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DiabrurasSantidadeseProphecias_10418285

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A . C . T E I X E I R A DE A R A G Ã O
SOC IO EFFECTIVO
DA ACADEM IA R EAL DAS SCIENCIAS DE L ISBOA
L I S B O A
P OR OR DEM E NA T YP OG R A P H IA DA ACADEM IA R EAL DAS SC IENC IAS
M eu presado am igo e co l lega
A adm iração que consagro ao seu e levado ta len to e
super ior caracter , e a s incera grat idão pe lo modo extrema
mente benevo lo como tem ci tado alguns dos m eus escriptos ,
despertaram a pret enc iosa idea d e ped ir— lhe a perm issão de
com o seu nome engrinaldar este l i vr inho .
A sua reconhec ida b enevo lenc ia descu lpa
'
rá a
'
mesqu i
nhez da offerta .
Quando se entra no outomno da v ida a esperança de
cançada começa a apagar
— se no hor izon te das illusões
,
e o
an imo enfraquec ido e descren te carece de appo io ma is fi rme .
No opusculo não ha inven to ; são apenas esboce tos d e
prod ígios phan tast icos , crenças popu lares , supert ições ex
travagan tes, m i lagre iras , e scanda los fradescos , atroc idades
da inqu is ição e especulações prophet ica s ; tudo fragmentos
cop iados da comed ia humana , sendo mui tos transcr iptos de
documentos originaes .
Com a cr i t ica e conhec imento do passado ganha sem
pre a mora l idade do futuro ; e por isso a h istoria , que é a
rev ista retrosp ect i va dos factos acon tec idos
,
vae ganhando
preponderanc ia littcraria .
VIII
Os fanat icos e ultramontanos ta lvez d igam o escr ipto
irre l ig ioso , mas á consc ienc ia de christão ve lho e s incero
crente nos puríss imos dogmas de Jesus , ju lgo que ás ,aus
teras doutr inas
, pregadas por esses san tarrõe s , se poderá
attribuir em grande parte o ind ifferent ismo re l ig ioso que ,
infe l izmente
,
vae lavrando em proporções aterradoras entre
os povos da raça lat ina .
E sobre e ste assumpto o desabafo ser ia longo e nada
tem com a ded ica tor ia .
Com o ant igo p a le cre ia —me sempre
Am igo mu ito ded icado e ohr ig .
23 de març o de 1 804
A . C . Teixeira de
M eu presado am igo e col lega
”
Acabe i de ler com summo interesse e grande prazer o
formoso l i vr inho que teve a extrema amab i l idade de me
offert ar . G lor io—me com essa offerta
,
em pr ime iro logar por
que me prova a sua boa am izade , e homens do seu caract er ,
"
do seu talento e da sua erud ição honram sempre os seus
am igos, em segundo logar porque me ufano de me ver as
sim assoc iado a um l i vro de tão de senfadada invest igação ,
tão importante deba ixo do seu
"
aspecto l ige iro , tão grav e
como as suas fute is apparen c ias .
Esse seu l i vr inho
,
esse seu p laquette, por ass im d izer
mos
,
va le ma is
,
meu caro T e ixe ira de Aragão , para o estudo
da alma portugueza , para a comprehensão da histor ia da
'
nossa soc iedade do que muitos l i vros pesad íss imos recheados
de erud ição fradesca ou sc ien t ifica . G ustavo R akoff escreveu
não ha mu itos annos a H istor ia do D iabo, e esse l i vro é com
certeza uma das ma is perfe itas h istor ias un iversaes que po
dem mostrar— se . E que o d iabo foi sempre uma potenc ia , e
a nossa re l ig ião , dando - lhe o pape l de anjo rebe lde , venc ido
mas orgulhoso , comme tteu um erro de psycholog ia . Em pri
me iro logar, desde o momen to que o Evange lho afii rma que
ha ma is a legria no céo pe la vo lta de um peccador do que
pe la en trada de noventa e nove justos , a grande ten tação
dos ma is v irtuosos santos será sempre a de introduz ir no
P ara izo o grande peccador , o peccador supremo , porque
então é que haverá lá por c ima feste jos de arromba . Em se
gundo logar , desde o momento que Satanaz e
'
o agen te do
mal ao passo que Deus;
“
é o agente
“
do bem
,
a gen te de boa
prev isão de ixa Deus em paz e ao D iabo e que vae ped ir que
lhe nao Venha est ragar as semen te iras . Já os hab itantes das
i lhas de M adagascar , desde tempos remo tos , d iz iam suas
tr istes
( verdades a Zambar , o deus do bem , e
'
a N yang , o
deus do
i
mal.
Além dfisso Sa tanaz é a opposição , e sabe o m eu amigo,
que a tendenc ia gera l do esp i ri to humano é sympathisarc om
os opposmi on lstas . A B ib l ia tem ass im para a human idade
o caract er do D iar io do G overno de Deus Nosso S enhor
,
e
,
o
s l i v
ros caba l í st icos são um pouco o Esp ectro
'
ou outro
qua lquer pamphle to pub l icado às escond idas . S . M igue l terá
todas as v irtudes , mas fi cou sendo sempre cons iderado co
mo o commandan te da guarda mun ic ipal do ceo , e o j povi
nho tem sempre a tendenc ia de gr itar « M orra a guarda ! »
embora sa iba que , se t riumphasse a revo lução , o reg im en
seria peior . Jehovah , afi na l de con tas , com as suas serenas
barbas brancas
,
e um bom imperador, e o an jo rebe lde tem ,
mesmo na Opposição , tan tos nomes d i versos que bem se vê
que en trar ia com e l le a anarch ia no ceo .
É po is in teressante tudo o que se refere ao d iabo , e a
parte do seu l i vro que se int itula D z
'
abruras é deveras cap t i
vadora
,
e como elucidam . tristemen te a h istor ia da epocha
em que dom ina a Inqu is ição. as Santz
'
dades de que fa la ! Sab e
X]
o que m e fazem lembrar os extractos dos processos inqu i
sitoriaes que ahi nos apresenta ?A Timba le d
ª
a rg ent com as
canções ap imen tadas da M on tbazon . Nao extranhe a equ i
paração ; o meu am igo mesmo recua de ante da transcripção
de a lgumas l inhas dos depo imentos . E que , lendo - os , e sta
mos ouv indo a resp i ração offegante dos inquis idores , que
apertavam as testemunhas fem in inas para ouv irem m euda
men te a descripção das scenas l ib id inosas que e l les iam cas
tamen t e pun ir ! Está— se a ver o pub l ico de S . Carlos no 2 .
º
acto do Tz
'
mba le d
'
argent a ped ir arden tem ente a repet i çao
do c
ª
es! trop f rag ile que a M on tbazon commentava larga
mente com o o lhar e o gesto .
Ao m enos em S . Carlos o scenario não irr ita
,
m as
quando represen tamos na imag inação aquelles b ast ido re s
od iosos da Inquisição onde esperavam o momen to de entrar
em scena a po le, e o carrasco , o sambenito e . o facho que
t inham de accender as fogue iras do auto de fé , e que ao
mesmo t empo temos a scena l ib id inosa que esses padres m i l
v ezes sacrí legos estavam saboreando , temos um momen to
de repu lsão que excede tudo quan to possa imag inar- se , c
ab ençoamos tudo quanto pode concorrer para demo l ir um
reg imen que taes abom inações consent iu , que em taes abo
m inações se baseava .
O cap i tulo das P rophecías é ma is conso lador ; ahi se
guimos ao m enos as man ifestações do esp ir ito popu lar na s
horas das angust ias nacionaes , e e sse patrio t ismo tudo puri
fica e nob i l ita . Esses ingenuos vat ic in ios foram a conso la
ção da a lma portugueza na hora das grandes tribulaçõe s :
são para nós sagrados .
M eu caro am igo , não se prcoccupe com a so rte do seu
interessan t iss imo opusculo . Aquelles que o taxarem de irre
ligioso sãogde certo os mesmos que não querem que a re l i
gião seja senão a capa hypocrita com que se rebuçam todos
os cr im es e todas as devassidões . Esses pertencem a leg ião ,
que o meu am igo no seu l i vro tão justamen te estygmat isa , e
que tem s ido a con spurcadora de tudo quanto tem de nobre
e de santo e de puro e de sub l ime a re l ig ião que é o ma is
sagrado perfume que da a lma humana se exha la . Os que a
querem b em depurada e bem límp ida para exercer no esp i
r i to humano e na marcha da c iv ilisação a sua sa lutar infiuen
c ia hão de app laud ir , como eu o app laudo , agradecendo - lhe
de novo a honra que me concedeu inscrevendo n
º
ellego meu
nome
,
e ufanando— me de me ver ass im part ic ipan te n
i
uma
obra digna e justa e sagrada , como são todas as que con
correm para desmascarar a hypocrisia .
Cre ia na s incera est ima do seu
Con soc io e am igo obrigad issimo
M P inheiro
Haverá dez annos , revendo um maço de pape lada , que havia
mos escr ip to sobre var ios assumptos em d iversas epochas , condem
námos a um auto de fé a maior parte, escapando apenas das cham
mas este Opusculo que , sem pre tenções , offerecemos ao benevolo
le i tor.
N ão e romance : são esbocetos troncados , ou scenas de cos tu
mes
, crenças e visões , dev idas a embustes , a fraquezas de espírito
e aeducação fanát ica
, que produzem de ord inar io o embrutecimen to
moral .
No escripto não ha inven tos : a lém das t radicç ões popu lares ,
e do extractado dos livros de demonoman ia , colligimos a me lhor
parte d'e lle nos archivos nacionaes , e nas chronicas , que tambem
t em auctoridade his torica .
Em caso de desagrado
,
só teremos de nos pen itenciar pela es
co lha e coordenação .
H uymans publicando ul timamente o satan ico l ivro — L a—bas,
— fez o repos itor io das proezas do d iabo . A m issa neg ra, cerimo
nia tetrica , onde se proferem as maiores blasfem eas com a sã dou
trina de Chris to
,
t em todos os horrores da sciencia magica e caba
l istica .
Os nevropa tas são espiritos i gnorantes e fracos que se levam
pe la crend ice da goécia . É a reacção myst ica supplantando o ma
t erialismo pelo fanatismo da fé re lig iosa , e que na sua cegue ira ac
2
ce ita todos os phenomenos por ma is d ispara tados , como o pacto
com o d iabo , e tc .
Do m eado do presente seculo data o estudo d e alguns homens
de sciencia sobre certos phenomenos , a inda bas tante confusos , e é
assim que do magnetismo an imal v ieram as exper iencias de M rs .
Charco t e L uyz , ácerca do hypnot ismo . Em Paris no Caes Vol
ta ire funccionava ainda ha pouco um c lub de esp i ri t i smo e hypno
t ismo , com se ssões permanen tes mu ito concorr idas por pessoas da
prime ira sociedade . o que faz lembrar as ce lebres conferenc ias
de M esmer .
As superst ições da gente ignoran te ou pouco illus trada flu
ctuam en tre o esp irito de D eus e o do d iabo . Na sua phan tas ia
não ha personal idades defi n idas ; do p equeno fazem grande , do sa
grado profano ; e a imaginação exal tada p inta — lhes ao m esmo tempo
marav i lhas e terrores . Os cerebros escandec idos cr iam encan tos
surprehenden t es , julgando sentir , ve r e ouvir as bruxas com os
s eus sortilegios , quando não é a dama branca erran te , ou a moura
encantada com i theso iros guardados por gigantescos animaes fero
zes e de formas extravagan tes .
