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A DESOBEDIÊNCIA CIVIL NA OCUPAÇÃO DA UFSM DE 2011: RESGATE TEÓRICO E ANÁLISE DE CASO

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Prévia do material em texto

1 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
JOÃO PEDRO BARRETTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A DESOBEDIÊNCIA CIVIL NA OCUPAÇÃO DA UFSM DE 2011: 
RESGATE TEÓRICO E ANÁLISE DE CASO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2020 
 2 
JOÃO PEDRO BARRETTO 
 
 
 
 
 
 
A DESOBEDIÊNCIA CIVIL NA OCUPAÇÃO DA UFSM DE 2011: RESGATE 
TEÓRICO E ANÁLISE DE CASO 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Direito da 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito obrigatório 
à obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Jane Reis Gonçalves Pereira 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2020 
 3 
 
 4 
JOÃO PEDRO BARRETTO 
 
 
 
A Desobediência Civil na Ocupação da UFSM de 2011: Resgate Teórico e análise de 
Caso 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Direito da 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro como requisito obrigatório 
à obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
 
 
Aprovado em de Dezembro de 2020. 
 
Banca Examinadora: 
 
 
_____________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Jane Reis Gonçalves Pereira (Orientadora) 
Faculdade de Direito – UERJ 
 
 
____________________________________________ 
Prof.º Dr.º Wallace Corbo 
Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) 
 
 
____________________________________________ 
Renan Medeiros de Oliveira 
Mestre em Direito Público pela UERJ 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2020 
 5 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a José Salles Pimenta e a 
seu irmão, Gabriel Pimenta, verdadeiros 
exemplos de luta pela construção de uma nova 
sociedade. 
 6 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de agradecer a minha família, especialmente a meus pais, Patrícia e gustavo, 
e a meus avós, Lúcia e Hényo, por terem me proporcionado tudo que eu tenho e terem me 
dado o privilégio de estudar. Gostaria de agradecer a meus amigos, especialmente Mariana 
Almeida pela paciência de ler estas muitas folhas no decorrer desta última semana de 
novembro e me ajudar a melhora-lás e ouvir meus desabafos. Agradeço também aos 
professores da UERJ que me indicaram textos e me deram apoio, em especial a Jane Reis que 
tenho a alegria e a honra de chamar de orientadora e ao meu primeiro professor de direito 
constitucional e co-orientador Wallace Corbo, por toda a direção e suporte que me deram. 
Agradeço também a José Salles Pimenta, que tive o prazer de ouvir e conhecer. O homem que 
não era advogado, mas litigava todos os dias de sua vida em prol do povo e de seus direitos 
mais básicos, que não raro são desrespeitados por aquilo que chamamos de Estado. O homem 
que, assim como seu irmão, foi verdadeiro exemplo de luta pela construção de uma nova 
sociedade. O homem que serviu ao povo de todo o coração e que se dedicou a fazer da 
liberdade algo mais do que uma palavra. O homem que infelizmente deixou este mundo, mas 
que sempre será lembrado por aquilo que defendia e que me ensinou que viver por um ideal, é 
viver para sempre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Há homens que lutam um dia e são bons, há 
outros que lutam um ano e são melhores, há os 
que lutam muitos dias e são muito bons, porém, 
há os que lutam toda a vida. Esses são os 
imprescindíveis” 
(Bertold Brecht) 
 8 
RESUMO 
 
BARRETTO, João Pedro. A Desobediência Civil na Ocupação Da UFSM de 2011: 
Resgate Teórico e Análise de Caso Rio de Janeiro, 2020. Dissertação (Graduação em 
Direito) – Centro De Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio deJaneiro, Rio de 
Janeiro, 2020. 
 
O objetivo deste estudo será focado em expor autores que escreveram sobre uma 
das variações do direito de resistência: a desobediência civil. Irá se falar de Henry Thoreau, 
Luther King, Gandhi e, mais recentemente, dos escritos de Hannah Arendt, Norberto 
Bobbio,Jonh Rawls e Nelson Nery para poder vislumbrar as discussões e controvérsias a 
respeito da desobediência civil. Posteriormente, o trabalho discutirá sobre sua construção 
conceitual e suas características principais. Por derradeiro, far-se-á um estudo de caso, 
analisando se o movimento de ocupação da reitoria da Universidade Federal de Santa Maria 
(UFSM) de 2011 pode ser considerado um movimento de desobediência civil à luz da 
doutrina de Nelson Nery Costa, ou se foi algo plenamente legal e justificável à luz da 
Constituição Federal da República Brasileira de 1988. 
 
Palavras-chave: Desobediência civil, direito de resistência, caracterísiticas principais, estudo 
de caso, Universidade Federal de Santa Maria, Ocupação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
ABSTRACT 
 
BARRETTO, João Pedro. Civil Disobedience in the Occupation of UFSM 2011: 
Theoretical Rescue and Case Analysis Rio de Janeiro, 2020. Dissertação (Graduação em 
Direito) – Centro De Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio deJaneiro, Rio de 
Janeiro, 2020. 
 
The objective of this study will be focused on exposing authors who wrote about 
one of the variations in the right of resistance: civil disobedience. Henry Thoreau, Luther 
King, Gandhi and, more recently, the works of Hannah Arendt, Norberto Bobbio, John Rawls 
and Nelson Nery will be analyzed in order to glimpse the discussions and controversies 
regarding civil disobedience. Subsequently, this study will discuss its conceptual construction 
and its main characteristics. Finally, a case study will be made, analyzing whether the 
occupation movement of the rectory of the Federal University of Santa Maria (UFSM) in 
2011 can be considered an act of civil disobedience in the light of the doctrine os Nelson Nery 
Costa, or if it was something fully legal and justified by the Federal Constitution of the 
Brazilian Republic of 1988. 
 
Key-words: Civil disobedience, right of resistance, main characteristics, case study, Federal 
University of Santa Maria, Occupation. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 10 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 
1 RESGATE TEORICO DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL ..................................................... 18 
1.1 OS PRIMEIROS GRANDES TEÓRICOS DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL .................... 18 
1.1.1 HENRY DAVID THOREAU: “DESOBEDIENCIA CIVIL” ...................................... 18 
1.1.2 GANDHI E A NÃO VIOLÊNCIA .............................................................................. 24 
1.1.3 MATIN LUTHER KING E O MOVIMENTO NEGRO .............................................. 25 
1.2 VISÕES DOUTRINÁRIAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE A DESOBEDIÊNCIA 
CIVIL .................................................................................................................................. 29 
1.2.1 HANNAH ARENDT E A ASSOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA ........................................ 29 
1.2.2 NORBERTO BOBBIO E AS TIPOLOGIAS DA RESISTÊNCIA ............................... 32 
1.2.3 JONH RAWLS E A DESOBEDIÊNCIA EM UMA SOCIEDADE QUASE JUSTA ... 36 
2) A DESOBEDIÊNCIA CIVIL: ESPÉCIE DE UM GÊNERO ? ......................................... 41 
2.1 A CONTRUÇÃO CONCEITUAL DA DESOBEDIENCIA CIVIL ................................ 41 
2.2 DESOBEDIÊNCIA CIVIL E SUAS CARACTERÍSTICAS “ESPECÍFICAS”. ............. 44 
2.2.1 ATO COLETIVO........................................................................................................ 44 
2.2.2 ATOS VOLUNTÁRIOS E CONSCIENTES ............................................................... 48 
2.2.3 ATO ILEGAL (EMBATE ENTRE A ILEGALIDADE LEGITIMADA E A 
PRETENSÃO DE JUSTIFICAÇÃO JURÍDICA DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL) ............... 48 
2.2.4 ATOS PÚBLICOS E ABERTOS ................................................................................54 
2.2.5 ATO POLÍTICO ......................................................................................................... 58 
2.2.6 ÚLTIMO RECURSO .................................................................................................. 60 
2.2.7 SUJEIÇÃO ÀS SANÇÕES ......................................................................................... 63 
2.2.8 NÃO VIOLÊNCIA ..................................................................................................... 67 
3) ANÁLISE DE CASO CONCRETO: A OCUPAÇÃO DA REITORIA DA UFSM EM 2011
 ............................................................................................................................................ 74 
 11 
3.1) CONTEXTUALIZAÇÃO EXTERNA .......................................................................... 74 
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO INTERNA ............................................................................ 78 
3.3 O MOVIMENTO DE OCUPAÇÃO DA UFSM EM 2011 ............................................. 79 
3.4) OCORREU UM ATO DE DESOBEDIÊNCIA CIVIL ? ............................................... 87 
3.4.1 MODIFICAÇÕES NORMATIVAS E ATO ILEGAL ................................................. 87 
3.4.2 ATO NÃO VIOLENTO ............................................................................................ 100 
3.4.3 ATO COLETIVO...................................................................................................... 100 
3.4.4 ATO PÚBLICO E ABERTO QUE VISOU PUBLICIDADE FAVORÁVEL ............ 100 
3.4.5 ATO POLÍTICO ....................................................................................................... 101 
3.4.6 ÚLTIMO RECURSO ................................................................................................ 102 
3.4.7 ACEITAÇÃO DAS SANÇÕES ................................................................................ 103 
ENCERRAMENTO E RECAPITUALAÇÃO .................................................................... 103 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 107 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
INTRODUÇÃO 
 
O Estudo da Resistência é antigo, abarcando as idéias tanto de mero contrapeso a 
autoridade ou chegando ao ponto da completa anulação desta autoridade, depondo-a 
totalmente e instaurando uma nova ordem. 
 
