Prévia do material em texto
COLEÇÃO MIR
Marina Tsvetáieva
0 DIABO
Tradução do russo Aurora Fornoni Bernardini
TÍTUL0
TÍTUL0 0RGINAL
AUTOR
TRADUÇÂO do FWSS0
REVISÃO
REVISÃO
CAPA e PROJET0 GRÁFico
Áuolo
EDIÇÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA
FOF"AT0
NÚMER0 de PÁGINAS
ISBN
0 dlabo
Tchort
Ma rina Tsvetáieva
Aurora Fomoni Bemardini
Cecília Rosas
Paulo Hemque PompemaiEr
Kallnka
Ma ria víagova
Kallnka
Hedr8
14 x 19 cm
138
978-65-86862-02-7
Copyrlght © Kalinka, 2020
Tradução © Aurora Fornoni Bemardini, 2020
primelra edição, 2020
São Paulo, SP Brasil
Esta publicação está de acordo com a reforma ortográfica
A tíaduçâo baseoii-se em Mar/na Tsveíó/eva PÍoza.
Eksto-Press. Moscou, 2001 (Aqui citada, TsvETÁiEVA, 2001.)
Textos cle apoio Au/as de /ÍÍ€raíura russa, de Aurora Fomoni Bemaídini (Kalinka, 2018),
Avicibiograíí{cheska(a prciza Mariny Tsvetáievoi v .russkom tiekste. iurni3la 'Sovremiéririye zi3píski., de
Anna Ksmiénskaia (Viéstnik VolGU, série 9, 6/2007)
As notas de rodapé, quando não creditadas, são da tradução com colaboíação da edição
0 áudio do conto (em russo) pode seí acessado pelo lmk
https //sounclcloud com/editoraka linka/diabo-tsvetaieva
S0BRE A 0BRA
Parte da prosa autobiográfica de Marina Tsvetáíeva (1892-1941), 0 d/.a-
bo foi publicado primeiramente em Paris, em 1935, no número 59 da
Sovr€m/.emye zap/'ski (Woías coníempora^neas), importante revista literária
da emigração russa na França que funcionou de 1920 a 1940 e reuniu escri-
tores como Andrei Biély, lvan Búnin, Nadiejda Teffi, Vladímír Nabókov.
0 díabo reconstrói em prosa as lembranças de Marina Tsvetáieva de si
mesma menina (até seus sete anos). "Não vou falar daquilo que não acon-
teceu, pois a única finalidade, o único valor desses escrjtos está em sua
identidade com o passado, na coincidêncía consigo mesma daquela meni-
na, reconheço-o, esquisita, mas que existiau.
No entanto, o texto não é "apenas um quadro vÍvo de sua infância, mas
a interpretação mitologizada de sua vocação poética", como escreveu Anna
Kamiénskaia. A obra traz as impressões ambíguas, sensuais, sensoriais,
literárias e pluriculturais da figura do diabo para Tsvetáíeva 0 Mycháty
(como ela o chamava), qiie vivia no quarto de Valéria, sua meía-irmã, é
dual e paródíco. "Um de meus primeiros medos secretos e dos terríveis
segredos de críança (de minha infância) era `Deus-Diabor. Não por acaso
o texto tem a epígrafe "Diabo liga com criança", uma expressão russa que
denota atração de diferentes.
COLEÇÃO MIR
A Coleção Mir reúne edições bilíngues da prosa curta russa de escrito-
res consagrados, mas também de nomes menos conhecidos no Bíasil,
Cada livro acompanha uma leítura do texto feita por um russo nativo -o
áudio pode ser acessado pelo OR Code impr.esso na capa Mir, em russo,
significa "paz" e "mundo".
qÊPT
C6jt3a/icfl uepm C /iújiaôe7tt4e".
tlepT xH7I 8 KOMHaTe y cecTpbl Ba7IepllH, - HaBep-
Xy, IIpjlMO C 7IecTH14I|I,I - KpacHOÍí, aT7IacHO-Myapo-
BO-mTO®HOíi, C BeyHblM 14 C147IbHI,IM KOcblM CT07160M
coJiHiia, rHe HenpephiBHo H iioq" Heiio;iBHXHo Kpy-
TH7IacI, Ilbl7Ib.
HaqHHaJiocb C Toro, qTO MeHji TyFia 3a3biBaJiH:
<<MqH, Mycji, TaM Teõji KTo-To )KHeT», 7"6o: «CitopeíI,
cKopeií, MyceHbKa! TaM Te6jl jKz|eT (IlpoTjlxHo) cKlp-
iipH-i43>>. TaHHCTBeHHocTb qiicTo ycjioBHaji, i46o fl-To
oT7IHqHo 3Ha7Ia, HTo 9To 3a «KTo-To» H KaKoji 3To clop-
iipH3, i4 3a3i.iBaBmHe 3HaJ", qTo - 3Haio. Bi.i7" 9To
- 7"6o ABrycTa 14BaHOBHa, 7"õo ACHHa HflHji, Aj]eK-
caHzipa Myxi4Ha, Hi]orzia H KaKafl-"6y;]b rocTi,fl, Ho
Bcerna - xeHII|HHa, H HHKorF[a - MaTb, H HHKorHa -
caMa Ba7iepHH.
H BOT, IIojlylloI|Ta7IKHBaeMaH, I]07Iy - KOMHaTOíi -
BTjlrl4BaeMajl, 1107IOMaB11114CI, Ilepe;| ;|BepI>IO, Ital( ziepe-
0 DIABO
Diabo légci com crionçci,
0 diabo morava no quarto de minha irmã Valéria,t no
andar de cima, bem em fi.ente à escada: quarto vemelho,
de um vemelho adamascado cambiante, com um etemo
e poderoso mio de sol atravessando-o de ponta a ponta,
onde incansável e quase imóvel volteava a poeira.
Tudo começou quando me chamaram para ir lá: "Vá,
Mússia, lá tem alguém à tua espera", ou então: "Rápido,
rápido, Mússenka!2 Tem uma ®ausado) sur-pre-sa te es-
perando". Um mistério puramente fictício, pois eu sabía
perfeitamente quem era esse "alguém" e qual era essa
surpresa, e quem me havia chamado sabia que eu sabia.
Tratava-se de Augusta lvánovna, ou então da babá de
Ássia,3 Aleksandra Múkhina, e - às vezes - também de al-
gum hóspede, mas sempre de alguma mulher, e nunca de
mamãe e nunca da própria Valéria.
Eis, então, que meio empurrada, meio engolida pelo
quarto, depois de hesitar um pouco diante da porta, como
i Valéria Tsvetáieva (1883-1966), pedagoga do vitHUTEMAs, foi meia-
-irmã de Marina do lado patemo.
2 Mússia, Mússenka: apelidos de Marina.
3 Ássia, Ássenka, apelidos de Anastassia Tsvetáieva (1894-1993),
escritora, irmã mais nova de Marina.
BeHCKHe llepeH yroll|eHMeM, HeMHo)KI(o õoKOM H He-
MHoxKo Bo7]KOM - BxoH147Ia.
tlepT Ci4HeJi Ha BaJiepi4HHoíi KpoBaTi4, - ro7ibifí, 8
cepo# Koxe, KaK Hoi`, c 6e7io-roJiy6i.i", KaK y Hora
147" y ocT3eHCKoro 6apol]a, r;Ia3aMH, Bbl"HyB pyKH
BHo7II> KOJleH, KaK pjl3aHCKafl õa6a Ha q)oTorpa¢" H"
¢apaoH 8 JlyBpe, 8 TOH xe no3e Hei436i.iBHoro Tepiie-
H" H paBHOHylllHjl. t]epT cHHe7I Tal( cMHPHo, ToqHo
ero cHi4Ma7iH. lllepc" He 6i,i;io, 6i,i7io o6paTHoe iiiep-
cT14: I]o7IHajl r7Ia[|KocTb 14 ;|axe 6pl4TocTI,, 143 cTaj" Bbl-
7iHTocTi,. Tei]epb BH)Ky, qTo Te7io y Moero qepTa 6i]iJio
14Hea7IbHo-cllop"BHoe: 7IbBHI|I]IHo, a llo Mac" - z|o-
roBO. KorHa MHe, Z|Ba;iiiaTb jieT cnycTji, 8 PeBOJiioiiHio,
Ilpl4Be7" Ha lloHepxaH14e j|ora, fl cpa3y y3Ha7Ia cBoero
MbiiiiaToro.
Poi`oB He rioMHio, MoxeT 6i]iTb, H 6bi7" Ma7ieHb-
K14e, Ho cKopeH -yll". qTo 6bl/Io -xBocT, 7II,BHI|I>IH,
6o7Iblllori, ro7Iblü, cHjlbHblÉ H xl4BoÍí, KaK 3MeH, rpa-
I|Ho3Ho H MHoroKpaTHo I]epeBHTI,IH BOKpyr cTaTy-
apHo-HeHBHXHI,Ix Hor - TaK, qTo6I.I H3 Iloc7IeHHe-
ro iiepenJieTa BbirJiflHi,iBa7ia KHCTb. Hor (cTyn") He
fazem os camponeses cónvidados a um banquete, um
pouco de lado e um pouco desconfiada -entrei no quarto.
0 diàbo cstam sentado na cama de Váléria - nu, com
a pele cinza e os olhos bmncx)-azuis como os de um dogue
alão,oudeumbarãodoMarBáltico,comosbmçosesticados
até osjüüios, feito uma camponesa de Riazan posando para
Lma fotQgmfia ou um faraó do l.ouvie, naquela mesma pose
de interminável paciência e indiferença, 0 diabo estau sen-
tado tão impassível como se estivesse sendo retratado. Não
tinha pelos, ao conüário: em completamente pehdo, como
feito de um molde de aço. Agora vejo que meu diabo tinha o
corpodeumesporistaideal:deleoa,masarnantaeradedo-
gue. Quando, vinte anos mais tarde, já durante a Revolução,
trouxemm-me um dogue para eu tomar conta, reconheci
nele logo o meu Mycháty.4
Não lembro se ele tinha chiffes - pode ser que tives-
se pequenos -, mas lembro-me das orelhas. Com certeza
tinha rabo, de leoa, grande, pelado, forte e vivo como uma
serpente, enrolado graciosamente várias vezes em volta
das pemas imóveis feito estátua, mas de modo que da úl-
tima volta despontava um rabinho. Pés (artelhos) ele não
4 Mycháty, vem de mych, "rato" em russo.
6bl7Io, Ho H ltolll,IT He 6bljlo: tle7IOBeqecKHe M ;|ax(e
aT7IeTHtlecKIle HO" Olmpa7"Cb Ha 7Ial]bl, OIlflTb-Ta-
KH JibBHi]biHo-HoroBi,i, c KpynHi>iMH, CepbiMH xe,
ceporo pora, KorTHMH. Kor;ia oH XoHiiJi - oH cTy-
qa/I, Ho I]pH MHe oH H14Korz|a lle xoHIIJI. r7IaBHI>IMH xe
llpHMeTaMH 61,1/" Ile 7Ianl,I, He xBocT, - He aTPH6yTbl,
rjiaBHoe 6i>iJ" - rJia3a: 6eciiBeTHi]ie, 6e3pa3JimHi.ie H
6eci]OuaHHbie.fl ei`O Ho Bcero y3HaBaJia rio i`7ia3aM, H
3" r7Ia3a y3Ha7Ia 61,1 - õe3 Bcero.
HeHCTBHH He 6bi7io. OH ci4He7i, ji - cTomia. H q ei`o
- Jzio6Hna.
iio7IeTaM,Kor#aMblI]epee3Xa"HaqaTy,tiepTIle-
pee3xa7I c HaM14, BepHeri yxe oKa3blBa7Icfl - 8 Ilo7IHOH
coxpaHHoC" iiepecax(eiiHoro HepeBiia, c i(oPHHMH H
c llllo[|aMH - cl4Hjlll|MM Ha Ba7IepMmoji KpoBaTH, 8 ee
TapyccKori, y3KOH, xe7Io6oM BI,IjleTaBIIlejí 8 xacM14H
KOMHaTe, c BepTiiKaJii>HbiM XeJi060M Oi`PoMHoÍI, HMKoü
8 Hiojie, qyryHHOH iieqKH. KorHa Ha Bajiepi4imori itpo-
Ba" CMl|e7I tiepT, Ka3a7IOcb, qTO 8 I(OMHaTe BTOpafl qy-
ryH" iieqii, a KorHa He CHjieji - HyryHHaq i]eqb 8 yrJiy
Bi>irJijiHeJia HM. 06iuHMH 6biJ": MacTb - c cepo-cHHHM
iio qyryHy oTJiiiBOM jieTa, nojimifi 7ieH: iie" - JieTOM,
no[|lloTo7Iot]HI,IÍí pocT - H Ilo7IHaH Hel]oHBHmocTb.
tinha, porém também não tinha cascos: pemas humanas
e até atléticas apoiavam-se sobre patas, elas também de
leoa-alã, com umas unhas espessas, de chifi.e cinza. Elas
batiam no chão quando ele andava. Mas ele nunca andou
à minha fl.ente. 0 que mais chamava a atenção não eram
nem as patas, nem o rabo, nem os detalhes - o principal
eTam os olhos: descorados, invariáveis, impiedosos. Eu o
reconhecia antes de tudo pelos olhos, e esses olhos eu re-
conheceria mesmo sem todo o resto.
Nenhum de nós dois se mexia. Ele ficava sentado - eu
de pé. E eu o amava.
No verão, qundo nos mudávamos para a datcha, em
Tarússia, o Diabo se mudava com a gente, ou melhor, ele
já se encontrau lá - com a plena segurança de uma áwo-
re transplantada com raízes e fiutos - na cama de Valéria,
no quarto dela, apertado por causa dojasmim enrolado no
tubo vertical da enome estufa de ferro, uma esquisitice
no calor dejulho. Quando o Diabo estava sentado na cama
de Vàléria, parecia haver uma segunda estufa de ferro no
quarto e, quando ele não estava lá, a estufa do canto se pa-
recia com ele. Eles tinham em comum: a üpa com reflexos
azul-cínzadoverão;ogelototal(aestufa,noverão);aaltum
que chegava ao forro e a completa imobilidade. A estufa
iieqb CTojl7Ia TaK CMHPHO, ToqHO ee CH14Ma7IH. oHa ero
BceM CBOHM Xo7IOHHblM KOprlycoM 3aMell|a7Ia, 14 fl C
oco6oH yc7ia;ioH TaiiHoro y3HamH" npi4xHMa7iacb K
HeH CTPHxeHI,IM, ropjl"M OT 7IeTa, 3aTI,IjlltoM, qHTafl
Ba7IepHH Bc7Iyx 3allpelHeHHble MaTepblo H no9TOMy Ba-
7lepHeri pa3pellleHHI,Ie - 8 pyK14 F[aHHble - «MepTBble
ziyii"», flo KOTopbix - MepTBel|OB H ;|ym - TaK H14Kor-
jia ii He zioqi4Tajiaci., H6o 8 nocJieHHK)m CeKyHHy, Kor-
Ha BOT-BOT Ho/l)KHI,I 6bl" Ilojl814Tbcfl - H MepTBel]bl H
Z|yl" - KaK HapoqHo cJlblmaJlcfl lllar MaTepl4 (I(cTa",
oHa TaK HHKorHa 14 He Bomjla, a Bcerj]a TOJlbKo, 8 Hy)K-
HyKI MHHyTy - KaK Ilo 3aBoz|y - IlpoxoHHjla) - H jl, o6-
MHpajl oT CoBceM y)Ke Hpyl`oro -alct+6o3o cTpaxa, nHxa-
7Ia orpoMHylo KH14ry rlol| ltpoBaTI, (Ty!). A 8 c7IeHyloll|Hri
pa3, oTI]ICKaB I`7Ia3aM14 MecTo, C KOToporo luaroM MaTe-
pH 6biJia CorHaHa, o6HapyxHBa7ioci,, qTo tuc y)Ke HeT,
qTO OUU yxe OI]jlTI, OTT,exa7m BIlepe;| - Ha KaKoe-TO
MecTo, Kai( pa3 Ha To MecTO, c KOTOporo oilflTI] 6yfly
corHaHa. TaK H jio "epm6u)C ôytu HHKorHa H He zio"-
Ta7Iacb, m TorHa, m lloc7Ie, 116o HHKaKaH Mopa7II,Hajl
cTpaiiiHocTb (4)H3mecKaji yioTHocTi,) repoeB roro"
HHKorHa He coBIla]Ia Bo MHe c llpocTOH cTpalllHOTOÉ
Ha3BaHHfl: He yj|087IeTBOP117Ia 80 MHe CTpac" CTpaxa,
pa3xHraeMOH cTpalllHocTI,Io Ha3BaHHH.
estava tão empertigada como se também a estivessem re-
tratando. Ela o substituía com todo aquele seu corpo fiio, e
eu, com o deleite especial de um secreto reconhecimento,
meapertavaaela,comanucadecabeloscortados,quente
porcausadoverão,eliaemvozaltaparaValériaasAlmis
mortas, proibidas para mim por mamãe e por isso mesmo
permitidas a Vãléria - e entregues nas mãos dela. Mas os
mortos e as almas, nunca corEegui terminar de lê-1os, pois
um segundo antes que eles aparecessem - os mortos e as
almas - como que de propósito se ouviam os passos de
mamãe (pr sinal, ela nunca chegou a entrar, mas sempre,
no momento exato - como que sob o efeito de uma mola
-,elapassavaporlá)eeu,sentindo-mepetrificadaporum
outro tipo de medo, completamente diferente, um medo
t*m, enfiava o enome livro embaixo da cama (aquela!). Na
vez seguinte, ao procurar com os olhos o lugar de onde os
passos de mamãe me haviam aftigentado, descobria que
ek3snãoestavammaislá,queebsjáhaviamsemudadopara
adiante,pamalgumlugar,justamenteparaaquelelugardo
qualeu,novamente,seriaaftigentada.Assim,nur"conse-
gui terminar de ler as olmas mortfls, nem então, nem de-
pois, pois nenhum pavor moral (prazer físico) dos heróis
de Gógol nunca coincidiu, dentro de mim, com o simples
pavor do título: nunca satisfez em mim a paixão do terror
suscitada pelo espantoso do título.
...oTOPBaH" OT KH14rH, H npHXHMa7Iacb K IleqKe,
KpacHori ll|eKoü K CHHeMy qyryHy, XapKoji ll|eKofi -
K /IeHjlHOMy. Ho K IleMy - To7IbKo 8 o6pa3e lleqKH, K
HeMy - TOMy - HHKorHa. BnpoqeM, Bce Xe - Ha, HO 9TO
noTOMy t]TO Ha PyKax H qepe3 PeKy.
KyllaK>cb Hot]blo 8 oKe. He Kynalocb, a olta3I>IBaK]cb
-oHHa, Ha cepe[iHHe OKH, He qepHofi, a cepojí. M ;iaxe
He OI(a3blBalocb, a I]POCTO Cpa3y, TOHy. yxe noTOHy7Ia.
HaqHeMcHaqaJia:TOHyHacepeHHHeOKH.MKorHayxe
COBceM IIOTOHy}Ia H, KaxeTCH, yMep7Ia - 837IeT (KOTO-
pblü 3tla}m c I]epBOÉ ceKyHHI,I!) - fl - Ha pyKax, Bblco-
Ko Hafl oKoü, l'o7IOBa lloz| He6oM, H HecyT MeHfl «yTo-
117IeHHMKM>>, co6cTBeHHo - oHHH H, KOHeqHo, coBceM
He yToll7IeHI"K (yToll7leH"K - fl!), IloTOMy qTo H ero
6e3yMHo iiKi6Hm H coBceM He 6oK)ci,, H oH He cHHMÉ,
a Cepblíi, M XMycb K HeMy BceM CBO" MOKPI," ]"I]OM
M 117IaTI,eM, o6HqB 3a meD - I]o llpaBy Bcflltoro yTol]a-
IOIIlero.
H]araeM c HHM iio BOHaM, To ecTb maraeT - oH, fl
- eHy. A jipy"e («yTori7ieH"i(H}> - H" KTo? Ero rioH-
BJiac"bie) rpoMKO H paHOcTHo, r;ie-To iio;i Hii3oM -
..Arrancada do livro, apertava-me à estufa, com mi-
nha face vemelha encostada ao ferro azul, a face quente
-àquelegelo.MasaeleapenasquandoerÀfomadeestu-
fa, a ele - enquanto Diabo - nunca. Aliás, na verdade, sim,
quando pelas ondas do rio estive em seus bi.aços.
Eu me banho à noite no rio Oká. Não é que me banhe,
eumedoucontadeestarsozinha,nomeiodoOká,quenão
é preto, mas cinza. E não é que me dê conta de estar, mas
simplesmente, de repente, aflindo. Já aflindei. Comecemos
de novo: eu aftindo no meio do Oká. E, quando aflindo de
vez e - parece - morro em voo (que tt;conheço desde o pri-
meiro instante!), eu, em um abraço, estou no alto, sobre o
Oká,acabeçaencostadanocéu,elevam-me"osafogados",
emespecialumque,natumlmente,nãotemnadadeafoga-
do (a afogada sou eu!), porque eu o amo tresloucadamente
e não tenho o menor medo dele, e ele não é azul, mas cinza,
e eu me aperto a ele com todo meu rosto molhado, com
minha roupa molhada, e me agarro a seu pescoço - como
é i.egra para qualquer um que esteja se afogando.
Caminhamos, eu e ele, pelas águas, ou seja, ele ca-
minha, eu sou carregada. E os outros (os "afogados" -
ou quem, então? Seus súditos) ui-vam alto e alegre-
Bo-oK)T!M,cTyi"BHa;ipyroíí6eper-TOT,rHezioM110-
JieHOBa H HepeB" BêxoBo - oH, c pa3Maxy cTaBfl MeHq
Ha 3eM7IIO, C rpoMOBI]IM - TaK H rpoM He rpoxoqeT! -
CMexoM:
- A Koma-"6yHb Mbl c Toõofi rloxeHHMCH, qepT
803I'MH!
0,KaKMHeTorHa,8MJiafleHqecTBe,3ToHpaBH7iocb:
«qepT Bo3bMH>> - i43 ero ycT! KaK Ho rJiyõi4Hbi xHBOTa
oxHI`a7Io3ToMo7Io[|eqecTBo!rlepeHecrloBOHaM,M,KaK
caMblü o6I,IKHOBeHHblü MyxMK - H" cTyHeHT - «qepT
Bo3bMH!>>, - ToqHo oH MoxeT 3Toro õojlTI]CH - "H Xe-
7IaTb, - ToqHo el`o, H7m Me" Ha el`o pyltax, - Boo6-
ll|e MoxeT 83flTh qepT! M IIHKorHa MeHq He oMpaqH7Ia
Mblcj]b, qTO 9TO - mfl MeHfl M3 CHHCXOXHeHHjl K MO-
eMy Majio7ieTCTBy, Totiita HaH i co6cTBeHHojí identité,
qTo6bi H He oim67iaci,, qTo oH - HeÉCTBHTejibiio - oH.
HeT,oHiipocToiirpaH-8iipocTorocMepTHoro,qTo«fl
He fl H /IolllaHI, He Mojl}>.HyxHo cKa3aTb, qTo, 3a oiiiejioMJiflioiiiHM - H3 ero
ycT - «qepT Bo3bMH», caMo o6eHiaHHe «Mi,i c To6oÉ
Koma-"6yHb I]OxeHHMcfl>> Heclt07IbKO OTXOHH7IO Ha
mente, de algum lugar, embaixo d'água! E, chegando à
outra margem - aquela onde e.stá a casa de Polénov e o
vilarejo de Biókhov -, ele me coloca no chão gargalhando,
com uma risada trovejante, como nem o trovão troveja:
- Um dia eu casarei com você, com os diabos!
Ah, como eu gostava, quando criança, desse "com os
diabos!" - de seus lábios! Como eu ardia, desde o mais pro-
fundo de minhas entranhas, pela ousadia! Ele me carregou
para atravessar as águas e depois, como o mais simples
dos camponeses - ou dos estudantes -, um "com os dia-
bos!", quase como se ele pudesse ter medo dos diabos - ou
como que a desejar que pegassem a ele ou a mim em seus
braços! E nunca me perturbou o pensamento de que de-
pendesse de mim e da indulgência para com minha pouca
idade o pingo no i da éde"tité5 dele, para que eu não me
enganasse quanto ao fato de que ele era - realmente - ele.
Não, ele simplesmente brincava de ser um simples mortal,
tipo "eu não sou eu e o cavalo não é meu".
Éprecisodizerque,depoisdaqueletãosurpreendente
"com os diabos!" que seus lábios proferiram, a própria
promessa "eu casarei com você um dia" passava um pou-
5 Do francês: "identidade".
3aj]HHH iiJiaH, Ho Korzia ji, ycJiaHHBmHcb Bo3rJiacoM Bo
Bcex ero, 80 MHe, OT3ByKax, CaMa Heclt07IbKO Omxoôw-
m - o, HecTepnl"ocTb eToro Tpl4yMõa! oH, 6e3 Bcjl-
i(oÉ Moeü i]pocb6i,i, caM... OH co MHoií - iioxeiiMTcji!
Ha coBepllleHHo MOKpofi, Ma7IeHI,Kojí...
M BOT, oHHaxz|bl, He BI>IHep>KaB oz|HHOKol`o TPH-
yM¢a, yxe yrpI,13ajlcI,, HO OCTaHOBHTb lIOTOKa - He 8
CHJlax:
- MaMa! MHe ceroH" cHH7iHci .... yToriJieiiHHKH...
By;iTo o" Me" 83fl7" Ha pyKH H Hec/iH qepe3 peKy, a
TOT, r7IaBHblÉ yTorl7IellHHlt, MHe cKa3a7I: «Mbl c To6ojí
Korz|a-"6yHb iloxeHiiMcji, HepT Bo3i>Mii!}>
- Ilo3HpaB"io! - cKa3ajia MaTb. - fl Te6e BcerHa
roBoplljla!Xopomllxl|eTejíqepe3rlpollacTbI]epeBOHflT
aHreJlbl, a TaKHX, KaK TI,I...
