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TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO Classificação das Constituições Classificação de constituição: 1) Quanto ao conteúdo a) Constituição material ou substancial: conjunto de normas, inseridas ou não em um documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização dos seus órgãos e os direitos fundamentais. b) Constituição formal: conjunto de normas inseridas no texto constitucional, independente do seu conteúdo. Constituição formal é necessariamente escrita e rígida. 2) Quanto à forma a) Constituição escrita: conjunto de normas escritas. Subdivide-se em: codificada (um único documento) ou legal (mais de um documento legal). b) Constituição não escrita, histórica, consuetudinária ou costumeira: baseia-se em costumes, jurisprudência e em textos esparsos. 3) Quanto à origem a) Constituição democrática, promulgada, popular ou votada: caracterizada pela participação popular (Assembléia Nacional Constituinte). b) Constituição outorgada: elaboradas sem participação popular c) Constituição pactuada, mista ou dualista: oriunda de um pacto celebrado entre dois ou mais titulares do poder constituinte (ex.:Magna Carta da Inglaterra de 1215) d) Constituição cesarista, bonapartista, plebiscitária ou referendária: constituições outorgadas que se submetem a umaconsulta popular posterior ou anterior (ex.: Constituições precedidas de plebiscitos no Chile de Pinochet). 4) Quanto ao modo de elaboração a) Constituição dogmática: necessariamente escrita que respeita dogmas da teoria política e jurídica dominantes. b) Constituição histórica: necessariamente não escrita, fruto da contínua síntese histórica, da tradição e dos fatos políticos. 5) Quanto à estabilidade, alterabilidade ou mutabilidade a) Constituição imutável: não prevê nenhum processo de alteração. b) Constituição fixa: estabelece que somente pode ser alterada por obra do próprio poder constituinte originário. c) Constituição rígida: prevê, para a sua modificação, um procedimento solene, mais difícil do que o previsto para a alteração da legislação comum. d) Constituição flexível: prevê, para a sua modificação, o mesmo procedimento observado para as leis infraconstitucionais. e) Constituição semirrígida ou semiflexível: parte rígida, parte flexível (ex.: CF brasileira de 1824). 6) Quanto à extensão a) Constituição breve, concisa ou sintética: Constituição de poucos artigos. Tende a ser mais duradoura (ex.: Constituição dos EUA, de 1787). b) Constituição longa, prolixa ou analítica: Constituição extensa, que aborda e regula todos os assuntos que considera relevantes à formação e funcionamento do Estado. 7) Quanto à finalidade a) Constituição-garantia (também chamada de negativa): seu objetivo principal reside na limitação do poder do Estado por meio da previsão das liberdades negativas ou liberdades-impedimento (ex.: Constituição dos EUA). b) Constituição-dirigente: pretende ser um plano normativo global, que determina tarefas e programas de atuação futura para o Estado. Caracteriza-se por conter normas programáticas (ex.: CF/88). c) Constituição-balanço: retrata uma situação existente, voltada, portanto, para o mundo do “ser” (ex.: Constituições soviéticas de 1924, 1936 e 1977). 8) Quanto à ideologia a) Constituição ortodoxa ou simples: formada por uma ideologia única (ex.: Constituições soviéticas). b) Constituição eclética, pluralista ou compromissória – abriga diversas ideologias, que são conciliadas na Lei Maior (ex.: CF/88). 9) Quanto ao objeto a) Constituição liberal: limita-se à organização do Estado e é associada ao Estado Liberal de Direito (séculos XVIII e XIX). b) Constituição social: contém normas relativas à ordem econômica e social e associa-se ao welfare state (predomínio a partir do século XX). 10) Quanto à concordância entre as normas constitucionais e a realidade política (classificação ontológica de Karl Loewenstein) a) Constituição normativa: possui grande eficácia, uma vez que a dinâmica do poder efetivamente se submete às normas constitucionais (ex.: CF dos EUA). b) Constituição semântica: as normas constitucionais não dominam o processo político nem há essa vontade. A Constituição não passa de uma “fachada” (exs: CF brasileiras de 1937 e 1967). c) Constituição nominal: as normas constitucionais também não dominam o processo político, existindo, porém, a pretensão de que no futuro haja concordância entre as normas constitucionais e a realidade política (ex.: CF/88). Constituições Brasileiras CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Promulgada, democrática, popular ou votada (quanto à origem), escrita (quanto à forma), dogmática (quanto à elaboração), analítica (quanto à extensão), eclética (quanto à ideologia), formal (quanto ao conteúdo), social (quanto ao objeto), rígida (quanto à estabilidade), normativa (quanto à concordância entre normas - Karl Loewenstein) e, dirigente (quanto à finalidade). 