Para se ter uma idéia, o código de Hamurabi, quase dois mil anos antes de Cristo, 
trazia meterializado em suas disposições o direito de rebelião como punição ao governante 
que, em exercício dos seus poderes, desrespeita as leis da nação. O documento rogava aos 
deuses que, nesses casos, os lideres fossem agraciados com uma revolta da qual não 
conseguiriam abafar. Nascido na Mesopotamia, esse é considerado um dos primeiros textos 
legislativos da história da humanidade.1 
 
Igualmente no Oriente, Confúcio, em suas reflexões sobre tirania, também 
concebia que o homem teria esse direito, embora não tenha usado o termo “direito de 
resistência” explicitamente. Ainda no Oriente, pode-se encontrar os escritos de Mêncio, 
filosofo chinês depois de Confúcio. Sustenta Arthur Machado Paupério, que foi com esse 
arcabouço teorico oriundo da antiguidade que o direito de resistência tem seus primeiros 
desenvolvimentos.2 
 
Prosseguindo, no conjunto de Cidades- Estado, que hoje chamamos de Grécia 
Antiga, destaca-se a Democracia Anteniense e sua lei do Ostracismo, que consistia em banir 
um membro da sociedade com uma punição por seus atos. Arthur Machado Paupério analisa 
que o instituto cedo abateu o domínio dos Psistrátidas, descendentes de Psistrato, tirano de 
Atenas.3 Sobre o Instituto do Ostracismo, brilhatemente expõe Antony E. Raubitschek, 
esclarecendo que tal lei foi criada por Clístenes com o intuito de evitar regimes tirânios em 
Atenas: “The law of Ostracism was instituted by Cleisthenes in order to remove man like 
Hipparchus and Megacles (...) and removed they were”.4 
 
 
1 PAUPÉRIO, Arthur machado Teoria Democratica da Resistência. 3ª edição revista, Rio de Janeiro, Editora 
Forense Universitária, 1997,p. 28. 
2 Ibdem,p. 29. 
3 Ibdem,p. 29. 
4 RAUBITSCHEK, Antony E., the Origin of Ostracism, American Journal of Archaeology, vol. 55, nº 3, 
editado pelo Archaeological Institute of America, 1951, exemplar disponível em: 
http://www.jstor.org/stable/500970 . p. 221 e 223. Acessado em 11/11/2020. 
http://www.jstor.org/stable/500970
 13 
Não obstante o Ostracismo, talvez o mais icônico simbolo de resistência esteja na 
obra mais famosa de Sofocles “Antigona”, na qual trava-se um debate entre a personagem 
principal, Antigona, e o rei Creonte sobre Direito Natural. Existiriam, segundo a protagonista, 
leis naturais que mesmo a autoridade do soberano não poderia suplantar com suas leis 
positivadas. É um documento que levanta debates sobre a resistência, a obediência e a 
limitação dos poderes do lider da nação, que não poderia ir contra a as leis mais sagradas da 
natureza.5 
 
Entranto, não teve relevantes desenvolvimentos na Grécia Antiga a teoria da 
resistência, nem mesmo nos escritos de Platão em “A república” ou de Aristóteles na 
“Politica”.6 Na época do Império Romano tem-se expoente doutrinário no campo da teoria da 
resistência com Cícero em sua “República”, porém de modo implícito, expondo que a 
corrupção poderia ser causa de anulação total do Estado.7 É Possível afirmar que somente na 
Idade Média a teoria da resistência ganhou relevo, porém, sob a tutela da autoridade do poder 
da igreja, a qual possuia o monopolio da deposição dos governantes e, portanto, seria a única 
legitimada para livrar a população do dever de lealdade que tinham para com o tirano.8 
 
Também trazendo considerações históricas, e levantando um ponto de 
controvérsia, Nelson Nery atribui as raízes históricas do direito de resistência não ao código 
mesopotâmico, mas as centra na Idade Média sob o prisma de dois importantes institutos que 
regiam as relações sociais da época: um deles a respeito da relação entre os senhores feudais e 
o outro a respeito da relação entre Igreja e Estado. Este ditava que a soberania deveria se 
orientar pelos ditames da doutrina catolica (que tinha o poder de legitimar ou deslegitimar as 
ações dos soberanos no exercício de seu poder) e aquele estabelecia o dever de fidelidade 
germânico.9 
 
Segue estabelecendo que autores como Santo Tomás de Aquino, Etienne de la 
Boétie colaboraram bastante com a teoria do direito de resistência, mas que foi apenas com o 
advento das doutrinas contratualistas, tais como a de Locke, que a teoria da resistência 
 
5 PAUPÉRIO, Arthur machado Teoria Democratica da Resistência. 3ª edição revista, Rio de Janeiro, Editora 
Forense Universitária, 1997,p. 28. 
6 Ibdem, p. 29. 
7 Ibdem, p. 31. 
8 Ibdem, p. 31. 
9 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de 
Janeiro, Editora Forense, 2000, p.9. 
 14 
amadureceu, com a ideia de um acordo bilateral de vontades.10 Depois do autor analisar as 
obras de Aquino, Boétie, Locke e Jefferson, estabelece que a formação do direito de 
resistência se deu “paralelamente à constituição do Estado Moderno”.11 
 
É possível dizer que a doutrina Tomista constituiu-se em verdadeira prática 
política medieval e influenciou sem precedentes toda a cristandade até os dias atuais.12 Porém, 
avançando no tempo, a doutrina da resistência sofeu duro golpe durante a chamada reforma 
protestante no século XVI e XVII (1517- 1648), sendo levantada a bandeira da obediência 
total ao poder do Estado pela maioria dos autores. 13 
 
Não obstante, Arthur Machado Paupério, além de citar também Étienne de la 
Boétie e seu “Discurso da Servidão Voluntária” (1576) e, antes de Locke em “SegudoTratado sobre o Governo” (1690), apresenta nomes como Francisco Hotman e a “Franco 
Gallia” (1573), Philippe Du Plessis-Mornay e a “Vindiciae contra Tyrannos” (1579) e a Obra 
“De Rege et Rege Institutione” do jesuita João de Mariana (1599).14 Foram parte dos 
chamados monarcômacos, que se opunham a monarquia absolutista depois do massacre de 
Saint-Barthélemy em 1572 (século XVI)15 e certamente foram um suspiro para o direito de 
resistência nessa época da história da Europa 
 
 As obras de “Du Droit des Magistrats”, de Théodore de Bèze (1574), Philippe 
Du Plessis-Mornay e a “Vindiciae contra Tyrannos” (1579), apresentavam modelos 
contratualistas complexos muito antes de Jonh Locke. 
 
Esses foram considerados os principais autores monarcômacos, porém muitos 
outros surgiram, alguns inclusive católicos. Seriam três grades grupos de escritos 
 
10 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de 
Janeiro, Editora Forense, 2000, p.9. 
11 Ibdem, p. 23. 
12 PAUPÉRIO, Arthur machado Teoria Democratica da Resistência. 3ª edição revista, Rio de Janeiro, Editora 
Forense Universitária, 1997, p. 53. 
13 Ibdem, p. 64. 
14 Ibdem, p.63-70 e 131-141. 
15 CARVALHO, Frank Viana O pensamento político monarcômaco: da limitação do poder real ao 
contratualismo Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências 
Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p.17. 
 
 15 
Monarcômacos, protagonizando dois grupos protestantes e um católico, sendo o grupo dos 
Hungenotes franceses o mais comentado.16 
 
Após tamanha gama de autores que escreveram sobre o direito de resistência nesta 
época, avança-se para o século XVII e “a não ser Locke, que já é figura mais do século 
seguinte, todos os grandes teóricos políticos da época são unânimes em condenar a 
insurreição: Hobbes,Bossuet, Espinosa, Pascal...”17. Isso se deve muito ao cenário político 
daquele século, sendo o período da história que “assistiu ao engrandecimento do sistema 
político do absolutismo monárquico”.18 
 
Os filosofos de maior renome do Século XVIII, tais como Kant, Rousseau e 
Montesquieu “se não desconheceram o problema da resistência, dele se desinteressaram 
quase totalmente”19. Kant, na melhor das hipóteses, defenderá uma resistência passiva, 
enquanto Montesquieu e Rousseau imaginarão que com os modelos políticos que propõem, 
tal possibilidade seria verdadeira teratologia.20 
 
O direito de resistência caminhou, para além desses autores, com Jonh Locke, 
Thomas Jefferson, Henry Thoreau, Hannah Arendt, Luther King, Gandhi e, mais 
recentemente, os escritos de Norberto Bobbio,Jonh Rawls,Ronald Dworkin, Jügen Habermas, 
Michael Walzer, Nelson Nery e tantos outros. Mais especificamente, dirá Nelson Nery que “A 
desobediência civil originou-se do desenvolvimento do conceito de direito de resistência”. 21 
 