BOHci,, qTo oHa floraHa7iacb M cefitiac Ha3oBeT H
oT" HaBel( IIpeceqeT, fl, Topoll7"Bo:
- Ho 9To, rlpaBHa, 6I,Ij" yTonjleHHHKH, caMble-co-
BepllleHHble, cHH14e...
co para o segundo plano, mas, uma vez deliciada com
todas as repercussões daquela exclamação dentro de
mim e uma vez recttpe"da --oh, como é insuportável
esse triunfo! -, ele, sem que eu lhe tivesse feito qual-
quer pedido, ele sozinho... querendo casar - comigo!
Com umazinha tão molhada, tão pequena...
E eis que uma vez, não conseguindo suportar so-
zinha o triunfo, já sentia remorsos, mas não podia me
segurar, assim como um rio na enchente:
- Mamãe! Hoje sonhei com„. os afogados... Que
eles me pegaram nos braços e me fizeram atravessar o
rio e aquele, o chefe dos afogados, disse-me: "Eu casa-
rei com você um dia, com os diabos!".
- Parabéns! - disse mamãe. - Sempre falei para
você! As crianças boas, os anjos é que as levam para lá
do abismo, mas aquelas como você...
Com medo de que ela adivinhasse e agora o cha-
masse por seu nome e com isso o fizesse desaparecer
para sempre, eu, afoita:
- Mas é verdade, eram os afogados, exatamente
como eles são, azulados...
(:,'1,,,,,,
H 8 pacnyxHyBiiiee Te7io
paKH qepHI,Ie Br"j"cb!
- M Tbi HaxoHiiiiib, qTo 3To - Jiyqiiie? - HpoHMqe-
cKM cKa3a7Ia MaTb. - KaKajl raHocTb!
Ho 6bljla y Mem c HMM, KpoMe paccKa3aHHI.Ix I]o-
BTOPHblx BCTpet], - "Ila BCTpeq, OHHa-ez|HHCTBeHHaH
- Hei]oBTopi4Bmaflcfl. Me", Kai( BcerHa, 3aMaHMBa-
ioT 8 Ba7iep"Hy TpexiipyHHyK) KOMiiaTy, Ho He oHm
i(To-To, a MHoro, - HeJibiÉ iiiemyiiiHÉ H TI>iqyuHÉ
Ilajlbl|eM Kpyl`: TyT H mll", H ABrycTa HBaHOBHa, H Bec-
Hori, C HOBori TpaBO# 803HMKaK>ll|afl CyHHyqHO-IIIBejí-
Hafl MapbH Bac"beBHa, H flpyraq Mapbq BacMJibeBHa,
c/mHOMpbi6biHcTpaHHo꒢aMH"efiCyM6y7i,HHaxe
Ta llopTHHxa, y H om KOTopo# TaK I]axHeT KacTopltoÉ
(KyMaqoM) - H Bce oHH, 8 roJloc:
- CKopeíi, MyceHbKa, cKopefi, TaM Te6fl KTo-To
XHeT...
KaKBcema,HeMHoxKoyl"pamcb,HeMHoxKoy7lbl-
6aK]cb, - MHycb. HaKOHeu Bxoxy. M - o, yxac! rlycTo.
E no corpo inchado
cravavam-se negros iagostins!6
- E você acha que isso - é melhor? - disse mamãe,
irônica. - Que nojo!
Mas, entre mim e o diabo, além dos frequentes ti-
pos de encontros, já descritos, houve um - irrepetí-
vel. Chamam-me, como sempre, do quarto de Valéria
(aquele da casa dos Três Lagos), mas não é uma pessoa
que me chama, são muitas, um grupo inteiro que sus-
surra e me faz sinal com o dedo: lá está a babá, está
Augusta lvánovna, está a costureira-bordadeira Maria
Vassílievna, que desponta na primavera junto com a
relvinha nova, e a outra Maria Vassílievna, com cara de
peixe e sobrenome gozado: Sumbul, e até mesmo aque-
la costureira que tem e exalfl cheiro de óleo de rícino
(de tecido de algodão bruto) - e todas elas, juntas:
- Venha depressa, Mússenl(a, tem alguém que está
esperando por você...
Como sempre, titubeio um pouco, sorrio um pou-
co - hesito. No final, entro. E - que horror! Está vazio.
6 Do poema "Os afogados" (1828), de Aleksándr púchkin (1799-1837).
Ha KpoBa" - HHKoro. Ero Ha iiocTeJm - HeT. OHHa
KpacHaH KOMHaTa, nojlHafl C07IHI|a H Ilbl7IH. KOMHaTa -
o;|Ha, KaK fl - o||Ha. Be3 Hero.
ocTojl6eHeB, nepexo)Ky r7Ia3aMH oT IlycTOH KpoBa-
" K xap-II"l|blHOH mHPMe (3a KOTopoH ero, HaBepHo,
HeT, H6o He 6yHeT xe oH HrpaTb 8 npflTKH!), oT ii"pMi>i
K KHHXHOMy lnKa¢y, - TaKOMy CTpaHHOMy: r;|e BMecTO
KHHr BH;]Hiiib ce6ji, H Haxe K iiii(ad)"Ky c - KaK HflHji
roBopHT -«6e3ZieJiiomKaMH», oT «6e3HeJiiomeK» i( jiBHo
nycTOMy KpacHOMy HHBaHy c nyl`o814I|aMH, BTHCHyTI>I-
MH 8 Ma7IHHOBoe Ma7IbBOBoe Mjlco aTjlaca, OT aT7Iaca
K 6e7IOH, 8 cHHlolo K7IeTKy, IleqKe, yBemaHHori ypa7II,-
ci(HM xpycTa7ieM H KOBi>iJieM... 8 TOM xe cTOJi6HflKe
iiiaraio K oKHy, H3 KOToporo Bi4;iHbi me HepeBi.H: CepI>Ie
HBbl BOKpyr 3ejleHOÍí l|epKBH, CepI,Ie HBI,I Moeri TOcltl4,
MecTOHaxoxfleHHfl i(oTopbix 8 MocKBe H Ha 3eMJie ji
Tal( H14Kor;|a H He y3HaJla 14 He llol]blTa7Iacb y3HaTI>.
C cocyll|MM qyBCTBOM: o6MaHy-y7I! - cTolo, yllep-
iiiHcb ji6oM 8 nepBi.iH Hi43KHH KBazipaT oKHa, )icry ce6e
rJla3a y;|epxHBaeMblMH c7Ie3aMH, H orlycTHB, HaKOHel|,
r7Ia3a, tlTo6bl oTIlycT14Tb, HaKOHel|, c7Ie3bl ...- Ha BaT-
HOM z|He oKHa, Me)KHy HByMfl paMaMH, 8 3e7IeHOBaTOM
Sobre a cama não há ninguém. Ele não está sobre os len-
çóis. Só há o quarto vemelho, cheio de poeira e de sol. 0
quarto sozinho, como eu - sozinha. Sem ele.
Petrificada, passeio os olhos da cama vazia ao biombo
com a estampa do pássaro de fogo (atrás da qual, é claro,
ele não pode estar, pois não iria brincar de esconde-
-esconde!), do biombo à estante dos livros, bem esquisita,
por sinal: em lugar dos livros você vê a si mesma. E ain-
da os corro ao amarinho "com os cacarecos", como diz
a babá, e dos "cacarecos" ao sofá vemelho, ele também
visivelmente vazio, com os botões afimdados na came
vermelho-malva do cetim, do cetim à estufa branca deco-
rada com uma rede de quadradinhos azuis, coroada com
o cristal e o linho dos Urais... Ainda petrificada vou até a
janela da qual se veem ciq'uelas árvores: os salgueiros cinza
emvoltadaigrejaverde,ossalgueiroscinzademinhasau-
dade, de cuja localização em Moscou e na Terra eu nunca
soube nem nunca procurei saber.
Com o sentimento de haver sido traída que me con-
some - fico imóvel com a testa encostada ao primeiro
quadradinho dajanela e meus olhos queimam de lágrimas
mal contidas e, quando os abaixo para finalmente deixar
correrem as lágrimas ..., no parapeito da janela, entre as
CTeK7Ie, KaK 8 C"PTy! - I|ejlajl POCCI>Inb KPOXOTHblx
cepblx cKaqyll|Hx, cTpamHo-Bece7II,Ix, Bep6HI,Ix, c pox-
KaMH-C-HOXKaMH, Bce OKHO IIpeBpaTHBII"X 8 BepõHylo
qepTMKOBy 6yTbl/I I,.
Bex7"Bo y7II,16HyBIIIHcl,, ItaK Ha c7IHmltoM M7IaHeH-
tlecKylo HI`PyH]Ky, 14IIOCToflB CKojlbKO Hy]KHO, qT06I,I He
o6HHeTb - He i4x, 6eccMbicJieHHo-CKaqyiiiHx H MeHji
3HaTb-He~3HaK)Il|HX, a - Toro, HeMIIOXKO yTellleHHajl,
HeMHoxKo o6HxeHHajl, 8 Iloc7Ie;|"jí pa3 IlpoBepllB
IlycTyloll|yK) I(poBaTb - Bblxo)Ky
- Hy KaK? Hy KaK? - c rpHMacaMH H y)KiiMKaMi4
HjiHH, ABrycTa 14BaHOBHa, HBe Map" BacH7ibeBHbi,
iiopTHiixa Mapm 14rHaTbeBHa H eiiie Tpi4 HaSTaj"H-
Hblx MOHalllK14, KOTopble, npll oco6blx o6cTojlTejlb-
CTBax BpeMeHH H MecTa, HHKO II|eKoqa, 3allHXHBaloT
Me" 8 Ba7iepi4HH KpacHi]iH cyHHyK 3a nepei`opoziKOH.
- HHtlero. CnacHõo. oHeHb xopomo, - jl, Hapo-
ql4TO-Me]|7IeHHO H HanpjlxeHHO-Iiel]PHHyxHeHHo
np0XoHjl CKBo3b 14x TjlHyll|Hecfl H HecMeloll|He PyKH.
(rlpoxoHjl H He rjmHjl, BH3Ky, qTo ABlycTa MBaHOBHa He
otleHb yx lIoxoxa, H y "" noqeMy-To H3 yrjla PTa BH-
CIIT fl3blK...)
duas folhas, no vidro duplo meio verde, como se conser-
vado em álcool!, um depósito inteiro de diabinhos risonhos
cinza saltitantes, terrivelmente alegres, com chiffinhos e
peminhas, que haviam transfomado ajanela inteira numa
garrafacomodiabodentro,comoadoDomingodeRamos.
Sorindo gentilmente, como diante de um brinquedo
demasiado infantil, e ficando parada o suficiente para não
ofender - não a eles, que saltitam despreocupados e nem
ligam pam mim, mas a ele -, um pouco consolada e um
pouco ofendida, saio após verificar, pela última vez, que a
cama está vazia.
- E ai'? E aí? - com caretas e zombarias dizem a babá,
Augusta lvánovna, as duas Marias Vassilievnas, a costu-
reira Maria lgnátievna e mais três ffeims-naftalinas, que,
nas devidas circunstâncias de tempo e lugar, fazendo-me
cócegas insuportáveis, me empurram no baú vemelho de
Valéria, atrás do anteparo.
- Tudo bem, obrigada, tudo em ordem - e eu passo
devagar, de propósito e aparentando desembaraço, por
seus braços estendidos, cautelosos. (Mesmo que eu passe
de uma para outra sem olhar, reparo que Augusta lvánovna
não parece mais ser ela mesma e a babá tem a língua que
pende de um lado da boca, não se sabe por quê...)
tlep"KH 8 oKHe H cTpaxo6ecl4e y HBepH He lloBTo-
pHT"cb. qTo 3To 6bl7Io? rlpocTaH 3aMeHa, oTToro qTo
caM He Mor llpHH", - H7IH HCKyc, HcllblTaHHe 83poc-
Jloc" H BepHoCTH: rlpoMeHfllo 7" jl, mlTH7IeTHfljl, ero,
HacToj]iiiero H eHHHCTBeHHoro, Ha To Bep6Hoe MHoxe-
cTBo? To ecTI,, BCTaB cnHHoÍí K rlycTOH - 1" - ItpoBa-
TH, He cTaHy J" IlonpocTy - HrpaTb?
HeT, c Hrpoíí 6biJio KomieHo! Z|i.jiBOJi Moero MJia-
HeHqecTBa MHe, CpejiH MHoro Hpyroro, ocTaBHJi 8 Ha-
cJlez|CTBo: Hell36I,IBIloe, KaK I|oroB 3eBOK, oT Bcero, qTo
14rpa: «CKy-yqHo!}>
rloqeMy qepT xi47i 8 KOMHaTe Ba7iepHH? TorF[a ji o6
9TOM He HyMaJia (a BaJiepHfl TaK HHKorHa H He y3HaJia).
9To 6i>iJio TaK xe iipocTo, KaK To, qTo ji xHBy 8 HeT-
cKori. Ilana xHBeT 8 Ka6HHeTe, 6a6ymKa Ha nopTpeTe,
MaMa Ha pojiJibHOM Ta6ypeTe, Ba7iepi4ji B EKaTepHHi4H-
cKOM HHCTi4TyTe, a tlepT - 8 i(oMHaTe BaJiepHH. TorHa
3To 6bl7I ¢aKT.
A Tellepb - 3Halo: qepT )K117I 8 KOMHaTe Ba7IepHH,
iioTOMy HTo 8 i(oMiiaTe BajiepHH, o6epHyBii"cb KHHx-
Hi,iM iiiKa¢oM, cTojiJio iipeBo n03Hamq Ho6Pa H 3Jia,
Os diabinhos na janela e a petrificação na porta
não se repetiram. 0 que terá sido aquilo? Uma simples
troca, porque ele em pessoa não tinha podido vir - ou
então, quem sabe, uma tentação, uma experiência de
maturidade e de fidelidade: eu, com cinco aninhos, te-
ria traído a ele, verdadeiro e único, por aquela multidão
de diabinhos de Páscoa? Ou seja, de pé, eu, de costas
para - sua - cama vazia, teria eu - simplória - come-
çado a brincar?
Não, chega de brincadeiras! 0 diabo de minha in-
fância, entre outras coisas, deixou-me como herança,
tão inevitável como o bocejo do alão, um "que tédio!"
para tudo o que é jogo.
Mas por que o Diabo vivia no quarto de Valéria?
Naquele tempo eu não pensava nisso (e Valéria nunca
ficou sabendo). Era tão simples como o fato de eu viver
em meu quarto de menina. Papai vivia em seu escritó-
rio, vovó no quadro com o retrato, mamãe no banqui-
nho do piano, Valéria no lnstituto Ekaten'nski e o Diabo
- no quarto de Valéria. Naquela época, isso era um fato.
Mas agora eu sei: o Diabo vivia no quarto de Valé-
ria porque no quarto de Valéria, disfarçada de estante
para livros, vivia a árvore do conhecimento do bem e
"
riJioflbi KOToporo - «fleBoqKH» JlyxMaHOBOÉ, «BOKpyr
cBeTa iia Kopii]yHe>> CTaHK>KOBHqa, «KaTaKOM6bi» EB-
reHMH Typ, «CeMeficTBo Bop-PaMeHCKHx>> H I|e7Ible
roHbi xypHaJia «PoHHHi(>> ji TaK xaHHo H ToponJ"Bo,
BHHOBaTo H HeyHepxHMo iioxHpaJia, OrJijiHbiBaflcb Ha
HBepi>, Kai( Te Ha Bora, HO HHKorHa He npeziaB cBoero
3Meji. («E)To Te6e Jlêpa HaJia?>> - «HeT, caMa 83fl7ia>>.)
qepT 8 BaJiepHHHy i(oMHaTy npHiiie7i Ha roTOBoe Me-
cTo: Moero llpecTyllJleH" - MaTepMHCKoro 3anpeTa.
Ho õiiiJio eiiie - Hpyroe. 8 BaJiepHHHOH KOMHaTe
MHOIO, HO CeMM 7IeT, TaüKOM, PblBKOM, C OI`7IflHltori M
oc7IbllllKOÉ Ha MaTb, 6bl" Ilpo"TaHbl <{EBreHHri oHe-
i`HH>>, <<Ma3eiia>>, <<PycaJiKa», «Bapi>iiii"-KpecTMiiKa>>,
<<I|blraHbl» - H IlepBI,Iía poMaH MoeH xH3" - «Anais>>.
8 ee KOMHaTe 6tm /iio6oBi,, xHJia - 7iio6oBb, - H He
do mal, e seus frutos - As me7rinfls de Lukhmánova,
A Üoltai ao muTtdo no /alcõo, de Staniukóvitch, As ccita-
cumbas, de Evguénia Tour, A/am{lta dos Bor-Rflméénskó
e assinaturas anuais completas da revista Rod7ttk7 -, eu
os devorava tão esfomeada e apressada, sentindo-me
irresistivelmente culpada e sem freios, sempre com
um olhar dirigido à porta, como se olha para Deus, mas
sem nunca trair a própria serpente. ("Foi Lioras quem
os deu para você?" "Não, eu peguei sozinha.") 0 Diabo
havia chegado no quarto de Valéria, no lugar prepara-
do para meu crime - da proibição materna.
Mas havia mais alguma coisa. No quarto de Valéria
eu li escondido e aos poucos, antes de meus sete anos,
com ouvidos e olhos atentos à chegada de mamãe, EÜ-
guéri Oriégtttn, MCLzepa, A "sscilka, A semhoritcL ccm-
poneso, Os ctgcmosg e o primeiro romance de minha
vlda - A"ts. Naquele quarto de Valéria hoüta o amor,
morava o amor, e não apenas o dela e para com ela,
} Dté`)otchkó, de Nadiejda Lukhmánova (1844-1907). Vokrug süietflna
Kórchune, de Konstantin Staniukóvitch (1843-1903). Kcitcikómby, de
Evguénia Tour, pseudônimo de Elizaveta Salias de Toumemire (1815-
1®92). Rodntk (A fmte,1882-1917), revista infantil de Petersburgo.
') Apelido de valéria.
1 Obras de púchkin.
To7ibKo ee H K iiefi, ceMHaHiia"7ieTHeH: Bce 3" aj]b6o-
Mbl, 3allHCKII, nally7", CnHPHTHqecKHe CeaHcbl, CHM-
naTHqecKHe qepH117Ia, PelleTIITOPI,I, PelleTHI]HH, Ma-
CKHPOBaH14jl 8 MapKH314 Ba3e7114HeHHe PecHHI| - HO TyT
ocTaHOBi(a: H3 rJiy6oKoro KOJioHiia KOMOHa, H3 BoPoxa
6apxaTOK, Kopa717IOB, BI>IqecaHHblx Bo7Ioc, 6yMaxcHI,Ix
l|BeTOB, Ha Me" - r7Ia3aMH r]IjlHjlT! - cepe6pflHble lIH-
JIIOJ114.
KOH¢eTKi¢ - Ho cTpamHbie, nH7iioJ" - Ho cepe-
6pjiHi.ie, cepe6pjiHbie c'beiio6Hi>ie 6ycbi, KOTopi>ie oHa
lloqeMy-To TaK xe TaHHo - 3aropa)KHBajlcl, cl"HOH H
7i6oM 8 KOMOH -rjioTajia, KaK fl -7i6oM 8 iiiKa4) -«XeM-
qyxHHbl pyccl(oH Iloo3HH>>. oF|Ha)Kz|bl MeHjl o3apIIJlo,
qTo 1114]IK)7m - jll|o814TI.Ie H qTo oHa XoqeT yMepeTI,. OT
71106BH, KOHeqHO. HOTOMy qTO eü He HaloT Bblri" 3a-
My)K - 3a Bopi4c-MBaHbitia i47m AJii>caH-Ha7iqa? Mj" 3a
CTpaTOHOBa? Mj" 3a AriHa7IOBa? IloTOMy TTo ee xoTflT
BblHaTb 3aMy)K 3a MHxaHJi-MBaHbiqa lloi(poBCKoro!
«Jlêpa, a MHe Mo)Kiio cT,ecTb TaKyK) iii47iio7iio?»
- «HeT». - «IloqeMy?>> - «TloTOMy qTo Te6e He Hy)K-
para com os seus dezessete anos, mas todos aqueles
álbuns, apontamentos, patchuli, sessões espíritas, tin-
ta simpática, preceptores, aulas particulares, máscaras
de marquesa e vaselina para os cílios - e aqui faço uma
pausa: do poço fundo da cômoda, do emaranhado de
fitinhas,de contas, de meadas de cabelos, de flores de
papel, olhavam pra mim - apontavam para mim como
olhos! - as pílulas prateadas.
Balas - pensava eu. Mas estranhas, pi'lulas pratea-
das - contas prateadas comestíveis que Valéria, não se
sabe por quê, engolia tão misteriosamente, de costas
e com a testa encostada na cômoda -, e ela as engolia
como eu engolia, com a testa encostada na cômoda,
As pérolas dfl poesta ntssa.`° Uma vez cheguei a pensar
que aquelas pílulas eram envenenadas e que ela queria
morrer. De amor, claro. Porque não a deixavam casar
com Boris lványtch ou Alsan Paltcha? Ou então com o
Stratónov? Ou com o Ainálov? Porque queriam casá-la
com Mikhail-Iványtch Pokróvski!
"Liora,possotomarumadessaspílulas?""Não.""Por
que não?" "Porque não precisa delas." "E, se eu tomar,
10 Jemtchújtmy rússkoi poezti, antologia irifantil russa do início do
século xx. (TsvETÁiEVA, 2001)
Ho>>. - <<A ecjm cbeM - fl yMpy?>> - «Bo BcjlKOM c7Iyqae,
3a6oJieemb>>. IloTOM (qTo6bi yciioKoi¢Tb "TaTe7iji) o6-
Hapyx117IOCI,, t]TO nl4jll07" - CaMI,Ie HeBMHHI,Ie, Contre
les troubles H T.H. - caMi]ie o6biqHbie 6apbim"HCKHe,
Ho HHI(aKaH IlopMajll.HocTb Kx llpHMeHeHHH He BI.ITpa-
BH7Ia H3 Mem CTpaHHOI.O 06Pa3a Xe7ITOI"I|eü M07IO-
HoÍí HeBylllKI1, TariHo Hae;|aloll|eíícq H3 KOMo;|a c7Iaz|-
i(oro jiHOBHToro Cepeõpa.
Ho lle Toj]I,Ito ee ceMHal|ua"7Ie"Íi I]o7I l|apHjl 8
9TOÊ KOMHaTe, a Bcq 7iio6oBHocTb ee riopoHi]i, nopoFibi
ee Kpaca814I|I,I-MaTepH, 7]Io6" He H3xl4BmeÊ H 3apblB-
meH ee no BceM 3T" aT7IacaM H MyapaM, HaBeK-Ilpo-
HymeHHblM H HeHapoM TaK )KapKo - Ma7IHHOBI,IM.
A He i]pMxoHi4ji 7m tlepT K caMOH BajiepHH? BeHb
OI]a-TO He 3Hajla, qTO OH KO MHe npMXO;|HT, TaK Xe H
fl Mor7Ia He 3HaTb, tlTo oH - K HeH. (BecKpoBHoe cMy-
r7ioe J"iio, orpoMHbie 3MeHHOHparoiieHHbie i`Jia3a 8
BeHI|e qepHejíml4x pecHHl|, Ma7IeHI,KHn TeMHblH cxa-
Tblfi POT, Pe3KHn HOC HaBCTpeqy I]O;|60POI|Ky, - m
vou morrer?" "De qualquer maneira, vai ficar doente."
Depois (para tranquilizar o leitor) descobriu-se que
as pílulas eram completamente inofensivas, contre les
troubles,11 etc. As pílulas mais comuns para mocinhas,
mas nenhuma normalidade no uso podia apagar para
mim a imagem estranha de uma jovem de rosto amare-
1o que se enchia secretamente com a doce prata vene-
nosa da cômoda.
Mas não era apenas seu sexo de dezessete anos que
imperava naquele quarto. Havia lá toda a amabilidade de
sua linhagem, a linhagem de sua belíssima mãel2 que não
havia teminado de viver o amor e o havia sepultado em
todos aqueles cetins e tafetás ondulados, etemamente
perfiimados e não por acaso tão fogosamente vemelhos.
Será que o Diabo não havia visitado a própria Valé-
ria? Se ela não sabia que ele vinha me ver, eu também
podia não saber que ele ia vê-la. (Rosto moreno sem
cor, enormes olhos com brilho de serpente-dragão,
coroados por cílios negríssimos, pequena boca escura
apertada, nariz arqueado para o queixo, sem naciona-
11 Do francês: "contra os incômodos" (espécie de calmante).
12 0 pai de Marina era casado pela segunda vez; aqui há referência
à primeira mulher, Varvara llováiskaia (1858-1890), mãe de Valéria.
Hal|HOHa7lbHoc", " Bo3pacTa y 9Toro 7IHI]a He 6bl7Io.
Hi4 KpacoTi,i, " HeKpacoTbi. 9To 6bi7io Jii4iio - Bejib-
Mbi.) M Bce xe - HeT. HeT, Hõo oHa iioc7ie EKaTepH-
HMHCKoro 14HC"TyTa lIOCTyl"7Ia Ha xellcKHe Kypcbl
repbe 8 Mep3"KOBCKOM IlepeyjlKe, a lloTOM 8 coH14-
aJI-Z|eMOKpaTIHecKylo llapTHlo, a rloTOM 8 yt"Te7IbHH-
1]1>1 Ko37IOBCKoü rHMHa31414, a lloTOM 8 TaHI|eBa7IbHyK>
CTy+|HIO, -BOoõll|e BCIO XH3Hb nponocmy71Clm. iiepBafl
xe npHMeTa ero 7Ilo6HMI|eB - Ilo7IHafl pa3o6II|eHHocTI,,
oTpoHjlcb H oTBcloHy - BblK7IK>qeHHocTI,.
HeT, qepT HHKaKoÍí Ba7lepHH He 3Hajl. Ho oH H
MaTepH Moeri He 3Ha7I, TaKofi onHHOKoÍí. OH Haxe He
3Ha7i, qTo y Me" ecTb MaTb. Korzia ji 6i.i7ia c HHM, fl
6biJia - ero HeBoqKa, ero qepTOBa ci4poTi4HotiKa. t]epT
8 MeHjl, KaK 8 Ty ltoMHaTy, npHIIle7I Ha roTOBoe. EMy
npocTO Hpa814jlacb KOMHaTa, TariHaq KpacHaH KOMHaTa
- H TaHHafl KpacHaji HeBoqKa 8 cTo7i6HjiKe 7iio6BH Ha
lIOpore.