1ª Constituição – 1824 – outorgada, semirrígida (art.178, podia ser modificada por lei ordinária) (1822 – Independência do Brasil)- Poder Moderador; Supremo Tribunal Judicial (sem inamovibilidade, sem vitalicidade); Governo: monárquico, hereditário, constitucional e representativo (Câmara e Senado com mandato vitalício), forma unitária de governo e centralizador; Território: províncias; Religião: católica; 2ª Constituição – 1891 – 1ª democrática, liberal (1889 – proclamação da República. Relator: Rui Barbosa; Forma de Governo: republicano, presidencialista (influência da CF/EUA de 1787; regime indissolúvel dos estados (antigas províncias), sem direito de secessão; Capital: RJ; Religião: laico; Extinção do Poder Moderador e criação do Congresso: bicameralismo federal (Câmara, mandato de 3 anos e, Senado, 9 anos) Constituições Brasileiras 3ª Constituição – 1934 – democrática, social, rígida (1930 – Revolução de 30) – Fim da República Velha. Influenciada pela CF de Weimar (1919), mas, também fascista, pois o sistema era de representação indireta (representação classista do Parlamento). Religião: laico, porém com ensino religioso nas escolas. Garantiu o voto feminino. Revolução de 1930 foi o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha e levou Getúlio Vargas ao poder. 4ª Constituição – 1937 – outorgada, rígida, (1937 – Estado Novo) – Fundamentais e Sociais. Nova Era Vargas. Elaborada por Francisco Campos, sob a influência da CF fascista da Polônia de 1935, por isso apelidada de “polaca”. Getúlio com o apoio do Congresso decreta “Estado de Guerra”, pois havia sido descoberto o Plano “Cohen” que colocaria os comunistas no Poder. Posteriormente, sob nova ameaça comunista, Vargas, com o apoio dos militares toma o poder e fecha o Congresso. Ditadura a partir daí. Forma de Governo: República; Forma de Estado: Federalismo. Eleição para presidente: indireta. Constituições Brasileiras 5ª Constituição – 1946 – democrática, (1945 – redemocratização) Contradição do Governo Vargas (apoiou a luta contra os nazistas, mas, era internamente um governo autoritário. Carta dos Mineiros). Fim do Estado Novo. Militares tiram Getúlio do Poder e assume o presidente do STF, ministro José Linhares; em seguida pelo voto direto, foi eleito o General Gaspar Dutra, com 55% dos votos. Forma de Governo: República; Forma de Estado: Federalismo. Religião: laico; Divisão de poderes foi restabelecida (Montesquieu). Essa CF procurou harmonizar a livre iniciativa de (1891) com os ideais sociais de (1934). 6ª Constituição – 1967 – outorgada, (1964 – Golpe de 64). É uma constituição emblemática, pois foi mantida a divisão de poderes de Montesquieu, porém o general Costa e Silva implantou o AI-5, em 13/12/1968. Forma de Governo: República; Forma de Estado: Federalismo; Eleições eram indiretas:presidente escolhido por sufrágio do Colégio Eleitoral (membros do Congresso e delegados representando as Assembleias Estaduais). Porém, o AI-5, via Ato Complementar, de 13/12/1968, o Congresso Nacional foi fechado, permanecendo assim por 10 anos. Instaurando-se a ditadura. Constituições Brasileiras 7ª Constituição – 1969 – (EC nº 1, de 17/10/69) outorgada, (1968 – AI-5) A EC n. 1/69 não foi subscrita pelo Presidente da República Costa e Silva (15.03.1967 a 31.08.1969), impossibilitado de governar por sérios problemas de saúde, nem, “estranhamente”, pelo Vice-Presidente Pedro Aleixo, um civil. Com base no AI 12, de 31.08.1969, consagrou-se no Brasil um governo de “Juntas Militares”, uma vez que referido ato permitia que, enquanto Costa e Silva estivesse afastado por motivos de saúde, governassem os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar. Nesse sentido, e com “suposto” fundamento, é que a EC n. 1/69 foi baixada pelos Militares, já que o Congresso Nacional estava fechado. Constituições Brasileiras 8ª Constituição – 1988 (redemocratização): Promulgada, democrática, popular ou votada (quanto à origem), escrita (quanto à forma), dogmática (quanto à elaboração), analítica (quanto à extensão), eclética (quanto à ideologia), formal (quanto ao conteúdo), social (quanto ao objeto), rígida (quanto à estabilidade), normativa (quanto à concordância entre normas - Karl Loewenstein) e, dirigente (quanto à finalidade). Sendo democrática e liberal, a Constituição de 1988, que sofreu forte influência da Constituição portuguesa de 1976, foi a que apresentou maior legitimidade popular, podendo ser destacadas as seguintes características: ■ Forma de Governo: República, confirmada pelo plebiscito do art. 2.