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PDF OAB Direitos Humanos Capítulos 1 ao 9 MAT ERIA L EXE MPL AR PDF OAB Direitos Humanos Capítulo 1 MAT ERIA L EXE MPL AR Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos mailto:pdfadverum@cers.com.br 2 Abordaremos os assuntos da disciplina de Direitos Humanos da seguinte forma: RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina! Convenção Americana Sobre Direitos Humanos 25% Lei da Migração 13% Sistemas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos 13% Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) 25% Estatuto da Igualdade Racial 13% Seguridade Social 13% Convenção Americana Sobre Direitos Humanos Lei da Migração Sistemas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) Estatuto da Igualdade Racial Seguridade Social 3 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Introdução e conceitos iniciais. Capítulo 2 – Teoria Geral dos Direitos Humanos. Capítulo 3 – Dimensões/gerações de Direitos Humanos. Capítulo 4 – A formação e a incorporação dos tratados de Direitos Humanos. Capítulo 5 – ONU – A proteção internacional dos Direitos Humanos. Capítulo 6 – O sistema global de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 7 – O sistema especial de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 8 – O sistema europeu e africano de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 9 – O sistema interamericano de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 10 – A proteção dos Direitos Humanos no Brasil. 4 SUMÁRIO DIREITOS HUMANOS, CAPÍTULO 1 .................................................................................................... 6 1. Introdução e conceitos iniciais..................................................................................................... 6 1.1 Direitos humanos, direitos do homem e direitos fundamentais ................................................ 7 1.2 Características dos Direitos Humanos .................................................................................................... 8 1.3 As três vertentes dos Direitos Humanos............................................................................................... 9 1.4 Dimensão objetiva e subjetiva dos direitos humanos ................................................................. 11 1.5 Dignidade humana ...................................................................................................................................... 12 1.6 A dupla função da dignidade da pessoa humana ........................................................................ 14 QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................. 16 GABARITO .............................................................................................................................................. 27 LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................... 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................... 33 5 Olá, futuro advogado! Tudo bem? Antes de começar o estudo, precisamos fazer algumas considerações a respeito da apostila de nº 01 do nosso curso, tá? Em primeiro turno, a introdução aos Direitos Humanos não costuma ser cobrada no exame de ordem! -Mas professora, por que incluí-lo nas apostilas, então? Bom, como é de conhecimento geral, a banca examinadora tende a ser um pouco imprevisível, e o nosso objetivo é deixar você preparado para exatamente qualquer coisa que aparecer na prova! Então, achamos pertinente abranger o máximo de conteúdo possível! 😊 Inclusive, ao final desta apostila, você encontrará questões de outras carreiras, para um maior aproveitamento e assimilação de conteúdo, portanto, não deixe de respondê-las, tá? Vamos juntos! DIREITOS HUMANOS Capítulo 1 1. Introdução e conceitos iniciais Direitos Humanos é o ramo do Direito Internacional Público que tem como base a dignidade da pessoa humana, ou seja, o conjunto de direitos inerentes a todo ser humano, que o protege de tratamentos degradantes e lhe assegura condições mínimas de sobrevivência, independente de raça, cor, credo, opinião política, etc. O princípio basilar dos Direitos Humanos é o in dubio pro homine, que se aplica quando há dúvida sobre qual direito prevalecerá em determinada situação. Assim, sempre que houver conflito entre direitos, prevalecerá o que traz maiores benefícios ao ser humano. Onde não há democracia não há Direitos Humanos e, sendo alcançado algum direito, é vedada a sua revogação. A vedação ao retrocesso garante que um direito adquirido apenas será ampliado, como forma de melhorar o que está garantido. É o chamado efeito cliquet. Importante ressaltar, ainda, que a dignidade da pessoa humana, qualidade intrínseca a cada ser humano independentemente de sua nacionalidade, cor, raça ou opinião política, é o eixo norteador de todos os demais direitos, servindo tanto como unificadora como vetor interpretativo da ordem positivada. Neste primeiro capítulo abordaremos os principais institutos e conceitos para que, adiante, você possa compreender a matéria como um todo, de forma leve e eficaz. Vamos juntos e bons estudos! 7 1.1 Direitos humanos, direitos do homem e direitos fundamentais Antes de iniciarmos os estudos de forma mais aprofundada, mister se faz distinguirmos as três terminologias: direitos do homem, direitos humanos e direitos fundamentais. Os direitos do homem são, basicamente, os direitos naturais, biológicos, jusnaturais que possuem todos os seres humanos. Eles independem de positivação, pois são natos. Aqui temos valores inerentes à dignidade humana1. A expressão “direitos humanos”, por sua vez, traz-nos a ideia de proteção. São direitos que foram conquistados e são universalmente aceitos na ordem internacional2.Na doutrina, temos que a definição de Antônio Peres Luño3 se amolda perfeitamente ao nosso estudo. O estudioso afirma que os direitos humanos são Conjunto de faculdades e instituições que, em casa momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. Por fim, temos os direitos fundamentais. É importante nos atermos ao fato de que essas duas nomenclaturas não se confundem: enquanto “direitos humanos” é, em síntese, a terminologia utilizada para indicar o conjunto de direitos do homem protegidos na ordem internacional, “direitos fundamentais” é o conjunto de direitos do homem já reconhecidos e positivados na ordem interna de cada Estado. 1 Vide questão 10 no final do capítulo. 2 Vide questões 02, 05 e 08 no final do capítulo. 3 PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de Derecho y Constituición. 5 edição. Madrd: Editora Tecnos, 1195, p. 48. 8 Direitos humanos Direitos positivados no ordenamento jurídico externo Direitos Fundamentais Direitos positivados no ordenamento jurídico interno Direitos do homem Direitos pertencentes ao homem por sua própria natureza 1.2 Características dos Direitos Humanos Feita uma breve análise sobre o tema, convém neste momento que analisemos as principais características4 dos Direitos Humanos. Sendo assim, temos que a doutrina no geral traz as seguintes como as mais importantes: Historicidade: Indica que a concepção de Direitos Humanos decorre das condições da sociedade em um determinado momento histórico, de modo que varia de acordo com a evolução de cada povo, no tempo e no espaço5; Inalienabilidade: Segundo essa característica, os Direitos Humanos são indisponíveis, não possuindo conteúdo econômico patrimonial e, assim, não podem ser objeto de negociação e/ou comercialização; 4 Vide questão 09 no final do capítulo. 5 Vide questão 04 no final do capítulo. 9 Imprescritibilidade: De acordo com essa característica, os direitos humanos são sempre exigíveis, não se sujeitando à prescrição e, assim, não possuem prazo para o seu exercício6; Irrenunciabilidade: Dispõe que o indivíduo, apesar de poder não exercer os seus direitos caso queira, não pode renunciar a eles; Proibição de retrocesso: A proibição do retrocesso indica que não é possível a supressão normativa dos direitos já consagrados através de medidas legislativas7. É o chamado efeito cliquet. 