009), a chegada do processo de 
industrialização em Manaus também é determinada por um processo técnico-científico que 
possibilita a fluidez do espaço, ampliando o poder de ocupação territorial promovido pelo 
Estado, com base na grande mobilidade de fatores de produção, trabalho, produtos, 
mercadorias e capital. 
 13 
Mas apesar da importância indiscutível de Manaus em toda a extensa região 
amazônica, sua rede urbana compreende apenas 1,7% da população nacional em 72 
municípios, apresentando intensidade de relacionamento baixo com outras cidades, e 
comparativamente, bastante inferior a de cidades como Juiz de Fora (MG), Ribeirão Preto (SP) 
e Montes Claros (MG). E mesmo que Manaus esteja conectada a ampla região por uma rede 
de hidrográfica, esta capital é bastante prejudicada por ainda possuir uma precária conexão 
com os eixos rodoviários,que constituem o principal modal de fluxos e conexões na Amazônia 
Legal. Assim “pode-se dizer que o coração da Amazônia está longe das principais veias e 
artérias que dinamizam os fluxos na região” (SATHLER e col., 2009: p.26). 
Encontra-se em andamento, desde 2000, um grandioso plano multilateral e 
multisetorial denominado Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana – 
IIRSA, que almeja aumentar a fluidez do território da América do Sul por meio de eixos de 
integração e desenvolvimento. Esta iniciativa certamente incide em significativo aporte à já 
privilegiada posição estratégica de Manaus. Todavia, a IIRSA não fora concebida de modo a 
promover uma integração social em sua área de abrangência e que, não contempla em sua 
orientação um planejamento quanto a impactos ambientais e sociais. Além disso, negligencia 
questões urbanas inerentes ao seu desenvolvimento, considerando sua importância logística e 
possíveis reflexos no crescimento e impactos nas mesmas (VITTE, 2009). Sob esse último 
aspecto, muito significa considerar as possíveis consequências para uma cidade como 
Manaus, levando em conta a predominância de uma urbanização marcada pela reprodução da 
pobreza (SANTOS, 2009; OLIVEIRA e SCHOR, 2008). Enquanto inserção da macrorregião, 
Théry (2005) afirma que a IIRSA coloca a Amazônia em uma posição privilegiada do 
continente, em termos de infraestrutura e fluxos, e não mais a periferia dos países que a 
compõem. 
Manaus acumula cerca de metade da população do estado e aproximadamente 80% 
de seu PIB (FREITAS e GIATTI, 2010), o crescimento populacional desta capital pode ser visto 
no Gráfico 1, em que é nítida e intensa progressão a partir da década de 1970, consagrando-
se como uma das mais populosas cidades brasileiras e a maior dentre as cidades da região 
Norte do País, com 99,5% de sua população atualmente concentrada na área urbana. E, se 
esta capital em ciclos econômicos passados já concentrava intensas desigualdades sociais, na 
atualidade seu modelo de rápido crescimento econômico e demográfico vem propiciar 
contradições extremas, pois os incentivos que propiciaram o fenomenal crescimento industrial 
sob a orientação da economia globalizada, não foram acompanhados de similar movimento no 
que diz respeito a infraestrutura e equipamentos urbanos de um modo geral, além de que, 
novamente as desigualdades se instauram com notável concentração de pobreza urbana na 
cidade (OLIVEIRA e SCHOR, 2008). Para Santos (2009), essa expansão capitalista devorante 
de recursos públicos, com plena orientação para investimentos econômicos em detrimento de 
sociais pode ser classificada como uma urbanização corporativa. 
 
 14 
Gráfico 1 - População residente em Manaus de 1872 a 2010. 
 
Fontes: Recenseamento do Brazil 1872-1920. Rio de Janeiro: Directoria Geral de Estatística, [187?] - 
1930; Censo demográfico 1940-2010. Rio de Janeiro: IBGE, 1950 -2001; Contagem da população 1996. 
Rio de Janeiro: IBGE, 1997; e estimativas populacionais IBGE. 
 
É marcante o fato de que crescimento populacional associado à urbanização na 
Amazônia Legal constituem situação relevante nas relações de saúde e ambiente, sobretudo 
em se considerando o precário quadro sanitário da região. Particularmente no estado do 
Amazonas, observa-se que a população cresceu 61,1 % entre 1991 e 2007 enquanto que no 
país o acréscimo no mesmo período foi de apenas 28,9% (FREITAS e GIATTI, 2009). 
Enquanto evolução da rápida e marcante concentração populacional em cidades nas últimas 
décadas, para o Brasil a taxa de urbanização saltou de 36,1% em 1950 para 81,2% em 2000, 
neste mesmo período a taxa de urbanização do estado do Amazonas cresceu de 26,8% para 
74,8% (IBGE, 2000). 
O fato de a mancha urbana representar muito pouco da área total do estado faz com 
que a densidade demográfica das áreas urbanizadas amazonenses, calculada para o ano de 
2000, seja de 6.086 habitantes/km2, um valor bem próximo do nacional, que é de 6.481 
habitantes/km2. Todavia a densidade demográfica em áreas urbanas no Amazonas parece não 
ser tão elevada se a compararmos, por exemplo, com a do Pará, que é de 10.034 
habitantes/km2, ou de São Paulo que é de 10.134 habitantes/km2 (MIRANDA e col. 2005). De 
qualquer forma, observa-se rápido crescimento horizontal da mancha urbana de Manaus, como 
é possível observar na Figura 3. 
Os municípios da região Amazônica, de um modo geral tem apresentado grande 
variação populacional inclusive por migrações e assim, Manaus se constitui com uma das 
maiores variações em termos de crescimento populacional para municípios brasileiros entre 
2000 e 2007 (THÉRY, 2008). 
 
 
 15 
Figura 3 - Evolução da mancha urbana de Manaus em imagens de satélite – 1973 a 2008. 
1973 1991 2008 
Obs: 1973 - Imagem Landsat 1 MSS do 07/07/1973, composição colorida RGB bandas 6,7,5; 1991 – 
Imagem Landsat 5 TM do 08/08/2001, composição colorida RGB bandas 3,4,2; 2008 – Imagem CBERS2 
CCD do 01/07/2008, composição colorida RGB bandas 3,4,2. 
Fonte: INPE/DGI, 2009. 
 
