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Introdução à Mediação

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INTRODUÇÃO À MEDIAÇÃO
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Dr. Sidelmar Alves da Silva Kunz
Indaial - 2020
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2020
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Xxxxxx
 Xxxxxxxxxxx
 Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
 XXX p.; il.
 ISBN XXXXXXXXXXXXX
 ISBN Digital XXXXXXXXXXXXX
1.Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxx
CDD XXXX.XXX
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO 
AMBIENTE ESCOLAR .................................................................... 7
CAPÍTULO 2
PERSPECTIVAS E AÇÕES DIRECIONADAS ÀS PRÁTICAS 
RESTAURATIVAS PARA JOVENS ESTUDANTES NO 
AMBIENTE ESCOLAR .................................................................. 47
CAPÍTULO 3
CONTRIBUIÇÕES DA FAMÍLIA NO PROCESSO EDUCATIVO, 
ESPECIALMENTE COM RELAÇÃO AOS FATORES DE 
VULNERABILIDADE, AOS QUAIS OS ESTUDANTES POSSAM 
ESTAR EXPOSTOS ............................................................................. 89
APRESENTAÇÃO
A sociedade brasileira tem sido marcada por diversas transformações 
em todas as áreas do conhecimento. Essas mudanças têm afetado os 
comportamentos humanos, especialmente, a forma de sentir e de agir consigo 
e com o outro. Paralelamente a essa forma de ver, sentir e estar no mundo são 
forjadas as relações interpessoais, nas quais os laços afetivos são bastante frágeis 
entre os sujeitos nessa sociedade transformada. Apesar da liquidez das relações 
interpessoais na sociedade moderna líquida, como destaca Bauman (2004), 
busca-se, arduamente, a comunicação com os outros, por meio de celulares, 
chats, e-mails, o que possibilita outras formas de se relacionar. Contudo, apesar 
de as pessoas se comunicarem muito, há efetivamente poucas trocas entre elas. 
Este Livro Didático foi organizado em três capítulos, em cada capítulo você 
encontrará duas seções com a intenção de facilitar sua compreensão sobre os 
temas trabalhados. Ao longo desses capítulos, ainda, haverá indicações de textos 
teóricos, artigos científicos, vídeos e autoatividades que devem ser realizadas 
durante o curso, cuja intenção é promover sua aprendizagem. 
No primeiro capítulo, foram abordadas práticas de mediação de conflitos 
realizadas em ambiente escolar, a partir de concepções teórico-metodológicas 
aprendidas para qualificar a atuação profissional na mediação de conflitos. Nesse 
sentido, indicaremos sugestões para que a equipe de mediadores conheça e faça 
suas adequações quando optar por utilizá-las para proteger toda a comunidade 
escolar.
 No segundo capítulo, a discussão privilegiou examinar mais detalhadamente 
as ações e as práticas restaurativas mais apropriadas para mediar conflitos com 
jovens estudantes no ambiente escolar, abordando a função social da escola, 
os pilares construídos por Delors para orientar a educação do Século XXI e a 
importância dos círculos restaurativos com base em experiências vividas e 
estudos analíticos. Além disso, faremos, ainda, a indicação de algumas práticas 
restaurativas que podem ser utilizadas pelos mediadores qualificados com jovens 
no ambiente escolar.
Por fim, no terceiro e último capítulo, a discussão dará ênfase às contribuições 
da família no processo educativo, especialmente, no que diz respeito aos fatores 
de vulnerabilidade e de riscos que os estudantes possam estar expostos quando 
aparecem os conflitos na escola.
A partir dessas discussões e reflexões propostas, espera-se que você 
demonstre, ao final desta disciplina, seu aprendizado no tocante às situações 
de conflitos na escola e às práticas de mediação desses conflitos; às práticas 
restaurativas na mediação de conflitos com jovens estudantes, bem como às 
contribuições da família no processo educativo, especialmente, na desarticulação 
dos fatores de vulnerabilidade e riscos que os estudantes possam estar expostos.
CAPÍTULO 1
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE 
CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender as situações de confl itos no ambiente escolar.
 Identifi car situações de confl itos no ambiente escolar, as quais os jovens 
estudantes possam estar expostos.
 Entender os processos envolvidos nas práticas de mediação dos confl itos.
 Utilizar os conceitos, temas e concepções teórico-metodológicas como 
sustentação para a compreensão da atuação profi ssional e pessoal na 
mediação de confl itos.
8
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
9
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Compreender a mediação de confl itos pode se confi gurar como um importante 
mecanismo para viabilizar o ensino no ambiente escolar, com maior qualidade 
e com efeitos diretos na aprendizagem dos conteúdos pelos estudantes, além 
de proporcionar experiências de vida que resultam em novas posturas, as quais 
fortalecem uma cultura democrática para o espaço escolar e na sociedade. A 
Figura 1 apresenta a ilustração de uma prática de mediação, na qual os sujeitos 
têm direito a falar e serem ouvidos, para que esse diálogo construa uma nova 
cultura que tem como alicerce a consolidação da paz por meio do respeito, da 
ética e da aprendizagem coletiva.
FIGURA 1 − PRÁTICA DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
FONTE: <https://www.goiania.go.gov.br/educacao-municipal-tem-comissao-
voltada-a-mediacao-de-confl itos/>. Acesso em: 9 abr. 2020.
Embora não seja fácil para os profi ssionais da educação, ou para os 
mediadores dos confl itos na escola, se apropriarem da temática de mediação 
de confl itos, a aprendizagem desta temática é um caminho importante para 
a comunidade escolar e para toda a sociedade. O domínio desse tema pelos 
profi ssionais da escola pode trazer modifi cações signifi cativas para a comunidade 
escolar e, em uma visão mais ampliada, pode impactar, ainda, até na maneira 
como os nossos governos podem vir a se comportar diante dos desafi os 
educacionais, inclusive na construção de políticas públicas com maior conexão à 
realidade das comunidades escolares e da sociedade de modo geral. 
10
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
FIGURA 2 − MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
FONTE: <https://www.doutoradoemestrado.com.br/blog/
mediacaodeconfl itos/>. Acesso em: 28 mar. 2020.
Políticas Públicas: para Almeida e Gomes (2018), as políticas 
públicas, como campo do conhecimento, têm sua origem na ciência 
política americana e remonta aos estudos da década de 1950 (MELO, 
1999 apud ALMEIDA; GOMES, 2018). Não há consenso entre os 
pesquisadores acerca do conceito de políticas públicas. O que há são 
variadas defi nições, desde as clássicas advindas da ciência política 
até as mais recentes. Lowi (1964 apud ALMEIDA; GOMES, 2018) 
afi rma que a política pública cria a política, levando ao entendimento 
de que a política pública emerge de um processo de disputas em 
distintas arenas decisórias. Defi nições recentes ilustram esse caráter 
político, ao considerar a política pública além de uma decisão 
governamental, ao passo que também pode decorrer de decisões e 
ações de outros atores, como a sociedade civil e o mercado, sendo 
infl uenciada por ideologias,interesses e necessidades de vários 
atores, sejam estes formais (aqueles que atuam diretamente nas 
arenas políticas institucionalizadas, como o Poder Executivo, o Poder 
Legislativo, o Poder Judiciário e os partidos políticos) ou informais 
(aqueles que atuam na esfera da sociedade civil).
11
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
Essas transformações têm trazido profundos impactos na formação e 
desenvolvimento dos jovens dessa nova geração, especialmente, na construção 
de relações saudáveis, respeitosas e éticas, em que muitos deles se transformam 
em jovens violadores das regras sociais, inclusive no ambiente escolar. Sendo 
assim, não é fácil lidar com jovens que apresentam condutas inapropriadas na 
escola, considerando que a escola, além de desenvolver uma função social 
relevante para a sociedade, abriga uma comunidade diversa e complexa, portanto, 
a construção dessas relações exige soluções compartilhadas, alianças, parcerias 
e trabalhos em rede para mediar os confl itos que emergem no ambiente escolar. 
Nessa perspectiva, 
[...] a articulação entre órgãos públicos, organizações da 
sociedade civil e comunidades torna-se uma necessidade 
permanente para o enfrentamento das questões e gestão 
de problemas, cada vez mais complexos. Para tanto, são 
imprescindíveis políticas descentralizadas de ação (NUNES, 
2018, p. 12).
A abordagem adotada neste Livro Didático visa atender aos anseios 
apresentados por estudantes, pais, professores e gestores escolares no sentido 
de encontrar saídas ou resoluções para os confl itos apresentados na escola, os 
quais têm se tornado cada vez mais presentes na realidade escolar, bem como 
apresentam valor signifi cativo para a conquista da educação de qualidade.
É uma realidade a difi culdade de gestores e professores ao lidar com 
os confl itos escolares. Nesse sentido, a carência de estudos, que agregam 
conhecimentos específi cos nesse tocante, contribui para a aridez de tal tarefa a 
ser desempenhada com a participação dos diversos segmentos da comunidade 
escolar. 
As vivências e as experiências que se dão nas instituições escolares 
podem ser melhor qualifi cadas e, de fato, contribuírem para o desenvolvimento 
de relações humanas saudáveis e dotadas de valores que viabilizam a solução 
de problemas comunicacionais e inibam atuações que se confi guram como um 
desserviço para o amadurecimento dos envolvidos. 
Os subsídios para a prevenção e a mediação serão tratados e, assim, 
entendemos que será possível colaborar para o fomento de práticas e refl exões 
que possam impulsionar o estabelecimento de regulamentações e defi nições 
institucionais para o tratamento de confl itos no âmbito da instituição educativa, 
repensando os padrões didáticos, a proposta político-pedagógica, o cenário da 
evasão e da retenção, entre outros.