1.3 As três vertentes dos Direitos Humanos Neste momento, importante abordarmos sobre as três vertentes de proteção internacional da pessoa humana. Essas três vertentes se deram, basicamente, após as grandes Guerras Mundiais, mais especialmente após a Segunda, momento no qual cresceu a preocupação mundial com os direitos humanos. 6 Vide questão 01 no final do capítulo. 7 Vide questão 06 no final do capítulo. Historicidade Inalienabilidade Imprescritibilidade Irrenunciabilidade Proibição ao retrocesso 10 Durante muito tempo o conceito de Direitos Humanos foi discutido pelos juristas, sendo que esta discussão culminou na divisão de sua proteção em três vertentes: o Direito Internacional dos Direitos humanos, o Direito Humanitário e o Direito Internacional dos Refugiados. Direito Internacional dos Direitos Humanos O Direito Internacional dos Direitos Humanos é o mais abrangente deles. Visa, em síntese, proteger e promover a dignidade da pessoa humana de forma universal e em todos os aspectos: civil, político, social, econômico, cultural, etc.8. Direito Humanitário Por sua vez, o Direito Humanitário tem raízes principalmente no pós-Primeira Grande Guerra, tendo em vista as crueldades extremas que ali ocorreram. Sendo assim, em 1949 foi elaborada a Convenção de Genebra, na qual, de acordo com Ricardo Castilho9 Segundo a Convenção de Genebra, há três tipos de crime passíveis de serem cometidos em tempo de guerra que devem ser proibidos e impedidos. A primeira categoria é a dos crimes de guerra, que incluem: assassinato ou maus-tratos de civis, deportação ou confinamento (de civis ou militares) para trabalhos forçados, assassinato ou maus-tratos de prisioneiros, pilhagem ou saque, destruição de cidade sem necessidade militar e assassinato de reféns. A segunda categoria é a dos crimes contra a paz. Os dois principais são planejar guerra de agressão ou em violação a tratados internacionais e participar de plano comum ou conspiração para promover esses atos. A terceira é a dos crimes contra a humanidade: extermínio, escravização e outros atos desumanos antes ou durante uma guerra, perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos. Podemos concluir, desta maneira, que o Direito Humanitário tem por finalidade estabelecer regras para o tratamento da população dos países em conflito, garantindo assim os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, limitando a atuação do Estado perante o indivíduo. Direito dos Refugiados Em terceiro lugar temos o Direito dos Refugiados. Antes de adentrarmos especificamente no seu conteúdo, importante fazermos a distinção entre refúgio e asilo. 8 Vide questão 07 no final do capítulo. 9 CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 24. 11 Enquanto o asilo é uma medida empregada quando há perseguição política de caráter individual, constituindo o exercício do ato político e soberano do Estado (portanto, não sujeito aos regramentos internacionais), o refúgio ocorre quando há uma proteção a um grande número de pessoas, não revestido de caráter político. O refúgio ocorre, assim, quando a proteção é conferida àqueles que estão sofrendo agressões generalizadas (ou, ainda, em casos de ocupação ou dominação estrangeira, de fatos que alterem a ordem pública de um país ou em caso de violação dos direitos humanos). Em síntese, o Direito dos Refugiados protege o ser humano desde a saída de seu território até o término da concessão do refúgio. 1.4 Dimensão objetiva e subjetiva dos direitos humanos O último ponto que abordaremos neste capítulo inicial no que toca aos direitos humanos propriamente ditos é a dimensão dos direitos humanos, que pode ser subdividida em objetiva e subjetiva. A dimensão subjetiva diz respeito ao fato de os direitos humanos serem proposições jurídicas que visam proteger o ser humano como indivíduo, como sujeito. Já a dimensão objetiva aborda a imposição de proteção dos direitos humanos voltada para os Estados e a sua necessidade de atuação. Aqui, não falamos da preocupação com o sujeito em si, mas da preocupação com a criação de mecanismos que promovam os direitos humanos na sociedade como um todo. Em síntese: 12 Dimensão subjetiva Na dimensão subjetiva, os direitos humanos se preocupam com a proteção do sujeito. Dimensão objetiva Na dimensão objetiva, os direitos humanos se preocupam com a criação de mecanismos, por meio do Estado, para a proteção desses direitos. 1.5 Dignidade humana A dignidade da pessoa humana é a essência do conceito de Direitos Humanos. Assegurar essa dignidade nada mais é do que respeitar a todos de forma igualitária, independentemente de raça, cor, gênero ou classe social10. Ela está prevista no artigo 1º da Constituição Federal, e é um dos cinco fundamentos da República Federativa do Brasil. Vejamos: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 10 Vide questão 03 no final do capítulo. 13 Na seara internacional, que iremos aprofundar melhor nos próximos capítulos, também temos diversas previsões e positivações da dignidade da pessoa humana. Vejamos o que diz o preâmbulo e o artigo 1o da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum, Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, á rebelião contra a tirania e a opressão, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, (...) Artigo I Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. O Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Sociais, Econômicos e Culturais também reconhecem em seu preâmbulo, identicamente que: PREÂMBULO Os Estados Partes do presente Pacto, Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana 14 e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano livre, no gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado e menos que se criem às condições que permitam a cada um gozar de seus direitos civis e políticos, assim como de seus direitos econômicos, sociais e culturais, Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação de promover o respeito universal e efetivo dos direitos e das liberdades do homem, Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com seus semelhantes e para com a coletividade a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente Pacto, (...) Dada a sua extensa previsão nos diplomas legais, internos e externos, podemos notar a importância da dignidade da pessoa humana, epicentro e eixo norteador de todo o nosso estudo. A seguir, portanto, trataremos de mais um ponto importantíssimo no que toca a esse tema: a sua dupla função. 1.6 A dupla função da dignidade da pessoa humana Por fim, analisaremos brevemente a dupla função da dignidade da pessoa humana, que também pode cair na sua prova. As suas duas funções ou aspectos são, respectivamente, a unificadora e a hermenêutica. Função unificadora Em síntese, a função unificadora da dignidade da pessoa humana diz respeito ao fato de que ela unifica toda a ordem jurídica, justamente por ser o seu eixo axiológico. Portanto, se é um eixo axiológico, ela é um eixo de valores que une toda a ordem jurídica, que nela deve se basear. Função hermenêutica 15 A sua segunda função, qual seja a hermenêutica, traz a ideia de que a dignidade da pessoa humana se traduz em um viés interpretativo para toda a compreensão e aplicação do direito positivado, inspirando e limitando. 