Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A . C . T E I X E I R A DE A R A G Ã O SOC IO EFFECTIVO DA ACADEM IA R EAL DAS SCIENCIAS DE L ISBOA L I S B O A P OR OR DEM E NA T YP OG R A P H IA DA ACADEM IA R EAL DAS SC IENC IAS M eu presado am igo e co l lega A adm iração que consagro ao seu e levado ta len to e super ior caracter , e a s incera grat idão pe lo modo extrema mente benevo lo como tem ci tado alguns dos m eus escriptos , despertaram a pret enc iosa idea d e ped ir— lhe a perm issão de com o seu nome engrinaldar este l i vr inho . A sua reconhec ida b enevo lenc ia descu lpa ' rá a ' mesqu i nhez da offerta . Quando se entra no outomno da v ida a esperança de cançada começa a apagar — se no hor izon te das illusões , e o an imo enfraquec ido e descren te carece de appo io ma is fi rme . No opusculo não ha inven to ; são apenas esboce tos d e prod ígios phan tast icos , crenças popu lares , supert ições ex travagan tes, m i lagre iras , e scanda los fradescos , atroc idades da inqu is ição e especulações prophet ica s ; tudo fragmentos cop iados da comed ia humana , sendo mui tos transcr iptos de documentos originaes . Com a cr i t ica e conhec imento do passado ganha sem pre a mora l idade do futuro ; e por isso a h istoria , que é a rev ista retrosp ect i va dos factos acon tec idos , vae ganhando preponderanc ia littcraria . VIII Os fanat icos e ultramontanos ta lvez d igam o escr ipto irre l ig ioso , mas á consc ienc ia de christão ve lho e s incero crente nos puríss imos dogmas de Jesus , ju lgo que ás ,aus teras doutr inas , pregadas por esses san tarrõe s , se poderá attribuir em grande parte o ind ifferent ismo re l ig ioso que , infe l izmente , vae lavrando em proporções aterradoras entre os povos da raça lat ina . E sobre e ste assumpto o desabafo ser ia longo e nada tem com a ded ica tor ia . Com o ant igo p a le cre ia —me sempre Am igo mu ito ded icado e ohr ig . 23 de març o de 1 804 A . C . Teixeira de M eu presado am igo e col lega ” Acabe i de ler com summo interesse e grande prazer o formoso l i vr inho que teve a extrema amab i l idade de me offert ar . G lor io—me com essa offerta , em pr ime iro logar por que me prova a sua boa am izade , e homens do seu caract er , " do seu talento e da sua erud ição honram sempre os seus am igos, em segundo logar porque me ufano de me ver as sim assoc iado a um l i vro de tão de senfadada invest igação , tão importante deba ixo do seu " aspecto l ige iro , tão grav e como as suas fute is apparen c ias . Esse seu l i vr inho , esse seu p laquette, por ass im d izer mos , va le ma is , meu caro T e ixe ira de Aragão , para o estudo da alma portugueza , para a comprehensão da histor ia da ' nossa soc iedade do que muitos l i vros pesad íss imos recheados de erud ição fradesca ou sc ien t ifica . G ustavo R akoff escreveu não ha mu itos annos a H istor ia do D iabo, e esse l i vro é com certeza uma das ma is perfe itas h istor ias un iversaes que po dem mostrar— se . E que o d iabo foi sempre uma potenc ia , e a nossa re l ig ião , dando - lhe o pape l de anjo rebe lde , venc ido mas orgulhoso , comme tteu um erro de psycholog ia . Em pri me iro logar, desde o momen to que o Evange lho afii rma que ha ma is a legria no céo pe la vo lta de um peccador do que pe la en trada de noventa e nove justos , a grande ten tação dos ma is v irtuosos santos será sempre a de introduz ir no P ara izo o grande peccador , o peccador supremo , porque então é que haverá lá por c ima feste jos de arromba . Em se gundo logar , desde o momento que Satanaz e ' o agen te do mal ao passo que Deus; “ é o agente “ do bem , a gen te de boa prev isão de ixa Deus em paz e ao D iabo e que vae ped ir que lhe nao Venha est ragar as semen te iras . Já os hab itantes das i lhas de M adagascar , desde tempos remo tos , d iz iam suas tr istes ( verdades a Zambar , o deus do bem , e ' a N yang , o deus do i mal. Além dfisso Sa tanaz é a opposição , e sabe o m eu amigo, que a tendenc ia gera l do esp i ri to humano é sympathisarc om os opposmi on lstas . A B ib l ia tem ass im para a human idade o caract er do D iar io do G overno de Deus Nosso S enhor , e , o s l i v ros caba l í st icos são um pouco o Esp ectro ' ou outro qua lquer pamphle to pub l icado às escond idas . S . M igue l terá todas as v irtudes , mas fi cou sendo sempre cons iderado co mo o commandan te da guarda mun ic ipal do ceo , e o j povi nho tem sempre a tendenc ia de gr itar « M orra a guarda ! » embora sa iba que , se t riumphasse a revo lução , o reg im en seria peior . Jehovah , afi na l de con tas , com as suas serenas barbas brancas , e um bom imperador, e o an jo rebe lde tem , mesmo na Opposição , tan tos nomes d i versos que bem se vê que en trar ia com e l le a anarch ia no ceo . É po is in teressante tudo o que se refere ao d iabo , e a parte do seu l i vro que se int itula D z ' abruras é deveras cap t i vadora , e como elucidam . tristemen te a h istor ia da epocha em que dom ina a Inqu is ição. as Santz ' dades de que fa la ! Sab e X] o que m e fazem lembrar os extractos dos processos inqu i sitoriaes que ahi nos apresenta ?A Timba le d ª a rg ent com as canções ap imen tadas da M on tbazon . Nao extranhe a equ i paração ; o meu am igo mesmo recua de ante da transcripção de a lgumas l inhas dos depo imentos . E que , lendo - os , e sta mos ouv indo a resp i ração offegante dos inquis idores , que apertavam as testemunhas fem in inas para ouv irem m euda men te a descripção das scenas l ib id inosas que e l les iam cas tamen t e pun ir ! Está— se a ver o pub l ico de S . Carlos no 2 . º acto do Tz ' mba le d ' argent a ped ir arden tem ente a repet i çao do c ª es! trop f rag ile que a M on tbazon commentava larga mente com o o lhar e o gesto . Ao m enos em S . Carlos o scenario não irr ita , m as quando represen tamos na imag inação aquelles b ast ido re s od iosos da Inquisição onde esperavam o momen to de entrar em scena a po le, e o carrasco , o sambenito e . o facho que t inham de accender as fogue iras do auto de fé , e que ao mesmo t empo temos a scena l ib id inosa que esses padres m i l v ezes sacrí legos estavam saboreando , temos um momen to de repu lsão que excede tudo quan to possa imag inar- se , c ab ençoamos tudo quanto pode concorrer para demo l ir um reg imen que taes abom inações consent iu , que em taes abo m inações se baseava . O cap i tulo das P rophecías é ma is conso lador ; ahi se guimos ao m enos as man ifestações do esp ir ito popu lar na s horas das angust ias nacionaes , e e sse patrio t ismo tudo puri fica e nob i l ita . Esses ingenuos vat ic in ios foram a conso la ção da a lma portugueza na hora das grandes tribulaçõe s : são para nós sagrados . M eu caro am igo , não se prcoccupe com a so rte do seu interessan t iss imo opusculo . Aquelles que o taxarem de irre ligioso sãogde certo os mesmos que não querem que a re l i gião seja senão a capa hypocrita com que se rebuçam todos os cr im es e todas as devassidões . Esses pertencem a leg ião , que o meu am igo no seu l i vro tão justamen te estygmat isa , e que tem s ido a con spurcadora de tudo quanto tem de nobre e de santo e de puro e de sub l ime a re l ig ião que é o ma is sagrado perfume que da a lma humana se exha la . Os que a querem b em depurada e bem límp ida para exercer no esp i r i to humano e na marcha da c iv ilisação a sua sa lutar infiuen c ia hão de app laud ir , como eu o app laudo , agradecendo - lhe de novo a honra que me concedeu inscrevendo n º ellego meu nome , e ufanando— me de me ver ass im part ic ipan te n i uma obra digna e justa e sagrada , como são todas as que con correm para desmascarar a hypocrisia . Cre ia na s incera est ima do seu Con soc io e am igo obrigad issimo M P inheiro Haverá dez annos , revendo um maço de pape lada , que havia mos escr ip to sobre var ios assumptos em d iversas epochas , condem námos a um auto de fé a maior parte, escapando apenas das cham mas este Opusculo que , sem pre tenções , offerecemos ao benevolo le i tor. N ão e romance : são esbocetos troncados , ou scenas de cos tu mes , crenças e visões , dev idas a embustes , a fraquezas de espírito e aeducação fanát ica , que produzem de ord inar io o embrutecimen to moral . No escripto não ha inven tos : a lém das t radicç ões popu lares , e do extractado dos livros de demonoman ia , colligimos a me lhor parte d'e lle nos archivos nacionaes , e nas chronicas , que tambem t em auctoridade his torica . Em caso de desagrado , só teremos de nos pen itenciar pela es co lha e coordenação . H uymans publicando ul timamente o satan ico l ivro — L a—bas, — fez o repos itor io das proezas do d iabo . A m issa neg ra, cerimo nia tetrica , onde se proferem as maiores blasfem eas com a sã dou trina de Chris to , t em todos os horrores da sciencia magica e caba l istica . Os nevropa tas são espiritos i gnorantes e fracos que se levam pe la crend ice da goécia . É a reacção myst ica supplantando o ma t erialismo pelo fanatismo da fé re lig iosa , e que na sua cegue ira ac 2 ce ita todos os phenomenos por ma is d ispara tados , como o pacto com o d iabo , e tc . Do m eado do presente seculo data o estudo d e alguns homens de sciencia sobre certos phenomenos , a inda bas tante confusos , e é assim que do magnetismo an imal v ieram as exper iencias de M rs . Charco t e L uyz , ácerca do hypnot ismo . Em Paris no Caes Vol ta ire funccionava ainda ha pouco um c lub de esp i ri t i smo e hypno t ismo , com se ssões permanen tes mu ito concorr idas por pessoas da prime ira sociedade . o que faz lembrar as ce lebres conferenc ias de M esmer . As superst ições da gente ignoran te ou pouco illus trada flu ctuam en tre o esp irito de D eus e o do d iabo . Na sua phan tas ia não ha personal idades defi n idas ; do p equeno fazem grande , do sa grado profano ; e a imaginação exal tada p inta — lhes ao m esmo tempo marav i lhas e terrores . Os cerebros escandec idos cr iam encan