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Câncer Atualmente, câncer é o nome dado a um conjunto de maus de 100 doenças, que tem em comum o crescimento desordenado de células, que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos. PREVENÇÃO DO CÂNCER O aparecimento do câncer é multifatorial e inclui tanto fatores genéticos e de composição corporal quanto ambientais, chamados agentes cancerígenos. Dentre os fatores ambientais, a alimentação saudável e atividade física poderiam aumentar a prevenção para um quarto dos casos. Os fatores de risco podem ser divididos entre modificáveis e não modificáveis. Recomendações gerais sobre alimentação e câncer Gordura Corporal Manter o peso corporal entre os limites normais de IMC Evitar ganho de peso e aumento da circunferência da cintura Atividade Física Manter-se fisicamente ativo como parte da rotina diária Fazer no mínimo 30 minutos de atividade física moderada Limitar hábitos sedentários Alimentos e bebidas açucaradas Consumir raramente alimentos com altas densidades calóricas Evitar bebidas açucaradas e alimentos tipo fast-food Alimentos de origem vegetal Consumir, pelo menos, cinco porções (400g) de verduras e frutas variadas todos os dias Consumir cereais pouco processados e/ou leguminosas em todas as refeições Limitar alimentos processados Alimentos de origem animal Consumir menos de 500g de carne vermelha por semana, incluindo pouca ou nenhuma quantidade de carne processada Bebidas alcoólicas Evitar, mas se forem consumidas, o consumo deve ser limitado a dois drinques por dia para homens e a um drinque (10 a 15g de etanol) por dia para as mulheres Preservação, processamento e preparo Evitar alimentos salgados ou preservados em sal Limitar a ingestão de sal em menos de 6g (2,4g de sódio) por dia Não consumir cereais e grãos mofados Suplementos alimentares As necessidades nutricionais devem ser alcançadas pela alimentação Suplementos alimentares não são recomendados para a prevenção do câncer Amamentação Amamentar exclusivamente as crianças até os 6 meses Sobreviventes de câncer Seguir recomendações de prevenção de câncer Devem receber assistência nutricional de um profissional apropriadamente treinado DESENVOLVIMENTO DE CÂNCER O termo câncer ou tumor pode ser definido como crescimento descontrolado, disseminado e invasivo de células anormais, resultantes de alterações genéticas hereditárias ou adquiridas. A história natural da maioria dos tumores malignos pode ser dividida em quatro fases: 1. Alteração maligna na célula-alvo, chamada transformação 2. Crescimento descontrolado das células transformadas 3. Invasão local 4. Metástases a distância O organismo é capaz de identificar a presença dessas células transformadas a partir do reconhecimento de antígenos tumorais pelo sistema imune. O principal mecanismo de imunidade tumoral é a eliminação das células transformadas pelas células citotóxicas: linfócitos CD8, células natural killer (NK) e macrófagos. Contudo as célias transformadas são capazes de desenvolver mecanismos para escapar ou iludir o sistema imune do hospedeiro, como crescimento coletivo como crescimento seletivo de variantes antígeno-negativas, perda ou expressão reduzida das moléculas de MHC (major histocompatibility complex), produção de substâncias ou citocinas imunossupressoras e apoptose das células citotóxicas. A alterações celulares podem ocorrer em genes especiais, denominados proto-oncogeneses, que, a princípio, são inativos em células normais. Quando ativados, tranforman-se em oncogenes, responsáveis pela malignização (transformação) em células normais. Essas células diferentes são denominadas transformadas ou cancerosas. Geralmente o processo de carcinogênese é dividido em três estágios: Estagio de iniciação, no qual os genes sofrem ação dos agentes cancerígenos Estagio de promoção, no qual os agentes oncopromotores atuam na célula já alterada Estagio de progressão, caracterizado pela multiplicação descontrolada e irreversível da célula As células transformadas diferem no aspecto morfológico das células normais, com algum grau de anaplasia. Além disso, as células transformadas possuem uma taxa de crescimento acelerada, com rápida multiplicação celular e evasão da apoptose, que pode não ser constante ao longo do tempo. O crescimento dos tumores é acompanhado por infiltração, invasão, angiogênese e destruição progressiva do tecido