16 QUADRO SINÓTICO 1. Introdução e conceitos iniciais Direitos Humanos Direitos positivados no ordenamento jurídico externo Direitos Fundamentais Direitos positivados no ordenamento jurídico interno Direitos do Homem Direitos pertencentes ao homem por sua própria natureza Características dos Direitos Humanos Historicidade Os Direitos Humanos decorrem da evolução do povo no tempo e no espaço Inalienabilidade Os Direitos Humanos são indisponíveis, não podendo ser objeto de comercialização. Imprescritibilidade Os Direitos Humanos não se sujeitam à prescrição. Irrenunciabilidade Os Direitos Humanos não podem ser renunciados. Proibição ao retrocesso Não é possível a supressão normativa de direitos já consagrados. Direito Internacional dos Direitos Humanos Direito Humanitário Finalidade: estabelecer regras para o tratamento da população dos países em conflito Direito dos Refugiados Finalidade: proteger o ser humano desde a saída de seu território até o término da concessão do refúgio Direito Internacional dos Direitos Humanos Finalidade: promover a dignidade da pessoa humana de forma universal 17 Dimensões dos Direitos Humanos Objetiva É a imposição de proteção dos Direitos Humanos aos Estados, que devem atuar. Subjetiva Diz respeito ao fato de os direitos humanos serem proposições jurídicas que visam proteger o sujeito. 18 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (FEPESE - 2019 – SJC-SC – Agente Penitenciário) Assinale a alternativa incorreta sobre os princípios ou especificidades dos direitos humanos. A) A indivisibilidade dos direitos humanos se refere a que não se pode cindi-los e que devem ser reconhecidos e protegidos unitariamente. B) A inalienabilidade dos direitos humanos se caracteriza por vedar a sua disposição pecuniária com o objetivo de venda. C) A imprescritibilidade dos direitos humanos reconhece que o seu exercício se dá no tempo, devendo ser exigido sob pena de perecimento. D) A irrenunciabilidade dos direitos humanos se refere à vedação da própria pessoa de permitir violações a esses direitos. E) A proibição do retrocesso representa que os direitos humanos já concretizados e alcançados não podem mais ser suprimidos. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a alternativa “C”, considerando que: 1) os direitos humanos são estendidos a todos, independentemente de sua raça, cor, credo, nacionalidade, opinião política, etc, portanto a alternativa “A” está correta; 2) os direitos humanos não podem ser vendidos, pois não possuem valor pecuniário, portanto a alternativa “B” está correta; 3) os direitos 19 humanos são imprescritíveis, pois não se perdem com o decurso do tempo, portanto a alternativa “C” está incorreta; 4) os direitos humanos podem não ser exercidos, mas nunca poderão ser renunciados, portanto a alternativa “D” está correta; 5) a proibição do retrocesso ou efeito cliquet dispõe que, uma vez conquistados, os direitos humanos não podem ser suprimidos, portanto a alternativa “E” está correta. Questão 2 (MPE/SP - 2019 – MPE-SP – Promotor de Justiça) Em relação aos direitos humanos, é correto afirmar: A) São aqueles previstos no plano interno dos Estados pelas Cartas Constitucionais. B) São aqueles queainda não estão expressamente previstos no direito interno ou no direito internacional. C) São menos amplos que os direitos fundamentais quanto à proteção dos direitos individuais. D) São aqueles protegidos pela ordem internacional. E) Podem sofrer limitação em razão de interesse dos Estados. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a alternativa “D”. Consoante estudado anteriormente, os direitos do homem são aqueles direitos naturais não positivados ou ainda não positivados, os direitos humanos são aqueles reconhecidos e positivados no âmbito internacional e os direitos fundamentais são aqueles positivados e protegidos pela legislação interna de cada Estado. Portanto, não há que se falar em menor ou maior amplitude de um em relação ao outro, já que 20 todos possuem o mesmo eixo axiológico e norteador: a dignidade da pessoa humana. Outrossim, em homenagem ao princípio da vedação ao retrocesso, eles jamais poderão sofrer limitação e razão do interesse dos Estados. Questão 3 (CESPE - 2019 – CGE-CE – Auditor de Controle Interno) A respeito dos marcos históricos, fundamentos e princípios dos direitos humanos, assinale a opção correta. A) Segundo a doutrina contemporânea, direitos humanos e direitos fundamentais são indistinguíveis; por isso, ambas as terminologias são intercambiáveis no ordenamento jurídico. B) Os direitos humanos estão dispostos em um rol taxativo, que foi internalizado pelo ordenamento jurídico brasileiro com a promulgação da Constituição Federal de 1988. C) No Brasil, os direitos políticos são considerados direitos humanos e seu exercício pelos cidadãos se esgota no direito de votar e ser votado, D) A dignidade da pessoa humana, princípio basilar da Constituição Federal de 1988, é fundamento dos direitos humanos. E) Em razão do princípio da imutabilidade, os direitos humanos reconhecidos na Revolução Francesa permanecem os mesmos ainda na atualidade. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a alternativa “D”. A alternativa “A” está incorreta porque, enquanto Direitos Humanos se referem aos direitos positivados na ordem internacional, os Direitos Fundamentais tratam daqueles positivados na ordem interna de cada Estado; A alternativa “B” está incorreta porque os direitos humanos são inesgotáveis e, portanto, não estão sujeitos a um rol taxativo. É o que diz o parágrafo segundo do artigo 5 da Constituição Federal do Brasil: 21 Art. 5º […] § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte A alternativa “C” está incorreta porque ambos os conceitos não se confundem. Com efeito, os direitos políticos dizem respeito às diversas formas de o cidadão se manifestar, o qual não se esgota no direito de votar e ser votado, mas se caracteriza pelo sufrágio universal, voto direto e secreto, etc. A alternativa “D” está correta, pois a dignidade da pessoa humana é o eixo valorativo dos direitos humanos. A alternativa “E” está incorreta porque os direitos humanos não são absolutos e imutáveis, sendo que sofrem mutação e enriquecimento ao longo da história (historicidade). Questão 4 (CESPE - 2019 – PRF – Policial Rodoviário Federal) Acerca de aspectos da teoria geral dos direitos humanos, da sua afirmação histórica e da sua relação com a responsabilidade do Estado, julgue o próximo item. Todos os direitos humanos foram afirmados em um único momento histórico. ( ) Certo ( ) Errado Comentário: Como já observado neste material, uma das principais características dos direitos humanos é a historicidade, que indica que é a evolução histórica que traz novos direitos humanos, uma vez 22 que estes não surgem todos ao mesmo tempo - mas sim gradativamente, em diversos momentos. Sendo assim, a questão está errada. Questão 5 (CESPE - 2019 – PRF – Policial Rodoviário Federal) Acerca de aspectos da teoria geral dos direitos humanos, da sua afirmação histórica e da sua relação com a responsabilidade do Estado, julgue o próximo item. As pessoas naturais que violam direitos humanos continuam a gozar da proteção prevista nas normas que dispõem sobre direitos humanos. ( ) Certo ( ) Errado Comentário: O item está correto. Isso porque os direitos humanos alcançam a todos, são absolutos, indisponíveis e imprescritíveis. Assim, uma pessoa que viola os direitos humanos de outrem continua sendo portadora de dignidade humana e, assim, continua a gozar da proteção dos direitos humanos. Questão 6 (FCC- 2018 – Câmara Legislativa do Distrito Federal) Uma vez estabelecidos, os Direitos Humanos não podem ser retirados do ordenamento, em razão do princípio da A) Inter-relacionaridade. B) Indisponibilidade. 23 C) Inerência. D) Vedação ao retrocesso. E) Inesgotabilidade. Comentário: A alternativa correta é a letra “D”. Como já abordado anteriormente, o princípio que veda a supressão dos direitos humanos do ordenamento é o princípio da vedação ao retrocesso ou “efeito cliquet”. Isso porque os direitos humanos jamais podem ser diminuídos ou reduzidos no seu aspecto de proteção, podendo apenas serem ampliados. Questão 7 (CESPE – 2018 - Instituto Rio Branco - Diplomata) Julgue (C ou E) o item a seguir, acerca do direito internacional dos direitos humanos e do direito internacional humanitário. Se em conflitos armados internacionais um combatente capturado pelo inimigo tem a proteção que advém do status de prisioneiro de guerra, essa mesma proteção não é prevista em caso de conflitos armados não internacionais. ( ) Certo ( ) Errado Comentário: A proposição está correta. Isso porque o termo “prisioneiro de guerra” se refere a um status especial concedido pela Convenção de Genebra aos soldados inimigos capturados em conflitos armados internacionais. Em caso de um conflito armado não internacional, o Direito Internacional Humanitário não impede o julgamento de combatentes capturados. 