Segundo Sathler e col. (2009) há grandes discrepâncias dentre municípios amazônicos 
em termos de serviços e infraestrutura com relação ao tamanho demográfico, municípios 
amazônicos a serem considerados médios pela dimensão de suas populações não podem ser 
assim classificados, pois a complexidade conceitual dessa categoria se constitui quando os 
municípios possuem oferta de funções compatíveis, em nível intermediário em se comparando 
com as metrópoles ou capitais, no caso, ressaltando-se Manaus e Belém por oferecerem 
melhores condições de vida. Desse modo, a título de exemplo, na Amazônia há municípios 
com populações entre 100.000 e 500.000 habitantes onde prevalece pobreza e desemprego, 
com habitantes desprovidos de recursos materiais e educacionais. “Na Amazônia, a integração 
econômico-espacial provida pela globalização não foi suficiente para reduzir significativamente 
as distâncias entre as pequenas cidades e os demais níveis hierárquicos das redes urbanas” 
(op. cit., p. 22). Enquanto força atrativa para Manaus, também se considera importante 
assinalar que o IDH de 2007 (0,74) desta capital é o melhor do estado do Amazonas 
(IPEADATA, 2010). 
Dimensionando a economia de Manaus, seu PIB é bastante expressivo no cenário 
nacional representando em 2005 1,3% de participação relativa, ocupando posição de sétima 
cidade mais rica do país. A rapidez de seu crescimento é marcante, com acréscimo de 128,3% 
entre os anos de 2002 e 2009, totalizando neste ano aproximadamente de R$ 40 bilhões 
(SEPLAN, 2009; e AMAZONAS, 2010). Em 2005 o PIB de Manaus foi 2,4 vezes o PIB de 
Belém e 7,4 vezes o de Porto Velho, segunda e terceira maiores economias da macrorregião 
Amazônia Legal, respectivamente (IBGE, 2007). 
A composição do PIB de Manaus demonstra crescimento em todos os seus 
componentes entre 2002 e 2009 (Gráfico 2), sendo que as atividades industrial e serviços 
 16 
representavam 99,8% do valor adicionado e 80,2% do total do PIB de 2007. A atividade 
agropecuária, apesar de também apresentar expressivo crescimento no período de 2002 a 
2007, possui pouca expressão no montante, respondendo por apenas 0,2% do valor 
adicionado e 0,16% do PIB total de 2007. 
 
Gráfico 2 – Evolução do Produto Interno Bruto de Manaus 2002 – 2009, em R$ bilhões 
Fonte: SEPLAN, 2009. 
O PIB per capita de Manaus também vem crescendo de modo expressivo (Gráfico 3). 
Entre 2002 e 2009, enquanto o PIB da capital do Amazonas cresceu 128,2%, seu PIB per 
capita se elevou em 98,6%, atingindo R$ 23.362,00 em 2009. A concentração da produção de 
bens e serviços na capital também pode ser nitidamente observada nesse indicador, uma vez 
que o PIB per capita do estado do Amazonas é de R$ 14.621,00 em 2009 (AMAZONAS, 2010). 
 
Gráfico 3 – Evolução do PIB per capita de Manaus em R$ 1.000, de 2002 a 2009 
 
 
Fonte: IBGE, 2007 – PIB municípios e AMAZONAS,2010 – site e-siga 
 
 17 
Mas apesar do crescimento da economia de um modo geral em Manaus, o percentual 
de pobres1 aumentou de 23,6% em 1991 para 35,2% em 2000, esse indicador também em 
2000 é de: 30,0% para Belém/PA; 53,0% para o Amazonas; 45,8% em média para os estados 
da Amazônia Legal; 18,9% para Cuiabá – melhor desempenho na Amazônia Legal; e 33,0% 
para o Brasil (IPEADATA, 2010). 
A renda domiciliar per capita mensal de Manaus, mesmo sendo a maior dentre os 
municípios amazonenses, apresentou queda de R$ 276,90 em 1991 para R$ 262,40 em 20022, 
para efeito comparativo, o valor deste indicador em 2000 é de: R$ 313,93 para Belém/PA; R$ 
173,92 para o Amazonas; R$ 196,88 de média para os estados da Amazônia Legal; e R$ 
297,23 para o país (IPEADATA, 2010). 
Esses indicadores econômicos levam a reconhecer que o desenvolvimento econômico 
em Manaus não vem sendo acompanhado de um processo aumento da renda e redução da 
pobreza, o que pode ser também observado pela razão entre a renda dos 10% mais ricos e 
40% mais pobres, que evoluiu de 18,8% em 1991 para 30,8% em 2000 (IPEADATA, 2010). 
Considerando a heterogeneidade dentre indicadores na Amazônia Legal, Freitas e 
Giatti (2009) assinalam, por exemplo, que entre Mato Grosso e Amazonas, ambos têm tido 
rápido crescimento econômico, e que Mato Grosso realmente apresentou melhor desempenho 
em alguns componentes dos Objetivos do Milênio propostos pela Organização das Nações 
Unidas, porém, era o estado com os mais expressivos índices de desmatamento na 
macrorregião, enquanto que o Amazonas mantinha excelentes indicadores de conservação do 
bioma Amazônia, todavia, ostentava desempenho aquém em alguns indicadores sociais. 
Na motricidade do processo econômico, o Polo Industrial de Manaus (PIM), cujo 
admirável crescimento pode ser verificado no Gráfico 4, contava em 2008 com 550 fábricas, 
gerando 113.837 empregos diretos e cerca de 400 mil indiretos, tendo como principais 
produtos exportáveis: terminais portáteis de telefonia celular, concentrados para elaboração de 
bebidas, motocicletas com motores de 50 e 150 cilindradas, aparelhos de televisão e aparelhos 
de barbear não-elétricos (SUFRAMA, 2010). 
Por outro lado, é importante ressaltar a suscetibilidade conjuntural do faturamento do 
PIM para eventos externos, como a crise do Governo Collor e a crise cambial, verificáveis em 
súbitas quedas de faturamento respectivamente em 1991 e 1997. Além disso, apesar do 
crescimento acelerado nos últimos anos, este faturamento que ultrapassou 25 bilhões de 
dólares em 2007, teve um crescimento de 10,5% em 2008, porém, como reflexos da crise 
econômica mundial, desencadeada nos Estados Unidos no segundo semestre de 2008, sofreu 
a redução de seu montante de aproximadamente 7% entre 2008 e 2009 (AMAZONAS, 2010). 
 