12
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
2 DISCUTINDO SITUAÇÕES 
DE CONFLITOS NO AMBIENTE 
ESCOLAR, OS QUAIS OS 
ESTUDANTES POSSAM ESTAR 
EXPOSTOS
Nesta seção, vamos discutir algumas situações de confl itos no ambiente 
escolar com objetivo de construir um ambiente escolar alicerçado nas bases de 
segurança e paz para todos, sejam estudantes ou profi ssionais da educação. 
Entretanto, antes disso, buscamos pontuar algumas observações signifi cativas 
no campo do judiciário, cujo debate original não se iniciou na educação, mas no 
campo do poder judiciário, em que essa discussão foi motivada pelas pressões 
resultantes da sobrecarga desse poder, vez que as situações de mediações 
expressaram difi culdades para as pessoas construírem alternativas de resolução 
de seus confl itos, bem como as instituições terem deixado patente que não 
tinham condições para encampar uma outra postura diante das fraquezas e 
incapacidades de reação nas relações humanas.
O poder judiciário, um dos poderes da república brasileira, é 
composto por um órgão de cúpula, o Supremo Tribunal Federal e dois 
grandes grupos, a justiça comum (justiça federal e justiça estadual) e 
a justiça especial (justiça militar, justiça do trabalho e justiça eleitoral).
A Figura 3 a seguir retrata a noção de justiça como sendo uma abstração, em 
que o equilíbrio está em primeiro lugar em face das interações sociais e das partes 
envolvidas, garantindo a imparcialidade e a razoabilidade, mesmo estando diante 
de interesses antagônicos em distintos grupos sociais. Entretanto, essa ilustração 
pode esconder, também, as reais implicações que se tem de uma sociedade 
afi ançar a resolução dos seus confl itos a uma instituição, pois isso pode revelar 
a fé cega na justiça ou o abandono da condição cidadã e das responsabilidades 
diante das necessidades de se fortalecer processos democráticos em nosso 
Estado democrático de direito. 
13
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
FIGURA 3 − A JUSTIÇA
FONTE: <https://br.pinterest.com/simplesmenteyuri/
justi%C3%A7a/>. Acesso em: 28 mar. 2020.
Esse cenário implicou no transbordamento do poder judiciário como instância 
primaz para encaminhar soluções requeridas pelos litigantes, todavia, com 
a sobrecarga, o poder judiciário percebeu que era necessário enfrentar esse 
debate e iniciar ações em busca da consolidação de estratégias que impulsionam 
a resolução de confl itos sem ter necessidade de todo e qualquer embate ser 
apresentado ao judiciário no ritual convencional da justiça. 
Pontuamos que os usuários da justiça são denominados litigantes. Isso 
acontece quando o desentendimento é levado à justiça em busca de uma decisão. 
Assim, a lide se constitui como o embate entre interesses das pessoas que veem 
resistência as suas pretensões. A lide é composta por partes que precisam agir 
de boa-fé e com lealdade processual (expor os fatos conforme a verdade, cumprir 
com exatidão as decisões judiciais e evitar praticar atos que sejam inúteis na 
defesa de seus direitos). 
Esse movimento de incentivar a solução de confl itos sem a necessidade de 
ingressar no poder judiciário tem ganhado força desde os anos 1990, com uma 
feição direcionada ao aprendizado e de cunho pedagógico, com vistas a estruturar 
outros mecanismos e forças sociais que sejam capazes de alicerçar a pacifi cação 
e o crescimento dos valores éticos e da cidadania na sociedade brasileira. 
Desde o início da década de 1990, iniciou-se o estímulo à 
14
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
conciliação por meio de reformas legislativas como política 
pública de alteração sistêmica do Poder Judiciário. Com o 
início do Movimento pela Conciliação, do Conselho Nacional 
de Justiça, em 2006, passou-se a trabalhar a noção de que o 
Estado precisa preparar o jurisdicionado para adequadamente 
utilizar o sistema público de resolução de disputas (AZEVEDO, 
2013, n.p). 
Acerca dessa mobilização, Azevedo (2013) entende como inconcebível tratar 
a posição do juiz como única possível na maioria esmagadora dos confl itos em 
que as pessoas demandam solução. É uma visão autoritária a noção de que o 
juiz é o detentor da verdade absoluta e sempre de posições sensatas. No limite, 
a ideia do jurisdicionado em recorrer ao juiz como terceiro é também uma forma 
de fuga do enfrentamento e manifesta a difi culdade de se construir outros meios 
mais amigáveis e consensuais.
Indicamos assistir ao vídeo “Aula 03 - Filosofi a do Direito - 
Conceito de Justiça”, do Canal “GETUSSP”, disponível em https://
www.youtube.com/watch?v=ga_n8kn2BVg. Esse vídeo traz uma 
refl exão acerca do conceito de justiça e os sentimentos que comporta, 
considerando os contextos históricos e os aportes fi losófi cos que 
contribuem para a colmatação desse conceito sob o ponto de vista da 
fi losofi a do direito. Sendo assim, traz para o debate suas concepções 
no sentido da retribuição, da igualdade, da liberdade e de outras 
acepções. Além disso, ilumina questões interessantes como: “A 
justiça é absoluta ou variável?” e “O que é o sentimento de justiça?”. 
A análise realizada e os argumentosapresentados se pautam em 
recortes temporais e espaciais que contribuem para ampliar a noção 
do conceito de justiça.
Então, nesse cenário, é preciso repensar, e o Estado assumir um papel de 
orientação para que a solução não venha somente para um confl ito em específi co, 
mas que as pessoas envolvidas possam sedimentar outras perspectivas mais 
alargadas, inteligentes e estruturadas em prol da qualidade de vida e do bem-
estar de todos. Assim, a formação diante de um contexto servirá de substrato para 
poder amadurecer e conseguir construir outras alternativas e modos interessantes 
e produtivos para lidar com os confl itos.
Esse horizonte nos impulsiona a refl etirmos acerca da necessidade de uma 
15
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
mudança de padrão de pensamento em larga escala em nossa sociedade. A 
modifi cação dos hábitos mentais de nossa população no que tange à resolução 
de confl itos é possível desde que tenhamos fortalecido outros meios para além 
do que convencionalmente utilizamos, dado que usarmos o mesmo bloco não 
vai proporcionar infl exões ao ponto de redirecionar o rumo das relações sociais. 
Nesse sentido, devemos considerar que para mudar o pensamento é preciso 
aprofundar e rever os sentimentos envolvidos com as atitudes das pessoas. Lidar 
com os sentimentos é o caminho para a reconstrução de práticas ao ponto de 
estimular a autoestima e desenhar novas recepções que superem o pensamento 
automático (tudo aquilo que fazemos sem tecer ou elaborar refl exões sobre aquilo: 
as coisas que fazemos de forma automática) e, assim, ser capaz de transformar 
padrões de comportamento para toda a sociedade. Esse é o desafi o que tem se 
apresentado no campo da resolução de confl itos e que o judiciário tem buscado 
enfrentar com vistas a desenvolver atitudes mais equilibradas e independentes.
Quando recorremos a um juiz, em alguma medida, nos distanciamos da 
situação e damos ao outro a oportunidade de decidir. Isso gera uma condição de 
falta de autonomia e autodeterminação, que torna a sociedade defi ciente do ponto 
de vista emocional para lidar com seus dilemas e embates. A substitutividade 
condena as partes à situação vexatória de entregar a um terceiro o poder de 
interpretar com base no ordenamento jurídico e nas experiências de vida, que não 
são as mesmas de ambas partes. 
O mais apropriado é a justiça só entrar em cena em segundo momento, 
depois de ter esgotado as possibilidades de construção de entendimento no 
seio social. É o que se espera de uma sociedade como a brasileira que tem 
seus padrões de civilidade ancorados nos princípios da Declaração dos Direitos 
Humanos de 1948 e da Constituição Federal de 1988.
Dito isso acerca dessas iniciativas, no sentido de a nossa população ser 
capaz de mediar seus confl itos com qualidade, entendemos que os professores 
são cruciais para a efetivação de uma rede de proteção, em que a escola se situa 
como instituição basilar para a construção de formas de resolução de confl itos e, 
por conseguinte, para o fomento da cultura da paz.
Indicamos acessar e explorar os conteúdos presentes na página 
ofi cial da Escola Nacional de Mediação e Conciliação – ENAM: 
https://www.justica.gov.br/seus-direitos/politicas-de-justica/enapres. 
Essa escola foi criada em 2012, no âmbito do Ministério da Justiça 
e Segurança Pública, é uma ferramenta que visa contribuir com a 
formulação e com a oferta de capacitações, treinamentos, cursos, 
materiais pedagógicos e didáticos, além de pesquisas acadêmicas 
16
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
sobre os meios alternativos de solução de confl itos, especialmente, os 
meios autocompositivos. Autocompositivos porque, ao contrário dos 
meios heterocompositivos de solução de confl itos, tal qual o processo 
judicial típico, são os próprios sujeitos em disputa que, através da 
boa conversa e do bom acordo, constroem juntos os caminhos e as 
saídas que levarão à resolução do problema em questão. Assim, seja 
através da mediação por um profi ssional devidamente capacitado, seja 
diretamente, por meio dos expedientes da negociação, as partes se 
comunicam para identifi car as reais causas do confl ito e as possíveis 
soluções. Diante de uma solução construída conjuntamente, mostra 
a experiência que difi cilmente as partes deixam de cumprir o acordo 
alcançado, porque reconhecem nele o resultado de suas próprias 
aspirações, interesses e anseios. Nesse sentido, por meio de cursos 
presenciais e a distância, a ENAM busca fornecer, de forma ampla e 
gratuita, capacitações que desenvolvam e aperfeiçoem as técnicas 
consensuais de solução pacífi ca de confl itos, visando à disseminação 
da cultura do diálogo e da paz.