A Iua , l o poet ico ast ro m or t iço , cercad a pelas e st rel las suas
cort ezãs , é de ord inario quem: fornece illumina
'
ção
'ás . scenas de
pandemon io . Os sonhos passaram a lgumas vezes a lendas mara
vilhosas , que o correr dos annos tornaram cada vez ma is te tricas .
As ab usões e praticas superst ic iosas vem de tempos immemo
rave is , em parte legadas pelo gent il ismo , variando apenas na fór
ma . As festas das ma ias para saudar a primavera é uma verda
deira festa d ruidicar; 2 as fogueiras nas noi tes de S . João, com o
quebrar os encan tos de madrugada
,
, e tc .
Immensas e variad íss imas são as histor ias das bruxas
,
fe i t i
ceiras
,
lob is
'
nomens, mouras en can tadas , vampiros , .3 mascotes , fra
d inhos da mao furada
, serei as , havendo semp re fascinaç õe sª, que
1 V id . M aury, A ma d ica e a a strolog ia na edade media .,
2 D Joã o 1 pe la postura d e 1 38 5 prohib iu a festa das ma i -as Estas fe stas
muito mod ifi cad as chegaram ao nosso tempo . Aind a n os recordamos da creança
c oberta de flores, rodeada
'
d e rapaz io cant ando 0 ma io p equen i no, imp
lorando
pe las ruas a gen erosidade publ ica . Em mu itas terras da provín c ia tambem se
co stumam cantar as j a nez
'
ras.
3 Na , Colomb ia e na G uy an a existe um a» espec iede morcego muito grande,
a que dão, o nome de vamp iro sang uína r io. De d ia esconde — se nos tectos das
b rantos , prophec ias e pactos com o d iabo , onde figuram — persona
gens t errificos .
Pe las alde ias adormecem as creanças . ao Som de mónotonás
cant igas , sando ca mais popular a do A í o p ap ão, e aquie tam -n
º
as
com h ist orie t as sob renaturaes . D
ª
nestas ainda conser'vamos
,
ass im
como da: ve lha sferviçal
'
que as con tava , gratas - recordaçõ
ª
es ; ve
lhice com as suas d esillusões desperta saudades
“
conso ladoras da
moc idade ; — e pr ovave lmente d
º
est a pieguice nostalgica vem — o - d i
zer— se que duas vezes somos creanç as. Com o p rogresso civilisador
creanca tende a acabar : ho je só'podemos a ssim cham ar às que
andam ao col lo das amas e às que engatinham : d
'
ahi ªpara deante
namoram ; os varões fumam , es tudam » para deputado com asp ira
cões a m in is tro
,
e
ª
no 'decahir da v ida pintam o cabel lo, desfarç am
as rugas com esmalt es ; e . morrem jovens . A industria — cosme tica
acabou com a ve lhice .
A s supers t ições de um povo são o barome tro por onde— me
lh'or podemos aprec iar o grau da sua civilisaç ão , tendo, sobre tudo,
em a t tenç ão que es tes pre juizos não pertencem —só
'
ás classes rude s .
Na . scienc ia temos a. busca da pedra e a a st rologia ju
diciaria , com a consul ta dos corpos ce les tes para Conhecer o fU turo ,
servia de guia at é ao . fim» do seculo.xvn a » alguns m
'
onarchas e
pon tifices .
Os cardeaes Richel ieu e M azar in i ' foram por —vezes ouvir , so
bre assumptos importan tes , o ce lebre as tro logo M orin . A rainha
C atharina de M edices , acatava pouco a rel igi ão, mas e ra muito su
perst iciosa , a pon to que , tendo— lhe um— astro logo prophet isado que
morreria ao pé de S . G ermano , t ratou'd
º
alli i em deante d e ' se afas
t ar de todos os s i tios que t inham
“
este -nome . Na sua ult ima doença
foram — lhe m inis trados os sacramen tos pels bispo de Nazareth ; e
quando soube que e l le se chamava [L ourenco de—São G ermano , fi
cou d e tal mane ira aterrada que fal leced instantes
“
depo is.
Na edade méd ia as . potencias i'nvesive is eram geralmen te acre
d itadas : sen tia - se então“ma i s do que se pensava
cabanas
,
e á
'
noite d esce caute lo so , busca o ente humano adorm ec ido , faz - lhe
suavem ente uma inc isão e chupas-lhe -o sangue . Algum as vezes tem causado a
morte por a ferida No ,Seará.e se rtão , de M inas
são estes
,
. an imaes terriveis persegu idores do gado , pois . pousando-lhe sob re o
dorso chupam
—lhes o sangue
,
deb ilitando - os, e formando chaga s ond e se acolhcm
insectos
,
e t c ;
As co isas sagradas andavam em con t ínuos emba tes com as
maravilhas do d iabo , e apesar d
º
es te fi car sempre vencido nunca
lhe fa ltavam adeptos , o que não deve adm irar pois para ganhar a
gloria ce leste impunham pen itencias com je juns , celic ios e outros
martyr ios , emquanto Sat anaz , sem falar na v ida eterna , offerecia
de prompto aos seus apan iguados os ma iores gozos mundanos . Os
seduzidos confiavam no arrepend imento á hora da morte , e nos
suffragios com que os paren tes e os devotos lhes salvariam as al
mas .
As his torias antigas pouco agradam aos le itores romanticos ;
m as nos enredos da comed ia humana preferimos , embora nos al
cunhem de massador, as ve lharias dos archivos que descrevem fa
ct os e costumes dos nossos antepassados . A ccresce a vantagem de
provar aos pess im is tas cont emporaneos que a immoralidade não
t em augmen tado com o progresso soc ial , e que , se os escandalos e
os cr imes se conhecem ho je em ma ior numero , é isso devido á l i
h erdade de imprensa , pois n
º
aquelles tempos a hypocrisia , o fana
t ismo e a intolerancia dos poderes absolutos at t enuavam para o
p ublico
,
quando não encobriam de todo
,
os ac tos mais vis e crueis.
Em assumpt os d iabolicos a conse lhamos a leitura do B iccio
na ir e infernal ou bibliothe
'
que univer selle sur les etr es, les perso
nag es, les livres, les fa its et les choses, etc . De .Col lin de Plancy,
impresso em Paris em 1 825 .
E tambem in teressan te o Tr a tado das causas dos malefí cios,
sor t ileg ios e en cantamen tos, de R ené Beno it , e as Astucias ar t if
cias e imp osturas dos esp ir i tos malig nos, de R oberto P r iez .
Para e s tudo complementar
,
além de L es annales du sarna
turel, revista que se publica em Paris, temos 0 Ensa io sobre a his
tor ia das tr a d ições demonolog icas , desde a ant iguidade a te
'
os nos
sos d ias , obra monumental de Ar is tides G en ius , publicada por De
lalourd em 1 86 1 a 1 865 . São quatro vo lumes em 8 . º Ahi se encon
tram descript as trad ições demonologicas , co lhidas em d iversas ori
gens à cus ta de mu ito estudo e fad igas
, onde o diabo está pin tado
com as suas lendas documentadas e d ispostas sy stemat icament e ,
com eXpos 1ç ao dos exorcismos e efli cazes remedios para expulsar
os expiritos maus j lag ellum daemonum) , assim como as burlas dos
adivinhos
, das bruxas , lob ishomens , e outras trapaças da arte ma
g ica , em que o d iabo é sempre o ed itor responsavel .
As supers tições em Por tugal não chegaram a at t ingir a ri
queza de poesia leudaría que se encon tra na de ou tros paizes . Nas
— 5
ordenacões do reino , ª e nas consti tuições dos bispados veem des i
guadas crencas, abusões e bruxedos , d ignos de serios es tudos , re
1 As ordenações M anuelinas, liv. v, titulo 3 3 , com r elação aos fe itice iros
e vigilias que se faz iam nas egrejas, d iz :
Estab elesçemos , que toda pessoa d e qualquer qualidad e e cond içam que
seja
, que de lugar sagrado ou nom sagrado , pedra d
'
ara
,
ou corporaes, ou parte
d e cada ht
'
i a de l las tomar
,
ou qualquer outra cousa sagr ada, moura por e l lo
morte n atural .
E y sso m esmo qualquer pessoa que em c í rculo, ou fora d e lle, ou em
e ncruz ilhada esp iri tos d iabolicos invocar, ou a algfí a pessoa dee r a comer ou
b eber qualquer cousa pera querer b em ou mal a ou trê
'
,
ou outrem e l le
,
moura
por e llo morte natural . P ero em e stes dous casos sob red itos nom se fara exe
cuçã, atee nolo pr ime iro fazerem sab er, pera vermos a qualidade da pessoa, e
o modo em q se taes cousas fezeram , e sobre ello mandarmos ho Ei se haja d e
fazer .
Outro si nõ seja algú
'
a pessoa tam ousada, (
"
i pera adeuinhar Iançe sor
t es
,
nem varas pera achar auer, nem ve ja em aguoa , ou em cristal, ou em es
pelho , ou em e spada, ou em outra qualquer cousa luzente , nem em e spadua d e
c arn e iro , nem faça pera adeuinhar figuras ou images algã as de metal, nê
'
de
qualquer outra cousa, ne
”
se trab a lhe d e adeuinhar em cabeça de homem morto
,
ou de qualquer alim aria , nem tragua consiguo dente n em baraço de en forcado,
nem qualquer outro m embro d e homem morto , n em faça com as d itas cousas
ou cada b i'i a de l las, nem com outra algú
'
a (posto que aqu i nom seja nomeada),
espec ia algã a de fe i t içar ia, ou pera adeuinhar, ou pera fazer dano a algõ a pes
soa ou fazend a, n em faça cousa algã a, porque b i
'
i a pessoa que ira bê ou mal a
outra, nê pera legar homê ou molher, pera nom poderem auer a juntamen to
c arnal . E qualquer as d itas cousas ou cada hi'í a de llas fezer ,mandamos q se ja
publ icam ente açoutado com baraço e preguã pola vil la ou lugar onde t al crime
a cõn t ecer, e seja ferrado em ambas as faces com o ferro que pera y sso man
d amos fazer d e hnum .E. porque seja sab ido polo d ito ferro, que foram jul
guados e condenados po r o d ito malefiçio, e m ais se ja degradado pera sempre
pera a y lha de sam Tomé , ou pera cada hua das outras y lhas e l las comar
c ãas
,
e 3 15 da d ita pena corporal, pagaraa tres m il reaes pera quê o acusar.