 
1 Pessoas com renda domiciliar per capita mensal inferior a R$ 75,70, valor com 
referência no ano de 2000. 
2 Unidade de valor em R$, com valor de referência ano de 2000. 
 18 
Gráfico 4 - Evolução do faturamento do PIM, total e subsetores de 1988 a 2007 em 
bilhões de dólares. 
Fonte: SUFRAMA, 2008 
 
Em sua dinâmica comercial o PIM apresenta pequena parcela de exportações 
(predominantemente paro Mercosul), permitindo constatar que o maior volume de vendas de 
sua produção se dirige ao mercado nacional. Além disso, observa-se que o PIM exporta 
significativamente menos do que realiza em volume de importações, configurando a 
dependência de insumos tecnológicos provenientes de outros países (sobretudo de países 
asiáticos). Com relação ao volume total de aquisição de insumos também é possível inferir que 
boa parte destes provém também de território nacional (SUFRAMA, 2008). 
Enquanto modelo de intensa transição na economia da capital: 
“A ZFM contorna a rede de trocas tradicional entre patrão e empregados 
do sistema de aviamento, substituindo-a por uma dependência em investimento 
externo por firmas estrangeiras e multinacionais...” (BROWDER e GODFREY, 
2006 p. 160). 
Na análise de Pereira (2005), a Zona Franca é um modelo que mantém pouca relação 
com as potencialidades da região, mas defende interesses exógenos, levando em conta a 
aquisição de mão-de-obra barata e os significativos favores fiscais e governamentais. 
Sendo a economia de Manaus fortemente dependente da dinâmica oferecida pela Zona 
Franca de Manaus (ZFM), uma alternativa frequentemente apontada para diversificação 
econômica é o Turismo, o qual, apesar de ainda não constituir um segmento de grande 
representatividade, vem crescendo significativamente nos últimos anos (AMAZONAS,). Para 
Becker e Stenner (2008), Manaus apresenta-se como proeminente cidade polo para o 
desenvolvimento de uma indústria biotecnologia. Em adição, os autores citam distintos 
aspectos conjunturais atuais que favorecem que esta capital associe seu desenvolvimento às 
características do bioma Amazônia, em que ressaltamos: seu destaque regional enquanto polo 
 19 
de ciência, tecnologia e inovação, característica associada à dinâmica instituída pela ZFM; a 
implementação de estrutura de transportes multimodais que vem a fortalecer sua importância 
logística; o surgimento de inúmeras empresas médias para o aproveitamento da 
biodiversidade, como na transformação de óleos essenciais para fitoterápicos ou produtos 
dermatológicos; e a possibilidade de, enquanto cidade mundial, ter um papel importante na 
mercantilização de serviços ambientais, como no caso do mercado de carbono. 
As forças motrizes responsáveis pelo rápido crescimento econômico e populacional de 
Manaus vêm induzindo reflexos em distintos outros indicadores relacionados à sustentabilidade 
ambiental e de saúde. Nesse sentido, assinalamos as pressões que resultam do aumento do 
consumo de energia elétrica, da frota de veículos e para a ocupação do espaço físico, em que 
se configura um processo de espacialização das desigualdades socioambientais. 
No tocante ao consumo de energia elétrica ocorre, entre 1999 e 2008, o crescimento 
do valor bruto fornecido pela Manaus Energia, como também o fornecimento per capita, que 
também se apresenta crescente, apesar do crescimento populacional, mostrando uma relação 
de elevação de padrão de consumo3. Assinala-se que no período de 1999 a 2008 o número de 
consumidores de energia de Manaus subiu 35,2%, partindo de 324.276 para 438.536 ligações 
(AMAZONAS, 2010). Adiciona-se a essa análise o fato da matriz energética da capital ser 
quase exclusivamente termoelétrica. 
A evolução da frota de veículos em Manaus também é notável, e no período em que 
houve dados disponíveis (de 1995 a 2008) a frota cresceu 178,5%4. Em se calculando a 
relação da frota de veículos pela população na capital do Amazonas, esse coeficiente evolui de 
0,16 para 0,26 veículos por habitantes entre 1996 e 2008, crescendo, portanto, 62,5% em 12 
anos e atingindo a marca de um veículo para cada quatro habitantes. Apesar dessa relação de 
veículos per capita e do rápido crescimento da frota, o percentual de pessoas que viviam em 
domicílios com carro disponível para locomoção em Manaus, foi de 21,5% - censo de 2000 
(IPEADATA, 2010), mostrando também grande desigualdade no acesso ao recurso automóvel 
dentre a população de um modo geral. 
A espacialização das desigualdades socioambientais enquanto materialização das 
forças motrizes e pressões socioeconômicas pode ser observada na Figura 4, que traz a 
distribuição espacial de categorias de renda com a delimitação dos cursos hídricos de Manaus, 
demonstrando que, apesar da “pujança” econômica, ocorre um padrão espacial peculiar de 
pressões por ocupação de duas classes de ambientes de extrema relevância e criticidade em 
termos de saúde pública, que são: os igarapés com sua relação com o precário saneamento e 
riscos associados à inundações; e a periferia distante, onde a cidade cresce rapidamente edesprovida de infraestrutura, suscetível a um quadro sanitário agravado pela prevalência de 
condições favoráveis à disseminação de doenças cujos vetores e/ou agentes infecciosos 
 
3 Informação cedida diretamente pela Manaus Energia em referência à 2008. 
4 Informação cedida diretamente pelo DETRAN do Estado do Amazonas, em referência ao ano 
de 2009. 
 20 
possuem ciclo silvestre. Esse modelo de segregação espacial dos mais pobres ocorre 
historicamente em Manaus (OLIVEIRA e SHOR, 2008). 
 