tos surprehenden t es , julgando sentir , ve r e ouvir as bruxas com os s eus sortilegios , quando não é a dama branca erran te , ou a moura encantada com i theso iros guardados por gigantescos animaes fero zes e de formas extravagan tes . A Iua , l o poet ico ast ro m or t iço , cercad a pelas e st rel las suas cort ezãs , é de ord inario quem: fornece illumina ' ção 'ás . scenas de pandemon io . Os sonhos passaram a lgumas vezes a lendas mara vilhosas , que o correr dos annos tornaram cada vez ma is te tricas . As ab usões e praticas superst ic iosas vem de tempos immemo rave is , em parte legadas pelo gent il ismo , variando apenas na fór ma . As festas das ma ias para saudar a primavera é uma verda deira festa d ruidicar; 2 as fogueiras nas noi tes de S . João, com o quebrar os encan tos de madrugada , , e tc . Immensas e variad íss imas são as histor ias das bruxas , fe i t i ceiras , lob is ' nomens, mouras en can tadas , vampiros , .3 mascotes , fra d inhos da mao furada , serei as , havendo semp re fascinaç õe sª, que 1 V id . M aury, A ma d ica e a a strolog ia na edade media ., 2 D Joã o 1 pe la postura d e 1 38 5 prohib iu a festa das ma i -as Estas fe stas muito mod ifi cad as chegaram ao nosso tempo . Aind a n os recordamos da creança c oberta de flores, rodeada ' d e rapaz io cant ando 0 ma io p equen i no, imp lorando pe las ruas a gen erosidade publ ica . Em mu itas terras da provín c ia tambem se co stumam cantar as j a nez ' ras. 3 Na , Colomb ia e na G uy an a existe um a» espec iede morcego muito grande, a que dão, o nome de vamp iro sang uína r io. De d ia esconde — se nos tectos das b rantos , prophec ias e pactos com o d iabo , onde figuram — persona gens t errificos . Pe las alde ias adormecem as creanças . ao Som de mónotonás cant igas , sando ca mais popular a do A í o p ap ão, e aquie tam -n º as com h ist orie t as sob renaturaes . D ª nestas ainda conser'vamos , ass im como da: ve lha sferviçal ' que as con tava , gratas - recordaçõ ª es ; ve lhice com as suas d esillusões desperta saudades “ conso ladoras da moc idade ; — e pr ovave lmente d º est a pieguice nostalgica vem — o - d i zer— se que duas vezes somos creanç as. Com o p rogresso civilisador creanca tende a acabar : ho je só'podemos a ssim cham ar às que andam ao col lo das amas e às que engatinham : d ' ahi ªpara deante namoram ; os varões fumam , es tudam » para deputado com asp ira cões a m in is tro , e ª no 'decahir da v ida pintam o cabel lo, desfarç am as rugas com esmalt es ; e . morrem jovens . A industria — cosme tica acabou com a ve lhice . A s supers t ições de um povo são o barome tro por onde— me lh'or podemos aprec iar o grau da sua civilisaç ão , tendo, sobre tudo, em a t tenç ão que es tes pre juizos não pertencem —só ' ás classes rude s . Na . scienc ia temos a. busca da pedra e a a st rologia ju diciaria , com a consul ta dos corpos ce les tes para Conhecer o fU turo , servia de guia at é ao . fim» do seculo.xvn a » alguns m ' onarchas e pon tifices . Os cardeaes Richel ieu e M azar in i ' foram por —vezes ouvir , so bre assumptos importan tes , o ce lebre as tro logo M orin . A rainha C atharina de M edices , acatava pouco a rel igi ão, mas e ra muito su perst iciosa , a pon to que , tendo— lhe um— astro logo prophet isado que morreria ao pé de S . G ermano , t ratou'd º alli i em deante d e ' se afas t ar de todos os s i tios que t inham “ este -nome . Na sua ult ima doença foram — lhe m inis trados os sacramen tos pels bispo de Nazareth ; e quando soube que e l le se chamava [L ourenco de—São G ermano , fi cou d e tal mane ira aterrada que fal leced instantes “ depo is. Na edade méd ia as . potencias i'nvesive is eram geralmen te acre d itadas : sen tia - se então“ma i s do que se pensava cabanas , e á ' noite d esce caute lo so , busca o ente humano adorm ec ido , faz - lhe suavem ente uma inc isão e chupas-lhe -o sangue . Algum as vezes tem causado a morte por a ferida No ,Seará.e se rtão , de M inas são estes , . an imaes terriveis persegu idores do gado , pois . pousando-lhe sob re o dorso chupam —lhes o sangue , deb ilitando - os, e formando chaga s ond e se acolhcm insectos , e t c ; As co isas sagradas andavam em con t ínuos emba tes com as maravilhas do d iabo , e apesar d º es te fi car sempre vencido nunca lhe fa ltavam adeptos , o que não deve adm irar pois para ganhar a gloria ce leste impunham pen itencias com je juns , celic ios e outros martyr ios , emquanto Sat anaz , sem falar na v ida eterna , offerecia de prompto aos seus apan iguados os ma iores gozos mundanos . Os seduzidos confiavam no arrepend imento á hora da morte , e nos suffragios com que os paren tes e os devotos lhes salvariam as al mas . As his torias antigas pouco agradam aos le itores romanticos ; m as nos enredos da comed ia humana preferimos , embora nos al cunhem de massador, as ve lharias dos archivos que descrevem fa ct os e costumes dos nossos antepassados . A ccresce a vantagem de provar aos pess im is tas cont emporaneos que a immoralidade não t em augmen tado com o progresso soc ial , e que , se os escandalos e os cr imes se conhecem ho je em ma ior numero , é isso devido á l i h erdade de imprensa , pois n º aquelles tempos a hypocrisia , o fana t ismo e a intolerancia dos poderes absolutos at t enuavam para o p ublico , quando não encobriam de todo , os ac tos mais vis e crueis. Em assumpt os d iabolicos a conse lhamos a leitura do B iccio na ir e infernal ou bibliothe ' que univer selle sur les etr es, les perso nag es, les livres, les fa its et les choses, etc . De .Col lin de Plancy, impresso em Paris em 1 825 . E tambem in teressan te o Tr a tado das causas dos malefí cios, sor t ileg ios e en cantamen tos, de R ené Beno it , e as Astucias ar t if cias e imp osturas dos esp ir i tos malig nos, de R oberto P r iez . Para e s tudo complementar , além de L es annales du sarna turel, revista que se publica em Paris, temos 0 Ensa io sobre a his tor ia das tr a d ições demonolog icas , desde a ant iguidade a te ' os nos sos d ias , obra monumental de Ar is tides G en ius , publicada por De lalourd em 1 86 1 a 1 865 . São quatro vo lumes em 8 . º Ahi se encon tram descript as trad ições demonologicas , co lhidas em d iversas ori gens à cus ta de mu ito estudo e fad igas , onde o diabo está pin tado com as suas lendas documentadas e d ispostas sy stemat icament e , com eXpos 1ç ao dos exorcismos e efli cazes remedios para expulsar os expiritos maus j lag ellum daemonum) , assim como as burlas dos adivinhos , das bruxas , lob ishomens , e outras trapaças da arte ma g ica , em que o d iabo é sempre o ed itor responsavel . As supers tições em Por tugal não chegaram a at t ingir a ri queza de poesia leudaría que se encon tra na de ou tros paizes . Nas — 5 ordenacões do reino , ª e nas consti tuições dos bispados veem des i guadas crencas, abusões e bruxedos , d ignos de serios es tudos , re 1 As ordenações M anuelinas, liv. v, titulo 3 3 , com r elação aos fe itice iros e vigilias que se faz iam nas egrejas, d iz : Estab elesçemos , que toda pessoa d e qualquer qualidad e e cond içam que seja , que de lugar sagrado ou nom sagrado , pedra d ' ara , ou corporaes, ou parte d e cada ht ' i a de l las tomar , ou qualquer outra cousa sagr ada, moura por e l lo morte n atural . E y sso m esmo qualquer pessoa que em c í rculo, ou fora d e lle, ou em e ncruz ilhada esp iri tos d iabolicos invocar, ou a algfí a pessoa dee r a comer ou b eber qualquer cousa pera querer b em ou mal a ou trê ' , ou outrem e l le , moura por e llo morte natural . P ero em e stes dous casos sob red itos nom se fara exe cuçã, atee nolo pr ime iro fazerem sab er, pera vermos a qualidade da pessoa, e o modo em q se taes cousas fezeram , e sobre ello mandarmos ho Ei se haja d e fazer . Outro si nõ seja algú ' a pessoa tam ousada, ( " i pera adeuinhar Iançe sor t es , nem varas pera achar auer, nem ve ja em aguoa , ou em cristal, ou em es pelho , ou em e spada, ou em outra qualquer cousa luzente , nem em e spadua d e c arn e iro , nem faça pera adeuinhar figuras ou images algã as de metal, nê ' de qualquer outra cousa, ne ” se trab a lhe d e adeuinhar em cabeça de homem morto , ou de qualquer alim aria , nem tragua consiguo dente n em baraço de en forcado, nem qualquer outro m embro d e homem morto , n em faça com as d itas cousas ou cada b i'i a de l las, nem com outra algú ' a (posto que aqu i nom seja nomeada), espec ia algã a de fe i t içar ia, ou pera adeuinhar, ou pera fazer dano a algõ a pes soa ou fazend a, n em faça cousa algã a, porque b i ' i a pessoa que ira bê ou mal a outra, nê pera legar homê ou molher, pera nom poderem auer a juntamen to c arnal . E qualquer as d itas cousas ou cada hi'í a de llas fezer ,mandamos q se ja publ icam ente açoutado com baraço e preguã pola vil la ou lugar onde t al crime a cõn t ecer, e seja ferrado em ambas as faces com o ferro que pera y sso man d amos fazer d e hnum .E. porque seja sab ido polo d ito ferro, que foram jul guados e condenados po r o d ito malefiçio, e m ais se ja degradado pera sempre pera a y lha de sam Tomé , ou pera cada hua das outras y lhas e l las comar c ãas , e 3 15 da d ita pena corporal, pagaraa tres m il reaes pera quê o acusar. E por quante nos he d ito que em nossos reynos e senhorios antre a gen te rustica se usam muy tas abusoê ' s, assi como passarem doente s por siluaõ , ou machie iro , ou lameira virgem , e assi vsam bê ' zer com espada que matou ho m em , ou passasse o Doiro e M inho tres vezes . Outros cortam solas em fi gue ira b ' afore ira . Outros cor tam cobro em lum iar de porta . Outros t em cabeços d e sa ludadores encastoadas em ouro, ou em prata, ou em outras cousas. Outros apre goam os endemoninhados. Outros levam as ymag ' e ' s de alguns sanc tos à cerca dagoa , e ali fi ngem que os querem lançar em e lla, e tomam fi adores que se at ee çe rto tempo o d ito sanc to lhes não d er 'agoa, ou outra cousa que . pedem, que lançaraam a d ita ymagem na agoa . Outros revoluem pen edos e os lançam na agoa pera auer chuyua. Outros lançam jue ira . Outros dam a comer bolo p ' era saberem parte dalguu furto . Outros t em mendracolas em suas cazas, com e ntêçam que têdoas por e llas aueram graças com senhores, ou guanharãa nas p resentando o s cos tumes «da e pocha . Os srs . Theophilo B raga , l Le i te —e Va sconcel los , 2 Cons iglier P edroso 3 e Adolpho Coelho? ja cousas cm que tratarem . Outros passam agoa _ por cabeça de cam pera 'con seguir algún proveito . E porque taes abusões e outras sem e lhantes nom d eue mos consentir, mandamos ” e . defendemos, que pessoa alg t ' í a nom faça as _ d i tas cousas nem cada hã a de llas ; e .qualõr que o cont rairo fezer, se for piam ou di pera b ayxo se ja pubr icamen t e açout ado com b araço e preguam pola villa, e ma is pague dous mil reaes pera quem o acusar . E se for vassallo ou escude iro ou d i pera c ima, ou m olher d e cad a húu d estes, se ja degradado pera cada hã u dos n ossos lugares dalem em Africa por dous annos , e m ais pague quat ro m il reaes pera quê -o acusar . E estas m esmas penas auera qualquer pessoa que d isser al gi'ta cousa do que he por vyr, mostrando e dando a en tender q ue lhe fo i reve lado por D ª , ou algum sancto , ou em visam , ou em sonho , ou por qualquer ou t ra maneyra, e esto segundo a d ifferença e qual id ade das pessoas : conuem a saber daçou t es e dous mil reaes n o p iam e de sem e lhante sorte , e no vassalo e d i pera c ima de dous annos de degredo e quatro m il reaes . P ero o esto nom an cra lugar nos astrologos que por sçiençia e arte d e astrologia, vendo primeyro as naçenças da pessoa disserem alg i ' i a cousa segundo seu juyzo e regra da d ita sçiençia. Outro si d efendemos , que pessoa alg í ' í a nõ benza caes , ou b ichos nem outras alim ar ias, nê vse d isso sem pe ra e llo prime iramente auerem nossa auto t idade , ou dos prelados, pera o pod erem fazer , e qualõr que o contrairo fezer, se ja pub ricam en te açoutado se for p i am e d i pera fundo, e pague m il r eaes pe ra quem o acusar , e se for vassa lo ou escude iro ou d i pera c ima, seja degradado po r um anno pera cada um de nossos luguares Dafrica, e mays pague dous m il reaes pera .quem o acusar . [t em mandamos , que pessoa algã a nom faça vodos nem vigilias de dor mir, e comer, e beber em ygrejas, n em se ajuntem a com er e beber por razam d as m issas que m an dam d izer, que chamã m issa dos sabados, nem guarde por d auaçam o sabado, ou quarta feira, nom sendo cada hti n dos d itos d ias man dado guardar por ordenança da ygre j a, ou , por cõst itu içam do prelado, e qual qu er pessoa que cada hua d estas cousas neste cap ítulo con theudas fezer , seja pr esa, e da cadea pague quinhentos reaes, pera ,quem o acusar . II E ysto mesmo defendemos que nom façam vodos de com er e d e beb er, p osto que fora das ygrejas se jam , e que d igam que os fazem por deuaçam d ' al g ã s santos , sob pena de todo o que pera o t al vodo de reçeb er , se paguar em d o bro d a cadea per aquelles que o assi pedirem - e receberem , - nom tolhendo porem os vodos do santo espírito que se fazem na f esta do pin t icoste, porque somente estes concedemos .que se façam , e » outros «nenhí íus nom . P or ' ê nos lugares onde costumam com er quando leuam os finados, o p od eraam fazer sem pena algúa, nom comendo dentro no corpo das ygrejas. Ca nc ioneirop ºpula r . Tradições pºpula res de P or tug a l. P orto ; 1 882 . 3 C ontr ibuições pa ra uma M y tholog ia : popula r p or tug ueza . L ísli oa, 1 880 , 4 Contos p opulares por tug ueqes. https://www.forgottenbooks.com/join mem e a mulher nas seguintes espec ies — gigantes , pigmeus , an droginos , monstruosos e prodigiosos . Não podemos resist ir a t ent açao de transcrever alguns d esses “ estupendos phenomenos , que o dr . Abreu authent ica sempre com a c itação do l ivro , d º ondecopiou taes maravilhas . Com re lação aos gigantes da anti guidade d iz : « ser dos mais ce lebres o que os Rabinos c i tam no seu Talmud t inha t al gran deza , que sendo M oysés da a ltura de dez covados , com um sal to da m esma al tura , e com uma lança do mesmo compr imento , 0 que sommava trinta covados , apenas conseguiu fer ir o gigan te no tor noselo . O gigante morreu da fer ida e o corpo fi cou no campo servindo de pas to aos corvos . Passados anuos estava o esquele to descon juntado, e indo um caçador a cava l lo perseguindo um veado entraram de corrida n'uma espec ie de tunel , gas tando s— se is horas : at é á sahida . V ericou - se depois ser o tune l a cane lla do gigan t e O Albulense , para nao restar duvida, reputa esta historia de lir io insa no. « G abino afii rma t er visto na M aur i tan ia o esqueleto de An teo com o comprimento de setenta covados . Plin io descreve um cada ver com quaren ta e se is , e Apolon io diz que n º uma ilha , visinha de A thenas , se achára o sepulchro de um gigan te que tinha cem covados de a l tura , d izendo o epitaphio haver vivido cinco mil an nos . » q uanto aos pigmeus escreve que sempre tiveram certo va lor e de preferenc ia os ma is fe ios . O “imperador Dom iciano pos suiu grande numero dºelles , que bas tante o d ivert iam . Na edade méd ia foram tambem muito aprec iados : serviam d e pagens aos senhores feudaes , havendo a lguns que gosavam al to val imen to com os ' soberanos , chegando a receber o t itulo honorí fico de anão do r ei, emprego de grande importanc ia e rend imento . A histor ia de s igna os mais notaveis pelos seus nomes , descrevendo o tamanho e ' prendas de que eram dotados . ep isod ios de cunho nac ional, e já em parte aprove itados pelo eminente escri pt or Cam illo Castello Bran co . O seu livro P or tug al M edico, onde desord e nada m ente , em prosa e verso, nas línguas lat ina , portugueza e hespanhola , quiz mostrar. vasta erud ição, está recheado de pueri lidades e inverosimilhanças,que do cum entam em c itações classicas o grande atrazo em que se achava a medi ci na como sc ienc ia em toda a Europa, e com espec ialidade em P ortugal. O dr . Braz soccorre - se tambem a sagrada escriptura e ao te s t emunho de Plin io , Pompon io M ela , Bern ardo G ondon io , e Cte s ia G n id io . Cita um rei ind iano possuidor de tres m il pigmeus , que o escol tavam quando jornadeava , por serem mu ito des tros no t i ro de se ta . Homero , Ovid io , Juvenal e outros escriptores contam as porfi adas guerras que uns homunculos , montados em cabras , t i veram com as gralhas , fazendo as casas de pennas e cascas dos ovos dºestas aves . Em tempos mais modernos escreveu Nierem berg , sem poesia , que um anão chamado Bonami fôra levado de presente a Fil ippe I II de Castel la , e um fidalgo o pendurara com um alti nete no panno de arras da sala do palacio . Houve outro t ão pequeno que nas bodas de um duque de Baviera fôra á mesa dentro d e um pastel , e quando part i ram es te , sal tou de e spada em punho fazendo esgrima e esgares , c om que os conv ivas muito fo l garam . Paulo Zacarias 1 refere que a condessa M argarida, fi lha de um conde H oren tino em Hol landa , t ivera de um só parto 3 5 5 anões , que todos foram b ap t isados n º uma bac ia , não excedendo cada um o tamanho de uma noz Calcia , mulher de C . A til io , teve de um prod igioso parto nove filhas , que confi ou a Santa Silla para as lançar ao rio ; mas e l la entregou - as ao p relado Ovid io , que as bapt isou e fez c rear por d i versas amas chris tãs com a doutrina e inst rucç ão e vange l ica . M a is tarde , com a parte ira Silla, ganharam a palma do m ar ty rio . º Jo ão de M andavilla conta que na i lha Defracan havia uma e s pecie de p igmeus que nao t inham bocca , e se nutriam pe los na rizes com o cheiro de fructos s i lvestres, e de varias plantas aro maticas . No seculo xvi Pedro dºAilly , uma illust raç ão do c lero francez e da Un ivers idade de Paris , descreveu os pigmeus da Idd ia , os monoculos, homens com um só olho , e os cy nocephalos com cab eça de cão . ali i gui canina cap i ta kabaul . Dos homens andr og inos ou hermaphrodi ta s bastará ci tar o mais notavel , teve fi lhos como mulher , e depois os houve como homem de uma mulher . Dos monstruosos, além dos a rthabatr istas, que eram quad ru pedes , menciona um phenomeno existente em Roma no anno 1496 , Quaest M ed icoly , liv. vi i , fol. 5 29. 2 Vasconcell. in D escr ip . , pag . 446 , tambem c itado por N ieremb erg, que se pode cons iderarzumv erda deiro enxerto an imã l — avinha a se r. um corpo humano t odo coberto de escamas , com pe itos —. de mulher, . cabeça de burro , - uma das mãos de elephan te , um dos pés de boi , o outro .de aguia, . uma a das 'na degas represen tava a l cara de um fvelho -a outra a zde um dragão . .Diz —o ,mesmo t consciencioso escrip tor , que entre m tartaros havia h omens só. com um braço :e . uma perna , —e scudo mui to de stros - em at irarem vá se tta , juntavam— se n os pane s tsegu rando 'um o ared e o outro desped in ' doao tiro . Diz mais que os d u ranucos tinham .as ore lhas tão compridas que chegavamrao chão , e que ' as dos S temollas eram tão largas que os . seus donos se cobriam com e llas . Os Nz ' g r i tas possuiam o be iço inferior de tal modo d is forme que lhe cahia até o ven tre , e m tempo . quen te era prec iso salgal —o para se não corrompe r . Os p edes, pés) t inham pés enormes de modo que de itados no chão fi cavam a sombra dºelles . T orquemada c ita v exemplos rd e p essoas com duas l inguas , ou uma b ipart ida , , falando . coisas d iversas , 1per guntando e respondendo ao mesmo . t empo . Ser ia abuso re latar os numerosos phenomenos descriptos . no P or tug al . M ed ico, _ que tan to ; encantaram os .seus : censo res , e :em quanto a homens prodigiosos c itaremos , apenas os :do is seguintes S . Jeronymo viu em R oma «uma mulher viuva d e 22 maridos, e . casand o ; com o 2 3 . º , . tambem v iuvo de 20 mulheres, .este