E por quante nos he d ito que em nossos reynos e senhorios antre a
gen te rustica se usam muy tas abusoê
'
s, assi como passarem doente s por siluaõ ,
ou machie iro , ou lameira virgem , e assi vsam bê
'
zer com espada que matou ho
m em , ou passasse o Doiro e M inho tres vezes . Outros cortam solas em fi gue ira
b
'
afore ira . Outros cor tam cobro em lum iar de porta . Outros t em cabeços d e sa
ludadores encastoadas em ouro, ou em prata, ou em outras cousas. Outros apre
goam os endemoninhados. Outros levam as ymag
'
e
'
s de alguns sanc tos à cerca
dagoa
,
e ali fi ngem que os querem lançar em e lla, e tomam fi adores que se
at ee çe rto tempo o d ito sanc to lhes não d er 'agoa, ou outra cousa que . pedem,
que lançaraam a d ita ymagem na agoa . Outros revoluem pen edos e os lançam
na agoa pera auer chuyua. Outros lançam jue ira . Outros dam a comer bolo
p
'
era saberem parte dalguu furto . Outros t em mendracolas em suas cazas, com
e ntêçam que têdoas por e llas aueram graças com senhores, ou guanharãa nas
p resentando o s cos tumes «da e pocha . Os srs . Theophilo B raga ,
l
Le i te —e Va sconcel los , 2 Cons iglier P edroso 3 e Adolpho Coelho? ja
cousas cm que tratarem . Outros passam agoa _ por cabeça de cam pera 'con
seguir algún proveito . E porque taes abusões e outras sem e lhantes nom d eue
mos consentir, mandamos
”
e . defendemos, que pessoa alg t
'
í a nom faça as
_
d i tas
cousas nem cada hã a de llas ; e .qualõr que o cont rairo fezer, se for piam ou di
pera b ayxo se ja pubr icamen t e açout ado com b araço e preguam pola villa, e
ma is pague dous mil reaes pera quem o acusar . E se for vassallo ou escude iro ou
d i pera c ima, ou m olher d e cad a húu d estes, se ja degradado pera cada hã u dos
n ossos lugares dalem em Africa por dous annos , e m ais pague quat ro m il reaes
pera quê
-o acusar . E estas m esmas penas auera qualquer pessoa que d isser al
gi'ta cousa do que he por vyr, mostrando e dando a en tender q ue lhe fo i reve
lado por D
ª
,
ou algum sancto , ou em visam , ou em sonho , ou por qualquer ou
t ra maneyra, e esto segundo a d ifferença e qual id ade das pessoas : conuem a
saber daçou t es e dous mil reaes n o p iam e de sem e lhante sorte , e no vassalo e
d i pera c ima de dous annos de degredo e quatro m il reaes . P ero o esto nom
an cra lugar nos astrologos que por sçiençia e arte d e astrologia, vendo primeyro
as naçenças da pessoa disserem alg i
'
i a cousa segundo seu juyzo e regra da d ita
sçiençia.
Outro si d efendemos , que pessoa alg í
'
í a nõ benza caes
,
ou b ichos nem
outras alim ar ias, nê vse d isso sem pe ra e llo prime iramente auerem nossa auto
t idade , ou dos prelados, pera o pod erem fazer , e qualõr que o contrairo fezer,
se ja pub ricam en te açoutado se for p i am e d i pera fundo, e pague m il r eaes pe ra
quem o acusar
,
e se for vassa lo ou escude iro ou d i pera c ima, seja degradado
po r um anno pera cada um de nossos luguares Dafrica, e mays pague dous m il
reaes pera .quem o acusar .
[t em mandamos
, que pessoa algã a nom faça vodos nem vigilias de dor
mir, e comer, e beber em ygrejas, n em se ajuntem a com er e beber por razam
d as m issas que m an dam d izer, que chamã m issa dos sabados, nem guarde por
d auaçam o sabado, ou quarta feira, nom sendo cada hti n dos d itos d ias man
dado guardar por ordenança da ygre j a, ou , por cõst itu içam do prelado, e qual
qu er pessoa que cada hua d estas cousas neste cap ítulo con theudas fezer , seja
pr esa, e da cadea pague quinhentos reaes, pera ,quem o acusar .
II E ysto mesmo defendemos que nom façam vodos de com er e d e beb er,
p osto que fora das ygrejas se jam , e que d igam que os fazem por deuaçam d
'
al
g ã s santos , sob pena de todo o que pera o t al vodo de reçeb er , se paguar em
d o bro d a cadea per aquelles que o assi pedirem - e receberem ,
- nom tolhendo
porem os vodos do santo espírito que se fazem na f esta do pin t icoste, porque
somente estes concedemos .que se façam , e » outros «nenhí íus nom .
P or
'
ê nos lugares onde costumam com er quando leuam os finados, o
p od eraam fazer sem pena algúa, nom comendo dentro no corpo das ygrejas.
Ca nc ioneirop ºpula r .
Tradições pºpula res de P or tug a l. P orto ; 1 882 .
3 C ontr ibuições pa ra uma M y tholog ia : popula r p or tug ueza . L ísli oa, 1 880 ,
4 Contos p opulares por tug ueqes.
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mem e a mulher nas seguintes espec ies — gigantes , pigmeus , an
droginos , monstruosos e prodigiosos .
Não podemos resist ir a t ent açao de transcrever alguns d esses
“
estupendos phenomenos , que o dr . Abreu authent ica sempre com
a c itação do l ivro , d
º
ondecopiou taes maravilhas .
Com re lação aos gigantes da anti guidade d iz : « ser dos mais
ce lebres o que os Rabinos c i tam no seu Talmud t inha t al gran
deza , que sendo M oysés da a ltura de dez covados , com um sal to
da m esma al tura , e com uma lança do mesmo compr imento , 0 que
sommava trinta covados , apenas conseguiu fer ir o gigan te no tor
noselo . O gigante morreu da fer ida e o corpo fi cou no campo
servindo de pas to aos corvos . Passados anuos estava o esquele to
descon juntado, e indo um caçador a cava l lo perseguindo um veado
entraram de corrida n'uma espec ie de tunel , gas tando s— se is horas :
at é á sahida . V ericou - se depois ser o tune l a cane lla do gigan
t e
O Albulense , para nao restar duvida, reputa esta historia de
lir io insa no.
« G abino afii rma t er visto na M aur i tan ia o esqueleto de An teo
com o comprimento de setenta covados . Plin io descreve um cada
ver com quaren ta e se is , e Apolon io diz que n
º
uma ilha , visinha
de A thenas
,
se achára o sepulchro de um gigan te que tinha cem
covados de a l tura , d izendo o epitaphio haver vivido cinco mil an
nos . »
q uanto aos pigmeus escreve que sempre tiveram certo va
lor e de preferenc ia os ma is fe ios . O
“imperador Dom iciano pos
suiu grande numero dºelles
, que bas tante o d ivert iam . Na edade
méd ia foram tambem muito aprec iados : serviam d e pagens aos
senhores feudaes
,
havendo a lguns que gosavam al to val imen to com
os
'
soberanos
,
chegando a receber o t itulo honorí fico de anão do
r ei, emprego de grande importanc ia e rend imento . A histor ia de
s igna os mais notaveis pelos seus nomes
,
descrevendo o tamanho
e
'
prendas de que eram dotados .
ep isod ios de cunho nac ional, e já em parte aprove itados pelo eminente escri
pt or Cam illo Castello Bran co . O seu livro P or tug al M edico, onde desord e nada
m ente
,
em prosa e verso, nas línguas lat ina , portugueza e hespanhola , quiz
mostrar. vasta erud ição, está recheado de pueri lidades e inverosimilhanças,que
do cum entam em c itações classicas o grande atrazo em que se achava a medi
ci na como sc ienc ia em toda a Europa, e com espec ialidade em P ortugal.
O dr . Braz soccorre - se tambem a sagrada escriptura e ao te s
t emunho de Plin io , Pompon io M ela , Bern ardo G ondon io , e Cte s ia
G n id io . Cita um rei ind iano possuidor de tres m il pigmeus , que o
escol tavam quando jornadeava , por serem mu ito des tros no t i ro
de se ta . Homero , Ovid io , Juvenal e outros escriptores contam as
porfi adas guerras que uns homunculos , montados em cabras , t i
veram com as gralhas , fazendo as casas de pennas e cascas dos
ovos dºestas aves . Em tempos mais modernos escreveu Nierem
berg
,
sem poesia
, que um anão chamado Bonami fôra levado de
presente a Fil ippe I II de Castel la , e um fidalgo o pendurara com
um alti nete no panno de arras da sala do palacio . Houve outro
t ão pequeno que nas bodas de um duque de Baviera fôra á mesa
dentro d e um pastel , e quando part i ram es te , sal tou de e spada em
punho fazendo esgrima e esgares , c om que os conv ivas muito fo l
garam .
Paulo Zacarias 1 refere que a condessa M argarida, fi lha de um
conde H oren tino em Hol landa , t ivera de um só parto 3 5 5 anões ,
que todos foram b ap t isados n
º
uma bac ia
,
não excedendo cada um
o tamanho de uma noz
Calcia , mulher de C . A til io , teve de um prod igioso parto nove
filhas
, que confi ou a Santa Silla para as lançar ao rio ; mas e l la
entregou - as ao p relado Ovid io , que as bapt isou e fez c rear por d i
versas amas chris tãs com a doutrina e inst rucç ão e vange l ica . M a is
tarde , com a parte ira Silla, ganharam a palma do m ar ty rio . º
Jo ão de M andavilla conta que na i lha Defracan havia uma e s
pecie de p igmeus que nao t inham bocca , e se nutriam pe los na
rizes com o cheiro de fructos s i lvestres, e de varias plantas aro
maticas .
No seculo xvi Pedro dºAilly , uma illust raç ão do c lero francez
e da Un ivers idade de Paris , descreveu os pigmeus da Idd ia , os
monoculos, homens com um só olho , e os cy nocephalos com cab eça
de cão . ali i gui canina cap i ta kabaul .
Dos homens andr og inos ou hermaphrodi ta s bastará ci tar o
mais notavel , teve fi lhos como mulher , e depois os houve como
homem de uma mulher .
Dos monstruosos, além dos a rthabatr istas, que eram quad ru
pedes , menciona um phenomeno existente em Roma no anno 1496 ,
Quaest M ed icoly , liv. vi i , fol. 5 29.
2 Vasconcell. in D escr ip . , pag . 446 ,
tambem c itado por N ieremb erg, que se pode cons iderarzumv erda
deiro enxerto an imã l — avinha a se r. um corpo humano t odo coberto
de escamas , com pe itos —. de mulher, . cabeça de burro , - uma das mãos
de elephan te , um dos pés de boi , o outro .de aguia, . uma a das 'na
degas represen tava a l cara de um fvelho -a outra a zde
um dragão . .Diz —o ,mesmo t consciencioso escrip tor , que entre m
tartaros havia h omens só. com um braço :e . uma perna , —e scudo
mui to de stros - em at irarem vá se tta , juntavam— se n os pane s tsegu
rando 'um o ared e o outro desped in
'
doao tiro . Diz mais que os d u
ranucos tinham .as ore lhas tão compridas que chegavamrao chão , e
que
'
as dos S temollas eram tão largas que os . seus donos se cobriam
com e llas . Os Nz
'
g r i tas possuiam o be iço inferior de tal modo d is
forme que lhe cahia até o ven tre , e m tempo . quen te era prec iso
salgal —o para se não corrompe r . Os
p edes, pés) t inham pés enormes de modo que de itados no chão fi
cavam a sombra dºelles . T orquemada c ita v exemplos rd e p essoas
com duas l inguas
,
ou uma b ipart ida , , falando . coisas d iversas , 1per
guntando e respondendo ao mesmo . t empo .