Figura 4 – Renda por pessoa residente em Manaus (em salário mínimo) – média por setor 
censitário, 2000, com detalhamento dos igarapés que cortam o meio urbano. 
Fonte: IBGE, censo 2000 
 
3.2. Situação e exposição 
A situação ambiental em Manaus será tratada considerando, além do seu rápido 
crescimento urbano sobre precárias condições sanitárias, também sua peculiaridade em 
termos de ser uma das poucas cidades do mundo com mais de 1,5 milhão de habitantes em 
clima equatorial. Consideramos esta capital como um ecossistema urbano complexo, cuja 
dinâmica acarreta efeitos sobre a saúde, que sejam diretos, mediados ou modulados, do curto 
ao longo prazo, resultando de múltiplas interações que envolvem complexas redes de atratores 
que se expressam em eventos e situações. Dessa forma, há de se avaliar a atual 
vulnerabilidade dos grupos populacionais (e provavelmente também futuro se algo não for feito 
agora) e a resiliência ─ capacidade de adaptação das coletividades humanas (OPAS, 2005). 
Os atratores que incidem sob o ecossistema urbano sobrepõem-se ao ecossistema natural, 
não sendo possível distinguir o natural do antrópico, organizando diferentes padrões de 
 21 
situações e exposições ambientais, com seus respectivos impactos nos serviços dos 
ecossistemas e riscos à saúde humana. 
A pressão por uso do solo se faz intensa conduzindo a ocupação para periferias 
distantes, como também e historicamente, aliás, dirige-se para as áreas de influência dos 
igarapés e do sistema hídrico de um modo geral. A ocupação de áreas distantes ocorreu por 
projetos estaduais ou municipais de construção de residenciais populares (Nova cidade, 
Cidade Nova, e outros), criando vácuos centrais e ilhas de populações isoladas dos centros. As 
dificuldades de ordenamento e planejamento urbano mediante a velocidade do crescimento 
populacional materializam uma cidade espraiada e com inúmeros vazios, que destrói 
rapidamente sua cobertura vegetal natural, tornando difícil atender a população com serviços 
essenciais, também reproduzindo sérios problemas viários. 
Em se tratando de esgotamento sanitário, o percentual de domicílios com instalação 
sanitária ligada à rede geral de esgotos (e/ou águas pluviais) era de 32,5% em 2000, 
apontando um sério déficit nesse sentido (IPEADATA, 2010). Porém a disponibilidade de redes 
de esgoto na cidade é bastante restrita em termos espaciais (Figura 5). 
De acordo com dados de 2008 da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, Manaus 
conta com 418.657 economias abastecidas por água de rede pública, enquanto que são 
apenas 29.768 (7,1%) as esgotadas por rede coletora de esgotos sanitários, enquanto que 
(IBGE, 2010). 
Figura 5 – Redes de coleta de esgotos domésticos na cidade de Manaus, 2009. 
 
Fonte: ARSAM - Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos do Estado do 
Amazonas, 2008 – disponível url: http://www.arsam.am.gov.br, acesso em 23/03/2011. 
 22 
Sob dados censitários, o percentual de domicílios atendidos por abastecimento de 
água encanada proveniente de rede geral apresenta crescimento desde 1970 até 1991 
(atingindo 79%) e ligeira queda no ano de 2000 (74%), totalizando neste ano o número de 
243.296 domicílios (IPEADATA, 2010). A queda no final deste período permite considerar a 
dificuldade de se prover serviços básicos mediante ao rápido crescimento populacional. 
Um plano de ação da companhia Águas do Amazonas – concessionária de 
saneamento no município – mostra que a cada ano cerca de 60.000 habitantes passam a 
demandar serviços públicos em Manaus, e que o sistema de abastecimento de água da cidade, 
composto por adutoras que fornecem água tratada captada no rio Negro, além de soluções 
alternativas com distribuição de água proveniente de poços profundos no meio urbano em 
localidades distantes do sistema de adução, mantinha em 2007 aproximadamente 600 mil 
pessoas com abastecimento precário e 250 mil pessoas sem abastecimento público de água 
(ÁGUAS DO AMAZONAS, 2007), ou seja, mais da metade da população de Manaus em 2007 
não contava com abastecimento público regular de água potável. As áreas de Manaus com 
maiores dificuldades para serem atendidas pelo sistema de abastecimento são apresentadas 
na Figura 6, composta por dados do censo de 2000, antes da concessão para a companhia 
Águas da Amazonas, em período em que o abastecimento de água era realizado pela 
COSAMA – Companhia de Saneamento do Amazonas. No entanto, o plano de ação acima 
citado produzido pela Águas do Amazonas em 2007, permanece reconhecendo as dificuldades 
de abastecimento que se concentram nas zonas Norte e Leste da cidade, predominantemente. 
Vale salientar, que as zonas Norte e Leste da cidade de Manaus comportam atualmente quase 
metade dos domicílios: 44,2% (Oliveira e Costa, 2007). Em análise de dados do censo de 2000 
é possível verificar que ainda é fortemente prevalente o abastecimento de domicílios por água 
de poços ou nascentes em Manaus, mesmo em áreas atendidas por rede pública de 
abastecimento (IBGE, 2000). 
Temos nesta capital o percentual de pessoas que vivia em domicílios atendidos por 
coleta de resíduos sólidos era de 78% em 1991 e evoluiu para 91% em 2000 (IPEADATA, 
2010). Considerando a boa cobertura por coleta, observa-se a tendência de universalização do 
serviço, tendo também em vista que em 2007, de acordo com o Sistema Nacional de 
Informações sobre Saneamento – SNIS, a taxa de cobertura da coleta de resíduos sólidos foi 
informada pelo gestor municipal como de 100% para o município de Manaus (Ministério das 
Cidades, 2009). 
 
 
 
 
 
 23 
Figura 6 – Setores censitários por percentual de domicílios abastecidos com água da 
rede geral em Manaus, 2000. 
Fonte: IBGE, censo 2000. 
 