teve a for tuna de , lhe ; s obreviver . Quando a companhava o corpo da que r ida consorte á sepul tura, foi . levado « em triumpho, coroado de lo iro e . com a palma na mão . , M as z exced e tudo quanto a antiga musa can ta e pode can tar , o facto , ahi m encionado, descripto por Fr . An ton io Fuen te lapena, no qua l um Luiz Rosel sentiu, por .me zes , uma dor intensiss ima na : coxa :d ireita, onde : , se - formou v olu moso tumor , que cresceu. progressivamente -até ao - nono «mez , . e por fim sahiu dºelle um men ino vivo , ' que ,se bapt isou , com o nome de Luiz , como seu pae l . Sobre taes assump to s os oommentarios e a crit ica só, repre sentariam ho je perda n de t empo, As histor ie tas diabolicaS Jpa ssadas no nosso fidel íss imo Portu gal . e suas possessões são numerosas : esboçaremos apenas alguma s crenças _que teem amedrontado aas creanças e mui tos adultos , e que provam como a egre ja e os med icos antigos souberam triumphar das t entat ivas infernaes , m inuc iosamente registadas nos m i lagres narrados pelos auctores mys t icos . Variadíss imos são os nomes por que é conhec ido— o rei ,dos . infernos , e como princ ipaes temos Diabo, Diacho , —Demon io , L usbe l , Belzebuth , , Sat anaz, Asmodeu , L ucifer , muitos . ª É um arrem edo d e prosapia . genealogica, m as a zarte _herald ica a inda lhe não designou os zsymb olos d o brazão . Os, gregos-. e i romanos , que : inven taram ua my thologia , aranja ram . o seu P lutão enthronisafdo no inferno . corn »a consorte Proser pina 2 cercados ; pela« .côrte d iabolica, :e, guardados pelo terrivel Cer bero . O christ ian ismo não lhe deu tão importante posi ção , pe lo seu f ' Frl José d e Jesus M ar ia , B rog nolo recap i lado e substanciado, e tc . A pag . 24 vem a etymolog ia d ' estes nom es. in fei ª nal e ' ri ' giram 'os car'thag inezes u ' m ' f grand ioso templo emWVillatV içosaçe segundo d izem zalguns i hist oriador es em Evora h ouve outro.ruim e incorrigíve l comportamen to : despenhou—o para as ma is pro fundas trevas , chamando - lhe an jo mald ito e deixando - o em l iber dade de imaginar e pôr em pratica toda a casta de d iabruras . Desde então reânou em ma ldade e tornou- se acerrimo perseguidor de tudo que ha de santo e bom . A lguns cerebros poet icos até chegaram a descrever o grande imperio infernal com Belzebuth tendo ás suas ordens sete re is , com os nomes : Bae 'l , Fursan , By telh, P aymon , Belial , Asmodeu e Zapão , al ém dos príncipes e mais al tos funccio narios da côrte . Collige - se do que de ixamos d ito que o d iabo é mui to antigo e deve ser estudado archeologicamen te . Os santos padres ind icam como p rime iras víc t imas de Sa tanaz os nossos respe itaveis avós Ad ão e Eva , 0 que deu causa a serem expulsos do Paraiso . Desde en tão t em-se vulgarisado pe la trad ição e em escripturas mui tas lendas , onde o d iabo é o pro to gonista . N º essas histor ias sob renaturaes , e at é nas chronicas my st icas do passado , vem , quas i sempre , as d iabruras envolvidas com as san tidades . Os estratagemas do espiri to mal igno são ant igos e mui to va riados . As beatas teem - lhe od io fi gadal : a t t ribuem- lhe todos os seus males , presentem —no pe lo faro d ivino de que são dotadas, e en xotam -no com — o vade- rectro Satanaq — t ª arr eneg o maldi to ma f a r r ico, canhoto, cao t inhoso, porco suj o, vae- te e não tornes e no tornares te af undas, palavras , que para bom effe ito , prec isam de ser d i tas com os dedos ind icadores em cruz . Em Portugal ha s ít ios onde Sa tanaz tem morad ia permanente . Na Cuba existe a Fonte do D iabono cen tro da Praça da Ra inha e coberta por uma abobada, onde está pintado S , M igue l com o demon io aos pés . É crença popular que alli se reunem todas as no ites as bruxas , lobishomens , espectro s , duendes e phantasmas , e que , depo is de receberem as ordens do satanico chefe , se espa lbam a fazer ma lefí c ios , e quem por al l i passa na occasião dos taes conciliabulos , sem t esar o credo em cruz , é agarrado pelos demo nic s e trucidado . No caminho , entre Pon te de L ima e Nossa Senhora da G uia e stá a chamada P edra do D iabo, onde o vulgo diz ver o s ignal das suas unhas . A ponte de S . João , que fica a uma legua de G uimarães , é tambem locanda do d iabo . Quando os doentes dºaquellas c ircum — v — 1 3 visinhanças desesperam da cura pe los remed ios da botica, vão á me ia no ite acompanhados de um padre , levando um alque ire de m i lho painço , que de itam da ponte aba ixo com tres punhados de sal, emquantoo padre impõe a Sa tanaz a obrigaçao de deixar em paz o misero enfermo . Na ermida de S . Bartholomeu, que âca nas margens do Ta mega, junto á ponte de Cabez , faz- se no d ia 24, de agosto uma grande romaria , onde concorrem os endemon inhados . Logo que av istam a capel la , os espiritos malignos começam a fazer sal tar as pobres crea turas com terr iveis con torsões , visagens pathe t icas e gritos desen toados ; mas ao chegarem ao al tar do san to , vom i tam todo o fel d iabolico e fi cam logo sas e escorrei tas . Scenas quasi iden t icas se prat icam na romaria das Neves , no moste iro da L agoa , proximo a Fafe. Algumas mulheres visionarias , imaginando ter o d iabo no corpo , tra tam de o expulsar tocando com a cabeça no corpo do san to . Estas extravagantes crend ices do povo dão sempre logar a ri diculos episod ios , a que nem o proprio Sa tanaz poderia suster o r iso . Faz lembrar aquelles engraçados versos de G arret t , quando descreve o membrudo capucho que a duros golpes de estola , b ri gava com o d iabo para o fazer sahir do bojo de uma beata jubi lada , onde se havia encaixado , e por fim só o conseguiu com va lente hyssopada . O demo desamparado e escaldado pela agua ben ta , procura novo abrigo, e vendo proximo o gallego Thiago a fazer lhe zombaria , perguntou ao frade para onde se hav ia de encaixar , e o capucho com ar de escarneo indica o c . do gal lego . Thiago não se assarapan tou e assim o canta o poeta Conhecem - se os grandes homens Nas grandes occasiões : Thiago , sem mais demora, De itou aba ixo os calções , E em menos tempo ainda Do que o demoesfrega um olho , Já na p ia da agua benta T inha elle o seu de molho. Bate quatro palmadas No rechunchudo de traz E d iz -lhe « Agora sô d iabo Venha para cá se é capaz . » 1 1 F olhas cahzda s, ed ição , pag . 82 a Será possive l o d iabo entrar no : corpo ' de U ma alma chr is Os theologos d izem que s im'e est as auctoridades são — ind is cut ive is . O padre , em virtude do seu m in isterio , achas e ºcollocado -entre Deus e o d iabo : dºaqu i deriVa ea sua inspiração para'extremarsem pre o b em do mal, e » ensinar —aos Cegos peccadõres o verdadeiro cam inho 'do ceo . Dizem e l les que com “dois fins 'en t r'a o demo º no corpo hu mano : ou para o -atormen tar, 'ou p ara ' lhe perverter a a lma . Isto acha - se authent icado —no Evange lho de r S . Ducas, Sã M arcOS ª e S . M atheus . Ahi est ão 'b em' claras asº regras que deVemos 'seguir —para nos precaver contra talª inim igo, é t amb em'se descrevem i os meios a empregar ' para ' , no caso de el le entrar 'nd corpo ; o expul ' sarmos com as v irtudes esp iri tuaeS O convento d e Campol ide , 1 recebeu as suas religiosas com grandes solemn idad 'es a 25 de junho de 1722, e mezes depo is in t roduz iu — se alli ' o d iabo , fazendo coisas 'arco da' velha . Apesar de 'haver l inguas vipe rinas que tem ' erar iamente lhe 'davam' d iverso respon savel , o pat riarclia' D ' : Thomaz de Alme ida; cõnhecedor de que os mesmos boatos eram obra do demºn io, ª' para assim - me lhor escapa r ao flagello do hys ' sope, acud iu logo'á ' s pobres fre iras, nomeando- Ihe o s ma is doutos exorci ' stas , e en tre e lles, o 'bom ª Fr. José de Jesus M aria , U liss ' iponense , p regador , que se diziã in d igno fi lho da san ta Provincia da Arrabi d 'aa Este ze los'o frade empregou contra o demo o methodo do sapient i ' ssi rno Fr. Can d ido Brognolo da seraphica fam i l ia : e , para* pôr ao alcance ” de toda a christandade portugueza t ão utilitaria doutrina , traduziu do i taliano a sua arte de exorcizar com o seguinte t itulo : B rog nolo recop ilado, e substa nciado com add itamentos, de g ravíss imos au thor es ; methodo ma is br eve, mu] suave, e utilissimo de exorcizar , exp elindo demon ios, e desfazendo fey tiços, seg undo os dictames do sag rado Evang elho . Conforme a mente e doutr ina do Colleg ido, regumido e traduzido da ling ua la t ina , i talia na e hesp a nhola na p or tug ueza p ara clareza dos exor cistas e benz dos exor cigados . Foi impresso em Lisboa em 1725 e teve t al acce i t açao que dois anuos depois corr ia já nova ed i ção em Co imbra . 1 De N ossa Senhora dos remed ios , d e re l igiosas t r in i tarias , no sitio do Rato » hº j e ext incto e se rvindo de aso ' a orfã s ' . https://www.forgottenbooks.com/join — 1 6 t ões para resolver novo plano ext rategico , ' e as bruxas, a sua tropa ma is finoria , foram chamadas ao serv iço ac tivo contra as virtudes da human idade . Foi o salva t erío do demonio ; porque as suas sa t elit es portaram - se tão lad inamente que os homens da rel igião , de m ãos dadas com os da sciencia galen ica , andaram por mui to tempo ás aranhas , s em poderem a tinar com a causa dos males epidem i co s , que se desenvolviam em grande escala , o que fazia rir O velho Sa tanaz de mãos nas i lhargas . P e lo t outro lado tambem nao estavam com as armas ensarí lhadas . A l ém do j á c itado Fr. José de Jesus M aria com a sua t ra ducção do Brognolo, Fr . João de Vasconce llos , do convento da Trindade de San tarem , onde professou no anno de 1725 , publicou em 1737, com o pseudonymo de P . º Nicolau Car los V e jecee , sa cerdo te l isbonense , o ínt eressant íss ímo l ivro com o t ítulo : Escudo sant iss imo e armas da ig r ej a contr a a ma lícia d iabolica com que os eSp ir i tos immundos, juntando — se torp emen te com as bruxas ou feiti cei r as as tomam p or instrumentos p ar a infestar os caminhos, in quieta r as casas, a ter ra r os mor ador es com fantasmas nocturnos, e matar os meninos innocentes antes do bap tismo, t i radas da Eser i p tur a sag rada e das orações da ig r ej a . O chris t ianismo tendo por base as le is da moral idade , da ç a ridade e da just i ça , no seu progresso cívilísador vae conseguindo banir estas r id iculas crend ices que false iam a sua santa doutrina e a grilhoam os espíri tos pe lo fanatismo es tupido . Parece que o d iabo não é tão fe io e tão mau como os nossos avós o pintaram . 