24 Questão 8 (CESPE – 2020 – MPE-CE – Promotor de Justiça) De acordo com a sua finalidade, os direitos humanos são classificados como direitos A) Propriamente ditos. B) Expressos. C) De defesa. D) A prestações. E) A procedimentos e instituições. Comentário: De acordo com a sua finalidade, os direitos humanos são direitos propriamente ditos, uma vez que visam o reconhecimento jurídico de pretensões que são inerentes à dignidade de todo ser humano. Portanto, a alternativa “A” está correta. Questão 9 (CESPE – 2020 – TJ-PA – Analista Judiciário) No que se refere aos direitos humanos, assinale a opção correta. A) A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi elaborada no ano de 1968. B) A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um instrumento de direito com força de lei internacional. 25 C) A Convenção sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos baseia-se na criação de princípios éticos pelos quais os povos devem guiar-se. D) Os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. E) A Rede de Proteção Social no Brasil foi aprovada antes da Convenção da ONU em 1989, o que deu ao Brasil destaque mundial no tocante aos direitos da criança e do adolescente. Comentário: A alternativa correta é a letra “D”. Isso porque: 1) A Declaração Universal dos Direitos Humanos data de 1948. 2) A Declaração Universal dos Direitos Humanos não tem força de lei, pois é apenas uma declaração, um ato da ONU. 3) A Declaração Universal de Direitos Humanos não é uma convenção. 4) A Rede de Proteção Social no Brasil teve início em 1995. Por outro lado, temos que uma das principais características dos direitos humanos são a sua universalidade, indivisibilidade, relatividade, interdependência,complementariedade, inalienabilidade, imprescritibilidade, historicidade, entre outros. Questão 10 (FEPESE - 2019 – SJC-SC – Agente Penitenciário) Os direitos humanos são denominados com variados termos. Assinale a alternativa que não é aceita contemporaneamente, por expressar uma ideia ultrapassada sobre o tema. A) Direitos naturais. 26 B) Direitos fundamentais, C) Direitos da pessoa humana. D) Direitos humanos fundamentais. E) Direitos essenciais da humanidade. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a letra “A”. Isso porque, consoante estudamos neste primeiro capítulo, os direitos humanos não se confundem com os direitos do homem, ou ainda os chamados “direitos naturais”, justamente porque enquanto os direitos humanos são conquistas alcançadas pela sociedade através do tempo, estão em constante mutação e são positivados no ordenamento jurídico externo, os direitos naturais são atemporais, fixos e decorrem da própria existência do ser humano, tendo sidos estabelecidos pela natureza. 27 GABARITO Questão 1 - C Questão 2 - D Questão 3 - C Questão 4 - Errada Questão 5 - Correta Questão 6 - D Questão 7 - Correta Questão 8 - A Questão 9 - D Questão 10 - A 28 QUESTÃO DESAFIO O que se entende por Direitos Humanos? Máximo de 5 linhas 29 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO Os direitos humanos são aqueles protegidos pela ordem internacional em face das violações e arbitrariedades perpetradas por um Estado em face das pessoas sujeitas à sua jurisdição. São os direitos indispensáveis a uma vida digna, devendo ser respeitados pelos Estados. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Conceito Nas lições do prof. Valério Mazzuoli é imprescindível que não sejam confundidas as expressões direitos humanos, direitos do homem e direitos fundamentais. Os direitos humanos, nas palavras do professor, são direitos protegidos pela ordem internacional (especialmente por meio de tratados multilaterais, globais ou regionais) contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. Os direitos do homem, por sua vez, é expressão de cunho jusnaturalista que conota a série de direitos naturais aptos à proteção global do homem e válidos em todos os tempos. Por fim, a expressão "direitos fundamentais" deve ser entendida como sendo aquela afeta à proteção interna dos direitos dos cidadãos, ligada aos aspectos ou matizes constitucionais de proteção, no sentido de já se encontrarem positivados nas Cartas Constitucionais. Súmula vinculante 25 Quando iniciamos o estudo dos direitos humanos é imprescindível a análise da Súmula Vinculante n.º 25, segundo a qual estabelece que "É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito". Diante de sua importância, faz-se necessário trazer a baila parte do julgado do RE 466.343 do STF: "(...) diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacionais que cuidam da proteção dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no ordenamento jurídico, por meio do procedimento de ratificação previsto na CF/1988, tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante. Nesse sentido, é possível concluir que, diante da supremacia da CF/1988 sobre os atos normativos internacionais, a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel (art. 5º, LXVII) não foi revogada (...), mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria (...). Tendo em vista o caráter supralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação infraconstitucional posterior que com eles seja conflitante também tem sua eficácia paralisada. (...) Enfim, desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao PIDCP (art. 11) e à CADH — Pacto de São José da Costa Rica (art. 7º, 7), não há base 30 legal para aplicação da parte final do art. 5º, LXVII, da CF/1988, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel". 31 LEGISLAÇÃO COMPILADA Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de: Dignidade humana Constituição Federal do Brasil: Artigo 1º; Declaração Universal dos Direitos Humanos: preâmbulo e artigo 1º; Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos: preâmbulo; Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais: preâmbulo. 32 ESTUDO COMPLEMENTAR Simulado OAB com relatório de desempenho Faça um simulado completo da prova com relatório de desempenho para saber como está indo! Lembre-se, você tem direito a 4 simulados no curso de PDF, que estão disponíveis na sua área do aluno. Basta clicar no ícone ao lado para entrar na plataforma estudeadverum.com.br. 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Direito Constitucional Esquematizado. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de Derecho y Constituición. 5 edição. Madrd: Editora Tecnos, 1195. ` https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-dignidade-da-pessoa-humana-enquanto-valor-supremo-da-ordem-juridica/ https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-dignidade-da-pessoa-humana-enquanto-valor-supremo-da-ordem-juridica/ PDF OAB Direitos Humanos Capítulo 2 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 SUMÁRIO DIREITOS HUMANOS, CAPÍTULO 2 .....................................................................................................3 2. Teoria Geral dos Direitos Humanos .............................................................................................3 2.1 O Código de Hamurabi ..................................................................................................................................... 3 2.2 Magna Carta ........................................................................................................................................................... 4 2.3 Petition of Right ................................................................................................................................................... 