Dirá Juan Ignacio que a expressão Desobediência Civil surgiu em um momento da 
história pós-revoluções burguesas22, ou seja, na história do direito de resistência, teria a 
expressão desobediência civil surgido apenas a partir do fim do século XVIII e teriam como 
 
16CARVALHO, Frank Viana O pensamento político monarcômaco: da limitação do poder real ao 
contratualismo Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências 
Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p.17. 
17 PAUPÉRIO, Arthur machado Teoria Democratica da Resistência. 3ª edição revista, Rio de Janeiro, Editora 
Forense Universitária, 1997, p. 154. 
18 Ibdem, p. 154. 
19 Ibdem, p. 165. 
20 Ibdem, p. 165-169. 
21 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de 
Janeiro, Editora Forense, 2000, p.47. 
22 UGARTEMENDIA, Juan Ignácio Ecaizabarrena. Algunas Consideraciones sobre la “protección jurídica’ 
de la desobediencia civil. Barcelona: Institut Ciències Polítiques i Socials, Universidad del País Vasco, Working 
Paper n.151, 1998. Disponível em: < https://www.icps.cat/cerca > Acessado em: 16/11/2020. p.2. 
https://www.icps.cat/cerca
 16 
seus classicos perpetuadores Henry Thoreau, Gandhi e Luther King.23 Vale dizer, portanto, 
fazendo-se esse recorte histórico, esse termo teria aparecido pela primeira vez, observada a 
cronologia, em Henry David Thoreau. Nesse sentido, também encontra-se referência em 
Nelson Nery de que o primeiro teórico da desobediência civil teria sido Henry David 
Thoreau.24 
 
Esse início, que ele chamará de Sentido Tradicional teria um cunho muito mais 
prático do que própriamente teórico-doutrinário e visaria princípios superiores de justiça.25 
 
Haveria também outro uso do termo, sua concepção heterodoxa, que teria tido 
origem no pós 2ª Guerra Mundial na América do Norte que englobaria uma série de autores, 
tais como (H.A. Bedau, C. Bay, J. Rawls, C. Cohen, R. Martin, etc.) e que se caracterizariam 
por dois aspectos: Um conceito restritivo apoiado em determinadas características e uma 
importância na diferenciação entre o conceito (que permite identificar um ato como 
desobediente civil) e a justificação de tal ato.26 
 
Há ainda, segundo o autor, um terceiro movimento de crítica a essa concepção 
restritiva por achar que ela fracassou em seu conceito restritivo e no momento de distinguir o 
plano da descrição e da valoração desta conduta.27 Portanto, o estudo dessas características 
típicas seria um estudo da concepção heterodoxa da Desobediência Civil, segundo o autor. 
 
As justificativas para o ato são as mais variadas possíveis, dizendo Bobbio que ela 
teria no começo de seu desenvolvimento justificação em ideias religiosas, passando-se a uma 
justificação embassada numa doutrina jusnaturalista, que teria sido passada à filosofia 
utilitarista do século XIX e uma justificação manifestada na idéia libertária, cujos expoentes 
seriam Thoreau e os movimentos com inspiração libertária como é o exemplo, segundo 
 
23 UGARTEMENDIA, Juan Ignácio Ecaizabarrena. Algunas Consideraciones sobre la “protección jurídica’ 
de la desobediencia civil. Barcelona: Institut Ciències Polítiques i Socials, Universidad del País Vasco, Working 
Paper n.151, 1998. Disponível em: < https://www.icps.cat/cerca > Acessado em: 16/11/2020 , p.2-3. 
24 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.48. 
25 UGARTEMENDIA, Juan Ignácio Ecaizabarrena, Op. Cit., p.3. 
26 Ibdem. p.3. 
27 Ibdem, p.4. 
https://www.icps.cat/cerca
 17 
Bobbio, das campanhas contra a guerra do Vietnã. Bobbio exporá tais justificativas em seu 
Dicionário de política.28 
 
É um tema vasto, de importância cotidiana e que teve guarita constitucional em 
várias nações. Somente para se ter uma idéia documentos como a Constituição dos Estados 
Unidos da América, de 1787, A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
de 1789 e A Constituição Francesa, de 1793 29, podendo-se citar, mais recentemente, paises 
como a Alemanha (1949), França (1946), El Salvador (1950), Guatemala (1965), Portugal 
(1976) e Argentina (1994) como exemplos de nações que adotaram o direito de resistência 
após o término da Segunda Guerra Mundial, ou seja, após 1945.30 
 
Buzanello dirá que, no Brasil, a constituição de 1988 apresenta o direito de 
resistência de forma explícita quando trata-se do direito à greve e à objeção de consciência.31 
Porém, dirá que o art. 5º, §2º da Constituição Federal de 1988 admite outras especíes do 
direito de resistência, tais como a desobediência civil.32 Porém, dirá que o art. 5º, §2º da 
Constituição Federal de 1988 admite outras especíes do direito de resistência, tais como a 
desobediência civil.33 
 
 Não entrando nesse mérito,o objetivo deste estudo será modesto e focado em 
expor autores que escreveram sobre uma das variações do direito de resistência: a 
desobediência civil. Irá se falar de Henry Thoreau, Luther King, Gandhi e, mais recentemente, 
dos escritos de Hannah Arendt, Norberto Bobbio,Jonh Rawls para poder vislumbrar as 
discussões e controvérsias a respeito da desobediência civil. Posteriormente, o trabalho 
discutirá sobre sua construção conceitual e suas características principais. Por derradeiro, far-
se-á um estudo de caso, analisando se o movimento de ocupação da reitoria da UFSM de 2011 
pode ser considerado um movimento de desobediência civil à luz da doutrina de Nelson Nery 
 
28 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política; trad. Carmen 
C. Varriale; Gaetano Lo Mônaco; João Ferreira;Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini; coord. trad. João 
Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília 
(UNB), 11a ed., Vol. 1, 1998, p.338. 
29 BUZANELLO, José Carlos. Direito de Resistência Constitucional, Editora América Jurídica, Rio de Janeiro, 
2002, p. 95. 
30 Ibdem, p.88-92. 
31 Ibdem, p.95 e 150. 
32 Ibdem, p.95 e 150. 
33 Ibdem, p.95 e 150. 
 18 
Costa, ou se foi algo plenamente legal e justificável à luz da Constituição Federal da 
República Brasileira de 1988. 
 
1 RESGATE TEORICO DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL 
 
1.1 OS PRIMEIROS GRANDES TEÓRICOS DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL 
 
1.1.1 HENRY DAVID THOREAU: “DESOBEDIENCIA CIVIL” 
 
Teremos a obra de Henry David Thoreau. O autor é um dos três autores 
considerados como clássicos da desobediência civil, juntamente com Martin Luther King e 
Gandhi, que serão trabalhados na sequência. Ele será o primeiro grande teorico da 
desobediência civil como forma de resistência.34 É No contexto de expansão territorial 
estadunidense e guerra contra o México entre 1846 e 1848, que terminou com a anexação das 
regiões onde, hoje em dia, se encontram o Texas, Novo México e California, é que Henry 
David Thoreau (1817- 1862) vai escrever sua obra “A desobediência Civil”.35 
 
Henry David Thoreau, um abolicionista, percebeu que a ampliação territorial 
imperialista dos Estados Unidos sobre o México aumentaria a cultura escravocrata36, e 
contrário a esta guerra se propôs a fazer algo por meio do não pagamento de impostos ao 
estado de Massachusetts, que o usavam para financiar o exército. Por conta disso, foi preso, 
sendo a experíencia relatada em sua obra “A Desobediencia Civil”.37 
 
O autor era um feroz crítico a democracia estudinidense, discrepando das 
concepções liberais de Thomas Jefferson. Concorda com a frase “O melhor governo é o que 
menos governa”38, mas segue dizendo que também acredita que: “O melhor governo é o que 
absolutamente não governa”39 e que “Na melhor das hipóteses, o governo não é mais que 
uma conveniência; mas a maioria deles é, em geral (e alguns o são às vezes), 
 
34 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 48. 
35OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.57-58. 
36 Ibdem, p.57-58. 
37 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.25-26. 
38 Ibdem,p.7. 
39 Ibdem,p.7. 
 19 
inconvenientes.”40. Nada mais coerente do que o autor vislumbrar como ideal uma sociedade 
sem governo, se afastando das idéias tanto de Jefferson e Locke.41 
 
Como parte de suas críticas, o autor analisa as progressões das formas de governo 
ao longo da história, partindo, primeiramente, de uma monarquia absoluta, depois a uma 
monarquia limitada, para finalmente um regime democratico de governo. No fim de sua 
análise, questiona se com o regime democratico tal como ele era conhecido em sua época, 
teria se chegado ao ápice das formas de governo. 42 
 
Ligado à esse ponto, o autor demonstra a discrença que será exposta na visão de 
que não necessariamente o governo da maioria é o mais justo. Em verdade, argumenta que a 
maioria unicamente se impõe não por ser sinonimo de virtude, ou porque isso é melhor para 
as minorias, mas por conta de sua superioridade física.43 
 
Thoreau, em outro ponto, também estabelecerá que as massas são despreparadas e 
que o aprimoramento é lento, pois a minoria não seria, em essência, mais sábia ou melhor que 
a maioria, ou seja, não necessariamente a minoria faria ecoar as vozes da virtude que 
estremeceria e mexeria as massas e faria com que elas alcançassem a sabedoria.44 Porém, não 
obstante isso, dirá que, o que mais vale não é muitos homens bons, mas um que seja 
excepcional.45 
 
Escreve que mais valeria um homem que alcanssasse o ápice de sua virtude, pois 
isso influenciaria a massa como um todo, do que muitos homens bons, que, somente, seriam 
contra a escravidão apenas em tese.46 Nas palavras do autor: “Há milhares que se opõem em 
tese à escravidão e à guerra, mas que nada fazem efetivamente para pôr fim a elas”.47 
Thoreau em sua obra tecerá ainda mais críticas a ação das multidões de homens, como se 
pode vislumbrar quando disserta sobre as eleições, com se verá a seguir. 
 
