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2019 1a Edição ElEmEntos dE máquina i Profa. Vanessa Moura de Souza Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof a. Vanessa Moura de Souza Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: SO729e Souza, Vanessa Moura de Elementos de máquina I. / Vanessa Moura de Souza. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 215 p.; il. ISBN 978-85-515-0293-8 1. Elementos de máquina. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 620 III aprEsEntação Caro acadêmico, neste momento, você está iniciando o estudo da disciplina de Elementos de Máquina I. A disciplina tem como objetivo construir conhecimentos gerais teóricos e aplicados de elementos de máquinas em sua totalidade, bem como associar a interdisciplinaridade, importância e aplicação em outras áreas da engenharia. Seja bem-vindo! Eu sou a professora Vanessa Moura de Souza, engenheira mecânica, Mestre em Engenharia com ênfase em processos de fabricação, Especialista em Educação para Engenharia, cursando doutorado e lecionando há quase quatro anos. É com grande satisfação que escrevo este livro de estudos para que você, caro acadêmico, aproxime-se desta disciplina e perceba o quanto o seu estudo é indispensável na nova geração de fabricação de produtos, construção de prédios, máquinas e equipamentos, focando em escolhas inteligentes, otimizadas e éticas. Minha meta, como professora de Mecânica, é, através deste livro de estudos, despertar seu interesse pela disciplina, pela pesquisa científica, preparando-o para uma formação profissional promissora e concreta. A Engenharia Mecânica é a ciência que aplica os princípios da engenharia, física e ciência dos materiais para a concepção, análise, fabricação e manutenção de sistemas mecânicos, sendo uma das mais antigas e amplas engenharias. Envolve a concepção, produção e operação de máquinas e ferramentas. A engenharia requer uma compreensão dos conceitos básicos, incluindo cinemática, termodinâmica, ciência dos materiais, análise estrutural, eletricidade e elementos de máquina. Engenheiros mecânicos usam princípios fundamentais e ferramentas, como engenharia auxiliada por computador e gestão do ciclo de vida do produto, para projetar e analisar fábricas, equipamentos e máquinas industriais, sistemas de aquecimento, refrigeração, transporte, aeronaves, embarcações, robótica, dispositivos médicos etc. Enfim, o engenheiro, no geral, é responsável por desenvolver, projetar, construir e gerir a manutenção de sistemas. Assim, a disciplina é muito importante. Enfim, com o intuito de iniciarmos o conhecimento básico de Elementos de Máquina, este livro será dividido em três unidades. Na Unidade 1, estudaremos os conceitos básicos que norteiam os projetos em engenharia. Primeiramente, faremos um estudo sobre as definições de projeto, suas etapas, fases e objetivos e as características de um profissional que faz gestão de um projeto. Ainda, veremos as tecnologias disponíveis para aprimorarmos e otimizarmos os produtos e máquinas desenvolvidos ao longo da carreira como engenheiros, a ética, responsabilidades profissionais e suas principais entidades representantes. IV Estudaremos também os padrões, códigos, confiabilidade, assim como dimensões e tolerância. É importante que os conceitos estejam fixados, pois a precisão e o dimensionamento de bons produtos começam com um bom planejamento de projeto. Na Unidade 2 conheceremos as cargas e tensões presentes nos elementos. A unidade mostrará as características e o comportamento dos elementos. Você aprenderá a identificar e a dimensionar as principais forças e tensões exercidas nos elementos de máquina, começando pelas condições geométricas e diferenciação dos conceitos, como flexão, torção e cisalhamento. Por fim, a Unidade 3 contempla os principais elementos de máquina, seus fundamentos, aplicação, dimensionamento e normas de uso. Com o estudo da unidade, você será capaz de projetar peças e máquinas, de entender e interpretar os principais elementos de transmissão e flexíveis, assim como analisar as forças, impactos e especificar o uso de tais elementos. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – PROJETO DE ENGENHARIA .....................................................................................1 TÓPICO 1 – PROJETOS E RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS ........................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 PROJETO DE ENGENHARIA .............................................................................................................4 2.1 FASES E INTERAÇÕES DO PROCESSO DE PROJETO ..............................................................6 2.2 RECURSOS E FERRAMENTAS PARA PROJETO ..................................................................... 10 2.3 RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS DO ENGENHEIRO DE PROJETO ..................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE PROJETOS .............................................. 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 DEFINIÇÕES ......................................................................................................................................... 19 3 ECONOMIA ........................................................................................................................................... 22 4 SEGURANÇA E RESPONSABILIDADEPELO PRODUTO ....................................................... 26 4.1 TENSÃO E RESISTÊNCIA ............................................................................................................ 26 4.2 INCERTEZA ..................................................................................................................................... 28 4.3 FATOR DE PROJETO E SEGURANÇA ....................................................................................... 31 4.4 CONFIABILIDADE ......................................................................................................................... 33 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 35 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 – DIMENSÕES, TOLERÂNCIAS E FALHA POR FADIGA ....................................... 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 TOLERÂNCIAS .................................................................................................................................... 39 3 DIMENSÕES E UNIDADES .............................................................................................................. 42 3.1 CÁLCULOS E ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS ...................................................................... 45 4 FALHA POR FADIGA.......................................................................................................................... 47 5 INTRODUÇÃO À FADIGA EM METAIS ..................................................................................... 49 5.1 ABORDAGEM DA FALHA POR FADIGA EM ANÁLISE E PROJETO .................................. 55 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 61 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 65 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 66 UNIDADE 2 – ANÁLISE DE CARGAS E TENSÕES ....................................................................... 69 TÓPICO 1 – ESTUDO DE TENSÕES .................................................................................................. 71 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71 2 VÍNCULOS ESTRUTURAIS .............................................................................................................. 71 2.1 VÍNCULOS DE PRIMEIRA CLASSE ............................................................................................ 71 2.2 VÍNCULOS DE SEGUNDA CLASSE ........................................................................................... 72 2.3 VÍNCULOS DE TERCEIRA CLASSE ............................................................................................ 72 3 FORÇA AXIAL OU NORMAL F ........................................................................................................ 75 sumário VIII 4 TRAÇÃO E COMPRESSÃO ............................................................................................................... 76 4.1 TRAÇÃO ........................................................................................................................................... 76 4.2 COMPRESSÃO ................................................................................................................................ 77 5 LEI DE HOOKE ..................................................................................................................................... 78 6 MATERIAIS DÚCTEIS E FRÁGEIS ................................................................................................. 80 7 TENSÃO ADMISSÍVEL ..................................................................................................................... 81 8 DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS ................................................................................................. 