HO O;|Ha Mofl BCTpeqa C H14M, KaK " CTpaHHO, rlpo-
H3ollljla qepe3 MaTb, tlepe3...
«KpacHbiíi itap6yHKyJi, -
lidade nem idade - esse rosto. Nem belo nem feio. Era
o rosto - de uma bruxa.) Porém - não. Não, porque
Valéria, depois do lnstituto Ekaten'nski, havia ingressa-
do nos cursos femininos Guerrier, no beco Merzliakóvski,
depois no partido social-democrático, depois no curso de
proféssores do Liceu Koslóvski, depois em uma escola de
dança - eh praticamente passou a vida inteira tngmssando.
Aocontiário,oprimeirioindl`ciodequeebescolheualguémé
a solidão total, sempit e em qualquer lugar - a exclusão.
Não, o Diabo não conheceu nenhuma Valéria. Mas
minha mãe também não o conheceu, embora tão solitária.
Ele nem sabia que eu tinha uma mãe. Quando eu estava
com ele, eu era a menina dek3, a orfãzinha do diabo. 0 Dia-
bo tinha vindo me ver como fora àquele quarto, para se
acomodar. Ele simplesmente gostou daquele quarto, um
quarto secreto, vermelho - e uma menina seci.eta rubra
de amor, petrificada, na soleira.
Mas um de nossos encontros, é estranho, aconte-
ceu graças a minha mãe, graças a um ...
Ca7.búnculo Üeme|ho,13
13 Krásnyi karbú7ikuL conto de Johann Peter Hebel (1760-1826)
traduzido por Vassíli Jukóvski (1783-1852) em 1816.
IlpoBo3r7IacH7Ia MaTI,. - tlTo TaKoe «KpacHbljí Kap-
6yHKy7i}>? Hy, Ti,i, AHHpioma!}> - «He 3Haio>>, - TBepj]o
oTBeTH7i oH. «Hy, tiTo Te6e KaxeTcji?» - «Hi4qero He
KaxeTcji!» -TaK Xe TBepHo oTBe"7i oH. -«Ho KaK 3To
MoxeT 6biTb, qTo6i>i HHqero He i(a3aJioci,! BcerHa - Ka-
xeTcji! H Te6e - Ka)KeTcji! Kap-6yH-Ky/i. Hy?» - «Kap-
6oJiKa?» - paBHo;iyiiiHo iipej]Jioxi4Ji AHqpioma. MaTb
To7ibKo pyKoíá MaxHy7ia. «Hy, a Ti,i, AceHi,Ka? To7ii,Ko
Bc7IylllaHCH BHHMaTe7IbHo: Kap-6yH-Ky7I. Heyxe"
Te6e HHqero He npeHCTaBJijieTcji?>> - «IIpeH-cTaB-
7"eTcji!» - c7ieri(a npeTKHyBii"ci], Ho c 6o7ibiiiHM
anJioM6oM Bi,inaJi"a ee 7iio6HMHiia. «Hy - qTo xe?»
- C CTpacTHori XaF|IIOCTblo yxBaTH7Iacb MaTI,. «T07IbKO
He 3Haio - `iTo!» - c TOH xe 6i.icTpoTOM H ari7ioM6oM
- Acjl. «Ax HeT, AceHI,Ka, Tbl, Ho7IXHo 6I,ITb, z|ericTBH-
Te7]bHO, c7IHmltoM Majla n7" TaKoro qTeH14fl. MHe 9TO
Hez|ylllKa qi4TaJI, KorHa MHe 6bi7io y)Ke ceMb 7ieT, a Te6e
To7IbKo lIHTI,». - «MaMa, MHe Toxe y)Ke ceMI,!» - Ha-
KOHeü He Bbl]|epxa7Ia jl. «Hy H HTo xe?» Ho He lloc7le-
HOBaJio - Hi4qero, iioTOMy `iTo fl y)Ke onjiTb opo6ejia.
«Hy, a no-TBoeMy, qTo TaKoe Kap6yHKy7i? KpacHbiH
i(ap6yHivJI?>> - <<Tai(oü KpacHbiíí rpa¢HH?» - ynaBmi"
ro7iocoM, o6Mi4paji oT HaHe>KHbi, ciipocHjia fl (Karaffe,
- confome exclamou mamãe. 0 que vem a ser "carbúncu-
lo vermemo'? "Diga, Andriucha!'" "Não sei", respondeu ele,
fime. "Mas lhe parece o quê?" "Não me parece mda!", disse
ele de novo, cortante. "Ora, como pode ser que não lhe pait-
ça nadâ? Sempr€ parece alguma coisa! E alguma coisa deve
parecer-lhe! Car-bún-cu-lo. E então?" "Carbônico?': propôs
Andriucha sem ligar muito. Mamãe contentou-se em sacu-
dir a mão. "E você, Ássenka? Ouça com atenção: `car-bún-
-cu-1o'. Não é possível que não üie sugira nada." "Su-ge-re!",
tropeçando um pouco, soltou com grande convicção a sua
predileta. "E ai? 0 que sugere?", insistiu mamãe, com avidez
üpaixonada "Eu só não sei o que é!", fflou Ássia, com a mes-
masolturaeamesmasegurança."Nãoénada,Ássenka,com
ceti:eza você deve ser ainda nou demais pam uma leitum
tJessas.Vovôleuissopammimquandoeujátinhaseteanose
vtx:êsótemcinco.""Mamãe,eutambémjátenhoseteanos!",
l`ülei, finalmente, sem mais me conter. "E daí?", perguntou
mamãe. Eu não continuei pois já estam de novo com ver-
gonha. "Mas, e ai', vejamos, o que você acha que é um car-
l)únculo? Carbúnculo vememo?""Tipo jarro vemelho?",
i>c`rguntei eu, em voz mais baixa, entorpecida de esperança
14 Apelido de Andrei Tsvetáiev (1890-1933), meio-irmão de Mari-
i`ii do lado patemo.
Funkeln). «HeT, Ho 67"xe. Kap6yHKy7i - 9To KpacHbifi
iiparoiieHHi,iH KaMeHb, no 6oi(aM (Kap-6yH-KyJi) - rpa-
HeHbiíá. IloHji7"?»
Bce iiiJio xopoiiio zio 3eJieHoro. KTo-To npHxoHHT
- He To 8 iiorpe6oK, He To 8 iieiiiepy. «A 3eJieHbiH y)i(
TaM, H cHflHT oH 14 KapTbl TacyeT». - «KTo TaKoÍí 3e-
7IeHI]IÍÍ? - cllpocH7Ia MaTI>, - Hy, KTo BcerHa Xoz|14T 8
3e7IeHOM, 8 OXOTHHqbeM?>> - «oXOTHHK>>, - paBHoZ|yill-
Ho cKa3a7i AHHpioiiia. «KaKoü oxoTHHK?» - HaBOHjiiHe
CIIPOC117Ia MaTb.
Fuchs, du hast die Gans gestohlen,
Gib sie wieder her!
Gib sie wieder her!
Sonst wird dich der Jaeger holen
Mit dem Schieassgewehr,
Sonst wird dich der Jaeger holen
Mit dem Schiess-ge-we-ehr! -
(Kfln#e, Ftmkeh).15 "Não, mas está chegando mais perto.
0 carbúnculo é uma pedra preciosa vermelha facetada
em seus lados (kor~bm-kul). Entenderam?"
A história que estava sendo lida ia bem até o momento
em que apareceu o Homem Verde. É alguém que chega,
não se sabe se de um porão ou se de uma gmta. "E o
Homem Verdejá estava lá, sentado, misturando as cartas."
"Quem é o Verde?", perguntou mamãe, "ora, quem é que
anda sempre com roupa verde, de caça?" "0 caçador",
disse Andriucha, indiferente. "Que caçador?", perguntou
mamãe, como querendo sugerir.
Fuchs, du hast dte Ga7ts gestohlem,
Géb ste tüteder her!
Gib sie ti)ieder her!
Sonst u)trd dich der Jaeger holen
Mtt dem S chteassgett)ehr,
So7tst u)trd dich der JaegeT ho[em
Mit dem Schtess-ge-we-ehrl6
lb Do alemão: "jarro", "brilho".
10 Lengalenga alemã para crianças: "Raposa, tu roubaste o gan-
m,/Traz ele de volta aqui!/Traz ele de volta aqui!/Senão o Caça-
doi. vai te pegar/Com a arma cospe-fogo,/Senão o Caçador vai te
P.#iir/Com a arma cospe-fogo!".
Í
C rl07IHOü roTOBHOCTI,D I]Polle7I AHqpKIIIla. «rM ...-
H HaMepeHHO MMHyH MeHfl, yme H ma% %e PByll|yHmq C
MecTa, KaK cjloBo c ycT. - Hy, a Tbl, Acjl?» - «oxoT"K,
KOTopi,i# BopyeT ryceÉ, J"cHq M 3afiiieB», - 6bicTpo
cpe3K)MiipoBa7ia ee jiio6HMHiia, Bce MJiaj]eiHecTBo
ltopMHBIIlaflcfl 117Ial`HaTaMII. «3HaqHT - tte 3HaeTe? Ho
3aqeM Xe jl BaM TorHa "Tam?}> - <KMaMa! - 8 oTtla""
iipoxpimeJia ji, BHHfl, qTo oi]a yxe 3aKpbiBaeT KHi4ry c
CaMI,IM HellpeK7IOI]Hb" M3 CBOHX 7"1|. - q - 3Halo!>> -
«Hy?» - yxe 6e3 BcjiKori cTpac" cripocH7ia MaTi>, oH-
HaKo 3aK7IaHblBafl llpaBoíi pyKori 3axjlolll,IBaHHe KH14rH.
<<3e7ieHbiíz, 9To - der Teufel!» - «Xa-xa-xa!>> - 3axox-
oTan AmpK)ma, BHe3allHo pacllpflM7Ifljlcb H cpa3y HH-
I`I|e He yMelqaflcb. «X14-xH-xH!>> - yroHj"Bo 3a/IHjlacb
3a H" Acfl. «Heqel`o cMeflTbcfl, oHa llpaBa, - cyxo
ocTaHOBma MaTi,. -Ho iioqeMy xe der Teufel, a He...
MHoqeMy9TOBcerHaTi>iBce3Haeilib,KorHaflBceMTH-
Talo?!,>
-cantou Andriucha, com total prontidão. "Mm...", e ig-
norou-me de propósito, e eu jó estava querendo pular
no lugar onde estava, assím como as palavras em meus
lábios. "E você, Ássía?", perguntou mamãe. "É o caça-
dor que rouba os gansos, as lebres e as raposas", sen-
tenciou logo, resumindo, sua predileta, que alimentou
toda sua infância de plágios. "Significa que vocês tiõo
sabem? Para que eu vou ficar lendo isso para vocês, en-
tão?" "Mamãe!", gritei eu desacorçoada, com voz fraca,
vendo que ela já ia fechando o livro com uma daquelas
expressões inflexíveis que seu rosto era capaz de to-
mar. "Eu sei, mamãe!" "E aí?", perguntou mamãe sem
nenhum entusiasmo, mas mantendo marcada com a
mão direita a página. "0 Homem Verde é - der Tewjél!",17
disse eu. "Ah, ah, ah!", riu Andriucha, endireitando-se
de repente, todo desconjuntado. "Ih, ih, ih!", imitou-o
Ássia. "Não há nada para rir, ela está certa", disse ma-
mãe secamente. "Mas por que então der Teu/el, e não...
E por que é sempre você que sabe tudo quando eu leio
para todos?!"
CX)
17 Do alemão: "o diabo".
OT 3eJieHoro H «TacyeT», a oTqac" pi oT MaMi4HOH
ropHi4qHofí Ma" KpacHOBOH, Bce po"Bmeji H3 PyK:
rloj|HOcbl, CepBH3I>I, rpa¢14Hbl - H j|axe l|e7Iblx Cy;|aKOB
Ilo;| coycaMH! HHqero He yMeBmeJi F[epxaTb 8 pyltax,
KpoMe KapT, ji i( CeMH roHaM npiicTpac"7iacb K Kap-
TaM - Ho cTpac". He 1( Hrpe, - K HHM caMHM: Ko BceM
9THM 6e3Hori4M ii HByroJioBbiM, 6e3Ho"M H oHHOpy-
KHM, Ho o6paTHo-ro7ioBbiM, H oõpaTHo-pyKi", caM"
ceõe-o6paTHi.iM, caMMM oT ce6fl oTBopoTiibiM, caMi4M
ce6e H3Homi,iM H caMi4M c co6oio He3HaKOMbiM Bi.ico-
KoriocTaB/ieHHbiM J"iiaM 6e3 MecToxHTejibcTBa, Ho c
l|eJlblM IloHHaHCTBOM o;|HOMacTHblx TpoeK H qeTBepoK.
tlTo TyT 6biJio 8 Hi4x, iiJiH, KaK Acfl - i4MH i4rpaTb, Korzia
o" caMi4 Hrpa7", caMH H 6i>i]m - Hrpa: caMHx c co6oK)
H caMHx 8 ce6fl. 9To õi,iiio iie7ioe xHBoe HeqejioBeqe-
cKoe no-rlojlcHoe nJleMjl, cTpamHo-87IacTHoe H He Co-
BceM flo6poe, 6e3HeTHoe H 6e3HeHHoe, He "ByHiee
HHrHe, KaK Ha CTOJie i4" 3a iiiHTKOM Jla[ioHH, iio TorHa
H 3aTo - c KaKoÍí cHJiofi! qTo 8 HloxHHe - HBeHaHI|aTb
Por causa do Homem Verde e por "misturar" as
cartas do baralho, um pouco também pela cozinheira
de mamãe, Macha Krasnóvaia - que deixava cair tudo o
que tinha nas mãos: bandejas, serviços de louça, jarros
e até pratos inteiros de peixe em conserva!, não con-
seguia segurar nada nas mãos, a não ser as cartas do
baralho -, eu, aos sete anos, me apaixonei pelas cartas
-perdidamente. Não pelojogo, mas pelas cartas em si:
por todas aquelas personagens sem pernas e com duas
cabeças, sem pernas e com um braço só, mas com as
cabeças viradas ao contrárío, os braços ao contrário,
i.las próprias viradas ao contrário, reviradas sobre si
mesmas, rebatidas sobre si mesmas, ignaras de si mes-
mas, fidalgas sem moradia, mas com um séquito inteiro
di. três e quatro do mesmo naípe. 0 que havia nelas,
püra quejogar cartas, ou -como Ássia -para quejogar
ctirh as cartas, quando elas mesmasjogavam, elas mes-
mas eram o jogo, delas consigo mesmas e delas em si
mi`smas? Era uma tribo inteirinha de meias pessoas não
humanas viventes, muito poderosas, e não propriamen-
t.` benévolas, sem filhos e sem avós, morando em lugar
i`t`iihum, como sobre a mesa ou além do biombo dos
(l..{Jos, mas -justamente por isso - com quanta força!
j"I|, 9TOMy Me" y`"j" - roHI,I, HO qTO 8 KaxçnoH Ma-
cTH - TP14I]a[|I|aTI. KapT H qTo Tplma;|I|aTb - qepTOBa
ziioxHHa - c 3Toro 6bi Me" He c6H7" ziaxe 8 CaMOM
COHHOM CHe. o, KaK Cpa3y fl, TaK Me;|7IeHHO ycBaHBaB-
mafl qeTbipe iipaBiiJia - ycBOHJia tieTbipe MacTH! KaK
C iiepBoro pa3a ji, H0 Cero HHH He yBepeHHaH B 3Haqe-
HMH HeenplHacTHjl H, Boo6II|e, Ha3HaqeH14H rpaMMa-
THKH, yc80117Ia 3HayeHHe Ka7KHori KapTbl: Bce 9" ]|0-
Porll, j|eHI,", C117IeTH14, BecTH, X7IOIIOTbl, MapbjlxHI,Ie
]|e7Ia H Ka3eHHI>Ie ]|oMa - 3HaqeHHe KapTbl H Ha3Haqe-
HHe KapT. Ho 6oTibiiie Bcero, F[axe 6o7ibue 6y6HOBoro
HexeHaToro Kopo7Ifl, Moero xeHHxa qepe3 HeBjlTb JleT,
iiaxe 6oJii>me iii4KOBoro KopoJiji, - rpo3Horo, TaHHo-
ro, - JlecHoro l|apji, KaK ji ero 3Ba/ia, ;iax(e 6oJii]me
tiepBOHHoro Ba7ieTa cepiiiia H 6y6HOBoro BaJieTa Ho-
Por H BecTeH (HaM fl, Boo6iiie, He jiioõii7ia, y Bcex y HHx
6bl7" 37II,Ie, X07IO;|Hble r7Ia3a, KOTOPI,IMH 0" MeHjl, KaK
3HaKOMI,Ie HaMbl - Molo MaTb, cy;|117m), 6o/lI,IIle Bcex
KOP07IeH H Ba7IeTOB fl 71106Hjla - IllIKOBI,Iri Ty3!
Ili4KOBi,iri Ty3 y Maim 6i,i7i y;iap, H yHap - 6bLn,
yHap 3aHeceHHblM qepHblM BBepx I`7IjlHjlll|HM cepH-
iieM KOHiia a7ie6apzii,i - 8 cepfliie. IIHKOBi,iH Ty3 6bi7i
Que uma dúzia são doze ovos, os anos me ensinaram,
mas que cada naipe é de treze cartas e que o treze é a
dúzia do diabo, isso não tirarão de mim, nem me hip-
notizando. Oh, com qual rapidez eu - que tinha custa-
do tanto a aprender as quatro operações - me apro-
priei dos quatro naipes! Desde a primeira vez, eu, que
até hoje não tenhocerteza do significado do gerúndio
e, de uma maneira geral, de como usar a gramática, as-
similei o significado de cada carta: todos aqueles cami-
nhos, dinheiro, fofocas, notícias, cuidados, casamen-
tos, penalidades - o significado das cartas e o uso das
cartas. Mas quem mais que todos eu amava, até mesmo
mais que o solteiro rei de ouros - meu noivo dali a nove
®nos -, mais que o rei de espadas - tem'vel, misterioso -,
ti Rei do Bosque, como eu o chamava, mais que o valete de
i`tipas, do coração, e o valete de ouros, todo ele viagens e
ntiti'cias (das damas eu não gostava, tinham uns olhos ffios
c maus, elas me julgavam como julgavam mamãe umas
diimas, nossas conhecidas), mais que todos os reis e os
viili`tesjuntos eu amava o ás de espadas!
0 ás de espadas, para Macha, era um tiro e o tiro
•m disparado por um coração negro com a ponta de
iiim alabarda revirada -no coração. 0 ás de espadas
- qepT! PI Kor;]a Ta xe Mama, cHjlB Ilo7loxeHHI,Ie MHe,
6y6HOBori, H6o He3aMy>KIleíí, naMe Ha cepHI|e KapTbl 14
0TKpblBmH IIOcjleHHIOIO, Cep;|eqHylo, CaMa nyra7Iacb:
«AH-aíí-ari, MyceHbKa, ri/ioxoe TBoe ziej]o, a iiozi ca-
MblM H1430M-TO - yz|ap! Hy, H14qero, MOxeT, ell|e HMKTO
He noMpeT - Zia KOMy H noMi4paTi.? He;iyiiiKa - iioMep-
JIH, cTaporo 6o7II>me y Hac H14Koro - 3HaqHT, MaMallla
3apyraeT Mj" OnjlTb C rycTblBallHOÍz nol|epellll,Cjl», - jl,
co BceM iipeBOcxoHCTBOM 3HaHHji, co Bcefi iierioi(oJie-
6HMocTbK) TaHHbi: «9To He y;iap, - a - cei(PeT>>. yHap
6bl7] - rlpHBeT. yF|ap no MHe npHBeTa. ynap llo MHe pa-
j]oc" H cTpaxa: jiio6BH. TaK ji, HecKo7ii,Ko JieT criycTji,
8 reHy3BCKOM Hep", HeqajlHHo 3aBHl|eB 143 oKHa ro-
cTHHHiii,i «Beau-Rivage» H Hanpa87ijiioiiierocfl K iieH:
8 Heü 3aToqeHHblM HaM c Acefi - peBojlml|HOHepa
cra - o Diabo! E, quando a Macha pôs as cartas para
mim, descobrindo, na posição do coração, a dama de
ouros (porque eu era solteira) e abrindo a última car-
ta do amor, ela assustou-se: "Ai, ai, ai, Mússenka, que
i`oisa ruim, que golpe baixo te espera, bem no fim!
Mas nada, nada, pode ser que não morra ninguém -
úe fato, quem deveria morrer? Teus avós já morreram,
não há nenhum outro velho - isso quer dizer que a
mamãe vai brigar com você ou que você brigará de
novo com Augusta lvánovna". E eu, com toda a supe-
rioridade de meu saber, com toda a firmeza do mis-
tério: "Não se trata de golpe, mas - de um segredo".
0 golpe era um cumprimento. De um cumprimento
que eu fazia. 0 golpe para mim era de felicidade e de
medo: de amor. Assim eu, alguns anos mais tarde, na
cldade de Nervi, perto de Gênova, olhando por acaso
pela janela do hotel Beau-Rivage e vendo que estava
chegando o "Tigre",18 o revolucionário, bem ali, aonde
18 Apelido de Vladisláv Kobyliánski (i876-igi9), revolucionário
russo emigrado na ltália que mantinha uma relação amorosa com
• mãe da menina Marina, Maria Mein (1868-1906), que estava em
Ncrvi tentando curar-se da tuberculose.
«"rpa», 14Cnyra7Iacb OT Pa;|OC" - TaK, qTO mBeril|ap-
cKafl 6a6ymKa, i4cnyraHHo: «Mais, qu'as-tu donc? Tu es
toute blanche! Mais, qu'as-tu donc vu?». jl, BHyTPH pTa:
«Lui».
Ha, Ty3 6i,i7i - Lui. OH, cryc"Bi"ricji Ho qepHo-
TI,I 14 COKpa"BII"ricH HO K]114Hlta. oH, C06PaBII"ficfl
8 yHap, KaK THrp - 8 Ilpl,IXoK. Ilo3xe H 3Toro CTa7Io
MHoro, iio3xe yHap c cepHHa, Ha i(oTopoM 7iexa7i, iie-
Pellle7I - 8 cepHI|e. M3HyTpl4 Me" - mejl, To7IKaH ~ Ha
Bce JleJla.
Ho 6bi7i y Meiiji, KpoMe iiHKOBoro Ty3a, eiiie oHHH
KapToqHI,I# oH, H Ha 9TOT Pa3 He OT PyccKori Mall", a
oT ;iepnTCKOH ABrycTbi MBaHOBHi,i, HenocpeHCTBeHHo
c ero 6apoHCKori poHHHbl, H y)Ke He raHaH14e, a 14rpa,
eu e Assia estávamos presas,]9 me assustei de alegria,
tanto que minha avó suíça me perguntou, espanta-
da: "Mats qu'6Ls-tu dotic? Tu es towte blanche! Mats,
qtt'as-tu donc Üu?".2° E eu, à flor dos lábios: "Lt4t".2i
Sim, o ás era - Lttt. Que havia se tornado espesso
até ficar preto e que havia se afinado até ficar lâmina.
Ele, que se preparava para o tiro como um tigre se
prepara para o salto. Depois isso também virou bem
mais, depois o tiro do coração, sobre o qualjazia, pas-
sou - ao coração. Saiu de dentro de mim, impelindo-
-me à ação.
Mas eu tinha outro Luó de papel, além do ás
de espadas, e - dessa vez - nada tinha a ver com
s russa Macha, nem com a estoniana Augusta lvá-
novna, vinda diretamente de sua pátria de barões,
e não se tratava de nenhuma adivinhação do fu-
turo, mas de um jogo, um jogo para crianças, co-
19 Trata-se da Pensão Russa, em Nervi, perto de Gênova, onde a
mãe e as duas meninas, Marina e a irmã Anastassia (Ássia), estavam
hospedadas em 1902.
20 Do francês: "Mas, afinal, o que você tem? Você está tão pálida!
0 que você viu, afinal?".
21 Do francês: "Ele".
o6II|eH3BecTHafl Z|eTCKaH Hrpa C HeMHo)KI(o ®aMlr
7ibjipHbiM Ha3BaHHeM «Der schwarze Peter)>.
Mrpa cocTojijia 8 TOM, qTo6bi c6biTb HpyroMy c pyK
nHKOBoro Ba7leTa: iiiBapI|ero iieTepa, KaK 8 CTapHHy
Coce;|y - r`OpjlqKy, a ell|e 14 HblHqe - HacMOPK: 71epe-
@cmb: Harpa;|HB, H36a814TI,cjl. CHaqa7Ia, Kor;|a KapT 14
nhecidíssimo, que tinha o nome meio familiar de Der
S chu)arze Peter.22
Parajogar era preciso passar para o outrojogador o
valete de espadas: o schtt)arze Peter, como antigamente
se passava ao vizinho a febre e ainda hoje se passa o
resfriado: trcmsmtttr: passando desse jeito você se livra
dele. No começo, quando as cartas e osjogadores eram
22 Do alemão: "o Pedro Preto". Ojogo infantil der schujarze Peter -
tal como é chamado na Alemanha - existe, na verdade, em muitos
países e pode serjogado com número variável de jogadores (até 20),
e com pequenas variantes mundo afora. (No Japão chama-se baba-
-nukt, na lnglatemi Okl ?'míd, na ltália As£no, e assim por diante.) As
cartas usadas por Marina são de um baralho normal de 52 cartas,
dito "francês". No começo do jogo, quem dá as cartas (o crupiê) es-
colhe uma do baralho e a esconde, sem que ninguém a veja. Quando
o jogo começa, todo jogador, após ter recebido as cartas que lhe ca-
liem até se exaurir o baralho, descarta os pares de cartas (dois reis,
tlois cinco, etc.) que tem m mão, jogando-os na mesa. Quem ficar
t`om o maior número de cartas na mão começa a jogar, tirando uma
(`arta (sem olhá-la) das mãos dojogador à sua esquerda: se esta fizer
par, descarta a ambas. 0 jogo continua com o jogador à sua direita,
r assim sucessivamente, até restar uma única carta sem par. Quem a
i x)ssui toma-se der scl"7arze Peter. No caso de Marina, der schu7arze
i'eter é sempre o valete de espadas. Nesse caso, no começo do jogo
tj crupiê descarta um dos outros três valetes, de modo que o valete
tle espadas não possa fazer par. 0 mais esperto, no jogo, é quem
t`onsegue ficar sem o tal valete ou. tendo-o recebido, fazer com que
Íilguém mais o pegue. Daí as expressões de alegria ou de tristeza
Íingidas (para engamr os parceiros) às quais Marina se refere.