4 2.4 Habeas Corpus Act .............................................................................................................................................. 5 2.5 Bill of Rights Inglesa ........................................................................................................................................... 5 2.6 A Declaração de Direitos da Virgínia .......................................................................................................... 6 2.7 A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão ...........................................................................6 2.8 As Convenções de Genebra ............................................................................................................................ 7 2.9 A eficácia dos Direitos Humanos .................................................................................................................. 9 QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................. 11 QUESTÕES COMENTADAS .................................................................................................................. 13 GABARITO .............................................................................................................................................. 25 LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................... 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................... 30 2 Olá, futuro advogado! Tudo bem? Antes de começar o estudo, precisamos fazer algumas considerações a respeito da apostila de nº 02 do nosso curso, tá? Em primeiro turno, a Teoria Geral dos Direitos Humanos não costuma ser cobrada no exame de ordem! -Mas professora, por que incluí-lo nas apostilas, então? Bom, como é de conhecimento geral, a banca examinadora tende a ser um pouco imprevisível, e o nosso objetivo é deixar você preparado para exatamente qualquer coisa que aparecer na prova! Então, achamos pertinente abranger o máximo de conteúdo possível! 😊 Inclusive, ao final desta apostila, você encontrará questões de outras carreiras, para um maior aproveitamento e assimilação de conteúdo, portanto, não deixe de respondê-las, tá? Vamos juntos! 3 DIREITOS HUMANOS Capítulo 2 2. Teoria Geral dos Direitos Humanos Neste segundo capítulo abordaremos algumas considerações sobre a afirmação histórica dos direitos humanos, desde a antiguidade até os dias atuais. Isso significa que analisaremos os principais fatos históricos que culminaram no surgimento das mais variadas formas de proteção da dignidade da pessoa humana, bem como dos Direitos Humanos propriamente ditos. Além disso, trataremos da eficácia dos Direitos Humanos em suas quatro vertentes objetivas: horizontal, vertical, vertical com repercussão lateral e diagonal. Vamos lá? 2.1 O Código de Hamurabi O Código de Hamurabi data de 1694 a.C. É um monumento de estrutura geológica, onde há vinte e uma colunas de escrita cuneiforme, sendo um dos primeiros exemplos de lei escrita que se tem notícia. Apesar de prever a aplicação de penas de morte, mutilações corporais e outras pelas infamantes, o Código de Hamurabi é um grande avanço pois representa o fim das penas arbitrárias, além de prever o direito a uma espécie de salário mínimo por dia trabalhado, o direito da mãe e dos filhos de receberem alimentos quando abandonados pelo genitor, etc. 4 2.2 Magna Carta A Magna Carta, de 1215, foi um instrumento cujo o Rei João da Inglaterra foi obrigado a assinar. Em síntese, este documento restringia o poder do rei e de seus sucessores, impedindo o exercício de qualquer poder pleno. Pela primeira vez foram previstos direitos dos súditos. Em latim, Magna Carta Libertatum significa “Grande Carta das Liberdades”. O artigo mais conhecido da Magna Carta é o 39: em síntese, ele determina que seja seguido o devido processo legal quando houver prisão ou privação de propriedade, de modo que sejam evitadas possíveis arbitrariedades. Vejamos. Nenhum homem livre será preso, encarcerado ou privado de seus direitos ou propriedades, ou tornado fora da lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra. 2.3 Petition of Right Ricardo Castilho1 ao tratar sobre o tema aduz que A transformação da Inglaterra de monarquia absolutista em monarquia constitucionalista representou um avanço no sentido de reconhecimento dos direitos humanos e se deveu à chamada Petição de Direitos (Petition of Rights), que constituiu a semente da chamada Revolução Francesa. 1 CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 74. 5 A Petition of Rights é o documento que marcou o início do constitucionalismo moderno. Esse constitucionalismo moderno, em linhas gerais, é um movimento que questionou profundamente os dogmas políticos, jurídico e filosóficos tradicionais, almejando um novo modo de poder político. Esta Petição foi apresentada pelo rei pelos membros do parlamento inglês (liderados por Sir Edward Coke), sendo que o primeiro foi obrigado a assiná-la e a cumpri-la. Dentre as exigências contidas no bojo do documento, estava o fato de que o rei deixasse para o parlamento o controle da política financeira e o controle do exército, além de ter oficializado os direitos fundamentais do homem. 2.4 Habeas Corpus Act Outro documento de enorme importância para a evolução dos Direitos Humanos ao longo do tempo foi o chamado Habeas Corpus Act, de 1679. O Habeas Corpus Act foi uma lei elaborada pelo Parlamento da Inglaterra no ano de 1679, durante o império do rei Carlos II. Esta lei resgatava uma importante garantia: a de que toda pessoa detida fosse levada a um tribunal, onde seria analisada a legalidade de sua prisão. É, em verdade, uma tutela da liberdade individual contra a prisão abusiva, arbitrária ou ilegal. Esta lei é considerada, até os dias atuais, como um dos documentos mais importantes da história da Inglaterra. 2.5 Bill of Rights Inglesa A Bill of Rights inglesa foi criada no ano de 1689, quando Maria Stuart e o marido Guilherme de Orange assumiram o trono sob controle do Parlamento inglês e tiveram que aceitar e promulgar este documento. A Declaração dos Direitos inglesa proibiu a aplicação de penas cruéis e consagrou o direito de petição. Para além disso, foi a gênese do princípio da separação dos poderes, uma vez que previu a independência do Parlamento. 6 2.6 A Declaração de Direitos da Virgínia Elaborada em Williamsburg no ano de 1776, a Declaração de Direitos da Virgínia que teve ideais iluministas prevê, dentre outros, que todo poder emana do povo e que o ser humano é titular de direitos fundamentais como o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. 2.7 A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1789, consolidou os princípios da Revolução Francesa, inspirada nos ideais iluministas. Ela estabeleceu reformas políticas que concediam ao cidadão o direito à liberdade, pregando um Estado laico, o direito de associação política, o estado de inocência, a livre manifestação do pensamento, o princípio da reserva legal e o princípio da anterioridade. Todos esses direitos seriam alcançados pela tripartição dos poderes, independentes entre si. Confira abaixo algumas de suas disposições: Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outrosmembros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. 7 Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. 