A coleta de resíduos sólidos urbanos em Manaus em 2007 foi de 1.975 t/dia, com uma 
produção per capita de 1,20 Kg/hab/dia (ABRELPE, 2007). Em 2009 registra-se a coleta de 
2.168 t/dia nesta capital com uma produção per capita de 1,25 Kg/hab/dia. Para o Brasil, 
projeta-se uma produção per capita de resíduos sólidos urbanos da ordem de 1,25 Kg/hab/dia 
nesse mesmo ano, todavia, em algumas capitais encontram-se produções per capita acima ou 
abaixo desse valor, tendo relação com padrões de consumo de suas populações e diversos 
outros fatores. A exemplo destas variações temos: Belém com 1,10 Kg/hab/dia; Rio Branco 
com 0,85 Kg/hab/dia; Porto Velho com 0,79 Kg/hab/dia; São Paulo com 1,34 Kg/hab/dia; e Rio 
de Janeiro com 1,62 Kg/hab/dia. Sobre esses comparativos, observamos que a produção de 
resíduos per capita em Manaus se destaca por ser a maior grandeza na região da Amazônia 
Legal, ao passo que seu crescimento indica tendência de se aproximar do per capita de outras 
capitais brasileiras com elevados valores (ABRELPE, 2009). Os resíduos sólidos urbanos 
coletados em Manaus são encaminhados para um Aterro de Resíduos Sólidos Urbanos 
controlado iniciado em 1986, situado na zona Norte da cidade, no Km 19 da rodovia AM-010. 
Este, recebe ~900.000 toneladas por ano (875.892 em 2002, 883.676 em 2007) na forma de 
resíduos domiciliares e públicos, resíduos de serviços de saúde, entulho e resíduos de podas e 
 24 
outros (Ministério das Cidades, 2004; 2009).A coleta seletiva (0,1% do total em 2002, 0,2% em 
2007) apesar de duplicar permanece uma cifra muito baixa (Ministério das Cidades, 2004, 
2009). Em 2011 a Prefeituraformalizou uma parceria público privada com o Instituto Brasileiro 
de Administração Municipal (IBAM) para um diagnóstico da coleta seletiva de Manaus 
(PREFEITURA DE MANAUS, 2011). 
Desde 2011 o aterro é gerido pela Secretaria Municipal de Limpeza Pública 
(SEMULSP) e foram realizados investimentos com vistas à utilização adequada e o seu 
funcionamento está dentro das normas técnicas previstas pela ABNT (Associação Brasileira de 
Normas Técnicas (PREFEITURA DE MANAUS, 2011). 
Os custos com limpeza urbana em Manaus somaram R$ 76.919.273,00 em 2007 e 
representaram 9,4% do orçamento municipal daquele ano, como outros exemplos deste 
percentual de gastos temos: Rio Branco com 2,2%; São Paulo com 4,1%; Rio de Janeiro com 
7,9%; e uma projeção de 4,5% enquanto média para os municípios brasileiros – com 90% de 
nível de confiança e 10% de margem de erro (ABRELPE, 2007). A partir destes dados, 
podemos inferir que, em comparação com o Brasil e com outras capitais brasileiras, é elevado 
o percentual do orçamento empregado em limpeza urbana da capital do Amazonas. 
Entre 1971 e 1986, um depósito de lixo que não contava com critérios técnicos de 
proteção ambiental existia em Manaus na área hoje ocupada pelo bairro periférico de Novo 
Israel, na zona Norte da cidade. Um estudo de análise de qualidade da água de poços de 
lençóis superficiais e profundos nessa localidade e nas suas adjacências (ROCHA e col., 2006) 
mostrou que a água captada não era apropriada para consumo humano devido a altos teores 
de contaminantes químicos, especialmente metais pesados. Apesar de o problema ambiental 
ser constatado, ainda entre 2007 e 2008 a população local continuava exposta aos 
contaminantes em razão do uso de água de poços para abastecimento doméstico, sendo 
verificados sérios equívocos quanto à percepção do problema ambiental e riscos à saúde 
dentre a população local (GIATTI e col., 2010). 
Considera-se, porém, que a comprovação da relação causa e efeito para exposições 
ambientais que possam desencadear manifestações crônicas a humanos demanda estudos 
específicos, em pesquisas frequentemente custosas e demoradas (CÂMARA e col., 2003). 
Para Ravetz (2004), os efeitos da exposição de humanos a poluentes ambientais se 
manifestam, geralmente, em longo prazo, sendo mascarados por outras causas. Soma-se a 
isso o fato de que a probabilidade de sinergia entre elementos nocivos e a potencialização de 
riscos é geralmente desconhecida, havendo grande dificuldade para comprovações por meio 
de uma ciência baseada em testes laboratoriais, que não incorpora outros fatores relevantes, 
como interesses corporativos, industriais, regulatórios ou profissionais que se posicionam 
contra o reconhecimento dos efeitos. No caso em estudo, até mesmo a necessidade de 
espaços para moradia em um mercado imobiliário profundamente desigual contribui para a 
ocupação da área contaminada e, consequentemente, para a exposição humana a situações 
ambientais que apresentam riscos para a saúde. 
 25 
Com relação aos recursos hídricos em Manaus, sua área urbana abrange quatro 
bacias hidrográficas tributárias do rio Negro. Dentro da cidade situam-se integralmente duas 
bacias, dos igarapés São Raimundo e Educandos, e partes das bacias do igarapé Tarumã-Açu 
e do rio Puraquequara (Figura 7). A complexa rede hidrográfica da cidade, composta por 
inúmeros tributários dos cursos principais acima citados, apresenta uma série de problemas, 
como apontados pelo informe GEO Manaus (2002; p.70): 
Águas Poluídas – em quase todos os igarapés que cortam a área urbana, 
como os de São Raimundo, Mindú, Bindá, Franceses, Bolívia, Matrinxã, Tarumanzinho, 
Quarenta, Educandos, Mestre Chico, Manaus, Bittencourt e Franco. 
Alagamento de áreas ocupadas por chuvas intensas – como as que 
ocorrem nos bairros do Japiim, Petrópolis, Compensa, Aleixo, Parque 10 e Santa 