Hrpaioiiii4x 6i,i7io MHoro, HHKaKOH Hrpi]i, co6cTBeHHo,
Ile 6I,17Io, Bcfl oHa cBOHH7Iacb K KpyroBoÍÍ MaHHIly7Ijl-
I|HH KapToqHI]IM BeepoM - H lleTepoM, Ho Korl|a, 8 Ilo-
cTeneHHoc" cyl|I,6I,I H c7Iyqajl, cTo7I oT Hrpaloll|Hx 11
Hrpaloll|lle oT qepHoro lleTepa - oqHII|ajlHcb, H oCTa-
BaJiocb - HBoe, - o, TorHa Hrpa T07ibKo H Hat"HaJiacb,
H6o TorHa Bce ;|e7Io 6bl7Io 8 7ml]e, 8 cTelle" TBepl|oKa-
MeHHoC" ero. IIpe)KHe Bcero, 9TO 6biJia HHCI|iiiiJ"Ha
HbixaHHji: He j|PorHyB BbiHecTH Ka)KHoe PemeHiie - M
IlepepellleHHe - To cxBaTblBamll|eH, To cnoxBaTblBalo-
IHeficjl, H BHOBb npoMa"Baloll|ericfl, 14 BHOBl, onoMH-
Haioii]eHcji iiapTHepoBoffi pyi(H. J]e7io 6epyiiiero 6bi7io
- We 83jiTi., HaK)iiiero - cHaTi>. Bepyiiiero - iiotiyjiTb,
;]atoiiiero - c6biTb, C6HTb zipyroro c BepHoro qyTbji,
BHyll"Tb BceM CBol¢M H3oJlraBmHMcfl Cyll|ecTBOM -
||pyroe: t]To tlepHoe- KpacHoe, a KpacHoe - tlepHoe:
IIIBapI|ero lleTepa z|epxaTI, C HeBIIHHocTm mecTepKH
6y6eH.
o,KaKaflqyz|ecHajl,MarHqecltajl,6ecTe7IecHaflHrpa:
I|ymH - C /|ymoK>, PyKH - C PyltoIO, 7IHI|a - C 7"I|OM,
Bcero - To7ibKo He i(apTi,i c KapTOH. M, KOHetiHo, 8 3TOH
muitos, praticamente ainda não haviajogo, tudo se re-
duzia a uma manipulação circular do leque de cartas
e do Peter; mas, quando, graças à intervenção da sor-
te e do acaso, a mesa ia definhando de jogadores e os
jogadores - do Peter Preto - acabavam sendo apenas
dois, oh, então ai' que se começava ajogar, isso porque,
naquele momento, tudo se concentrava no rosto, no
grau de sua impassibilidade. Em primeiro lugar, trata-
va-se de saber respírar com disciplina: tomar qualquer
decisão sem pestanejar - ou qualquer indecisão -, ora
pronto a pegar, ora a perceber. ora a largar, ora de novo
® lembrar a mão do parceiro. 0 objetivo de quem pe-
gava a carta era mõo pegá-la e de quem a passava de se
llvrar dela. Pegar com faro, passar a carta como quem
le livra de um peso, driblar o faro do outro, enganar
outro com toda a sua própria essência mentirosa: o
ue é preto é vermelho, o que é vermelho é preto: se-
rar na mão o Peter Preto com a mesma inocência de
uem segura um seis de ouros.
Oh, que jogo milagroso, mágico, incorpóreo: de
ma alma com outra alma, de uma mão com outra
ão, de um rosto com outro rosto - só não de uma
arta com outra carta. E, naturalmente, eu, que desde
14rpe fl, c MJlaz|eHqecTBa BocllHTaHHaH r7IOTaTb PacKa-
7IeHHI,Ie yrj" TaíiHI,I, 8 9Tori 14rpe MacTepoM 6bl7Ia - jl.
He 6yziy roBopi4Tb To, qero He 6biJio, i46o Bcji iie7ib
H iieHHocTb 9"x 3anHceH 8 Hx To)KHecTBeHHoC"
6blBIIleMy, 8 To)KZ|ecTBe Toro, Ilpl43Halocb, CTpaHHoro,
Ho 6bi6ue3o pe6eHKa -caMOMy ce6e. IlpocTo 6bi/io 6bi
cKa3aTb H ecTecTBeHHo 6bl7Io 6bl MHe noBepHTI,, qTo H
Moero t]epHoro HeTepa cocejiy coBceM He iioiicoBi.i-
Ba7Ia, a, Hao6opoT, - oTCTaHBa7Ia. HeT! fl 8 9Toü Hrpe
oKa3a7Iacb ero HacTOHII|eH Hotlepblo, To ecTb cTpacTb
HrpI,I, TO ecTb - TariHbl, OKa3blBa7IHcb 80 MHe C14jll,HeH
cTpac" 7iio6Bi4. 9To 6bua eiiie pa3 Moji c HiiM TaHHa,
H HHKor;|a, MoxeT 6blTb, oH TaK He qyBCTBOBaJI Me"
cBoeü, KaK KorHa H ero TaK xHTpocTHo H 6J"CTaTejib~
Ho - ciiaBa7ia - c6i,iBa7ia, eiiie pa3 Moio c Hi4M TaíãHy -
cKpblBa7Ia, 14, MoxeT 6blTb, r7laBHoe, - ell|e pa3 yMe7Ia
o6oHTHcb - Haxe 6e3 Hero. tlTo6bi Bce cKa3aTi,: i4rpa 8
schwarze Peter 6bi7ia To xe caMoe, qTo BCTpeqa c Tari-
Ho H xapKo 7lloõHMblM - Ha 7Ilol|jlx: qeM xojloHHee -
TeM ropjiqee, qeM Ha7ii,me - TeM 67"xe, qeM qy)KHee -
TeM "oee, qeM HecTepr"Mee -TeM 6jiaxeiiHee. Bezii>
a infância havia sido acostumada a engolir os carvões
ardentes do mistério, nesse jogo era mestra.
Não vou falar daquilo que não aconteceu, pois a
única finalidade, o único valor desses escritos está em
sua identidade com o passado, na coincidência consigo
mesma daquela menina, reconheço-o, esquisita, mas
que exéstú. Seria fácil dizer e seria natural para mim
acreditar que não empurrava para meu vizinho o Peter
Preto que eu tinha, mas que - pelo contrário - eu o
defendia até o fim. Não! Nesse jogo eu me revelei real-
mente como a verdadeira filha dele, ou seja: a paixão do
jogo, isto é, do mistério, revelou-se em mim mais forte
do que a paixão do amor. Tratava-se, mais uma vez, de
um segredo nosso, e quem sabe ele nunca tenha me
sentido tão sua como quando o passava - quando me
livrava dele -, astuta e lúcida, e, mais uma vez, escondia
o segredo de nós dois. Quem sabe seja isso o que mais
lmporta: uma vez maís eu conseguia me virar mesmo
Bi.m ele. Enfim, para não esconder nada: jogar schu)ar-
ze Peter era como encontrar o amado em segredo, no
meio da multidão: quanto mais você fica frio, mais você
Ürde, quanto mais longe, tanto mais perto, quanto mais
l ndiferente, tanto mais meu, quanto mais insuportável,
Korzia Acj], H AHzipioiHa, i4 Mama, H ABrycTa MBaHOBHa
- H" KOTopblx 3TO BXO;|147IO 8 Hrpy - C rl4KaHbeM H
TI,IKaHI,eM 8 xHBOT, Kalt 6ecbl KPH87Ijljlcb 14 Hocjlcb Bo-
i(pyr MeHfl, opa7": «Schwarze Peter! Schwarze Peter!>>
- fl ;|axe oTblrpaTI,cfl He Mor/Ia: Ha)r(e oz|Hori xo" 6bl
y7Ibl6Koii H3 Bcefí 3ajmBaBmeri Me" TariHoji PaHOCTH.
3aHepxaHHi>ifi aq)q)eKT pazioc" 6poca7icfl 8 pyKi4. H
Hpa7iacb. Ho 3aTo - c Bi,icoTi,i KaKori y6e)KHeHHoc",
c KaKOH qepe3-Kpaü HaiioJiHeHHoCTbm ji, jioHpaBmHCI],
pomJia HM 8 BeceJii>ie Jiiiiia: «fl - Schwarze Peter, 3aTo
Bbl - Hy-pa-KH».
Ho TaK xe TpyHiio, ec" He eliie TpyHHeü, KaK He
llpocHjlTb JIHI|oM oT llIBapl|ero lleTepa, 6I>17Io He llo-
TeMHeTb J"I];oM, Korz|a 8 pyKe, BMecTo HaBepHoro ero
- BHpyr - iiiecTepi(a 6y6eH, iiapa K y)Ke HMeH)iiieízcfl,
yBOHjlll|aH MeHjl H3 14rpl>I H qepHblM lleTepoM ocTaB-
Jmioiiiaji - Hpyroro. M n7iflcaTb BOKpyr iiiBapiie-iie-
TPHHCKoÍÍ ABlycTI,I MBaHOBHbl c llpecTyllHblM14, 143j]e-
BaTe7IbcK14MH, Ilpez|aTe7IbcKHMH KPHKaMH: «Schwarze
Peter! Schwarze Peter!>> - 6i>i;io, MoxeT 6i]iTb, eiiie
6o7IbmllM reporicTBOM (117" yc7Ia;|ofi), qeM KaMeHHblM,
a 3aTeM H flepyiiii4Mcji cTo7i6oM cTojiTi, cpeziH 6ecHyio-
uHxcH «no6eHHTe7ieH>>.
tanto mais divino. Porque, quando Assia, e Andriucha,
e Macha, e Augusta lvánovna - para os quais isto fazia
parte do jogo - gritavam para mim entre urros e pipa-
rotes na barriga, fazendo caretas como diabretes e cor-
rendo ao meu redor: "Schu)cirze Peter! Schujarze Pete`r!",
eu não podia sequer rebater, conceder-me a satisfação
de um sorriso, por toda aquela alegria secreta que me
lnundava. 0 impulso de alegria retido desembocava nas
mãos. E eu combatia. Depois da luta, porém, era do alto
dc minha convicção, de minha plenitude ilimitada, que
", lutadora, jogava sobre seus rostos felizes: "Schu]orze
Peter sou eu, e vocês são uns to-los".
Mas tão ou mais difícil do que não fazer cara alegre
PorterderschujaTzepeternamãoeranãofazercaratriste
cm lugar do provável Peter, acontecia de eu receber -
c ri`pente - um seis de ouros que, com aquele que eu já
nhu, me eliminava do jogo e alguém mais ficava com 0
cr Preto. Dançar em volta da schujarze-peter Augusta
Vlntma - com os gritos culposos de denúncia, de trai-
i): "Schu)citze Peter! Schu)a7ze Peter!" - era, provavel-
®i`ie, ainda mais heroico (ou gozoso) do que pemane-
r l't!lto um poste de pedra, e ainda por cima litigiosa, no
lti dos `Vencedores" endiabrados.
MoxeT 6biTb, fl 3Ty i4rpy paccKa3aJia c7iHinKOM 6e-
cTeJiecHo? Ho tiTo TyT 6bi7io paccKa3biBaTi,! Be;ib iieH-
cTBHfl He 6bl7Io, Bcfl Hrpa 6bl7Ia BHyTpl4. 81,17" To7Iblto
xecTbi pyK, xecT c6pacbiBaeMofi KapTi.i, BaxcHOH To7ib-
Ko, KaK iiapa: TeM, qTo ee MoxHo 6i,iJio c6pocHTb. Be3
Ko3blpeH, 6e3 cTaBOK, 6e3 83HTOK, 6e3 (caMol]eHHoc")
KOP07Ieri, HaM, Ba7IeTOB, - Wflpm, C KO]IO;|Ojí, COCTofl-
IHeri To/II,Ko 143 oHHOH KapTI,I: Hero! - KOToporo Hy>KHo
6i,i7io c6i,iTi,. Mrpa He 83jiTb xoTjiiiiaji, a oTHaTb. 8 9Toíi
Hrpe, no ee 6ecii7ioTHoc" ii cTpamHocTH, HeHCTBH-
TeJibHo 6biJio tiTo-To aHOBo, aHHOBo. y6eraHHe pyK oT
6pa2a. TaK ;ipyr Hpyry, 8 a;iy, cMejicb H Tpjicjicb, c6i,i-
BaloT ropjlll|HH yro7II,.
CMbic7i 9Tofl Hrpi>i -r7iy6oK. Bce KapTbi -iiapHbii`,
OH oziHH - ofli4H, H6o ero Hapa zio i4rpi>i - c6poii]c-
Ha. BcflKafl KapTa iio7ixHa HaH" CBOK) napy H c Hcjt
yri", IIPOCTO - Cori" CO CI|eHI,I, KaK Kpaca814Ha Hjm
aBaHTDPHCTKa, BI,IXOHflll|afl 3aMy>It, - CO CT07Ia Bcl`X
ell|e Bo3MoxHocTeH, BceMo)KHocT14, eF|HHo7114qHblx M ,
MoxeT 6blTI,,14cTopHqecKHx cyl|e6 -8 THxylo, HHKOMv
yxe He 7Ilo6onblTHylo, He Hy>KHylo 14 He cTpalllHylo c'l 11
Seráqueconteiessejogodeumjeitopordemaisima-
icrial? Mas o que havia para contar? Não havia ação, era
umjogo totalmente interior. Havia apenas os movimentos
das mãos, o gesto de descartar uma carta, que só era im-
portante se formava par com outra:justamente por isso
você podia descartá-la. Sem tripúdíos, sem apostas, sem
mnhos, sem (o valor de) reis, damas, valetes, sem cflrtfls,
Mi`t`nas com um maço feito só de uma carta: dek3! - que
•mprecisopassaradiante.Umjogoquenãoqueriapegar,
mw dar. Nesse jogo, por sua imaterialidade e estranheza,
Iiwla de fato algo de infemal, de Hades. As mãos fogem
ún (ntmtgo. Assim, no infemo, rindo e estremecendo, um
im para o outro o tição ardente.
0 significado desse jogo é profundo. Todas as car-
Íormam um par. Apenas ele é sozinho - ele está só
`ir o par dele é desfeito antes do jogo. Cada car-
!om {iue achar seu par e depois é descartada, sim-
i`t`nic sai de cena, como uma bela moça ou uma
lui.t`lra que vai se casar, sai da mesa de todas as
i iit )ssibilidades, da onipotencialidade, dos desti-
|iiulvlduais e quem sabe históricos, e passa a fazer
do umt)ntoado silencioso, que não atiça a curio-
1® ili! nlnguém e não serve para amedrontar mais
rly OTblrpaHHblx - napHI,IX KapT. iipeHoCTa87IjlH eMy -
Becb CT07I, ero - CBoeri el|HHCTBeHHOCTH.
Eii]e oHHHM BHHOM Moero HHTi4MHoro o6iiieHMH c
lleTepoM 6bl7la Hrpa «qepT-tlepT, rlol4rpaía Ha oTHaíí!»,
Mr`Pa - T07IbKO OT C7IOBa «noHrpafi>>, eMy - 14rpa, a 80-
Bce He llpocHTe7IIo, 3aBeTHylo Bell|I> KOToporo: rlallHHbl
- OqKH, MaM14HO - K07II,I|O, Mon - IlepoqHHHblri HOX,
oH - 3ai4rpaji. <<HHKaK He HHaqe, KaK qepT 3aHec! Hpi4-
BjlxH, MyceHbKa, 117IaToqeK K CTyjloBori HOXKe 14 TPH
Pa3a, Ha TaK - 6e3 Cepiiiia, 7iacKOBo: „qepT-qepT, noH-
rpari iia oTqaH, tiepT-qepT, noHrpafi F[a oT;iaH..."
cTjlHy"Íi y37IOM IuaTOK KOHI|aMH TOpqa7I, KaK flBa
pora, MaJloJleTHjlfl xe llpocHTeJII]H14I|a coMHaM6y7"-
qecKH iiiJiH7iacb iio orpoMHoÍí, jiBHo iiycTofi 3aJie, Hi4-
`Iero He Hua H Bo BceM noJloxacb H To7II>Ko rlpHroBa-
pHBaH: «tlepT-qepT, nol4rpaíí ;|a oTHari... qepT-HepT...>>
M - oTz|aBa7I, KaK pyKoÍÍ no;|aBa7I: c qHCToro lloF|3ep-
Ka7IbHMKa, r;]e T07II,KO qTO H CT07IbKO 6e3Hane]KHblx H
0qeBiiHHbix Pa3 He õbi/io HHqero, Hj" npocTo c7iyqaH-
nenhum dos pares de cartas eliminados. Concedendo a
ele a mesa toda, a ele - à unicidade dele próprio.
Outro aspecto de minha relação íntima com Peter
era a brincadeira: "Diabo-diabo, divirta-se e devolva!".23
Era uma brincadeira só por causa da palavra "divirta-
-se"; era uma brincadeira para ele, mas decerto não para
aquele que pedia para devolver as coisas com as quais
ele se divertia: os óculos de papai, o anel de mamãe, meu
canivete, e ele se entregava ao jogo. "Mas onde diabo
foram parar? Mússenka, amarre o lenço na perna da
cadeira e repita três vezes, mas docemente, assim, sem
sentimento: `Diabo-diabo, divirta-se e devolva..."
0 lenço amarrado despontava com as duas extre-
midades feito chifres, a pessoinha que era eu que pe-
dia para achar as coisas vagueava feito sonâmbula pela
grande sala evidentemente vazia, sem procurar nada,
só confiando, e apenas repetia: "Diabo-diabo, divirta-
-se e devolva! Diabo-diabo...". E ele tornava a dar, quase
estendida, a mão: da cristaleira esvaziada, onde pouco
antes e inúmeras outras vezes, infrutíferas e patentes,
nada havia; ou, simplesmente, como por acaso, uma
23 Adágio russo usado quando se perde alguma coisa, no espírito
de``SãoLonguinho,SãoLonguinho,seeuachar...,doutrêspulinhosn.
Ho pyKy 8 KapMaH - TaM! He roBopfl y)Ke o TOM, qTo
rlalle rlporla)Ky oH Bo3Bpall|a7I HenocpeHCTBeHHo Ha
Hoc, a MaMe - Ha rlaJlel|, HellpeMeHHo Ha TOT.
Ho lloqeMy xe tlepT He oTz|aBajl, KorHa noTepflHo
6bi7io Ha y"iie? A Ho" He 6bi}io, qTo6i,i npHBji3aTb! He
i( ¢oHapHOMy xe cTOJi6y! J]py"e npi4Bji3biBa7" KyF[a
rioiia7io (H, o, y)Kac! Acfl oHHaxHi,i, 3aToponjicb, Haxe
K Ko3I,efi Ho)KKe 6Hz|e!), y MeHjl xe 6I,17Io Moe 3aBeTHoe
MecTo, 3aBeTHoe Kpec7Io... Ho He HaHo llpo Kpec7Io, H6o
Bce npe]iMeTbi Hamero TpexnpyziHoro HOMa - 3aBOHjiT
HaJlél(o!
c BOHBOpeH14eM 8 I|OMe llap14XaHK14 A7II,q)OHCHHI>I
HHxoH «tlepT-tiepT, iioi4rpaH» yHJ"HiiJicfl Ha iieJibiH
KaTojlmecKHH Be)K7mBI,Iri oTpocTOK: «Saint-Antoine
de Padoue, trouvez-moi ce que j'ai perdu», tiTo 8 KOH-
TeKCTe j|aBa7Io HeqTo Hexopomee, H6o llocJle TpeTbero
qepTa, 6e3 3amiTofi H Haxe 6e3 rjioTaTejibHoro HBi4xe-
HHji, KaK iipiiiiajiHHi,iH: «Saint-Antoine de Padoue...>>
M Mou Bell|H Haxo;|H7I, KOHeqHo, tlepT, a He AHTOH14H.
(Hjl", c noHo3peH14eM: «AHTo-oH? CBjl-To-ori? Ha To
mão no bolso e pimba! Sem falar do fato de que ao papai
devolvia a coisa perdida diretamente no nariz e à ma-
mãe no dedo - infalivelmente ali onde estavam antes.
Mas por que o Diabo não devolvia a coisa perdida
tiuando a perdíamos na rua? Ora, porque não havia ne-
nhuma pema de madeim pam dar o nó! Como se poderia
tJar nó no poste de um lampião! Os outros davam nó em
tiualquerlugar(equehorror!Ássia,umavez,porestarcom
i)ressa, chegou a dar o nó num pé de cabra do bidê!). Eu, ao
contrário, tinha meu lugar secreto, uma poltrona secreta„.
mas de nada adianta falar da poltrona: todos os objetos de
nossa casa nos Três ljagos nos levariam longe!
Com a instalação em nossa casa da parisiense Al-
l.onsine Dijon, o "Diabo-diabo, divirta-se" alongou-se,
num inteiro broto católico delicado: "ScitTit-Antotne de
l'Ítdoue, trouüez-mot ce que j'cLt perdw",24 que no contex-
iti soava meio mal, porque, depois do terceiro "diabo-
-diabo", vinha sem vírgulas e mesmo sem tomar fôle-
m como que uma solda: "Sat7tt-Antotme de Padoue...".
Quem achava mtnhas coisas era - obviamente - o Dia-
ho, e não Antônio. (A babá, desconfiada: "An-tô-nio?
;'.4 Do francês: "Santo Antônio de pádua, encontre para mim o que
l,erdi".
H 4)paHiiy3HHKa, tiTo6 8 TaKoe He7io cBflToi`o MemaTi,!»)
M Zio CHx iiop He npoH3Hoiiiy TBoero cBjiToro, AHTOHHH
llaHyaHCKi4Íí, HMeHH, 6e3 Toro, t]To6i.i cpa3y 8 rjia3ax:
TopqoK 6ecoBCKoro ii7iaTKa, a 8 ymax - co6cTBeHHoe,
TaKoe ycrloK014TejlbHoe, TaKoe ycIIOKoeHHoe - ToqHO
yxe Bce HamJia, qTo Korzia-J"6o eue iioTepHio! - BoP-
KOBaHMe: «tlepT-qepT, nol4rpaH ;|a oTHaH, qepT-HepT„.»
oHHOH BeuH MHe LlepT HHKor`I|a He oT;|ajl - MeHfl.
Ho He BaJiepHHHbi Ko3HH. He MaTepi4HCMÍI «Kap-
6yHKyJi». He Maii"H i(apTex. He ocT3eücKaji Hrpa. Bce
9To 6I,17lo To7II,Ko - c7Iy>K6a cBfl3eü. C tlepTOM y Me"
6bl7Ia cBojl, npjlMajl, oTpo)KfleHHafl cBfl3b, IlpjlMori
lIPoBOF|. oHHHM H3 IlepBI,Ix TafiHblx y)KacoB H y3Kac-
HI,Ix TariH Moero z|eTCTBa (M7Iane"ecTBa) 6bl]Io: <<Bor
- qepT!>> Bor - c 6e3Mo7iBHbiM Mo7iHHeHocHbiM HeH3-
MeHHI,IM Ho6a87IeH14eM - qepT. M 3z|ecb yxe BajlepHjl
6biJia " iipH qeM - Ha H KTo ripH qeM? M 8 KaKHx 3To
- i(Hiirax H iia Kai(i4x 9To - KapTax? 9To 6biJia - fl, Bo
MHe, tieH-To ;]ap MHe - 8 Ko7ii,i6ejib. «Bor - tlepT, Bor
0 san-to? Tinha que ser uma francesa para meter um
santo nesse assunto!".) Até hoje não pronuncio o seu
santo nome, Antônio de Pádua, sem ver imediatamente
diante de meus olhos os cotos do lenço diabólico e ter
nas orelhas meu arrulhar, tão tranquilizador, tão tran-
quilizado - como se eu já tivesse encontrado aquilo
que um dia terei perdido de novo!: "Diabo-diabo, divir-
ta-se e devolva, diabo-diabo...".
Uma coisa o Diabo nunca me devolveu - a mim
mesma.
Não se tratava das intrigas da Valéria. Nem do "car-
húnculo" da mamãe. Nem das cartas de Macha. Nem
tltj jogo do Báltico. Tudo isso não passava de admi-
iiistração ordinária. 0 que existia entre mim e o Dia-
ht> era uma ligação particular, pessoal, ancestral, um
Íiti direto. Um de meus primeiros medos secretos e
iltis terríveis segredos de criança (de minha infância)
cra: "Deus-Diabo!". Deus - com o acréscimo fulmíneo,
it`udo, incomensurável: Diabo! E com isso também Va-
lt'`ria nada tinha a ver -mas quem tinha algo a ver? E em
{iuais livros, em que cartas, afinal? Tratava-se de mim,
{l;i dádiva que recebi no berço. "Deus-Diabo, Deus-Dia-
- tlepT, Bor - tlepT>>,H TaK HecqeTHoe tiHCJio Pa3, Xo-
7IO;|efl OT KOH|yHCTBa 14 He MOxa OCTaH0814Tbcjl, IIOKa
He OCTaHOBHTcfl MI,IC7IeHHblri jl3blK. «HaH, rocHOHH,
qTo6i,i H He Mo7iHJiaci>: Bor - qepT>>, - ii KaK c iieiiH
copBaBmHcb, HopBaBii"ci>: «Bor - tlepT! Bor - qepT!
Bor -tlepT!» -H, o6paTHo, mecTI,IM HOMepoM raHOHa:
«tlepT - Bor! tlepT - Bor! tlepT - Bor!» - iio JiezijiHoÍI
K7iaBi4aType co6cTBeHHoro ciiHHiioro xpe6Ta H cTpaxa.