Ser ia abuso re latar os numerosos phenomenos descriptos . no
P or tug al . M ed ico, _ que tan to ; encantaram os .seus : censo res , e :em
quanto a homens prodigiosos c itaremos , apenas os :do is seguintes
S . Jeronymo viu em R oma «uma mulher viuva d e 22 maridos,
e . casand o ; com o 2 3 . º , . tambem v iuvo de 20 mulheres, .este teve a
for tuna de , lhe ; s obreviver . Quando a companhava o corpo da que
r ida consorte á sepul tura, foi . levado « em triumpho, coroado de
lo iro e . com a palma na mão . , M as z exced e tudo quanto a antiga
musa can ta e pode can tar
,
o facto , ahi m encionado, descripto por
Fr . An ton io Fuen te lapena, no qua l um Luiz Rosel sentiu, por .me
zes
,
uma dor intensiss ima na : coxa :d ireita, onde : , se - formou v olu
moso tumor
, que cresceu. progressivamente -até ao
-
nono «mez , . e por
fim sahiu dºelle um men ino vivo ,
'
que ,se bapt isou , com o nome de
Luiz
, como seu pae l .
Sobre taes assump to s os oommentarios e a crit ica só, repre
sentariam ho je perda n de t empo,
As histor ie tas diabolicaS Jpa ssadas no nosso fidel íss imo Portu
gal . e suas possessões são numerosas : esboçaremos apenas alguma s
crenças
_que teem amedrontado aas creanças e mui tos adultos , e que
provam como a egre ja e os med icos antigos souberam triumphar
das t entat ivas infernaes , m inuc iosamente registadas nos m i lagres
narrados pelos auctores mys t icos . Variadíss imos são os nomes por
que é conhec ido— o rei ,dos . infernos , e como princ ipaes temos
Diabo, Diacho , —Demon io , L usbe l , Belzebuth , , Sat anaz, Asmodeu ,
L ucifer , muitos . ª É um
arrem edo d e prosapia . genealogica, m as a zarte _herald ica a inda lhe
não designou os zsymb olos d o brazão .
Os, gregos-. e i romanos , que : inven taram ua my thologia , aranja
ram . o seu P lutão enthronisafdo no inferno . corn »a consorte Proser
pina 2 cercados ; pela« .côrte d iabolica, :e, guardados pelo terrivel Cer
bero . O christ ian ismo não lhe deu tão importante posi ção , pe lo seu
f
'
Frl José d e Jesus M ar ia
,
B rog nolo recap i lado e substanciado, e tc . A pag .
24 vem a etymolog ia d
'
estes nom es.
in fei
ª
nal e
'
ri
'
giram 'os car'thag inezes u
'
m
'
f
grand ioso templo
emWVillatV içosaçe segundo d izem zalguns i hist oriador es em Evora h ouve outro.ruim e incorrigíve l comportamen to : despenhou—o para as ma is pro
fundas trevas , chamando - lhe an jo mald ito e deixando - o em l iber
dade de imaginar e pôr em pratica toda a casta de d iabruras . Desde
então reânou em ma ldade e tornou- se acerrimo perseguidor de tudo
que ha de santo e bom . A lguns cerebros poet icos até chegaram a
descrever o grande imperio infernal com Belzebuth tendo ás suas
ordens sete re is , com os nomes : Bae
'l , Fursan , By telh, P aymon ,
Belial , Asmodeu e Zapão , al ém dos príncipes e mais al tos funccio
narios da côrte .
Collige - se do que de ixamos d ito que o d iabo é mui to antigo
e deve ser estudado archeologicamen te .
Os santos padres ind icam como p rime iras víc t imas de Sa
tanaz os nossos respe itaveis avós Ad ão e Eva , 0 que deu causa a
serem expulsos do Paraiso . Desde en tão t em-se vulgarisado pe la
trad ição e em escripturas mui tas lendas , onde o d iabo é o pro to
gonista .
N
º
essas histor ias sob renaturaes
,
e at é nas chronicas my st icas
do passado , vem , quas i sempre , as d iabruras envolvidas com as
san tidades .
Os estratagemas do espiri to mal igno são ant igos e mui to va
riados . As beatas teem - lhe od io fi gadal : a t t ribuem- lhe todos os seus
males
,
presentem —no pe lo faro d ivino de que são dotadas, e en
xotam -no com — o vade- rectro Satanaq
— t
ª
arr eneg o maldi to ma
f a r r ico, canhoto, cao t inhoso, porco suj o, vae- te e não tornes e no
tornares te af undas, palavras , que para bom effe ito , prec isam de
ser d i tas com os dedos ind icadores em cruz .
Em Portugal ha s ít ios onde Sa tanaz tem morad ia permanente .
Na Cuba existe a Fonte do D iabono cen tro da Praça da Ra inha
e coberta por uma abobada, onde está pintado S , M igue l com o
demon io aos pés . É crença popular que alli se reunem todas as
no ites as bruxas , lobishomens , espectro s , duendes e phantasmas ,
e que , depo is de receberem as ordens do satanico chefe , se espa
lbam a fazer ma lefí c ios , e quem por al l i passa na occasião dos taes
conciliabulos , sem t esar o credo em cruz , é agarrado pelos demo
nic s e trucidado .
No caminho , entre Pon te de L ima e Nossa Senhora da G uia
e stá a chamada P edra do D iabo, onde o vulgo diz ver o s ignal das
suas unhas .
A ponte de S . João , que fica a uma legua de G uimarães , é
tambem locanda do d iabo . Quando os doentes dºaquellas c ircum — v
— 1 3
visinhanças desesperam da cura pe los remed ios da botica, vão á
me ia no ite acompanhados de um padre , levando um alque ire de
m i lho painço , que de itam da ponte aba ixo com tres punhados de
sal, emquantoo padre impõe a Sa tanaz a obrigaçao de deixar em
paz o misero enfermo .
Na ermida de S . Bartholomeu, que âca nas margens do Ta
mega, junto á ponte de Cabez , faz- se no d ia 24, de agosto uma
grande romaria , onde concorrem os endemon inhados . Logo que
av istam a capel la , os espiritos malignos começam a fazer sal tar as
pobres crea turas com terr iveis con torsões , visagens pathe t icas e
gritos desen toados ; mas ao chegarem ao al tar do san to , vom i tam
todo o fel d iabolico e fi cam logo sas e escorrei tas .
Scenas quasi iden t icas se prat icam na romaria das Neves , no
moste iro da L agoa , proximo a Fafe. Algumas mulheres visionarias ,
imaginando ter o d iabo no corpo , tra tam de o expulsar tocando com
a cabeça no corpo do san to .
Estas extravagantes crend ices do povo dão sempre logar a ri
diculos episod ios , a que nem o proprio Sa tanaz poderia suster o
r iso . Faz lembrar aquelles engraçados versos de G arret t , quando
descreve o membrudo capucho que a duros golpes de estola , b ri
gava com o d iabo para o fazer sahir do bojo de uma beata jubi
lada
,
onde se havia encaixado , e por fim só o conseguiu com va
lente hyssopada . O demo desamparado e escaldado pela agua ben ta ,
procura novo abrigo, e vendo proximo o gallego Thiago a fazer
lhe zombaria , perguntou ao frade para onde se hav ia de encaixar ,
e o capucho com ar de escarneo indica o c . do gal lego . Thiago
não se assarapan tou e assim o canta o poeta
Conhecem - se os grandes homens
Nas grandes occasiões :
Thiago
, sem mais demora,
De itou aba ixo os calções
,
E em menos tempo ainda
Do que o demoesfrega um olho ,
Já na p ia da agua benta
T inha elle o seu de molho.
Bate quatro palmadas
No rechunchudo de traz
E d iz -lhe « Agora sô d iabo
Venha para cá se é capaz . » 1
1 F olhas cahzda s, ed ição , pag . 82 a
Será possive l o d iabo entrar no
:
corpo ' de U ma alma chr is
Os theologos d izem que s im'e est as auctoridades são — ind is
cut ive is .
O padre , em virtude do seu m in isterio , achas e
ºcollocado -entre
Deus e o d iabo : dºaqu i deriVa ea sua inspiração para'extremarsem
pre o b em do mal, e
» ensinar —aos Cegos peccadõres o verdadeiro
cam inho 'do ceo .
Dizem e l les que com
“dois fins 'en t r'a o demo º no corpo hu
mano : ou para o -atormen tar, 'ou p ara
' lhe perverter a a lma . Isto
acha - se authent icado —no Evange lho de r S . Ducas, Sã M arcOS ª e S .
M atheus . Ahi est ão 'b em' claras asº regras que deVemos 'seguir —para
nos precaver contra talª inim igo, é t amb em'se descrevem i os meios
a empregar
'
para
'
,
no caso de el le entrar 'nd corpo ; o expul
'
sarmos
com as v irtudes esp iri tuaeS
O convento d e Campol ide
,
1
recebeu as suas religiosas com
grandes solemn idad 'es a 25 de junho de 1722, e mezes depo is in
t roduz iu — se alli ' o d iabo , fazendo coisas 'arco da' velha . Apesar
de 'haver l inguas vipe rinas que tem
'
erar iamente lhe 'davam' d iverso
respon savel , o pat riarclia' D
'
: Thomaz de Alme ida; cõnhecedor de
que os mesmos boatos eram obra do demºn io,
ª'
para assim
- me
lhor escapa r ao flagello do hys
'
sope, acud iu logo'á
'
s pobres fre iras,
nomeando- Ihe o s ma is doutos exorci
'
stas
,
e en tre e lles, o 'bom ª Fr.
José de Jesus M aria
, U liss
'
iponense , p regador , que se diziã in
d igno fi lho da san ta Provincia da Arrabi d 'aa Este ze los'o frade
empregou contra o demo o methodo do sapient i
'
ssi rno Fr. Can
d ido Brognolo da seraphica fam i l ia : e , para* pôr ao alcance
”
de
toda a christandade portugueza t ão utilitaria doutrina , traduziu do
i taliano a sua arte de exorcizar com o seguinte t itulo : B rog nolo
recop ilado, e substa nciado com add itamentos, de g ravíss imos au
thor es ; methodo ma is br eve, mu] suave, e utilissimo de exorcizar ,
exp elindo demon ios, e desfazendo fey tiços, seg undo os dictames do
sag rado Evang elho . Conforme a mente e doutr ina do
Colleg ido, regumido e traduzido da ling ua la t ina , i talia na e hesp a
nhola na p or tug ueza p ara clareza dos exor cistas e benz dos exor
cigados . Foi impresso em Lisboa em 1725 e teve t al acce i t açao
que dois anuos depois corr ia já nova ed i ção em Co imbra .
1 De N ossa Senhora dos remed ios
,
d e re l igiosas t r in i tarias
,
no sitio do Rato »
hº j e ext incto e se rvindo de aso
'
a orfã s
'
.
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— 1 6
t ões para resolver novo plano ext rategico ,
'
e as bruxas, a sua tropa
ma is finoria , foram chamadas ao serv iço ac tivo contra as virtudes
da human idade . Foi o salva t erío do demonio ; porque as suas sa
t elit es portaram - se tão lad inamente que os homens da rel igião , de
m ãos dadas com os da sciencia galen ica , andaram por mui to tempo
ás aranhas , s em poderem a tinar com a causa dos males epidem i
co s , que se desenvolviam em grande escala , o que fazia rir O velho
Sa tanaz de mãos nas i lhargas .
P e lo t outro lado tambem nao estavam com as armas ensarí
lhadas . A l ém do j á c itado Fr. José de Jesus M aria com a sua t ra
ducção do Brognolo, Fr . João de Vasconce llos , do convento da
Trindade de San tarem , onde professou no anno de 1725 , publicou
em 1737, com o pseudonymo de P .