2.8 As Convenções de Genebra Por fim, temos as Convenções de Genebra. O primeiro tratado internacional que recebeu o nome de Convenção de Genebra foi assinado em 1864, em Genebra, na Suíça. Essa Convenção, totalmente voltada para o desenvolvimento do direito humanitário internacional, teve como objetivo amenizar os efeitos das sucessivas guerras entre as nações que ocorreram até então, principalmente no que tange à população civil. Em 1907 na Holanda ocorreu a II Convenção de Genebra, onde foram estendidos todos os princípios da primeira Convenção para os conflitos marítimos, que não haviam sido previstos, protegendo-se os náufragos, doentes e feridos. Em 1925 ocorreu a III Convenção de Genebra, onde se determinou que fosse dado tratamento humanitário a todos os prisioneiros de guerra. Por fim, em 1949 ocorreu a IV Convenção de Genebra, que levou em consideração as experiências da II Guerra Mundial. Seu objetivo era tratar também dos civis, não tratados nas convenções adotadas antes de 1949. Foi quando se deu origem ao Direito Internacional dos Direitos Humanos e ao Direito Internacional Humanitário. A IV Convenção de Genebra possui 159 artigos e continua em vigor, sendo aplicada mesmo quando não há uma declaração de guerra. Em 1977 foram aprovados dois Protocolos Adicionais à Convenção de Genebra, sendo que o Primeiro ampliou a definição de vítimas de conflitos armados internacionais e o Segundo reforçou a proteção das pessoas afetadas por conflitos armados no âmbito interno. 8 1.694 a.C • Código de Hamurabi 1.1215 • Magna Carta 1.628 • Petition of Right 1.679 • Habeas Corpus act 1.689 • Bill of rights inglesa 1.776 • Declaração de Direitos da Virgínia 1.789 • Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão 1.864-1949 • Convenções de Genebra 9 2.9 A eficácia dos Direitos Humanos As normas que definem os direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, consoante a literalidade do parágrafo 1o do artigo 5o da Constituição Federal: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Isso indica, por si só, a força normativa privilegiada que possuem os direitos fundamentais. Sendo assim, dada a sua importância e a sua grande incidência nos concursos públicos, neste momento iniciaremos os nossos estudos no que tange à eficácia dos direitos humanos/ direitos fundamentais no que toca ao seu aspecto objetivo. Ela se divide em eficácia vertical, eficácia horizontal, eficácia diagonal e eficácia vertical com repercussão lateral. Eficácia vertical A eficácia vertical dos direitos humanos diz respeito aos órgãos estatais. Isso quer dizer que, apesar de a Constituição Federal não ser expressa ao dizer quem são os seus destinatários, temos que ela se volta principalmente para o Estado, limitando a sua atuação das relações perante os indivíduos. Para se lembrar que a eficácia vertical diz respeito ao Estado, lembre-se que ela faz alusão à posição de verticalidade ocupada pelo Estado frente ao indivíduo. Eficácia horizontal De seu turno, a eficácia horizontal indica a oponibilidade dos direitos aos particulares no bojo de suas relações privadas. De acordo com Rogério Saraiva Xerez2 Assim o conceito de eficácia privada ou horizontal baseia-se na ideia de oponibilidade dos direitos fundamentais nas relações privadas, ou seja, não somente nas relações Estado- Cidadão, mas também entre os particulares. Significa, portanto, aplicação direta e imediata dos direitos fundamentais nas relações privadas como direito subjetivo, com fundamento na Constituição. 2 XEREZ, Rogério Saraiva. Direitos fundamentais: eficácia na esfera das relações privadas. Revista Eletrônica Direito e Política, Itajaí, 2014. 10 A eficácia horizontal, que consiste na aplicação dos Direitos Humanos entre os particulares, também é conhecida com Drittwirkung, em alemão. Eficácia diagonal Já a eficácia diagonal dos Direitos Humanos consiste na aplicação destes direitos nas relações de trabalho, entre empregado e empregador. E qual o motivo dessa nomenclatura? É simples: a posição do empregador em relação ao empregado não é exatamente horizontal, mas sim um pouco acima – diagonal. Eficácia vertical com repercussão lateral Por fim temos a eficácia vertical com repercussão lateral. Esse conceito foi desenvolvido por Luiz Guilherme Marinoni e pode cair na sua prova. Segundo o citado doutrinador, a eficácia horizontal dos direitos fundamentais deve ser mediada pela lei e, quando o legislador se omitir, devemos recorrer à jurisdição. Caso o juiz conclua que o legislador negou proteção ao direito fundamental, deve este determinar uma medida que efetive a tutela do referido direito. Em síntese, temos que o direito fundamental será efetivado e resguardado por uma atuação judicial. 11 QUADRO SINÓTICO Afirmação histórica dos Direitos Humanos Código de Hamurabi 1.694 a.C Instituiu o fim das penas arbitrárias Magna Carta 1.215 Previsão do devido processo legal Petition of right 1.628 Oficializou os direitos fundamentais do homem Habeas Corpus Act 1.679 Tutelou a liberdade individual contra a prisão abusiva, arbitrária ou ilegal Bill of Rights inglesa 1.689 Consagrou o direito de petição e a separação dos poderes Declaração de Direitos da Virgínia 1.776 Reconheceu que todo poder emana do povo, que o ser humano é titular do direito à vida, à liberdade, à busca da felicidade, etc Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão 1.789 Instituiu o Estado Laico, o princípio da reserva legal, o estado de inocência e o direito à liberdade Convenções de Genebra 1.864-1949 Direito Internacional Humanitário e Direito Internacional dos Direitos Humanos 12 Eficácia dos Direitos Humanos Eficácia vertical Oponibilidade dos direitos humanos ao Estado Eficácia horizontal Oponibilidade dos direitos humanos aos particulares nas relações privadas Eficácia diagonal Oponibilidade dos direitos humanos nas relações entre empregado e empregador Eficácia vertical com repercussão lateral Eficácia dos direitos humanos decorrente da tutela jurisdicional 13 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (TRF 3 Região -2018 – Juiz Federal Substituto) Em 1999, Damião Ximenes Lopes, pessoa com deficiência mental, foi internado na Casa de Repouso Guararapes, na cidade de Sobral (CE), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em perfeito estado físico. Poucos dias depois, sua mãe o encontrou agonizante, sangrando, com hematomas, sujo e com as mãos amarradas para trás, vindo a falecer nesse mesmo dia, sem qualquer assistência médica no momento de sua morte. Com a demora nos processos cível e criminal na Justiça daquele Estado na apuração de responsabilidades, a família, alegando violação do direito à vida, à integridade psíquica (dos familiares, pela ausência de punição aos autores do homicídio) e ao devido processo legal em prazo razoável, peticionou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que veio a processar o Estado brasileiro perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH). Com relação a esse caso, é CORRETO afirmar que: A) Em face do caráter subsidiário da jurisdição internacional, foi acolhida exceção de admissibilidade por ausência de esgotamento dos recursos internos, oposta pelo Estado brasileiro, tendo sido determinada pela Corte IDH a suspensão do feito até o exaurimento dos mecanismos internos de reparação; B) A forma federativa do Estado brasileiro justificou a condenação do Estado do Ceará em litisconsórcio passivo com a União; C) Foi aplicada pela Corte IDH a doutrina da eficácia horizontal da proteção internacional dos direitos humanos (“Drittwirkung”), responsabilizando o Estado brasileiro; D) Petição dos familiares da vítima endereçada à Corte IDH, após o trâmite regular em que se afastou as preliminares do Brasil de ausência de esgotamento dos recursos internos e denunciação à lide ao Ceará, foi acolhida com condenação da União. 