Etelvina. 
Riscos de Desabamentos – estão presentes em inúmeros bairros, como no 
Centro, Aparecida, Educandos, Petrópolis, Santa Luzia, Betânia, Aleixo, Parque 10, 
Santa Etelvina, Novo Israel, Colônia Terra Nova, N.S. Fátima, Cidade Nova, 
Canaranas, Multirão Amazonino Mendes, Mauazinho, São Lucas, João Paulo II, São 
José III, Coroado (I, II e III), Compensa, São Jorge, São Raimundo, Bairro da Paz, 
Redenção e, também, na CEASA e orla do rio Negro. 
Inundações por Cheias Fluviais – ocorrem nas partes mais baixas da área 
urbana, principalmente nos trechos localizados às margens dos cursos d’água, 
atingindo os bairros de Educandos, Glória, São Raimundo, Bariri, São Jorge, Morro da 
Liberdade, São Geraldo, Crespo, Raiz, Betânia, Vila da Prata, Santa Luzia, São Lázaro, 
Colônia Oliveira Machado, Matinha, Aparecida, Compensa, Pico das Águas, 
Mauazinho, Cachoeirinha, Centro, Presidente Vargas, Igarapé do Quarenta, Igarapé 
Mestre Chico, Igarapé de Manaus, Igarapé Bittencourt, Jardim dos Barés, Igarapé 
Veneza, Beira do Rio Negro. 
O igarapé Tarumã-Açu que corta a cidade pela sua zona Oeste e deságua no rio Negro 
nas proximidades da Ponta Negra, constitui um importante local de lazer e para atividades de 
recreação, inclusive de contato primário com a água, e vem sofrendo processo de 
contaminação tanto por esgotos domésticos, como pelo fato de ter em sua bacia de drenagem 
a localização do aterro controlado da rodovia AM-010 (SANTOS e col., 2006). Um estudo 
realizado na bacia do Tarumã-Açu (SANTANA e col., 2007), por coleta e análise de água e 
sedimentos em igarapés tributários, no próprio Tarumã-Açu e dentro do referido aterro, 
identificou a presença de metais pesados em níveis muito acima dos permitidos pela resolução 
357/2005 CONAMA, concluindo que o aterro das imediações é o principal responsável por este 
impacto ambiental. Nota-se que, apesar das grandes vazões do rio Negro e de seu poder de 
diluição, essas contaminações ocorrem à montante da mais volumosa captação de água da 
companhia Águas do Amazonas, na ponta do Ismael/Compensa, utilizada para abastecimento 
público da capital. Ainda com relação ao passivo ambiental da disposição inadequada de 
 26 
resíduos sólidos impactando os recursos hídricos, medições de concentração de metais 
pesados na rede hidrográfica a leste do aterro de Manaus entre 2005 e 2006 mostraram 
heterogeneidade e variações sazonais, porém assinalando que metais como Al, Cd, Fe e Pb 
foram verificados em níveis superiores aos determinados pela resolução CONAMA 357, de 
2005 (OLIVEIRA & SANTANA, 2010). 
Analisando a inserção de Manaus nos sistemas naturais, especificamente quanto ao 
sistema hídrico, temos a inserção da cidade entre dois grandes rios e inúmeros igarapés, fez 
com que as áreas de influência destes historicamente se constituíssem como espaços de 
exclusão e ocupação irregular, constituindo-se como se fossem periferias pobres de Manaus. 
Ressalta-se ainda que a “cidade cresce de costas para os rios, aterra seus igarapés ou deixa-
os como veias abertas a drenar esgotos” (OLIVEIRA e SCHOR, 2008; p.59). 
As características naturais do relevo entrecortado por igarapés, trouxeram, mediante a 
necessidade de expansão da cidade desde o ciclo da borracha iniciado no final do século XIX, 
um constante debate em torno do modelo a se adotar para crescimento e conformação do 
desenho urbano. Porém, vem sendo reproduzido historicamente um modelo que agride 
intensamente os recursos hídricos e suas áreas de influência, como por aterramentos que 
desde o passado vem a ocorrer sob uma lógica de supressão de áreas sujeitas a ares 
corrompidos (VALLE e OLIVEIRA, 2003). 
Uma intervenção atual de grandes proporções nos igarapés tem sido o Programa 
Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (PROSAMIM) realizado com financiamento do 
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esse programa deve ser mencionado como 
ação de resgate do espaço dos igarapés no meio urbano, embora bastante oprimidos pelo 
traçado que a cidade constituiu. Todavia, um grande esforçoainda deve ser empreendido para 
se tratar das causas da poluição dos igarapés por esgotos, pois só então poder-se-á considerar 
as áreas beneficiadas como ambientes favoráveis à saúde. 
Os igarapés, chavascais e nascentes por sua importância sistêmica e sua contribuição 
no provimento de serviços de ecossistemas e suporte à vida (MEA, 2005), são fundamentais 
no ciclo da água, drenagem, manutenção da biota, interação com sistemas terrestres, 
influência no micro clima, interação com rios e bacia hidrográfica, etc. Sob a necessidade de se 
manejar essas áreas por sua capacidade enquanto sistemas de suporte à vida, sua gestão 
deve ser realizada em torno de suas trocas e fluxos entre sistema antrópico e natural. Assim, 
assinalamos que a preservação e a não ocupação irregular destes sistemas hídricos possui 
grande relevância para a drenagem urbana e para prevenção de enchentes, inundações e 
desastres associados; importância para minimização do efeito de calor urbano, podendo 
interferir positivamente mediante a constituição de ilhas de calor; possibilidade de oferecer 
áreas verdes para usufruto dos habitantes, revertendo em ambientes favoráveis à saúde e 
favorecendo práticas saudáveis – promoção da saúde; possibilidade de fortalecimento da 
identidade singular da cidade, com suas características de interação com os sistemas naturais. 
 