2 O mald i to , para me lhor se vingar dos padres , que mais o desacred itavam e perseguiam , de ixou de ser terrifi co e hlíou- se no part ido anarchísta . Se os seus precedentes lhe nao dão d ireito , pelo rece io de escandalo , a entrar nos salões da al ta soc i edade , no thea tro é b em acceí to como art ista dramatico, de 1 No D icc iona r io B ibliog raphico de Innocenc io da Silva não se faz m en ção d ' esta importante obra, provavelmente , do mesmo auctor da R estauração de P or tug a l P rod ig iosa ; m as vem citada por Barbosa M achado na sua B iblio theca L us itana . 2 J á vimos n'uma egre ja um quadro , exposto por um devoto, represem tando uma mu lher cahída no chão, e uma corda suspensa no tecto, formando n a extrem idade laço, e por baixo a seguinte legenda : M ilag re que fez o Senhor Jesus . . a M ar ia da s N eves , a qua l tendo a rmado um laço p ara se enforcar p or tentaçao do d iabo o mesmo a livrou 17 ord inario ves tido de encarnado , com cabe l le ira ruiva d i oude sahem corn inhos dourados olhar flamante e fai scan te , envolto no fogacho de enxofre , mas o rabinho quasi sempre escond ido . A ssim o temos visto represen tando nos princ ipaes theat ros , que seria longo espe cíalisar , at é em pape is de pro togon íst a , algumas vezes com ade mane s grac iosos ou burlescos posto que vulgarmente apparece como tyranno . FADAS, FEITICEIR AS E BR U X AS O assumpto d ª este capi tulo presta- se tambem a longas dis ser tações : faremos , porém , d ílígenc ía de o resum ir o mais poss i vel , seguindo os auctores de melhor cred ito . A s f adas são en can tos , de corpõ gent il , ros to formoso , olhar meigo e cabe llos côr de o iro . Representam o gen io do bem . No mesmo caso poderemos con s iderar as moiras encantadas , que pertencem amy thología pen insular . São tambem l indezas , que apparecem geralmen te nas fontes , e com a sua formosura seduzem os mor taes . A s fei t iceir as, de extrema bel leza mas com mau ínst incto , teem olhar vertiginoso , modos fr ios e re trahídos . Associadas com os esp ír itos infernaes , usam de mui tas artimanhas para í lludí rem as pessoas ignoran tes e fracas , incutindo - lhes pensamen tos sata n icos . As bruxas e mulher es de vir tude são quas i sempre velhas ím mundas , de aspecto repe lente . Resmungam em rouquenho orações cabalísticas es trop iando a lgum lat inorio , mas para fazerem os sor t ílegíos teem de ped ir a intervenção do d iabo . Na Allemanha os fe itice iros usam vestuario espec ial , que os dest íngue . Quando exercem as suas profi ssões , paramentam— se com uma tun ica de couro , coberta de ídolos recortados em folha de Flandres , campa inhas , aune is e cadeias do mesmo metal , e põem na cabeça um barrete al to com iden t icos ornatos e enc imado por uma penha de macho. O thea t ro das consultas my steriosas são de ord inario as cavernas , allum íadas pela chamma de paus res inosos. Começam as suas funcções magicas pe lo toque de um instrumento, semelhante ao tambor, acompanhado de campa inhas , produz indo cer ta harmonia lugubre i Depois o fe i tice iro aspira grande porção do fumo de tabaco , e , fazendo mui tos t rege itOs e visagens , cahe por fim em lethargo . N º est e es tada cons idera— se inspirado para re s ponder ás con sul tas , e ha vendo caso de do ença, tambem se presta, por cert a quantia a justada , a combater o d iabo, sahindo sempre vencedor e com vantagens posit ivas para o enfermo, segundo e lle s garan tem. Os fe i t i ce iros para o me io dia da Europa sao mai s raros que as fe it ice iras . O nosso dr . Braz de Abreu , no P or tug al M ed ico, descreve - as magistra lmente , d izendo : recebem o poder ma le fí co das m ãos de Satanaz e são suas emissivas . Das partes que roubam aos mortos fabr icam uns pós , com os quaes infecc ionam as hervas , os fructos , damnam a saude e provocam d iscord ias . Es palhando os di tos pós pe lo ar , nos cam inhos , nas escada s , nas ca sas , nos fatos , nas pias de agua benta , e as pessoas que os tocam não tardam em adoecer em ,» havendo: muitos casos de morte . » Cita o mesmo auctor o ins igne Torreb lanc a, que descreveu a mortali dade que por e ste mo tivo houve em Ital ia em 1 63 0 , dando causa ao decre to de Filippe IV de Cas te l la , publicado em 7 de outubro do mesmo anno , impondo severo castigo a quem usasse ou intro duzísse nos seus estados aquel la pes te , e offerecendo grandes pre m íos a quem descobr isse os auctores do terríve l malefi cío . Em Lisboa tomaram - se serias providencias para se nao im portarem do extrange iro os taes pós que de senvo lviam peste , fi s c alisando - se m inuc iosamen te os navios que entravam a barra. Fr . M anue l de Lacerda , douc tor e lente de “ theologia na Un iversidade de Co imbra escreveu : M emor ia e ant idoto contra os pós venenosos que o demon io inventou, e p or seus Cºnfederados esp alhados em od io da chr is tandade . Impresso em Lisboa , 1 63 1 , 4 . º de V iu- 178 pag . Estas prevenções contra os pós confi rmadas pos teriormente p ela doutrina do dr . Abreu, são prova de que um dos males que a human idade mais deve rece íar é o morbus diabolico . O dr . Braz de Abreu foi homem de grande conce i to c lín ico , curando doentes na c idade do Porto e em Aveiro , reforçado com o t ítulo de famil iar do San to O ffi c io . P or mot ivos. particu lares , 2 % separou— se amigave lmente da esposa e das fi lhas , e vest iu o ha 'bito de S . Francisco . P or esta forma ficou duplamen te habil itado e quando não pod ia salvar o corpo do enfermo , encam inhava — lhe alma para o para íso . Confirmada a sua theoria m edica , acabando o d iabo e toda s a sua côr te de díab ret es , fe i tice iras e outros perseguidores do ge nero humano , os fi lhos de Esculapio ser iam os c idadãos mais b em quistos na sociedade ; convidados índist ínc tam ent e para b apt isados , casamen tos e enterros , tendo apenas os encargos de rece i tarem os banhos do mar as so l te iras , as limonadas e as aguas thermaes ás casadas , os unguen tos para ca l los ás velhas , e todos teriam a ven tura de morrer saos e escorreitos , quando batesse a sua hora final . As funcções sat an ícas são às vezes exerc idas p elos homens ; mas como de ixámos provado , á u lt ima evidencia , as mulheres são mui to mais faceis de cat echízar , ou hypno t ísar pe lo demon io , por nervosas , ou levianas . Já um antigo e scriptor d isse : Quid levins fum o ? Flam en Quid flam ín e ? Ven tus : Quid vento ? M u iie r : Quid mu liere ?N ihi l . Felízmente nem todas as balan ças dão este resultado . U ma das cerimon ias m ais solemnes da fe í t íceiría e da bruxa ria e o invocar o d iabo . A maga Celest ina d iz ia assim : « Conju t o - te rex Plu to , soberbo cap itão dos esp ír itos damnados , e senhor dos sulfurosos fogos , que as cataratas ígneas b rotam l . Tua hu m i lde escrava te con jura pe la virtude dºestas lettras vermelhas , es criptas com o sangue das corujas , e em pape l fe i to com a peço nha das viboras . » Quando não era logo at tend ída empregava as ameaças . « Se me não sat isfazes , cão tinhoso , sere i tua in im iga capita l , alumeareí os teus soturnos carceres , chamar— t e —he í men ti roso , e arrastare i o t eu horr íve l nome pelas ruas da M as estes azedumes eram apenas valores entendidos para il ludir os profanos, tal como se usa na pol ít ica parlamen tar , e com t aes armad ilhas enganam os cegos da razão e perdem as a lmas , , que é o fi to de Satanaz . A m ímica que acompanha a invocação é s inistra . olhos em alvo com inculcas de insp iração , m ãos abertas , bra ços estend idos . A voz dão som plangent e , semelhante ao u ivar do lobo ou ao guin cho das aves nocturnas . Se querem enfe i t içar a lguem pedem ven ia ao demo e repe tem tres vezes : Tena to, fer ra to, a ndato, p a sse p or ba ixo, e a víc t ima c omeça logo a sen tir as terr íve is consequencias . Tambem recorrem ao poder de Proserpina , mulher do d iabo, ás Eumen ides , furias infernaes , ou a Cocy to , A cheronte , P hlege tonte , r ios do in ferno , et c . As fe it icei ras e a s bruxas para ad iv inharem prec isam o dom da dupla v ista e servem - se da pene ira (coscinomanc ia), a tada a uma tenaz . Levan tam - nºa com do is dedos , emquan to pronunciam os no m es de pessoas suspe itas de a lgum del ic to , e se a pene ira osc i la qualquer nome é e s se o do ind iv iduo culpado . Auxiliam — se tambem com a ' varinha , virg a d ivida , ou virg a M oy ses, pela semelhança com a sua porten tosa vara . O s he spa nhoes cham am — lhe var illa de vir tude e os pprtuguezes var inha de condão . Es tas escravas de Satanaz teem o Deus na bocca e o d iabo no coração , e segundo d izia San to Agost inho com o mel das p ala vr as santas encobr em o veneno do enca nto. Os me ios de ad iv inhar são d iversos e teem a sua nomenc la tura technica . A ssím , ' quando nas suggestões empregam a terra, chamam - lhe g eomancia , o ar aer imanc ia , a agua , onde espe lham na sua superficie o que interessa aos a lucinados hj f dromancia , e quando o fogo , py romancia . N ª es te ultimo caso lançam no b ra ze íro uma porção de enxofre em pó : se a chamma sahe un ida e infelicidade ; se d ivid ida em tres , successos g lor iosos ; se espalhada , mor te ou inf er no ou doença ao são; se tremula , desg raça ; apa gando - se de repen te , p