Me7Kziy BoroM H tlepTOM He 6i,i7io " Ma7ieÉmeü
ll|e7m - qT06bl BBec" 807110, HH Ma7Ierimero OTCTO-
jlHHjl, qToõbl yclleTb BBecTH, KaK na7Iel|, co3HaH14e H
3T14M rlpeHOTBpa"Tb 3Ty y)KacHylo cpall|eHHocTb. Bor,
H3 KOTOporo Bbl7IeTa7I qepT, qepT, KOTOpblri Bpe3a7Icfl
8 <<Bor», KOHeqHoe r (x) KOToporo y)Ke 6i,ijio - q. (0,
ec7" 61,1 jl Torz|a j|ora||ajlacb, BMecBTo Koll|yHCTBeH-
Horo «Bor - t]epT>> - «Hor - qepT>>, oT cKOJibKHx 6ec-
rio7ie3Hbix Tep3aHi4Íl ji 6bi7ia 6bi H36aBJieHa!) 0, BoxHe
HaKa3aH14e H Tep3aH14e, TbMa ErHrleTCKafl!
bo, Deus-Diabo", e assim inúmeras vezes, enregelada
pelo sacrilégio, e sem poder parar até que não parasse
a língua mental. "Permita, Deus, que eu não reze: Deus-
-Diabo", e, como desvencilhada de correntes, esfolhan-
do-me, atingindo o almejado: "Deus-Diabo! Deus-Dia-
bo!" e, ao contrário, como o número seis do Hanon:25
"Diabo-Deus! Diabo-Deus! Diabo~Deus!", sobre o tecla-
do gelado de minha espinha dorsal e do medo.
Entre Deus e Diabo não havia a menor fissura para
levar para dentro a vontade, nem o menor interstício
para fazer entrar, como um dedo, a consciência e, com
lsso, prevenir essa terrível fusão. Deus, do qual levan-
iava voo o Diabo, o Diabo que se enganchava em "Bog",
em que o g üh)26 final já soava como tch.27 (Oh, se eu
adivinhasse, então, que em lugar do sacn'lego "Deus-
-Diabo" se tratava, na verdade, de "Dog-Diabo",28 de
quantos inúteis tomentos eu teria sido poupada!) Oh,
castigo e tormento divino, trevas egípcias!
Z5 Trata-se do exercício Hanon n°6 para piano.
26 "Deus", em russo, é Bog (pronuncia-se bokh).
27 De tchort, "diabo" em russo.
28 Dog (pronuncia-se dok) é o termo russo que designa o cão
•lao, um dogue, e ao mesmo tempo é uma quase homofonia de Bog,
"Deus" em russo.
A - MoxeT 6i,iTi, - iipoiiie, MoxeT 6i,iTi,, oTpo)KHeH-
HaH n03TOBa CorlocTaBHTe7lI,HaH - npoTHBOIIOCTa814-
Te7IbHafl - CTpacTb - H CK7laH, Ta Xe Hrpa, 8 KOTOpylo
H 8 HeTCTBe TaK 7IK16Híla HrpaTI,: qepHoro H 6ejloro He
noKynariTe, F[a H HeT He roBopHTe, To7IbKo Hao6opoT:
TOJii>i(O zia - HeT, qepHoe - õe7ioe, H - Bce, Bor - qepT.
Korzia fl, oHHHHaiiiia" JieT, 8 Jlo3aHHe, Ha cBoefl
llepBoÍí 14 eF|14HCTBeHHofí HacTojlll|eíI HcnoBeflH pac-
cKasa7ia o6 3TOM KaToj"qeci(oMy cBjiiiieHHHi(y - He-
BHflHMOMy H TaK IIOTOM 14 He y814z|eHHOMy - oH, Bep-
Heü TOT, 3a qepHOH pellleTKoÍZ, Te tlepHble r7Ia3a H3-3a
qepHOH peiiieTKH cKa3a7" MHe:
- Mais, petite Slave, c'est une des plus banales
tentations du Démon! - 3a6biBafl, qTo eMy-To, TepTOMy
H MaTepoMy, - «banale», a MHe - KaKOBo?
Ho Ho BTOH IlepBOH HcnoBe;|14 - 8 `Iy>Kori l|epKBH,
8 tlyx(ori cTpaHe, Ha qyxoM jl3I,IKe - 6bl7Ia nepBaH npa-
BOC7IaBHajl, qecTI, qecTblo, CeM117IeTHflfl, 8 MOCKOBCKori
yHHBepcHTeTCKori l|epKBH, y 3HaKOMoro CBjlll|el]HHKa
OTHa, «npoõeccopa aKaiieMMi4».
Mas pode ser - mais simplesmente -, quem sabe,
a paixão congênita que o poeta tem de comparar, de
querer opor, sua obsessão por antepor, semelhan-
te àquele jogo que eu tanto gostava de jogar quando
criança: não comprar preto e branco, não falar sim e
não, mas apenas os contrários, apenas sim-não, preto-
-branco, eu-todos, Deus~Diabo.
Quando, aos onze anos, em Lausanne, em minha pri-
meira e única confissão sincera, contei isso a um padre
católico, invisi'vel e depois também não mais visto, ele, ou
melhor, aquele que estava atrás da grade preta, ou aque-
les olhos pretos atrás da grade preta me disseram:
- "M6ris, petite Sküe, c'est me des plus bamks te"tci-
tions dw Démon!'29 - esquecendo que "bfl7iak" ela podia
pareceraele,inveteradoegasto,masparamim,eraoquê?
Mas, antes dessa primeira confissão - numa igre-
ja estrangeira, num pai's estrangeiro, numa língua es-
trangeira -, houve uma primeira ortodoxa, conforme
• regra, quando eu tinha sete anos, na capela da Uni-
versidade de Moscou, com um padre amigo de papai e
"professor da academia".
29 Do francês: "Mas, pequena eslava, essa é uma das mais banais
tcntações do Demo!".
<<A 9TOT py6Jib Ti>i iiocJie HciioBeziH oTHamb 6a-
TiomKe.„» y Me" 8 xH3" 8 pyKe He 6bi7io py6", "
cBoero, m qyxoro, a ec" Ha 6eHHyio Me;iHyK) oHHy
KoneííKy F[aioT y ByxTeeBa HBa HPMca, To cKo7ibKo xe
Ha cepe6pjlHblH py67Ib? M He To7IbKo HPHcoB, a KHH-
xeK, BpoHe «AKcloTKa-HjlHbKa» H7" «Ma7IeHI,KHri 6a-
pa6aHiiii4K}> (2 i(on.). M 9To Bcê, i4 HPHcbi M AKCK>TOK, H,
3a CBOK] Xe HenpHjlTHOCTb C rpexaMH, C yTaHKori rpe-
XOB - H60 He Mory Xe H PaccKa3I,lBaTb llalll4HOMy lIPH-
Í"tlHOMy 3HaKOMOMy 14 3aBeHOMo pacnoJloxeHHOMy
Ko MHe aKa-He-Mi4-Ky, qTo ji roBopm «Bor - tlepT»? M
qTo xo)Ky K Ba7IepH14 8 KOMHaTy Ha CBHl|aH14e K ro7IOMy
zioI`y? M tlTo, Kor;ia-"6yzii„ Ha 9TOM roJioM ;iore -TOM
r7IaBHOM yToll7IeHHHKe - xeHlocI>? - MTaK, 3a cBolo xe
cMepTHylo onacHocTb, a MoxeT 6I,ITb, Ha3Ke - cMepTb
(<<OHHa HeBoqKa Ha i4ciioBeF[H yTaHJia rpex H Ha HpyroH
HeHb, KorHa rl0F[XoHi4Jia K iipHqacTHio, yna7ia MepT-
Bafl„.>>), ||oJIXHa oTflaTb -Cpa3y Bce, caMa no7IoxHTI> 8
pyKy «aKa-zie-MH-Ky>>?!
x07IOZ|Hblji HOBI,IH Kpyr7IblH, KaK Hy7Ib - 1107IHblri,
py67II, KaK 3y6aMM Bpe3a7lcfl oTTot]eHHblM cBOHM Kpa-
"Eesterublovocêvaidá-loaopadre,depoisdaconfis-
são..." Eujamais tivera em mãos um mblo em minha vida,
nem meu nem de ninguém, e, se davam duas balas ao lei-
te, no Bukhtéiev, por um copeque de cobre, o que eu não
teria podido comprar com um rublo de prata? Não apenas
balas, mas livrinhos, do tipo Aksiútka, a bcibd ou 0 pequetio
tocadoi. de tcmbo7€° (2 copeques). E tudo isso, balas e Ak-
slútkas, eu o trocava pelo incômodo dos meus pecados,
pelo ocultamento dos pecados - isso porque não podia
decerto contar ao amigo ilustre de papai e respeitável
•-ca-dê-mi-co bem-disposto para comigo que eu dizia
"Deus-Diabo", não é? E que eu ia ao quarto de Valéria para
encontrar um dog alão nu! E que, mais cedo ou mais tar-
de, com este alão nu - o chefe dos afogados - eu iria me
Casar! E assim, pelo perigo mortal que me ameaçava, ou
quem sabe a própria morte ("uma menina, durante a con-
fissão, escondeu um pecado e no dia seguinte, quando ia
comungar,caiumorta...'),eutinhaqueentregarlogotudo,
colocá-lo eu mesma nas mãos do "aca-dê-mi-co"?!
Frio, novo, redondo feito um zero - cheio, o rublo
como que com os dentes aflmdava sua borda afiada na
30 Conto de Klávdia Lukachévitch (1859-1931).
eM 8 pyKy, CxaTyK> Z|7Ijl BepHOC" 8 Ky7IaK, H jl BCIO HC-
rloBe;|I, KaK HoraM14 IlpocTojl7Ia Ha o;|HOM - He j|aM! H
;]a7Ia TorlbKo 8 noc7IeHHK)Io ceKyHHy, coBceM y)Ke yHHH,
C BeJ"qaííll"M yc14J"eM H Hac14J"eM, 14 BOBce He llo-
TOMy qTo - ii7ioxo, a i43 cTpaxa: a B;ipyr 6aTmiiiKa noro-
HHTcfl 3a MHori qepe3 BCIO I|epKOBb? Heqero roBOPHTI,,
qTo MHe, 3aHjlTori py67IeM, H 8 ro7IOBy He llpl4m7Io oc-
BeF[oM14Tb 6a"lmKy o Mol4x qepHI,Ix, cepl,Ix ;|e7Iax. Ba-
TioiiiKa cnpaiimBa7i - fl oTBeqaúia. A oTKyHa eMy 6blJio
3HaTb, uTo mcl7{oe Hy)KHo cllpocHTb: «He roBoPHIIII, j"
Tbi, Haiipi4Mep, Bor - qepT?>>
9Toi.o He Cnpoci47i, ciipocHji -;ipyroe. IlepBbiM ero
BonpocoM, iiepBi>iM BonpocoM MoeH HciioBeHH 6biJio:
«Ti.i qepTbixaemi>cji?>> He noHjiB i4 cH7ibHo yji3BJieHHafl
8 CBoeM CaM07lIOõ" IIP113HaHHO yMHOÍÍ ;|eBotlKH, jl,
He 6e3 3aiiocqHBocTH: «Z|a, BcerHa». - «AÍZ-aíí-aH, KaK
cTblHHo! - cKa3a7I 6aTlolllKa, co6o7Ie3Hyloll|e Kaqafl ro-
7ioBOH. - A eiiie jiotii, TaKi4x xopomHx 6oro6oji3HeHiii,ixpoHHTe7Ieíi. BeF[b 3To To7II.Ko MajlbqHIIIKH - Ha y7"-
Ile...>>
C7ierKa 06eciioKoeHHaH 83flTbiM Ha ce6H Heii3-
BecTHbiM rpexoM, a oTqac" H3 7iKi6oiibiTCTBa: qTo BTo
minha mão, fechada em punho, para maior segurança, e
eu, durante todo o tempo da confissão, fiquei fime na
decisão, como nas pemas: não entregarei! Mas apenas
no último segundo aceitei dá-lo, quando já estava à saída,
com enome esfor.ço e resistência, e de foma alguma por
estar mal, mas por medo: e se de repente o padre dá de
meperseguirpelaigrejatoda?Nãoéprecisodizerque,to-
mada que estava pela ideia do rublo, nem me passou pela
cabeça revelar ao padre meus negócios pretos, cinza... 0
padre perguntava - eu respondia. Como ele podia saber
de ter de perguntar aq'rilo: "Por acaso você não costuma
dizer, por exemplo, Deus-Diabo?".
Isso ele não perguntou, perguntou - outra coisa.
Sua primeira pergunta, a primeira pergunta de minha
confissão foi: "Você costuma vituperar?". Sem enten-
der e bastante ferida em meu amor-próprio de menina
sabidamente inteligente, eu, não sem arrogância, res-
pondi: "Sim, sempre". "Ai, ai, ai, que vergonha!", disse o
padre sacudindo a cabeça condoído. "E ainda por cima
a filha de pais tão tementes a Deus. Isso é coisa apenas
de moleques de rua..."
Um pouco intranquila pelo pecado desconhecido
que eu havia me atribuído e em parte curiosa: o que
807Ioqjl, BMecTO <<C060P» roBOPHBI"ri «ycneHCKHri
3a6op» - i4 Mem noiipa87ijiBi"ri! BojioHH, 3aflBHBiimÉ
o6oxaBIIleH ero MaTepH, t]To jl, Kor;|a llpHe;|y K HeMy 8
BaplllaBy, 6yz|y xl4Tb 8 e3o KOMHaTe H cnaTb 8 e3o I(po-
BaTKe.
- Ho llpH qeM TyT qepT? Ax, Bce TaKoe - qepT: Taíí-
Hblri Xap.)
C6oe3o He lIpe;|aB 14 Bce rJlaBIIoe yTaHB, jl, ecTe-
cTBeHHo, Ha Hpyroja ;]eHi, 6e3 paHoc" - H He 6e3 po-
6oc" - iio;ixoHHJia i( npiiqacTHio, i46o cJioBo MaTepi4
14 COOTBeTCTByloH|ee 814F|eH14e: «oHHa F[eBoqKa Ha 14C-
IloBe;|H yTalI7Ia rpex» H T.H. - Bce ell|e cTofl7" y MeHjl
8 r7Ia3ax H 8 ylllax. J|o r7Iy6mbl fl, KOHeqHo, 8 TaKylo
cMepTb He BepH7Ia, H6o yMHpaloT oT j|14a6eTa, H oT cjle-
IloH KHmKH, H elHe, pa3, 8 Tapyce, My)KIIK - oT Mo7IHHH,
H ecJ" rpetiHeBafl Kama - xoTb 6i,i oF[Ha rpe"HKa! -
BMecTo gmo30 rop7Ia lIOIlaF|eT 8 To, H ec7" HacTyl"Tb
Ha ra;iK)Ky ...- oT ma%03o yMHpaioT, a He...
Ilo9TOMy, He ynaB, He yHHBH7Iacb, a 3al]HB Ten7Io-
Tori, 8 n07IHOíi COxpaHHOC" oTom7Ia lt CBOHM - H no-
TOM MeHjl Bce no3;|PaBJmJm - H MaTb rlo3z|PaBJlflJm «C
iipHqacTHHiieü>>. Ec7m 6i,i 3Ha" H ec7m 6bi MaTi, 3Ha-
em lugar de "catedral" falava "gatedral de Uspiénski" -
e corrigia a mtm! Volódia, que havia declarado à sua
adoradamamãeque,quandoeufosseaVarsóviavisitá-
-lo, ficaria em seu quarto e dormiria na sua cama.
- Mas, o que o diabo tem a ver com isso? Ah, tudo
isso é o diabo: desejo secreto.)
Sementregaroqueerameuecalandosobreascoi-
sas importantes, no dia seguinte, sem alegria - e não
Bem vergonha - fiz a comunhão, porque as palavras de
mamãe e a visão correspondente: "Uma menina que
escondeu um pecado quando foi se confessar" etc ...-
tudo ainda girava diante de meus olhos e de meus ou-
vidos. No fundo eu, naturalmente, não acreditava numa
morte dessas, porque se morre de diabetes, de intesti-
no cego, e ainda, uma vez, em Tarússia, um camponês,
por causa de um raio, e se a sopa de trigo-sarraceno
-mesmo apenas um grão de sarraceno! -, em lugar de
cairnagarganta,caifora,esesetransformaemvi'bora,
então dtsso se morre, e não...
Por isso, sem cair, sem me surpreender, mas bêba-
da de calor, em toda minha integridade, voltei para o
meu lugar - e depois todos me parabenizaram e cum-
primentaram mamãe pela "comungada". Se eles sou-
Jia - C KaKOH. Pa;ioc" iio3Hpa87ieHHjiM, KaK H 6eJioMy
nJlaTblo, KaK 14 nHpo)KKaM oT BapTe7Il,ca - H3-3a rloJI-
Hofí Bcero 3Toro He3ac7Iy>KeHHoc" - He 6I,I]Io. Ho H
PacKajlHHH He 6bl7IO. Bbljlo - OI|HHoqecTBO C TariHOH.
TO Xe OHHHoqecTBO C Bce TOíi Xe TariHori. TO Xe OZ|H-
HotlecTBo, KaK Bo BpeMjl 6ecKOHeqHI,Ix o6ez|eH 8 xo7Io-
Hi4JibHHKe xpaMa XpHCTa CnacHTeJiji, KorF[a ji, 3anpo-
KHHyB ro7IOBy 8 Kyllo7I Ha cTpamHoro Bora, jlBCTBeHHo
H HBoíicTBeHHo qyBCTBOBa7Ia H 814#ejla ce6fl - y2Ke
oTHeJijiioiiieHcji oT 6J"cTaTe7ii,Horo no7ia, y)Ke iipo7ie-
TaioiiieH - rpe6fl, KaK co6aKH n7iaBaioT - Ha;i caMi.iMH
rojloBaMH MOJlflll|Hxcfl H z|axce 14x - HoraM14, pyKaMH
- 3a;|eBafl - H HaJlbll[e, BI]Ime - cToíil(oM Tenepb! KaK
Pi>i6bi n7iaBaioT! - H BOT y)Ke B po3oBOH iiBeToqHofi
io6otiKe 6aJiepi4Hi.i - iio;] caMi.iM KynojioM - iiopxaKi.
- tlyj]O! tlyHO! - KPHqi4T Hapozi. fl xe y7ii]i6aflcb
- KaK Te 6apbim" 8 Cnfliiieíi Kpaca"i]e - 8 iio7iHOM
co3HaHHH CBoero rlpeBocxo]|cTBa H He;|ocjlraeMo-
c" - BeHI, z|axce ropoHOBori MrHaTheB He ;|ocTaHeT!
hessem e se mamãe soubesse que espécie de comun-
gada! Não me alegrava com os parabéns, com o vestido
branco, com as tortinhas no Bartels,32 por não mere-
cer absolutamente nada disso. Mas também não sentia
nenhum remorso. Sentia-me sozinha com o segredo.
Aquela mesma solidão sempre com o mesmo segre-
do. A mesma solidão do tempo das missas sem-fim na
geladeira do templo de Cristo Salvador, quando eu,
levantando a cabeça para a cúpula, para um Deus as-
sustador, sentia-me distintamente duplicada e via-me
já separada do chão brilhante, já voando e remando,
como nadam os cachorros - já acima das próprias ca-
beças dos fiéis e mesmo as tocando com os pés, com
as mãos, e mais acima, no alto, verticalmente, agora!
Como nadam os peixes! - e eis que esvoaço com minha
saia florida cor-de-rosa de bailarina, até embaixo da
cúpula.
- Milagre! Milagre! - grita o povo. Eu sorrio, como
Bs daminhas da Bela Adormecida, em plena consciên-
cia de minha superioridade inalcançável - porque nem
mesmo o guarda lgnátiev conseguirá! Porque nem
32 Confeitaria de Moscou.
BeHb Haxe yHiiBepci4TeTCKi4ÍÍ rieiie7ii, He 3a6epeT! -
oHHa - H3 Bcex, oHHa - HaH BceMII, coBceM pflz|oM c
TeM cTpamHblM BoroM, 8 MaxpoBori po3oBoíi lo6oqKe
- IIOpxalo.
qTo, MHe o6 9TOM Toxe Hy)KHo 6I,17Io paccKa3blBaTb
«aKaHeMHKy>>?
ECTb oHHo: ero qacTo - HeT, Ho KorHa oH0 ecTi>,
oHo, flKo6hi BTopi4qHoe, cHJibHee Bcero HepBHqHoro:
CTpaxa, cTpac" H Ha)Ke cMepTH: mat{m. IlyraTb 6a-
TlomKy tlepTOM, CMelllHTb flol`oM H oropoll"mTb 6aJle-
pHHoü õbljlo He-npH7"qHo. HenpH7ImHo xe, z|" 6a-
TlomKM, Bce, uTo Henp14BI,IqHo. Ha HCIloBe;|H fl ;|o7IXHa
6blTb t¢aH 6ce .
Hpyrafl Xe iioJioBHHa TaKTa - xaJiocTi.. He 3HaK)
noqeMy, Ho, BonpeKII HX cTpamHoCTH, cBflll|eHHHKH
MHe BcerHa Ka3aJiHcb HeMHo)KKo - HeTH. TaK xe, KaK
M fleHylliKH. Kai( HeT" (H" Heziymi(e) paccKa3biBaTb -
r`aHocTH? M7" cTpamHoc"?
KpoMe Toro, KaK MHe 6bljlo paccKa3I>IBaTb o ttejw,
roBOpHTi. o HeM Ott, KorHa H7iji MeHfl oH 6i>i7i mo i¢ mbt.
roBopHTi. o HeM ttepm, KorHa H]iji Me" oH 6bi7i Mbima-
TI,IÍÍ: mbl, HMfl HacT07IbKO COKPOBeHHoe, qTO jl H O;|Ha
mesmo o bedel da universidade me alcançará! Eu so-
zinha, no meio de todos, sozinha sobre todos, bem ao
lado daquele Deus terrível, esvoaço com minha saia
cor-de-rosa de moletom.
0 quê? será que disso também tinha que falar com
o "acadêmico"?
Há só uma coisa, uma coisa que não aparece fre-
quentemente, mas, quando aparece, mesmo que se-
cundária, é mais forte do que a primária: do que o
medo, a paixão e até a morte: o tcito. Assustar o reve-
rendo com o diabo, fazê-lo rir com o dogue, enton-
tecê-lo com a bailarina - era indecoroso. Indecoroso
era ~ para o padre - tudo o que não era habitual. Na
comunhão eu devia ser como todos.
A outra metade do tato é a piedade. Não sei por
quê, mas, a despeito de sua estranheza, os padres sem-
pre parecem um pouco - crianças. Ou avôs, também.
Como é possível contar porcarias às crianças (ouao
vovô)? Ou coisas tem'veis?
À parte isso, como eu teria podido contar-lhe dele,
falar-lhe dele, quando, para mim, ele era flqwele e tu.
Falar dele, dtcibo, quando para mim ele era o "Mychóty":
ttt, uma palavra tão oculta que eu não a pronunciava
He llpoll3HoC14Jla ero Bc7Iyx, a To7IbKo 8 nocTeJ" HJ" Ha
no7ime, iiieiioTOM: «MbiiiiaTi,m!» 3ByK c7ioBa «Mi,ima-
TblH» 6bl7I caM IHel]oT Moeíí 7Ilo6BH K HeMy. He-IIleno-
TOM 9To c7IOBo He cylHecTBOBa7Io. 3BaTe7II,Hbm llal|ex
7iio6BH, flpy"x naiiexeíí He HMemiiieri.
BeHb ecj" fl o Teõe ceriqac i"iiiy ow, To Bezib 3To
lloTOMy qTo H o me6e nHIIly, lle Te6e! 8 9TOM Bcfl 7Ioxb
Jiio6oBHoro paccKa3a. Jlio6oBb Hei43MeHHo BTopoe
J"Ho, pacTBopHioiiiee - Ha>Ke iiepBoe. Ow ecTb o6T,eK-
THBH3aiiHji 7iio6HMoro, To, qei`o HeT. M6o Hi4KaKoro ow
Mi>i HHKor;ia He 7iio6HM H He 7iio6iiJm 6bi; TOJibKo m",
- BOCKTIHI|aTe7IbHblri 63ôOX!
M - BHe3aiiHoe npo3peHHe - iio-HacTojiH]eMy,
;io HHa ;iymH iicnoBeHOBaTbcH - Bo BceM Te6e Bo MHe
(H" jicHoCTH: Bo BceM «rpexe» TBoero iipHcyTCTmfl Bo
MHe) -Bo sceü Mtte -H 6i,i MorJia -TOJibKo Te6e!
...He TI,Ma -37Io, a TbMa - Hoqb. TbMa - Bce. TbMa
- TbMa. 8 TOM-To H z|e7Io, qTo H " 8 qeM He pacKaHBa-
IOcb. qTO 3TO -Moj] Poamfl TI,Ma!
aJ
HeT, co cBHiHeHHiiKaMi4 (Ha H c aKaHeMHKaMH!) y
Me" HHKorHa He 81,1111710. c llpaBOC7IaBHblMH CBjlll|ell-
em voz alta, mas só quando estava na cama ou deitada
num prado, num sussurro: "Mycháty!". 0 som da pa-
lavra "Mycháty" era o mesmo sussurro de meu amor
por ele. NÕo sussurrada esta palavra não existia. 0 caso
vocativo do amor que não conhece outros casos.
Porque, se agora escrevo de ti como ele, é porque
eu escrevo de tt, não a ti. Nisso está toda a mentira do
relato amoroso. 0 amor é, invariavelmente, um se-
gundo vulto, que dissolve até mesmo o primeiro. Ele
é a objetivação de quem se ama, daquele que não está.
Pois não há nenhum ele que amemos ou que possamos
amar; apenas um tu - um suspóro exclamativo!
E - visão repentina - na realidade, até no fundo da
alma, confessar - em todo o tu que há em mim (para
ser mais clara: em todo o "pecado" de tua presença em
mim), em mtm todtnha - eu poderia somente a ti!
...Não é a treva o mal, mas a treva - é a noite. A
treva é - tudo. A treva - é treva. É por isso que não me
arrependo de nada. Pois é mtnha querida treva 7ifltcLl!