40 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012 ,p.7. 
41 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.58. 
42 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.35. 
43 Ibdem,p.8-9. 
44Ibdem , p.13. 
45 Ibdem,p.13. 
46 Ibdem,p.13. 
47 Ibdem,p.13. 
 20 
 
O autor utiliza-se da exposição do processo eleitoral para dizer que este seria 
apenas um “jogo”.48 O caráter de quem vota não entraria em destaque, por que, embora o 
indivíduo vote em quem ache certo,no fim das contas, não estaria preocupado com a vitória 
do que acha correto, ou seja, nada fariam “de concreto para que aquilo chegue a se 
materializar”.49 O eleitor seria“pouco engajado e preocupado com o interesse público, 
quando vota, atua passiva e despretensiosamente, disposto a deixar o resultado a cargo da 
maioria”.50 Entretanto, “Ocorre que esta maioria, assim como ele, é indiferente às causas 
sociais”.51 
 
Por isso, dirá o autor, que a obrigação de votar seria sempre um ato que não 
fugiria do que é conveniente, ou seja, nuca iria além do que é esperado e do que ditam as 
convenções. Arremata dizendo que, votar pelo que acha correto não seria o mesmo que fazer 
algo por ele, visto que o ato de votar somente serviria pra expressar, de uma forma muito 
frágil, aos outros, o desejo de que o correto vença.52 Dirá que um“um homem sábio não 
deixará o que é correto a mercê da sorte, nem desejará que ele prevaleça mediante o poder 
da maioria”.53 Faltaria, segundo o autor, portanto, virtude na ação das massas.54 
 
Dirá o autor, também, que essa virtude não seria encontrada na lei. Isso porque, a 
lei nunca fez com que os homens fossem mais justos e que o respeito indevido as leis poderia 
fazer com que os homens virassem, eles mesmos, agentes da injustiça.55 Um exemplo citado 
pelo autor seria “a fila de soldados, Coronel, capitão, cabo, recrutas, carregadores de 
explosivos e tudo o mais, marchando em ordem admiravel pelos caminhos mais tortuosos 
para a guerra, contra a sua vontade, pior ainda, contrasua sensatez e sua consciência”.56 
 
 
48 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012 ,p.14. 
49 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.59. 
50 Ibdem, p.59. 
51 Ibdem, p.59. 
52 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.14. 
53 Ibdem, p.14. 
54 Ibdem,p.14. 
55 Ibdem,p.9. 
56 Ibdem,p.9. 
 21 
Não haveria neles (“exército permanente, as milícias, os carcereiros, os policiais, 
os membros de destacamentos etc”57) o exercício livre de seu senso moral e de seu 
julgamento, de modo que “a massa dos homens serve ao Estado não na qualidade de 
homens, mas como maquinas, com seus corpos”.58 Esses homens, portanto, teriam a função 
de defender o estado e manter o status quo.59 
 
Ademais, as massas sofriam com uma atuação incisiva da imprensa, visto que a 
igreja havia perdido força.60 Aquela trabalhava arduamente, para controlar a vontade social. O 
jornal era considerado a bíblia que acompanhava os indivíduos todos os dias em seus afazeres 
e os editores não tinham pudor ao apelar para o que pior das pessoas e excluir o que tinham de 
melhor. A impressa teria a função de sustentar o governo, não se importava com os meios 
utilizados para atingir essa finalidade.61 
 
Soma-se a isso também que os legisladores, políticos, advogados, ministros e 
funcionarios públicos, raramente tinha como norteador de suas ações, a sua consciência e, 
quando tinham, eram menos servidores do estado e muito mais inimigos dele, pois resistiriam 
ao governo a maior parte do tempo. A maioria não faria qualquer distinção moral e, nas 
palavras de Thoreau, poderiam tanto servir ao diabo ou servir a Deus.62 
 
Critica a ação do governo da maioria, também, quando analisa que os mecanismos 
que este propicia para contornar as ações ruins “levam muito tempo, e a vida de um homem 
pode acabar antes de eles vingarem”63. 
 
Tal descredito com as instituições governamentais,bem como com as massas da 
população e a exaltação de indivíduos poucos e exepcionais, que seguiriam sua consciência e 
fariam o que é certo, deixarão claro que o público em potencial da desobediência não seria a 
maioria da população. 
 
57 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012 ,p.10. 
58 Ibdem ,p.10. 
59 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.60. 
60 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 34. 
61 Ibdem, p. 34. 
62 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.10. 
63 Ibdem,p.18. 
 22 
 
Isso porque, como já exposto, primeiramente, no sistema de governo liberal, a 
maioria representava o próprio fundamento da autoridade. Ademais, o governo e a imprensa 
atuariam sobre essa massa, que, já desprovida de virtude, ficaria sem vontade própria. Além 
disso, soma-se, por derradeiro, a demora demasiada grande do governo da maioria em fazer 
mudanças legislativas. Restaria que a minoria,em caráter quase que obrigatório, 
desobedecesse aos comandos estatais para que suas reinvidicações fossem atendidas, visto 
que esperar os meios que o estado impõe para a resolução dos conflitos demoraria e muitos 
poderiam chegar ao fim da vida sem ter suas demandas atendidas.64 
 
Em verdade, para solidificar esse entedimento de que Thoreau via com melhores 
olhos uma minoria da população dirá o autor que “uma minoria é impotente enquanto se 
conforma com a maioria; não chega nem a ser minoria, então; mas é irresistível quando 
intervém com todo seu peso”.65 Cumpre ressaltar, entretanto, que essa minoria deveria ser 
adjetivada como virtuosa. Seriam indivíduos poucos e exepcionais, que seguiriam sua 
consciência e fariam o que é certo. Embora haja claramente um marcador de postura ética e 
moral no pensamento de Thoreau, não foi possível vislumbrar um teoria de ação ética no livro 
“desobediência Civil”. 
 
Para o autor, o governo ideal seria aquele em que a voz da consciência guiasse a 
ação dos homens e do governo e não a voz da maioria. A obediência às leis seria avaliada pela 
consciência individual, independentemente da visão majoritaria. Dirá em sua obra que antes 
de serem súditos, os homens deveriam ser homens.66 Irá estabelecer que todos os homens 
reconhecem o direito a revolução que seria “o direito de recusar obediência ao governo, e de 
resistira a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis.”67 
 
Nelson Nery dirá que Thoreau enxergava “a desobediência como o único 
comportamento aceitável para os homens, quando se deparassem com legislação e práticas 
 
64 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 36. 
65 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.20/21. 
66 Ibdem, p.9. 
67 Ibdem,p.11. 
 23 
governamentais que não procurassem agir pelos critérios da justiça ou contrariassem os 
princípios morais dos indivíduos.”68 
 
O homem deveria “manter as mãos limpas e, mesmo sem pensar no assunto, 
recusar apoio prático ao que é errado”.69 Dita que os autoproclamados abolicionistas 
deveriam retirar seu apoio a escravidão de imediato e não esperar pelo crivo da maioria, nesse 
âmbito chega a admitir a resistência individual como um ato de desobediência civil e diz que 
“qualquer homem mais direito que seus vizinhos constitui em si uma maioria de um”.70 
 
Quando se questiona sobre se deve-se desobedecer leis injustas responde que 
devemos violar a lei sempre que ela obrigue o indivíduo a ser, ele mesmo, o agente da 
injustiça: “O que devemos fazer, de qualquer maneira, é verificar se não nos estamos 
prestando ao mal que condenamos.” 71 
 
Dirá o autor que o lugar dos homens justos seria na prisão.72 Portanto, “todos os 
desobedientes deveriam estar preparados para a mesma sina, lancinante, porém, virtuosa, 
honrosa e livre.”73 O autor, inclusive, viveu pelas suas palavras e, de fato, foi preso por que 
passou seis anos sonegando imposto.74 Nesse sentido também, encontra-se a lição de Nelson 
Nery.75 
 
Este desobediente defendia fervorosamente a via pacifica para solução dos 
conflitos, mas era um realista e reconhecia que apenas a via pacifica em alguns casos, não 
possuiria sempre reais chances de êxito e reconhecia suas fragilidades. 76 
 