º Nicolau Car los V e jecee , sa
cerdo te l isbonense , o ínt eressant íss ímo l ivro com o t ítulo : Escudo
sant iss imo e armas da ig r ej a contr a a ma lícia d iabolica com que os
eSp ir i tos immundos, juntando
— se torp emen te com as bruxas ou feiti
cei r as as tomam p or instrumentos p ar a infestar os caminhos, in
quieta r as casas, a ter ra r os mor ador es com fantasmas nocturnos, e
matar os meninos innocentes antes do bap tismo, t i radas da Eser i
p tur a sag rada e das orações da ig r ej a .
O chris t ianismo tendo por base as le is da moral idade , da ç a
ridade e da just i ça , no seu progresso cívilísador vae conseguindo
banir estas r id iculas crend ices que false iam a sua santa doutrina
e a grilhoam os espíri tos pe lo fanatismo es tupido .
Parece que o d iabo não é tão fe io e tão mau como os nossos
avós o pintaram . 2 O mald i to , para me lhor se vingar dos padres ,
que mais o desacred itavam e perseguiam , de ixou de ser terrifi co
e hlíou- se no part ido anarchísta . Se os seus precedentes lhe nao
dão d ireito , pelo rece io de escandalo , a entrar nos salões da al ta
soc i edade , no thea tro é b em acceí to como art ista dramatico, de
1 No D icc iona r io B ibliog raphico de Innocenc io da Silva não se faz m en
ção d
'
esta importante obra, provavelmente , do mesmo auctor da R estauração
de P or tug a l P rod ig iosa ; m as vem citada por Barbosa M achado na sua B iblio
theca L us itana .
2 J á vimos n'uma egre ja um quadro
,
exposto por um devoto, represem
tando uma mu lher cahída no chão, e uma corda suspensa no tecto, formando
n a extrem idade laço, e por baixo a seguinte legenda : M ilag re que fez o Senhor
Jesus . . a M ar ia da s N eves
,
a qua l tendo a rmado um laço p ara se enforcar
p or tentaçao do d iabo o mesmo a livrou
17
ord inario ves tido de encarnado , com cabe l le ira ruiva d i oude sahem
corn inhos dourados olhar flamante e fai scan te , envolto no fogacho
de enxofre
,
mas o rabinho quasi sempre escond ido . A ssim o temos
visto represen tando nos princ ipaes theat ros , que seria longo espe
cíalisar , at é em pape is de pro togon íst a , algumas vezes com ade
mane s grac iosos ou burlescos posto que vulgarmente apparece
como tyranno .
FADAS, FEITICEIR AS E BR U X AS
O assumpto d
ª
este capi tulo presta- se tambem a longas dis
ser tações : faremos , porém , d ílígenc ía de o resum ir o mais poss i
vel
,
seguindo os auctores de melhor cred ito .
A s f adas são en can tos , de corpõ gent il , ros to formoso , olhar
meigo e cabe llos côr de o iro . Representam o gen io do bem .
No mesmo caso poderemos con s iderar as moiras encantadas ,
que pertencem amy thología pen insular . São tambem l indezas , que
apparecem geralmen te nas fontes , e com a sua formosura seduzem
os mor taes .
A s fei t iceir as, de extrema bel leza mas com mau ínst incto ,
teem olhar vertiginoso , modos fr ios e re trahídos . Associadas com
os esp ír itos infernaes , usam de mui tas artimanhas para í lludí rem
as pessoas ignoran tes e fracas , incutindo - lhes pensamen tos sata
n icos .
As bruxas e mulher es de vir tude são quas i sempre velhas ím
mundas , de aspecto repe lente . Resmungam em rouquenho orações
cabalísticas es trop iando a lgum lat inorio , mas para fazerem os sor
t ílegíos teem de ped ir a intervenção do d iabo .
Na Allemanha os fe itice iros usam vestuario espec ial , que os
dest íngue . Quando exercem as suas profi ssões , paramentam— se
com uma tun ica de couro
, coberta de ídolos recortados em folha de
Flandres
,
campa inhas
,
aune is e cadeias do mesmo metal , e põem
na cabeça um barrete al to com iden t icos ornatos e enc imado por
uma penha de macho. O thea t ro das consultas my steriosas são de
ord inario as cavernas , allum íadas pela chamma de paus res inosos.
Começam as suas funcções magicas pe lo toque de um instrumento,
semelhante ao tambor, acompanhado de campa inhas , produz indo
cer ta harmonia lugubre i Depois o fe i tice iro aspira grande porção
do fumo de tabaco , e , fazendo mui tos t rege itOs e visagens , cahe
por fim em lethargo . N
º
est e es tada cons idera— se inspirado para re s
ponder ás con sul tas , e ha vendo caso de do ença, tambem se presta,
por cert a quantia a justada , a combater o d iabo, sahindo sempre
vencedor e com vantagens posit ivas para o enfermo, segundo e lle s
garan tem.
Os fe i t i ce iros para o me io dia da Europa sao mai s raros que
as fe it ice iras . O nosso dr . Braz de Abreu
,
no P or tug al M ed ico,
descreve - as magistra lmente , d izendo : recebem o poder ma le
fí co das m ãos de Satanaz e são suas emissivas . Das partes que
roubam aos mortos fabr icam uns pós , com os quaes infecc ionam
as hervas
,
os fructos , damnam a saude e provocam d iscord ias . Es
palhando os di tos pós pe lo ar , nos cam inhos , nas escada s , nas ca
sas
,
nos fatos
,
nas pias de agua benta , e as pessoas que os tocam
não tardam em adoecer em ,» havendo: muitos casos de morte . » Cita
o mesmo auctor o ins igne Torreb lanc a, que descreveu a mortali
dade que por e ste mo tivo houve em Ital ia em 1 63 0 , dando causa
ao decre to de Filippe IV de Cas te l la , publicado em 7 de outubro
do mesmo anno
,
impondo severo castigo a quem usasse ou intro
duzísse nos seus estados aquel la pes te , e offerecendo grandes pre
m íos a quem descobr isse os auctores do terríve l malefi cío .
Em Lisboa tomaram - se serias providencias para se nao im
portarem do extrange iro os taes pós que de senvo lviam peste , fi s
c alisando - se m inuc iosamen te os navios que entravam a barra. Fr .
M anue l de Lacerda , douc tor e lente de
“
theologia na Un iversidade
de Co imbra escreveu : M emor ia e ant idoto contra os pós venenosos
que o demon io inventou, e p or seus Cºnfederados esp alhados em od io
da chr is tandade . Impresso em Lisboa , 1 63 1 , 4 .
º de V iu- 178 pag .
Estas prevenções contra os pós confi rmadas pos teriormente
p ela doutrina do dr . Abreu, são prova de que um dos males que
a human idade mais deve rece íar é o morbus diabolico .
O dr . Braz de Abreu foi homem de grande conce i to c lín ico ,
curando doentes na c idade do Porto e em Aveiro , reforçado com
o t ítulo de famil iar do San to O ffi c io . P or mot ivos. particu lares ,
2 %
separou— se amigave lmente da esposa e das fi lhas , e vest iu o ha
'bito de S . Francisco . P or esta forma ficou duplamen te habil itado
e quando não pod ia salvar o corpo do enfermo , encam inhava — lhe
alma para o para íso .
Confirmada a sua theoria m edica , acabando o d iabo e toda s a
sua côr te de díab ret es , fe i tice iras e outros perseguidores do ge
nero humano , os fi lhos de Esculapio ser iam os c idadãos mais b em
quistos na sociedade ; convidados índist ínc tam ent e para b apt isados ,
casamen tos e enterros , tendo apenas os encargos de rece i tarem os
banhos do mar as so l te iras , as limonadas e as aguas thermaes ás
casadas
,
os unguen tos para ca l los ás velhas , e todos teriam a ven
tura de morrer saos e escorreitos , quando batesse a sua hora final .
As funcções sat an ícas são às vezes exerc idas p elos homens ;
mas como de ixámos provado , á u lt ima evidencia , as mulheres são
mui to mais faceis de cat echízar , ou hypno t ísar pe lo demon io , por
nervosas , ou levianas . Já um antigo e scriptor d isse :
Quid levins fum o ? Flam en
Quid flam ín e ? Ven tus :
Quid vento ? M u iie r :
Quid mu liere ?N ihi l .
Felízmente nem todas as balan ças dão este resultado .
U ma das cerimon ias m ais solemnes da fe í t íceiría e da bruxa
ria e o invocar o d iabo . A maga Celest ina d iz ia assim : « Conju
t o - te rex Plu to , soberbo cap itão dos esp ír itos damnados , e senhor
dos sulfurosos fogos , que as cataratas ígneas b rotam l . Tua hu
m i lde escrava te con jura pe la virtude dºestas lettras vermelhas , es
criptas com o sangue das corujas
, e em pape l fe i to com a peço
nha das viboras . » Quando não era logo at tend ída empregava as
ameaças . « Se me não sat isfazes
,
cão tinhoso
,
sere i tua in im iga
capita l , alumeareí os teus soturnos carceres , chamar— t e —he í men ti
roso , e arrastare i o t eu horr íve l nome pelas ruas da
M as estes azedumes eram apenas valores entendidos para il
ludir os profanos, tal como se usa na pol ít ica parlamen tar , e com
t aes armad ilhas enganam os cegos da razão e perdem as a lmas , ,
que é o fi to de Satanaz .
A m ímica que acompanha a invocação é s inistra . olhos em
alvo com inculcas de insp iração , m ãos abertas , bra ços estend idos .
A voz dão som plangent e , semelhante ao u ivar do lobo ou ao guin
cho das aves nocturnas .
Se querem enfe i t içar a lguem pedem ven ia ao demo e repe tem
tres vezes : Tena to, fer ra to, a ndato, p a sse p or ba ixo, e a víc t ima
c omeça logo a sen tir as terr íve is consequencias .
Tambem recorrem ao poder de Proserpina , mulher do d iabo,
ás Eumen ides , furias infernaes , ou a Cocy to , A cheronte , P hlege
tonte
,
r ios do in ferno , et c .
As fe it icei ras e a s bruxas para ad iv inharem prec isam o dom
da dupla v ista e servem - se da pene ira (coscinomanc ia), a tada a uma
tenaz . Levan tam - nºa com do is dedos , emquan to pronunciam os no
m es de pessoas suspe itas de a lgum del ic to , e se a pene ira osc i la
qualquer nome é e s se o do ind iv iduo culpado .
Auxiliam — se tambem com a ' varinha , virg a d ivida , ou virg a
M oy ses, pela semelhança com a sua porten tosa vara . O s he spa
nhoes cham am — lhe var illa de vir tude e os pprtuguezes var inha de
condão .
Es tas escravas de Satanaz teem o Deus na bocca e o d iabo
no coração , e segundo d izia San to Agost inho com o mel das p ala
vr as santas encobr em o veneno do enca nto.
Os me ios de ad iv inhar são d iversos e teem a sua nomenc la
tura technica . A ssím ,
'
quando nas suggestões empregam a terra,
chamam - lhe g eomancia , o ar aer imanc ia , a agua , onde espe lham
na sua superficie o que interessa aos a lucinados hj f dromancia , e
quando o fogo , py romancia . N
ª
es te ultimo caso lançam no b ra
ze íro uma porção de enxofre em pó : se a chamma sahe un ida e
infelicidade ; se d ivid ida em tres , successos g lor iosos ; se espalhada ,
mor te ou inf er no ou doença ao são; se tremula , desg raça ; apa
gando - se de repen te , p er ig o eminente, e tc .