CX,
Não, com os reverendos (e também com os acadêmi-
cos!) nunca deu certo, para mim. Com os padres ortodo-
HHKaMH, 3o7ioTbiMM H cepe6pflHi.iMH, xoJioflHbiMH KaK
7ie;i pac""fl -tuitcottet4 noziHocHMoro K ry6aM. rlep-
BblE TaKo# cTpax 6bl7I K cBoeMy poHHOMy +|e;|ylllKe,
oTl|oBy oTI|y, IIlyHCKOMy npoTOHepelo o. 87IaHHMHpy
l]BeTaeBy (iio yqe6"Ky CBflueHHoü iicTopHH KOToPo-
ro, KCTaTH, y"Jicji BaJibMOHT) - oqeHb cTapoMy yxe
cTapHKy, c 6ejioH 6opoEori HeMHoxito BeepoM H cTo-
jlqeji, 8 Kopo6oqKe, KyK7Iori 8 pyKax - 8 KOTopble q TaK
H IJe lIOIIIJla.
- BapblHj[! CBjlll|eHH14KH IlpH1117"! IlpHKaxeTe
npH"Tb?
M cpa3y - i(onoiiieHMe cepe6pa 8 JiaHOHH, iiepe-
7IHBaH14e Cepe6Pa H3 PyKH 8 PyKy, H3 PyKH 8 õyMaxKy:
CT07IbKO-TO õaTIOIIIKe, CT07Il,KO-TO HbqltoHy, CT07II]-
Ko-To HbjiqKy, cTOJibKo-To ripocBHPHe... He HaHo 6i.i
- ilpH ZieTjlx, Jmõo, TorHa y)K, He HaHo 6bi HaM, ;ieTjiM
cepe6Pj}ttoso BpeMeHH, iipo TPHHiiaTb cpe6pe"i(oB.
3BOH cepe6pa CJiHBaJicji Co 3BoiioM i(aziHJia, Jle;] ero c
JibHOM iiapqH H paci"THji, o6j]aKo Jia]iaHa c o67iai(oM
BHyTpeHilero HeHOMoraHMfl, H Bce 3TO Tjlxejlo 1107137]0
K noTo7IKy 6e7IOH, c 143Mopo3HI,IMH o6ojlMH, 3ajlbl, Ha
Hel]OHflTHO -XyTKHX IIOBe7IHTe7IbHI,IX 803r7Iacax:
- 87iarocJioBi4, BJiaHi.iKo!
-O-o-o...
XOS,douradoseprateados,ffioscomoogelodocrucifixo
fimlmente levado aos iábios. o primeiro medo dessa na-
tureza o tive com meu avô, o pai de papai, o arcipreste
deChuia,VladímirTsvetáiev(erncujomanualdeHistória
Sa8radaestudou,porsinai,Balrnont)-umanciãojámuito
Velho, com uma barba branca €m forma de leque e uma
boneca dentro de uma caixa que ele segurava nas mãos,
dasquaiseunãomeaproximariapornada.
-Senhora,chegaramospadres!Desejarecebê-los?
E logo este fomigar de pratas na palma da mão, a
Passagem da prata de uma mão para outra, da mão para
0 Papel: tanto do reverendo quanto do diácono, tanto do
Sacristão quanto da criada do padre... Não se deveria na
Presençadecrianças,ouentãonãoteriasidoprecísoque
nós, crianças do sécuio dk3 pritita, estivéssemos na pre-
Sença das trinta pratas. o som da prata flmdia-se com o
Som do tunbulo, o geio de|e cc)m o gelo do brocado e do
Crucifixo, a nuvem de inceriso com a nuvem do mal-estar
interior,etudoissosearrastavapesadamenteatéoforro
branco, com o papei de parede gelado, da sala, em in-
Compreensíveis exc|amações jocosas e imperiosas:
-Que Deus abençoe , Vladyko!
-0-o-o...
Bce 6biJio -o, H 3aJia - o, H noTOJioK - o, H Jia-
HaH -o, H Ka;|H7Io -o. H KorHa yxoHH7" cBflll|eHH14KH,
HIlqero OT HHX He OCTaBa7IOCI,, KPOMe lIOC/Ie;]Hero, 8
¢H7Ioj]eHF[poHax, o - 7Ial|aHa.
8" BocKpecHble c7Iy>K6bl j|7Ijl Me" 6blj" - Bori.
«CBjlll|eHH14K14 IlpH1117">> 3By`Iajlo coBepmeHHo KaK
«noKOÍíHHKII».
- Bapbl", IloKOHHHKI¢ npHIIljlH, - IlpHKaxteTe
npl4"Tb?
Hocpezii4He qepHbiH rpo6,
M r7iacHT iipo"xHo iioii:
By;|H 83jlT Morll-H7Ioíi!
BOT 9TOT-To qepHbm rpo6 cTOH7I y MeHjl 8 F[eTCTBe
3a Ka)Kj]biM cBjiiiieHHHKOM, THxo, i43-3a napt]oBOH Ci"-
Hbl, r7Ia3e/I H rp0314jl. r;|e CBjlll|eHHHK - TaM rp06. pa3
cBjiiiieHHHi( - TaK rpo6.
Ha H Tellepb, TPHHI];aTb c jlHIHHHM jleT cllycTjl, 3a
Ka)KpblM c7Iy)Kall|HM cBflll|eHH14KOM fl HeH3MeHHo 814)Icy
lloKOHH14Ka: 3a cTojlll|HM - jlexall|ero. M - To7Iblto 3a
Tudo era o, a sala também era o, o forro o, o incenso
o, o turibulo - o. E, quando os padres iam embora, nada
restava deles, a não ser o último o, entre os filodendros,
o o do incenso.
Esses serviços domingueiros para mim eram - um
grito. "Chegaram os padres!" soava exatamente como
"os defuntos".
- Senhora, chegaram os deftintos - deseja rece-
bê-los?
No meio do negro túmulo,
Recita o padre lúgubre:
Será tragado pelo túmuio!33
Eis que este obscuro túmulo ficou dentro de mim,
quando criança, no lugar de cada padre, silenciosa-
mente, atrás das costas do padre cobertas pelo broca~
do, espiando e ameaçando. Onde havia um padre - lá
havia um túmulo. Se há um padre, há um túmulo.
E agora que já se passaram mais de trinta anos,
atrás de cada padre, no serviço religioso, eu vejo um de-
fimto, inevitavelmente: atrás de um padre em pé, eu vejo
33 Versos de uma balada (Süetkina,1812) de Jukóvski.
iipaBocJiaBHi]iM. KaxHaH iipaBoc7iaBHaq CJiyxõa, KpoMe
eHHHCTBeHHori - Ilacxa7IbHofi, 6o7"tl4eü o BocKpece-
HMH M c BI,IcoTbl pa3BepcTblx He6ec oTpflcaloll|eíi Bcjl-
KHH npax, i(a*ziafl ripaBocJiaBHaji cJiy)K6a ipiq MeHji -
OTIleBaHHe.
qTo 61>1 HH ;|e}Ia7I c"II|eHHHK, MHe Bce KaxeTcjl,
qTo cBflH|eH1114K HaH mLm HaKJloHjleTcfl, ejwy Ka;]HT, H3o
Bcex cHjl yroBapHBaeT H Haxe - 3aroBapllBaeT: «Jlexll,
JiexH, a fl Te6e rionoK)...>> M7ipi: «Hy, 7iexH, 7ie", qero
yx TyT. „>> 3aK7"HaeT.
cBflll|eHHHKM MHe 8 HeTCTBe Bcerna Ka3a7IHcb
KOJIHyHaMH. XoHjlT H IloloT. XoHjlT H MaxamT. Xo-
HjlT H KOJiHyioT. OxaxHBaioT. OKypHBaioT. Owu, TaK
llbllllHO H MHoro O;|eTI,Ie, Ka3a7IHcb MHe He-HalllH-
MM], a He TOT, ci(poMiio - H cepo-roJiiiiÉ, Ziaxe 6eH-
Hbifi õi,i, ecT" 6bi He ocaHKa, Ha Kpaio Bajiep"HoÍí
KpoBaT14.
OT CBjiiueHHHKOB - cepe6pflHofi ropbi CiiHHbi
cBfliiieHHMKa -TOJibi(o 3aTeM ropi,i, qTo6bi ctcpt*mt.,
MHe H Bor Ka3a7Icfl CTpamHI,IM: CBflll|eHHHKOM,
TOJibi(o eH]e cTpamHeíí, cepe6pjiHOH ropofi: Apa-
paTOM. M TPM 6apaHa HeTCKoji citoporoBopKH -
<<Ha rope ApapaT TPM 6apaiia opa7iH» - KOHeqHo,
1 HapoHHoe Ha"eHOBa"e qepTa (mptuteq. M. Hoemae6oü).
um deftinto deitado.Isso apenas com os ortodoxos. Todo
ofi'cio religioso ortodoxo - a não ser um, o da Páscoa, que
tm)oca a ressurreição, e da altura dos céus escancarados
chacoalha os restos mortais -, todo ofício ortodoxo, para
mim, é uma missa de réquiem.
Qualquer coisa faça o padre, parece-me que se ajoe-
lha sobre eh3, queirna o incenso para ek3, o convence com
todas as forças - e mesmo chega a dizer: "Fique deitado,
fique deitado, eu vou lhe cantar alguma coisa...", ou então:
"Bem, fique deitado, fique deitado, eu agora...". Exorciza.
Quando criança, os padres sempre me parecemm feiti-
ceiros. Andando e üntando. Andando e mexendo com a mão.
Andando e enfeitiçando. Seduzindo. Fumegando. Eles, vesti-
dos com tanta pompa e luxo, pareciam-se com os "não nos-
sos",34enãocomele,díscretoecinza,comosefossepobre,se
nãotivessetidoaquehpostura,nabeimdacamadeVáléria.
Por causa dos padres, da montanha prateada das cos-
tas do padre - por isso as montanhas passaram a esconde?-
-, para mim Deus parecia terrível: como um padre, mas
mais assustador, um monte de prata: o Ararat. E os três bo-
des do trava-língua infantil: "No monte Ararat três bodes
34 [Nota do autor] Denomimção popular de diabo.
opa7" oT cTpaxa, oTToro, qTo ocTa7IHcb oHHH c
BoroM.
Bor zi" Me" 6i,iji - cTpax.
H14tlero, HHqero, KpoMe caMoia MepTBOH, xo7Io||HoÍí
I(alt jleH H 6e7Iori ltaK cHer cKyK14, fl 3a Bce Moe M}Ial|eH-
qecTBo 8 I|epKBH He oll|yTHjla. HHqero, KpoMe TocK"-
Boro xe7iaHHfl: KorHa xe i(oHt"Tcfl? H õe3Ha;iexHoro
co3HaHHji: HHKoriia. 9To 6i>i7io eiiie xy)Ke cHMq)o"qe-
cKHx KOHi]epTOB 8 BOJii.moM 3aJie KOHcepBaTopHH.
CX)
Bor 6bi7i - qyxoH, tlepT - poHHoii. Bor 6biJi - xo-
7ioH. qepT - xap. M HHKTo i43 HHx He 6biji Ho6p. M HH-
KTo - 3oJi. TOJii>Ko oHHoro ji Jiio6HJia, Hpyroro - HeT:
oHHoro 3HaJia, a Fipyroro - HeT. OHHH Me" Jiio6ii7i i4
3Ila7I, a Hpyrori - HeT. o;|Horo MHe - TacKaHbjlMH 8
I]epKOBb, CTojlHbjlMH 8 l|epK814, rlaHHKaH117IOM, oT CHa
8 I`7Ia3ax HBojlll|HMcfl: pacxoHflll|14Mcjl H BHOBI. cxoHjl-
II|HMcjl - AapoHaMH H SapaoHaMH - m BceH c7laBHH-
cKoÍí HeBHfl"I|eH, - HaBjl3blBa7", o;|Horo Me" - 3a-
Cma6JLmu, a HpyroH - CaM, H iiHKTo He 3HaJi.
CX,
berravam". Claro, eles bemvam de medo por terem ficado
sozinhos com Deus.
Deus, para mim era - medo.
Nada, nada, a não ser o tédio mais mortal, flio como
o gelo e branco como a neve, foi o que senti na igreja du-
rante toda a minha infância. Nada, a não ser um desejo
aborrecido: quando será que isso vai acabar? E a cons-
ciência desesperada: nunca. Isso era ainda pior do que os
concertos sinfônicos na Gmnde Sala do Conservatório.
0,
Deus era estranho, o Diabo familiar. Deus era ffio, o
Diabo quente. E nenhum deles era bom. E ninguém - mau.
Apenas um deles eu amava e conhecia, já o outro - não.
Um deles amava-me e conhecia-me, o outro - não. Um
deles me era imposto - com visitas à igrçja, estadas na
igreja, com o lustre que se duplicava, pelo sono, diante de
meusolhos:eleseseparavaedenovosejuntava-Aaronse
Faraós e toda a ladainha eslava -, um deles me e`m tmposto,
já o outro -existia por conta própria e ninguém sabia.
CO
Ho aHre7ioB fl - 7iio6H7ia: oHHoro, ro7iy6oro, Ha
xapKo-3ojioTori, npjiMo - ropjiiiieH 6yMare, npjiMo -
Tpell|aBIIleri oT cz[epxHBaeMoro orHjl. XapKOH ell|e H
oT MOHx nocToflHHblx, BcerHa BCK14IlaBIIIHx H TaK Pezr
Ko llepeKHnaBII"x, o6paTHo - BKllrlaBmHx, o;|HIloKo
BbiKHiiaBiiii4x CJie3 Ha neqHOM pyMjiHiie iiieK. H eiiie
oHHoi`o, 3eMJmHHqiloro, Toxe HeMeiiKoro, c paci(pa-
iiieHHOH KapTHHi(H K HeMeiiKOMy cTHxoTBopeHHio «Der
Engel und der Grobian». (IloMm) cJioBo: «im rothen
Erdbeer8uss» -8 KpacHOM 3eM7iHHHqHOM noTOKe...)
oflHH Ma7lbqHI( co614pa7I Ha llo7IjlHKe 3eM7IjlHHKy.
BÍ|Pyr BHHHT - nepeH HHM CTOHT FipyroH Ma7ibtiHK,
To7ii,Ko 6o7ibiiioíí H Beci> 8 6ejioM H c ipiHHHbi" Ky-
+]PjlMH, i(ai( y z|eBoqKH, a Ha Kyl|PHX - 30]IOTori ltpyr.
«3Z|PaBCTByri, MaJII>t"K, Z|ari H MHe 3eM7IjlH14KH!>> -
«BOT eH|e Bbl;|yMa7I! - IlepBI,Iri, c qeTBepeHeK H F|a)Ke
He cHHB manKH („iückt auch sein Kãpplein nicht"), -
caM co614pari, H Boo6H|e y614paricH - 3To Mojl llo7IflH-
Ka!» M onjiTb - HocoM 8 KopM. M Biipyr - myM. TaK Jiec
Porém os anjos, eu os amava: havia um, azul, num
papel de ouro quente, quase queimando, como o cre~
pitar de um fogo contido. Quente, inclusive, por mi-
nhas lágrimas de então, que apareciam sempre e só
raramente eram derramadas, mas - ao contrário - se
aqueciam e evaporavam, solitárias, no rubro da estufa
de minhas faces. E havia outro, o dos morangos, igual-
mente alemão, na ilustração colorida do poema ale-
mão "Der E7igel und der Grobún".35 (Recordo a frase:
"tm rothen Erdbeergwss" - "numa torrente vermelho-
-morango...".)
Um menino está colhendo morangos num cam-
po. De repente ele vê diante de si outro menino, mas
maior do que ele e todo vestido de branco, com lon-
gos cachos como as meninas, e sobre esses cachos um
aro dourado. "Olá, menino, dê a mim também os mo-
rangos!" "Que ideia é essa?!" 0 primeiro responde, de
quatro, sem sequer tirar seu chapéu ("rückt awch sei7t
Kóppletn 7iicht"), "colhe-os sozinho, e desaparece da-
qui, este campo é meu!". E, de novo, abaixa-se para co-
mer. Mas, de repente, um estalo. 0 bosque não faz esse
35 Do alemão: "O anjo e o malcriado".
He lllyMMT. iioz|I,IMaeT r7Ia3a: a Majll,qHI{ yxe HaH rio-
7ijiHKOH... «MH/ib" aHre7i! -KPHqHT HeBexa, cpbiBafl c
ce6H Ko7IIlatloK, - BepHHcb! BepHHcb! Bo3I,MH Bce MOH
jiroiibi!» Ho - iio3ziHo. BOT itpaH ero 6e7ioíz oHexçHi>i
yxe Han 6epe3aMH, BOT y)Ke BbllHe - y>K H caMoü 81,1-
coKOH 6epe3e pyKOH He HocTaTb, caMori ;i"HHOH i43
C8014X PyK... o6Xopa, ynaB 7IIII|OM 8 3/IOcqacTHylo 3eM-
7"HHKy - IIJlaqeT, H IIJlatly C HHM - CaMa 3eMJljlHHqHaj]
o6xopa H HeBexa - ji.
MHol`o fl c Tex nop BH;|aJla 3eMJljlHmHHblx llo7IflHOK
H m oHHoÍí, tiTo6i,i 3a KpaeM HeiipeMeHHofi 6epe3i.i
He yBHHeTi> Toro 6e3Bo3BpaTHoro Kpafl oiie)K;ibi, H He-
MaJlo pa3, c Tex llop, 3eMJljlHHKy - e7Ia, H HH oz|HOÊ
jiroHbi 8 poT He K7ia7ia 6e3 cxa"q cepHiia. Haxe cJio-
Bo Grobian H" Me" HaBcerHa oCTaJiocb aHreJibcKHM.
M HHKaKi4e AflaM H EBa c ji6JioKOM H Haxe co 3MeeM
TaK Bo MHe F[o6pa He iipeHpeii"Jm, KaK Ma7ib"K - c
]|Py"M Ma7IbqHKOM, noMeHbllll4ri C n0607Ibll"M, I`aH-
KHri - C XOPOIIIHM, 3eM7IjlHHqHI,IH - C 3a067IaqHI,IM. M
ecJm H iioTOM, BCK) xH3Hb, cTo7ibKHx «Grobian'>>oB - Ha
1107IjlHKax H 8 KOMHaTax - BHZ|e7Ia aHre7IaMH, Z|eMOHa-
MH, He6oxi¢Te7i"H, To, MoxeT 6biTb, OT pa3 HaBcerHa
ruído. Ergue os olhos: aquele outro merino já está acima
do campo... "Anjo querido!", grita o malcriado, arrancando
o boné de sua cabeça. "Volte! Volte! Pegue todos os meus
morangos!" Mas - é tarde. A orla de sua roupa branca já
está acima das bétulas, eis que ele está ainda mais alto,
já não dá para ser tocado pela bétula maís alta, nem pelo
mais comprido de seus braços„. 0 guloso, com o rosto
caído nos desventurados morangos, chora, e eu choro
com ele - eu mesma gulosa de morangos e malcriada.
Desde aquele tempo eu vi muitos campos de moran-
gos e - não poucas vezes - sucedeu de eu ver aquela orla
de roupa fugaz além da borda de uma inevitável bétula, e
nem uma vez, desde então, levei à boca um morango sem
sentir apertar meu coração. Mesmo a palavra Gobrifl;n fi-
cou sempre angelical, para mim. E nenhum Adão ou Eva,
com maçã e serpente,jamais determinou meu conceito de
bem, assim como o menino com aquele outro menino, o
menor com o maior, o ruim com o bonzinho, o terrestre36
com o etéreo. E, se depois, por toda a minha vida, eu vi tan-
tosGobrians,noscamposenosquartos,comoanjos,como
demônios, como habitantes celestes, quem sabe tenha
36 Zemltan{tch~yL no origiml, que se refere à momngo, vem de
zemlúriba, cuja raiz (zemJbritsa)diz de fiutos que vivem rente a tem.
MeHji TorF[a oxermero CTpaxa: He6ecHoro He iipHHjiTi]
3a 3eMHoro.
BeqepaM14, cHaqa7Ia HecKOHqaeMo-KpacHblMH, Ilo-
TOM HecKOHtlaeMO-TepHblM14, -Talt 1103flHO -KpacHbl-
MM! TaK paHo - qepHblMH! - MaTb H Ba7Iepl4jl, ]IeTOM -
OKOKi, oceHi>io 6oJibiiiofi HoporoH, cHaqa7ia 6epe3oBoÍí,
noTOM 6o"titttom, 8 ;iBa ro7ioca - iie7ii4. 9" HBe Bpaxc-
||yK)Il|Hx np14poHbl CXo]|H7"cb TojlbKo 8 IleHHH, He oHH
CXoHHJIHCI. - 14x roJloca: HerpoMKoe, cMyll|aloll|eecfl
6blTb 6o7IbmHM KOHTpajll,To MaTepH c llpeBI,IIIlaloll|HM
co6cTBeHHbie Bo3MoxHoC" Ba7iep"HbiM coiipaHo.
Kein Feuer, keine Kohle
Kann brennen so heiss,
Als wie heimliche Liebe
Von der niemand was weiss...
OT 9THx cJioB: Feuer - Kohle - heiss - heimlich -
(orolll> -yro7Ib - )KapKo - TaízHo) - y Me" Ilo-HacTojl-
sido por causa do medo que então me queimou para
sempre: o de tomar o celeste pelo terrestre.
Nas tardes, no começo infinitamente vermelhas,
depois infinitamente negras - ainda tão vermelhas!
já - tão negras! No Oká durante o verão, na estrada
principal durante o outono, no começo estrada das
bétulas, depois estrada princtpol, minha mãe e Valéria
cantavam a duas vozes. Essas duas naturezas incom-
patíveis se juntavam apenas no canto, não eram elas
que se juntavam, eram suas vozes: o contralto de mi-
nha mãe, comedido, com medo de ser grande, e o so-
prano de Valéria, elevando-se acima de suas próprias
possibilidades:
Ketn Fe"er, ketne Kohle,
Katm bremem so hetss,
Als u)íe he{mLiche Ltebe
Von der riemand ujas ujeéss...37
Por causa dessas palavras: Fetter, Kohle, hetss,
heímltch ("fogo", "carvão", "quente", "secreto"),
37 Do alemão: "Nenhum fogo, nenhum carvão/Pode tão forte
queimar,/Como um amor secreto/De que ninguém tem noção.„".
ll|eMy HaqHHaTlcfl rloxap 8 rpyHM, TotlHo fl 3T14 CJloBa He
CJlylllam, a r7IOTalo, ropjlll|14e yrj" - rop7loM r7loTalo.
Keine Rose, keine Nelke
Kann blühen so schõn,
Als wenn zwei verliebte Seelen
Zu einander thun stehn.
TyT-To MeHji H cr7ia3HJiH: verliebte Seelen! Hy, tiTo
6bi - Herzen! M 6biTio 6bi Bce, itaK y Bcex. Ho HeT, qTo
8 MJlaz[eHqecTBe ycBoeHo - ycBoeHo pa3 HaBcerHa:
verliebte - 3Haql4T Seelen. A Seelen 3To Be;|b See (ocT-
3ericKafl «die See>> - Mope!) H eiiie - sehen (BHHeTb),
H ell|e - sich sehnen (TOMIITI,cjl, TocKOBaTb), H ell|e
- Sehnen (xHjlhl). M3 xH7I TOMHTI,cfl no KaKOMy-To
Moplo, KOToporo He BHHa7I, - BOT ;|yllla H BOT 7Ilo6oBb.
H HHKaKHe Rosen H Nelken He iioMoryT!
Korna xe iiecHfl HoxoF[HJia ;io:
começou-me, realmente, um incêndio no peito,
como se essas palavras eu não escutasse, mas as
engolisse, como se engolisse os carvões ardentes
goela abaixo.
Kettm Rose, ketne Nelke
Ka7tn blühen so schõm,
Als ujem zu)et ijerlóebte Seelen
ZU et7mmder thttn stehn.38
Aqui eu me encantava: Üerltebte Seele7i! Se estives-
se escrito Herzem,39 teria sido tudo como é para todos.
Mas, não, aquilo que se assimila em criança - é assimi-
lado para sempre: Üerltebte significa Seele". E Seelen é
See (o mar! - dte See báltico) e também sehen ("ver") e
sich sehnen ("enlanguescer-se", "ter saudade"). E ainda
Sehnen ("veias"). Enlanguescer nas veias por um mar
qualquerquevocênãoviu-eisaalma,eisoamor.Não
servem nem Rosen, nem Nelken!
E quando a canção chegava a:
38 Do alemão: "Nenhum cravo, nenhuma rosa/Podem tão belos
florir/Como duas almas amantes/uma da outra zelantes".
39 Do alemão: "Corações".
r Setze Du mir einen Spiegel````\InsHerzehinein..- fl ¢HPHqecKH qyBCTBOBa7Ia BxoHjlll|ee MHe 8
rpyz|b Ba7Iepl4HHO 3e7IeHoe BeHel|HaHCKoe 3epKa7IO 8
BeHiie 3y6qaToro xpycTaJiji - c nocTeiieHHocTm 3y6-
iioB: setze Herze - H 6e3iioHHbiM cepeHMHHbiM, oT
rl7ieqa Ho n7Ieqa 3a]"BaH)UHM H 3aH14MaloIl|HM MeHfl
3epKa7lbHI,IM OBa7loM: spiegei.
Koro HepxaJia MaTb 8 c6oeM 3epi(a7ie? Koro - Ba-
Jlep"? (oHHO JleTO, MOHx qeTblpex JleT, -o;|Horo: Toro,
KOMy 8 qeTblpe PyKH - Hrpa7" H 8 qeTI,Ipe Xe Pyltl4 -
BblmHBa7", KOMy H 0 KOM 8 HBa r07Ioca - ne7m...) ji?
- 3Halo Koro.
...Damit Du konnest sehen.
Wie so treu ich es mein,
- noflcHHTe7ibHo TjiHy7" M HBa)KHbi rioBTOpflJ" ne-
BHI|bl. m" 7IeT fl He 3Ha7Ia meinen (M"Tl,, r7Iar07I), HO
meín - Mori - 3Ha7Ia, H KTO MOü - TOxe 3Hajla, 14 ell|e
Setze Du mtr etnen Spóegel
hs Herze htnetn...40
- eu sentia fisicamente entrar em meu peito o espelho
verde veneziano de Valéria, na moldura de cristal
dentado, dente após dente: setze Herze - e com o oval
sem fundo no centro do espelho que me transpassava
de ombro a ombro e me transformava em: Sptegel.
Quem é que mamãe mantinha dentro de seu
espelho? E Valéria, quem? (Um único verão, o dos meus
quatro anos, uma única pessoa: aquela para quem
tocavam a quatro mãos e a quatro mãos costuravam,
aquela para quem ou sobre quem cantavam a duas
vozes...) Ett? - sei quem era.