er ig o eminente, e tc . Servem - se tambem da buena -d icha ou chy romancia, ad ivinha ção pelas linhas das mãos , e quando pelas unhas onomancia . A chrromancia fo i cul tivada pelos augure s na antiga R oma por forma espec ial . Aristote les fo i um dos seus ma is ce lebres pro pagadores . Na edade média os bohemios e specularam mui to com a leitura da buenad icha, e preferiam sempre o horoscopo da mão es querda, con siderado ínfallivel por ser do lado do coração . Aberta ' a mão do pobre cren te t iravam índucões da d ispos1ç ao das l inhas , que partem da base dos dedos e term inam nas grandes l inhas transversaes , e no seu cruzamento é que d iziam estar o presagio . No fim do seculo XVII a arte de ad ivinhar o futuro fo i decae b indo d e 'impor tancia , princ ipalm ente depo is da morte de Desb ar, roles , o ma is espirituoso chyroman te que se t em conhec ido . Nos u ltimos annos do seculo passado tomou a arte ma ior ín cremen to , appareceram novos ad ivinhos apregoando a infal ibil idade do horoscopo ; e adm ira que t a l mania se vá ho je des envo lvendo quando o rea l ismo parece ser a ide ' a predom inante . No re inado de D . João V tornaram v se no taveis , pelos seus sorti legios as fe itice iras R as tholha , Isabe l da Natividade , da M o i ta m as residente em A lcacer do Sal, as irm ãs Salemas , mulatas de Se tubal, e outras . A inda ha quem consul te a buenadicha , lida ord inar iamente pe las lad inas c iganas , que vagueiam andrajosas nas fe iras e mer cados , cavalgando bestas lazaren t as e estropiadas , e b ivacando junto aos povoados , É uma raca de párías com typo caract eris tico e repe lente a c iv ilização , e teem como industria tosquiarem burros , negoc iarem cavalgaduras a lei jadas e enfermas , sempre sem escrupulo e com má fé , rapinando o que podem . A chyrom anc ia tambem andou l igada com a astrologia , por isso dão ao dedo polegar o nome de Venus , ao anelar o de Apol lo, ao m éd io o de Saturno , etc . A interpre tação dos va tic in ios , d izem os mestre s na arte , é dífi i c íl, e precisa- se estar bem in ic iado para . se t irarem deduções exac tas . Seria esp inhosa a tarefa de compend iar n º es t e opusculo todos os proce ssos que magica branca e pre ta t em empregado para conhecer do passado , interpretar o presente e ad ivinhar o futuro , Dizem que as feiticeiras e as bruxas são mulheres capt ivas pe las mercês e encantos do d iabo , a quem se entre gam em corpo e alma em troca do poder male fico ; e , segundo a opin ião dos am tigos e modernos magicos, o dem o prefere sempre as novas e la https://www.forgottenbooks.com/join Os mais . acredi tados escrip tores an tigos , consultados sobre estes assumptos , são concordes em afi ançarem que as mofi nas pre ferem nos sortilegios as creanças , de quem extrahem os engred íen t es e d º onde preparam os oleos para se un tarem quando voam de noite . A lém dºisso o sangue juven i l e outros l iquidos que d º ellas sugam , conservam — lhes , e at é me smo lhes restituem a moc idade , no caso de passarem dos vin te e c inco anuos . Será es te o el ixir de longa vida de Cagliostro ou o que M ephistopheles applicou ao ve lho Fausto para lhe rest ituir a juventude ? Brown Sequard parece ter ult imamente descoberto este espe cífi co ou outro de iden t icos effeitos , e ufano apreguou urbi et orbi o r ej uvenesczmento humano, pe la s in j ecções hypoderm icas . com li quidos organ icos . A sc iencia procede a exper ienc ias . O anno passado em Barcelona do is m edicos , depo is d e a tu rados estudos nºum labora tor io da rua de S . P ausiano , tambem suppõem t er conseguido uma límpha , a que pozeram o nom e de Ka r ap hant i ton , do Chaldaico , que s ign ifica vi tal idade perm anen te , a qual in j ec tada pela epyderme não remoça mas conserva a mo c idade , re tarda a ve lhice , et c . A restituição da moc idade por mercê s atan ica t em fe ito entrar m i lhares de velhas na fe í t ícaria , obrigando o d iabo , para atalhar t ão grande mal , que lhe enfraquec ia o D poder io , a l im itar o numero , e inas vagas a abrir concursos , ond e escolhe sempre as m a is bo n itas e recommend adas . A sseveram a lguns theologos que as bruxas ou fei t ice iras para porem em prat ica os seus male fíc ios tomam d iversas form as , ge ralmen t e as que mais podem seduzir os encautos peccadores des armados contra o poder do demo , abusando ass im da fraqueza da carne . Se as mald itas encon tram algum men ino são e escorre i to , que não tenha buraquinho por onde o possam chupar, empregam , em quan to o d iabo esfrega um olho , o poder fasc inador , dando o mau olhado e produzem o quebranto , e n º est e caso prec isam sempre ajuda d iabol ica . Diz S . Thomaz — hor rendum fascinas, e Virgil io — Nescio qui s teneros oculos mihi f a scina i ag nos . É crença popular que ao encontrar qualquer mulher suspe ita de feitice ira , ntando com pertinacia , o cuspir logo fóra é perserva t ívo infal íve l contra o mau olhado. 1 Bela 3 . ª Conta o dr . Braz , no seu P or tug al M ed ico, que o ins igne H ieronimo conhecera um indivíduo com taes e t ão pestilentas qua lidades n a v is ta , que fac ilmen te com um só o lhar ma tava o s ho mens , os brutos e as aves , murchava as flores , consum ia os fru ctos , seccava as arvores e (como se ainda isto não bastasse) con sumia o mundo ! Quem fôr mais exigente sobre este phenomeno le ia M anuel Te ixe ira de Azevedo , que tratou magis tra lmente da fascina ção, olhado ou quebr a n to, e que e ' enfermidade mor tal, não so ' p a ra os men inos, mas tambem p a r a os de ma ior idade com todos os s ig na es p ar a se conhecer , e os ma is exp er imentados e selectos r emed ios p a r a se cur ar A s fe it ice iras levam mu i to longe as suas crue ldades pe las sug gestões do d iabo no seu intest ino od io . Chegam a faze r b onequi nhos de cera , barro ou trapo , fi gurando a pessoa que pre tendem martyrisar , e , conform e a aversão quelhes teem , com in st rumen to , quas i sempre agulhas ou a lfine tes , vão picando o coração , os o lhos , os rins e outras partes do boneco , invocando sempre o demon io . A proporção que se produzem as espetade llas , a m ísera creatura , que é assim repres en tada , vae logo sen tindo n as partes correspon dentes ao seu corpo , dores a t rocí ssíma s . Os med icos cap itulam i s to de rheuma t ismo go ttoso e nervos ismo e mandam o s enfermos para as Caldas . Dºes tas fi gura s symbolicas fala tambem o nosso Zacu to . 2 Em França foram just içados do is fe i t ice iros que ten taram matar o re i Carlos IX e H enri que de G uis e , espícacando os bonecos que o s represen tavam ! Dizem os chron ist as que muitos imperadores , re is e grandes personagen s teem s ido v íct imas de tão inferna l d iabrura . Succedeu o mesmo a um summo pon t íâce ; mas de scober ta a fe i tice ira foi esfolada viva e , depo is d e morta , cortada em pedaços para pas to d e cães ! Pe lo processo das p icadas 0 martyrío é sempre longo ; mas se as bruxas quizerem acabar de vez com o pac iente basta a ma is ve lha desenrolar um nove l lo e a outra cortar o ti o , ou a inda ma is summarío , atirar o bonequinho 'para a caldeira d e Pero Bote lho . Ultimamen te o coronel R ochas dºAíglun , n a Escola Polyte chuica de P aris , , por uma serie de exper ienc ias de hypno t ismo , di P ag . 625 . 2 D e p ra x i M edica Observ liv. 111, pag . 1 39. zem que mos trou a possib ilidade de produzir dores n º um ind ividuo hypno t ísado , por picadas na sua photographia , ou n º uma estatueta que o represen te . Em M il ão um grupo de homens de sciencia fizeram varias ín ves t ígações sobre os phenomenos m edíanim icos do espiritismo , con vidados por M r . Erco le Chia jía , cavalhe iro independente pe la sua pos i ção e for tuna . A m éd ia foi uma napol i tana , casada , de profissão engomma de íra , que se pre stou com d ifii culdade , e que sempre se recusara a apres en tar — se em sessões publicas . Par te dos investigadores des confi avam que os phenom eno s eram produzido s artific ia lm en te , por não terem expl icação poss ivel , comt udo a lgun s factos abalaram as suas consc iencias . Fizeram 17 se ssões em casa de M r . Fínzí , V ía M on te di Pie tá , que duraram 3 horas , das 9 ás 1 2 da no i te , e os resultados , apesar de se man ifestarem alguns marav ilhosos , nem sempre corresponderam ao que se esperava , principalmen te quando se exigiam m odifi cações para variar as expe rienc ias , que , ou não foram acce itas pe la m éd ia , ou sendo - o pouco ou nada provaram , fazendo d im inu ir cons iderave lmente o interesse dos prodigiosos phenomenos , e augmen t ar o numero dos incredulos . N º e s t e mundo , chamado pelos choramígas val le de lagrimas , a human idade anda exposta a immensos perigos de bruxedos ; mas , conhec idos elles , fac ilmente se evi tam ou se remede iam . É prec iso saber o que a líthurgía ensina para fustigar o d iabo e os seus em is sarios , e por isso tornamos a .recommendar o c itado l ivrinho do padre Brognolo , traduzido pelo Fr . Jose ' de Jesus M aria . A cren ça popular confia muito nas virtudes dos ben tinhos , re lícarios , cruzes , ag nus dei e outros preservativos aconselhados pela egre ja, e que tanto arrel iam o espírito das trevas . O charlatan ismo tem especulado e especula com os innocen tes , p endurando - lhes ao pescoço var ios amule tos (amuletum), pe quenos objectos a que a supers tição a ttribue , desde as epochas ma is remo tas , o cond ão de livrarem de enferm idades , malefícios sata n icos e de outros perigos , como são a pedra de bezoar , um a lho encapsulado em panno , o crescente , o s igno de Salomão , a figa, o dente de porco , a cauda do lobo , e tc. Nos amuletos dá- se o p actum imp licitnm, havendo—os pa ra cer tas . especial idades . Assim , o dente canino do lobo ou do cão , encas toado ou furado e preso ao pescoço , e preserva t ivo da dôr de d en tes ; a mão esquerda da toupeira , e as pequen inas moedas de pra ta l ivram da influencia das luas e do quebranto . O aipo , noz de tres quinas , unha do leão , a pedra de ara e outros muitos ob " jecto s são egua lmente cons iderados amule tos . As pedras preciosas ãtamb em se t em a t tr ibuido virtudes , tanto curat ivas , como preserva t ivas , sob resahindo a esmeralda que , pen durada ao pescoço , prolongava a V i da e ' isen tava de sus tos . Posta sobre a coxa de uma parturien te facilitava a sab ida do feto , con servava a cast idade , denunciava o adulterio , tornava e loquentes os oradores , des tru ía os effe í tos das mordeduras venenosas , etc . A egre ja debalde t em condemnado , a té com a excomunhão , es tas embust ices , mas com pouco resul tado : o povo persis te e como atte nuan t e m istura os amule tos com os symbolos do chr is t ian ismo . Não t em s ido só a egre ja a combater taes supers tições , quas i toda a nossa legis lação c ivi l condemna as fe i tice iras e benzede iras , impondo penas r igorosas aos que as prat icarem . A s ord enacões de D . M anue l accrescentam a inda ma is as penas , e c i tam var ios costume s muito destoantes da actua l civilisaç ão , como j á d issemos . No grupo charlatan ico avul tam tambem os Alj abr istas ou Al j abar istas, do arabe alj abbar , ass im chamado ao que concerta o s ossos deslocados e sabe encanar os quebrados ; na s nos sas a lde ias são mais conhecidos por endir ei ta, e quas i sempre os m e smos se encarregam de levantar a espínhella . Asbenzedeir as sao as que ap plicam remed ios com palavras sacramentaes , invocando san tos com orações , como a de San ta M afalda e outras lendas religiosas . As que transcrevemos em seguida vão no verso, se verso se lhe pode chamar , conservado na trad i ção popular , p refer íve l a todo e qual qu er corret ivo me trico que ho je se lhe fi zesse . Para l ivrar as creanç as de quebran to em algumas terras a inda se usa passal — as tres vezes por uma meada de l inho , ou melhor tomar uns pedaços de chita e de panno de l ã , um chinello velho , quatro corn inhos , dois que ixos de gato bravo , uma cri sta de gal lo, ramos de rosmaninho , de aroe ira e de alecrim, e de itando tudo no b razeíro , expor -ao fumo a creança, que Ec a logo l ivre de male ti c io , d i zendo a seguinte oração N . (nome da vic t ima) tres t'o deram ' Cinco t ' o tirarão , São as cinco pessoas Do Senhor 8 . João . 1 P ag . 5 , nota . _ º 8 H a tambem mo lestias emque o povo prefere a cura mi lagrosa , como no cobro contra o qua l applicam o a lho pisado com polvora, d iluído em vinagre d e sete ' ladrões , e com este i ngred ien te b esun t am tres vezes em cruz a erupção , dizendo Eu t e córto côbro Cabeca rabo e corpo t odo . Aspergindo com um ramo de a lecr im , ensopado no mesmo li quido , accrescen tam : Quando S . Ben to era estudan te Nenhum b ico ia por d eante, E na m esma e sco la and ava S . B raz Aqu i t c seques , aqu i t e m irrarás . Isto deve se r repetido nove d ias seguidos para obter cura ra Para apressar o par to , d iz a m egera virtuosa M ord e i n ' este m açapão Esforçae , rosa fi o rida , Eu ven ida e vós parida Ky riele íson , Chr ist eley son . Dizei t res vezes passinho O verbo caso f a to há Dou o vos a Sam Sardon inho . 1 Contra a erys ipela a panacêa con s iste em nove pedra s de sal, nove reb entões de sabugue iro , nove go t tas de aze ite virgem e nove de agua da fonte , e com e sta m is tura un ta — se o loca l inflammado duran te nove d ias , d izendo - se todas as vezes : P ed ro P aulo fo i a Roma Jesus Chr isto en controu E e l le lhe perguntou P edro P au lo que vae por lá ? — M u ita m al igna erysipela . P edro P au lo torna lá , Talha - a com ervinhas do monte Aguas da fonte Aze ite bento Que alum ie o Sacramento . 1 G il V icente na com edia de R ubena . I Em outras terras as benzede iras servem- se de . um . pedaço de corda de esparto , molhada em aze ite virgem , e fazendo com e lla na casado doen te varias cruzes , rec i tam em voz al ta D ' onde vindes , S . Juliao ? Venho de Roma Que vae por lá? M uita morte Em que ? H e resypela, heresypelão Escapar ão ? Sim , b enzido Com corda d ' esparto, Aze ite virgem , P alavras d e Deus E da Virgem M aria . Tambem se usa fazer cruzes com um [ramo de sabugue iro por tres dias success ivos , t esando : Sempre verde b em aven turado Na ' sepultura de Deus creado, Fostes nasc ido sem ser semeado P elo poder de Deus e da Virgem M aria, C reou esta rosa este chão Resseca esta irzipela ir zepelão, Em louvor de S . Th iago e S . Silvestre, Tudo quanto eu faço preste : Em louvor de Nosso Senhor Que e lle se ja o seu d ivino m estre . Amen . Para desfazer as nevoas dos o lhos tornam tres fo lhas d e oli ve ira , que collocam em cruz entre os dedos polegar e index da mao esquerda , e com a d ire ita vão fazendo cruzes na cara do en fermo , d izendo Senhora Santa L uzia; T inha tres fi lhas ; U ma amassava, Outra tend ia, Out ra no fogo ardia. Se és carn icão , Valha— te S . João . Se es cabrita , Valha- te Santa Rita Se és nevoa V elha-te o Senhor da Serra . Em algumas das nossas aldeias , quando pre tendem combater t ris turas , com emagrecimen to e repugnanc ia ao trabalho , usam dei tar n ª uma te lha com brasas alguns ramos de a lecrim e de loiro , uma mão che ia de sal , um fi o de aze ite virgem, tudo d isposto ' em cruz , defumando a casa tres noites successívas, e deitando depo is as c inzas pe la agua aba ixo . Em outras a pratica d ifi ' ere no com bater a mesma enferm idade . M etem dentro de um saquinho verde uma cabeça de víbora , sete fios de re troz com tres nós em cada pon ta , uma pitad inha de sal virgem, tudo defumado com azei te ben to , n i um bilhete escripto com sangue de ratazana , o seguinte : O aze ite de Deus é bento que alum e ia o Sant íssimo Sacramento, Vá o mal d esta casa para fóra e venha o b em para dentro . Contra a vertoeja t em s ido remed io especifi co ir a uma pos s i lga de porcos e esfregar o corpo com a palha que lhes serve de cama, repetindo tres vezes Assim como porcos e porcas dormem aqui Assim tu ma ldi ta ver tueja saias d ' aqu i . Outros d izem Sapo sapao, B icho b ichão , Ra to ratão , L agarto lagartão Sarame lla saram ellão , Aranha aranhão E ' todos os bichos que taes Se cc ª os m irrados se jaes'. Para afugen tar o d iabo temos a oraçao de Custod io , que d izem de effe ito infal íve l e que termina ass im Sete raios leva o sol. Sete raios leva a lua. Arrebenta para ahi d iabo, Que esta alma não é tua. Para combater as sesões con s ideram infalível a seguinte ora cao resada pe lo doente https://www.forgottenbooks.com/join Os gregos t ransm it t iram aos romanos , e es tes o de ixaram es cripto , que , n ao sendo solemnemen te incinerados os corpos , as al m as respec tivas andavam errantes sem d escanço , a t é aquelles res tos mor taes serem queim ados e reco lhidas as c inzas . Homero fez apparecer P a trocho , morto por H e i tor, ao seu am igo Achil les , ped indo — lhe sepul tura Os re is ido la tras de Israe l e d e Judá en tregaram - se á n icro mancia , arte de evocar os mortos , ad iv inhando p e las sombras dos cadave res , que apparecí am de ord inario em duendes ou pygmeus ou em outras figuras phan tas t icas e r id ícu las . Saul tambem recorreu a n icroma ncia , quando qu iz con su l tar a somb ra de Samue l ; mas es te prohib iu a aos judeus . Em Sev ilha e Salamanca chegou a haver escolas vulgares de n i ,cromancza lecc ionada em profundas cavernas , que foram man dadas entulhar por Isabe l a Catholica . A t é ao seculo xrv era costume pin tar nas paredes das egre jas e c laustros imagens da , mor te , representadas por personagen s de d iversas cond i ções , geralm ente em att i tudes dançantes , pelo que lhe chamavam dança macabr a . Esta p ra t ica foi at t ribuída por uns á devas tacão occas íonada pe la peste , e por outros a s imples in tensão de a terrar os penitentes . Fabric io , porém , d iz que a palavra macabr a .vem do poeta M acaber , que foi o prime iro a de screver nos seus ' versos e stas pin turas . A caba la comprehende os my st er ios occultos deduzidos de nomes , let tras , numeros e figuras dos l ivros d iv inos para pronos t icar o futuro : é uma especie de bruxedo sacro . Os rabinos dizem Est enim cabala, d ivinae r evela t ion is ad salut iferam D ei et f orma rum sep ar a ta rum contemp la t ionem trad itae symbolica r ecep t io, quam gui coelest i ej er tur sequuntur r ectro nomine cabalici d icuntur . 