Assinalamos que a cultura de paz é fundamental em um país como o nosso, 
que registra atualmente dois terços das mortes de causas externas por suicídios 
(Figura 4 e Figura 5), homicídios (aumento de 23% dos assassinatos por policiais 
em 2019, entre outros fatores) e acidentes de trânsito (cinco mortes por hora), 
sendo essa situação uma marca de sociedade que cultiva a herança da violência. 
Por isso, a cultura de paz coaduna com a visão de saúde, sustentada pela 
Organização Mundial de Saúde, registrada em Palma (2000, p. 97) como "um 
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de 
doença ou enfermidade".
FIGURA 4 − TAXA DE SUICÍDIOS NO BRASIL POR 100 MIL HABITANTES (1996-2020)
FONTE: <http://revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2019/09/20/o-que-
dizem-os-numeros-sobre-suicidio-no-brasil>. Acesso em: 28 mar. 2020.
17
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
O Setembro Amarelo foi lançado, em 2003, pela International Association for 
Suicide Prevention, com o objetivo de reposicionar esse tema na agenda pública 
e, em 2015, o Brasil se conectou a esse esforço internacional e decidiu estampar 
essa discussão nos distintos setores da nossa sociedade, dado que o Datasus 
contabilizou de 1996 a 2017 o total de 195.979 mortes autoprovocadas (79,02% 
são homens). A Figura 5 ilustra bem o cenário brasileiro correspondente aos 
dados de 2017.
FIGURA 5 − TAXA DE SUICÍDIO (2017)
FONTE: <http://geocartografi adigital.blogspot.com/2019/03/mapa-do-
suicidio-os-estados-mais-e.html>. Acesso em: 28 mar. 2020.
O espaço escolar e os profi ssionais de educação envolvidos precisam 
estimular o desenvolvimento de procedimentos e ações que estimulem práticas 
que sejam capazes de contribuir para a resolução de embates com o mínimo 
de impactos nos relacionamentos e, se possível, edifi car o grupo todo com o 
18
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
conhecimento e aprendizagem adquiridos na construção do caminho alternativo 
burilado de modo a evitar novos confl itos, bem como impulsionar ações em prol 
da conciliação e do bom convívio social.
As condições dos relacionamentos precisam ser consideradas no 
desenvolvimento do trabalho pedagógico, dado que a escola tem como uma das 
suas principais funções promover a socialização das pessoas envolvidas em 
suas atividades. Voltar o olhar para o autoconhecimento e para a autonomia, com 
enfoque no ângulo da vivência e na realidade dos estudantes, colabora para a 
consolidação de ideias e posturas que viabilizam a pavimentação de estradas 
em busca de um novo horizonte, que permita obter mais sucesso na resolução 
de confl itos. Pontua-se que o confl ito é inevitável, entretanto, faz-se necessário 
enfrentá-lo com discussões, estratégias e compartilhamento de experiências 
que possam alargar a maturidade com vistas a subvencionar os envolvidos. 
Nesse sentido, a escola se apresenta como fundamental para desenvolver essas 
habilidades que podem colaborar para reverter os indicadores que nos assustam 
e põem em cheque os nossos marcos civilizatórios, bem como a nossa jovem 
democracia. A Figura 6 ilustra bem o quanto uma cultura de resolução de confl itos 
é saudável para a democracia e para a liberdadedas pessoas, haja vista que 
ela pode ser uma estratégia para consolidar posturas menos autoritárias e, 
por conseguinte, mais respeitosas para com a diversidade de pensamento e a 
pluralidade de concepções. 
FIGURA 6 − CONFLITOS E DEMOCRACIA 
FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/12649740>. Acesso em: 9 abr. 2020.
19
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
A conceituação do que vem a ser confl ito é salutar para termos clareza do 
seu recorte e do entendimento que vem sendo reconhecido pela literatura desse 
campo. Nesse sentido, apresentamos a compreensão de Chrispino (2007, p. 15):
Confl ito é toda opinião divergente ou maneira diferente de ver 
ou interpretar algum acontecimento. A partir disso, todos os que 
vivemos em sociedade temos a experiência do confl ito. Desde 
os confl itos próprios da infância, passamos pelos confl itos 
pessoais da adolescência e, hoje, visitados pela maturidade, 
continuamos a conviver com o confl ito intrapessoal (ir/não ir, 
fazer/não fazer, falar/não falar, comprar/não comprar, vender/
não vender, casar/não casar etc.) ou interpessoal, sobre o qual 
nos deteremos. São exemplos de confl ito interpessoal a briga 
de vizinhos, a separação familiar, a guerra e o desentendimento 
entre alunos.
Com base nessa leitura, podemos externar que o ser humano é marcado por 
diversos confl itos que podem envolver os seguintes aspectos:
● as decisões e as experiências − no contexto de ser envolvido as 
aprendizagens;
● os embates de classes sociais e seus distintos interesses e consciências 
− no âmbito da ideia de igualdade relacionada à hierarquia e à 
estratifi cação social;
● as distintas maneiras de lidar com a relação entre o sujeito e o meio − no 
signifi cado da existência considerando a diferenciação e a adaptação; 
● os impasses no bojo do desejo e da proibição − no entendimento do 
dever tendo em vista a repressão e a defesa.
A partir dessa abordagem, em que o confl ito aparece como inerente à vida 
humana, o entendimento que mais ganha relevância é no sentido de que “[...] se 
origina da diferença de interesses, de desejos e de aspirações. Percebe-se que 
não existe aqui a noção estrita de erro e de acerto, mas de posições que são 
defendidas frente a outras, diferentes” (CHRISPINO, 2007, p. 16).
A condição humana como ser social que vive em sociedade viabiliza 
a realização de suas necessidades mais básicas até as aspirações mais 
elevadas. Nessa convivência, as relações interpessoais são fundamentais. 
Ao longo da história, passamos por modifi cações quanto aos costumes, e, 
na contemporaneidade, temos elementos como a competitividade em vez da 
cooperação, a desigualdade no lugar da inclusão e a dominação ao invés da 
colaboração, sendo fontes que ampliam as situações de confl itos e geram os 
principais embates na construção de soluções. A Figura 7 elucida bem o quanto 
precisamos convergir mais em vez de divergir.
20
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
FIGURA 7 − COOPERAÇÃO VERSUS COMPETIÇÃO
FONTE: <https://www.iespe.com.br/blog/competicao-e-
cooperacao-por-que-nao/>. Acesso em: 9 abr. 2020
A competição pode ser vista como a luta ou a rivalidade entre adversários 
com foco na conquista de algo. Em que a superação de um em relação ao outro 
promove a vitória ou vantagens que repercutem em benefícios. Essa interação 
ocorre na busca de um dado recurso. Por outro lado, a cooperação reporta a 
ideia de um atuar junto ao outro, em uma relação baseada na colaboração com 
o objetivo de alcançar objetivos comuns: é agir coletivamente. Precisamos cada 
vez mais reforçar os valores da cooperação, da colaboração e da condição de 
igualdade dos seres humanos. Só há sucesso se todos ganharem pelo menos um 
pouco. A palavra coopetição, que aparece na Figura 7, diz respeito à necessidade 
de as empresas competirem, mas também cooperarem, porque se assim não 
fazem a interação fi ca prejudicada e todos perdem. Nesse sentido, é acontecer 
a contribuição de um para com o outro, de modo que o crescimento aconteça em 
benefício de todos. 
Dependendo da forma como lidamos com os confl itos podemos perceber que 
fazem o elo entre a paz e a violência, dado que a paz se encontra no campo de uma 
abordagem com vocação para a mediação, negociação e corresponsabilidade; ao 
passo que a violência se encontra no cenário em que se estabelecem ameaças, 
autoritarismos e punições sem critérios. O Quadro 1 apresenta as causas dos 
confl itos em sintonia com os tipos de confl itos, tais identifi cações colaboram para 
a compreensão desse fenômeno e também para a formulação de ações com 
vistas a uma intervenção qualifi cada.
21
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
QUADRO 1 − CAUSAS DOS CONFLITOS
FONTE: Chrispino (2007, p. 18)
O ponto que se faz notório em nossas escolas é que o confl ito costuma 
ocupar os espaços de fala, assumindo uma feição que se manifesta na forma de 
violência. Antes disso, é tratado como se não estivesse ali, como se não existisse, 
ignorado, e, certamente, até assumir a forma de violência, ele passou por 
momentos que era uma divergência ou um antagonismo, todavia, não foi tratado 
com a seriedade e com a abordagem adequada que merecia. Dessa forma, as 
consequências podem se tornar muito graves e mais difíceis de serem resolvidas. 
Assim, devemos considerar que, “no universo da escola, a divergência de opinião 
entre alunos e professores, entre os alunos e entre os professores seja uma causa 
objetiva de confl itos” (CHRISPINO, 2007, p. 16).
Os confl itos na escola precisam ser enfrentados e, para isso, é necessário 
entender as suas causas, que podem ser externas ou internas ao grupo. 
Como causas externas podemos exemplifi car quando as pessoas têm seus 
direitos desrespeitados, sofrerem pressão para apresentarem um determinado 
comportamento, sofrem de violência doméstica, abuso de autoridade, violência da 
mídia ou violência da comunidade. Essas causas contribuem para o rompimento 
do equilíbrio nas relações sociais. Já com relação às causas internas ao grupo, 
registramos os vínculos frouxos ou ausentes, a falta de normas de convivência, 
a obstrução dos canais de participação, os manejos de confl itos conduzidos 
de modo inadequado, as insufi cientes competências em comunicação e a 
descontextualização dos currículos com relação às realidades vivenciadas pelos 
estudantes e uma abordagem curricular fragmentada.