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 93 TÓPICO 2 – CISALHAMENTO ............................................................................................................ 95 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95 2 DEFINIÇÃO ........................................................................................................................................... 95 3 FORÇA CORTANTE Q ........................................................................................................................ 96 4 TENSÃO NORMAL (σ) E TENSÃO DE CISALHAMENTO (τ) ...............................................100 5 DIMENSIONAMENTO ....................................................................................................................103 6 PRESSÃO DE CONTATO .................................................................................................................103 7 DISTRIBUIÇÃO ABNT NBR 14 ......................................................................................................105 8 CHAVETAS .........................................................................................................................................107 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111 TÓPICO 3 – FLEXÃO E TORÇÃO......................................................................................................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 FLEXÃO SIMPLES E PURA ..............................................................................................................113 3 MÓDULO DE RESISTÊNCIA À FLEXÃO ....................................................................................115 4 TENSÃO NORMAL NA FLEXÃO ...................................................................................................115 5 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO ...............................................................................................118 6 TORÇÃO ..............................................................................................................................................123 6.1 MOMENTO TORÇOR OU TORQUE .........................................................................................124 6.2 POTÊNCIA (P) ...............................................................................................................................126 6.3 TENSÃO DE CISALHAMENTO NA TORÇÃO .......................................................................127 7 DIMENSIONAMENTO DE EIXO-ÁRVORE ................................................................................128 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140UNIDADE 3 – ELEMENTOS MECÂNICOS ....................................................................................141 TÓPICO 1 – ELEMENTOS DE FIXAÇÃO E VEDAÇÃO ..............................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 ELEMENTOS DE FIXAÇÃO ............................................................................................................143 3 ELEMENTOS DE VEDAÇÃO ..........................................................................................................151 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................156 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................157 TÓPICO 2 – ELEMENTOS DE APOIO – MANCAL .......................................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 MANCAIS DE DESLIZAMENTO ...................................................................................................159 3 MANCAIS DE ROLAMENTO .........................................................................................................161 4 DIMENSIONAMENTO DE MANCAIS ........................................................................................163 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................167 IX AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................168 ELEMENTOS DE TRANSMISSÃO ...................................................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 ENGRENAGENS ................................................................................................................................169 2.1 TIPOS DE ENGRENAGENS ........................................................................................................171 2.2 PROCESSOS DE FABRICAÇÃO E MATERIAIS PARA ENGRENAGEM ............................175 2.3 DIMENSIONAMENTO DE ENGRENAGENS ........................................................................177 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................183 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................185 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................186 TÓPICO 4 – ELEMENTOS DE TRANSMISSÃO FLEXÍVEIS .....................................................187 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................187 2 EIXOS ...................................................................................................................................................187 2.1 MATERIAIS DE EIXO ..................................................................................................................187 2.2 REPRESENTAÇÕES ......................................................................................................................189 3 CORREIAS E CORRENTES .............................................................................................................194 3.1 CORREIAS ......................................................................................................................................194 3.2 TRANSMISSÃO POR CORREIAS PLANAS E TRAPEZOIDAIS (EM V) .............................196 3.3 CORRENTES ..................................................................................................................................197 3.4 TIPOS E DEFINIÇÕES ..................................................................................................................198 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................200 TÓPICO 5 – ELEMENTOS ELÁSTICOS E AMORTECEDORES ...............................................201 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................201 2 MOLAS .................................................................................................................................................201 2.1 TIPOS DE MOLA: HELICOIDAIS E PLANAS .........................................................................203 2.2 MATERIAIS DE MOLA ................................................................................................................205 3 AMORTECEDORES ...........................................................................................................................207 3.1 TIPOS: VISCOSO, SECO E ESTRUTURAL ................................................................................207 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................209 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................210 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................213 X 1 UNIDADE 1 PROJETO DE ENGENHARIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de: • identificar as principais etapas e interações de um projeto; • reconhecer e aplicar padrões e códigos; • estudar a segurança e as responsabilidades pelo produto; • diferenciar e realizar cálculos básicos, dimensionamento e tolerâncias. Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades visando à compressão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – PROJETOS E RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS TÓPICO 2 – PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE PROJETOS TÓPICO 3 – DIMENSÕES, TOLERÂNCIAS E FALHA POR FADIGA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PROJETOS E RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS 1 INTRODUÇÃO Olá, caro acadêmico! Iniciaremos o estudo de projetos em engenharia, ou seja, estudaremos suas principais aplicações, interações e fases, assuntos indispensáveis nas engenharias. Se você já trabalha em uma indústria, se tem uma empresa, ou ainda se deseja trabalhar como projetista, precisa saber o que são elementos de máquina, quais suas características, funções e como são utilizados na prática. Com determinado conhecimento, você ficará preparado, por exemplo, para projetar máquinas e equipamentos e corrigir defeitos, efetuando a manutenção. É importante que você saiba os conceitos para cada etapa de um projeto e/ou de um elemento. Então, convido-o a iniciar a jornada de estudo a partir de agora. O projeto mecânico é complexo e exige diversas habilidades e a complexidade do assunto requer uma sequência lógica, com conceitos introduzidos e reiterados. Projeto é um processo repetitivo com muitas fases interativas e existem muitos recursos, como fontes de informações e diversas ferramentas computacionais. O engenheiro precisa desenvolver diversas competências, assim como ter um senso contínuo de responsabilidade e ética (BUDYNAS; NISBETT, 2009). Existem diversas atividades a seremcumpridas por códigos e padrões, segurança, considerações de responsabilidade pelo produto e otimizações, focando nos aspectos econômicos. Dentro dos projetos mecânicos estão os elementos de máquina, que são as peças que compõem uma máquina: molas, correias, parafusos, guias, eixos, amortecedores. Ainda, tais componentes podem ser utilizados para formar mecanismos de acionamento, que também são compostos por elementos de máquina. De acordo com as suas funções ou aplicações, podem ser denominados de elementos de fixação, apoio, transmissão, acoplamentos, vedação, flexíveis etc. Na Unidade 3 abordaremos a fundo cada um dos elementos e suas respectivas classificações. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 4 2 PROJETO DE ENGENHARIA Projetar é formular um plano para atender a uma necessidade específica ou resolver um problema. Se o plano resultar na criação de algo concreto, então o produto deverá ser funcional, seguro, confiável, competitivo, e próprio para ser usado, fabricado e comercializado (BUDYNAS; NISBETT, 2009). Projeto é um processo inovador e repetitivo de tomada de decisões. Decisões que requerem habilidades pessoais como comunicação, criatividade, solução de problemas juntamente com as habilidades técnicas e conhecimentos tecnológicos. Na construção de um produto são necessárias diversas etapas. Contudo, na prática, o ideal (Etapa 1) e o real (Etapa 2) nem sempre são iguais, ou seja, existem diferenças entre o projetado e o construído. Assim, precisamos lidar com as variações entre o ideal e o real e realizar o controle através de ensaios e testes (Etapa 3). Os engenheiros necessitam ter a interdisciplinaridade, dialogar com técnicos de diversas áreas e colocar em prática os conhecimentos obtidos nas mais variadas disciplinas na construção de um projeto. Os conceitos mencionados serão estudados detalhadamente no próximo tópico. FIGURA 1 – CICLO BÁSICO DE UM PROJETO FONTE: A autora Etapa 1. Projeto Etapa 2. Construção Etapa 3. Controle Os problemas reais resistem à separação por categorias: um mancal, por exemplo, envolve fluxo, transferência de calor e massa, atrito, energia, seleção de materiais, tratamentos termomecânicos, cálculos, estatísticas etc. Um edifício é controlado ambientalmente, com considerações relativas ao aquecimento, ar-condicionado, ventilação e são especializadas o suficiente para alguns mencionarem, como projeto de refrigeração, assim como projetos de turbomáquinas e motores, porém, em todos esses casos, são termos que sucedem a palavra projeto para o produto (BUDYNAS; NISBETT, 2009). Todos os exemplos citados são de um projeto específico da engenharia, que faz uso de diversos ramos de conhecimento, organizados de maneira similar e com requisição de habilidades semelhantes, o chamado projeto de engenharia. O objetivo de todo engenheiro é encontrar soluções para problemas técnicos e melhorias para processos já existentes. Por exemplo, no século passado, quando os principais meios de transporte eram carroças e andar a cavalo, uma constante preocupação atormentava os cidadãos: o excremento de cavalo que TÓPICO 1 | PROJETOS E RESPONSABILIDADES 5 estava trazendo pestes e pragas. Como poderiam fazer para reduzir/eliminar aquele resíduo por completo? Foram presenciadas diversas discussões e tentativas até o desenvolvimento dos veículos automotivos, diminuindo, assim, a circulação de cavalos, carroças e, consequentemente, dos excrementos. O exemplo serve para ilustrar a importância de determinadas situações, nas quais deve-se proceder com criatividade e sempre pensando em não apenas eliminar o problema, mas sim exercer uma criticidade a ponto de criar novas soluções e opções. Esse será um profissional de sucesso. E você, acadêmico, já está pensando em novas soluções para o futuro? Pensando em como ser um multiprofissional do futuro, um engenheiro sistêmico? FIGURA 2 – PROFISSIONAL DO FUTURO FONTE: <https://exame.abril.com.br/carreira/como-sera-o-profissional-do-futuro>. Acesso em: 30 jul. 2018. Então, é necessário o conhecimento das ciências naturais e exatas, levando em conta condicionantes materiais, tecnológicas e econômicas, requisitos legais e éticos, e tais soluções precisam atender aos objetivos propostos de ambas as partes, inclusive da sociedade em geral. Após o esclarecimento, os problemas são convertidos em subtarefas concretas que o engenheiro terá pela frente durante o processo de desenvolvimento do produto e da solução. A ação ocorre tanto no trabalho individual quanto no trabalho em equipe, é realizado um desenvolvimento interdisciplinar, levando em consideração diversas áreas e pontos de vista. No momento, o trabalho em grupo é fundamental, pois o desenvolvimento de um projeto envolve diversas áreas. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 6 Na busca da solução e do desenvolvimento de um produto, o projetista, sinônimo para engenheiro de desenvolvimento e engenheiro de projeto, atua em uma posição relevante e responsável. Suas ideias, conhecimentos e talento determinam as características técnicas, econômicas e ecológicas do produto perante o fabricante e o usuário. Desenvolver e projetar são atividades de interesse da engenharia, que (PAHL et al., 2005): • Abrangem quase todos os campos da atividade humana. • Aplicam leis e conhecimentos das ciências naturais. • Adicionalmente se apoiam no conhecimento prático especializado. • São, em grande parte, exercidas sob responsabilidade pessoal. • Criam os pressupostos para a concretização de ideias da solução. 2.1 FASES E INTERAÇÕES DO PROCESSO DE PROJETO Caro acadêmico, você, alguma vez, ouviu falar de processo de projeto? O que é? Como se inicia? Quais fatores influenciam ou não nas tomadas de decisões? Muitos ainda acham que o engenheiro simplesmente se senta em sua sala com uma folha de papel e anota algumas ideias, sem muita reflexão e processamento. Neste tópico, estudaremos como a etapa realmente ocorre. O processo de projeto completo ocorre iniciando com a identificação de uma necessidade e finalizando com a sua apresentação. FIGURA 3 – FASES DO PROJETO: IDENTIFICANDO AS DIVERSAS REALIMENTAÇÕES E REPETIÇÕES FONTE: Budynas e Nisbett (2009, p. 32) Apresentação Repetição Avaliação Análise e otimização Definição do problema Identificação da necessidade Síntese TÓPICO 1 | PROJETOS E RESPONSABILIDADES 7 A identificação da necessidade se dá no início do projeto e pode ocorrer de diversas maneiras, desde um impulso criativo até situações adversas e circunstâncias aleatórias de problemas, exigindo uma solução imediata ou a longo prazo. Por exemplo, alto nível de ruído de uma máquina, avarias em um produto ou congelamento de uma bomba de refrigeração. Quando projetamos ou verificamos um elemento, é importante analisarmos suas referências, tomarmos notas das considerações e estado do conjunto mecânico ou sistema. A seguir, as principais características que influenciam um projeto de máquina (BUDYNAS; NISBETT, 2009): • Funcionalidade. • Resistência/tensão. • Distorção/deflexão/rigidez. • Desgaste. • Segurança. • Confiabilidade. • Processo de fabricação. • Peso/tamanho/volume. • Custo. • Forma. • Propriedades térmicas. • Manutenção. • Reúso e recuperação de recursos. • Controle. • Utilidade. • Responsabilidade técnica. IMPORTANT E A definição do problema é específica e deve incluir todos os detalhes do objeto/projeto a ser projetado e estudado, suas características, limitações, entradas, saídas, enfim, todas as especificações, por mais banais que pareçam, como velocidades, avanços, limitações de temperaturas, intervalos, limitações dimensionais etc. As especificações que definirão o custo, a vida útil, a quantidade a ser fabricada, a operação e a confiabilidade. Uma atenção especial deve ser tomada com relação à diferença entre a declaração e a definição de um problema: a declaração é apenas citar o problema que está ocorrendo de forma sucinta e objetiva; já a definição do problemaé detalhada de forma completa, com todas as características e informações técnicas. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 8 A síntese é também denominada de invenção do conceito ou projeto conceitual, ou seja, diversos cenários têm de ser propostos, investigados e quantificados. As análises devem ser realizadas para avaliar se o desempenho do sistema é satisfatório ou melhor que o obtido anteriormente e, no caso de ser satisfatório, qual o seu nível de desempenho. Os esquemas que não são satisfatórios devem ser revisados, aperfeiçoados ou descartados. O projeto é um processo repetitivo, no qual passamos por várias etapas, avaliamos os resultados e retornamos a uma fase anterior do procedimento, para então ser escolhido o caminho que leve ao produto mais competitivo. Assim, as etapas de síntese e análise e otimização estão interligadas. Tanto a análise quanto a otimização exigem a construção de modelos abstratos, de análise numérica e computacional. Geralmente, utilizamos teste de protótipos em laboratórios e simulações computacionais com a intenção de chegar ao modelo e condições mais próximas do real para a avaliação. Nesta etapa, queremos descobrir se o protótipo é confiável, se é viável em termos econômicos e de fabricação. Já a apresentação é a etapa final e vital do processo de projeto em que se transmite a ideia a terceiros. Uma ideia é apenas uma ideia quando não executada e não colocada em prática, e saber transmiti- la e motivar