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Ramon M. Cosenza Quarta ediqäo GUANABARA KOOGAN Fundamentos de Neuroanatomia Respeite Livraria do Psic610go e Educador @ Testes AVE ContiMi'i0 '1390 • (31) 3303-1000 Sumärio .1 2 3 4 5 6 7 8 Introduqäo å Estrutura ? å Funqäo do Tecido Nervosa, I Nerves. 9 As 10 Origens e Organizacäo Geral do Sistema Nervoso, 13 14 tileuelléliea 14 SNC dos i enebrados, 15 Orinellt do I } Morfologia Externa do Sistema Nervosa Central, 21 vedula espinhal. 23 27 35 Ci s,E11i211inca • 39 (Generaliclades. Nervos espillhtlis. Nervos Sistema Nervoso Visceral 49 Cottceiio. isceya:s. x isccrais. .50 c 50 Sisa•nla si 53 5-1 Medula Espinhal, 55 ein•.'.ellla da espinhal, Silhst{incia da cspinltal. ( funcionais. 61 Tronco Encefélico, 63 ( Iidades„ 64 64 66 Citncionais. 68 Formaqäo Reticular, 73 C. •oneeilo 74 Conexöes. 7-4 Sifdenlas otiilléruicos. 77 9 10 11 12 13 14 15 16 Cerebelo, 81 c eonexües intrinsccii-s. 82 rcttiöes do S.\'C. 83 ('onsideravöes iizncionais. Hipotélamot 87 Eslruuu•a e divisies, SS Télamo, Subtälamo e Epitålamo, 93 Titian 911 F.pilålanno. Nücleos da Base, 97 Corpo Suhslåncia e nthcleo 102 Cértex Cerebral, 103 (Tonceito estitltura. 104 105 lassilicaqöes. 1 05 Collsideravöes Lobo Litnbico, 1 13 14 eoncxOcs e do lollo Oult•as considera€öcs I i Cis processos e o ito Vias Sensoriaisr 123 Generalidades. 124 Via {titdiliva, i Via Via iv Via Vias fylotoras, 1 35 136 do do corpti eslriado na 138 ( '011Qdcraqöes I )isliifiqöes. 139 Leitura Sugerida, 141 indice Alfabético, 143 Introduqäo Estrutura e å Funqäo do Tecido Nervoso 2 Fundamentos de Neuroanatomia Neurönios No tecido nervoso, os neurönios sio as células illais impor- tautes do ponto de vista funcional Eles lém forma e tamanho dentro do qual se encontra o nåcleo —t e por prolongannentos celulares, que podem ser de dois tipos: os dendritos e as a.x6„ nios (Figura 1.1). De acordo com o nümero cle prolongamentos, os neuronios podem ser classificados enm unipolares, bipolares multipo- laves, sendo estes ültimos os mais frequentes. Existem ainda neur0nios pseudounipolarest dentre as quais, podem ser men- cionados aqueles encontrados nos ganglios sensoriais das vias sensoriais periféricase Esses neurånios tém um finico prolonga- mento, que se bifurca em dando origem a ramo perifé- rico que recebe as informaqöes vindas de um receptor sensorial e as conduz até o gånglio e um ralli0 central que conduz as infortnaqöes do gånglio alé o sistcma nervoso central (SNC) (Figuras 1.1B e 6.2). Pericårio O corpo celulal" dos neurönios é lambém chantado de peri- cårio. Este tem formas bastante variadas: hå neurönios estre- lados, piriformes, fusiformes, piramidais etc. Quanto ås dimensöes, variam desde cerca de 5 mm, no caso dos neurå- nios granulares do cerebelo, at' aproximadamente, 100 mm, no caso dos neurönios piramidais gigantes do cörtex cerebral O pericårio contém o nåcleo celular, geralmente grande, no qual se localiza o Inaterial genético. Nele, podem ser vis- tos um niais nucléolos. No pericårio, existe ainda uma porgåo variåvel de citoplasma, contendo organelas e inclusOes (Figura 1.2). Dentre as organelas ciloplasmåticas. particularmente importante é o reticulo endoplasmåtico granular, l&ornvado, como nas detnais células do organistno, por agregados de cisternas membranosas achatadas e circundadas por ribosso- mos (Figura 1.2). Como nas outras células, ele é responsåvel pela sintese de proteinas. () reticulo endoplasmålico granular é tuttito abundante nos neur0nios e se cora facihncnte cont o uSo de corantes båsicos aparcccndo ao microscopio (3ptico sob a forma de gråtutlos que recebem o nome de corpåscu- los de Nissl (Fioura 1.3). Muilas técnicas