adjacente. Juntamente com o desenvolvimento de metástases, a invasidade é a característica mais segura que distingue os tumores malignos dos benignos. As principais diferenças são: Os tumores malignos podem crescer rapidamente e causar uma série de consequências danosas ao hospedeiro, como destruição de estruturas adjacentes por pressão, síntese de hormônios, fatores de crescimento e citocinas, alterações metabólicas, sangramento e infecções secundárias e início de sintomas agudos, como obstrução do trato gastrintestinal (TGI), que pode levar à perda de peso e desnutrição. Em relação a nomenclatura, a designação dos tumores baseia-se no seu tecido de origem e histopatologia, isto é, se possuem características de tumores benignos ou malignos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico precoce e o estadiamento dos tumores são importantes para o prognóstico e o tratamento. A confirmação do diagnóstico é geralmente baseada nos sinais e sintomas, exames de imagem do órgão-alvo métodos histopatológicos, citológicos e/ou moleculares de uma biópsia ou fragmento do tumor. O câncer não invasivo ou carcinoma in situ (Tis) é o primeiro estágio em que o câncer pode ser classificado. Nesse estágio as células cancerosas estão somente na camada de tecido na qual se desenvolveram e ainda não se espalharam para outras camadas do órgão de origem, isto é, antes de progredirem para a fase de câncer invasivo. O estadiamento dos tumores malignos baseia-se no tamanho da lesão primária (T), na sua extensão de disseminação para os linfonodos regionais (N) e na presença ou na ausência de metástase (M). A classificação de tumores malignos pelo sistema TNM existe para aqueles tipos histológicos mais comuns, como os carcinomas. Alem disso, existe o Estadiamento Geral dos Tumores (estagio de descrição), qua varia de 0 a IV (0, IA, IB, IIA, IIB, IIIA, IIIB, IIIC, IV) e tem características diferentes para cada localização e tamanho do tumor, sendo em geral: 0 – carcinoma in situ (TisN0M0) I – invasão local inicial II – tumor primário limitado ou invasão linfática regional mínima III – tumor local extenso ou invasão linfática regional extensa IV – tumor localmente avançado ou presença de metástases Outro aspecto importante durante o diagnóstico do câncer é a determinação da capacidade funcional do paciente ou performance status (PS). O OS é uma medida relacionada a tentativa de quantificar o bem-estar geral e sobrevida. TRATAMENTO O tratamento do câncer pode ser dividido em quatro tipos principais, que podem ser realizados separadamente ou combinados, que são a cirurgia, a quimioterapia (QT), a radioterapia (TXT) e o transplante de células-troco hematopoiéticas (TCTH). Cirurgia: é a terapia definitiva quando o tumor está em estágio inicial e localizado em condições anatômicas favoráveis. O ato cirúrgico promove estímulos indutores de alterações homeostáticas, que incluem hemorragia e hipovolemia, fatores locais e lesões, choque e alterações do pH sanguíneo. Quimioterapia: é um tratamento sistêmico e consiste na combinação de fármacos (quimioterápicos), que é quase sempre mais efetiva do que o uso sequencial de agentes isolados. A QT pode causar uma série de efeitos colaterais, como anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, mucosite, edema, hiperglicemia, alteração da função hepática e renal. Radioterapia: é útil para tumores que não podem ser ressecados, sem morbidade grave ou que tendem a disseminar para locais previsíveis, podendo a radiaçãoser ampliada além da extensão conhecida. É um método capaz de destruir células tumorais empregando feixes de radiações ionizantes, que podem ser eletromagnéticas ou corpusculares. As regiões da cabeça, do pescoço e do TGI possuem diferentes tecidos que respondem de forma diferente a radiação, causando sintomas agudos como: mucosite, enterites, disgeusia, xerostomia e descamação da pele. Além disso podem surgir sintomas tardios como: ulceração da mucosa, lesões vasculares, atrofia de tecidos moles, perda ou mudança no paladar, fibrose, edema, necrose de tecidos moles, perda de dente, diminuição do fluxo de saliva, diarreia. Todos esses sintomas podem comprometer a ingestão e a absorção de alimentos durante e após o tratamento, causando impacto importante no estado nutricional e muitas vezes, necessitando de suporte nutricional via sonda nasoentérica ou gastrostomia. Transplante de