as pessoas é função do engenheiro. Tais ações podem fazer toda a diferença na aceitação ou não de um projeto: utilizar linguagem técnica e formal, recursos gráficos, argumentação, postura e transmissão de confiança. Aproveite a disciplina de Seminário Integrado para treinar a apresentação de ideias e projetos. DICAS Outras metodologias também são utilizadas, tendo como base as práticas de gerenciamento de projetos previstas pelo Project Management Institute (PMI) e pelo método alemão ZOPP (Zielorientierte Projektplanung – Planejamento de Projeto Orientado por Objetivos). Estão entre os padrões de maior aceitação na atualidade. A metodologia prevê quatro fases de gerenciamento, cujas finalidades são: • Iniciação: Autorizar o projeto a iniciar conforme concepção apresentada pelo coordenador e validada pelas partes interessadas. • Planejamento: Analisar e detalhar o melhor caminho para alcançar os objetivos do projeto. • Execução, Monitoramento e Controle: Desenvolver as ações previstas no Plano de Projeto e gerenciar seu andamento. • Encerramento: Validar e divulgar os produtos, avaliar o desempenho e arquivar a documentação do projeto. TÓPICO 1 | PROJETOS E RESPONSABILIDADES 9 As fases de gerenciamento possuem dependências claras e são executadas na mesma sequência, independentemente da área de aplicação do projeto ou mesmo do setor da organização. Elas se ligam umas com as outras pelos resultados que produzem. FIGURA 4 – FASES DA METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS E SEUS RESULTADOS FONTE: <http://www.confea.org.br/media/manualGPP2010.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2019. Aprovação da Concepção do Projeto Detalhamento do Projeto Conclusão dos Produtos Validação dos Produtos Divulgação dos Produtos Avaliação final do Projeto Arquivamento do Projeto Transição dos Produtos Comunicação do Desempenho Tratamento dos Desvios Aprovação da Estratégia do Projeto Comunicação do Plano Designação da Equipe INICIAÇÃO PLANEJAMENTO ENCERRAMENTO EXECUÇÃO, MONITORAMENTO E CONTROLE A execução de cada fase do gerenciamento gera resultados específicos que são comuns aos diversos projetos do CONFEA. Para o alcance dos resultados, as equipes de projeto contam com o apoio da GPP (Gerência de Programas e Projetos), por meio de instrumentos, procedimentos, orientações e assessoria nas questões relacionadas ao gerenciamento dos projetos. Acesse o manual de gerenciamento de projetos CONFEA. FONTE: <http:// www.confea.org.br/media/manualGPP2010.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2019. DICAS UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 10 2.2 RECURSOS E FERRAMENTAS PARA PROJETO Bons produtos começam por bons projetos. Desenvolver produtos melhores e mais baratos que os concorrentes é vital. Se os novos produtos não forem competitivos, as empresas quebram. A rapidez também é importante, no passado, admitia-se que alguns erros dimensionais só fossem descobertos quando o produto entrasse em produção. Em consequência, eram necessárias modificações no processo e ferramenta, geravam custos extras, atrasos e despesas. O lote piloto agora é virtual e os erros são identificados e resolvidos por intermédio de simulações computacionais enquanto o projeto está na engenharia, antes da fabricação do ferramental. Bons projetos reduzem o custo e garantem qualidade, não se deve esperar o produto entrar em produção para pensar em qualidade. Deve-se garantir zero defeito no desenvolvimento dos novos produtos. A probabilidade de sucesso das características funcionais deve ser maior que 90% (WANDECK, 2003, p. 55). Atualmente, o engenheiro possui diversas opções e ferramentas disponíveis para auxiliar na solução de problemas de projeto, desde informações disseminadas gratuitamente na internet, em feiras, artigos científicos, até ferramentas computacionais e programas de projetos. No quesito de ferramentas computacionais, podemos citar programas de projeto com o auxílio de computador (CAD – Computer-Aided Design – Desenho Assistido por Computador), que permitem o desenvolvimento de projetos tridimensionais dos quais podem ser obtidas vistas ortogonais, bi e tridimensionais, além de dimensionamento automático, banco de dados, cálculos rápidos e precisos, propriedades de massa, momentos e centros de gravidade. Há também o CAE (Computer-Aided Engineering – Engenharia Assistida por Computador), no qual o CAD é considerado um subconjunto. Segundo Cunha (2013), CAE é a análise e resolução de projetos de engenharia usando técnicas baseadas em computação para calcular parâmetros operacionais, funcionais e de manufatura. Os softwares de CAE utilizam modelos digitais para simular fenômenos reais através de métodos de controles numéricos. Os mais difundidos são baseados no método dos elementos finitos, que analisa o desenho de CAD em muitas partes pequenas, resolvendo, então, um conjunto de equações algébricas para obtenção dos resultados desejados em função do carregamento e das condições de contorno. Já o CAM (Computer-Aided Manufacturing – Manufatura Assistida por Computador) é utilizado na preparação da manufatura, representando as tecnologias usadas na fabricação de produtos, como: CNC (Comando Numérico Computadorizado), CLP (Controle Lógico Programável), coletores de dados, além de tomada de decisão, plano operacional etc. TÓPICO 1 | PROJETOS E RESPONSABILIDADES 11 FIGURA 5 – INTERAÇÃO DAS FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS EM PROJETOS FONTE: A autora Novas tecnologias já começaram a revolucionar as indústrias com seus benefícios: ganho de produtividade, competitividade, minimização de impactos ambientais e otimização de processos no geral. A digitalização vai muito além de máquinas inteligentes que conversam entre si e tomam decisões em tempo real. O dimensionamento de elementos de máquina pode ser uma tarefa longa e cansativa, devido aos diversos cálculos. Em algumas situações, após longos cálculos, verificamos que as dimensões adotadas não são adequadas para o esforço sofrido pelo elemento, tornando necessária a repetição, com outros valores para as dimensões relevantes. Em virtude da característica, os projetistas, muitas vezes, ficam limitados em termos da complexidade e do detalhamento dos projetos que são apresentados, já que o tempo para as atividades é escasso. Com o emprego de aplicativos de softwares capazes de realizar os cálculos, projetos mais complexos podem ser explorados, restando ao engenheiro se concentrar em atividades como a escolha da posição adequada dos elementos para facilitar a manutençãoou determinação de materiais para a redução de custos e otimização. Prezado acadêmico, você pode conferir, no link a seguir, o artigo completo sobre as informações referentes a softwares de simulação em elementos de máquina. Neste trabalho você também encontrará tutoriais e possibilidades de aplicação. FONTE: JUNIOR, O. M. F.; TRABASSO, L. G. Projeto de elementos de máquina auxiliado por computador. 2008. Disponível em: <http://www.bibl.ita.br/xivencita/MEC13.pdf>. Acesso em: 15 out. 2018. DICAS UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 12 O avanço da digitalização tem o potencial de revolucionar o nosso cotidiano, oferecendo soluções para diferentes áreas de projetos, como mobilidade urbana, desenvolvimento e adoção de tecnologias ligadas ao conceito de cidades inteligentes (smart cities); eficiência energética, a implantação das redes elétricas inteligentes (smart grid); atendimento à saúde e produtividade industrial e o desenvolvimento da indústria 4.0 ou Manufatura Avançada (MOREIRA; DE SÁ FREIRE, 2016). A indústria 4.0 será discutida amplamente na leitura complementar ao final deste capítulo. FIGURA 6 – PRINCIPAIS ÁREAS DE AVANÇO COM A DIGITALIZAÇÃO FONTE: <http://www.pedbrasil.org.br/ped/artigos/079F8BA3E7E5281B.0%20no%20 Brasil.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2018. Indústria DIGITALIZAÇÃO Bens de consumo Mobilidade urbana Agricultura Energia Saúde Os sistemas inteligentes aumentarão a comodidade para a disponibilização da informação sobre dados de projeto, soluções consolidadas, desenvolvimento de produtos já realizados e outros conhecimentos relacionados ao cálculo, à otimização e à combinação de soluções. Porém, não substituirão o projetista, pelo contrário, sua competência de decisão será ainda mais exigida, assim como sua interação com os especialistas participantes, necessária ao rápido e contínuo desenvolvimento de áreas específicas. Nas empresas, a tendência de não somente efetuar desenvolvimentos, mas sim de complementar o produto final com componentes terceirizados. E o que significa para o engenheiro de projetos? Saber avaliar peças de fornecedores, apesar de não as ter desenvolvido, realizar um exame crítico apoiado por múltiplos conhecimentos de detalhes de projeto, fazer uso sistemático de processos de avaliação; enfim, tópicos que serão abordados nesta disciplina e nas demais ao longo do curso. TÓPICO 1 | PROJETOS E RESPONSABILIDADES 13 Quanto ao aspecto organizacional e a interligação via rede com outros setores da empresa, a produção integrada ao computador (CIM: Computer Integrated Manufacturing) também acarretará consequências para o engenheiro de projeto. Por meio de sistemas gerenciadores de projeto dentro de uma estrutura