Em face das causas externas e internas apontadas, notamos que o 
rompimento do equilíbrio se caracteriza com manifestações, como: frustração, 
insegurança, agressividade e agressão. O resultado desse processo é a 
consolidação de violência contra si próprio, contra o outro, de maneira indireta ou 
TIPOS DE CONFLITOS CAUSAS DOS CONFLITOS
Estruturais Padrões destrutivos de comportamento ou interação; controle,
posse ou distribuição desigual de recursos; poder e autoridade
desiguais; fatores geográfi cos, físicos ou ambientais que impeçam
a cooperação; pressões de tempo.
De valor Critérios diferentes para avaliar ideias ou comportamentos;
objetivos exclusivos intrinsecamente valiosos; modos de vida,
ideologia ou religião diferentes.
De relacionamento Emoções fortes; percepções equivocadas ou estereótipos; comunicação
inadequada ou defi ciente; comportamento negativo — repetitivo.
De interesse Competição percebida ou real sobre interesses fundamentais
(conteúdo); interesses quanto a procedimentos; interesses psicológicos.
Quanto aos dados Falta de informação; informação errada; pontos de vista diferentes
sobre o que é importante; interpretações diferentes dos dados;
procedimentos de avaliação diferentes.
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 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
direta contra a escola e contra toda a sociedade. Temos de ter em vista a arte, 
os esportes e a música como importantes aliados para a superação de questões 
associadas a essas difi culdades de convivência. Para uma melhor visualização 
de quando o confl ito ocorre, apresentamoso Quadro 2.
QUADRO 2 − QUANDO OCORRE O CONFLITO
TIPOS DE 
CONFLITOS...
O CONFLITO OCORRE QUANDO
De recursos 
escassos
Disputamos por algo que não existe sufi cientemente para todos.
De poder Disputamos porque algum de nós quer mandar, dirigir ou controlar o outro.
De autoestima Disputamos porque meu orgulho pessoal se sente ferido.
De valores Disputamos porque meus valores ou crenças fundamentais estão em jogo.
De estrutura Disputamos por um problema cuja solução requer longo prazo, esforços 
importantes de muitos, e meios estão além de
minha possibilidade pessoal.
De identidade Disputamos porque o problema afeta minha maneira íntima de ser o que sou.
De norma Disputamos porque meus valores ou crenças fundamentais estão em ¡ogo.
De expectativas Disputamos porque não se cumpriu ou se fraudou o que um esperava do outro.
De inadaptação Disputamos porque modifi car as coisas produz uma tensão que não desejo.
De informação Disputamos por algo que se disse ou não se disse ou que se entendeu de forma 
errada.
De interesses Disputamos porque meus interesses ou desejos são contrários aos do outro.
De atribuição Disputamos porque o outro não assume a sua culpa ou responsabilidade em 
determinada situação.
De relações 
pessoais
Disputamos porque habitualmente não nos entendemos como pessoas.
De inibição Disputamos porque claramente a solução do problema depende do outro.
De legitimação Disputamos porque o outro não está de alguma maneira autorizado a atuar 
como o faz, ou tem feito ou pretende fazer.
FONTE: Chrispino (2007, p. 19)
Na educação, temos que articular ações de controle com ações de apoio. A 
título de ações de controle, apontamos a instituição de regras, a fi scalização ou 
acompanhamento do cumprimento do que fi cou acertado e as punições diante 
das infrações. Como exemplo de ações e apoio, sugerimos a promoção de 
atividades esportivas e artísticas. Sendo assim, é importante fortalecer os canais 
de participação, as ações de controle e a estimulação das ações de apoio. As 
refl exões sobre a qualidade das relações dentro do espaço escolar devem estar 
sempre na pauta das instituições educacionais. 
Os estudantes precisam ser estimulados a manter uma boa participação 
na vida escolar, de modo a fomentar seu protagonismo. É conduzir as refl exões 
no sentido de meditar acerca de como queremos tratar e sermos tratados. Na 
sala de aula deve se ter momentos para refl etir sobre os atos e compartilhar 
olhares, constituindo novas maneiras de resolver os confl itos e fazendo uso dos 
diálogos que garantam a voz de todos os envolvidos da comunidade escolar. 
23
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
O entendimento dos limites é crucial tanto para a escola quanto para a família, 
haja vista que o respeito, a cooperação, a amizade, a responsabilidade e a 
solidariedade são elementos-chave para que se construam relações saudáveis. 
Portanto, a participação de todos é necessária para o sucesso dessas ações.
Os pilares da educação assumidos pela Organização das Nações Unidas são 
pertinentes a esse assunto, são eles: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a 
conviver e aprender a aprender. Tais pilares nos ajudam a saber que a resolução 
de confl itos se constitui como uma prática nos espaços escolares no combate à 
violência, que está cada vez mais presente em nossa sociedade. A violência afeta 
a escola e isso implica uma reação urgente no combate da violência estrutural em 
superação das situações de humilhação, discriminação, exclusão e vitimização.
A sociedade espera na escola a construção de instrumentos para uma cultura 
da paz e superação da violência. Esclarece-se que o confl ito em si não signifi ca 
violência, no entanto, as formas ou as maneiras que são usadas para encontrar 
a solução dos confl itos, em muitos casos, resultam na expressão da violência. A 
rivalidade, a tensão e o desacordo conseguem gerar como resultante a violência 
(implícita ou explícita). Quanto mais aprendermos a lidar com os confl itos, mais 
poderemos antecipar nossas decisões e nos tornarmos aptos a encontrar as 
melhores soluções.
FIGURA 8 − CAMINHO DA CULTURA DA PAZ
FONTE: <http://www.ivancabral.com/2008/09/charge-
do-dia-paz.html>. Acesso em: 9 abr. 2020.
24
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
A charge presente na Figura 8 retrata os diversos caminhos para se encontrar 
a paz. Essa ilustração nos ajuda a refl etir que é preciso entendermos quem de 
fato pode promover a paz em nossas escolas. Nesse sentido, esses protagonistas 
são a comunidade, os estudantes, os educadores, os pais, a sociedade civil e 
os órgãos públicos competentes. Promover a paz é dar uma resposta importante 
para os altos índices de violência na escola, por intermédio da construção de um 
meio escolar harmônico e saudável. Para tanto, a disseminação de experiências e 
estratégias podem ser instrumentos fundamentais para a alteração da realidade. 
A ideia é manejar os diversos recursos, constituindo redes solidárias em que 
se é possível fazer uso de diversos espaços e relações temporais, haja vista que 
precisamos de uma cultura da paz em todos os âmbitos de nossa vida: no dia 
a dia, na família, no trabalho, enfi m, em todas as escalas possíveis. Portanto, 
a cultura de paz é “em prol da justiça econômica, direitos humanos, ecologia, 
participação democrática e igualdade para as mulheres, bem como em prol da 
não violência e desarmamento” (ADAMS, 2003, p. 14).
Uma visão positiva do confl ito é necessária para que possamos assumir a 
naturalidade e a irreversibilidade dessa condição humana. O caminho é saber 
administrá-los, pois não devem ser vistos como obstáculos. Não se trata de pensá-
los como bons ou ruins, positivos ou negativos, mas podemos buscar respostas 
e entender como resolvê-los à medida que amadurecemos a nossa compreensão 
dos processos que os envolvem. É uma oportunidade de crescimento, de 
resolução positiva, de mudança e de aumentar o envolvimento e a motivação de 
todos da escola.
Para a construção de uma escola democrática, se exige assumir o desafi o 
de proporcionar aos estudantes as condições para uma participação efetiva, de 
modo que a comunidade escolar possa se perceber atuante, consequentemente, 
ampliando sua aprendizagem, sobretudo, se for feito o uso de metodologias ativas 
em conexão com a ideia de aprendizagem signifi cativa. O compartilhamento de 
ideias se torna um valor para a democracia, sendo a escola um espaço privilegiado 
para formar pessoas capazes de impulsionar a livre expressão do pensamento 
(ELLER, 2019).
A Figura 9 suscita a noção histórica de educação e nos reporta ao plano da 
necessidade de superarmos os comportamentos e hábitos culturais arraigados 
que servem de entraves para a consolidação de uma educação democrática, que 
exige ultrapassar as dimensões que contribuem para a desigualdade, bem como 
condenam a população ao estágio de não participação efetiva na vida democrática. 
Somente um sistema universal de educação pode ser capaz de proporcionar 
alentos nessa direção com vistas a garantir direitos, dado que precisamos de uma 
plataforma lógica que consiga nos subvencionar com a progressão, no sentido 
25
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
de agregar com a complexidade das relações e exigências de convivência com 
o outro, de exercitar a tolerância, de construir um sentimento de igualdade no 
tocante à ideia de humanidade e suas implicações, de dominar uma inteligência 
emocional, entre outros aspectos.
FIGURA 9 − DEMOCRACIA E ESCOLA
FONTE: <https://bloguniversidadelivrepampedia.com/2016/04/18/
democracia-e-educacao/>. Acesso em: 9 abr. 2020.
A consolidação de uma realidade verdadeiramente democrática impõe, 
essencialmente, que os sujeitos possam conviver entre si de modo respeitoso 
e dialógico. A escola precisa estar mais próxima da experiência, pois somente 
assim se torna possível conseguir a ampliação do rol de princípiose valores 
compartilhados por todos, de modo a impulsionar a transformação das próprias 
ações e do mundo que vivem. Além disso, o aprendizado está associado não 
somente à quantidade de informações absorvidas, mas também à aquisição de 
novas maneiras de agir que se situa no campo da experiência.