...Damft Du ko7mest sehen.
Wte so treu ich es metn, 41
- arrastavam didaticamente e repetiam duas vezes as
cantoras. Aos cinco anos eu não conhecia met7ien (o
verbo "crer"), mas metn ~ "meu" - eu conhecia, e aqui-
lo que era meu também sabia, e ainda sabia o que era
40 Do alemão: "Põe-me um espelho/dentro do coração...".
41 Do alemão: "Assim tu podes ver./Quão fiel eu creio...".
Meyn (MeííH) 3HaJia - HeHyiiiKy A/ieKcaHzipa HaHHJii.i-
qa. oT 3TOH BK7IloqeHHoc" B IlecHm ;|eflymKa HeBo7II,-
Ho BK]]Ioqa7Icfl 8 TaHHy: MHe Bz|pyr HaqHHajlo lta3aTbcjl,
vTo HeHyiiiKa -mooüe.
C yxo;ioM ABrycTbi HBaHOBHbi (3To oHa 3aHecJia 8
HOM nec")) - To ecTb C KOHiioM MJiaHeHqecTBa, ceMi4-
jleTHeM, KOHqH7ICH 14 tiepT. 3PHTe7II,HO KOH"7Icfl, Ha
Ba+iepHi4Hoíi riocTe7" - KOHqHjicji. Ho HHKorHa ji, Ho
caMoro Moero oTi.e3fla i43 TpexiipyHHoro - 3aMy)K, He
BxoFiH7ia 8 Ba7iepHHHy KOMHaTy 6e3 6bicTporo i4 Koc-
BeHHoro, KaK TOT jlytl, 83r7MHa Ha KPoBaTb: TaM?
(z]oM ;iaBHO-O CHecell, OT KPOBa" H HOxelt HeT, a
TOT Bce-e CHnHT!)
A BOT ell|e Oj|Ha BCTpeqa, TaK CKa3aTI,, 3acKoql4B-
IHafl 3a MjlaHeHqecTBo: xa7IKo eMy 6I,17Io c TaKoÍÃ He-
BoqKO H paccTaBaTbcjl !
MHe 6bijio ;ieBflTi, 7ieT, y Me" 6i.iJio BocriaJieHi4e
7ierKHx, i4 6i,i7ia Bep6a.
«tlTo Te6e npHHecTH, Mycji, c Bep6bi?>> - MaTb, y)Ke
o;|eTafl K Bb]xoz|y, 8 HepoBHOM o6paM]Ie"H - HOBOH
Mey" (Metn),42 e conhecia o avô Aleksándr Danílytch.
Quanto a esta sua inclusão na canção, o vovô se fecha-
va involuntariamente no mistério: de repente comecei
a achar que o vovô - tombém e" ttm.
Com a partida de Augusta lvánovna (fora ela quem
trouxera a canção para nossa casa), ou seja, com o fim
da primeira infância, aos sete anos, terminou também
o Diabo. Terminou visivelmente na cama de Valéria -
terminou. Mas, desde que parti de Três Lagos - para
casar -, se alguma vez entrei no quarto de Valéria,
nunca deixei de dar uma olhada rápida e de viés, como
aquele raio, à cama: estaria lá?
(A casa há tempo foi demolida, a cama não tem
mais pernas, mas ele está se-e-mpre lá!)
Mas aqui vai um último encontro que, por assim di-
zer, passou dos limites da primeira infância: ele sentia
i tanto ter que separar-se de uma menina assim!
Eu tinha nove anos, estava na cama com pneumo-
nia e era a festa do Domingo de Ramos.
"0 que você quer que te tragam, Mússia, pela festa
de Ramos?" -disse minha mãe,já vestida para sair, num
42 Sobrenome da mãe de Marina.
\` ,////
ri4MHa3HqecKOH mHHe7ibK) eiiie yHJ"HeHHoro AHz[Pio-
i" H - MoeH iipoiiuioro]iHeü, eíí - Ho iio7iy, my6ori
- ell|e yMa7IeHHoü ACH. «qepTa 8 6yTI,17IKe!>> - BHpyr,
CO CTpeMHTe7IbHOCTblo qepTa H3 6yTI,17IKH BI,IjleTejlo H3
MeHji. «qepTa? - yHHBi4Jiaci] MaTb, - a He K"xKy? TaM
BeHi] TOxe iipoHaK)Tcji, iieJibie JioTKH. 3a HecjiTi, Koiie-
eK MOXHO I|e7Iblx IlflTb KH14Xelt, IIPO ceBacT01107IbcKylo
o6opoHy, HaiipHMep, ii7m lleTpa Be7iHKoro.Ti.i - rio-
HyMafí>>. - «HeT, Bce-TaKM.„ tlepTa...» - coBceM "xo,
C Tpyz|oM H cTI>I;|oM IIPoxpHne7Ia j[. - «Hy, qepTa - TaK
qepTa». - «M MHe qepTa!>> - yxBaT117Iacb Mofl BeqHaH
no;]paxaTe7ibHHiia ACH. - «HeT, Te6e tte qepTa!» -
THxo H rpo3Ho Bo3pa3HJla jl. «Ma-aMa! oHa roBopHT,
t]To MHe He qepTa!>> - «Hy, ItoHeqHo - "e ...- cKa3a7Ia
MaTb. - Bo-nepBI,Ix, Mycfl ~ paHbme cKa3a7Ia, Bo-BTo-
Pbix, 3atieM jiBa)KHi]i o;iHy H Ty xe Beiiii., Ha eiiie TaKyK)
r7IynocTb? M oH Bce paBHo ]IollHeT». - «Ho H He xoqy
KHHXKy llpo lleTpa Be7"Koro! - y)Ke BH3xa7Ia Acjl. -
oll Toxe pa3opBeTcjl!» - «M MHe, MaMa, IloxajlyricTa,
He Km;KKy! - 3aBo7IHOBaTlcH AHI|plollla, - y Me" y)Ke
formato insólito - com o novo capote de ginasiano de
Andriucha que fora alongado e, por cima, o meu casaco
de pele, do ano anterior, que ficara para a pequena Ás-
sia e lhe chegava até o chão. "0 diabo na garrafa!", saiu-
-me de repente, com a impetuosidade do diabo - fora
da garrafa. "0 diabo?", perguntou mamãe, surpresa, "e
não um livro? Lá eles vendem também, há uma porção
de bancas. Por dez copeques pode-se comprar cinco
livros. Sobre a defesa de Sebastópol, por exemplo, ou
sobre Pedro, o Grande. Pensa nisso." "Não, mesmo as-
sim... o diabo...", baixinho falei eu, rouca, com dificulda-
de e envergonhada. "Está bem. Se é o diabo - é o dia-
bo." "Para mim, também, o diabo!", agregou-se minha
eterna copiadora, Ássia. "Não, para você, 7"da de dia-
bo!", respondi eu, em voz baixa e ameaçadora. "Mã-ã-e!
Ela falou que para mim nada de diabo!" "Claro, "da
de diabo", disse mamãe. "Em primeiro lugar, Mússia fa-
lou antes, em segundo, para que comprar duas vezes
a mesma coisa, ainda por cima uma coisa tão boba? E
vai se quebrar, de qualquer jeito." "Mas eu não quero o
livro de Pedro, o Grande!", já gritava Ássia, "ele também
vai rasgar!" "Para mim, também, mamãe, por favor, ne-
nhum livro", falou Andriucha, preocupado, "eu já tenho
ecTb npo lleTpa Be7"Koro, H iipo Bce...» -«He i(Hi4x-
Ky, MaMa, z|a? MaMa, a?» - K7IeuoM BT,eHa7Iacl> Acjl. -
«Hy, xopoiiio, xopoiiio, xopoiiio, xopomo: He KHHXKy.
Myce - tte-K")KKy. Ace - He-K"]KKy, AH;ipioiiie -
He-KHHXKy. Bce xopoii"!» - «A TorHa MHe, MaMa, qTO?
A MHe Tor;ia, MaMa, qTo?» - y)Ke "TJioM HaflaJi6J"Ba-
}Ia Acjl, Ile ;|amfl MHe yc7IbllllaTb oTBeTa. Ho MHe 6I,17Io
Bce paBHo -eri qTo, jm+e 6bljlo -mo.
- Hy BOT Te6e, Mycjl, 14 TBori qep"K. To7IbKo cHa-
qa7Ia cMeHHM KOMnpecc.
yKOMnpeccoBaHHafl ;io 6e3Hi>ixaHHoC" - Ho Hbi-
xaHHfl BcerHa xBaTHT Ha Jiio6oBb - Jie)icy c iimM Ha rpy-
;|H. oH, KOHeqHO, KPOXOTHI,Iri, 14 CKOpeH CMemHori, 11
He Cepblíi, a qepHI,m, H COBceM He noxox Ha m030, HO
Bce-TaKM - HMH - oHHo? (8 I|e7Iax 7m6BH, fl 9To noTOM
npoBepl4Jla, Bax(Ho co3wclHue 14 tta36Cl"e.)
CxHMalo Tpllz|l|a"z|eBmHrpaHycHoü pyKoü Kpy-
r7lblH HH3 6yTbl7IKH, H cKaqeT! cltalleT!
- To7ibKo He K7iaFiH ero c co6ori ciiaTi,. 3acHeini,
H Pa3]]a814ml,. KaK T07IbKO IIO`IyBCTByemb, qTO 3acbllla-
elllb - n07IOXH 803jle, Ha CTyjl.
o livro do Pedro, o Grande e de todo o resto..." "Livros
não, mamãe, sim? Hein, mamãe?", grudenta feito car-
rapato insistia Ássia. "Está bem, bem, bem, bem: ncida
de livros. Para Mússia nada de livros, para Ássia nada
de livros, para Andriucha nada de livros. Todos ótimos."
"Para mim, o que vai ser, mamãe? Para mim o que vai
ser?", já retomava Ássia feito um pica-pau, sem me dei-
xar ouvir a resposta. Mas eu não ligava para o que seria
para ela. A mtm interessava ele.
-Aqui está Mússia, seu diabinho. Mas antes vamos
trocar o emplastro.
Emplastrada até faltar o fôlego - mas sempre há
fôlego para o amor -, estou deitada com ele sobre o
peito. Ele, é claro, é pequenino e, de certa foma, ridí-
culo, não é cinza, mas preto, nada semelhante ao outro,
mas - de qualquer maneira - o nome é o mesmo, não
é? (Nas questões de amor, confome me convenci de-
pois, o importante é a consctê7tcú e o 7iome.)
Agarro com minha mão, com trinta e nove graus de
febre, o fundo redondo da garrafa e: ele salta! Ele salta!
- Não durma com ele, porém. Vai adormecer e
quebrá-lo. Quando sentir que vai adormecer, coloque-
-o ao lado, na cadeira.
«KaK TOJII]Ko noqyBCTByemb, qTO 3acI]Inaelub!>> -
JlerKo cKa3aTb, Korz|a fl BecI> HeHb TOJII.Ko H qyBCTBylo,
qTo - 3acbinaio, iipocTo - Beci> FieHi> cn7iio, CiiJiio, C
MHorHM14 14 6yíiHI>IMH 814F|eHHjlMH H rpoMKHMH Pa-
HocTHblMH Boll7IflMH: «MaMa! Kopojlb Ha"7Icjl!» -TOT
CaMblfi KOpojlb Han Moefi KPOBaTlm - «oH 8 TeMHori
KopoHe, c rycTori 6opoiioH» - a y Me" eHie H c Ky6KOM
8 PyKe - KOTOporo fl 3BaTla JiecHori iJapI,, a KOTOpblü
no-HacTojiueMy, ji rioTOM Hora;ia7iacb, 6bi7i der Kõnig
im Thule - gar treu bis an sein Grab - dem sterbend
seine Buhle einen goldnen Becher gab. M 9TOT Kopo7ib
C Ky6KOM -6Ce2ôa 8 PyKe, tttttc03ôCL y pTa, 9TOT KOP07Ib,
KOTopbm HHKor;|a He llbeT - B;|pyr - Hal"7Icjl!
- KaKOH y Te6fl ;iaxe 6pe;i cTpaHHi,iri! - roBopH7ia
MaTb. - Kopo7ib - HanH7icji! Pa3Be 3To 6pe;] ;ieBjiTH-
7IeTHeri ;|eBotlK14? pa3Be KOPO" - Hal"BaloTcjl? M KTO,
Boo6iiie, Kor;ia npi4 Te6e HanHBa7icji? M qTo 3Haqi4T
"Quando sentir que vai adormecer!", fácil de dizer,
passo o dia inteiro sentindo que vou adormecer,
simplesmente durmo o dia inteiro, durmo com uma
porção de visões turbulentas e exclamações sonoras
de alegria: "Mamãe! 0 rei ficou bêbado!" - aquele rei
que estava acima de minha cama. "Ele tem a coroa es-
cura e a barba espessa." 0 meu rei ainda tinha uma taça
na mão e eu o chamava Rei do Bosque, mas que, na
verdade, adivinhei depois, era der Kõntg tm Thule - gor
treu bts an setn G?~ob - dem sterbemd seóme Buhh3 etnen
goldnen Becher gab.43 E esse rei com a taça, sempre na
mão, 7tuncci nos lábios, esse rei que nunca bebia, de re-
pente, havia ficado bêbado!
- Até seu delírio é estranho! - dizia mamãe. - Um
rei bêbado! Por acaso isso é delírio de uma menina de
nove anos? Por acaso os reis se embebedam? E quem
é que ficou bêbado diante de você? E o que significa
43 Do alemão: "0 rei de Thule, completamente fiel até o túmulo,
à amada, morrendo, deu um cálice de ouro" (do poema de Goethe
"0 rei de Thule", 1774). Tradução para o russo de Boris Pasternak:
"Kopojlb 3Klm 8 q)y7Ie EajlbHori,/M Ky6oK 3ojloToü/Xpamljl oH, Hap
nponiaJii]Hbm,/Bo37iK)6JieiiHoji oHHoü" (0 rei vivia na Thule afasta-
da/e uma taça dourada,/Tinha na mão, de despedida/de sua ama-
da querida).
- HaniiJicfl? BOT qTo 3Ha"T iioTHxoHi,Ky HHTaTb ¢e-
7IbeTOHbl 8 «KypI,epe» rlpo BcjlKHe I]HPI,I 14 Betlep14H-
KH! - 3a6I>IBajl, qTo oHa caMa xe xl4Bolll4cajla 3Toro aB-
rycTerilllero 6paxt"Ka Ha llo7IOTHe H rloMec"7Ia ero
8 rlepBOM noj]e Moero yTpeHHero 3PeHHH H co3HaHHH.
oZ|Ha)K;|I>I, 3acTaB MeHjl Bce c TeM xe tlepTOM 8
yxe OCTI,IBaKIIHeM Ky7IaKe, MaTI, CKa3a7Ia: «rioqeMy Tbl
Me" HHKorna He CnpocHml,, IIoqeMy qepT - CKaqeT?
Benb 9To HHTepecHo?» - «Z|a-;|a-a», - I]eyõe)KHeHHo
iipoTHHyJia ji. <<Befli> 9To ouewti HHTepecHo, -BHyma7ia
MaTb, - HaxHMaellll, HH3 Tpy6KH 14, BI|Pyr - CKayeT. iio-
qeMy oH cKaqeT»? - <{fl He 3Halo». - «Hy, BOT BHl|HIIll,,
B Te6e - fl y)Ke j]aBHo i")Ky - HeT " HCKpi,i Jiio6o-
3HaTeTII,Hoc", Te6e coBepllleHHo Bce paBHo, IloqeMy:
cojlHI|e - Bcxoz|HT, Mecjll] - y6I,lBaeT, qepT, Harlpl4Mep
-cKaqeT... A?» -«J]a», -THxo oTBeTH7ia ji. «3HaqHT,
Tbi caMa npH3Haeiiib, qTo Te6e Bce paBHo? A Bce paB-
HO - 6blTb He Z|07lxHO. cO/IHI|e BCXO;|HT, IIOTOMy qTO
3eM" IlepeBepHy7Iacb, MecHI| y6aB"eTcjl, IloTOMy qTo
- H TaK ||a7Iee, a qepT 8 CK7"HKe CKaqeT, IIOTOMy yTO
embriagar-se? É isso que dá ler tanto escondida os fo-
lhetins no Kwrier,44 com todas aquelas festas e saraus!
- ela esquecia que havia sido ela mesma quem pintara
aquele augusto sedutor na tela e o pendurara bem no
campo visual de meu primeiro olhar e consciênciama-
tutinos.
Um dia, vendo que eu continuava com aquele dia-
binho apertado na mão, mesmo já sem febre, mamãe
perguntou-me: "Por que você nunca me perguntou por
que o diabo salta? Por acaso isso não é interessante?".
"Sim, si-im", respondi eu sem muito convencimento.
"Pois isso é mwtto interessante", sugeriu mamãe. "Você
aperta o tubo embaixo e - de repente - ele pula. Por
queserá?""Eunãosei.""Estávendo,équevocênãotem
a centelha da curiosidade - já reparei nisso há tempo
-,vocênãoligaamínimaparaporqueosolnasce,alua
desaparece, o diabo, por exemplo, pula... Heín?" "Sim",
respondi eu baixinho. "Quer dizer que você mesma re-
conhece que para você tanto faz? Pois não pode ser
assim. 0 Sol surge porque a Terra deu sua volta, a Lua
some porque etc., etc.., e o diabo salta na garrafinha
44 Jomal moscovita publicado de l897 a l904.
8 cK7IjlHKe - cl"pT>>. - «o, MaMa! - Bz|Pyr rpoMKo H
PaHoCTHo 3aBbiJia H. - tlepT - Ci"PT. 9To BeHi>, MaMa,
pH¢Ma?» - «HeT, - coBceM y)Ke oropqeHHo cKa3a7ia
MaTb, -pH¢Ma, 3To qepT -ToPT, a CnHPT... noroHH-Ka,
iioroz|H, Ha Ci"PT, KaxeTcji, HeT...» -«A Ha 6yTbi7iKy? ~
crlpocH7la H c xHBerimeíi /Ilo6o3HaTe7II,HocTI,Io. - Ko-
nHJiKa - Ha? A eiiie - MoxHo? IloTOMy qTo y Me" etwe
ecTb: Ilo 3aTI]17IKy, Myp3H7IKa...» - <"yp3H7IKa - Hejll,-
3j], - cKa3a7Ia MaTI,, - Myp3H7IKa - coõcTBeHHoe 14Mjl,
I|a ell|e KOMHtlecKoe... TaK TI,I IIOH"aemb, IIoqeMy
qepT cKaqeT? 8 6yTi,iJiKe - cnHPT, Kor;]a oH 8 PyKe Ha-
rpeBaeTcfl - oH pacHHPHeTcfl}>. - «J]a, - 6bicTpo co-
r7IacHJlacb jl, - a HarpeBaeTcq - pacll"pjleTcjl - Toxe
pl4q)Ma?» - <<Toxe, - oTBeT147Ia MaTb. - TaK cKaxH
MHe TellepI,, noqeMy qepT CKat]eT?» - «iioTOMy qTO OH
|]acll"pfleTcjl». - «qTo?» - «To ecTb HaoõopoT - Ha-
rpeBaeTcfl». - «KTo, KTo Hal`peBaeTcjl?» - <<qepT. - PI,
BHHfl TeMHemll|ee 7"I|o MaTepH: - To ecTb Hao6opoT
- CnHPT'>.
BeqepoM, KorHa MaTb iipi4iii7ia iipoHiaTi>cji, ji, co
cHepxaHHI,IM TopxecTBOM:
- MaMa! A Ha cl"pT Bce-TaKH ecTb pHq]Ma, To7Iblto
H14qero, t]TO IIO-HeMel|KH?
porque ela contém álcool." "Oh, mamãe!", gritei eu de
súbito, feliz. "Diabo-álcool. lsso dá rima, não dá, ma-
mãe?" "Não", falou mamãe, já decididamente aborreci-
da. "Rima é entre diabo e rabo, entre álcool e ..., espere,
parece que para álcool não há rima." "E para garrafa?",
perguntei eu com curiosidade mais viva. "Tarrafa, não
é?" "E também - posso dizer? Porque eu tenho mats:
girafa, Haifa..." "Haifa não pode", diz mamãe, "Haifa é
nome próprio e, ainda por cima, esquisito... Então você
entende por que o diabo salta? Na garrafa há álcool e,
quando ele é escaldado pelo calor da mão, ele se dila-
ta." "Sim", concordei rapidamente, "e escaldar e dilatar
também rimam?" "Também", falou mamãe. "Então, di-
ga-me, agora, por que o diabo salta?" "Porque ele di-
lata." "0 quê?" "Quer dizer, ao contrário, porque ele se
escalda." "Quem, quem se escalda?" "0 diabo." E, vendo
escurecer o rosto de mamãe: "Quer dizer, ao contrário,
o álcool".
À noite, quando mamãe veio se despedir, eu, com
solenidade contida, disse:
- Mamãe! Para álcool-espírito também há uma
rima, não faz mal que seja em alemão?
JioriHyJi! K0rFia zijiHfl Po;]HoÍÃ, ®e;iji, iioMep, He6ocb He
lI]IaKa7la, a TyT 143-3a tlepTa llaplnHBoro, npoc" rocno-
;|H!» -«Bpemb! Bpelllb! Bpelllb! ~ opajla jl, yxe BCTaB H,
KaK oH, CI(aqa. - J|a Pa3Be TI.I He BHF[Hmb, qTo jl He n7Ia-
qy! 9To Ti>i ceHliac 6y;ieiiib n7iaKaTi>, Kor;]a fl 8 Te6fl... (i4,
HHtlero He Haüqq BOKpyr, KpoMe rpaj|yc"Ka)... KorHa
H Te6fl CBOHM14 PyKaM14 Pa30PBy, qepTOBKa OltajlHHajl!>>
«qTo-o? - cllpocH7Ia BxoF|jlll|ajl MaTI,. - 9To qTo
TaKoe? tJTo TyT 3a npez[cTa87ieHHe?)> - «Ha HHqei`o, 6a-
pblHjl, - c J"l|eMepHblM cM14peH14eM cKa3a7Ia HjlHjl, -
3To MyceHbKa 8 CBeTJioe Xpi4cTOBo BocKpece"e
qepTOM pyraeTcfl, Ha-a-a...>> - «MaMa! y Me" JionHyJi
qepT, a oHa roBopHT, qTo 3To Bor!» - <<tlTo?» - «tlTo
3To Bor Me" HaKa3a/i 3a To, tiTo H ero 6o7ibme 7iK)6H7ia,
qeM Hj];iKi ®eziK»>. - «KaKHe rjiynoc"! - HeoxHHai]Ho
HOBepHy7Ia MaTb. - pa3Be M07Krlo CpaBHHBaTb? HjlHfl,
cTyllaH Ha KyxHlo. Ho tlepTOM pyraTbcfl 8 IlepBblH
HeHb llacxH, ;ia H Boo6iiie.„ Bezib cerozi" xe - XpH-
cToc BocKpec!» - «Ha, a oHa cKa3a7Ia, tlTo oH noTOMy 14
7IOIIHy7I>>. - «r7Iylloc"! - OTpe3a7Ia MaTI,. - iipocToe
do seu tio Fédia47 morreu, você não verteu nem uma
lágrima e agora, por um nojento de um diabo, Deus te
perdoe!" "Mentira! Mentira! Mentira!", gritei eu, agora
de pé, saltando como ele. "Por acaso não vê que não
estou chorando? Quem vai chorar agora vai ser você
quando eu te... (e, nada achando à minha volta, a não
ser o termômetro)... quando eu te quebrar com as mi-
nhas mãos, sua diaba!"
"0 que é-é?", perguntou mamãe, entrando. "Isso o
que é? Que cena é essa?" "Não é nada, senhora", disse a
babá com tranquilidade fingida, "é Mússenka que xinga
como o diabo no dia da ressurreição de Nosso Glorioso
Senhor, pois é..." "Mamãe! Meu diabo quebrou e ela está
dizendo que foi Deus." "0 quê?" "Que Deus me casti-
gou porque eu o amava mais do que o titio Fédia." "Que
bobagem!", interrompe mamãe inesperadamente. "Por
acaso pode se comparar uma coisa com outra? Babá, vá
para a cozinha. Porém, xingar como o diabo no primei-
ro dia da Páscoa é, de qualquer maneira... Pois hoje -
Cristo ressuscitou!" "Sim, e ela falou que é por isso que
ele quebrou." "Bobagens!", cortou mamãe. "É apenas
47 Fiódor Tsvetáiev (1849-1901), professor de ginásio, foi tio de
Marina do lado patemo.
CoBIlaHeHHe. oH JlollHyJl noTOMy, qTO Hy)KHo xe Kor-
Ha-"6yHi] 7ioiiHyTb. Ho H Ti,i xopoiiia - cBji3biBaTi,cji c
HerpaMOTHori XeHU14Hori. A ell|e 8 IIP14roTOBHTe7II,HOM
Kjiacce Ka3eHHOH ri4MHa3Hi4... Ho rJiaBHoe - qTo Ti,i
Mor/Ia ce6fl rlopaH14Tb. rl|e oH?» Mo7Iqa, qTo6bl He 3a-
iiJiaKaTb, pa3xHMam pyKy. «Ho BeHb TyT Hi4qero HeT? -
MaTb, BH14MaTe7IbHO BCMaTP14BajlcI,. - rHe Xe OH CaM?>)
jl, j|aBjlcb oT c7Ie3: «He 3Ham. fl er`o TaK H He Haln7Ia. oll
Ky;|a-TO COBceM BI,ICKoql47I!»
Ha, qepT MOÉ JionHyJi, He ocTaBMB oT ce6H m cTeK-
Jla, HH CnHPTy.
CX,
- BOT 814H14IIII,, - roBopl47Ia MaTb, cHz|fl lla|| MOHMH
THX14MH C7le3aM14, - HHI(Or;|a He HyxHO npHBjl3blBaTI,-
Cfl K TaKon Bell|H, KOTOpafl MOxeT jloI]HyTI,. A 01" - Bce
7lonaK>TCH! IloMIIHmb 3alloBeHb: «He coTBopH ce6e Ky-
MHpa'>?