CIM, será possível e necessário um melhor planejamento e controle do processo de projeto. Exatamente como também o trabalho objetivado, integral e flexível e em parte paralelo, para otimização do produto, da produção e da qualidade, com minimização dos tempos de desenvolvimento. Ao lado da tendência evolutiva, o projetista também precisa conhecer e considerar o desenvolvimento da tecnologia dos materiais, incluindo possibilidades de solução com o auxílio da microeletrônica e do software. Cada vez mais, as futuras soluções serão buscadas no contexto da mecatrônica (PAHL et al., 2005). São diversos os requisitos para trabalharmos com o projeto de engenharia, devido à necessidade de serem colocadas em prática a interdisciplinaridade das disciplinas aprendidas no curso e a busca incessante de conhecimento por novas tecnologias. Para atender à demanda, será necessária uma aprendizagem continuada. IMPORTANT E 2.3 RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS DO ENGENHEIRO DE PROJETO Você já parou para pensar quando se deve começar a desenvolver profissionalismo e responsabilidade no campo da engenharia? Para se obter sucesso, sempre! Desde a fase acadêmica, é preciso cultivar a ética no desempenho da profissão e habilidades para lidar com processos antes de concluir o curso, para estar preparado para os desafios. O engenheiro de projetos deve contemplar as necessidades dos clientes e espera-se que faça de maneira ética, responsável e profissional, visando à melhoria contínua, a responsabilidade social e ambiental. São princípios básicos que devem nortear a carreira de um engenheiro. Confira o código de ética profissional da engenharia. FONTE: <http://www.confea. org.br/media/codigo_etica_sistemaconfea_8edicao_2015.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2019. DICAS UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 14 A garantia de produto e a responsabilidade do produtor regulamentada por lei envolvem, além de um nível superior de qualidade de produção, um desenvolvimento de produto que empregue a tecnologia mais recente, seja responsável e tenha consciência ecológica. Os processos de projetos são interativos, porém é possível desenvolver uma abordagem sistemática. Uma atenção especial às etapas a seguir ajudará a organizar a técnica de processamento de soluções (NORTON, 2013): 1. Entenda o problema: Defina, de forma clara e detalhada, o que está ocorrendo. 2. Identifique o conhecido: é importante planejar e solucionar prontamente o que já conhecemos. 3. Identifique o desconhecido e formule a estratégia de solução: Procurar soluções, através de artigos científicos e livros, das técnicas que não dominamos ou defeitos desconhecidos. 4. Enuncie todas as hipóteses e decisões: planejar e descrever todas as possíveis soluções. 5. Analise o problema: Visualize e reavalie o problema após as etapas 1, 2, 3 e 4, ou seja, após um estudo e entendimento do caso completo. 6. Avalie sua solução: Projete e simule a solução. 7. Apresente sua solução: Demonstre e apresente a solução para o time antes de implantá-la. Uma vez que o desenvolvimento de um produto novo ocorre, é necessário um crítico gerenciamento através de um engenheiro de projetos com bons conhecimentos técnicos e metodológicos, com características de um bom solucionador de problemas. Para tanto, o gerente de projeto terá de praticar um estilo de liderança que não atue de forma dogmática, faça uso da multidisciplinaridade da equipe, abra espaço para a ação de cada membro da equipe e, nos momentos decisivos, indique por onde prosseguir (BACK et al., 2008). Demonstrar liderança significa conhecer, em tempo hábil, as informações, orientar as atividades individuais de acordo com um procedimento metódico, planejar as principais variáveis, estimar o custo e consequências caso ocorram modificações ou correções no plano de projeto, se responsabilizar e representar a equipe perante o público, além de estimular a confiança e o trabalho em situações difíceis. TÓPICO 1 | PROJETOS E RESPONSABILIDADES 15 FIGURA 7 – AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS DE UM GERENTE DE PROJETOS FONTE: Pahl et al. (2005, p. 98) Para ser eficaz, todo profissional deve se manter atualizado em seus campos de atuação. O engenheiro de projeto, por exemplo, pode obter isso sendo membro atuante de associações profissionais, participar de seminários e conferências técnicas, leituras de artigos científicos, regulamentos e periódicos atuais. A formação de um engenheiro não termina na graduação, pois um bom profissional está sempre se atualizando, buscando novas opções para a aplicação em seus projetos. A otimização de produtos com retorno financeiro garante o crescimento profissional e isso só é possível através de bagagem técnica científica. 16 Neste tópico, você aprendeu que: • Projeto é um processo inovador e repetitivo de tomada de decisões. Decisões requerem habilidades pessoais como comunicação, criatividade e solução de problemas, juntamente com as habilidades técnicas e conhecimentos tecnológicos. • Todos os projetos técnicos, de uma maneira geral, são chamados de Projetos de Engenharia. • O processo de projeto ocorre iniciando com a identificação de uma necessidade e finalizando com a sua apresentação. Caso haja necessidade, a repetição e retorno a diversas fasesaté o seu encerramento. • As especificações que definirão o custo, a vida útil, a quantidade a ser fabricada, a operação e a confiabilidade. • Há uma grande diferença entre a declaração de um problema e a definição de um problema. • Atualmente, temos diversos recursos e ferramentas para projetos, como CAD e CAE. • Os princípios básicos que devem nortear a carreira de um engenheiro são: a ética, a responsabilidade profissional, social e ambiental, a melhoria e atualização contínua. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 As fases e interações de projetos são de extrema importância e devem ocorrer de maneira organizada, seguindo uma sequência. Assim, cite como ocorrem as fases de um projeto completo. 2 Atualmente, o engenheiro possui diversas opções e ferramentas disponíveis para auxiliarem na solução de problemas de projeto. Desde informações disseminadas gratuitamente na internet, em feiras, artigos científicos até ferramentas computacionais e programas de projetos. Quais os principais recursos e ferramentas para o projeto? 3 Os processos de projetos são interativos, porém é possível desenvolver uma abordagem sistemática. Organize as etapas a seguir conforme a técnica de processamento de soluções: ( ) Enuncie todas as hipóteses e decisões ( ) Identifique o conhecido ( ) Apresente sua solução ( ) Analise o problema ( ) Identifique o desconhecido e formule a estratégia de solução ( ) Entenda o problema ( ) Avalie sua solução 4 Uma vez que o desenvolvimento de um produto novo ocorre, é necessário um crítico gerenciamento através de um engenheiro de projetos com bons conhecimentos técnicos e metodológicos, com características de um bom solucionador de problemas. Quais as competências necessárias para ser um engenheiro de projetos? AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE PROJETOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a demanda de se produzir mais com menos é a expectativa de toda empresa e indústria. O fato é que cada vez mais as empresas buscam por profissionais que consigam desenvolver e planejar bons projetos aliando a parte financeira e econômica junto com a segurança, utilização e aplicação das normas. Ainda, encontrando um ponto de equilíbrio entre tolerâncias máximas e mínimas e seleção de materiais e segurança. Neste tópico serão abordadas as características de projeto, como calcular e apresentar projetos de engenharia, avaliando as tensões, resistência, incertezas e cálculos de coeficiente de segurança. Caro acadêmico, bem-vindo ao Tópico 2! Bons estudos! 2 DEFINIÇÕES A normalização ou padronização é um conjunto de especificações para peças, materiais ou processos com o objetivo de uniformizar atividades específicas e rotineiras feitas por pessoas diferentes, em diferentes ocasiões e até mesmo em diferentes locais. Surgiu na Revolução Industrial como uma demanda, quando a produção em série passou a destacar-se. O atendimento serve para padronizar os produtos, definindo suas características e padrões de desempenho e para agilizar os processos, criando a produção em massa de forma rápida e eficiente sem perder a qualidade. A padronização é fundamental na qualidade, pois é através dela que são possíveis a previsibilidade e manutenção dos resultados e, com o uso das ferramentas ISO 9000 e ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas, conseguimos alcançar o objetivo estabelecido. Assim, diminuem-se as dispersões e os resultados tornam-se previsíveis, pois sem controle de dados e de previsões é praticamente impossível planejar uma melhoria, ou seja, não conseguimos melhorar o que não se conhece ou o que varia constantemente. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 20 Padronizar não significa perder criatividade e flexibilidade para atender às expectativas dos clientes, mas criar uma cultura de padronização e trazendo benefícios, como: • Reduzir os custos e desperdícios através do aumento da produtividade, qualidade e eficiência. • Permitir uma maior visibilidade das responsabilidades e funções que geram os resultados. • Otimizar processos. • Melhorar o alinhamento das funções com a estratégia e os processos. A padronização é, também, a base para o treinamento operacional. Tendo os procedimentos definidos, é preciso desenvolver, nas pessoas, as habilidades e conhecimentos necessários para a execução das tarefas. São pessoas capacitadas que garantem a manutenção dos resultados e asseguram o padrão estabelecido. A padronização é de suma importância, pois organiza eficazmente os processos, bem como presta informações corretas e precisas aos setores envolvidos. Assim, a empresa revela um diferencial de competitividade perante os concorrentes, ao desenvolver um serviço de qualidade, resultado do processo de padronização. O código, por sua vez, é um conjunto de especificações para análise e construção. Tem o objetivo de garantir a padronização, a qualidade e, o principal: segurança. O propósito de um código é garantir a eficiência e um alto desempenho, porém os códigos em si não garantem a segurança absoluta, como os fenômenos naturais, por exemplo. Um prédio geralmente é projetado para ventos entre 190 km/h, mas isso não significa que o engenheiro de projetos não acredita que possam ocorrer ventos de 220 km/h, porém é altamente improvável. Ao longo deste livro, aprenderemos a fazer o dimensionamento, mantendo a segurança e sem elevar os custos. Existem diversas organizações e associações que apresentam e estabelecem especificações para padrões e códigos de projeto ou segurança. A maior parte pode ser encontrada nas bibliotecas e acervos técnicos: • ASME (American Society of Mechanical Engineers - Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos). • ASTM (American Society for Testing and Materials - Sociedade Americana de Testes e Materiais). • SAE (Society of Automative Engineers - Sociedade de Engenheiros Automotivos). • AISI (American Iron and Steel Institute - Instituto Americano de Ferro e Aço). • ISO (International Organization for Standardization - Organização Internacional para Padronização). • AMN (Associação Mercosul de Normalização). TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 21 Contudo, como saber quando padronizar? Após a resolução de um problema ou implantação de uma melhoria. É imprescindível padronizar as boas práticas através de documentos que indiquem o padrão aceitável descoberto, evitando a reincidência dos mesmos problemas ou a perda de eficácia de um processo. Falando nisso, você sabe a diferença entre normatização e normalização? Normatização se refere à criação de normas, já a normalização é o processo de aplicação das normas, com o intuito de facilitar o acesso e a padronização de qualquer atividade específica. A normalização, que é o nosso foco principal, apresenta os seguintes objetivos: a economia, pois padroniza e, consequentemente, otimiza os processos de fabricação; a comunicação mais eficiente entre todas as etapas do processo; a segurança; a proteção ao consumir por meio de auditorias e a eliminação de barreiras técnicas e comerciais, ou seja, utilizando normas internacionais é possível realizar o intercâmbio comercial sem maiores problemas. As normas são classificadas em sete tipos: • PROCEDIMENTO: Fixa condições para a realização de cálculos, projetos, obras, serviços e instalações; emprego de materiais e produtos industriais; transações comerciais; elaboração de documentos e desenhos; operação de equipamentos; segurança de obras, instalações etc. • ESPECIFICAÇÃO: Fixa condição para aceitação e/ou recebimento de matéria- prima, produto semiacabado e acabado, visando garantir a adequação ao uso dos produtos de uma empresa, país etc. • PADRONIZAÇÃO: Uniformiza características geométricas, físicas, químicas, mecânicas etc., de elementos de construção, materiais, aparelhos, produtos industriais, desenhos e projetos. • MÉTODO DE ENSAIO: Prescrever a maneira de verificar ou determinar características, condições ou requisitosexigidos, obras ou instalações de acordo com o respectivo projeto. • TERMINOLOGIA: Destina-se a definir, relacionar e/ou dar a equivalência em diversas línguas de termos técnicos empregados, visando à uniformização de linguagem. • SIMBOLOGIA: Destina-se a estabelecer convenções gráficas e/ou literais para conceitos, grandezas, sistemas ou partes de sistemas. • CLASSIFICAÇÃO: Destina-se a ordenar, designar, distribuir e/ou subdividir conceitos, materiais ou objetos, segundo uma determinada sistemática. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 22 Os benefícios da normalização podem ser qualitativos ou quantitativos. Os qualitativos são aqueles que não podem ser medidos ou são de difícil mensuração, como: • Utilização adequada de recursos. • Disciplina na produção. • Uniformidade do trabalho. • Registro do conhecimento tecnológico. • Melhoria no nível de capacitação do pessoal. • Controle dos produtos e processos. • Segurança do pessoal e dos equipamentos. • Racionalização do uso do tempo. Por outro lado, os benefícios quantitativos são ganhos, melhorias que ao serem observadas podem ser mensuradas, admitindo formulação matemática em suas observações e conclusões, como: • Redução do consumo e do desperdício. • Especificação e uniformização de matéria-prima. • Padronização de componentes e equipamentos. • Redução de variedades de produtos. • Disponibilização de procedimentos para cálculos e projetos. • Melhoria da produtividade. • Melhoria da qualidade de produtos e serviços. • Eficácia da comunicação entre pessoas e empresas. 3 ECONOMIA O fator custo é tão importante quanto qualquer outra etapa de um projeto. É necessário dimensionar corretamente as reais necessidades de cada solução, encontrando um ponto de equilíbrio entre tolerâncias máximas e mínimas, seleção de materiais e segurança. Por exemplo, o polímero, material sintético criado em laboratório que chegou revolucionando os mais diversos setores, desde brinquedos e utensílios domésticos até peças automotivas. Nos carros, diversas peças metálicas foram substituídas por peças poliméricas, aumentando a eficiência energética, pois um carro mais leve consome menos gasolina e tem um melhor desempenho geral. Contudo, todo um estudo, um projeto foi realizado para levantamento de quais peças poderiam ser substituídas sem um risco ao consumidor. Assim, é possível visualizarmos a importância do fator econômico e técnico nas tomadas de decisões em um projeto. Ainda, é imprescindível saber apresentar os resultados e retornos esperados de cada investimento. A ação é essencial para a aprovação de projetos e melhorias. TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 23 Payback, que em português significa retorno, é uma técnica muito utilizada nas empresas para análise do prazo de retorno do investimento em um projeto. Podemos completar que o PayBack é o tempo de retorno do investimento inicial até o momento no qual o ganho acumulado se iguala ao valor do investimento. Normalmente, o período é medido em meses ou anos. FIGURA 8 – FÓRMULA DO PAYBACK SIMPLES FONTE: <https://www.industriahoje.com.br/como-calcular-o-payback>. Acesso em: 3 ago. 2018. Como calcular o PayBack simples? Exemplo: O departamento de engenharia de uma montadora de carros está em busca de redução de custo na fabricação do capô de um de seus modelos. Após muita pesquisa, o departamento encontrou no mercado uma prensa de alto desempenho que irá reduzir em 10% o custo da fabricação do capô. Sabendo que cada capô tem um custo de R$ 300,00 e que são produzidas 20 mil peças/mês, qual seria o PayBack (Retorno do Investimento), sabendo que o investimento para a aquisição da nova prensa vai custar R$ 2,5 milhões? Analisando os dados: Custo atual do capô = R$ 300,00 Redução de custo (Nova Prensa) = 300,00 – 10% = 270 Saving (Economia) por peça = 300 – 270 = R$ 30,00 Investimento Nova Prensa = R$ 2.500.000,00 Quantidade Média Produzida/Mês = 20.000 Units Quantidade Média Produzida/Ano = 240.000 Units Na figura a seguir temos a aplicação da fórmula do payback, utilizando os dados citados anteriormente: UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 24 FIGURA 9 – APLICAÇÃO DO PAYBACK FONTE: <https://www.industriahoje.com.br/como-calcular-o-payback>. Acesso em: 3 ago. 2018. Para calcular o Payback em meses ou anos, basta dividir o número de peças necessárias para pagar o investimento pelo número estimado de peças a produzir no período. Veja a seguir: 1- Quantidade Média Produção Mês = 20.000 Unidades Payback Mês = 83.333/20.000 = 4,16 meses para o Retorno do Investimento 2- Quantidade Média Produção Ano = 240.000 Unidades Payback Ano = 83.333/240.000 = 0,347 Ano (4,16 Meses) para o Retorno do Investimento Vantagens do Método PayBack Este método tem como principais vantagens: – O fato de ser simples na sua forma de cálculo e de fácil compreensão. – Fornece uma ideia do grau de liquidez e de risco do projeto. – Em tempo de grande instabilidade e pela razão anterior, a utilização do método é uma forma de aumentar a segurança dos negócios da empresa. – Adequado à avaliação de projetos em contexto de risco elevado. – Adequado à avaliação de projetos com vida limitada. Desvantagens do Método PayBack – O método do PayBack apresenta o inconveniente de não ter em conta os cash flows (fluxos