14 Comentário: Apesar de os demais temas não terem sido abordados ainda, era perfeitamente possível que o candidato respondesse à questão e acertasse. Isso porque a resposta correta é a letra “C”, que diz respeito à eficácia horizontal de proteção internacional dos Direitos Humanos. Como já estudado, essa teoria surgiu na Alemanha, e se refere à projeção dos direitos fundamentais nas relações entre particulares, e sendo a casa de saúde privada, incide a eficácia horizontal. Importante salientar que o caso Ximenes vs. Brasil foi a primeira sentença de mérito da Corte Interamericana de Direitos Humanos em face do Brasil em decorrência de maus tratos sofridos por pessoa com deficiência, em uma clínica psiquiátrica, que resultou em morte. Para fins didáticos, analisaremos brevemente os erros das demais alternativas, que serão melhor visualizados pelo candidato no decorrer do estudo do material AdVerum: O item “A” está incorreto porque, na verdade, não deveria ter sido acolhida a exceção de admissibilidade ante o não esgotamento dos recursos internos, com fulcro no artigo 42, 2, “C” da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos. O item “B” está incorreto porque o estado do Ceará não possui personalidade jurídica internacional para integrar o polo passivo da demanda – quem o possui é o Brasil. Por fim, o item :D: está incorreto porque os familiares não possuem legitimidade para endereçar a petição diretamente à Corte. Questão 2 (FCC - 2016 – DPE/BA – Defensor Público) Com relação à origem histórica dos direitos humanos, um grande número de documentos e veículos normativos podem ser mencionados, dentre eles é correto afirmar que cada um dos documentos abaixo mencionados está relacionado com um direito humano específico, com EXCEÇÃO de: 15 A) Declaração de Direitos do Estado da Virgínia, 1776, que disciplinou os direitos trabalhistas e previdenciários como direitos sociais; B) Declaração de Direitos (Bill of Rights), 1689, que previu a separação dos poderes e o direito de petição; C) Convenção de Genebra, 1864, que teve relevante destaque no tratamento do direito humanitário; D) Constituição de Weimar, 1919, que trouxe a igualdade jurídica entre marido e mulher, equiparou os filhos legítimos aos ilegítimos com relação à política social do Estado; E) Constituição Mexicana, 1917, que expandiu o sistema de educação pública, deu base à reforma agrária e protegeu o trabalhador assalariado. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a alternativa “A”. Consoante estudado anteriormente, a Declaração de Direitos da Virgínia é um documento que previu a proteção dos direitos individuais, mais notadamente o direito à vida, à liberdade, à felicidade, à segurança, etc. Com efeito, a discussão acerca dos direitos sociais surgiu a partir do século XIX. A alternativa B está correta, assim como a C, D e E, por seus próprios termos. Questão 3 (VUNESP - 2014 – PC-SP – Escrivão de Polícia Civil) Documento histórico relevante na evolução dos direitos humanos, elaborado no século XIII, que regulava várias matérias, de sentido puramente local ou conjuntural, ao lado de outras que constituem as primeiras fundações da civilização moderna, que considera que o rei se encontra vinculado pelas próprias leis que edita e que traz a essência do princípio do devido processo legal em seu texto. 16 Tal descrição se refere à: A) Lei de Habeas Corpus (ou Habeas Corpus Act); B) Declaração de Direitos da Inglaterra (ou Bill of Rights); C) Declaração de Independência dos Estados Unidos da América; D) Magna Carta (ou Magna Charta Libertatum); E) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a alternativa “D”. Estudamos neste capítulo que uma das principais contribuições e inovações da Magna Carta é a previsão do devido processo legal. O Habeas Corpus Act tutelou, principalmente, o direito e a liberdade de ir e vir; a Declaração dos Direitos da Inglaterra previu a separação dos poderes; a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América previu liberdades individuais e a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão previu principalmente o estado laico. Questão 4 (CESPE - 2010 – Instituto Rio Branco – Diplomata) O Direito Internacional Humanitário, campo das ciências jurídicas com o objetivo de prestar assistência às vítimas de guerra surgiu, efetivamente, com a primeira Convenção de Genebra, em 1864. ( ) Certo ( ) Errado 17 Comentário: A alternativa está correta. Com efeito, o Direito Internacional Humanitário, que prevê a assistência às vítimas de guerra, surgiu efetivamente com a primeira Convenção de Genebra em 1864. Depois da primeira convenção de Genebra, as demais surgiram para aprofundar e expandir o Direito Internacional Humanitário. Questão 5 (PGR - 2011 – Procurador da República) “Eficácia horizontal”, no âmbito da proteção internacional dos direitos humanos A) Tem o mesmo significado de “Drittwikung”; B) Se aplica à tortura como grave violação de direitos humanos no marco da Convenção da ONU contra Tortura de 1984; C) Não se aplica ao trabalho escravo no marco da Convenção sobre a Escravatura de 1926; D) Só se aplica à garantia de direitos humanos no âmbito do espaço público. Comentário: O item “A” está correto. Vejamos. “Drittwirkung” é a denominação para “eficácia horizontal” em alemão. Embora a tortura seja considerada um dos exemplos de violação grave a direitos humanos, a concepção de necessidade de combate à tortura no âmbito das relações privadas não encontra previsão na Convenção da ONU de 1984, motivo pelo qual a assertiva “B” está incorreta. O item “C” também está incorreto porque a escravidão, no âmbito público ou privado, é vedada desde a Convenção da ONU sobre a Escravatura, em 1926. 18 O item “D” está incorreto porque a eficácia horizontal dos direitos humanos é aquela aplicada no âmbito das relações privadas. Questão 6 (UECE-CEV- 2017 – SEAS-CE - Socioeducador) Atente ao seguinte enunciado:“[...] também guiada pelo ideário iluminista, veio a consagrar inúmeros direitos da pessoa, em documentos como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e as Constituições de 1791 e de 1793, que reconheceram expressamente a liberdade e a igualdade inerentes ao ser humano, bem como a necessidade de limitar os poderes estatais, de modo a que estes não interferissem na esfera de liberdade dos indivíduos”. No que diz respeito aos direitos humanos, o enunciado acima faz referencia ao legado resultante da A) Revolução Inglesa B) Revolução Francesa C) Revolução Industrial D) Primeira Guerra Mundial. Comentário: A alternativa correta é a letra “B”. Como já abordado anteriormente, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão foi anunciada no dia 26 de agosto de 1789 na França, estando intimamente ligada à Revolução Francesa. Questão 7 (VUNESP – 2018 – PC/SP – Delegado de Polícia) esse documento histórico de remota conquista dos direitos humanos foi editado com o escopo de assegurar a Supremacia do Parlamento sobre 19 a vontade do Rei, controlando e reduzindo os abusos cometidos pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial declarando, dentre outras conquistas, o direito de petição, eleições livres e a proibição de fianças exorbitantes e de penas severas: a) Petition of Rights, de 1628; b) Habeas Corpus Act, de 1679; c) The Bill of Rights, de 1689; d) Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789; e) Magna Carta, de 1215. Comentário: A assertiva correta é a letra “C”. Com efeito, a Petition of Rights, impunha ao rei o reconhecimento de direitos e liberdades civis, o Habeas Corpus Act regulamentou a questão das prisões ilegais ou abusivas, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão visou declarar direitos inerentes aos homens e a Magna Carta estabeleceu algumas garantias e imunidades aos nobres. A Bill of Rights, por sua vez, criou o direito de petição, as imunidades parlamentares, a vedação às penas cruéis, etc. Questão 8 (VUNESP – 2013 – PC-SP – Investigador de Polícia) Dentre os documentos reconhecidos internacionalmente e que limitaram o poder do governante em relação aos direitos do homem, encontra-se o mais remoto e pioneiro antecedente que submetia o Rei a um corpo escrito de normas, procurava afastar a arbitrariedade na cobrança de impostos e implementava um julgamento justo aos homens. Esse importante documento histórico dos direitos humanos denomina-se A) Talmude; 20 B) Magna Carta da Inglaterra; C) Alcorão; D) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França; E) Bill of Rights. Comentário: A assertiva correta é a letra “B”.O documento histórico descrito no enunciado é a Magna Carta da Inglaterra, assinada em 1215 e que constituiu um acordo entre o rei e os barões da Inglaterra, destinando-se à proteção dos direitos individuais, evitando inclusive a arbitrariedade excessiva na cobrança de impostos e reconhecendo direitos civis como a propriedade privada. O Talmude é uma compilação de leis judaicas e o Alcorão é o livro sagrado do Islã. Questão 9 (FCC – 2018 – Câmara Legislativa do Distrito Federal – Consultor Legislativo) Um dos marcos importantes na evolução histórica dos direitos humanos foi a Magna Carta, sobre a qual é correto afirmar que A) é o nome latino pelo qual ficou conhecida a Constituição dos Estados Unidos da América, documento de 1777 que proclamava o direito de escolha dos governantes pelo voto, o direito de propriedade e as liberdades de imprensa, associação e reunião. B) também conhecida como Carta das Liberdades, foi firmada logo após a Revolução Francesa, sendo o primeiro documento a reconhecer o direito de igualdade e, assim, o caráter universal dos direitos humanos. 