 
68 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 38. 
69 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.15. 
70 Ibdem,p.19. 
71 Ibdem,p.18. 
72 Ibdem,p.20. 
73 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.62. 
74 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.24. 
75 COSTA, Nelson Nery, Op. Cit., p. 38. 
76 Ibdem, p.37. 
 24 
1.1.2 GANDHIE A NÃO VIOLÊNCIA 
 
Seguindo-se a Henry David Thoreau, tem-se Gandhi. Mohandas Karamchand 
Gandhi, nascido em 1869, depois de ter se formado em Direito na Inglaterra, ingressou na 
Africa do Sul para advogadar a respeito de problemas de imigração. Logo em seus primeiros 
dias em Natal ficou surpreso com a grande discriminação que sofreu o que o fez prolongar sua 
estada no pais e iniciar sua luta contra as injustiças sociais naquele país injusto que retirava de 
seus concidadãos o direito de voto, ir e vir e havia também uma taxação diferenciada nos 
impostos.77 
 
Gandhi estabeleceu um marco na prática da desobediência, notadamente a 
desobediência não violenta, que sempre será seu legado.78 Deixou certos escritos, 
notadamente seu livro “Ethical Religion” e “Todos somos irmãos: reflexões autobiográficas”, 
o qual teve-se acesso, que traz varias considerações sobre sua vida e filosofia e alguns de seus 
pensamentos sobre a desobediência civil no capítulo destinado a análise da democracia e do 
povo. Assim como Karl Marx em seu tempo, Gandhi também esteve a frente de jornais, 
assumindo a edição do Young Índia e, posteriormente, fundando o jornal semanal Harijan.79 
 
Gandhi encampou inúmeras lutas. Na África do Sul seu movimento de maior 
repercussão foi contra a Lei de Registro dos Asiáticos que obrigou todos os indianos a serem 
registrados e terem suas impressões digitais arquivadas. Neste movimento após decidirem em 
conjunto pela aplicação da Satyagraha (resistência pacífica) em que indianos se oporam a 
medida e jogaram seus certificados em um caldeirão, em 1908.80 
 
Gandhi é exposto como um pacifista (praticante da Ahimsa) e pregava a 
resistência não-violenta, e a Satyagraha, foi sua estratégia mais famosa, que consistia na 
 
77 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.69-71. 
78 Ibdem, p.75. 
79GANDHI, Mahatma Todos Somos Irmãos: Reflexões Autobiográficas, Tradução de Bruno Alexander, 1ª 
Edição, Editora L&PM, Porto Alegre (RS), 2020, p.291-299. 
80 OLIVEIRA, Bruno Pittella, Op. Cit.,p.72-73. 
 25 
resistência pacífica, praticada por meio de protestos não violentos com o objetivo de 
reivindicar direitos civis e políticos.81 
 
Após sua estada na África do Sul, retornou a seu país natal, a índia, e começou a 
utilizar sua segunda tática mais famosa a asahayoh, que nada mais é que a não cooperação. 
Sua aplicação mais célebre foi com a histórica marcha do sal em 1919, que se constituiu 
primeiro num boicote a compra do sal inglês, que detinha o monopólio. Também ocorreu a 
campanha do “Khâdi”, que consistiu em uma troca: As vestimentas caseiras feitas 
artesanalmente substituiram os téxteis da Inglaterra.82 
 
Gandhi, portanto, defendia a filosofia da não-violência (Ahimsa). Esta seria uma 
forma coletiva83, que deveria possuir adesão e preparo dos participantes, e não- violenta, 
constituindo-se em um instrumento essencial de cidadania e exercício da moral.84 A 
resistência passiva, assim, era um método que permitia defender todo o direito que se 
encontrasse ameaçado.85 
 
Gandhi, influenciado por Thoreau e Tolstoi, foi um dos grandes pensadores e 
executores da desobediência civil, se tornou um exemplo para todas as gerações que o 
sucederam e lutaram contra o arbítrio estatal, se diferenciou pelo uso da não violência e por 
aceitar pacificamente os resultados de suas ações, que iam desde sua reclusão até sofrer 
violência. O grande diferencial de Gandhi foi introduzir uma pratica consistente da ferramenta 
e acrescentar-lhe a característica da não violência.86 
 
1.1.3 MATIN LUTHER KING E O MOVIMENTO NEGRO 
 
Conterrâneo de Jefferson, tem-se Luther King. Martin Luther King Jr, o mesmo 
era pastor na cidade de Montgomery no Alabama, onde iniciou suas atividades políticas 
 
81 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.71-72. 
82Ibdem, p.74. 
83 Ibdem, p.72. 
84 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.41-42. 
85 Ibdem, p. 41. 
86 Ibdem, p. 42. 
 26 
contra o racismo institucionalizado vigente nos Estados Unidos.87 Sua maior luta foi na busca 
dos direitos civis da população negra, tais como o direito de votar e o fim das discriminações 
raciais em todos os níveis.88 
 
Uma de suas importantes participações com apoiador da luta anti-segregacionista 
envolveu o caso emblematico de Rosa Louise Mccauley, mais conhecida como Rosa Parks, e 
o boicoite ao sistema de transporte público de Montgomery.89 Os protestos foram 
desencadeados quando Rosa, mulher negra, não cedou seu lugar no ônibus para um homem 
branco, como era constume na época e contou com a mobilização do Conselho político 
Feminino90, bem como de outras várias lideranças negras91 e durou pouco mais de um ano 
trazendo graves prejuízos para a empresa de ônibus e chamou a atenção de todo o país.92 
Segundo o professor Ricardo Alexino, professor da Escola de Comunicação e artes da USP, a 
atitude de Rosa Parks possibilitou maior organização dos movimentos sociais de combate ao 
segregacionismo e pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e o despontamento de 
lideranças, como Martin Luther King.93 Martin Luther King apoiou integralmente, portanto, o 
protesto silencioso de Rosa Parks contra as leis segragacionistas de seu Estado. 
 
Segundo Nelson Nery Costa havia na comunidade negra estadunidense do século 
XX duas propostas de ação social. Uma delas conivente com a situação de discriminação, cuja 
proposto era uma obediência passiva. A outra, pregava a violência como saída para o impasse 
social e era formada pela militância revolucionária. O movimento de desobediência civil de 
Martin Luther King surgiu como uma opção não-violenta para a comunidade negra dos 
Estados Unidos para lutar contra a discriminação que lhe aflingia. Tal movimento estipulava 
que a legislação ainda seria seguida, mas as partes injustas seriam negadas.94 
 
 
87 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.76-77. 
88 Ibdem,p.78. 
89 FERREIRA, Ricardo Alexino. Rosa parks declarou luta pelos direitos civis dos negros nos EUA. Jornal da 
USP, São Paulo, 08/05/2018. Disponível em: < https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos-
direitos-civis-dos-negros-nos-eua/>. Acesso em: 06 de Dezembro de 2020. 
90 KLEFF, Michael. 1955: Rosa Parks se recusa a ceder lugar a um homem branco nos EUA. Deutsche 
Welle (DW), 01/12/2019. Disponível em: < https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-
a-um-branco-nos-eua/a-340929>. Acessado em: 06 de Dezembro de 2020. 
91 FERREIRA, Ricardo Alexino. Op. Cit. 
92 OLIVEIRA, Bruno Pittella, Op. Cit.,p.77. 
93 FERREIRA, Ricardo Alexino. Op. Cit. 
94 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 43. 
https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos-direitos-civis-dos-negros-nos-eua/
https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos-direitos-civis-dos-negros-nos-eua/
https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-a-um-branco-nos-eua/a-340929https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-a-um-branco-nos-eua/a-340929
 27 
As grandes características da desobediência civil seriam: uma ação de massas, não 
violenta e aberta, chamando a atenção da população passiva. Das táticas utilizadas vale citar 
os boicotes, os sit-in e a marcha, todas levadas a cabo sem a utilização de violência. Entende 
Luther King que se os desobedientes forem para a prisão, o significado daquele ato ficaria 
cristalino95, podendo dizer que há certa semelhança com Thoreau, para quem o único lugar 
para um homem justo seria a prisão. 
 