1 1 Franc isco M anue l de M ello escreveu : Tra tado da scienc ia cabala ou no t icia da a r te caba list ica , publ icado por M athias P ere ira da Silva em 1724, de XI I— 2 1 2 pag . _ 3 3 _ O Ap ocaly p se tambem é uma espec ie de l ivro magico , o ui timo dos sagrados do Novo Testamento , onde se conteem as mys t eriosas revelações que teve S . João Evangelis ta em Pa thmos . Che io de fi guras , symbolos e palav ras , em que os sabios tem con sum ido mui tos annos para interpretarem os pensamen tos do au ctor . Ass im como as seitas m ais extravagan tes teem tido sectar ios , as aberrações por mais inveros ímeis não deixam de ter cren tes . A inda ha pessoas que acred i tam em almas do outro mundo, oup e nadas, pertencentes a ind ivíduos crim inosos não perdoados , ou que fi zeram promessas e nao as cumpr iram . Aquelles cere 'bros epyle t icos imaginam ver essas almas vagueando de n o ite em fôrma de phan tasmas brancos p elas capellas e cemiter ios , cercadas por uma aureola lum inosa . e outras vezes arrastando cadeias de ferro , cumpr indo assim o seu fadario , at é receberem o perdão ou lhe pa garem as promessas . São immensos os pre juízos que dom inam os espíri tos fracos como : cons iderar as terças e sextas feiras d ias aziagos para qua l quer êmprehendimento ; receiar o d ia de S . Bartho lomeu , no qua l d i zem andar o diabo a sol ta ; não se sen tar á mesa para jantar sendo treze o numero de commensaes ; nascerem de um casal sete fi lhas , pois a ult ima será pieira , e só poderá escapar a este fada rio se fôr afi lhada de alguma das irm as . Para ev itar que as bruxas facam m al ás creanç as recemnas cidas crê—se uti l conservar no quar to uma tripe ç a de pernas para o ar, e uma luz até se bapt isarem . No Algarve chamam ás crean ç as , emquanto não entram no grem io da egre ja Ig nacio ou Ig nacia , conforme o sexo , para as l ivrarem de feit ice írias . Dizem tambem que uma tesoira aber ta possue a vir tude de afug entar as bruxas e como estas teem grande ant ipathia ao trovisco e ao fumo das plantas aromat ícas , perfumam com e llas as casas a noi te . Entre os antigos era Favent ina a d ivindade que tinha o poder de repel ir as tentativas diabolicas . Estas e outras crenças mais ou menos extravagan tes , que o povo conservava e conserva em grande parte muito inveteradas , mas que ho je repugnam á civilisação , apesar de certa bel leza poe t ico romant ico , são communs a todos os paizes . Ao charlatan ismo chegaram mesmo a dar— lhe o carac ter ofh cia l : as s im o alvará de 13 de outubro de 1 654 mandou augmen tar o vencimento a um soldado vir tuoso, que curava com palavras , impondo- lhe a obrigação de prestar egual serviço aos seus cama radas . ª Nos seguintes factos temos exemplos b em característicos do modo como se conservam arre igados no povo esses pre ju izos . Em 1 885 tinha morad ia na herdade Devesa g rande, a uns dez k i lom etros de Vendas Novas , 2 uma fam ilia , de que fazia parte um rapaz de 9 anuos chamado Luiz , conhec ido pelo M en ino vir tuoso, que desde a edade de 3 annos , possuía o dom d e ind icar cer tas ervas do campo, rosman inho , pamp ílho e margaça (como é conhe c ida vulgarmente) que curavam todas as enferm idades . O rapaz era rude : sentado n ª um carro alem tejano ouv ia d is tra ídamen te m ilha res de pessoas que lhe contavam os que íxumes , rece itava as er vas ínhas e recebia qualquer espor tula, segundo os teres e gene rosidade do con sul tan te . A romaria foi enorme e de todas as c lasses soc1aes , at é que a auctorídade , a inda que tarde e a mas horas , mari dou acabar comt ão indecente especulaç ão ! Em 1 889 deu — se em M onte Agudo , prbximo da villa de M er tola , o segu inte facto : na Charn eca de d ias a d ias inflamavam - se os pastos e os pa lhe iros , causando grandes pre juízos aos lavrado res , que at t errados foram consu l tar um malandro inculcado como vir tuoso, o qual depois de passeiar o terreno com v isos de obser vador privilegiado deu es ta expl icação « é alma penada que anda por a qui errante e perseguida pelo d iabo , e como este a não ' t em pod ido agarrar para a levar para o inferno , lan ça o fogo a ver se ass im a apanha . » Ao re tirar- se tropeçou nºum calhau e gri tou : « cá me deu o d iabo um encon trão ! » O bre je iro , apesar de b em pago , ao passar por um hort ejo colheu os dois melhores pepinos e met tendo- os nas a lgibeiras , d isse : Antes que o diabo os leve levo—os eu ! Os habitantes dos mon tes proximos fi caram a inda ma is assns tados : alguns até abandonaram as suasgcasas , recolhendo - se á al deia , e ped iram ao prior que fosse fazer esconjuros ao demon io e benzer a terra . O padre teve o bom senso de se esqui var a esta farç ada , e requisitou da auctorídade adm in istrativa a repressão do brinquedo , pois os incend iar ios eram conhecidos . 3 P or 1 890 no concelho de Armamar um curandeiro, tido por 1 J . P edro R ib eiro, Ind ice chron. e cr it ., part . vr, pag 199. ª A herdade pertenc i a ao sr . Durão d e Sá, de M ontemór -o -Novo, e o M e n ino virtuoso era fi lho do trabalhador José M ar ía . e de sua mulher Joanna. r 3 A narrativa foi -nos feita por indivíduo que presenrceou os factos. 'muito vir tuoso, apanhou se is l ibras a uma pobre mulher, scismat ica de d iabrur as , a título de comprar os ingred ientes para a curar : P assados dias entrou em casa da enferm a, que se chamava G eno veva , com um cao preto , um gato , um gal lo , uma fuinha brava e uma c inta grande . Fechou— se com a m ísera nºum quarto e começou a operação por quebrar ás mart elladas os dentes ao cão , ao gat o e á fuinha , arrancando — lhe tambem as unhas , -e cortando o b ico ao ga l lo . Os an imaes ficaram agon isantes depois do mar tyrio , e ass im foram collocados em cruz sobre o ven tre da pac iente , b em segu e: ros pela c inta . O patife vir tuoso recommendou- lhe que conservasse a m esma pOS i ç ao por v inte e quatro horas , , afiançando que cada “ an imal que morresse era um d emon io que lhe sahía do corpo , e com a morte do ult imo fugiria o esp iri to do padre ' que a persea guia . A estupida G enoveva aguentou , de i tada de cos tas os repu guan tes trambolhos : os bichos foram morrendo successívament e , e a mulher cons id erou- ' se curada da doença imaginaria , abençoando a — despesa ' feíta com o curande iro que , com taes art imanhas , vivia á custa dos pobres de espíri to . Term inaremos com o acon tec ido em junho de 1 892 emAgueda . No Beco morava uma b ruxa , ' cuja fam a se estend ia pelas terras visínhas, e por isso íam muitas pessoas consultal— a . Do concelho d a Anad ia foram por essa epocha pae e mãe p rocura l - a para dar re medio a um fi lho mu ito enfermo . Depois d e uma ser ie de tregeitos caretas a megera com voz cavernosa d isse - lhe — que o ãlho t inha s ido tocado, e que só se curaria se o levassem a uma terra que t i . vesse tres marcos , e sentando - o em um dºelles , d issessem a m e ia no i te : — M arcos ª gue a demarcaes ; santos e santas demarcae este in a nocente do p oder de Deus e da Virg em M ar ia ; Em algumas vie llas ímmundas das c idades e vi llas de Portu gal, e mesmo pelas freguez ías ruraes , a inda se encontram algumas d ºessas mulheres a .quem chamam índ is t ínc tament e . bruxas , ffeí ti “ r Ceiras ou mulheres de virtude . São , . quasi todas , pobres .velha S 'des dentadas, d e pelle encarquilhada , que deitam cartas , fazem bailar o ' -peneiro e , dizendo- se commensaes 3 a — 3 6 espiri tos fracos, ganhando os parcos meios para a limen tar o ossudo corpo . Conhecer prat icamen te as art imanhas das bruxas foi um idea l d a nossa adolescencia, e essa cur ios idade era augmen tada pelas numerosas historietas phan tast icas d º est a e spec ie ,, que se contavam na vil la alem te jana, onde en tão res id íamos . Convidados por um am igo para irmos disfruc tar a sybilla , p rinc ipa l protogonista dos tae s contos , que faz ia prod ígios de ad iv inhações , acceitámos sem vaci lar o conv ite . A bruxa _que causava as sombro en tre os povos rudes das cir cumvis ínhanç a, e a quem recorriam com certo terror , consul tan do-a nos lances d ífii ceis da sua vida , morava a d istancia de um k ilome tro da villa : de d ia vagueava pelo campo .e só á noi te era ce r ta no covil . Aos vinte e cinco anuos a imaginação tende para o maravi lhoso e procura de preferenc ia as commoções fortes e agradaveis . Sem de longas del iberámos fazer a vis ita nªesse mesmo d ia, e na tarde de 1 0 de dezembro de 1 85 1 , proximo das cinco horas, se guimos ambos por um atalho , armados de lanterna e bordão , em dire ítura a margem da r ibe ira , onde fi cava o c asebre da t ia Engra cia , que assim se chamava a fe i tice ira . A no ite estava invernosa , e o negrum e era t ão intenso que a frouxa luz da lanterna a cus to o penetrava, mostrando apenas o tr i lho por onde cam inhavamos . A ven tan ia ,sacud ia o arvoredo da cum iada , acompanhando o seu zumbido s in istro o guincho das aves noc turnas , que esvoaçavam pe las esb oracadas paredes do velhõ cas te l lo mour isco al taneiro á vil la . A sombra das ruínas acastel ladas fazia lembrar o celebre palac io A lad ino dºonde surdiam ,os gen ios arabes . Este en t ro í to com v isos t e t rícos imp l icava como systema ner voso , produzin do algumas víb racões inexplicaveís mas , a té certo pon to , agradav e is e harmon i cas com a phan tas t íca empresa que iamos ten tar . O companhe iro sem mos tras de poltran ísse nem de fanfarrão cam inhava s i lenc ioso com viso de impressionado . Finalmente depo is de 1 5 m inutos de m au cam inho enxergamos a cus to a margem da r ibe ira , or lada irregularmente de algumas en fezadas tamargue íras . Es ta verdura, e a grimpa de t res ou quatro cyprest es do proximo cem i ter io , era un ica nºaquelle pedaço de char neca . A casa da megera fic ava iso lada ; as paredes eram de taipa ; a portada mui to baixa com postigo desengonçado; ao lado ficava 3 7 um pequeno forno ; e sobre o be ira l do telhado avu l tavam duas ímmensas aboboras men inas . A ventania con tinuava a soprar ri jo , ameaçando chuva , e dava optimo pre texto de ped ir abr igo . Ao ba ter da a ldraba , sem mai s deten ça , ouviu— se a voz fanhosa da t ia Engrac ia mandando en trar , e ao transpor o l imiar ob servamos nºum relance o recinto in ter ior do casebre , alumiado pela c lass ica candeia de ferro , onde em grossa t orc ida se que imava aze ite impuro, produzindo luz baca com fu marada rançosa . Em frente da por ta duas velhas esteiras , suspen sas em cannas , formavam d iv isoria com pret en ções a alcova , e so b re uma grande arca es tava a enxerga immunda e esfarrapada , coberta de andrajos . Na face Oppos ta era a lare ira, onde a bruxa acocorada mechia em tisnada cacarola um cosinhado de che iro n au seabundo , tendo a dex tra um gatarrão pre to agachado , á la ia de v igilante , que nos fi tou com as phosphoricas pup illas atravez do fumo su ffocador das estevas que imadas no b raz ído , e que por fal ta d e cham iné se espalhava pelo casebre . A ve lha , depo is de entrarmos , ergueu— se um pouco , m irando nos demoradamen te e fazendo saudação mesureira ind icou um t osco banco para nos sen tarmos . Acce it a a offerta ficámos voltados para a luz da candeia e da lare ira , dºonde a custo se observava a bruxa . Era uma velha que devia orçar por se ten ta anuos , de es p
Compartilhar