21 C) data do século XIII, e foi instituída para limitar o poder absoluto dos monarcas ingleses ao instituir, entre outras, a regra de que nenhum homem livre poderá ser preso ou privado de seus bens sem julgamento de seus pares segundo as leis do país. D) foi instituída pelo parlamente britânico em 1648, e contemplou, entre outros, o bill of rights ou petição de direitos, dotando os cidadãos do direito de questionar prisões arbitrárias por meio do habeas corpus. E) data da segunda metade do império romano, tendo sido criação dos juristas romanos para, por meio do Senado, limitar o poder absoluto de vida e morte do imperador sobre seus governados. Comentário: A alternativa correta é a letra “C”. Com efeito, a Magna Carta, um documento de 1215, limitou o poder dos monarcas da Inglaterra, especialmente do Rei João, de modo que impedisse o exercício do poder absoluto. Considerando toda a explicação já trazida neste capítulo, bem como seu conceito, conteúdo e características, temos que a única assertiva que aborda corretamente este documento é a letra C. Questão 10 (MPT - 2015 – Procurador do Trabalho) Qual das seguintes cláusulas NÃO CONSTA da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 proclamada durante a Revolução Francesa: A) A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão; 22 B) Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. C) Todos os homens em idade adulta e no pleno gozo de sua sanidade mental têm direito de votar e ser votado; D) A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração; E) Não respondida. Comentário: A alternativa a ser assinalada é a letra “C”, pois é a única cláusula que não consta da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. Vejamos. Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para 23 todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penasestrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei. Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada. Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades. Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. 24 Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização. 25 GABARITO Questão 1 - C Questão 2 – A Questão 3 - D Questão 4 - Correta Questão 5 - A Questão 6 - B Questão 7 - C Questão 8 - B Questão 9 - C Questão 10 - C 26 QUESTÃO DESAFIO Quais as estruturas que os direitos humanos podem assumir? Máximo de 5 linhas 27 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO Em geral, todo direito exprime a faculdade de exigir de terceiro, que pode ser o Estado ou mesmo um particular, determinada obrigação. Por isso, os direitos humanos têm estrutura variada, podendo ser: direito-pretensão, direito-liberdade, direito-poder e direito- imunidade. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: direito-pretensão O doutrinador Segundo André de Carvalho Ramos (2014) menciona em sua obra que o “direito- pretensão consiste na busca de algo, gerando a contrapartida de outrem do dever de prestar. Nesse sentido, determinada pessoa tem direito a algo, se outrem (Estado ou mesmo outro particular) tem o dever de realizar uma conduta que não viole esse direito. Assim, nasce o “direito-pretensão”, como, por exemplo, o direito à educação fundamental, que gera o dever do Estado de prestá-la gratuitamente (art. 208, I, da CF/88).” direito-liberdade Os direitos humanos têm estrutura variada, podendo ser, dentre outros, direito-liberdade. Sobre esse ponto, deve-se mencionar o que informa o doutrinador André de Carvalho Ramos (2014) em sua obra sobre direitos humanos. Ele aponta que “O direito-liberdade consiste na faculdade de agir que gera a ausência de direito de qualquer outro ente ou pessoa. Assim, uma pessoa tem a liberdade de credo (art. 5º, VI, da CF/88), não possuindo o Estado (ou terceiros) nenhum direito (ausência de direito) de exigir que essa pessoa tenha determinada religião.” direito-poder Em outra vertente, tem-se o direito-poder. Acerca desse ponto André de Carvalho Ramos (2014) tece breves comentários, mas importantes para o debate do assunto em menção. Veja-se: “Por sua vez, o direito-poder implica uma relação de poder de uma pessoa de exigir determinada sujeição do Estado ou de outra pessoa. Assim, uma pessoa tem o poder de, ao ser presa, requerer a assistência da família e de advogado, o que sujeita a autoridade pública a providenciar tais contatos (art. 5º, LXIII, da CF/88).” 28 direito-imunidade André de Carvalho Ramos (2014) aponta que o “direito-imunidade, que acarretam obrigações do Estado ou de particulares revestidas, respectivamente, na forma de: (i) dever, (ii) ausência de direito, (iii) sujeição e (iv) incompetência.” E acrescenta que “o direito-imunidade consiste na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo. Assim, uma pessoa é imune à prisão, a não ser em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LVI, da CF/88), o que impede que outros agentes públicos (como, por exemplo, agentes policiais) possam alterar a posição da pessoa em relação à prisão.” 29 LEGISLAÇÃO COMPILADA Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de: Afirmação histórica dos Direitos Humanos Magna Carta (1.215); Petition of Right (1.628); Habeas Corpus Act (1.679); Bill of Rights inglesa (1.689); Declaração de Direitos da Virginia (1.776); Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1.789); Convenções de Genebra (1.864-1949). 30 Simulado OAB com relatório de desempenho Faça um simulado completo da prova com relatório de desempenho para saber como está indo! Lembre-se, você tem direito a 4 simulados no curso de PDF, que estão disponíveis na sua área do aluno. 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Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.9, n.2, 2º quadrimestre de 2014. Disponível em: < https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rdp/article/view/6043/3317>. Acesso em 01.04.2020. https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rdp/article/view/6043/3317 PDF OAB Direitos Humanos Capítulo 3 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 SUMÁRIO DIREITOS HUMANOS, CAPÍTULO 3 .................................................................................................... 3 3. Dimensões/gerações de Direitos Humanos .............................................................................. 3 3.1 Primeira Dimensão .................................................................................................................................................... 4 3.2 Segunda Dimensão ............................................................................................................................................. 5 3.3 Terceira Dimensão ...............................................................................................................................................
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