Além disso, esta deveria ser o último recurso para os desobedientes e exigiria uma 
grande preparação antes de ser posta em prática.96 Dirá em “Letter from Birmingham city jail” 
que os requisitos para a deflagração da desobediência deveriam ser a coleta de informações 
para averiguar se a injustiça ainda estaria pendente, a tentativa de negociação, o preparo dos 
envolvidos na desobediência e, por último, a “ação direta”. 97 
 
Luther King afirmava em sua obra “Why we can´t wait” que a desobediência 
pacífica seria uma forma poderosa e justa sendo a uma arma que corta sem machucar e 
enobrece aquele que a usa.98 O autor entendia que a inexistência de violência nos atos 
desobedientes colocava o governo em xeque, pois, se proibisse manifestações pacificas, seria 
injusto, mas, se deixasse que ocorressem ficaria público a insatisfação do povo contra o 
governo. Ela colocaria em contradição o Estado.99 
 
Martin Luther King não admitia que suas ações fossem clandestinas e ressaltava 
que a violência não poderia ir contra pessoas, apenas contra coisas. Ademais, o ato de 
desobedecer seria contra a parte perceptiva da lei injusta, mas o indivíduo deveria se sujeitar 
às sanções previstas, justamente pelo ato de desobediência não ir contra o ordenamento 
jurídico como um todo.100 O autor afirmará em “Letter from Birmingham city jail” que aquele 
que viola a lei injusta e, em caráter voluntário,aceita a pena imposta a ele como forma de 
 
95 COSTA, Nelson Nery. Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.44. 
96 Ibdem, p. 44 e 48. 
97 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail. In: BEDAU, Hugo Adam Civil Disobedience in 
Focus, London ; New York : Routledge, 2002, p.69. 
98 KING, Martin Luther, Why we Can´t Wait, New York, The American Library, 1966, p.26. 
99 COSTA, Nelson Nery. Op. Cit., p.45. 
100 Ibdem, p. 45. 
 28 
conscientização dos demais indivíduos da população, estaria demonstrando o mais elevado 
respeito pela lei.101 
 
Nelson Nery, dissertando sobre a doutrina de Luther King expõe que tais táticas 
visavam mostrar que as reinvidicações da população negra eram justas e, pela ação não-
violenta, tinha como um dos seus objetivos consolidar uma publicidade a seu favor. A atuação 
violenta do estado contra a passividade dos ativistas tinham o objetivo de sensibilizar o resto 
da população por meio da veiculação na imprensa.102 
 
A minoria seria o segmento utilizador desta ferramenta de cidadania, pois havia 
um elemento de união na opressão que sofriam; tal unidade permitia que eles agissem como 
um grupo compacto e organizado e, corrolário a esses dois fatores, os indivíduos 
conseguiriam criar laços fortes que os forjava em uma identidade própria sempre procurando 
afirmar suas posições perante a maioria.103 
 
Haveria dois tipos de leis para Luther King: As justas e as injustas. A primeira 
todos deviam obediência e a segunda deveriam desobedecer, visto que ela estaria em 
descompasso com a lei moral.104 
 
Por derradeiro, Nelson Nery Costa, analisando o legado do autor, estabelece que 
Luther King e seus escritos foram importantes pois reafirmavam as minorias como setores 
chave para a desobediência civil, por meio de sua ação em massa105 (fato semelhante a 
Gandhi e Thoreau, embora este dizia que uma única pessoa também poderia ser um 
desobediente). A não-violência e a sujeição à lei no que diz respeito as punições teve impacto 
positivo para se obter uma publicidade favorável e foi reafirmada a justificativa com conteúdo 
moral106 (tal como seus antecessores). 
 
 
101 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail, Op. Cit., p.74. 
102 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.46. 
103 Ibdem, p.46. 
104 Ibdem ,p.47. 
105 Ibdem,p.47. 
106 Ibdem,p.47. 
 29 
1.2 VISÕES DOUTRINÁRIAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE A DESOBEDIÊNCIA 
CIVIL 
 
1.2.1 HANNAH ARENDT E A ASSOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA 
 
Avançando-se ao Século XX, entrando no período histórico das guerras mundiais 
e da guerra fria, tem-se o pensamento político de Hannah Arendt. A autora tem uma obra 
política vasta e também teorizou sobre desobediência civil. Hannah Arendt não concorca com 
Thoreau e seu individualismo, pois este seria permeado por subjetividades e a ação política se 
preocuparia com interesse público e não somente com o “Eu” individual.107 
 
Na relação que traça entre a lei e a razão de sua obediência, dirá que, 
diferentemente de autores como Kant e Rosseau, a aceitação da norma advêm de uma 
associação voluntária e não de uma simples submissão voluntária, a qual denotaria apenas 
um aspecto passivo com relação as leis. Para Arendt, a população deveria consentir com as 
normas mas não apenas pelo lado passivo da questão, ou seja, tal consentimento deveria se 
expressar na aceitação das regras e na participação ativa do cidadão na vida da comunidade. 
108 
 
Seria exatamente “com embasamento na extrema necessidade deste tipo de 
consentimento por parte de cada indivíduo ao ingressar em uma comunidade que Hannah 
Arendt justifica o direito à desobediência civil”.109 Sobre a associação voluntária ela não seria 
“um consentimento de aquiescência, mas por meio da participação ativa e contínua dos 
cidadãos “em todos os assuntos de interesse público”110 
 
Os atos de desobediência às leis seriam “atos de reivindicação legítimos 
praticados por determinadas minorias injustiçadas por uma lei ou política governamental 
específica, buscando uma conscientização da maioria para sua causa”.111 Portanto, nesta 
toada, Hannah Arendt entendia que a desobediência civil surge quando: 
 
107 BONINI, Marcelo Casteli A Desobediência Civil como condição histórica de exercício e produção de 
sujeitos político-culturais, Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Jurídica do Centro de 
Ciências Sociais Aplicadas do Campus de Jacarezinho da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), 
Jacarezinho, 2010, p. 39. 
108 Ibdem, p.41. 
109 Ibdem, p.42. 
110 Ibdem,p.41-42. 
111 Ibdem, p.44. 
 30 
 
“Um número significativo de cidadãos se convence de que, ou os canais normais 
para mudanças não funcionam, e as queixas não serão ouvidas nem terão qualquer 
efeito, ou então, pelo contrário, o governo está em vias de efetuar mudanças e se 
envolve e persiste em modos de agir cuja legalidade e constitucionalidade estão 
expostas a graves dúvidas.”112 
 
Portanto, depreende-se do dito acima, que a desobediencia civil para a autora seria 
um ato coletivo, não violento, que vai na contramão da vontade da maioria, sendo um 
instrumento utilizado pela minoria, munida da opinião comum dos seus integrantes que se 
convenceram que os canais normais de mudança não surtirão efeitos ou que o governo está 
empreendendo atos de constitucionalidade duvidosa. 
 
Pelo fato de não se utilizar de violência se diferenciaria da ação revolucionária113 
e pelo fato de ser uma ação coletiva se diferenciaria da objeção de consciência pelo fato desta 
ser um ato individual.114 
 
Ela seria um atributo da cidadania115,sendo inerente ao agir do povo no espaço 
público, dotada de plena publicidade116, que deveria, aos olhos da autora, ter respaldo 
constitucional117 mesmo sendo uma ação extra legal118. Porém, ela não seria apenas um 
instrumento para controlar a constitucionalidade das disposições normativas do Estado, “o 
contestador objetiva ter seus direitos respeitados, para isso desobedece a lei, quando esta 
desrespeita seus direitos, justifica seu ato por amparar-se na própria constituição ou leis e 
princípios que permanecem imutáveis através do tempo.”119 
 
 
112 ARENDT, Hannah. Crises da República. Tradução de José Volkmann. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 
2004,p.68 Apud. SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah 
Arendt. Aufklärung: Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, 
p.65-76. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 
02/05/2020. 
113SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah 
Arendt. Aufklärung: Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, 
p.69. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 02/05/2020. 
114 Ibdem, p.67-68. 
115CARDOSO, Silvio Cesar Gomes Hannah Arendt: Desobediência Civil e Liberdade Dissertação (Mestrado) 
— Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Instituto de Filosofia, Sociologia e Política, Universidade Federal 
de Pelotas, Rio Grande do Sul, 2017, p. 35-41. 
116 SEIXAS, R. L. da R. (2019), Op. Cit., p.68. 
117 BONINI, Marcelo Casteli A Desobediência Civil como condição histórica de exercício e produção de 
sujeitos político-culturais, Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Jurídica do Centro de 
Ciências Sociais Aplicadas do Campus de Jacarezinho da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), 
Jacarezinho, 2010, p.41. 
118 SEIXAS, R. L. da R., Op. Cit., p.67. 
119 Ibdem, p.69. 
https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937
https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937
 31 
Além disso, somente poderia ser utilizada quando comprovadamente o povo já 
não poderia utilizar-se dos meios institucionais para a resolução da controvérsia.120 Ela seria 
voltada “para a mudança do status quo, a fim de resgatar a capacidade de agir 
conjuntamente, de refundar uma comunidade política e de reafirmar ou revitalizar suas 
promessas.”.121 Assim, portanto, a desobediência civil seria caracterizada pela autora como 
“ação política e forma de participação cidadã democratica direta, que não se contrapõe ou 
exclui a democracia representativa mas ao contrário atua em seu fortalecimento”.122 
 
Ainda nesta toada, Doglas Cesar Lucas dirá que Hannah Arendt reconhece “a 
desobediência civil como reafirmação da obrigação político-jurídica capaz de regenerar a 
faculdade de agir, de participar do processo de tomada de decisões políticas e, dessa 
maneira, impedir a degeneração da lei e a corrosão do poder político.”123 
 
Por derradeiro, quanto as punições aos desobedientes a autora irá além de 
Habermas e de Rawls. Estes se contentaram em explicitar que os desobedientes deveriam 
receber atitudes mais tolerantes por parte do poder público, porém a autora vai além. Ao invés 
de uma mera tolerância deveria-se criar um nicho constitucional para a desobediência civil 
(como dito acima) e, além disso, aos desobedientes deveria ser dado o direito de auxiliar e 
influenciar o próprio Congresso nacional do país.124 Portanto, não bastava a “frágil garantia 
de não serem tratados como criminosos comuns, encontraríamos em Arendt a defesa de que a 
esses mesmos cidadãos seja dado acesso aos processos políticos institucionalizados.”125 
 