Servem - se tambem da buena -d icha ou chy romancia, ad ivinha
ção pelas linhas das mãos , e quando pelas unhas onomancia .
A chrromancia fo i cul tivada pelos augure s na antiga R oma
por forma espec ial . Aristote les fo i um dos seus ma is ce lebres pro
pagadores . Na edade média os bohemios e specularam mui to com
a leitura da buenad icha, e preferiam sempre o horoscopo da mão
es querda, con siderado ínfallivel por ser do lado do coração . Aberta
'
a mão do pobre cren te t iravam índucões da d ispos1ç ao das l inhas ,
que partem da base dos dedos e term inam nas grandes l inhas
transversaes , e no seu cruzamento é que d iziam estar o presagio .
No fim do seculo XVII a arte de ad ivinhar o futuro fo i decae
b indo d e
'impor tancia , princ ipalm ente depo is da morte de Desb ar,
roles , o ma is espirituoso chyroman te que se t em conhec ido .
Nos u ltimos annos do seculo passado tomou a arte ma ior ín
cremen to , appareceram novos ad ivinhos apregoando a infal ibil idade
do horoscopo ; e adm ira que t a l mania se vá ho je des envo lvendo
quando o rea l ismo parece ser a ide
'
a predom inante .
No re inado de D . João V tornaram v se no taveis , pelos seus
sorti legios as fe itice iras R as tholha , Isabe l da Natividade , da M o i ta
m as residente em A lcacer do Sal, as irm ãs Salemas , mulatas de
Se tubal, e outras .
A inda ha quem consul te a buenadicha , lida ord inar iamente
pe las lad inas c iganas , que vagueiam andrajosas nas fe iras e mer
cados , cavalgando bestas lazaren t as e estropiadas , e b ivacando
junto aos povoados , É uma raca de párías com typo caract eris
tico e repe lente a c iv ilização , e teem como industria tosquiarem
burros , negoc iarem cavalgaduras a lei jadas e enfermas , sempre sem
escrupulo e com má fé , rapinando o que podem .
A chyrom anc ia tambem andou l igada com a astrologia , por
isso dão ao dedo polegar o nome de Venus , ao anelar o de Apol lo,
ao m éd io o de Saturno
,
etc .
A interpre tação dos va tic in ios , d izem os mestre s na arte , é
dífi i c íl, e precisa- se estar bem in ic iado para
.
se t irarem deduções
exac tas .
Seria esp inhosa a tarefa de compend iar n
º
es t e opusculo todos
os proce ssos que magica branca e pre ta t em empregado para
conhecer do passado , interpretar o presente e ad ivinhar o futuro ,
Dizem que as feiticeiras e as bruxas são mulheres capt ivas
pe las mercês e encantos do d iabo , a quem se entre gam em corpo
e alma em troca do poder male fico ; e , segundo a opin ião dos am
tigos e modernos magicos, o dem o prefere sempre as novas e la
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Os mais . acredi tados escrip tores an tigos , consultados sobre
estes assumptos , são concordes em afi ançarem que as mofi nas pre
ferem nos sortilegios as creanças , de quem extrahem os engred íen
t es e d
º
onde preparam os oleos para se un tarem quando voam de
noite . A lém dºisso o sangue juven i l e outros l iquidos que d
º
ellas
sugam , conservam — lhes , e at é me smo lhes restituem a moc idade ,
no caso de passarem dos vin te e c inco anuos . Será es te o el ixir de
longa vida de Cagliostro ou o que M ephistopheles applicou ao ve
lho Fausto para lhe rest ituir a juventude ?
Brown Sequard parece ter ult imamente descoberto este espe
cífi co ou outro de iden t icos effeitos , e ufano apreguou urbi et orbi
o r ej uvenesczmento humano, pe la s in j ecções hypoderm icas . com li
quidos organ icos . A sc iencia procede a exper ienc ias .
O anno passado em Barcelona do is m edicos , depo is d e a tu
rados estudos nºum labora tor io da rua de S . P ausiano
,
tambem
suppõem t er conseguido uma límpha , a que pozeram o nom e de
Ka r ap hant i ton , do Chaldaico , que s ign ifica vi tal idade perm anen te ,
a qual in j ec tada pela epyderme não remoça mas conserva a mo
c idade
,
re tarda a ve lhice
,
et c .
A restituição da moc idade por mercê s atan ica t em fe ito entrar
m i lhares de velhas na fe í t ícaria
,
obrigando o d iabo
, para atalhar
t ão grande mal
, que lhe enfraquec ia o
D
poder io , a l im itar o numero ,
e inas vagas a abrir concursos
,
ond e escolhe sempre as m a is bo
n itas e recommend adas .
A sseveram a lguns theologos que as bruxas ou fei t ice iras para
porem em prat ica os seus male fíc ios tomam d iversas form as , ge
ralmen t e as que mais podem seduzir os encautos peccadores des
armados contra o poder do demo , abusando ass im da fraqueza da
carne .
Se as mald itas encon tram algum men ino são e escorre i to , que
não tenha buraquinho por onde o possam chupar, empregam , em
quan to o d iabo esfrega um olho
,
o poder fasc inador , dando o mau
olhado e produzem o quebranto , e n
º
est e caso prec isam sempre ajuda
d iabol ica . Diz S . Thomaz — hor rendum fascinas, e Virgil io — Nescio
qui s teneros oculos mihi f a scina i ag nos .
É crença popular que ao encontrar qualquer mulher suspe ita
de feitice ira , ntando com pertinacia , o cuspir logo fóra é perserva
t ívo infal íve l contra o mau olhado.
1 Bela 3 . ª
Conta o dr . Braz , no seu P or tug al M ed ico, que o ins igne
H ieronimo conhecera um indivíduo com taes e t ão pestilentas qua
lidades n a v is ta , que fac ilmen te com um só o lhar ma tava o s ho
mens
, os brutos e as aves , murchava as flores , consum ia os fru
ctos , seccava as arvores e (como se ainda isto não bastasse) con
sumia o mundo !
Quem fôr mais exigente sobre este phenomeno le ia M anuel
Te ixe ira de Azevedo , que tratou magis tra lmente da fascina ção,
olhado ou quebr a n to, e que e
'
enfermidade mor tal, não so
'
p a ra os
men inos, mas tambem p a r a os de ma ior idade com todos os s ig na es
p ar a se conhecer , e os ma is exp er imentados e selectos r emed ios p a r a
se cur ar
A s fe it ice iras levam mu i to longe as suas crue ldades pe las sug
gestões do d iabo no seu intest ino od io . Chegam a faze r b onequi
nhos de cera , barro ou trapo , fi gurando a pessoa que pre tendem
martyrisar , e , conform e a aversão quelhes teem , com in st rumen to ,
quas i sempre agulhas ou a lfine tes , vão picando o coração , os o lhos ,
os rins e outras partes do boneco , invocando sempre o demon io .
A proporção que se produzem as espetade llas , a m ísera creatura ,
que é assim repres en tada , vae logo sen tindo n as partes correspon
dentes ao seu corpo , dores a t rocí ssíma s . Os med icos cap itulam i s to
de rheuma t ismo go ttoso e nervos ismo e mandam o s enfermos para
as Caldas . Dºes tas fi gura s symbolicas fala tambem o nosso Zacu to . 2
Em França foram just içados do is fe i t ice iros que ten taram matar o
re i Carlos IX e H enri que de G uis e , espícacando os bonecos que o s
represen tavam !
Dizem os chron ist as que muitos imperadores , re is e grandes
personagen s teem s ido v íct imas de tão inferna l d iabrura . Succedeu
o mesmo a um summo pon t íâce ; mas de scober ta a fe i tice ira foi
esfolada viva e , depo is d e morta , cortada em pedaços para pas to
d e cães !
Pe lo processo das p icadas 0 martyrío é sempre longo ; mas se
as bruxas quizerem acabar de vez com o pac iente basta a ma is
ve lha desenrolar um nove l lo e a outra cortar o ti o
,
ou a inda ma is
summarío
,
atirar o bonequinho 'para a caldeira d e Pero Bote lho .
Ultimamen te o coronel R ochas dºAíglun , n a Escola Polyte
chuica de P aris , , por uma serie de exper ienc ias de hypno t ismo , di
P ag . 625 .
2 D e p ra x i M edica Observ liv. 111, pag . 1 39.
zem que mos trou a possib ilidade de produzir dores n
º
um ind ividuo
hypno t ísado , por picadas na sua photographia , ou n
º
uma estatueta
que o represen te .
Em M il ão um grupo de homens de sciencia fizeram varias ín
ves t ígações sobre os phenomenos m edíanim icos do espiritismo , con
vidados por M r . Erco le Chia jía , cavalhe iro independente pe la sua
pos i ção e for tuna .
A m éd ia foi uma napol i tana , casada , de profissão engomma
de íra
, que se pre stou com d ifii culdade , e que sempre se recusara
a apres en tar — se em sessões publicas . Par te dos investigadores des
confi avam que os phenom eno s eram produzido s artific ia lm en te , por
não terem expl icação poss ivel , comt udo a lgun s factos abalaram as
suas consc iencias . Fizeram 17 se ssões em casa de M r . Fínzí , V ía
M on te di Pie tá
, que duraram 3 horas , das 9 ás 1 2 da no i te , e os
resultados
,
apesar de se man ifestarem alguns marav ilhosos , nem
sempre corresponderam ao que se esperava , principalmen te quando
se exigiam m odifi cações para variar as expe rienc ias , que , ou não
foram acce itas pe la m éd ia , ou sendo - o pouco ou nada provaram ,
fazendo d im inu ir cons iderave lmente o interesse dos prodigiosos
phenomenos , e augmen t ar o numero dos incredulos .
N
º
e s t e mundo
,
chamado pelos choramígas val le de lagrimas ,
a human idade anda exposta a immensos perigos de bruxedos ; mas ,
conhec idos elles
,
fac ilmente se evi tam ou se remede iam . É prec iso
saber o que a líthurgía ensina para fustigar o d iabo e os seus em is
sarios
,
e por isso tornamos a .recommendar o c itado l ivrinho do
padre Brognolo , traduzido pelo Fr . Jose
'
de Jesus M aria .
A cren ça popular confia muito nas virtudes dos ben tinhos , re
lícarios
, cruzes , ag nus dei e outros preservativos aconselhados pela
egre ja, e que tanto arrel iam o espírito das trevas .
O charlatan ismo tem especulado e especula com os innocen
tes , p endurando - lhes ao pescoço var ios amule tos (amuletum), pe
quenos objectos a que a supers tição a ttribue , desde as epochas ma is
remo tas , o cond ão de livrarem de enferm idades , malefícios sata
n icos e de outros perigos , como são a pedra de bezoar , um a lho
encapsulado em panno , o crescente , o s igno de Salomão , a figa,
o dente de porco
,
a cauda do lobo
,
e tc.
Nos amuletos dá- se o p actum imp licitnm, havendo—os pa ra
cer tas . especial idades . Assim
,
o dente canino do lobo ou do cão ,
encas toado ou furado e preso ao pescoço
,
e preserva t ivo da dôr de
d en tes ; a mão esquerda da toupeira , e as pequen inas moedas de
pra ta l ivram da influencia das luas e do quebranto . O aipo , noz
de tres quinas , unha do leão , a pedra de ara e outros muitos ob "
jecto s são egua lmente cons iderados amule tos .