células-tronco hematopoiéticas: é um procedimento terapêutico que consiste em altas doses de QT e/ou RXT corporal total, conhecido como período de condicionamento, seguido por infusão endovenosa de células- tronco hematopoiéticas com a finalidade de restabelecer a hematopoese após aplasia medular. É uma forma de tratamento eficaz contra diversos tipos de doenças hematológicas malignas ou não, para alguns tipos de tumores sólidos e outras condições patológicas, como desordens autoimunes. Existem três modalidades de transplante: o autólogo, que utiliza CTH do próprio paciente; alogênico, no qual há infusão de CTH de um doador aparentado ou não, e o singênico, que consiste na transferência de CTH entre irmão gêmeos homozigotos. Quando o paciente possui doença avançada, metastica ou recidiva, sem tratamento curativo eficaz, é indicado o tratamento ou cuidados paliativos. Segundo a OMS, os cuidados paliativos consistem na abordagem para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares e no enfrentamento de doenças que oferecem risco a vida, pela prevenção e pelo alivio do sofrimento. Isso significa a identificação precoce e o tratamento da dor e de outros sintomas de ordem física, psicossocial e espiritual. Consideram-se pacientes com câncer avançado aqueles com expectativa de vida maior que 6 meses e com câncer em estágio terminal aqueles com expectativa de vida menor que 6 meses. Já paciente ao fim de vida, a expectativa de vida é considerada em até 72h. ALTERAÇÕES METABÓLICAS O desenvolvimento e o crescimento do tumor produzem uma série de alterações no metabolismo energético e no metabolismo de macronutrientes, compatíveis com o estresse metabólico causado pelo câncer. No início do desenvolvimento do tumor, a maior parte dos pacientes não apresenta nenhum sintoma ou alteração, porém dependendo da localização e da taxa de crescimento, a presença do timor pode causar anorexia e aumentar o gasto energético do organismo, em virtude do aumento da utilização de nutrientes essenciais para seu crescimento e a produção de substâncias químicas, chamadas citocinas. A produção de citocinas é desencadeada quando as células são ativadas por diferentes estímulos, como o câncer, e estão associadas diretamente com as alterações metabólicas durante seu desenvolvimento. As principais citocinas produzidas pelo tumor são: o fator mobilizador de lipídios (LMF), o fator mobilizador de proteínas (PMF) e o fator indutor de proteólise (PIF). Já o hospedeiro produz várias citocinas, e as mais estudadas no câncer são: as interleucinas 1 e 6 (IL-1 e IL6), o fator de necrose corporal alfa (TNF), o interferon-gama (IFN) e o fator transformante de crescimento beta (TGF). As citocinas IL-1 e TNF têm sido relacionadas ao desenvolvimento da anorexia no câncer, provavelmente pelo aumento do hormônio liberador de corticotropina (CRH), um neurotransmissor do sistema nervoso central que suprime a ingestão alimentar. A IL-1 também bloqueia o neuropeptídeo orexígeno Y (NPY), reduzindo também a ingestão alimentar. Tanto a IL- 1 quanto o TNF foram associados com a perda de massa muscular. A IL-6 é outra citocina pró-inflamatória que promove formação de vários tumores e aumento de proteínas de fase aguda, como a proteína C reativa (PCR), relacionada com ativação de estado inflamatório. Provavelmente, as citocinas têm um efeito sinérgico no desenvolvimento da anorexia, no aumento da taxa metabólica basal e na perda de massa muscular. O TNF pode induzir a perda de peso por inúmeros mecanismos, como: supressão do apetite, inibição da atividade da lipoproteína lípase, efeitos catabólico nos depósitos de energia e proteólise. A célula tumoral utiliza glicose como nutriente essencial, aumentando a produção endógena e o turnover de glicose, o que é chamado efeito Warburg. A célula tumoral aumenta a captação de glicose e tem preferência na utilização do metabolismo anaeróbico, com formação de lactato, que gasta mais energia para produzir uma quantidade muito menor de ATP, quando comparado com o metabolismo aeróbico (Ciclo de Krebs). Para manter sua produção de energia e crescimento tumoral, ocorre um estimulo para o aumento da disponibilidade de glicose através do mecanismo de gliconeogênese, produção hepática de glicose a partir de substratos como o lactato e proteína. Assim ocorre a ativação de mecanismos como o ciclo de Cori, produção de lactato