de dinheiro) gerados depois do ano de recuperação, tornando-se, assim, desaconselhável na avaliação de projetos de longa duração. – O PayBack valoriza diferentemente os fluxos recebidos em diferentes períodos. Outro fator importante e que impacta diretamente nos custos de projetos são as tolerâncias nas especificações de projeto. Tolerâncias, processos, acabamentos e diversas outras especificações estão relacionados e influenciam a produtividade em diversos fatores: tolerâncias apertadas precisam de etapas adicionais, como inspeções de qualidade e até mesmo de fabricação. TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 25 Um gráfico de custos versus tolerância/processo de usinagem é mostrado na figura a seguir, ilustrando o drástico aumento no custo de fabricação à medida que a tolerância diminui mediante processos de usinagem mais precisos (PAHL et al., 2005). FIGURA 10 – CUSTOS VS. TOLERÂNCIA EM UM PROCESSO DE USINAGEM FONTE: Pahl et al. (2005, p. 37) Tornea- mento semiaca- bado Tornea- mento acaba- do Retífi- cação ±0,75 400 380 360 340 320 300 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 ±0,50 ±0,50 ±0,125 ±0,063 ±0,025 ±0,012 ±0,006 Afiação Operações de usinagem Tolerância nominal (mm) Torneamento em bruto Material: aço C us to . % A utilização de tamanhos padronizados é um dos princípios básicos para a redução de custos. Como diversas partes do projeto são especificadas pelo engenheiro de projetos ou pelo projetista, é necessário pensar nos estoques dos fornecedores, tempo de produção e entrega. Algumas vezes, quando duas ou mais abordagens de projeto são comparadas em termos de custo, a escolha depende de um conjunto de condições, como o volume de produção, a velocidade das linhas de montagem etc., porém, existe um ponto correspondente a custos iguais, o chamado ponto de equilíbrio. Por exemplo, uma situação em que uma peça possa ser fabricada a uma taxa de 25 peças por hora, em uma máquina de fazer parafusos automática, ou então de 10 peças por hora, em uma máquina de fazer parafusos manuais. Suponhamos, também, que o tempo de preparação para a máquina automática seja de três horas e que o custo de mão de obra para ambas as máquinas seja de 20 dólares a hora, incluindo custos indiretos. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 26 A figura a seguir é um gráfico de ponto de custos versus produção e, no caso, o ponto de equilíbrio corresponde a 50 peças. Se a produção desejada for maior que 50 peças, deverá ser usada a máquina automática. FIGURA 11 – PONTO DE EQUILÍBRIO DE UM PROCESSO FONTE: Pahl et al. (2005, p. 38) Máquina de fazer parafusos automática Máquina de fazer parafusos manual Produção Ponto de equilíbrioC us to , S 100806040 40 60 80 100 120 140 20 20 0 0 4 SEGURANÇA E RESPONSABILIDADE PELO PRODUTO Significa ser responsável por qualquer dano ou lesão por defeito pelo produto, independentemente do conhecimento ou não do defeito pelo fabricante na época de construção. Os melhores métodos, para evitarmos possíveis danos e responsabilidades de acidentes com produtos, são uma ampla e detalhada análise, controle de qualidade, testes e ensaios correspondentes ao uso, além de constante verificação da publicidade do produto nas funcionalidades e garantias apresentadas. 4.1 TENSÃO E RESISTÊNCIA A tensão é uma medida das forças internas de um corpo deformável. Quantitativamente, é a medida da força por unidade de área em uma superfície do corpo com forças internas, ou seja, é a intensidade da força interna sobre um plano específico (área) que passa por um determinado ponto. Já a resistência é o ramo da mecânica que estuda as relações entre cargas externas aplicadas a um corpo deformável e a intensidade das forças internas que atuam dentro do corpo, abrangendo também o cálculo das deformações do corpo e o estudo da sua estabilidade, quando submetido a solicitações externas (HIBBELER, 2010, p. 11). TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 27 A origem da resistência dos materiais remonta ao início do século XVII, época em que Galileu realizou experiências para estudar os efeitos de cargas em hastes e vigas feitas de vários materiais. No entanto, para a compreensão adequada dos fenômenos envolvidos, foram estabelecidas descrições experimentais precisas das propriedades mecânicas dos materiais. Os métodos para tais descrições foram consideravelmente melhorados no início do século XVIII. Na época, estudos foram realizados, principalmente na França, baseados em aplicações da mecânica a corpos materiais, denominando-se o estudo de Resistência dos Materiais. Atualmente, no entanto, referimo-nos a tais estudos como mecânica dos corpos deformáveis ou, simplesmente, mecânica dos materiais (BEER, 1996). Peça ou elemento resistente é todo corpo capaz de receber e transmitir forças. O conjunto de elementos resistentes de uma construção ou máquina denomina-se estrutura. Para efeito de estudo, podemos classificar os elementos resistentes em (NARDINO; ARNDT, 2016): a) Barras: Têm uma das dimensões bem superior. Ex.: tirantes, escoras, pilares e vigas. b) Placas e chapas: Possuem uma dimensão muito pequena em relação ao comprimento e à largura. Caso as cargas atuantes sejam aplicadas perpendicularmente ao seu plano, denominamos placa. Se as cargas atuarem em seu próprio plano médio, chapa. Ex.: laje, viga, parede. c) Cascas: São elementos que possuem pequena espessura em relação à área da superfície média. Ex.: cúpula. d) Blocos: São elementos em que não há uma dimensão predominante. Na figura a seguir podemos visualizar uma ilustração dos elementos a, b, c e d citados: FIGURA 12 – BARRAS, PLACAS, VIGAS, CASCAS E MEMBRANAS (BLOCOS) FONTE: Nardino e Arndt (2016, p. 42) Membranas Barras Vigas Cascas Placas UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 28 A resistência é também considerada uma propriedade que depende dos tratamentos e fabricação do material. Diversos processos, como os de conformação mecânica, por exemplo, provocam variações na resistência de ponto a ponto ao longo da peça. Caro acadêmico, lembre-se: a resistência é uma propriedade intrínseca da peça, incorporada em razão do material e processamento. Já a tensão é uma propriedade de estado em um ponto específico em função da carga, da geometria e temperaturas aplicadas. Ao longo deste livro didático estudaremos alguns casos de tensões aplicadas. A permanência e a durabilidade de muitos produtos dependem de como o projetista ajusta as tensões máximas de um componente. Estas devem ser menores que a resistência com uma margem suficiente para que, mesmo com incertezas, as falhas sejam incomuns. 4.2 INCERTEZA As propriedades dos materiais, a variabilidade das cargas, a fidelidade na fabricação e os modelos matemáticos estão suscetíveis à incerteza. Contudo, o que é a incerteza? Incerteza, em termos gerais, é uma estimativa que quantifica a confiabilidade do resultado de uma medição. Quanto maior for a incerteza, menor será a confiabilidade do resultado. Paralelamente, é importante destacar que incerteza não é erro. O cálculo do erro depende de conhecermos o valor verdadeiro daquilo que estamos medindo. Em contrapartida, o cálculo da incerteza não tem esse tipo de restrição. A incerteza pode (e deve) ser calculada mesmo quando não temos nenhuma ideia do valor verdadeiro em jogo. Assim, a incerteza é um conceito muito mais instrumental e com mais aplicabilidade que o conceito de erro. A seguir, veremos um quadro com alguns conceitos sobre erro e incerteza (LIMA et al., 2012): TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 29 QUADRO 1 – CONCEITOS DE ERRO E INCERTEZA FONTE: Adaptado de Lima et al., (2012, p. 7) Nome Definição Observação Erro É igual na diferença entre o resultado da medição e o valor verdadeiro. É muito útil para compreender de que maneira e por quais motivos a medida se desvia do seu valor verdadeiro. Contudo, tem pouco uso instrumental, pois seu cálculo requer conhecer de antemão o valor verdadeiro em questão. Incerteza Estimativa que quantifica a confiabilidade do resultado de uma medição. Quanto maior for a incerteza, menor será a confiabilidade do resultado. Pode ser obtida por meio de uma avaliação do tipo A ou do tipo B. Incerteza não é erro! Incerteza calculada a partir de um procedimento que envolve observações repetidas. No caso, o resultado de uma medição é igual à média das observações e a incerteza (do tipo A) é igual ao desvio padrão da média. Incerteza do tipo B Incerteza calculada a partir de um procedimento que não envolve observações repetidas. No caso, o resultado da medição é igual ao resultado da primeira (e única) observação. Assim, como a incerteza do tipo A, a incerteza do tipo pode ser interpretada como um desvio padrão. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 30 São diversas as incertezas em elementos e projetos de máquina. Seguem alguns exemplos de incertezas referentes à tensão e à resistência (PAHL et al., 2005): – Composição do material e efeito da variação em propriedades. – Variações nas propriedades de ponto a ponto no interior de uma barra de metal em estoque. – Efeitos sobre as propriedades de processar o material no local ou nas proximidades. – Efeitos de montagens próximas como soldagens e ajustes por contratação sobre as condições de tensão. – Efeito de tratamento termomecânico sobre as propriedades. – Intensidade e distribuição do carregamento. – Validade dos modelos matemáticos usados para poderem representar a realidade. – Intensidade de concentrações de tensão. – Influência do tempo sobre a resistência e a geometria. – Efeito da corrosão. – Efeito do desgaste. – Incerteza quanto ao número de fatores que causam incertezas. Existem diversos métodos matemáticos para lidarmos com as incertezas. Um dos mais utilizados é o método determinístico, que estabelece um fator de projeto baseado nas incertezas absolutas de um parâmetro de perda de função e um parâmetro máximo admissível. No caso, o parâmetro poderia ser a carga, a tensão, a deflexão etc. Portanto, o fator de projeto nd é determinado por meio da equação a seguir (BALDO et al., 2008): nd parâmetro de perda de função parâmetro máximo admissível = Se o parâmetro for a carga, então a carga máxima admissível pode ser encontrada por meio da seguinte equação: Carga máxima admissível parâmetro de perda de função nd = Exemplo de aplicação retirado do livro base da disciplina. FONTE: BUDYNAS, Richard G.; NISBETT, J. Keith. Elementos de máquinas de Shigley. RS: AMGH, 2009, p. 40. IMPORTANT E TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 31 Considere que a carga máxima em uma estruturaseja conhecida como uma incerteza de ± 20% e que a carga que provoca a falha seja conhecida com uma incerteza de ± 15%. Se a carga causadora da falha for nominalmente igual a 9kN, determine o fator de projeto e a carga máxima admissível que compensará as incertezas absolutas. Solução: Para levar em conta a sua incerteza, a carga de perda de função tem de aumentar para 1/0,85, ao passo que a carga máxima admissível tem de diminuir para 1/1,2. Portanto, para compensar as incertezas absolutas, o fator de projeto deve ser: 1/ 0,85nd 1,4 1/1,2 = = Resposta: Carga máxima admissível, temos: 9 6,44 1,4 Carga máxima kN= = 4.3 FATOR DE PROJETO E SEGURANÇA O coeficiente de segurança, ou fator de projeto e segurança, é utilizado no dimensionamento dos elementos de máquina, visando assegurar o equilíbrio entre a qualidade da construção e o seu custo. Consiste na relação entre a carga de ruptura e a carga admissível. É empregado para prevenir incertezas em relação a propriedades dos materiais, esforços aplicados, variações etc. Depende de uma série de requisitos, como o tipo de carregamento e o modo de utilização, por exemplo. Coeficiente de segurança ou fator de segurança é adimensional, representado pela letra n ou k, mas sempre maior que 1, para evitar a possibilidade de falha. Valores específicos dependem dos tipos de materiais usados e da finalidade pretendida da estrutura ou máquina. O projetista poderá obter o coeficiente em normas específicas do ramo ou determinar em função das circunstâncias apresentadas através da seguinte equação (MELCONIAN, 1999): K= x. y. z. w UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 32 Valores para x (fator de tipo de material) x = 2 para materiais comuns; x = 1,5 para aços de qualidade e o liga: valores para y (fator do tipo de solicitação); y = 1 para carga constante; y = 2 para carga intermitente; y = 3 para carga alternada. Valores para z (fator do tipo de carga) z = 1 para carga gradual; z = 1,5 para choques leves; z = 2 para choques bruscos. Valores para w (fator que prevê possíveis falhas de fabricação) w = 1 a 1,5 para aços; w = 1,5 a 2 para fofo. Para a carga estática, normalmente utiliza-se 2 <k< 3 em σe (tensão de escoamento do material) para o material dúctil ou aplicação em σf (tensão de ruptura do material) para o material frágil. Para o caso de cargas intermitentes ou alternadas, o valor de k cresce, como mostra a equação para a sua obtenção (MELCONIAN, 1999). Caro acadêmico, veja um exemplo de cálculo de coeficiente K. Para a fabricação de um determinado elemento de máquina, temos as seguintes características: material aço- liga, que sofrerá choques bruscos e carga constante. Assim, a partir dos dados, calcule o coeficiente K, aplicando a fórmula de K e consultando os valores anteriormente citados: K= x. y. z. w x = 1,5 para aço-liga; y = 1 para carga constante; z = 2 para choques bruscos; w = 1 para aços. Logo: K = 1,5.1.2.1 K= 3 IMPORTANT E TÓPICO 2 | PADRONIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE 33 4.4 CONFIABILIDADE A confiabilidade é a probabilidade de um item contemplar a função de forma adequada, durante um dado intervalo de tempo e sob condições especificadas (BILLINTON; ALLAN, 1993). A medida da definição representa a probabilidade de os elementos não falharem durante um tempo determinado chamado t. O conceito também pode ser expresso por uma função de densidade de probabilidade de falha F (t). A função acumulada de probabilidade de falha F (t), ou simplesmente probabilidade de falha, é uma medida de probabilidade de falha definida em um período, cuja representação pode ser em medida de tempo, ciclos, distância etc. No entanto, geralmente, desejamos avaliar a probabilidade de funcionalidade do sistema durante um determinado período. Assim, a medida de interesse é o complemento da probabilidade de falha, ou seja, o complemento da função acumulada de probabilidade de falha, a função confiabilidade do sistema (ou confiabilidade) (BILLINTON; ALLAN, 1993): R(t) = (1) – F (t) Exemplo: Uma confiabilidade R=0,80 significa que existe uma chance de 80% de que a peça desempenhará sua função, aproximadamente, sem falhar. Já a falha de quatro peças a cada mil fabricadas tem uma confiabilidade de 99,6%, pois: 4R(t) (1) 0,0996 99,6% 1000 = − = = A análise de sistemas reais caracteriza as falhas segundo três períodos característicos: 1) falhas de juventude; 2) falhas de vida útil; 3) falhas de descarte. O primeiro período é caracterizado pelas falhas de juventude, que são aquelas originadas no projeto do produto, processo de fabricação, embalagem ou montagem. Dependem do controle de qualidade no processo de manufatura. No segundo período, falhas de vida útil, temos as falhas aleatórias. Requerem ações de predição, e as suas ocorrências, em função da imprevisibilidade, não podem ser caracterizadas no tempo. UNIDADE 1 | PROJETO DE ENGENHARIA 34 No terceiro período, falhas de descarte, as falhas são caracterizadas pelos desgastes, e é possível definirmos ações baseadas no tempo e na condição dos componentes do sistema. Assim, uma gestão adequada dos atributos de confiabilidade e de manutenabilidade na fase de projeto poderá diminuir o período e a variação da taxa de falha de juventude. Ainda, uma gestão adequada da manutenção, pelo uso de monitoramento das condições operacionais, pode prolongar o período de utilidade, aumentando a vida útil do sistema. Instituições de pesquisa, como o Centro de Análise das Informações de Confiabilidade (RIAC – Reliability Information Analysis Center), desenvolvem bancos de dados de taxas de falha (λ) de componentes (PORCIÚNCULA et al., 2009). Assim, é necessária a reflexão: Como você quer o seu projeto? Por que alguns projetos dão certo e outros não? Na figura a seguir temos dez atitudes principais que levam à falha em projeto. FIGURA 13 – PRINCIPAIS ATITUDES QUE LEVAM A FALHAS EM PROJETOS FONTE: <https://walkerbastos.blogspot.com/2017/06/top-10-de-por-que-os-projetos- falham.html?m=0>. Acesso em: 8 ago. 2018. 35 RESUMO DO TÓPICO 2 Nesse tópico, você aprendeu que: • Os benefícios da normalização podem ser qualitativos ou quantitativos. Os qualitativos são aqueles benefícios que não podem ser medidos ou que são de difícil mensuração. Por outro lado, os quantitativos são melhorias mensuráveis, admitindo formulação matemática. • Há a necessidade de dimensionar corretamente as reais necessidades de cada solução, encontrando um ponto de equilíbrio entre tolerâncias máximas e mínimas e a seleção de materiais e segurança. • Há uma forma de calcular o payback simples. • A tensão é uma medida das forças internas de um corpo deformável. Já a resistência é o ramo da mecânica que estuda as relações entre cargas externas aplicadas e a intensidade das forças internas que atuam dentro do corpo. • Incerteza é uma estimativa que quantifica a confiabilidade do resultado de uma medição. • O coeficiente de segurança é utilizado no dimensionamento dos elementos de máquina, visando assegurar o equilíbrio da qualidade da construção. O seu custo depende de uma série de requisitos, principalmente do tipo de carregamento e do modo de utilização. • A confiabilidade é a probabilidade de um item contemplar a sua função de forma adequada durante um dado intervalo de tempo e sob condições especificadas. 36 1 As propriedades dos materiais, a variabilidade das cargas, a fidelidade na fabricação e os modelos matemáticos estão suscetíveis à incerteza. O que é incerteza? 2 A incerteza é um conceito instrumental e com aplicabilidade e existem diversos conceitos, definições e diferenças entre as incertezas. Qual é a diferença entre procedimentos de avaliação da incerteza do tipo A e do tipo B? 3 A incerteza, em termos gerais, é uma estimativa que quantifica a confiabilidade do resultado de uma medição. Quanto maior for a incerteza, menor será a confiabilidade do resultado. Paralelamente, é importante destacar que a incerteza não é erro.
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