As pedras preciosas ãtamb em se t em a t tr ibuido virtudes , tanto
curat ivas , como preserva t ivas , sob resahindo a esmeralda que , pen
durada ao pescoço , prolongava a V i da e
'
isen tava de sus tos . Posta
sobre a coxa de uma parturien te facilitava a sab ida do feto , con
servava a cast idade , denunciava o adulterio , tornava e loquentes os
oradores , des tru ía os effe í tos das mordeduras venenosas , etc .
A egre ja debalde t em condemnado , a té com a excomunhão , es tas
embust ices , mas com pouco resul tado : o povo persis te e como atte
nuan t e m istura os amule tos com os symbolos do chr is t ian ismo .
Não t em s ido só a egre ja a combater taes supers tições , quas i
toda a nossa legis lação c ivi l condemna as fe i tice iras e benzede iras ,
impondo penas r igorosas aos que as prat icarem . A s ord enacões
de D . M anue l accrescentam a inda ma is as penas , e c i tam var ios
costume s muito destoantes da actua l civilisaç ão , como j á d issemos .
No grupo charlatan ico avul tam tambem os Alj abr istas ou Al
j abar istas, do arabe alj abbar , ass im chamado ao que concerta o s
ossos deslocados e sabe encanar os quebrados ; na s nos sas a lde ias
são mais conhecidos por endir ei ta, e quas i sempre os m e smos se
encarregam de levantar a espínhella . Asbenzedeir as sao as que ap
plicam remed ios com palavras sacramentaes
,
invocando san tos com
orações , como a de San ta M afalda e outras lendas religiosas . As
que transcrevemos em seguida vão no verso, se verso se lhe pode
chamar , conservado na trad i ção popular , p refer íve l a todo e qual
qu er corret ivo me trico que ho je se lhe fi zesse .
Para l ivrar as creanç as de quebran to em algumas terras a inda
se usa passal
— as tres vezes por uma meada de l inho , ou melhor
tomar uns pedaços de chita e de panno de l ã , um chinello velho ,
quatro corn inhos , dois que ixos de gato bravo , uma cri sta de gal lo,
ramos de rosmaninho , de aroe ira e de alecrim, e de itando tudo no
b razeíro , expor -ao fumo a creança, que Ec a logo l ivre de male ti c io ,
d i zendo a seguinte oração
N . (nome da vic t ima) tres t'o deram
'
Cinco t
'
o tirarão
,
São as cinco pessoas
Do Senhor 8 . João .
1 P ag . 5 , nota .
_
º 8
H a tambem mo lestias emque o povo prefere a cura mi lagrosa ,
como no cobro contra o qua l applicam o a lho pisado com polvora,
d iluído em vinagre d e sete
'
ladrões , e com este i ngred ien te b esun
t am tres vezes em cruz a erupção , dizendo
Eu t e córto côbro
Cabeca rabo e corpo t odo .
Aspergindo com um ramo de a lecr im , ensopado no mesmo li
quido
,
accrescen tam :
Quando S . Ben to era estudan te
Nenhum b ico ia por d eante,
E na m esma e sco la and ava S . B raz
Aqu i t c seques
,
aqu i t e m irrarás .
Isto deve se r repetido nove d ias seguidos para obter cura ra
Para apressar o par to , d iz a m egera virtuosa
M ord e i n
'
este m açapão
Esforçae , rosa fi o rida ,
Eu ven ida e vós parida
Ky riele íson , Chr ist eley son .
Dizei t res vezes passinho
O verbo caso f a to há
Dou o vos a Sam Sardon inho . 1
Contra a erys ipela a panacêa con s iste em nove pedra s de sal,
nove reb entões de sabugue iro
,
nove go t tas de aze ite virgem e nove
de agua da fonte
,
e com e sta m is tura un ta — se o loca l inflammado
duran te nove d ias
,
d izendo - se todas as vezes :
P ed ro P aulo fo i a Roma
Jesus Chr isto en controu
E e l le lhe perguntou
P edro P au lo que vae por lá ?
— M u ita m al igna erysipela .
P edro P au lo torna lá
,
Talha - a com ervinhas do monte
Aguas da fonte
Aze ite bento
Que alum ie o Sacramento .
1 G il V icente na com edia de R ubena .
I
Em outras terras as benzede iras servem- se de
.
um . pedaço de
corda de esparto , molhada em aze ite virgem , e fazendo com e lla
na casado doen te varias cruzes , rec i tam em voz al ta
D
'
onde vindes , S . Juliao ?
Venho de Roma
Que vae por lá?
M uita morte
Em que ?
H e resypela, heresypelão
Escapar ão ?
Sim
,
b enzido
Com corda d
'
esparto,
Aze ite virgem ,
P alavras d e Deus
E da Virgem M aria .
Tambem se usa fazer cruzes com um [ramo de sabugue iro
por tres dias success ivos , t esando :
Sempre verde b em aven turado
Na
'
sepultura de Deus creado,
Fostes nasc ido sem ser semeado
P elo poder de Deus e da Virgem M aria,
C reou esta rosa este chão
Resseca esta irzipela ir zepelão,
Em louvor de S . Th iago e S . Silvestre,
Tudo quanto eu faço preste :
Em louvor de Nosso Senhor
Que e lle se ja o seu d ivino m estre . Amen .
Para desfazer as nevoas dos o lhos tornam tres fo lhas d e oli
ve ira
, que collocam em cruz entre os dedos polegar e index da
mao esquerda
,
e com a d ire ita vão fazendo cruzes na cara do en
fermo
, d izendo
Senhora Santa L uzia;
T inha tres fi lhas ;
U ma amassava,
Outra tend ia,
Out ra no fogo ardia.
Se és carn icão
,
Valha— te S . João .
Se es cabrita
,
Valha- te Santa Rita
Se és nevoa
V elha-te o Senhor da Serra .
Em algumas das nossas aldeias , quando pre tendem combater
t ris turas
,
com emagrecimen to e repugnanc ia ao trabalho , usam dei
tar n
ª
uma te lha com brasas alguns ramos de a lecrim e de loiro ,
uma mão che ia de sal
,
um fi o de aze ite virgem, tudo d isposto
'
em
cruz , defumando a casa tres noites successívas, e deitando depo is
as c inzas pe la agua aba ixo . Em outras a pratica d ifi
'
ere no com
bater a mesma enferm idade . M etem dentro de um saquinho verde
uma cabeça de víbora
,
sete fios de re troz com tres nós em cada
pon ta , uma pitad inha de sal virgem, tudo defumado com azei te
ben to
,
n
i
um bilhete escripto com sangue de ratazana , o seguinte :
O aze ite de Deus é bento que alum e ia o Sant íssimo Sacramento,
Vá o mal d esta casa para fóra e venha o b em para dentro .
Contra a vertoeja t em s ido remed io especifi co ir a uma pos
s i lga de porcos e esfregar o corpo com a palha que lhes serve de
cama, repetindo tres vezes
Assim como porcos e porcas dormem aqui
Assim tu ma ldi ta ver tueja saias d
'
aqu i .
Outros d izem
Sapo sapao,
B icho b ichão
,
Ra to ratão
,
L agarto lagartão
Sarame lla saram ellão
,
Aranha aranhão
E
'
todos os bichos que taes
Se cc
ª
os m irrados se jaes'.
Para afugen tar o d iabo temos a oraçao de Custod io , que
d izem de effe ito infal íve l e que termina ass im
Sete raios leva o sol.
Sete raios leva a lua.
Arrebenta para ahi d iabo,
Que esta alma não é tua.
Para combater as sesões con s ideram infalível a seguinte ora
cao resada pe lo doente
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Os gregos t ransm it t iram aos romanos , e es tes o de ixaram es
cripto , que , n ao sendo solemnemen te incinerados os corpos , as al
m as respec tivas andavam errantes sem d escanço , a t é aquelles res
tos mor taes serem queim ados e reco lhidas as c inzas .
Homero fez apparecer P a trocho , morto por H e i tor, ao seu
am igo Achil les , ped indo — lhe sepul tura
Os re is ido la tras de Israe l e d e Judá en tregaram - se á n icro
mancia , arte de evocar os mortos , ad iv inhando p e las sombras dos
cadave res , que apparecí am de ord inario em duendes ou pygmeus
ou em outras figuras phan tas t icas e r id ícu las .
Saul tambem recorreu a n icroma ncia , quando qu iz con su l tar
a somb ra de Samue l ; mas es te prohib iu a aos judeus .
Em Sev ilha e Salamanca chegou a haver escolas vulgares de
n i ,cromancza lecc ionada em profundas cavernas , que foram man
dadas entulhar por Isabe l a Catholica .
A t é ao seculo xrv era costume pin tar nas paredes das egre jas
e c laustros imagens da
,
mor te
,
representadas por personagen s de
d iversas cond i ções , geralm ente em att i tudes dançantes , pelo que
lhe chamavam dança macabr a . Esta p ra t ica foi at t ribuída por uns
á devas tacão occas íonada pe la peste , e por outros a s imples in
tensão de a terrar os penitentes .
Fabric io , porém , d iz que a palavra macabr a .vem do poeta
M acaber , que foi o prime iro a de screver nos seus
'
versos e stas pin
turas .
A caba la comprehende os my st er ios occultos deduzidos de
nomes
, let tras , numeros e figuras dos l ivros d iv inos para pronos
t icar o futuro : é uma especie de bruxedo sacro . Os rabinos dizem
Est enim cabala, d ivinae r evela t ion is ad salut iferam D ei et f orma
rum sep ar a ta rum contemp la t ionem trad itae symbolica r ecep t io, quam
gui coelest i ej er tur sequuntur r ectro nomine cabalici d icuntur . 1
1 Franc isco M anue l de M ello escreveu : Tra tado da scienc ia cabala ou no
t icia da a r te caba list ica
, publ icado por M athias P ere ira da Silva em 1724, de
XI I— 2 1 2 pag .
_ 3 3 _
O Ap ocaly p se tambem é uma espec ie de l ivro magico , o ui
timo dos sagrados do Novo Testamento , onde se conteem as mys
t eriosas revelações que teve S . João Evangelis ta em Pa thmos .
Che io de fi guras , symbolos e palav ras , em que os sabios tem con
sum ido mui tos annos para interpretarem os pensamen tos do au
ctor .
Ass im como as seitas m ais extravagan tes teem tido sectar ios ,
as aberrações por mais inveros ímeis não deixam de ter cren tes .
A inda ha pessoas que acred i tam em almas do outro mundo, oup e
nadas, pertencentes a ind ivíduos crim inosos não perdoados , ou que
fi zeram promessas e nao as cumpr iram . Aquelles cere
'bros epyle
t icos imaginam ver essas almas vagueando de n o ite em fôrma de
phan tasmas brancos p elas capellas e cemiter ios , cercadas por uma
aureola lum inosa . e outras vezes arrastando cadeias de ferro ,
cumpr indo assim o seu fadario , at é receberem o perdão ou lhe pa
garem as promessas .
São immensos os pre juízos que dom inam os espíri tos fracos
como : cons iderar as terças e sextas feiras d ias aziagos para qua l
quer êmprehendimento ; receiar o d ia de S . Bartho lomeu , no qua l
d i zem andar o diabo a sol ta ; não se sen tar á mesa para jantar
sendo treze o numero de commensaes ; nascerem de um casal sete
fi lhas , pois a ult ima será pieira , e só poderá escapar a este fada
rio se fôr afi lhada de alguma das irm as .
