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3/3/2020 O que é a razão Instrumental? – Filosofonet
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Filosofonet
O que é a razão Instrumental?
PUBLICADO EM 16/04/200922/05/2017 por Michel Aires de Souza
Por Michel Aires de Souza 
(h�ps://filosofonet.files.wordpress.com/2009/04/arteincom
um-photoshpo-e-cl-ssicos.jpg)A faculdade subjetiva do
pensar é a razão, ou seja, é a faculdade que julga, discerne,
compara, relaciona, calcula, ordena e coordena os meios
com os fins. Essa faculdade tornou-se em sua evolução
um instrumento formal. A razão não é apenas a faculdade
interior do homem, mas ela se personificou nos próprios
objetos deste mundo. A razão tornou-se racionalidade. Ela
está presente no aparelho produtivo, no aparelho
tecnológico e cientifico, nas instituições políticas, no
hospital, na escola, no trânsito e na mídia. Em todos os
empreendimentos humanos há a relação calculada entre
meios e fins. A operação, a coordenação, a ordem, o
sistema, o cálculo, a busca da unidade define a
racionalidadade em sua eficácia. 
 O primeiro pensador que desvelou o fenômeno da
racionalidade no mundo ocidental foi Max Weber. Weber em seu livro “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”, publicado em 1905, diagnosticou que a característica fundamental
específica da sociedade ocidental é a racionalização. Ele entende a racionalização como uma
“regularização da ação humana” na busca de certos fins específico. Em seus estudos, ele percebeu
que no ocidente ocorreram fenômenos culturais dotados de “desenvolvimento universal” em seu
valor e significado. Por exemplo, a ideia de um estado racionalmente organizado como uma entidade
política, com uma constituição racionalmente redigida, um direito racionalmente ordenado, uma
administração orientada por regras racionais e com funcionários especializados somente existiu no
ocidente. Da mesma forma, a apropriação capitalista racionalmente efetuada e calculada em termos
de capital. Tudo sendo feito em termos de balanço, onde a ação individual das partes, baseada no
cálculo, só existiu no ocidente. O que weber faz “é postular como racional toda a ação que se baseia
no cálculo, na adequação de meios e fins, procurando obter com um mínimo de dispêndios um
máximo de efeitos desejados, evitando-se ou minimizando-se todos os efeitos colaterais indesejados”.
(FREITAG, 1994, p.90). 
 Para Weber o conceito de “racionalização” se desenvolveu principalmente pelas ciências
ocidentais em suas possibilidades técnicas. “Essa racionalização intelectualista (…) devemos à ciência
e à técnica-científica” (Weber, 1993, p.30). O desenvolvimento de uma ciência racional fundamentada
em princípios racionais e no método científico é um produto do ocidente. A astronomia
fundamentada matematicamente; a geometria demonstrada através da prova racional; as ciências
naturais fundamentada na observação e no método experimental; a medicina desenvolvida
empiricamente com fundamentos biológicos e bioquímicos é uma descoberta da cultura ocidental. 
Esse processo de racionalização das ciências atingiu todas as esferas da vida social e tornou o
“mundo desencantado”. Tudo o que existe poderia ser explicado pelo conhecimento racional. O
mundo deixou de ser misterioso. 
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 Apesar de a racionalização ter começado com as ciências, foi somente com os protestantes que ela
adquiriu valor e significado. Foi graças à ética protestante que a racionalidade tornou-se universal,
impulsionando o capitalismo. Com os protestantes o capitalismo ganhou consistência, assumiu
formas e direções. Foi com o protestantismo que surgiu a organização capitalista assentada no
trabalho livre. 
 Os membros da escola de Frankfurt também fizeram uso, em larga medida, do conceito de
racionalidade na teoria crítica da civilização. Pode-se dizer que o objetivo primordial da Escola de
Frankfurt é fazer uma crítica radical à racionalidade técnica do ocidente, que tem desencantado o
mundo. 
 No seu livro “Eclipse da Razão”, publicado em 1947, Horkheimer define mais amplamente o
conceito racionalidade instrumental. Ele distingue duas formas de razão: a razão subjetiva (interior)
e razão objetiva (exterior). 
 A razão subjetiva (instrumental) é a faculdade que torna possível as nossas ações. É a faculdade
de classificação, inferência e dedução, ou seja, é a faculdade que possibilita o “funcionamento abstrato
do mecanismo de pensamento”. (Horkheimer, 1974, p. 11). Essa razão se relaciona com os meios e
fins. Ela é neutra, formal, abstrata e lógico-matemática. “A razão subjetiva se revela como a
capacidade de calcular probabilidades e desse modo coordenar os meios corretos com um fim
determinado” (Horkheimer, 1974, p. 13).
 Por sua vez, a razão objetiva (Logos), conhecida desde a época clássica da história da Grécia, era
considerada o principal conceito da filosofia. A razão não é somente uma faculdade mental, mas é
também do mundo objetivo. Existe uma ordem, uma harmonia por trás do mundo, uma
racionalidade objetiva. A razão se manifesta nas relações entre os seres humanos, na organização da
sociedade, em suas instituições, na natureza e no cosmo. As teorias de Platão, Aristóteles, o
escolaticismo e o idealismo alemão se fundamentam sobre uma teoria objetiva da razão. 
 Durante a evolução do conhecimento a faculdade subjetiva do pensar foi tomando o lugar da
razão objetiva. A faculdade subjetiva de pensar foi o instrumento crítico que dissolveu os conceitos
da mitologia e da filosofia (razão objetiva) como mera superstição. A luta da razão subjetiva contra a
mitologia e a filosofia, ao denunciá-las como falsa objetividade, teve que usar conceitos que
reconheceu como válidos, como a lógica formal e a matemática. O resultado disso foi que nenhuma
realidade particular pode ser vista como racional. A razão na busca de uma objetividade cada vez
maior se formalizou. Em sua formalização a razão foi transformando o pensamento em um simples
instrumento. 
 O livro “Dialética do Esclarecimento”, publicado em 1947, escrita a quatro mãos por Adorno e
Horkheimer, também mostra-nos como a razão emancipatória objetiva se converteu em razão
instrumental subjetiva. O objetivo deste livro foi o de investigar a autodestruição da razão. Por que a
humanidade através do progresso técnico e científico não alcançou sua maioridade e sim sucumbiu a
um estado de barbárie? Sua tese principal nos revela o lado oculto do esclarecimento, sua história
subterrânea. Para adorno e Horkheimer a razão não atingiu seu fim, pois a razão é em sua própria
essência um mito: “O mito é esclarecimento, e o esclarecimento acaba por converter-se em mito”. 
Esses pensadores analisaram o conceito de razão em seu desdobramento dialético, que em sua
evolução buscava se emancipar da mitologia e da metafísica conduzindo a sua autonomia e a sua
autodeterminação. Contudo, essa razão onipotente, dominadora da natureza, emancipatória, que
buscava submeter à natureza e a sociedade à objetividade da razão não atingiu seu fim. A razão se
transformou em mera abstração, mero instrumento formal. “Razão significa triunfo da máquina, do
trabalho, da natureza útil e grátis, razão mistificada que se realiza como razão instrumental, pela
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qual a natureza, o útil-grátis, é espoliado pela máquina e pelo trabalho. Mistificada porque é o lado
abstrato da regularidade, da disciplina do trabalho legitimador dessa prática de pilhagem – prática
do trabalho para o capital, da exploração dos homenspara o capital”. (Matos, 1989, 130).
 A grande conseqüência da racionalidade instrumental foi à perda da autonomia do indivíduo.
A racionalidade técnica eliminou qualquer tentativa de ruptura. O aparato produtivo e as
mercadorias se impõem ao sistema social como um todo. Os consumidores dos produtos e das
formas de bem estar social tornaram-se prisioneiros do capital. Adorno e Horkheimer detectaram
uma civilização que chegou a uma dialética sem síntese. Nós vivemos na eterna contradição entre
produtividade e destruição, dominação e progresso, prazer e infelicidade. Não houve a síntese
libertadora de uma sociedade livre e feliz. 
 Bibliografía 
 ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de janeiro: Jorge
Zarhar, 1986. 
 