muscular, proteólise, degradação de proteína muscular, resistência periférica a insulina e hiperglicemia, com o objetivo de disponibilizar mais glicose para o tumor. A proteólise e a degradação da proteína muscular causam depleção da massa muscular corporal, ocasionando perda de peso e sarcopenia. A presença de citocinas, como o PIF, e consequentemente a ativação de um estado inflamatório diminuem a síntese de proteínas musculares e circulantes, como albumina, pré-albumina e transferrina, e aumentam a síntese de proteínas de fase aguda, como a PCR, que tem seu nível sérico aumentado em pacientes com doença avançada e metástica. A ativação do metabolismo energético, a intensa utilização de glicose pelo tumor e a presença de LMF também interferem no metabolismo de lipídios, causando lipólise, ativação da lipase hormônio sensível, degradação de reservas de gordura, com liberação de ácidos graxos livres. Ocorre frequentemente diminuição da lipogênese e diminuição da lipase lipoproteica com aparecimento de dislipidemias. DESNUTRIÇÃO E CAQUEXIA A desnutrição é indicio frequente da presença de tumor maligno, e quando o processo de desnutrição está associado a anorexia, produção de citocinas, aumento do gasto energético, ativação de estado inflamatório, hipoalbuminemia e perda grave se peso, é chamada de caquexia do câncer ou síndrome anorexia-caquexia. A caquexia pode ser definida como uma síndrome multifatorial caracterizada pela perda de massa muscular (com ou sem perda de tecido adiposo), que não pode ser revertida com suporte nutricional convencional e acarreta progressiva disfunção orgânica. A fisiopatologia é caracterizada por balanço nitrogenado e proteico negativo, associado a redução da ingestão alimentar (anorexia) e alterações metabólicas (hipermetabolismo). A caquexia pode ser dividida em três estágios: 1. Pré-caquexia: aparecem sinais clínicos e metabólicos precoces, como anorexia e intolerância à glicose, que podem preceder a perda de peso involuntária menor que 5%. O risco de progressão depende de fatores como tipo e estagio do câncer, presença de inflamação sistêmica, baixa ingestão alimentar e ausência da resposta a terapia anticâncer. 2. Caquexia: quando tem perda de peso maior que 5% em 6 meses ou IMC menor que 20kg/m2 ou sarcopenia com perda de peso maior que 2%. 3. Caquexia refratária: ocorre como resultado de um câncer muito avançado (pré-terminal) ou a presença de câncer que progrediu rapidamente e que não responde a terapia anticâncer. Esta fase está associada com catabolismo ativo e presença de fatores que tornam difícil a manutenção do peso corporal. A caquexiarefratária é caracterizada também pela expectativa de vida inferior a três meses. Nestes casos, as intervenções terapêuticas A avaliação deve ser feita em até 48h. são focadas na atenuação das consequências e complicações da caquexia, por meio do aumento de estímulo do apetite, controle das náuseas e para amenizar os sofrimentos dos pacientes e familiares. Sarcopenia: é a diminuição da massa muscular, sendo menor que o percentil 5 para cada sexo, podendo ser quantificada por antropometria (área muscular do braço <32cm2 para homens e <18cm2 para mulheres), absormetria de raio-x de dupla energia (DEXA) (índice de musculatura esquelética apendicular <7,26kg/m2 para homens e <5,45kg/m2 para mulheres), tomografia computadorizada (TC) (índice de massa muscular lombar <55cm2/m2 para homens e <39cm2/m2 para mulheres) e por bioimpedância elétrica (BIA) (massa livre de gordura <14,6 kg/m2 para homens e <11,4 kg/m2 para homens). AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A assistência nutricional do paciente oncológico deve ser individualizada e incluir a triagem, a avaliação, o cálculo das necessidades e a terapia nutricional até o seguimento ambulatorial. Dentre as ferramentas utilizadas para a triagem do risco nutricional de pacientes com câncer, destacam-se ASG e ASG- PPP. Seu propósito é identificar indivíduos em risco de desnutrição ou que já estejam desnutridos, e que sejam candidatos a terapia nutricional. A ASG-PPP avalia o estado nutricional baseado na história de variação de peso e de ingestão de alimentos, sintomas gastrintestinais que persistem por 2 semanas, e capacidade funcional atual; exame físico avaliando reserva subcutânea de gordura, muscular e presença de má distribuição de líquidos na forma de edemas e ascite. O instrumento pontua também a presença de condições catabólicas impostas por doenças crônicas, febre, uso de corticosteroide e idade superior a 70 anos. Os resultados da avaliação classificam o indivíduo entre: Bem nutrido (A) Moderadamente desnutrido ou com risco nutricional (B) Gravemente desnutrido (C) Escore maior que 9 indica necessidade crítica de controle de sintomas e intervenção nutricional Outro parâmetro a ser valorizado é a perda de peso involuntária e recente. A perda de peso maior que 5% em 6 meses é considerada um dos indicadores iniciais de caquexia, mesmo quando o paciente ainda não apresenta depleção evidente de massa corporal. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS A depleção do estado nutricional está associada com pior qualidade de vida, mais reações adversas relacionadas ao tratamento e menor resposta ao tratamento. Sendo assim, os objetivos terapêuticos para os pacientes com câncer visam prevenir e tratar a desnutrição e evitar suas consequências. O gasto energético de repouso (GER) de pacientes com câncer é, em média, semelhante aos indivíduos saudáveis, podendo variar de acordo com a localização do tumor. Pacientes com câncer pancreático e pulmonar, observa-se maior GER, assim como câncer gástrico em estado avançado, com obstrução do TGI e aumento de PCR. A necessidade de energia e proteína de pacientes com câncer é influenciada não só pela localização do tumor, mas também pelo estagio da doença, estado nutricional prévio, complicações presentes e formas de tratamento, como cirurgias, QT, RXT e TCTH. A resposta orgânica a doença crítica é classicamente dividida em duas fases: a fase de refluxo, caracterizada pela síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS); e a de fluxoadaptação, caracterizada pela síndrome da antirresposta compensatória (CARS). A primeira ocorre imediatamente pós-lesão e está associada a instabilidade hemodinâmica, com debito cardíaco e consumo de oxigênio diminuídos, baixa temperatura central e aumento nas concentrações de hormônios contrarreguladores, como catecolaminas, glucagon, cortisol e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Já a fase de fluxoadaptação é caracterizada por um aumento no consumo de oxigênio, na taxa metabólica e no fluxo de aminoácidos das reservas periféricas dos músculos. As concentrações dos hormônios contrarreguladores permanecem elevadas, o metabolismo da glicose é alterado, e a produção de lactato, perdas de nitrogênio urinário e catabolismo das proteínas teciduais aumentam. De acordo com a ASPEN, a calorimetria indireta (CI) é o método recomendado para determinar as necessidades calóricas de pacientes oncológicos críticos. Entretanto, se a CI não estiver disponivel ou não for viável para o cálculo das necessidades calóricas, as equações preditivas, como a de Harris e Benedict, Scholfield e calorimetria por quilograma de peso atual, devem ser utilizadas. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA PACIENTES SUBMETIDOS A TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICA Os diferentes tipos de TCTH, regime de condicionamento (QT/RXT) e a terapia medicamentosa para evitar rejeição podem levar a consequências deletérias na anatomia e na integridade funcional do TGI. O crescimento e reparo da mucosa tornam- se comprometidos resultando na má absorção e perdas de nutrientes pelo intestino. Além dessas complicações, atuarão de forma adversa sobre o estado nutricional sintomas como náuseas, vômitos, disgeusia, mucosite, anorexia, odinofagia, gastroparesia, doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH – que é um evento mediado por células imunocompetentes provenientes do doador, particularmente os linfócitos T e que pode acometer diferentes órgãos como pele, intestino, fígado, entre outros) e a doença veno-oclusiva hepática (VOD), que se caracteriza por oclusão de pequenas veias hepáticas induzida pela QT. Necessidades Energia 30-50kcal/kg/dia Carboidrato 50-60% (max 5g/kg/dia) Proteína 1 a 2g/kg/dia Hidratação 30-35ml/kg/dia VIA DE ADMINISTRAÇÃO A via principal deve ser a oral, porém, quando esta não for possível, indica-se o uso de sonda. Desta forma, recomenda- se o início da nutrição enteral se a desnutrição já existe ou se for possível prever que o paciente será incapaz de comer por mais de 7 dias ou se a ingestão de nutrientes for marcadamente reduzida (menos de 60% do gasto energético estimado) por