Essa consideração acerca do aprendizado tem como raiz a ideia de que a 
aprendizagem está inerentemente relacionada à prática e à atuação de modo ativo, 
com vistas a assegurar a utilidade e a compreensão por parte dos alunos de que 
o que estão realizando é algo útil e interessante. Além disso, infl uencia também 
o fato de que o interesse em fazer de modo espontâneo e livre repercute em 
maiores níveis de desenvolvimento e contribui para a construção da consciência 
cidadã com repercussão nas possibilidades de transformação do mundo. Quanto 
mais o estudante se sente pertencente ao processo educativo, maiores são suas 
relações, comparações e associações com os distintos aspectos de sua realidade 
26
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
e isso resulta em aprendizado em conjunto e potencialmente mais efetivo, porque 
a produção de sentidos se amplia de modo claro e consistente de modo a conduzir 
a constituição de competências fundamentais para a vida em sociedade, pois se 
integra à vida (DEWEY, 1959; ELLER, 2019).
Como complemento ao conhecimento aqui tratado que aborda a 
democracia, indicamos assistir ao vídeo “D07 - Filosofi a da Educação 
- John Dewey”, do Canal Univesp, disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=XSFtv7DRSN4. Esse vídeo é uma produção 
que discute o pensamento de John Dewey, fi lósofo estadunidense 
que infl uenciou o pensamento dos Estados Unidos no que se refere 
ao exercício da democracia e à construção de uma autonomia efetiva. 
Esse pensador defende que o aprendizado só é possível quando as 
ideias são compartilhadas em ambientes que se estruturam na livre 
expressão do pensamento.
 É imprescindível a escola proporcionar para o estudante a percepção da 
sua individualidade em um dado contexto social, que ultrapassa a sua dimensão 
familiar e alcança a sua comunidade e instituição de educação formal. A instituição 
de ensino precisa dar conta de conduzir um projeto de formação que seja 
relevante para as novas gerações diante da atual sociedade do conhecimento, 
que demanda dos sujeitos muito mais que processar informações, alcançando o 
plano da iniciativa e da criatividade (FELDMANN, 2009). 
A Figura 10 nos apresenta uma realidade atual em que a informação se 
tornou o substrato essencial para a vivência humana, pautada pelo uso de novas 
tecnologias e os novos arranjos para o processamento da informação, e assim 
se constroem novos mercados, novas dinâmicas, novos empregos, entre outras 
mudanças.
27
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
FIGURA 10 − SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
FONTE: <https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/sociedade-da-
informacao-ou-sociedade-do-conhecimento/>. Acesso em: 9 abr. 2020.
Essa compreensão resulta de uma leitura da realidade escolar como sendo 
produto da experiência vivida com qualidade e inteligência, em que os estudantes 
são encorajados a participar da vida intelectual, política e social da escola. Nesse 
sentido, a resolução de problemas fi gura como ponto-chave para a ativação dos 
protagonismos das crianças. Com essas iniciativas conseguimos promover uma 
formação que qualifi ca a participação dos estudantes na vida pública em função 
da sua larga experiência de vivência democrática na escola.
A promoção do diálogo é a ponte para a consolidação de uma escola 
democrática, pois é por meio dele que se trabalha em uma perspectiva da 
horizontalidade das relações, de modo a evitar os pensamentos autoritários e 
truculentos, os quais desconsideram o lugar do outro no mundo e edifi cam um 
mundo cada vez mais individualista e dilacerado do ponto de vista das relações 
sociais.
Considerando o diálogo como fundamental para a formação do homem 
enquanto ser social, que visa vivenciar a vida democrática com escolhas grupais e 
orientação para uma maturidade da representação, a Figura 11 traduz a relevância 
de um caráter educacional que consiga gerar rebatimentos no meio social em prol 
de uma lógica que avance do ponto de vista humano por meio de postulações 
pedagógicas pragmáticas (DEWEY, 1959), havendo o apreço do trabalho em 
grupo, do aprender pelo fazer, da integração teoria e prática, da metodologia de 
cunho científi co, entre outros. 
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 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
FIGURA 11 − DIÁLOGO
FONTE: <http://www.fi losofi a.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.
php?foto=106&evento=6>. Acesso em: 9 abr. 2020.
O diálogo e a mediação de confl itos no ambiente escolar são assuntos 
de grande relevância, porque questões como o desrespeito às diferenças, os 
preconceitos, a discriminação, a intolerância e a violência são muito intensos e 
presentes em nossa sociedade, e a escola nesse contexto pode desempenhar 
um papel benéfi co ao constituir momentos que sejam capazes de suprimir os 
confl itos, evitando a vertente do autoritarismo e da submissão. 
A Figura 12 anuncia como via o desenvolvimento de uma sabedoria diretiva 
de comunicação para o compartilhamento e inserção do ser humano no ser social, 
porque se permite trabalhar e problematizar os sistemas de valores, de modo a 
verifi car as condições e as razões que permeiam a ideia de efi ciência no cenário 
das experiências, considerando as particularidades e as variáveis com fi to de uma 
vida saudável constituinte da aventura do ser humano no mundo e seus refl exos 
na escola. Assim, no ambiente escolar é necessário se conduzir as relações de 
maneira que os seus membros se sintam à vontade e abertos ao sorriso, ao desejo 
de fazer perguntas, ao gosto pela diversão, ao compartilhamento, à solidariedade 
e ao apreço pela exposição do ponto de vista. Dessa forma, a escola se torna 
efetivamente um laboratório da democracia. 
29
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
FIGURA 12 − MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
FONTE: <https://esesp.es.gov.br/Media/esesp/Apostilas/Gest%C3%A3o%20
de%20confl itos-1.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2020.
Vivemos em ambientes escolares em que os confl itos são inerentes porque 
convivemos uns com os outros. As possibilidades de confl itos são muitas, 
no entanto, cabe a todos entendermos os fatores que envolvem as nossas 
divergências. O confl ito é apenas a divergência entre as metas de uma parte e da 
outra - a divergência de ideias. Não há que se falar em confl ito positivo e negativo. 
O problema é a forma com que se escolhe para resolvê-los. Na maioria das vezes, 
se escolhe a violência como forma de resolver um confl ito. 
No contexto escolar existem várias possibilidades de resolver os confl itos, 
assinalamos três possibilidades: fazer de conta que o confl ito não existe, que 
em si também é violenta; resolver de forma violenta; ou solucionar por meio do 
diálogo, por meio da comunicação não violenta.
A violência se caracteriza pela imposição da força de um ser mais forte 
sobre um ser mais fraco. Nesse sentido, o uso da força não se trata somente da 
força física. Tais atos podem ser praticados por indivíduos, instituições e grupos. 
Desse modo, é necessário aprender a tratar as pessoas de uma forma diferente, 
buscando reconhecer os sentimentos que estão expressados para que venhamos 
a colaborar para relações cada vez mais verdadeiras. É um chamado a revisitar 
o espaço da escola para entender as razões que são originadas nas práticas 
educativas e que venham a alicerçar as relações humanas em sentimentos, 
necessidades e diálogos. 
O uso inadequado da força se torna violência. A noção de violência tem sido 
pensada no plural, violências. Essas violências nos remetem ao uso progressivo 
da força de modo exagerado e traz prejuízo ao outro. Ao citar a violência física 
(a mais visível ou a mais direta), podemos destacaratitudes como empurrões 
nos recreios e saídas da escola, momentos em que geralmente se tem plateia, 
pedindo tensionamento (briga, sangue). Essas situações trazem muitos danos 
30
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
para os dois polos, tanto para os agressores quanto para os agredidos. 
Os profi ssionais de educação podem estabelecer combinados com os 
estudantes construindo as regras de relacionamento no ambiente escolar e no 
tempo de convivência. É preciso defi nir modos de como lidar com os confl itos do 
dia a dia na escola. O elemento principal que move a resolução de confl itos é a 
comunicação. A falta de comunicação leva à inclusão de uma nova pessoa na 
relação, denominada mediador. 
Para entender o processo de comunicação, é preciso ter como referência o 
fato de que é impossível não se comunicar, dado que até o silêncio é uma forma 
de comunicação. Na sala de aula, a fala dos estudantes deve ser pensada tendo 
como subsídio a postura corporal dos alunos. É necessário considerar o que se 
fala e como se fala, pois isso dita o processo de relação. 
Temos a comunicação verbal e a não verbal e elas se complementam 
para que a pessoa se faça entender. A clareza na comunicação é crucial para a 
qualidade dos relacionamentos. Precisamos refl etir sobre a relação tendo como 
referência a comunicação que é estabelecida. 
As lições de Almeida (2009) nos ensinam que, nas instituições em que se 
institui a mediação escolar, a redução da violência se evidencia rapidamente, 
sendo assim, é imperioso a gestão de confl itos, pois esse é o caminho mais curto 
para a promoção de oportunidades que fortalecem uma cultura de paz na escola.
Tendo em vista a dimensão da religiosidade afro-brasileira e indígena como 
integrantes da formação cultural do povo brasileiro, assinalamos que é preciso 
avançar no entendimento dessas relações para que se reduza o preconceito por 
meio do esclarecimento. Lembrando que a ignorância é uma fonte importante 
para a desigualdade de tratamento, bem como para a intensifi cação de confl itos 
no ambiente escolar. 
Para uma melhor compreensão dos processos que envolvem a 
formação cultural de um povo, indicamos a leitura do livro “O que é 
cultura”, de José Luiz dos Santos.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 16. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 2006. Disponível em: https://www.netmundi.org/home/
wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-
Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.