º do ADCT. ■ Sistema de Governo: presidencialista, confirmado pelo plebiscito do art. 2.º do ADCT. ■ Forma de Estado: Federação. Percebe-se sensível ampliação da autonomia administrativa e financeira dos Estados da Federação, bem como do Distrito Federal e Municípios. Inegavelmente, contudo, a União continua fortalecida, caracterizando-se o texto como centralizador. Divisão de Montesquieu e Estado laico Constituição: Sentido Político Na lição de Carl Schmitt, encontramos o sentido político, que distingue Constituição de lei constitucional. Constituição, conforme pondera José Afonso da Silva ao apresentar o pensamento de Schmitt, “... só se refere à decisão política fundamental (estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática etc.); as leis constitucionais seriam os demais dispositivos inseridos no texto do documento constitucional, mas não contêm matéria de decisão política fundamental”. Pode-se afirmar, portanto, em complemento, que, na visão de Carl Schmitt, em razão de ser a Constituição produto de certa decisão política, ela seria, nesse sentido, a decisão política do titular do poder constituinte. Sentido Material e Formal Constituição também pode ser definida tomando-se o sentido material e formal, critério esse que se aproxima da classificação proposta por Schmitt. Do ponto de vista material, o que vai importar para definirmos se uma norma tem caráter constitucional ou não será o seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual foi essa norma introduzida no ordenamento jurídico. Constitucional será, então, aquela norma que defina e trate das regras estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais (formas de Estado, governo, seus órgãos etc.). Trata-se do que Schmitt chamou de Constituição. Por outro lado, quando nos valemos do critério formal, que, de certa maneira, também englobaria o que Schmitt chamou de “lei constitucional”, não mais nos interessará o conteúdo da norma, mas sim a forma como ela foi introduzida no ordenamento jurídico. Nesse sentido, as normas constitucionais serão aquelas introduzidas pelo poder soberano, por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene que o processo legislativo de formação das demais normas do ordenamento. Sentido Jurídico A concepção de Kelsen toma a palavra Constituição em dois sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo. De acordo com o primeiro, Constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau Sentido Jurídico Exemplo: o indeferimento, pelo chefe de seção de uma repartição pública, de um requerimento formulado. Trata-se de verdadeiro comando individual, que deverá estar em consonância com as normas superiores, ou seja: “... devo compatibilizar aquela ordem com a Portaria do Diretor de Divisão; esta com a Resolução do Secretário de Estado; a Resolução com o Decreto do Governador; este com a Lei Estadual; a Lei Estadual com a Constituição do Estado (se se tratar de Federação); esta com a Constituição Nacional. Michel Temer. Sentido Culturalista Constituição é produto de um fato cultural (Produto Total), produzido pela sociedade e que nela pode influir. Ou, como destacou J. H. Meirelles Teixeira, trata-se de “... Uma formação objetiva de cultura que encerra, ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais e racionais, aí intervindo, portanto, não apenas fatores reais (natureza humana, necessidades individuais e sociais concretas, raça, geografia, uso, costumes, tradições, economia, técnicas), mas também espirituais (sentimentos, ideias morais, políticas e religiosas, valores), ou ainda elementos puramente racionais (técnicas jurídicas, formas políticas, instituições, formas e conceitos jurídicos a priori), e finalmente elementos voluntaristas, pois não é possível negar-se o papel de vontade humana, da livre adesão, da vontade política das comunidades sociais na adoção desta ou daquela forma de convivência política e social, e de organização do Direito e do Estado
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