Para ev itar que as bruxas facam m al ás creanç as recemnas
cidas crê—se uti l conservar no quar to uma tripe ç a de pernas para o
ar, e uma luz até se bapt isarem . No Algarve chamam ás crean ç as ,
emquanto não entram no grem io da egre ja Ig nacio ou Ig nacia ,
conforme o sexo , para as l ivrarem de feit ice írias . Dizem tambem
que uma tesoira aber ta possue a vir tude de afug entar as bruxas
e como estas teem grande ant ipathia ao trovisco e ao fumo das
plantas aromat ícas , perfumam com e llas as casas a noi te . Entre
os antigos era Favent ina a d ivindade que tinha o poder de repel ir
as tentativas diabolicas .
Estas e outras crenças mais ou menos extravagan tes , que o
povo conservava e conserva em grande parte muito inveteradas ,
mas que ho je repugnam á civilisação , apesar de certa bel leza poe
t ico romant ico , são communs a todos os paizes .
Ao charlatan ismo chegaram mesmo a dar— lhe o carac ter ofh
cia l : as s im o alvará de 13 de outubro de 1 654 mandou augmen tar
o vencimento a um soldado vir tuoso, que curava com palavras ,
impondo- lhe a obrigação de prestar egual serviço aos seus cama
radas . ª
Nos seguintes factos temos exemplos b em característicos do
modo como se conservam arre igados no povo esses pre ju izos .
Em 1 885 tinha morad ia na herdade Devesa g rande, a uns dez
k i lom etros de Vendas Novas , 2 uma fam ilia , de que fazia parte um
rapaz de 9 anuos chamado Luiz , conhec ido pelo M en ino vir tuoso,
que desde a
edade de 3 annos , possuía o dom d e ind icar cer tas
ervas do campo, rosman inho , pamp ílho e margaça (como é conhe
c ida vulgarmente) que curavam todas as enferm idades . O rapaz era
rude : sentado n
ª
um carro alem tejano ouv ia d is tra ídamen te m ilha
res de pessoas que lhe contavam os que íxumes , rece itava as er
vas ínhas e recebia qualquer espor tula, segundo os teres e gene
rosidade do con sul tan te . A romaria foi enorme e de todas as c lasses
soc1aes , at é que a auctorídade , a inda que tarde e a mas horas , mari
dou acabar comt ão indecente especulaç ão !
Em 1 889 deu
— se em M onte Agudo
, prbximo da villa de M er
tola , o segu inte facto : na Charn eca de d ias a d ias inflamavam - se
os pastos e os pa lhe iros , causando grandes pre juízos aos lavrado
res , que at t errados foram consu l tar um malandro inculcado como
vir tuoso, o qual depois de passeiar o terreno com v isos de obser
vador privilegiado deu es ta expl icação « é alma penada que anda
por a
qui errante e perseguida pelo d iabo , e como este a não
'
t em
pod ido agarrar para a levar para o inferno , lan ça o fogo a ver se
ass im a apanha . » Ao re tirar- se tropeçou nºum calhau e gri tou : « cá
me deu o d iabo um encon trão ! » O bre je iro , apesar de b em pago ,
ao passar por um hort ejo colheu os dois melhores pepinos e met
tendo- os nas a lgibeiras , d isse : Antes que o diabo os leve levo—os
eu ! Os habitantes dos mon tes proximos fi caram a inda ma is assns
tados : alguns até abandonaram as suasgcasas , recolhendo - se á al
deia , e ped iram ao prior que fosse fazer esconjuros ao demon io e
benzer a terra . O padre teve o bom senso de se esqui var a esta
farç ada , e requisitou da auctorídade adm in istrativa a repressão do
brinquedo , pois os incend iar ios eram conhecidos . 3
P or 1 890 no concelho de Armamar um curandeiro, tido por
1 J . P edro R ib eiro, Ind ice chron. e cr it ., part . vr, pag 199.
ª A herdade pertenc i a ao sr . Durão d e Sá, de M ontemór -o -Novo, e o M e
n ino virtuoso era fi lho do trabalhador José M ar ía . e de sua mulher Joanna. r
3 A narrativa foi -nos feita por indivíduo que presenrceou os factos.
'muito vir tuoso, apanhou se is l ibras a uma pobre mulher, scismat ica
de d iabrur as , a título de comprar os ingred ientes para a curar :
P assados dias entrou em casa da enferm a, que se chamava G eno
veva , com um cao preto , um gato , um gal lo , uma fuinha brava e
uma c inta grande . Fechou— se com a m ísera nºum quarto e começou
a operação por quebrar ás mart elladas os dentes ao cão , ao gat o
e á fuinha , arrancando — lhe tambem as unhas , -e cortando o b ico ao
ga l lo . Os an imaes ficaram agon isantes depois do mar tyrio , e ass im
foram collocados em cruz sobre o ven tre da pac iente , b em segu e:
ros pela c inta . O patife vir tuoso recommendou- lhe que conservasse
a m esma pOS i ç ao por v inte e quatro horas , , afiançando que cada
“
an imal que morresse era um d emon io que lhe sahía do corpo , e
com a morte do ult imo fugiria o esp iri to do padre
'
que a persea
guia . A estupida G enoveva aguentou , de i tada de cos tas os repu
guan tes trambolhos : os bichos foram morrendo successívament e ,
e a mulher cons id erou-
'
se curada da doença imaginaria , abençoando
a
— despesa
'
feíta com o curande iro que , com taes art imanhas , vivia
á custa dos pobres de espíri to .
Term inaremos com o acon tec ido em junho de 1 892 emAgueda .
No Beco morava uma b ruxa ,
'
cuja fam a se estend ia pelas terras
visínhas, e por isso íam muitas pessoas consultal— a . Do concelho d a
Anad ia foram por essa epocha pae e mãe p rocura l - a para dar re
medio a um fi lho mu ito enfermo . Depois d e uma ser ie de tregeitos
caretas a megera com voz cavernosa d isse - lhe — que o ãlho t inha
s ido tocado, e que só se curaria se o levassem a uma terra que t i .
vesse tres marcos
,
e sentando - o em um dºelles , d issessem a m e ia
no i te : — M arcos
ª
gue
a demarcaes ; santos e santas demarcae este in a
nocente do p oder de Deus e da Virg em M ar ia ;
Em algumas vie llas ímmundas das c idades e vi llas de Portu
gal, e mesmo pelas freguez ías ruraes , a inda se encontram algumas
d ºessas mulheres a
.quem chamam índ is t ínc tament e . bruxas , ffeí ti
“
r
Ceiras ou mulheres de virtude . São , . quasi todas , pobres .velha S
'des
dentadas, d e pelle encarquilhada , que deitam cartas , fazem bailar
o
'
-peneiro e
,
dizendo- se commensaes
3 a
— 3 6
espiri tos fracos, ganhando os parcos meios para a limen tar o ossudo
corpo .
Conhecer prat icamen te as art imanhas das bruxas foi um idea l
d a nossa adolescencia, e essa cur ios idade era augmen tada pelas
numerosas historietas phan tast icas d
º
est a e spec ie
,, que se contavam
na vil la alem te jana, onde en tão res id íamos . Convidados por um
am igo para irmos disfruc tar a sybilla , p rinc ipa l protogonista dos
tae s contos , que faz ia prod ígios de ad iv inhações , acceitámos sem
vaci lar o conv ite .
A bruxa _que causava as sombro en tre os povos rudes das cir
cumvis ínhanç a, e a quem recorriam com certo terror , consul tan
do-a nos lances d ífii ceis da sua vida , morava a d istancia de um
k ilome tro da villa : de d ia vagueava pelo campo .e só á noi te era
ce r ta no covil .
Aos vinte e cinco anuos a imaginação tende para o maravi
lhoso e procura de preferenc ia as commoções fortes e agradaveis .
Sem de longas del iberámos fazer a vis ita nªesse mesmo d ia, e na
tarde de 1 0 de dezembro de 1 85 1 , proximo das cinco horas, se
guimos ambos por um atalho , armados de lanterna e bordão , em
dire ítura a margem da r ibe ira , onde fi cava o c asebre da t ia Engra
cia , que assim se chamava a fe i tice ira .
A no ite estava invernosa , e o negrum e era t ão intenso que
a frouxa luz da lanterna a cus to o penetrava, mostrando apenas o
tr i lho por onde cam inhavamos . A ven tan ia ,sacud ia o arvoredo da
cum iada , acompanhando o seu zumbido s in istro o guincho das aves
noc turnas , que esvoaçavam pe las esb oracadas paredes do velhõ
cas te l lo mour isco al taneiro á vil la . A sombra das ruínas acastel
ladas fazia lembrar o celebre palac io A lad ino dºonde surdiam ,os
gen ios arabes .
Este en t ro í to com v isos t e t rícos imp l icava como systema ner
voso
, produzin do algumas víb racões inexplicaveís mas , a té certo
pon to , agradav e is e harmon i cas com a phan tas t íca empresa que
iamos ten tar . O companhe iro sem mos tras de poltran ísse nem de
fanfarrão cam inhava s i lenc ioso com viso de impressionado .
Finalmente depo is de 1 5 m inutos de m au cam inho enxergamos
a cus to a margem da r ibe ira
,
or lada irregularmente de algumas en
fezadas tamargue íras . Es ta verdura, e a grimpa de t res ou quatro
cyprest es do proximo cem i ter io , era un ica nºaquelle pedaço de char
neca . A casa da megera fic ava iso lada ; as paredes eram de taipa ;
a portada mui to baixa com postigo desengonçado; ao lado ficava
3 7
um pequeno forno ; e sobre o be ira l do telhado avu l tavam duas
ímmensas aboboras men inas .
A ventania con tinuava a soprar ri jo , ameaçando chuva , e dava
optimo pre texto de ped ir abr igo . Ao ba ter da a ldraba , sem mai s
deten ça
,
ouviu— se a voz fanhosa da t ia Engrac ia mandando en trar ,
e ao transpor o l imiar ob servamos nºum relance o recinto in ter ior
do casebre
,
alumiado pela c lass ica candeia de ferro , onde em grossa
t orc ida se que imava aze ite impuro, produzindo luz baca com fu
marada rançosa . Em frente da por ta duas velhas esteiras , suspen
sas em cannas
,
formavam d iv isoria com pret en ções a alcova , e so
b re uma grande arca es tava a enxerga immunda e esfarrapada ,
coberta de andrajos . Na face Oppos ta era a lare ira, onde a bruxa
acocorada mechia em tisnada cacarola um cosinhado de che iro n au
seabundo
,
tendo a dex tra um gatarrão pre to agachado , á la ia de
v igilante
, que nos fi tou com as phosphoricas pup illas atravez do
fumo su ffocador das estevas que imadas no b raz ído , e que por fal ta
d e cham iné se espalhava pelo casebre .
A ve lha
,
depo is de entrarmos , ergueu— se um pouco , m irando
nos demoradamen te e fazendo saudação mesureira ind icou um
t osco banco para nos sen tarmos . Acce it a a offerta ficámos voltados
para a luz da candeia e da lare ira
,
dºonde a custo se observava a
bruxa . Era uma velha que devia orçar por se ten ta anuos , de es
p

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