31
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
No Brasil, há diversas tradições culturais, algumas mais popularizadas e 
outras pouco conhecidas; algumas valorizadas, outras pouco respeitadas. Para 
compreender os elementos comuns e as singularidades entre as culturas, é 
preciso buscar a identifi cação das particularidades dos povos, apropriar-se das 
diversidades espaciais, religiosas e artísticas, bem como entender as distintas 
identidades, ao tempo que na sala de aula é preciso respeitar a pluralidade de 
manifestações culturais, éticas, políticas e sociais dos distintos sujeitos que 
frequentam o espaço escolar. Nesse sentido, trata-se de uma forma de promover 
a valorização da diversidade cultural, como princípio de cidadania, com respeito 
às diferenças, pautada pelo diálogo, pela convivência e pelo engajamento em 
busca da edifi cação da igualdade.
Etnocentrismo, estereótipo, preconceito e discriminação são ideias e 
comportamentos que negam humanidade àqueles e àquelas que são suas 
vítimas. A situação tem melhorado graças à atuação dos movimentos sociais e 
de políticas públicas específi cas. A contribuição para a mudança se dá por meio 
da abertura de visão ou ampliação dos horizontes a respeito da promoção da 
dignidade para as pessoas. Isso exige de todos nós uma formação/educação que: 
a) consiga não estranhar o outro ou a sua cultura, não tomando uma cultura como 
basilar para as demais; b) evite a rotulação que defi ne um lugar para os sujeitos 
na sociedade, de modo a engessar e constranger a criatividade e o protagonismo; 
e c) não lance prejuízos sociais em função de julgamentos ou preconceitos que 
não se sustentam em argumentos concretos, mas em posições discriminatórias.
Nesse sentido, a religião indígena e afro-brasileira, bem como as demais 
manifestações religiosas brasileiras, são sempre um ponto delicado de ser 
tratado, mas, ao mesmo tempo, um ponto necessário para romper com embates, 
em que devemos elucidar alguns pontos para os profi ssionais da educação, os 
quais são necessários se quisermos avançar em discussões dessa natureza que 
são recorrentes no espaço escolar. Para tanto, com base no trabalho “Tradições 
religiosas indígenas e afro-brasileiras” (SME CURITIBA, 2007), apresentaremos 
alguns esclarecimentos importantes.
Traçamos, aqui, alguns esclarecimentos acerca das religiões indígenas e de 
matrizes africanas, buscando perceber suas possíveis relações e distanciamentos. 
Assim, pensamos em colaborar para evitar problematizações equivocadas e 
fortalecimentos de preconceitos em nossa sociedade, tão sofrida do ponto de 
vista do respeito à diversidade em termos culturais, com impactos seríssimos no 
seio das nossas escolas.
As religiões de matrizes africanas acreditam na Força Vital – axé. Nesse 
conjunto, é possível identifi car as denominações: Candomblé, Umbanda, Xangô, 
Xambá, Catimbó, Tambor de Mina, Omolocô e Batuque. Essas religiões entendem 
32
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
que tudo é no seu tempo. O Candomblé realiza culto aos orixás – forças da 
natureza que fazem a mediação com o ser supremo Olorum ou Olodumaré. 
As manifestações das divindades se dão por meio de pais e mães de santo, 
expressando a energia vital (axé). O culto é marcado por danças e fi naliza com 
uma grande refeição feita com alimentos sagrados dedicados aos orixás.
A umbanda é uma religião com marcas brasileiras, resultante da fusão dos 
cultos afros, crenças católicas, fi losofi a espírita, pajelança indígena e esoterismo. 
Crença em espíritos de luz, denominados Guias, manifestadas por médiuns 
(pretos velhos, caboclos, marinheiros, crianças, baianos, boiadeiros, orientais, 
exus, entre outros). Os cultos dos umbandistas são chamados de giras ou 
sessões.
O Tambor de Mina, com forte presença no Maranhão e na Amazônia, é uma 
religião iniciática e seus membros adotam posturas de forte discrição, marcada 
pelo toque de tambores, sendo que a mãe de santo é a fi gura central. Nesse 
conjunto de tradições, as divindades são chamadas de voduns e os cânticos são 
na língua jeje. Além disso, alguns grupos cultuam orixás e caboclos.
A atuação dos poderes cósmicos (Orixás) é muito valorizada nas religiões 
afro-brasileiras. Então, os cultos aos Orixás como cultura de enfrentamento 
e forma de manutenção das tradições são uma constante na história dessas 
religiões em nosso país e também no mundo. O Deus Supremo (Olorum olo, 
que signifi ca sagrado, e orum, que signifi ca céu) não é invocado pelos seres 
humanos. O contato é feito pelos orixás (seres espirituais responsáveis pelo 
auxílio e proteção). Na Umbanda, o grande Pai é Oxalá.
Sudaneses escravizados mantiveram infl uência do islamismo, como vestes 
brancas, turbantes e chinelos. Os islamizados tiveram como marca o sincretismo 
ao demonstrar adoração a Alá, Olorunuluá e Mariama, mãe de Jesus. Utilizam 
como talismã versos do Alcorão, escritos em pequenos pedaços de madeira.
Por seu turno, as religiões indígenas possuem como elemento marcante a 
praticidade, baseada em experiências e não em fundamentação teórica. A religião 
é parte integrante da vida, e solidariedade, partilha e generosidade são pontos-
chave para a espiritualidade do grupo, bem como a sua relação com a natureza. A 
cultura oral é predominante e conduzida, sobretudo, pelos anciãos.
De um modo geral, para as religiões indígenas, tudo está ligado em harmonia 
com a Mãe Terra. Na visão desses povos nativos, o transcendente é representado 
conforme a culturaindígena, inclusive comporta a ideia de heróis civilizadores, em 
alguns casos. Se entende que a morte é a passagem para uma vida mais alegre. 
Não há condenação eterna. Incluem em suas manifestações: ritos de defumação, 
33
PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
entoação de cantos, uso de instrumentos musicais, incorporação, transe e uso de 
remédios retirados das plantas e ervas.
Não existe pecado original e fazem uso de mitos fundantes (explicam o 
mundo, o desconhecido, a origem e a organização social e religiosa). O respeito 
aos ancestrais se confi gura como ponto central da ética religiosa indígena. A 
mediação entre os espíritos e a comunidade é feita pelos pajés ou xamãs. Essa 
autoridade é capaz de dialogar com os espíritos em busca de ajuda. Acredita-se 
no Grande Espírito e entendem que é dever de todos viver em harmonia com toda 
a vida. 
Tanto as religiões afro-brasileiras como as indígenas sustentam uma 
cosmovisão sistêmica e orgânica, sem divisão clara entre matéria e espírito, 
em que predomina a transmissão na forma oral de textos sagrados. A partilha, 
a solidariedade e o respeito são bases da visão desses grupos. Entendem o 
símbolo como expressão da crença, sustentada no ancião como referência 
vital para o grupo. Um ponto principal que distância esses dois blocos é o papel 
desempenhado pelos orixás que desempenham papel decisivo em função do 
plano de poderes cósmicos. 
Dito isso, ressaltamos que o desconhecimento acerca das religiões afro-
brasileiras e indígenas têm tido como consequência a intolerância e o desrespeito 
às distintas manifestações culturais e religiosas dos povos que compõem a 
realidade brasileira. O que se espera é que os profi ssionais da educação possam 
buscar mais conhecimentos e aprofundá-los para que possam se desligar de 
seus preconceitos, sustentados em senso comum, e assumirem um legado 
contra a injustiça e a desigualdade que prejudicou e prejudica as relações 
interpessoais e coletivas em nosso país. Dessa forma, não dá para desconsiderar 
os danos durante todos esses séculos de desrespeitos humanos, provocados 
pela deteriorante escravidão no Brasil, assim como o extermínio de indígenas. 
Portanto, chamamos a atenção para construirmos maior justiça nas relações e, 
para isso, o conhecimento e a abertura de pensamento são aliados relevantes 
para a resolução de confl itos por meio da utilização de saberes e de uma cultura 
voltada para a paz, sobretudo em um país plural e multiétnico como é o Brasil.
A diversidade cultural é vital para um saudável dinamismo cultural. 
Diversidade que demanda respeito. Respeitar é buscar ver o outro como ele 
se vê, sem usar os seus valores como majoritários e portadores de uma única 
verdade que todos devem seguir. A tolerância reporta a ideia de ter que garantir 
uma convivência forçada, sem exigir uma postura de se colocar no lugar do outro 
ou de reconhecer o valor de sua cultura. O ideal é que se evite a tolerância, pois 
carrega uma ideia negativa ou de resistência ao relacionamento. Temos que 
cultivar o respeito e romper com as atitudes de preconceito e discriminação ou de 
subjulgamento de uma cultura em relação à outra.
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 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
A escola tem uma função relevante frente a discriminações e à promoção de 
igualdade. A escola é a arma mais poderosa contra as discriminações e serve de 
instrumento para a promoção da igualdade. A escola precisa oferecer educação 
de qualidade, e para que o ensino seja de qualidade é preciso ser plural e valorizar 
a diversidade, garantindo o respeito e o convívio pacífi co. Assim, a escola 
precisa promover os meios que possibilitem as distintas culturas se integrarem e 
avançarem na constituição da solidariedade e da justiça social.
Em termos de fundamento fi losófi co, se enaltece o fato de que todos nós 
somos iguais e somos dotados dos mesmos direitos. O fato de sermos distintos 
enquanto características individuais nos dão o direito de conviver com o outro sem 
qualquer discriminação, ao ponto de nos valermos dos benefícios de conviver com 
o diferente. É, a rigor, o direito de ser cidadão e de conviver com os demais sem 
discriminação, preconceito, segregação ou qualquer outra forma de exclusão. 