FREITAG, Bárbara. A teoria crítica: ontem e hoje, São Paulo: Brasiliense, 1994
HORKHEIMER, Max. Eclipse da Razão. Rio de janeiro: Labor do Brasil, 1976.
 
JAY, M. L’imagination Dialetique, Paris, Payot, 1977
 
MATOS, Olgária C.F. Os arcanos do inteiramente outro: A escola de Frankfurt, a melancolia e a
revolução. São Paulo: Brasiliense, 1989
 
 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967 
CATEGORIAS FILOSOFIA
13 comentários em “O que é a razão Instrumental?”
1. Giancarlo disse:
15/10/2009 às 16:39
Muito bom Michel!
Ajudou muito na minha compreensão da racionalidade, a qual necessitei para o entendimento da
teoria de Habermas.
Obrigado!
RESPONDER
1. Izabela disse:
17/10/2010 às 0:31
https://filosofonet.wordpress.com/category/filosofia/
http://gmarelli.blogspot.com/
https://filosofonet.wordpress.com/2009/04/16/627/?replytocom=121#respond
eleane.araujo
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Também estou estudando Habermas e compreendi melhor a racionalidade depois que seu
texto. Muito bom.
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2. Alberto Soares disse:
20/03/2011 às 11:34
Ótimo texto ajuda-nos a pensar em que bases esta assentada a nossa sociedade.
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3. oskar disse:
29/10/2011 às 2:15
Obrigado companheiro!
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4. joyce emilly filosofica disse:
11/02/2012 às 16:17
parabens pelo texto gostei d +gora ficou facil entender o racionalinmo
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5. Kelly Freitas disse:
13/03/2012 às 22:34
o blog está muito bom.
mas, faço uma ressalva o fundo preto atrapalha muito a leitura..
RESPONDER
6. João Leão disse:
16/07/2012 às 1:47
Muito bom artigo, parabéns pelo blog.
RESPONDER
7. Naiara disse:
18/09/2012 às 13:28
Ola Michel!
Voce e muito bom mesmo.
Me ajudou de mais.
Valeu.
A� Naiara
RESPONDER
8. liliane disse:
10/04/2013 às 19:53
Esse seu texto faz parte de algum artigo seu? Gostaria de citá-lo em meu trabalho, mas não sei se
há essa possibilidade e como construiria a citação.
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9. Miriã disse:
07/12/2014 às 13:51
POxa, muito bom, mas ainda continuo com uma dificuldade imensa pra entender racionalização,
razão instrumental na visão de Weber, Lukacs, Habermas, mas o problema todo é entender
racionalização.
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10. Pingback: RAZÃO INSTRUMENTAL: DA ASCENÇÃO CIENTIFICISTA À BARBÁRIE
GENERALIZADA | Portfolio Matheus Carneiro
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3/3/2020 O que é a razão Instrumental? – Filosofonet
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11. rufina rosa disse:
29/03/2015 às 20:25
achei esse texto um espetáculo,me ajudou bastante na produção do meu texto.
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12. vitoria andrade disse:
27/06/2018 às 3:34
adorei o texto! tava com muita duvida sobre o assunto e conseguiu me esclarecer muita coisa
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