 27 
Figura 7 – Hidrografia da cidade de Manaus 
Fonte: GEO Manaus (2002) 
 
Quanto à cobertura vegetal no espaço urbano de Manaus, um estudo realizado a partir 
de sensoriamento remoto, entre 1986 e 2004 (NOGUEIRA e col., 2007), mostra como a partir 
do franco crescimento urbano de Manaus decorre um processo de desmatamento, que, de 
modo predatório, ocupa as bordas e os espaços intra-urbanos. Durante ocupação, a área 
urbana da capital perdeu 65% de sua cobertura vegetal, sendo que cerca de 20% da cobertura 
foi suprimida em apenas 18 anos, período referente ao estudo. Especificamente nas zonas 
Norte e Leste, porções mais novas da expansão urbana e principais vetores de crescimento 
nos últimos anos, a ocupação ocorreu predominantemente sobre a mata circundante da 
mancha urbana. 
Por outro lado, a grande extensão do município e a ocupação de apenas uma pequena 
fração de sua área pela mancha urbana (que varia de 4% à 1,9%, de acordo com a fonte), 
permite a preservação de extensas áreas com cobertura vegetal nativa, além de que, uma 
enorme porção do município encontra-se protegida por unidades de conservação municipais, 
estaduais e federal. Porém, é no ambiente urbano profundamente modificado que as 
consequências da depleção do verde vêm a interferir no bem estar humano de grande parte da 
população. 
 28 
Com relação à arborização urbana, há carência de dados ou indicadores para Manaus, 
mas a cidade vem apresentando um certo padrão de arborização em quintais, que pode ser 
verificado em uma ocupação planejada e consolidada como a do bairro de Cidade Nova, na 
zona Norte de Manaus. Por outro lado, ocupações mais recentes e também planejadas, como 
em Nova Cidade, carecem substancialmente de arborização, muitas vezes constituindo 
ambientes bastante inóspitos como em conjuntos residenciais populares nesse mesmo bairro, 
que não contam com áreas verdes e se constituem de casas que oferecem pouco conforto 
térmico, além de que, muitas vezes, encontram-se nas franjas da cidade em áreas de 
profundos e recentes impactos nos sistemas naturais, em circunstâncias que favorecem a 
incidência de doenças como a malária (CONFALONIERI, 2005; PATZ e col., 2004; 
GONÇALVES e col.,2004). É curioso notar, que em ocupações não planejadas, apesar do 
traçado irregular pelo qual se estabelecem, essas muitas vezes apresentam certo padrão de 
urbanização, sobretudo de quintais (SEMMA, 2008). 
Voltando à questão do rápido crescimento urbano de Manaus com a insuficiência de 
planejamento e ordenamento urbano, sobretudo entre as décadas de 1980 e 1990, assinalam-
se alguns aspectos que interferem na qualidade de vida da população por meio da severa e 
precária urbanização: inadequação dos instrumentos de planejamento e controle; insuficiência 
e desarticulação da malha viária; descaracterização ou substituição paulatina de edificações de 
interesse histórico e cultural: intensificação da atividade imobiliária em terrenos desocupados; e 
deficiência da infraestrutura urbana, principalmente dos sistemas de esgotos sanitários, e dos 
serviços e equipamentos sociais básicos (GEO MANAUS, 2002). 
No contexto da moradia, a análise dessa questão produz dialeticamente a 
fragmentação e articulação da cidade, em que se aproximam e se afastam contradições entre 
ricos e pobres (OLIVEIRA e COSTA, 2007; SPÓSITO,1994). Oliveira e Costa (2007) 
consideram que os conjuntos habitacionais e as ocupações espontâneas constituíram os mais 
recentes (três últimas décadas) vetores da expansão da malha urbana da cidade de Manaus. 
Nas décadas de 1980 e 1990 foram construídos na Zona Norte os conjuntos 
habitacionais Cidade Nova e Nova Cidade, respectivamente. Ambos totalizaram 18.024 novas 
unidades habitacionais, inaugurando a nova fase na construção de unidades populares em 
Manaus. Enquanto que no outro vetor da expansão da malha urbana da cidade de Manaus, 
denominado de ”ocupações espontâneas”, diferentemente, o Estado não se fez tão presente. 
São exemplos de “ocupações espontâneas”, os bairros de Alvorada e Redenção na 
Zona Centro-Oeste, ocupados por trabalhadores da construção civil que ergueram o Conjunto 
Ajuricaba na década de 1980. Na zona Norte os bairros de Novo Israel, Monte das Oliveiras, 
Colônia, Terra Nova, Santa Etelvina e Colônia Santo Antônio foram ocupações nas imediações 
dos conjuntos habitacionais Cidade Nova e Nova Cidade na década de 1990. Nos últimos anos 
essa expansão tem seguido o sentido da rodovia federal que liga Manaus ao município 
Presidente Figueiredo, adentrado a zona rural da capital do estado. Na zona Leste as 
ocupações espontâneas deram origem aos bairros de Mauazinho, Zumbi dos Palmares e 
 29 
Coroado, sendo este último considerado o último bairro ao leste da cidade nos anos 1980. Na 
zona Oeste as ocupações espontâneas deram origem aos bairros Compensa, Vila da Prata, 
Lírio do Vale, Santo Agostinho e Tarumã. 
Quanto a ocupação, conclui-se que a cidade de Manaus caracteriza-se por um 
processo de exclusão sócio espacial de periferização ora orientada — os conjuntos 
habitacionais — ora espontânea — as ocupações desordenadas e não planejada do tecido 
urbano (OLIVEIRA e COSTA, 2007). Esse processo desencadeou um crescimento vertiginoso 
de bairros nas zonas Norte e Leste da cidade entre 1991 e 2000 (FUNDAÇÃO JOÃO 
PINHEIRO, 2006). 
Enquanto tentativa de qualificar e quantificar aspectos de habitação, o conceito de 
déficit habitacional básico, segundo a Fundação João Pinheiro (2007), corresponde ao 
somatório das habitações que registraram ou foram caracterizados no último censo 
demográfico como coabitação familiar, domicílios improvisados e domicílios rústicos. Assim, o 
déficit habitacional básico do Manaus é estimado em 68.108 unidades habitacionais, 
correspondente a 40% do déficit do estado do Amazonas5. O valor proporcional em relação ao 
total de domicílios permanentes, somente é inferior ao registrado na Região Norte, no 
Amazonas, no Pará e em Belém. Contudo é superior a média brasileira. O componente que 
mais pesa negativamente para esse indicador é o de coabitação familiar, representando 87,9% 
do total do déficit. As unidades habitacionais coabitadas por outras famílias são uma categoria 
constituída por duas variáveis: famílias conviventes e número de cômodos cedidos ou 
alugados. No caso, o peso maior para Manaus é da variável famílias conviventes: 63% 
(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2005). 
Tomando a questão da urbanização pelo seu processo de modernização, temos a 
considerar a relevância do crescimento da frota de veículos enquantofontes emissoras de 
poluentes atmosféricos, os quais provavelmente somam suas emissões com as de usinas 
termoelétricas em operação e queimadas realizadas em áreas periféricas à Manaus. Assim, 
destacamos a possibilidade de que esteja ocorrendo um aumento da exposição a poluentes 
atmosféricos dentre a população de Manaus. 
Todavia, uma vez que não há uma rede de monitoramento de qualidade do ar nesta 
capital, nos é permitido apenas reproduzir algumas informações obtidas no GEO-Manaus 
(2002), que aponta as emissões veiculares e de termoelétricas como os grandes responsáveis 
pela poluição local. Com referência a existência de duas usinas termoelétricas que utilizam 
óleo combustível e diesel, estas situam-se nos bairros de Aparecida (área central) e Mauazinho 
(área do distrito industrial). Ambas sofreram denúncias por parte da população de seu entorno 
em 1994 quanto a poluição, sobretudo por material particulado, sendo alvo de termo de 
compromisso e posterior monitoramento, e atingindo padrões adequados de emissão, segundo 
o documento. 
 