 
120 ILIVITZKY, M. E. La desobediencia civil: aportes desde Bobbio, Habermas y Arendt CONfines relacion. 
internaci. ciencia política, Monterrey , v. 7, n. 13, p. 15-47, maio de 2011. P.34. Disponível em: 
<http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002>. Acessado em 
02/05/2020. 
121 CARVALHO, J. B. C. L. de. A Desobediência Civil no pensamento político de Hannah Arendt: Um 
direito fundamental Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL],v. 13, n. 1, p. 55-66, jan./jun. 2012, Joaçaba (SC), 
p.64. Disponível em: <https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/1420>. Acessado em 
02/05/2020. 
122 SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah 
Arendt. Aufklärung: Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, 
p.69. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 02/05/2020. 
123 LUCAS, Doglas Cesar; A Desobediência Civil na Teoria Jurídica de Ronald Dworkin, Revista de Direitos 
Fundamentais e Democracia, v. 16, n. 16, julho/dezembro de 2014, Curitiba, 2014, p.120. Disponível em: < 
https://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/591 > Acessado em: 21/11/2020. 
124 SILVA, Felipe Gonçalves Desobediência Civil e o aprofundamento da democracia Pensando – Revista de 
Filosofia Vol. 9, Nº 18, 2018, P.205-206. Universidade Federal do Piauí (UFP) Departamento de Filosofia, 
Programa de pós graduação em filosofia. Disponível em: 
<https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/issue/view/Vol.%209%2C%20n.18%2C%202018/showToc> 
Acessado em 02/05/2020. 
125 Ibidem, p.206. 
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002
https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/1420
https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937
https://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/591
https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/issue/view/Vol.%209%2C%20n.18%2C%202018/showToc
 32 
1.2.2 NORBERTO BOBBIO E AS TIPOLOGIAS DA RESISTÊNCIA 
 
Igualmente no século XX, nascido em 1909 em Turim, na Italia126, Norberto 
Bobbio escreveu sobre resistência aos governos instituídos e suas leis em várias partes de suas 
obras (notadamente em “Era dos Direitos”, “Teoria Geral da Política” e “Terceiro Ausente”). 
 
Matías Esteban, docente e investigador da faculdade de Ciências Sociais da 
Universidade de Buenos Aires, dissertando sobre Bobbio, dirá que a desobediência civil para 
o autor seria uma categoria da resistência (por seu caráter prático), originando-se, de uma falta 
no processo de constitucionalização de determinados mecanismos de controle ao abuso de 
poder na sociedade, como por exemplo, a consagração institucional da oposição e do sufrágio 
universal (voto).127 Nesse contexto, sua utilização é fruto das baixas taxas de participação 
popular nas democracias contemporâneas, seja porque haja uma baixa motivação dos 
participantes, seja em decorrência da diminuição da capacidade de realização das políticas 
públicas exigidas pelo eleitorado por parte dos governantes.128 
 
Dirá Matías Esteban que Bobbio reconhece que a teoria da desobediência civil 
sofreu variações ao longo da história, sendo em um momento resistência com usa da força, 
classificada como ativa e sem o uso da força, classificada como passiva. Norberto Bobbio 
apoia a variação sem violência, uma vez que estabelece que uma sociedade não violenta deve 
ser alcançada igualmente por práticas pacíficas. Também vai classifica-lá como um ato 
político distinguindo também a desobediência civil de outros tipos pacíficos de pressão 
exercidos por indivíduos isolados. Nesse contexto, conclui que as ações de desobediência 
passiva são tomadas não apenas de maneira coletiva, como também são medidas 
primordialmente concernentes a grupos oriundos à base da sociedade. 129 
 
Segundo Matías Esteban, para Bobbio, a desobediência civil tem um caráter 
inovador,pois é a forma que os cidadãos têm de demonstrar o seu descontentamento com as 
disposições constitucionais, consideradas por eles injustas, ilegítimas ou inválidas. Além 
disso, a desobediência civil aspira ao máximo de publicidade possível, de maneira a conseguir 
 
126 VANNUCHI, Paulo. Bobbio, a trajetória de um questionador. Lua Nova, São Paulo , n. 53, p. 69-97, 
2001, p.70. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452001000200004> Acessado em 22 de Abril de 2020. 
127 Ibdem, p.18-19. 
128 Ibdem,p. 19. 
129 Ibdem,p. 19. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452001000200004
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452001000200004
 33 
a adesão de outros cidadãos daquela mesma sociedade em que o protesto é realizado.130 
Bobbio chegará a afirmar em “O terceiro Ausente” que aqueles que se recusam a seguir esse 
tipo de norma, dentro deste contexto, creem possuir uma relação especial com os 
legisladores.131 
 
Segundo Matías Esteban, Bobbio reconhece oito tipos de conduta cidadão frente à 
lei (em grau decrescente de acatamento): 1) Obediência Conforme; 2) Obséquio Formal; 3) 
Evasão oculta; 4) Obediência passiva; 5) Objeção de Consciência; 6) Desobediência Civil; 7) 
Resistência passiva; 8) Resistência ativa.132A desobediência civil se encontra em um ponto 
intermediário entre as formas de rebeldia frente ao sistema normativo — entre a obediência 
passiva, em que o indivíduo infringe apenas eventualmente a lei, e a resistência ativa, próxima 
à ação revolucionária.133 
 
Segundo Matías Esteban, a desobediência civil para Bobbio é uma ação 
comissiva, uma vez que pressupõe uma conduta que se encontra fora da lei com o fim de 
protestar contra ela. É, também, coletiva, pacífica, uma vez que se diferencia da ação 
revolucionária, é parcial, pois aspira modificar uma disposição específica que se considera em 
contrariedade com o resto do Direito e é passiva, pois se encontra explicitamente em 
contraposição às normas vigentes devendo ser sancionada. Apesar de questionar as normas, 
porém, aceita que são as leis que devem reger o comportamento público e privado.134 
 
Segundo Matías Esteban, para Bobbio, a desobediência civil impede a 
perpetuação de despotismos e ditaduras também servindo de uma forma de manter a 
qualidade do governo.135 Seria, em última instância, um ato de virtude cívica por parte dos 
cidadãos daquela sociedade.136 
 
 
130 VANNUCHI, Paulo. Bobbio, a trajetória de um questionador. Lua Nova, São Paulo , n. 53, p. 69-97, 
2001, p.20. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452001000200004> Acessado em 22 de Abril de 2020. 
131 ILIVITZKY, Matías Esteban. La desobediencia civil: aportes desde Bobbio, Habermas y 
Arendt. CONfines relacion. internaci. ciencia política, Monterrey , v. 7, n. 13, p. 15-47, mayo 2011, p.20. 
Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002> 
Acessado em 22 de Abril de 2020. 
132 Ibdem,p.20. 
133 Ibdem,p.21. 
134 Ibdem,p.21. 
135 Ibdem,p.22. 
136 Ibdem,p.22. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452001000200004
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452001000200004
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002
 34 
Por outro lado, consultando os textos de Sílvia Alves, professora da Universidade 
de Lisboa, a Desobediência Civil para Bobbio seria uma ação omissiva, coletiva, pública e 
pacífica, às vezes não parcial e às vezes não passiva. Dirá a autora que, para Bobbio “A 
desobediência civil é omissiva, coletiva, pública, pacífica, não necessariamente parcial 
(como ocorreu com Gandhi) e não necessa-riamente passiva (as cam-panhas contra a 
discriminação tendem a não reconhecer ao Estado o direito de punir)”.137 Coloca também a 
citação de Gandhi que Bobbio faz em “O Terceiro Ausente”, estabelece três aspectos 
importantes e característicos da desobediência Civil que seriam a aceitação da sanção, o 
respeito a autoridade e a “ invocação de uma lei superior ou de um padrão maior que permite 
aferir a validade ou até a existência da lei a que se opõem os desobedientes.”138 
 
Em contato com as fontes primárias, notadamente “o terceiro ausente”, 
“resistência a opressão hoje” – presente tanto em “A era dos direitos” como em “teoria geral 
da política” e a parte que é intitulada “Desobediência Civil” presente em seu “dicionário de 
política” parece que as divergências se justificam, notadamente no ponto da classificação da 
Desobediência Civil como Comissiva ou Omissiva e estritamente passiva ou apenas às vezes 
passiva. Sílvia parece fazer jus mais a literalidade do texto quando estabelece que a 
Desobediência Civil para Bobbio não necessariamente seria sempre passiva. Nesse sentido há 
trecho específico em “o terceiro ausente”: 
 
Chegando à desobediência Civil, tal como é com frequencia concebida na filosofia 
política contemporrânea, que toma como modelo as grandes campanhas não-
violentas de Gandhi ou as campanhas pela abolição das discriminações raciais nos 
Estados Unidos, ela é omissiva, coletiva, pública, pacífica, não necessariamente 
parcial ( a ação de Gandhi foi certamente uma ação revolucionária) e não 
necessariamente passiva ( as grandes campanhas contra a discriminação racial 
tendem a não reconhecer ao Estado o direito de punir os pretensos criminosos de 
lesa discriminação).139 
 
Essa interpretação mais literal parece ser acertada também na questão da 
classificação como não necessariamente parcial, visto que mais a frente, ao distinguir 
desobediência de constestação, Bobbio estabelece que a desobediencia, “uma vez que exclui a 
 
137 ALVES, Sílvia. Desobediência Civil E Democracia Civil Disobedience And Democracy Revista Duc In 
Altum Cadernos de Direito, Faculdade Damas,Recife, vol. 7, nº11, jan.-abr. 2015, p.56. Disponível em: < 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index > Acessado em 16/11/2020. 
138 Ibdem, p.57. 
139 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e 
Valdemar Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p.104. 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index
 35 
obediência, constitui um ato de ruptura contra o ordenamento ou parte dele”140 (podendo, 
portanto, ser parcial ou não). 
 
