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Etnobiologia, Etnoecologia e Etnoconservação Arte: Amol Pawar Conhecimento das populações humanas sobre os recursos e ecossistemas dos quais dependem Conhecimento (ecológico) local (LEK), tradicional (TEK), nativo, etnoconhecimento Etnobiologia Etnotaxonomia Etnoecologia Etnobotânica Etnozoologia Por que estudar “etnocoisas?” Comunidades X Pesquisadores Maior reconhecimento Reforça valores culturais Maior participação no manejo Facilita diálogo Novas informações biológicas Sistemas de manejo de recursos mais eficientes Aceitação das regras de manejo Facilita diálogo ETNOTAXONOMIA Cl as si fic aç ão h ie rá rq ui ca d os or ga ni sm os Classificação e nomenclatura dos organismos pelos seres humanos Princípios gerais de etnotaxonomia (Berlin 1992): observados em diversas sociedades tradicionais Variedade Reino Forma de vida Intermediário Genérico Espécie: etnoespécie Exemplos A Garoupa São Tomé (Epinephelus morio) Nível Nomenclatura Reino Peixes Forma de Vida Peixes de Pedra Genérico Garoupa Etnoespécie Garoupa verdadeira Garoupa São Tomé Variedade ? Classificando golfinhos Tibau.do.Sul Pipa Baia.Formosa C ita tio ns (% ) 0 20 40 60 80 10 0 Mammal Mammal-fish Not a mammal Not a fish Fish Dark flesh Comparison w/ aquatic mammal Does not know Manzan & Lopes, 2015 Enchova (Ilha de Búzios, SP) = Pomatomus saltatrix Lambaris/Piabas (Rio Piracicaba, SP) = Astyanax bimaculatus, A. schubarti, Moenkhausia intermedia ETriportheus signatus) 1) Correspondência de 1 X 1 = levantamentos de biodiversidade 2) Superdiferenciação: mesma espécie com mais de um nome = aspectos ecológicos ou biológicos (e.g., fases de desenvolvimento) 3) Subdiferenciação: mais de uma espécie com mesmo nome = menor valor econômico Jaguareçá, olho de cão, vermelho, sambalo, arara (Baía de Ilha Grande) Etnoespécie x Espécie Biológica Begossi e Figueiredo (1995) à Pescadores da Ilha de Búzios Utilidade e Saliência Badejo mira (Mycteroperca acutirostris) Badejo agua-fria (Mycteroperca interstitialis) Alto valor de mercado ou utilidade (danos, remédio, etc) Begossi e Figueiredo (1995) à Pescadores da Ilha de Búzios Utilidade e Saliência Destaque visual Bodião batata (Bodianus rufus) Bodião fogueira (Bodianus pulchellus) Foto: Michiel van Nimwegen Matsés da Amazônia peruana e Pithecia monachus Fleck et al. 1999 • Matsés: duas etnoespécies – nova espécie? • Entrevistas com os indígenas • Coleta de material genético – Caçadores – Exemplos das duas etnoespécies • Mesma espécies – Superdiferenciação • Jovens x Adultos Fleck et al. 1999 O que explica o detalhamento? Ø Organismos de utilidade ou relevância – classificação detalhada: importância comercial ou medicinal, perigo, pragas, etc. Ø Ordem no caos? Agricultores e pescadores podem exibir classificações x caçadores-coletores: sedentarismo X nomadismo Ø Utilitaristas X Mentalistas: SALIÊNCIA, um pouco dos dois. Foto: Lalo de Almeida Índios Tzetzal (México): classificam em maior detalhe as lagartas do que a borboletas adultas Lagartas podem ser comestíveis, atacam plantações, são perigosas, etc. Variedade maior Classificação mais detalhada Hunn 1982 PB, Fernando de Noronha, RN (menos Natal) Natal Ferreira-Araújo et al. 2021. Aize matters… Ethnobiology and Conservation Fonte: Hilneth Correa Juvenis! Fonte: Hilneth Correa Ferreira-Araújo et al. 2021. Aize matters… Ethnobiology and Conservation Etnotaxonomia de peixes Begossi et al. (2008) à 24 espécies de peixes na costa e na Amazônia Classificação