Como fundamento psicológico, a interação com os demais colegas e 
professores, assim como com os demais profi ssionais da escola, é que torna 
a relação com uma carga afetiva que propicia a melhoria da aprendizagem. É 
o momento de testar limites, construir estratégias, consolidar outros padrões 
mentais. A convivência em um mundo real habilita a pessoa a ter uma vida 
saudável, criativa e produtiva com qualidade nas suas relações. Trabalhar com a 
ideia de ajuda mútua é fundamental para todas as crianças. A pedagogia inclusiva 
deve priorizar o desenvolvimento do potencial dos estudantes. Isso permite a 
construção de uma sociedade mais plural e heterogênea, de modo a pensar os 
limites e as possibilidades de todos. 
Já o fundamento legal se constitui como sendo a positivação dos 
direitos, ou seja, a sua explicitação em atos normativos e leis que expressam 
os fundamentos em defesa da cidadania e da condição humana, como são 
os tratados internacionais (Declaração Universal dos Direitos Humanos e 
Declaração dos direitos das pessoas defi cientes), a Constituição Federal, as Leis 
Complementares, as Leis Ordinárias, as Resoluções, as Portarias, entre outros. 
Solicitamos a leitura do artigo: “Mediação de confl itos em 
escolas: entre normas e percepções docentes”, que pode ser 
encontrado no link: http://www.scielo.br/pdf/cp/v46n161/1980-5314-
cp-46-161-00566.pdf, dos Cadernos de Pesquisa, v. 46, n. 161, p. 
566-592, jul/set, 2016. Após a leitura, elabore uma produção escrita 
apresentando uma visão mais ampla sobre os confl itos no ambiente 
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PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
escolar e a atuação dos professores na mediação dos confl itos, cujo 
foco é tratado nesse artigo. 
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3 APRESENTANDO PRÁTICAS DE 
MEDIAÇÃO DOS CONFLITOS NO 
AMBIENTE ESCOLAR 
Discutir práticas de mediação dos confl itos no espaço escolar é um passo 
importante para a construção dos modos de transformar a realidade, pois se abrem 
muitas possibilidades capazes de edifi car práticas promissoras por intermédio da 
produção de conhecimentos em contato com as diversidades presentes em nosso 
país. A escola deve ser vista como um centro estratégico de mudanças que nos 
convida a refl etir sobre nossas práticas. 
As possibilidades de mediação variam da natureza, da organização e do 
contexto de cada escola, dado que as instituições possuem culturas e experiências 
distintas. A mediação ajuda as partes de um confl ito a encontrarem outros ângulos 
de análise e colabora ao incorporar a contribuição de um terceiro, com caráter 
neutro, na facilitação do diálogo e da harmonização das relações com o propósito 
de se alcançar um acordo possível e se evitar desgastes ou degradações de 
relações que culminam em atos de violência. 
O exercício do mediador objetiva conseguir fazer com que as partes consigam 
visualizar o lado do outro e motivar a busca pela solução a contento para ambas. 
36
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
Para tanto, asescolas podem se valer de estratégias diversas. Com base em Eller 
(2019), apresentamos algumas possibilidades que podem ser articuladas para se 
obter melhores resultados nessa empreitada:
a) a incorporação da mediação e o tratamento dos confl itos de modo mais 
institucional, ao ponto de se constituir como um programa disciplinar;
b) a mediação por pares em que um mediador (professor, funcionário da escola 
ou estudante), buscando um acordo com as partes confl itantes para se chegar 
a um consenso;
c) a execução de normas de convivência, que são as combinações que 
consolidam uma orientação pacífi ca da sala de aula; 
d) a promoção de combinados com aplicação para toda a escola com enfoque 
pacifi sta para qualifi car as relações entre os estudantes.
Para a escolha da estratégia, é preciso ter no horizonte que em cada tipo de 
confl ito se deve analisar os elementos com a fi nalidade de adotar o procedimento 
mais proveitoso para cada situação, ou seja, que possua maior potencial de 
proporcionar resultados saudáveis para o grupo envolvido. O foco deve ser as 
posições que estão em jogo, sem se concentrar na ideia de certo ou errado, 
alargando a compreensão de que as necessidades humanas são diligenciadas 
e na trajetória se pode encontrar o impedimento do outro e, isso, gera o confl ito. 
Nada obstante, ambas as partes podem estar se impedindo, dado que 
vivemos em uma sociedade na qual as pessoas são interdependentes para a 
realização de seus desejos. Com base nisso, entendemos que os confl itos são 
resultantes de competições por algo limitado. Salienta-se que a percepção do 
prejuízo ou de ameaças, em muitos casos, instaura o próprio confl ito. Uma saída 
para resolver esse confl ito implica, inevitavelmente, construir uma visão que 
concilie os distintos interesses e convicções, fazendo uso de processos pacífi cos 
em busca da solução. 
Dessa maneira, a mediação de um confl ito é um saber notório e de aplicação 
em todos os campos das relações humanas, que se diferencia do senso comum, 
em função da sua capacidade de edifi car referenciais com base no arcabouço 
científi co dotado de epistemologia própria, sustentada na transversalidade 
como sendo uma abertura para a didática e para a formação contemporânea 
(MUSZKAT, 2008; GÓMEZ, 2009). Estamos entendendo por transversalidade o 
recorte desenvolvido por Gómez (2009, p. 6), no qual se trata da
[...] metodologia que organiza e promove conceitos, atitudes 
e procedimentos. O construtivismo e o socioconstrutivismo 
vêm sendo um suporte teórico-epistemológico adequado para 
esse desenvolvimento, já que consideram a contextualização, 
a problematização, a ação, a historicidade dos sujeitos e a 
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PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
atividade e interatividade entre eles. Assim, a escola promove 
a transversalidade dos temas em seu currículo por meio de 
atividades diversas, vivenciadas, experienciadas e avaliadas 
durante a aprendizagem.
Essa posição contribui para a elaboração de ações, tendo como base o que 
as pessoas já fazem, acreditando que sempre é possível fazer melhor aprimorando 
o atendimento e, assim, promovendo os direitos humanos. A educação nesse 
horizonte se sustenta na liberdade e na responsabilidade. Nesse sentido, 
precisamos refl etir acerca dos elos que queremos estabelecer. Isso porque 
conviver é estar entrelaçado com o outro. Quais são os elos que queremos? 
Queremos elos que nos aprisionam ou que se sustentam na punição e no 
controle? Queremos elos que nos dão novas formas de convivências? Queremos 
estabelecer uma convivência que tem como pressuposto a conscientização, a 
participação e a inclusão?
Diante dessas questões, somos impulsionados a olhar para a escola sem 
culpa, mas com interesse em enxergá-la em seu foco de ensinar e como um 
direito de todos e, assim sendo, deve proporcionar a inclusão em que as pessoas 
convivem. A convivência na escola se estabelece na condição da obrigatoriedade 
que nos impõe questões e desafi os e isso implica dar uma atenção especial 
para as pessoas e para as suas necessidades. Pontos como limite, autoridade 
e disciplina se colocam na pauta nessa grade de análise refl exiva que ambiciona 
a livre expressão e a qualidade das relações no enfrentamento da violência, 
em que os confl itos podem oportunizar a compreensão mais qualifi cada para 
o entendimento dos sentimentos e das necessidades humanas, os quais são 
fundamentais e se constituem como objeto da Figura 13.
FIGURA 13 − TRABALHANDO COM SENTIMENTOS E NECESSIDADES
FONTE: <http://patriciadpoggettousp.blogspot.com/2012/10/>. Acesso em: 9 abr. 2020
38
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
A educação contemporânea, marcada pela presença de um olhar inclusivo, 
tem como desafi o entender a criança e o adolescente e as suas necessidades 
em um tempo de grandes mudanças e inevitáveis choques geracionais que 
impulsionam confl itos. A exploração signifi cativa dessas circunstâncias pode 
contribuir para a edifi cação de um diálogo verdadeiro, que seja capaz de lidar com 
a diversidade. Assumir o diálogo é essencial, porquanto que em muitos casos 
assumimos o monólogo no lugar do diálogo. Em muitas das escolas brasileiras, 
ao se defrontar com os confl itos, não se favorece a resolução dos fatos. 
Tendo em vista uma provável situação em que se exija a mediação do 
confl ito no espaço escolar em face de um impasse que demande um mediador 
para facilitar a retomada das relações ou construção de consenso ou negociação, 
é preciso considerar as maneiras de atuação no caso. A seguir, expomos alguns 
questionamentos que podem nos guiar no tocante à resolução de confl itos: 
a) Quando dois estudantes chegam à direção da escola por ter vivenciado alguma 
situação de confl ito, como reagimos? 
b) Deixamos os alunos falarem? 
c) Refl etimos por algum momento que também podemos ser responsáveis pelo 
que está acontecendo? 
d) Damos a oportunidade aos estudantes de se sentirem responsabilizados pela 
situação? 
e) Deixamos os estudantes resolverem por eles ou resolvemos por eles? 
f) Permitimos aos estudantes se conectarem com o que fi zeram? 
g) Deixamos os estudantes conversarem? 
h) Sabemos ouvir o outro?
i) Que sujeitos queremos formar na escola em que sou gestor ou professor? 
j) Será que a nossa prática está coerente com o nosso discurso? 