mais de 7 a 10 dias. Já pacientes com risco nutricional moderado a grave beneficiam-se de suporte nutricional por 7 a 14 dias antes da cirurgia, devendo-se pesar se os benefícios são maiores que os potenciais de risco da própria terapia nutricional e de se adiar a cirurgia. A nutrição enteral será indicada quando houver obstrução que impeça a deglutição, como nos cânceres de cabeça e pescoço e esofagiano ou quando se espera a ocorrência de mucosite grave, como na RXT. Em paciente em cuidado paliativo, a nutrição enteral é utilizada para minimizar a perda de peso e conservar a melhor qualidade de vida possível, desde que haja o consentimento do paciente e da família considerando-se os potenciais riscos e benefícios, e a sobrevida estimada. Existem poucos dados sobre o uso da nutrição parenteral nesses casos, podendo ser favorável naqueles com bom PS, com obstrução intestinal e com progressão indolente da doença. Quando o fim da vida estiver próximo, somente quantidades mínimas de comida e pouca agua são requeridas para reduzir a sede e a fome. ANTIOXIDANTE E DIETA IMUNOMODULADORA Os antioxidantes podem ser definidos como qualquer substância que, mesmo em baixas concentrações, são capazes de atrasar ou inibira oxidação, diminuindo a concentração de radicais livres (RL) no organismo, e agem também quelando os íons metálicos, prevenindo a peroxidação lipídica. Uma característica importante desses nutrientes é que eles atuam nas três linhas de defesa orgânica contra os RL: 1. Prevenção: se caracteriza pela proteção contra a formação de substâncias agressoras 2. Interceptação do RL 3. Reparo: ocorre quando a prevenção e a interceptação não foram completamente efetivas e os produtos da destruição dos RL estão sendo continuamente formados em baixasquantidades, podendo se acumular no organismo. Os antioxidantes estão presentes naturalmente em uma dieta rica em frutas, vegetais e hortaliças e os mais estudados são os carotenoides, as vitaminas C e E, o selênio e os flavonoides. ORIENTAÇÕES DE MODIFICAÇÕES NA DIETA Falta de apetite: Aumentar o fracionamento das refeições, com intervalos de 3 em 3 horas; Preparar pratos coloridos e variados; Modificar a consistência para a que for mais bem tolerada; Sugerir alterações para enriquecer as preparações como: adição de azeite, óleo vegetal, creme de leite ou manteiga em purês e mingaus; uso de farinhas instantâneas, aveia, amido de milho ou leite batido com frutas etc. Disfagia e/ou odinofagia: Os alimentos devem ser preparados em uma consistência que seja melhor tolerada e ofereça menos dificuldade para mastigar ou engolir; Orientar ingestão de pequenos goles de água ou suco durante as refeições para ajudar a engolir; Reduzir o volume e aumentar o fracionamento das refeições. Mucosite Restringir alimentos ácidos, picantes, muito condimentados ou salgados; Modificar a consistência para a que for mais bem tolerada; Evitar alimentos quentes. Xerostomia Evitar alimentos secos; As preparações devem conter caldos ou molhos; Se não houver contraindicação, o uso de chicletes (de preferência de menta), gelo e picolés podem ajudar a produzir saliva. Náuseas e vômitos Restringir frituras e alimentos gordurosos; Evitar líquidos durante as refeições; Reduzir o volume e aumentar o fracionamento; Orientar para que a mastigação e a ingestão sejam lentas; Se não houver contraindicação, o consumo de sucos, picolés de frutas cítricas e o hábito de chupar gelo ajudam a diminuir as náuseas. Diarreia Aumentar a ingestão hídrica Orientar o consumo de alimentos com ação constipante ou pobre em resíduos, como banana, maça sem casca e sementes, limão, arroz, caju, batatas, chuchu, cenoura cozida, aipim, inhame, creme de arroz, macarrão com molho simples, farinhas, torradas, biscoito água e sal ou de amido de milho, pera sem casca, carnes magras e grelhadas e leite de soja; Evitar frituras, alimentos gordurosos e açucarados, além de leite e seus derivados; Restringir alimentos com ação laxativa. Constipação Intestinal Aumentar a ingestão hídrica; Orientar o consumo de alimentos ricos em fibras ou com ação laxativa, como pão, biscoito e cereais integrais, frutas frescas tipo mamão, laranja com bagaço, ameixa, tangerina, caqui, uva com casca, verduras, abóbora, quiabo, çentilha, feijão, farelo de trigo ou aveia; Restringir os alimentos com ação constipante.
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