pode seguir critérios morfológicos, ecológicos, comportamentais ou utilitários: não mutuamente exclusivos Carangídeos Mugilídeos Budiões Sargentos Serranídeos Costa ØMaior número de genéricos (corvina) do que Amazônia (tucunaré-açu) ØMenor diversidade de contato? ØAgrupamento em parentes e primos (ecologia, comportamento, morfologia) Agrupamentos na costa à critérios ecológicos Ø27 etnogêneros e 54 binomiais (geral) Ø19 gêneros científicos à 20 etnogêneros (concordante) Ø49 etnoespécies à 24 espécies (mesma espécie com múltiplos nomes - aracu flamengo e listrado) ØDevido à presença de apenas 3 ordens? (caraciformes, siluriformes, gimnotiformes) ØAgrupamento em parentes e primos (ecologia, comportamento, morfologia) ØRepresentam famílias taxonômicas ou sub-famílias de Serrasalmidae Amazônia Agrupamentos na Amazônia Agrupamentos na Amazôniaà critérios ecológicos Ordens de baixa diferenciação morfológica Maior contato com a natureza Hipótese de Brown (1984) Número de nomes genéricos mencionados positivamente relacionado ao número de pescadores que não conheceram a espécie de peixe Quantidade de nomes mencionados não está necessariamente relacionada ao conhecimento! Begossi et al. 2008 Uma base cognitiva comum? • Reconheceríamos espécies independente do contexto cultural e ecológico? • Aspectos cognitivos comuns aos seres humanos Ø Geometria entre os Mundurukú (Dehaene et al. 2006) Ø Teste de conceitos básicos de geometria Ø Localização espacial a partir de conceitos geométricos Ø Hipótese: Possuíram um padrão intrínseco de padrões geométricos Figuras Geométricas Figuras Simétricas Propriedades Métricas Transformações Geométricas Teste do mapa: tinham que localizar objeto escondido identificado em um mapa Acerto em média de 71%, maior que o esperado ao acaso (33,3%) Comparando com americanos.... Conhecimento universal de geometria no cerébro humano! Conhecimento humano acerca das relações ecológicas e comportamento de recursos naturais vivos Etnoecologia Considerações metodológicas Ø Depende da pergunta; Ø Abordagem quantitativa depende de duas perguntas: Ø Quem entrevistar? Ø Quantos entrevistar? Ø Protocolo: Ø Entrevistas iniciais Ø Inclusão no estudo dos membros mais relacionados Ø Uso de fotografias e pranchas Ø Uso de entrevistas ØQuantitativa à pouco aprofundada? ØQualitativo ØQuestões abertas ØInformantes chaves ØCritérios ØBola de neve ØVerificação: ØSincrônica ØDiacrônica ØPerguntas não relacionadas Etnoecologia e crianças Snaddon & Turner (2007) Foto: ecowalkthetalk Etnoecologia e crianças ØPopularidade artrópodes entre crianças do UK ØPopularidade no Google e Web of Science, abundância nos jardins ØInsetos ameaçados ou abundantes não são reconhecidos = risco de extinção !! ØPouco divulgados na mídia e pouco estudados! ØCorrelação entre Google e Web of Science ØSem correlação com abundância no ambiente ou status de conservação. Po rc en ta ge m d o to ta l d e im ag en s Meninos Meninas Borboletas Joaninha Besouro Aranha Formigas Libélula Abelha Lagartas Vespas Centopéias Outros Snaddon & Turner (2007) • Entrevistas rápidas • Facilitam manejo em áreas com poucos dados • Informação média pelos pescadores Fonte: dreamstime.com Fonte: https://www.gettyimages.no/detail/video/middle- aged-fisherman-holding-up-three-fish-exaggerating-stock- footage/551-121 Entrevistas são sempre confiáveis? Jones et al. 2008. J. of Applied Ecology 45: 1205-1212 Conhecimento Tradicional e Caranguejos ØAlves et al. (2005) ØConhecimento local e uso de recursos (Ucides