Sem embargo, estamos sempre falando que queremos formar sujeitos 
autônomos, protagonistas e responsáveis, colocando no aprendizado que o 
escutar é um exercício difícil e necessário no mundo contemporâneo. Esse 
desafi o está dado para os nossos alunos e para nós como professores. 
Para as práticas de mediação dos confl itos no ambiente escolar, é proveitoso 
o desenvolvimento de uma comunicação construtiva que tenha o vigor de 
infl uenciar o comportamento do outro, até mesmo porque, segundo Vasconcelos 
(2008, p. 63), “comportamento é comunicação” e, por conseguinte, é interação. 
Ressaltamos que até o silêncio de uma pessoa é uma forma de comunicação, 
mesmo que isso aconteça de forma não intencional. Portanto, para que o ser 
humano se relacione, sempre deverá acontecer a interação. Então, é substancial 
pensar as práticas considerando a comunicação construtiva, haja vista que 
quando assumimos uma comunicação dominadora atrapalhamos a mediação 
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PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
dos confl itos, podendo também repercutir em efeitos negativos para as políticas 
públicas. 
A comunicação construtiva, na visão de Vasconcelos (2008), comporta valores 
e práticas de comunicação, como conotação positiva, escuta ativa, perguntas 
sem julgamentos, reciprocidade discursiva, mensagem como opinião pessoal, 
assertividade, priorização do elemento relacional, reconhecimento da diferença, 
não reação e não ameaça. Para o trabalho na escola, pode ser utilizado como 
recurso pedagógico as ofi cinas com o propósito de simular situações de confl ito, 
de modoa fazer o uso de estratégias de comunicação, por meio desses valores, 
como forma de exercitar uma comunicação construtiva para o amadurecimento 
nas resoluções dos confl itos, ou seja, um refi namento ou preparação da linguagem 
na busca da cultura da paz e de assegurar os direitos humanos.
QUADRO 3 − COMUNICAÇÃO CONSTRUTIVA COMO PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO
Conotação 
positiva
Acolher o outro com uma linguagem apreciativa e estimulante, reconhecendo o 
valor comunicativo. Agregar conotações positivas para a fala, reconhecendo as 
maneiras diferentes de ver o problema, bem como encontrando as potencialidades, 
inclusive podendo fazer uso de perguntas que estimulem outros enfoques para 
a realidade tratada com abertura para o pluralismo de ideias e, com isso, o 
surgimento da empatia com maior possibilidade de interação.
Escuta ativa Reconhecer a necessidade do outro de se expressar, dizer o que sente, suas 
necessidades e razões. Escutar mais e dar menos conselhos e sermões. As 
pessoas precisam perceber que são verdadeiramente escutadas e colocarem-se à 
disposição para escutar o outro. Esse escutar, aqui, é observar todos os detalhes, 
o comportamento dos olhos, as inclinações, as inquietações, os incômodos etc. e 
evitar fazer julgamentos, reconhecendo os dramas humanos que a pessoa está 
passando e atender à necessidade básica de escuta para construir as relações 
interpessoais.
Perguntas sem 
julgamento
Depois da escuta, em vez de aconselhar, faça perguntas apropriadas, pois elas 
apoiam e complementam o processo de escuta e reconhecimento. Uma pergunta 
pode gerar esclarecimentos sem ter uma confi guração de ofensa. Essa estratégia 
de comunicação evita julgamentos apressados e nos livra do lugar comum de 
dar conselhos. Além disso, ajuda a pessoa a compreender melhor o seu próprio 
comportamento. A pergunta empodera o mediando e o ajuda a reelaborar suas 
posições, por seu turno, o conselho desiguala a relação. 
Reciprocidade 
discursiva
Respeitar o direito do outro de se expressar. Um não interferir na fala do outro. 
Estabelecer essa regra para a conversa é fundamental, dado que incorpora o 
equilíbrio de poder. É fundamental garantir a circularidade do diálogo, inclusive 
fazendo uso de recursos, como estimular o mais tímido por meio de perguntas e 
sensibilizar o mais loquaz no sentido da valorização do diálogo.
Mensagem como 
opinião pessoal
Não falar pelo outro quando ele for manifestar opinião, fazendo isso em primeira 
pessoa, por exemplo: “Em minha opinião, isso poderia ter sido feito da seguinte 
forma...”. Assim, se evita a invasão e o julgamento defi nitivo da pessoa com 
quem se fala. O campo deve ser das impressões de como cada um sente e 
percebe o problema. Ao diminuir recriminações ou comportamentos invasivos, a 
comunicação tem assegurada uma maior qualidade e pode alcançar melhores 
resultados.
40
 INTroDuÇÃo À MEDiAÇÃo
Assertividade A clareza é fundamental, sem receio da divergência para explicitar bem o que é um 
comportamento imoral, ilegal ou injusto. É preciso ser capaz de superar o impasse 
entre o confronto e a fuga. Essa posição evita a dissimulação (hierarquizada com 
vistas a agradar os poderosos, favorecer parentes e enganar os mais frágeis) que 
marca a nossa sociedade herdeira do colonialismo e da escravidão. Contribui-se, 
assim, para romper com a cultura que desconhece a impessoalidade da justiça. 
O nepotismo e a esperteza não podem prevalecer frente ao interesse público, 
bem como não se pode confundir tolerância com conivência. Ser assertivo é ser 
confi ável, porque pressupõe o reconhecimento da honestidade, do altruísmo e do 
amor. É ser capaz de receber um não com serenidade e naturalidade e dizermos 
um sim com decência e generosidade. 
Priorização 
do elemento 
relacional
A primeira prioridade deve ser a restauração da relação pessoal. É necessário 
distinguir o problema material do pessoal (a relação propriamente dita). Para 
a restauração citada, é preciso estabelecer diálogo identifi cador de interesses 
subjacentes, interesses comuns e opções. Trata-se da superação da animosidade 
para que as pessoas se tornem capazes de lidar com as questões materiais (bens 
e direitos envolvidos). 
Reconhecimento 
da diferença
Possibilitar aos envolvidos que consigam sair ao máximo de uma leitura 
incompleta e imperfeita do mundo, uma vez que ao se ingressar em uma disputa 
a tendência é a polarização, que pode resultar em carência, medo, rigidez e 
violência. Promover exercícios entre os mediandos no sentido de que se busque 
compreender as razões do outro, seus desejos, suas necessidades e seus valores. 
Uma experiência de sensibilização e integração, e isso implica na superação dos 
estereótipos para aprender a apreciar a diferença.
Não reação Ao receber uma acusação injusta, não reaja: respire fundo! Realize a reformulação 
da acusação. Essa reformulação é uma estratégia importante nesses casos. A 
reação só demonstra dependência, revidação ou rompimento. Assim, a pessoa 
acusada assegura seu direito ao protagonismo, quando faz uso de recursos de 
reformulação, tais como paráfrase ou pergunta a partir da acusação formulada 
pelo outro. 
Não ameaça A ameaça é um jogo de poder coercitivo. Ela conduz o confl ito na direção do 
confronto e da violência em que todos perdem. É preciso uma conscientização 
prévia dos envolvidos no sentido de que não pode haver ameaças, porque isso é 
inaceitável. Para tanto, se deve formar os mediandos no tocante à escuta ativa, à 
igualdade de fala e à linguagem da primeira pessoa. Ao se ameaçar, é defl agrado 
um somatório de disputa de poder que em si é uma afronta a qualquer relação 
humana. 
FONTE: Adaptado de Vasconcelos (2008, p. 65-72).
Atentando-se a esses pontos discutidos, notamos que a geração de 
informações e o compartilhamento de conhecimentos reclamam uma abordagem 
dos confl itos com diálogo franco, negociação altruísta e proporcionamento de 
aprendizado com vistas a realizar escolhas e decisões conscientes. Assim, 
a comunicação construtiva deve ser a base da relação entre professores e 
estudantes. Essa canalização para um ângulo mais construtivo na escola 
oferece respostas mais apropriada, em razão de facilitar o convívio e melhorar 
o ambiente de aprendizado, em função da maior participação dos envolvidos 
no processo educativo. A esse respeito, Vasconcelos (2008, p. 64) pontua que 
“o desenvolvimento da comunicação construtiva habilita os grupos envolvidos à 
prática de negociações efi cazes, gerindo os confl itos de modo sistêmico”.
O movimento do diálogo deve ter uma pretensão restaurativa, se isso não 
acontece, pode prejudicar a conexão com os sentimentos, as necessidades, a 
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PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A PARTIR DO AMBIENTE 
ESCOLAR Capítulo 1 
responsabilidade com os atos cometidos, a empatia (possibilidade de abrir-se 
ao outro; escutar o outro, dando margem para ele resolver verdadeiramente os 
confl itos) e a compreensão mútua.
Recomendamos a leitura da notícia: “Como mediar confl itos nas 
escolas”, publicada no jornal “O Debate”. Essa publicação pode ser 
acessada no seguinte endereço eletrônico: https://www.odebate.com.
br/educacao-capacitacao/como-mediar-confl itos-nas-escolas.html.
A pesquisa de Silva (2017), realizada pelo Instituto Federal de Educação, 
Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), contribuiu para compreender 
melhor os processos de mediação dos confl itos escolares. Em sua investigação, 
a autora pautou-se em uma ótica freireana com abordagem construtiva, tendo 
em vista a formação colaborativa dos professores. Os resultados apontaram 
que é necessário consolidar melhores e mais as articulações entre gestão, setor 
pedagógico, profi ssionais da educação, famílias e estudantes. Essas articulações 
potencializam possibilidades de se tornar real a construção de estratégias de 
mediação proativa e “construtiva dos confl itos escolares ocorridos em todos os 
âmbitos e segmentos escolares” (SILVA, 2017, p. 8). 
Além

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