Não pareceu acertado, contudo, estabelecer que, pela citação de Gandhi, Bobbio 
estaria concordando que a desobediência civil teria como três características principais a 
aceitação da sanção, o respeito a autoridade e a invocação de uma lei superior ou de um 
padrão maior, visto que a citação é feita no contexto de explicação de uma das formas de 
justificação da desobediência civil, qual seja, sua justificação de natureza religiosa e, 
posteriormente, justificação pelo direito natural (lei moral) e Bobbio parece que não 
estabelece posição nesse trecho, apenas estabelece que uma das principais fontes de 
justificação foi a religiosa e que Gandhi tomou partido dela.141 
 
Matías classifica a Desobediência Civil para Bobbio como comissiva nos 
seguintes termos: “es una acción comisiva, ya que busca realizar algo que se encuentra por 
fuera de la ley con el fin de hacer manifiesta la protesta contra aquella”.142 Entretanto, não é 
essa a definição de comissivo dada por Bobbio nas tipologias que trabalha em “o terceiro 
ausente”. Em verdade a busca de realizar algo que se encontra fora da lei poderia ser tanto 
fazendo o que ela proibe ou não fazendoo que é comandado. 
 
Feitas tais considerações, parece mais acertado, estabelecer que, para Bobbio, ela 
não seria necessariamente passiva (como em certos casos de discriminação racial) e não 
necessariamente parcial (como no caso de Gandhi) e que ela poderia ser caracterizada como 
omissiva pela leitura de seu texto intitulado “desobediência civil” em seu livro “o terceiro 
ausente”.143 Isso é reforçado com sua constantação de que esta seria uma forma de resistência 
pacífica e por sua observação de que “(note-se que a passagem da ação não violenta para a 
ação violenta coincide muitas vezes com a passagem da ação omissiva para a ação 
comissiva)”.144 
 
140 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e 
Valdemar Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p. 
106/107. 
141 Ibdem, p.108. 
142 ILIVITZKY, Matías Esteban. La desobediencia civil: aportes desde Bobbio, Habermas y 
Arendt. CONfines relacion. internaci. ciencia política, Monterrey , v. 7, n. 13, p. 15-47, mayo 2011, p.21. 
Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002> 
Acessado em 22 de Abril de 2020. 
143 BOBBIO, Norberto, Op. Cit., p.104. 
144 Ibdem, 103. 
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002
 36 
 
O texto intitulado “Desobediência Civil” presente em seu “dicionário de política” 
é idêntico ao seu texto sobre desobediência civil em “o terceiro ausente”, sendo que seu texto 
“A resistência a opressão hoje” não apresenta maiores esclarecimentos sobre essas questões, 
sendo um texto que pretende analisar a resistência num âmbito mais geral e não a 
desobediência civil em particular (tratando dela muito rapidamente em sua parte final).145 
 
Por derradeiro, têm-se que mencionar as tipologias que Bobbio usa para enquadrar 
as demais formas de resistência, são elas: a) Omissiva ou comissiva (“não fazer o que é 
mandado (...) ou em fazer aquilo que é proibido”146); b) individual e coletiva; c) Clandestina 
ou pública (“seja preparada e realizada em segredo, (...) ou, então, anunciada antes da 
execução”147); d) pacífica ou violenta (“realizada através de meios não violentos (...) ou com 
armas próprias ou impróprias”148); e) parcial ou total (“voltada para a mudança de uma 
norma ou de um grupo de normas ou até do ordenamento inteiro”149); f) Passiva ou ativa 
(“passiva aquela que se dirige as partes perceptivas da lei e não a parte punitiva(...) ativa, 
aquela que se dirige simultaneamente à parte perceptiva e à parte punitiva da lei”150). 
 
1.2.3 JONH RAWLS E A DESOBEDIÊNCIA EM UMA SOCIEDADE QUASE JUSTA 
 
Retomando temas de teoria da justiça na contemporraneidade tem-se Jonh Rawls 
(1921-2002). O autor escreveu “A Theory of Justice”151. Primeiramente, é importante ter em 
mente que o autor somente concebe a desobediência em um Estado em que haja um sistema 
democrático de governo, que seja quase justo e que haja uma constituição a qual os cidadãos a 
aceitam e consideram legitima.152 
 
 
145 BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos, Tradução: Carlos Nelson Coutinho, apresentação de Celso Lafer, 
nova ed., Rio de Janeiro, Editora Elsevier, 7ª reimpressão, 2004, p.66/67. 
146 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e 
Valdemar Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p.102-
104. 
147 Ibdem, p.102-104. 
148 Ibdem, p.102-104. 
149 Ibdem, p.102-104. 
150 Ibdem, p.102-104. 
151 GARGARELLA, Roberto As Teorias da Justiça depois de Rawls: Um breve manual de filosofia política. 
Tradução: Alonso Reis Freire,WMF Martins Fontes, São Paulo, 2008, p.1. 
152 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.98. 
 37 
Desse modo, "deve-se salientar que o autor trabalhará com a desobediência 
apenas no âmbito de um Estado democrático, mais ou menos justo, no qual os cidadãos 
reconhecem e aceitam a legitimidade da Constituição".153 Porém, em tal sociedade haveria 
sérios ataques aos princípios de justiça.154 
 
Em caráter primário, deve-se apontar alguns conceitos da teoria política do autor 
que facilitará o entendimento de sua doutrina da desobediência. Em “A Theory of Justice”, 
menciona-se um contrato hipotético (ou acordo hipotético) que é realizado com os indivíduos 
em uma condição originária que o autor denomina de "posição original". Rawls refere-se, 
portanto, a um acordo que seria firmado sobre certas condições ideais e seu objetivo seria 
definir os princípios básicos de justiça.155 
 
Os procedimentos adotados para escolher os princípios básicos da justiça nessa 
posição inicial levariam a tese de Rawls de "justiça como equidade".156 Segundo ele, os 
princípios de justiça imparciais partiriam da escolha de indivíduos "livres, racionais e 
interessadas em si mesmas (não invejosas), colocadas em uma posição de igualdade"157 que 
estariam sob o denominado "véu da ignorância".158 O indivíduo não saberia qual sua posição 
social e todas as suas outras características pessoais e econômicas e de religião, porém teria 
conhecimentos gerais sobre a sociedade humana para poder fazer suas escolhas.159 
 
Dessa "Posição Inicial", que é puramente hipotética, Rawls trará dois princípios 
da justiça em sua obra, o primeiro sendo o princípio da liberdade, que consiste em dizer que 
todos os indivíduos devem possuir um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades 
básicas no maior grau possível e que deve ser compatível com o sistema de liberdades básicas 
de todos.160 
 
Além disso, uma liberdade somente poderá ser restringida se com isso o sistema 
de liberdades instituído para todos se fortalecer ou a desigualdade de liberdades for aceita por 
 
153 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.98. 
154 Ibdem,p.102. 
155 GARGARELLA, Roberto As Teorias da Justiça depois de Rawls: Um breve manual de filosofia política. 
Tradução: Alonso Reis Freire,WMF Martins Fontes, São Paulo, 2008, p.14-15 e 20-21. 
156 Ibdem, p.20. 
157 Ibdem, p.20. 
158 Ibdem, p.21. 
159 TOMÉ, Julio. Op. Cit., p.24-25. 
160 Ibdem, p.27. 
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quem teria uma liberdade menor. Por derradeiro, esse princípio esta hierarquicamente superior 
ao segundo, prevalecendo em todos os casos, não importando quais sejam.161 
 
Importante que se diga que Rawls não trata da "liberdade" propriamente dita, mas 
de "liberdades básicas".162 Em verdade, ele parte diretamente para uma análise de exposição 
de quais seriam tais liberdades que os indivíduos teriam acesso163. Deixa-se subentendido que, 
ao dizer que todos os indivíduos devem ter um sistema de liberdades básicas, Rawls busca 
demonstrar que há certos direitos e liberdades que devem estar hierarquicamente superiores 
do que outros direitos e liberdades.164 
 
 Não entrando no mérito do porque em sua construção lexical o autor estabelece 
que todos indivíduos teriam direitos iguais a um "sistema de liberdades básicas", embora 
pode-se dizer que faz isso com intuito de deixar claro que não há hierarquia entre esses 
princípios básicos, que parte de um posição de relativa neutralidade (a "posição inicial") e 
para marcar diferenciação entre sua teoria e doutrinas

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