5 Os municípios amazonenses Coari, Humaitá, Itacoatiara, Manacapuru, Manaus, 
Maués, Parintins, Tabatinga e Tefé 
 30 
Uma pesquisa realizada em 2001 (KUHN e col. 2010) por meio de sobrevoo e 
amostragem de ar atmosférico em uma extensão de 100 Km a partir de Manaus e na direção 
de seus ventos predominantes apontou a influência da cidade e de suas duas termoelétricas 
em uma pluma de dispersão de alguns poluentes atmosféricos. De fato, a inexistência de 
monitoramento de qualidade do ar parece ser um elemento de grande peso enquanto 
impedimento de uma análise mais ampla sobre condições ambientais e de saúde. Por outro 
lado, alguns avanços recentes na transição da matriz energética da cidade de Manaus 
precisam ainda ser devidamente avaliados enquanto suas contribuições positivas, como no 
caso da substituição de produção de energia a partir de óleo combustível para a produção a 
partir de gás natural, em operação em algumas plantas já em funcionamento. De qualquer 
maneira, a poluição atmosférica vem sendo sistematicamente apontada por sua importância 
sistêmica, principalmente em ambientes urbanos, por propiciar sinergia com demais fatores de 
exposição, potencializando riscos de ocorrência de doenças respiratórios ou cardiovasculares, 
por exemplo (KJELLSTROM e col., 2007). 
Salientamos ser um grande desafio descrever condições e tendências em termos das 
situações ambientais e exposições a que se submete a população de Manaus, de um lado 
temos que lidar com a pouca tradição na produção de indicadores ambientais, de outro lado, 
temos que pesquisar as mais distintas fontes e documentos no que diz respeito da descrição 
destes aspectos para uma cidade, que em nível municipal segue uma lógica de produção de 
informações dentro de suas próprias peculiaridades, sobretudo para temas relativamente 
novos. 
 
3.3 Efeitos 
Nesta seção do estudo trataremos majoritariamente da evolução recente de agravos à 
saúde que possuam em sua cadeia causal grande relevância de fatores ambientais (PRÜSS-
ÜSTÜN, CORVALÁN, 2006), com dados captados principalmente no site do DATASUS, do 
Ministério da Saúde. Consideramos como um importante subsídio à análise realizar algumas 
considerações preliminares sobre a estrutura etária da população de Manaus, buscando a 
partir daí, bases para discussões quanto a situação desta população em um processo de 
transição demográfica e epidemiológica (OMRAN, 1971; OLSHANSKY e col., 1986), 
avançando para a argumentação da situação de transição dos riscos ambientais quanto aos 
efeitos a saúde dos habitantes de Manaus, mediante as mudanças que vem ocorrendo em 
termos do desenvolvimento humano e econômico que se procede (SMITH & EZATTI, 2005). 
Uma medida relevante para análise da transição demográfica (envelhecimento da 
população) brasileira é o índice de envelhecimento, representado pelo número de pessoas com 
60 ou mais anos de idade para cada 100 habitantes com menos de 15 anos (RIPSA, 2008). 
Entre 1991 e 2008 este índice evoluiu no país de 21,0 para 37,9. Em Manaus no mesmo 
período a evolução do índice de envelhecimento foi de 10,8 para 17,4 (DATASUS, 2011). 
 31 
Alguns outros indicadores nesse sentido são de taxa de fecundidade e de expectativa 
de vida ao nascer, não estando à disposição desagregação dos mesmos para Manaus, 
comparamos entre nível estadual e nacional. Para o Brasil, a taxa de fecundidade total entre 
1991 e 2007 caiu de 2,73 para 1,90 (queda de 0,83), no estado do Amazonas no mesmo 
período foi de 4,07 para 2,36 filhos por mulher (queda de 1,71) (DATASUS, 2011). A 
expectativa de vida ao nascer em 2008 foi de 73 anos para o Brasil, enquanto para o 
Amazonas 71,8. 
A redução da mortalidade infantil em Manaus (Gráfico 5) já assinala um desempenho 
melhor que o nacional, também demonstrando a tendência de atendimento deste Objetivo de 
Desenvolvimento do Milênio, cuja meta para Manaus em 2015 é de 16,2 óbitos de crianças 
menores de cinco anos para cada mil nascidos vivos (PNUD, 2011). 
De um modo geral, temos ainda na capital do Amazonas uma população bastante 
jovem, mas que assim experimenta um processo tardio de envelhecimento, sobretudo em se 
comparando com a realidade do país (Figura 8). A comparação das pirâmides de Manaus 
dentre dados dos censos de 2000 e 2010 mostra um inicio de estreitamento na base em 2010, 
a faixa etária dos 14 anos sendo agora a mais numerosa, todavia outras faixas etárias jovens 
também se destacam por sua grandeza em Manaus, o que permite inferir haver uma grande e 
constante migração de jovens para esta capital. 
 
Gráfico 5 - Evolução da taxa de mortalidade infantil em menores de 5 anos para cada 
mil nascidos vivos em Manaus, entre 1995 e 2009. 
Fonte: PNUD, 2011 – dados do DATASUS. 
 
 
 
 
 32 
Figura 8 - Pirâmides etárias de Manaus, 2000 e 2010 e do Brasil, 2010. 
 Manaus 
 
 
 
 
 
 Brasil 
 
 
 
Fonte: IBGE, censo 2000 e 2010. 
 
Para Olshansky & Ault (1986) juntamente com a transição demográfica, é decorrente 
também a substituição dos índices de morbi/mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias 
para doenças crônico-degenerativas no perfil epidemiológico das populações. Em síntese, 
acreditava-se que este processo decorre do desenvolvimento econômico por meio da oferta 
melhores condições sanitárias, do desenvolvimento e acesso a tecnologias médicas e de 
estilos de vida saudáveis adotados pela população. 
Essas transições vêm se reproduzindo em todos os países, mas com certas 
singularidades, sobretudo nos países em desenvolvimento. No Brasil, por exemplo, temos a 
persistência na importância de algumas doenças infecciosas associadas à pobreza e a 
precárias condições sanitárias (FRENK e col. 1989; SCHRAMM e col., 2004), temos 
simultaneamente o crescimento das doenças associadas ao processo de urbanização e 
industrialização, bem como expansão das fronteiras agrícolas, cujos produtos e subprodutos 
tóxicos e poluentes resultam em múltiplas consequências à saúde das comunidades e dos 
trabalhadores (BARRETO e CARMO, 2007). 
 33 
No sentido da elevada importância dos riscos ambientais às sociedades humanas, um 
estudo realizado por Smith e Ezzati (2005), com base em no banco de dados da OMS – 
Organização Mundial da Saúde – sobre Carga Global de Doenças, aborda criticamente a 
clássica descrição de transição epidemiológica. Sobre dados de distintos países, em se 
aplicando a carga total de riscos per capita, corrigidos proporcionalmente pela distribuição 
etária das populações, estes pesquisadores demonstram que morbi/mortalidade decaem 
proporcionalmente para doenças infecciosas ou crônicas ao passo em que os países se 
desenvolvem. Assim, essa leitura aponta um equívoco quanto a maior importância das 
doenças crônicas dentre os desenvolvidos, pois tais países,

Continue navegando