histologicas para a visualizaqäo de netlrOnios säo Ivaseadas nessa propriedade, por isso säo chatnadas de técnicas de Nissl„ Elas possibilitam a visualizaqåo dos corpos neuronais, mas näo a dos seus pro- longamentos, uma vez que estes ou ITäo tém reticulo endoplas- måtico granulat; ou o tém etn quantidade insuficiente para ser evidenciado (Figura 1.3). A observaqäo dos corpüsculos de Nissl pode lambém ser utilizada para a avaliaqäo funcional dos neur0nios, jå que células lesadas ou exauridas coslumam apre• sentar cromatélise, ou seja, diminuiqäo 011 desinlegragä() dos corpüsculos de Nissl, juntamenle com outros sinais de sofri- mento celular, Outras organelas muilo evidentes, tanto no pericårio quanto nos prolongamentos neuronais, säo os neurofilamentos c nfcrot(lbulos (Figura 12). Os microtlibulos e podem ser ntarcados pela deposiqäo de sais dc prata, tornan- do-se visiveis ao microscépio Optico sob a forma de neurofibri- las.c Eles säo imporlanles para a mantltenqåo do formato neu- tonal (constituindo o esqueleto celular) e participam também do transporte de subslåncias ao longo dos prolongamentos, o chatnado transporte axånico. É 110 pericårio neuronal que ocorrem os processos meta- bélicos essenciais å Vida da célula. Assinl} os prolongamentos celulares que tenham Sido seccionados e separados do peri- cårio degeneralll e morrem. É importante notar que o neur0- nio é uma célula altamenle especializada, que perdeu, inclu- sivei a capacidade de mitose, ou seja, de reproduqäo. Por isso, quando hi lesäo de células nervosas as células sobreviventes näo conseguem se reproduzir para regenerar o lecido perdido. doellf-as neurodegeneralivas, ocorre do sislema de filamen- tos, que aparece sob a de um emaranhado de neurofibrilas neurO• nio.s de vårias regiöes cerebrais„ No corpo neuronal, podem ser observadas contu!llentc, alélD das organelas .iå ciladas, muitas outras que sho contuns a todas as Ü3ulas, como as milocOndrias, o aparelho de Golgi (Figura I. 2}. Outras inclusöes tmnl)ém frequentes sio. pot' exemplot os grinulos conlendo melanina ou lipoiitseina. c Nécleo Pericärio DendritosC) Bipolar {interneurOnio) Unipolar (nourönio sensorial) Axönio Multipolar (motoneurönio) Figura 1.1 Alguns tipos de (A) Neuronio bipo}aty (B) Neurö!lic; pseudounivoleu. (C) Neurönio lltultipotar. Capitulo | Introduqåoå Estruturaeå do Tecido Nervoso 3 os 05 es Reticulo endoplasmético granular Mitocönd$ie Gotgi Lisassama Reticulo endoplasmätico liso Nücleo Nucléolo Reticulo endoplasmätico granular 9 Neurofilamento Microtübu!o Figura 1+2 Pericério neufönal cam e as principais organeias citopiasm±ticas, Corpüsculos de Nissl Terminagöes axonais Nödulos de Ranvier Axönio Bainha de mielina Figura 1.3 Neurönio multipolar (tom axönio rniclinizudo. 4 Fundamentos de Neuroanatomia Contudo, como vercmos adiantL% existem åreas restritas do sistema nervoso central nas quais a renovaqåo de neurönios ocorre ao longo de toda a Vida. Prolongamentos celulares e impulso nervoso Os neurötlios apresenlarn, como dito anteriormente% dois tipas de prolongamcntos: os dendritos c os axönios. Os den- dritos sio prolongamentos celulares geralmente mdlltiplos, que tendem a se ranjificar como os galhos de uma årvorc (o nome dendrito deriva da palavra grega denclr0iL que significa 'thrvore"). 