cordatus, Decapoda) ØEstuário do rio Mamanguape ØSeleção de indivíduos baseados no sexo e no tamanho (trilha e tamanho do buraco) ØAcerto em 72.5% das vezes ØMaior dificuldade para identificar fêmeas Foto: Sandra Leandro Foto retirada do site da ABI (autor não encontrado) Huntington et al. (2004) Aliando conhecimentos Aliando conhecimentos ØBaleias belugas à recursos para Iñupiat ØMovimentação sobre baleia dentro da baía a partir de junho (local) ØTelemetria fora da baía ØEstabelecimento do padrão de migração ØIñupiatà riscos de instalação de usina de carvão ØCientistas à estoques de beluga e exploração de petróleo na costa da Rússia ØQuadro do padrão de migração e esforços de conservação Huntington et al. (2004) Pescadores e modelagem de nicho Dados científicosDados etnobiológicos (71-91% sobrepos.) Lopes et al. 2019. Can. J. Fish. Aquat. Sci. Aliando conhecimentos Ø Pato do Mar (scoter) Ø Cientistas: padrão de migração por telemetria Ø Esquimós: alerta sobre diminuição de estoques de peixe ØDepleção e migração àdiminuição de estoque de peixe para alimentação Ø Padrão de migração relacionado à diminuição do estoque Huntington et al. (2004) Aliando conhecimentos: desvendando o Mekong Valbo-Jorgensen e Poulsen (2000) Foto extraída de Abercrombie e Kent Aliando conhecimentos Ø 1200 espécies de peixes, maior parte não estudada Ø Amostragem em 113 vilas (fotografias, grupo, individual) Ø Taxonomia de 174 espécies, padrão migratório e dados de reprodução de 50 spp Valbo-Jorgensen e Poulsen (2000) ØRotas de migração, influência de ciclos lunares ØDados de reprodução e desovaà estabelecimento de origem de populações Ø2 períodos de migração: ØMaio a junho à desova quando a água está subindo ØOutubro a dezembro à descida da água, refúgio da seca ØMigrações laterais Migração de Botia rabo vermelho (Botia modesta) Relação entre hidrologia e migração de peixes Descarga média do Mekong No. de migrações relatadas Ø4 vilas em SP, 3 na Bahia à época de ocorrência, local de moradia, reprodução e padrão de migração de 13 espécies (Silvano et al. 2007) ØSabem reprodução de estuarinos, mas não de pelágicos ØConcondância conhecimento popular e literatura sobre reprodução ØConceito distinto de migração ØCalendário de reprodução coincide com migração Padrão espacial e temporal de reprodução dos peixes costeiros. No. são % de pescadores que mencionaram cada dado Tempo e local de desova Espécie de Peixe Cspp Cpar Cjam Emar Eall Lsyn Mfur Mpl Mac Psal Sbra Slal Tlep Não sabe onde 48 21 65 40 55 39 24 15 39 52 42 66 41 Recifes 10 3 31 18 2 37 6 3 3 Beira de recife 1 8 14 5 10 3 Rios (estuário) 43 3 6 2 Não sabe quando 6 28 65 54 41 39 10 13 54 54 34 63 31 Verão 9 1 9 12 34 3 21 6 7 2 2 5 14 Inverno 4 6 4 4 13 10 8 6 8 8 5 10 Ano todo 3 3 4 4 7 14 4 7 3 24 No. Total de Entrevistados 67 67 23 52 29 38 29 52 67 52 38 38 29 Aliando conhecimentos: costa do Brasil ØMuitas dúvidas sobre reprodução: ØPerda de conhecimento em função da urbanização? ØReprodução localizada no tempo e no espaço? ØPeixes são escassos agora? Alguns peixes jamais foram vistos com ova ØAlgumas informações divergentes: reprodução da tainha Etnoictiologia dos pescadores da costa brasileira Diet data Bevilacqua et al. 2016. More than anecdotes…. Plos One Diet data Bevilacqua et al. 2016. More than anecdotes…. Plos One Mudança da base de comparação • A garoupa do Golfo (Mycteroperca jordani) • Manejada em um grupo de garoupas – Aumento da captura recomendado em 5% • Maturidade: 6-7 anos • Colapso: antes de 1970 Foto: The daily star Ca pt ur a do g ru po de 1 6 es pé ci es a pa rt ir da s q ua is se re co m en da a co ta de c ap tu ra Ca pt ur a de sa gr eg ad a da ga ro up a do G ol fo � Entrevistas (n=108): ◦ Jovens (15-30 anos) ◦ Menos jovens (31-54) ◦ Velhos (>55) Número de garoupas no melhor dia de captura Tamanho da maior garoupa pega Bender et al. 2014. LEK and Scientific data reveal overexploitation… PLOS One: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0110332 Bender et al. 2014. LEK and Scientific data reveal overexploitation… PLOS One: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0110332 Source: dreamstime.com Source: https://www.gettyimages.no/detail/video/middle-aged-fisherman-holding- up-three-fish-exaggerating-stock-footage/551-121 Etnoconservação: conhecimento local e manejo de recursos A caça da Baleia da Groenlândia (Balaena mysticetus) (Johannes 2000) ØEsquimós discordaram: ØBaleias não se restringem aos locais livres de gelo ØCientistas não observavam o período completo de migração ØBaleias se alimentam durante a migração ØBaleias respiram bolsas de ar abaixo do gelo Ø3 ondas de migração ØCo-manejo “Nós gastamos 14 anos de pesquisa e muitos, muito milhões de dólares para determinar se ele (um esquimó mais velho) estava ou não certo, e ele estava certo o tempo todo”. Ø1977 à Comissão Internacional de Baleias: declínio, algo entre 600 e 1200 ØEsquimós removiam 70/ano O problema da Beluga no Canadá ØBiólogos à população de belugas de 500 indivíduos ØInuit à caça de 100 baleias/ano ØSubstituição constante das baleias durante a migração ØDistinguiam novos imigrantes pela pele, modo de nadar e mergulhar Ø500 baleias em 1990, 400 em 1986, apesar da retirada anual de 100 por 4 anos ØTelemetria mostrou que esquimós estavam certos: ØAlgumas belugas mudam-se ao longo do verão no ártico em alta velocidade. (Johannes 2000) Manzan & Lopes 2016. Ocean & Coastal Management Interações positivas com golfinhos O viés da informação • Pescadores e leões marinhos em Florianópolis A contagem do pirarucu na Amazônia ØDemanda científica ØManejo do pirarucu é anterior à reserva ØPirarucu à 40% de tudo que é pescado, atividade econômica mais importante ØRespiração fora d’água (5-15 min), 3m, 200kg, área de vida restrita à extinção local ØAté 1998 à tentativas fracassadas de controlar a pesca ØJarauá à organização comunitária, experiência na contagem Castello 2008 Foto: Lalo de Almeida ØPadronização do método ØCensos populacionais ØPescadores experientes Ø1999 à correlação marcação recaptura: 98% ØMétodo transmissível Ø200 x mais barato e rápido Ø2002 à evidências de aumento de 480% em relação a 1999 Castello 2008 Uso, conhecimento tradicional e conservação à Pode funcionar Foto: Lalo de Almeida Quando tudo parece perfeito… N o. o f i nd iv id ua ls co un te d N o. of habitats Year Juvenile pirarucu Adult pirarucu No. of habitats Contagem regular (pescadores) = 1681 X Contagem auditada (pescadores externos)=876 Foto: Hugo C. M. Costa Boas ideias se espalham Amazônia afora Lagos e Manejo Comunitário 7.5 a 14 anos para se recuperar após o manejo comunitárioMédia de indivíduos 305 34 9.2 Protegido + Subsistência Acesso Livre Manejado Subsistência Acesso Livre Campos-Silva et al. 2017. Scientific Reports Photo: Camila Ferrara Photo: Camila Ferrara Photo: Luiz Baptista Com resultados inesperados Podocnemis expansa Cam pos-Silva et al. 2018. N ature Sustainability Foto: David Smith (Pescador Hoi An) Obrigada!
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