- MaMa, - cKa3ajla fl, oTpjlxajlcl, oT c7le3, KaK co6a-
Ka oT BOHbl. - A KaKafl pH¢Ma Ha «KyMHpa»? TaMapa?
CX)
uma simples coincidência. Ele se quebrou porque isso
tinha que acontecer, mais cedo ou mais tarde. Porém
você, hein, se meter com uma pessoa analfabeta,
quando já está no ano preparatório do ginásio... Mas
o principal é que você podia ter se ferido. Onde está o
diabo?" Sem abrir a boca, para não chorar, escancarei
a mão. "Mas não tem nada aqui", disse mamãe olhan-
do com atenção. "Onde é que está?" Eu, sufocando de
lágrimas: "Não sei. Não o encontrei, deve ter pulado
para algum lugar".
Sim, meu diabo se quebrou sem deixar traços de si:
nem vidro, nem álcool.
CO
- Está vendo - diz mamãe, sentada, diante de
minhas lágrimas silenciosas -, a gente não deve se
apegar a coisas que podem se quebrar. Elas acabam
sempre por quebrar-se! Lembra do mandamento: "Não
adorarás ídolos?".
- Mamãe - digo eu, sacudindo as lágrimas, como
um cão a água. - E o que rima com ídolos? Cubículos?
CO
MH7Ibm cepblri Hor Moero HeTCTBa - MI,llllaTI,IÉ!
Tbi He cHe7ia7i MHe 37ia. Ec7m Ti,i, iio IIHcai"io, pi «oTeii
7IXH>>, To Me" Tbl Hay"7] - IlpaB;|e cyll|HoC" H npjl-
MOTe CIIHHbl. Ta I]PjlMafl 7""H HellpeK7IOHHOCTH,
X14Byll|ajl y Me" 8 Xpe6Te, - X14BaH /IHHHjl TBoeri j]O-
ro-6a6i,e-¢apaoHOBOH iiocaHKi4.
TI,I o6oraTHjl Moe F[eTCTBo Ha Bcm TaííHy, Ha Bce
HcllblTaHHe BepHocT14, H, 6ojll,me, Ha Becb TOT MHp,
H6o 6e3 Te6H 6bi ji He 3Ha7ia, qTo oH - ecTi,.Te6e fl o6fl3ai]a cBoefl HecocBfl"Moü ropHbiHeH,
Hecllleri MeHjl HaH xH3Hblo BI]Ime, tleM TI,I HaH peKOK>:
le divin orgueil -c^o6oM M Ôe/Lo" ero.
Te6e, KpoMe cTo7ibKoro, q eiiie o6ji3aHa 6eccTpa-
mi4eM cBoero iio;ixoz[a K CoõaKaM (Ha, Ha, H K CaMblM
KpoBOKHmlll|HM HoraM!) 14 K 7IlojHM, H6o lloc7le Te6fl -
KaKHx eue co6aK H JiioHeH 6oflTi>cji?
Te6eflo6j]3aHa(TaKMapKABpejipiiiHa"HaeTCBom
K"ry) cBol" nepBI>IM co3HaHHeM Bo3BeJ114qeHHoC" H
H36paHHoc", Hõo K HeBoqKaM 143 Halllero Õ"I.e" Tbl
we xoHHJI.
Querido dogue cinza de minha infância - Mycháty!
Tu não me fizeste mal nenhum. Se, pelas Escrituras,
és o "pai da mentira", então me ensinaste a verdade da
essência e a retidão da espinha. A linha reta da inflexi-
bilidade que vive em minha coluna vertebral é a mesma
linha viva de tua postura feminil-faraônica.
r[\i enriqueceste minha infância de todo o mistério, de
toda a tentativa de fidelidade e - mais do que tudo - da-
quele outro mundo que, sem ti, eu não saberia que existe.
Devo a ti meu orgulho maldito que me elevou aci-
ma da vida, mais alto do que tu sobre o rio - le dtütn
orgueél48 -no sentido de sua palaüm e do seu/etto.
A ti - mais do que a qualquer outro - devo ainda
a coragem com que me aproximei dos cachorros (sim,
sim, e dos dogues de sangue mais quente!) e das pes-
soas, sim, porque -depois de ti - como podia ter medo
de cães e de pessoas?
Devo a ti (é assim que Marco Aurélio começa seu
livro) a primeira consciência que tive da elevação e da
seletividade, pois até onde estavam as moças de nossa
ala tu nõo ias.
48 Do francês: "o orgulho divii`o".
Te6e fl o6fl3aHa cBOHM IlepBblM IlpecTyn7IeHHeM:
TariHOH Ha nepBOH 14cnoBel|H, noc7Ie KOToporo - Bce
yxe 6bi7io npecTyiiJieHo.
9To TI,I pa36HBa7I Ka7Kz|ym Molo cqacTj"Bylo 7llo-
6oBb, pa3T,ejiaji ee oiieHKori i4 ;io6HBafl ropHi,meH, H6o
Tbl pemH7I Me" Ilo3TOM, a He 7Ilo6HMoü xeHII|HHoÍí.
9To Tbl, Korz|a fl Co 83PoCJII.IMH Hrpa7Ia 8 KapTI,I H
KTO-TO, HellajlHHO H Hel43MeHHO, 3arpe6a7I Mori BI,IH-
rpbllll, BroHjl7I MHe o6paTHo 8 rjla3a - c7Ie3bl, 8 r7IOTKy
- cJioBo: «A cTaBi(a 6i.iJia - Moji».
9To Tbl o6eper Mellfl oT BcjlKori o6ll|Hoc" - Bn7IOTb
Ho ra3eTHoro CoTpyHHIHecTBa, - Hal|ellHB MHe, KaK
3JioH cTopox Hai";iy Konnepq)HJii.F[y, Ha cnHHy jip-
TlblK: «Bepe"Tecb! KycaeTcjl!»
M He Tbi jiH, MoeH paHHeíz 7iio6oBbio K Te6e, BHy-
iiii4Ji MHe Jiio6oBb Ko BceM iio6e)KHeHHbiM, Ko BçeM
causes perdues - iiocJiejiHHx MOHapxHH, HOC"eT'HHX
KOHCKHx H3Bo3ql4KOB, rloc7Iez|HHx 7"pHqecKHx rloBTOB.
9To Tbl - Ha Bcto cBom HellpeK7IOHHocTb llpeBh|-
IIlafl Pac117IacTaHHI,m 8 CI|atle ropo;| - noc7Ie;|HHM
BcxoziHiiib Ha cxo;i" rioc/ie;]Hero Kopa67iji.
Devo a ti meu primeiro crime: o segredo, na minha
primeiraconfissão,depoisdetudojáestartransgredido.
Foste tu que rompeste para mim cada amor feliz,
corroendo-o com o valor e acabando-o com o orgulho,
pois de mim fizeste poeta, e não uma mulher amada.
Foste tu que, quando eu jogava baralho com
os mais velhos e quando alguém, casualmente e
invariavelmente, se apossava de meu ganho, me
empurraste de volta, nos olhos as lágrimas, na garganta
as palavras: "Mas era minha vez de ganhar".
Foste tu que me protegeste de todo lugar-comum
- até quando colaborava com o jornal, colando-me às
costas, como o guarda mau de Dciüü Coppe7field, o
cartaz com os dizeres: "Cuidado! Morde!".
E não foste por acaso tu, com meu primeiro amor
porti,quemeinspirasteoamorportodososderrotados,
por todas as causes perdues49 - os últimos monarcas, os
últimos cavaleiros, os últimos poetas líricos?
Foste tu, vencendo em toda a tua inflexibilidade
a cidade subjugada, a subir por último na ponte do
último navio.
49 Do fi.ancês: "causas perdidas".
Bor He MoxeT o Te6e HM3Ko ;iyMaTi, - Ti.i xe Kor-
Ha-To 6bl7I ero 7Ilo614MblM aHre7IOM! M Te, BHnflH|He
Te6ji 8 BHHe MyxH, MymHHbiM KHfl3eM, MHPHa;ioM Myx
- caMH Myxll, Í|a7Ibll]e Hocy tte BHHjlll|14e.
M Myx BH>Ky, H Hoc BHxy: TBOH l|7"HHI,IH cepblü
6apoHCKMfi 3aMmeBbiíz jioroB Hoc, 6pe3i`"Bo H orpi>i3-
jlMBO HaMOPH|eHHI,In Ha Myx - MHPHaHI.I Myx.
HoroM Te6fl BH)Ky, roJiy6"K, To ecTb co6aqi]HM 6o -
20JW.
Cx3
Korqa jl o||lIHHa]|I]a" 7IeT 8 KaTo7IHqecKOM IlaHCH-
oHe cTapa7iaci, iio7iio6HTb Bora:
Jusqu'a la mort nous Te serons fidéles,
Jusqu'a la mort Tu seras notre Roi,
Sous Ton drapeau, Jesus, Tu nous appelles,
Nous y mourrons en combattant Pour Toi„. -
Deus não pode pensar mal de ti - pois foste, um
tempo, seu anjo favorito! E quem te vê como mosca,
como Pn'ncipe das Moscas, de uma miríade de moscas
- é ele próprio uma mosca que nõo vê além de seu
nariz.
Eu vejo tanto a mosca quanto o nariz: teu longo
e aveludado nariz cinza de nobre alão, pesada e
desagradavelmente enrugado pelas moscas - uma
miríade de moscas.
Vejo-te como dogue, querido, como o dews dos
cães.
CXJ
Quando, com onze anos, na pensão católica, eu me
esforçava por amar a Deus:
Jusqu'à la mort nous Te sermsfidéles,
Jusqu'à lci mort " seras notre Rot,
So"s Ton dmpeau, Jésus, m nous cippelles,
Nous y mourrons em combcitto7tt po"r Toi...50
50 Do ffancês: "Até a morte ser-te-emos fiéis/Até a morte Tu se-
rás nosso Rei/Sob Tua bandeira, Jesus, Tu nos chamas,/Nós mor-
reremos ali, batendo-nos por Ti...".
Tbi MHe He noMeiiia7i. Tbi To7ibKo yiiie7i Ha caMoe
Moe HHo, Be>K7"Bo ycTyllafl MecTo - j|pyroMy. «Hy, Ilo-
npo6yH - KpoTocTbio...» Ti>i HHKor;ia He cHH3oiiie7i ]io
6opi]6bi 3a Me" (i4 3a qTo 6i,i " 6i,ijio!), H6o Bce TBoe
6oro6op`iecTBo - 6ori 3a o]ii4HoqecTBo, KOTopoe oflHo
H ecTb B/IacTb.
Tbi - aBToP Moero xi43HeHHoro HeBii3a H MorHJib-
HOH HaHiii4cH:
Ne daigne! -
qero? Bcero: Hi4qero He daigne - na xo" 6i,i -
cHii3ofi" Ho 3Hecb-7iexaiiiero iipaxa.
14 KorHa MHe, Ha BceH Moeü oFiHHHaHi]a"JieTHeH
xl43I" rpexH, 143 qepHOH HI,Ipbl qy"x r7Ia3 H qy)Kori
HcrioBe;iaJii>HH 6biJio cKa3aHo:
Un beau bloc de marbre se trouve enfoncé dans
la boue du grand chemin. Un homme vulgaire marche
dessus et l'enfonce encore plus profondément. Un
noble coeur le dégage, le lave et en fait une statue qui
dure étemellement. Soyez le sculpteur de Votre âme,
- tu não me impediste. Apenas desapareceste no mais
profundo de mim, e gentilmente cedeste o lugar a ou-
tro. "Experimenta -com humildade..." rm nunca te re-
baixaste a lutar por mim (e sabe-se lá por que o farias!),
pois toda a tua luta com Deus é a luta pela solidão, pois
só ela é poder.
Tu és o autor do lema de minha vida e da inscrição
do meu túmulo.
Ne daégne!5i
Ne datgne a quê? A tudo: não datgme a nada, do con-
trário seria rebaixar-me até a poeíra.
E, quando, no pecado de toda a minha vida de onze
anos, me foi dito, do negro furo dos olhos estrangeiros
e da confissão estrangeira:
Un beau bloc de marbre se trouüe etifoncé dams
la boue du g"nd chemt7i. Un homme Üt4lgatre marche
dessus et l'enfonce encore plus profotidément. Un mo-
ble cceur le dégoge, le loüe et en fatt t4me statue qttt
dure étemellement. Soyez le sct4lptewr de Votre ôme,
51 Do francês: "Não me digno" (lema dos duques de Rohan).
petite Slave...
til,H 3TO C7IOBa?
CXJ
Te6e fl o6H3aHa 3aqapoBaHHi>iM, BcioHy co MHofi
nepeHBi4raioiiiiiMcfl, iiB-noH Hor po)KHaioiiiHMcfl, o6-
HHMaloII|HM MeHfl KaK PyKaM14, HO KaK ;|I,IxaHHeM
pacTjixHMbiM, Bcé BMeiiiamiiii" H Bcex iicK7iioqaioiiiHM
KpyroM cBoero oz|HHoqecTBa.
M ecJ" Tbi Koriia-To 8 BiiHe cepoH co6aqi]eíí Hji"
CH1430IIle7I HO MeHjl, Ma7IeHbKori HeBoqltH, TO T07IbKO
3aTeM, qTo6I,I oHa lloTOM Bclo xl43Hb cyMe7Ia oHIla: 6e3
HflHb i4 6e3 BaHb.
CXJ
rpo3Hbifi Hor Moero zieTCTBa -MbiiiiaTbiH! Ti,i oHHH,
y Te6H HeT I|epKBeíz, Te6e He c7Iy3KaT BKylle. TBol"
HMeHeM He ocBjlll|aloT HH n7IOTCKoro, HH I(opblcTHoropettte sicwe...52
De quem eram essas palavras?
a,
Devo a ti o círculo encantado de minha solidão,
que me acompanhou por todo lugar, que jorrou de
debaixo de meus pés, que me abraçou como braços,
mas extensos como um suspiro, que misturou trio e
que excluiu a todos.
E, se tu, alguma vez, sob a forma do cão cinza da
babá,sedignouachegaratémim,umameninapequena,
foi apenas para que ela soubesse, depois, estar sozinha
por toda a sua vida: sem babá e sem boneco.53
a,
Terrível dogue de minha infância - Mycháty! Tu
estás só, não tens igreja, não se ajoelham diante de ti.
Em teu nome não se santificam nem uniões carnais,
52 Do fiancês: "Um belo bloco de márrnore encontra-se aftindado na
lama de uma grmde senda. Um homem w|gar anda por cima dele e o
afimda ainda mais. Um nobre coTação o tira de lá, o 1eva e fàz dele uma es-
tátiiaqueduraetemamente.Sejaaescultoradesuaalma,pequenâeslava..:'.
53 Vania, no original, provável alusão a üariia-t7stcmkcL, ojoão bobo.
coK]3a. TBoe H3o6paxte"e He BHCHT 8 3a7Iax cyHa, r;|e
paBHo;|ylme cyHHT cTpacTb, cl,ITocTb - rojlon, 3F[o-
poBbe - 6oJie3Hi]: Bce To xe paBiioHymHe - Bce BHfli.i
cTpacTH, Bce Ta xe cl>ITocTb - Bce BHHI,I rojloz|a, Bce To
Xe 3;iopoBbe - Bce BHHbi 6oJie3HH, Bce To xe 6Jiarono-
7iyqHe - Bce BH;ii,i 6e;]i,i.
Te6ji He iie7iyK)T Ha KpecTe Haci47ibcTBeHiiofi npH-
cq" H 7ixecBHiieTe/ibcTBa. To6ori, Bo o6pa3e paci"To-
ro, He 3a)KiiMaeT pTa y6HBaeMOMy rocyHapcTBOM ero
c7iyra H coy6HHiia - cBjiiiieHHMK. To6ori iie 67iaroc7ioB-
7IjlloTcfl 6oH H 6oíaHH. Tbt 8 rlpHcyTCTBeHHblx MecTax
- tte lIPHcyTCTByelllb.
HH 8 I|epKBax, HH 8 cyF[ax, " 8 IIIKo}Iax, " 8 Ka-
3apMax, m 8 TiopbMax, - TaM, rfle npaBo - Te6fl HeT,
TaM, rFie MHoro - Te6H HeT.
HeT Te6j[ H Ha iipec7ioByTi]ix «t]epHi,ix Meccax>>,
9THx npl4BH7Ie"PoBaHHblx MaccoBKax, rHe JIK)HH Co-
BepiiiamT rJiynoc" - 7iioõHTb Te6fl BKyne, Te6fl, KOTo-
poro llepBajl pl lloc}Ie;|H" qecTb - oF|14Hot]ecTBo.
Ec7" HCKaTb Te6jl, To To7lbKo no oHHHoqHI,IM Ka-
MepaM ByHTa H qepj]aKaM JIHPHqecKoii llo9314H.
To6oü, KOTopi>iH ecTb - 3Jio, o6iiiecTBo we 3Jioyno-
Tpe614JIO.
BaHB,19 HioHji 1935
nem mercenárias. Tua imagem não pende nas salas
do tribunal, onde indiferentes julgam a paixão, a
saciedade, a fome, a saúde, a doença: aqueles mesmos
indiferentes - todos os aspectos da paixão -, aquela
mesma saciedade - todos os vultos da fome -, aquela
mesma saúde - todos os vultos da doença -, aquele
mesmo bem-estar - todos os vultos do infortúnio.
Tu não és beijado na cruz com umjuramento forçado
e testemunho falso. Contigo, na imagem do crucifixo, não
sela a boca ao assassinato do Estado seu seivo e cúmplice
- o sacerdote. Por ti não são glorificadas a guerra e as
matanças. Tb, nesses lugares, nóo és nomeado.
Nem nas igrejas, nem nos tribunais, nem nas escolas,
nem nas cavemas, nem nas prisões, lá onde está o direito
- tu não estás. Onde está a multidão - tu não estás.
Tu não estás também nas assim chamadas "missas
negras", esses comícios privilegiados onde pessoas ce-
lebram uma idiotia - amar-te na multidão, justamente
a ti, cuja primeira e última honra é a solidão.
Se forem procurar-te, só pode ser nas celas solitá-
rias da Revolta e nos sótãos da Poesia.
De ti, que és o maligno, a sociedade nõo abusou.
Va7wes,19 dejmho de 1935
SOBRE A AUTOF(A
Marina Tsvetáieva (1892-1941), expoente cla poesia russa, foi filha de um
conhecido filólogo, lvan Tsvetáiev (1847-1913), professor da Universidade de
Moscou e fundador do Museu púchkin. A mãe dela, Maria Mein (1868-1906), uma
notável pianista, morreu quando Marina tinha 14 anos e sua irmã 12, Anastassia,
também escrhora. Em i 910, com apenas 18 anos, Tsvetáieva publicou seu primeiro
livro, A'/burn da (a/de Dois anos depois, casou-se com Serguei Efron (1893-1941),
integrantedoExércftoBranco;tevesuaprimeirafilha,Ariadna;elançousuasegunda
coletânea de poemas, Laníema ma'g/.ca, recebendo boas cri'ticas, Desde então, levar
suas obras ao público foi se tomando difícil, apesar de escrever continuamente. Em
1913, perdeu o pai e passou a vjver com muitas dificuldades, cuidando sozinha (o
marido havía partido para o estrangeiro) de suas filhas, Ariadna e lrina, a mais nova,
queacaboumorrendodefomeem1919.Em1922,aescritoraconseguiupermissão
paraencontrar-secomserguei,indoparapraga(láteveumfilho)edepojsparaparis,
onde morou durante treze anos. Na Europa, a situação dela continuou complicada:
semdinheiroe,agora,artisticamentelsolada.Publicouemparissuaúltimacoletânea
poéticaemvida,Oepo/'sdaRúss/.a(1928).ComofilhovoltouàuRSseml939,elogo
o marido Úá do lado do Exércno Vemelho) e a filha, que já se encontravam no país,
foram presos Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Marina foi obrigada a ir
a um pequeno vilarejo da F}epública Tártara. Em desespero, sozinha e na completa
miséna, Marina Tsvetáieva se matou em 31 de agosto de 1941.
Além de traduções e textos em prosa (na maior parte autobiográficos), Marina
Tsvetá ieva escreveu, principalmente, poemas (ép icos, folclóricos e l\'rlcos), sempre
na entrega total, que logo conquistaram apreciadores, como Boris Pasternak, com
quem ela manteve uma rica troca de correspondências, um "Íomance epísto!ar,
e a quem dedicou vários de seus poemas, assim como a outros escritores, como
Púc"n, Blok e Akhmátova. A relação de Tsvetáeiva com esses artistas eía tão
intensa qiie seu estilo poético não raro se mistiirava ao deles.
S0BRE A TF(ADUTORA
Aurora Fornoni Bernardini é professora, escritora etradutora. Na Universidade
de São Paiilo (USP), além de mestrado e doutorado sobre futurismo russo
e italiano, concluiu em 1978 sua livre-docência sobre Marina Tsvetáieva.
Bernardini começou a estudar russo em 1958 e, no fjm da década de 1960,
durante o mestrado, foj convidada para lecionar no curso de russo da USP
por Boris Schnaiderman (1917-2016). Atualmente é professora titular de
pÓs-graduação r\os programas de Literatura e Cultura Russa (atual LE"A)
e de Teoria Literána e Liteíatura Comparada (FFLCH/USP). Em 2003, foi
finalista do prêmio Jabuti pela tradução de Carías a Swór/n, de Anton
Tchékhov (Edusp, com Homero Frei{as de Andrade),. em 2004, recebeu
o prêmio Jabuti (segundo lugar), com o poeta Haroldo de Campos, pela
tradução de Ungareít/ daque/a esíreía á ouíra (Ed. Ateliê Editorial); em 2006,
foi vencedora do prêmio APCA pela tradução de 0 exé/c/ío cíe cavaíar/.a, de
lsaac Bábel (CosacNaify, com Homero Freitas de Andrade); em 2006, foi
contemplacla com o píêmio Paulo Rónai pela tradução de /r}d/'c/'os Í/uÍuôníes
- poemas, de Marina Tsvetáieva (Martins Fontes), de quem Bernardini
ainda verteu Vívendo sob o fogo` coní/ssões (Ed. Martins, 2008),. em 2007,
foi vencedora do prêmio Jabuti (terceiío lugar) também pela tíadução de
/nd/'c/os Í/ufuaníes, em 2014, foi finalista do Jabuti pela tradução de "Os
sonhos Íeus vão acabar coníí.go..' prosa, poes/a, teatro, de Daniil Kharms
(Kalinka, com Daniela e Moissei Mountian).
CATÁLOG0 DA KALINKA
0 D/abo Mesqu/Mo, de Fiódor Sologub
Enconíros com l/.z e ouíras h/.sÍo'//.as (Coleção Contos Russos Modernos), de
Leonid Dobytchín
«Ossonhosteusvãoacabarcontigo»:prosa,poesia,teatro(ColeçãoComos
Russos Modernos), de DaniH Khaíms
£um/.nescénc/.a..ônío/og/.apoe'í/.ca,VíatcheslávKupriyánov
Poesia russa: seleta l)ilíngue
rarakâ, o b/.godudo (coedição Ars et Wa), de Korneí Tchukóvski
Parque Cu/íura/, cíe Sergueí Dovlátov
Sa/mo, de Friedrích Gorenstein
0 oÍ/'c/.o, de Serguei Dovlátov
0 e/efanfe (Coleção Mir), de Aleksandí Kuprm
A ve/ha (Coleção Mir), de DaniíI Kharms
Bobók & Me/.a caría «de um su/.e/.Ío» (Coleção Mir), de FiódorDostoíévski
Au/as de //.{eraíu/a russa, de Auíora Fornoni Bernardiní
0 comprom/.sso, de Serguei Dovlátov
A C/.dade fne (Coleção Contos Russos Modemos), cle Leoníd Dobftchin
0 D/.abo (Coleção Mír), de Marína Tsvetáieva
Dados lnternacionais de Catalogação na Publicaçâo (CIP)
(Câmara Brõsileira do Livro, SP, 8rasil)
Tsveiáleva, Marina, i892-1941
0 diabo / Marína Tsvetáieva , tradução do
russo Aurora Fomom Bernarclinl -i 1 ed, -. São Paulo :
Kalinka, 2020 --(Coleção mir ; 1)
Título original Tchort
lsBN 978-65-86862-02-7
1. Escritoras russas - Biografia 2. Utera(ura
russa. 3 Tsvetáieva, Marina,1892-1941 I Título.11
Sérle .
20-4ó753 CO D-928.9171
Índices para catá logo sistemátieo
1 Escritoras Íussas : Biografia 928 9171
María Alice Ferreira -8ibliotecária -CRB-8/7964
EDIÇÃO: EDITORA KALINKA
Avenida Angélicô, 501 cortjunto 306
01227-900 São Paulo-SP Tel 11 2579-6290
www kalinka com br
PFIODUÇÃO EXECUTIVA' EDITORA HEDRA
Rua Mil(om Ríbeiro, 79 Vila Giiilherme
02055-060 São Paulo-SP Tel 11 3097-8304
www hedra com.br
0 diabo (1935), texto em prosa de Marina Tsve-
táieva (1892-1941), traz lembranças da infância da
escritora e foi traduzido por uma de suas maio-
res conhecedoras, Aurora Fomoni Bemardini,
que explica: "A prosa de Marina Tsvetáieva é uma
prosa inspirada, que tem muito do poético". Para
Tsvetáieva, na meninice, até os sete anos, estava
a fomação dela como pessoa e como poeta. 0
diabo, além de dialogar com Goethe, Púchkin e
com a rica tradição popular russa, ganhou nome
próprio, Mycháty, assumiu várias fomas e tor-
nou-se uma espécie de protetor:
Foste tu que rompeste pam mtm cada cimor Je-
ltz, co7Toendo-o com o ÜcLlor e acabcmdo-o com
o orgu[ho, pots de mtm /izeste poeta, e 7tõo umci
mulher cLmcLda. Foste tu que, quando eu jogcLüa
bcLralho com os mcits Üelhos e quando alguém,
casualmente e i7tüarLauelmente, se apossciüa de
meu g6mho, me empurraste de Üolta, 7tos olhos
as [Ógnmfls, m gargantci as palaüms: "Mcis em
mtnha uez de gcmhar". Foste tu que me protegeste
de todo lugar-comum.
0 DIAB0
Marina Tsvetáieva
Tíaclução do russo Aurora Fomoni Bernardini
EDIÇÃO BILÍNGUE