'l'écnicas histolögicas especiais, como a técnica de Goloü säo capazes de evidenciar toda a årvore dendritica que, ås vezes, é caracterislica de um cerlo lipo de neurönio. Os den- dritos expandem consideravelnnente a superficie neuronal e nmioria dos prolongamentos de outras células faz contato com eles (Figura 1.4). Alguns dendritos emitem pequenas proje- qöes, chamadas espiculas dendriticas, que contribuem ainda mais para o aumenlo da superficie receptora do neurönio (Figura 1.4). A infortnagäo captada por um neurönio geral- mente é conduzida dos dendritos até o pericårio neuronal e dai se propaga até o axönio, que irå estabelecer contato cam oulras células„ E o que se chama de polarizagäo funcional da célula nervosa. Os neur0nios ténm, de maneira geral, apenas um axånio (o nome deriva de uma palavra orcaa que significa "eixo"). Os axönios såo mais finos que os dendritos e conduzem os impul-sos nervosos desde o pericårio até o ponto em que serio trans- mitidos a outras células. O axOnio tem geralmcnte trajeto sem ratnificaqöes até a sua porgåo terminal na qual numero- sas terminaqöes nervosas se originam (Figura 1.3). Um fenÖmeno intercssantc que ocorre nos axönios é o trans- porte axönico. Por um processo a que se då o de trans- porte anterogrado, subståncias såo continuamente levadas do pericårio até as terminaqöes axönicas. Nesse transporte estäo envolvidos os microtåbulos c os neurofilamentos. Por outro lado, subståncias captadas pelas terminaföes nervosas podcm ser condutidas em scntido conlrårio, até o pericårio, via trans- porte retrogrado. Estes sistemas de transporte såo importan- tes para os mecanismos metab61icos das células nervosas e säo utilizados pelos neurocientistas para estudar as concxöes entre os neurönios, por meio das técnicas de transporte. Por exem- plo: subståncias injetadas no corpo celular säo transportadas e podem ser dctectadas nos locais em que as terminag3es axoni- cas se encontram. Da mesma maneira, utilizando o transporte retrogrado, podem ser injetados marcadores na regiäo das ter- minaqöes nervosas, para posterior localizagäo nos corpos celu- laves. Assim, abtém„se informaqöes sobre como se dispöem os circuitos nervosas dentro do SNC A extensåo dos axönios é variåvelm Existem neurånios conn axOnio de extcnsäo muito curta, participando de circuitos loca- lizados, e existem neurOnios coni axönio de extensåo inutilo longa, como aqueles cujo pericårio se encontra na medula espinhal e cujas terminaqöes inervam a musculatura do pet. Estes neurönios padem ter axon iOS de unl metro ou mais. Os axönios variam também com relaqäo ao diåmctro. Muitas classificaqöes neuronais såo baseadas no diåmetro axö- nico dado importantei pois a condugåo do impulso nervoso é mais råpida nos axOnios de maior diåmetro. Os neurånios conduzem informaq-äo por meio do impulso nervoso, que lem natureza elétrica e depende de trocas iönicas ocorridas por meio da membrana celular (Figura 1.5). A membrana da célula neuronal é permeåvel a algumas particulas eletricamenle carregadas (os ions), mas ilnpermeå- vel a outras. Além disso, existem mecanismos que transpor- tattl seletivamente alguns ions, como o "dio (Nao e o potås- sio provocando uma diferenqa dc concentraqåo desses ions nos dois lados da membranar Essa diferenqa tem como resultado o aparecimento de um potencial elétrico entre os lados externo e interno da membrana, com excesso de cargas positivas externamente e excesso de cargas negalivas interna- mente, o que é chamado de potencial de repouso. Essa pola- rizaqåo é alterada quando a membrana é excitada. Nesle caso, ocorre despolarizafäo da membrana, com a entrada de ions södio em grande quantidade, tornando o interior posilivo em relaqäo ao lado externo. Essa perturbaqåo é tnuito råpida e a repolarizaqäo se faz em seguida, pela saida de ions potåssio, o que traz a norrnalidade de volta. Essa råpida modificagäo da polaridade neuronal constitui o potencial de aqäo, que se alastra ås porgöes adjacentes da membrana excitada e é a base do impulso nervoso que irå propagar-se até o final da fibra nervosa. Como mencionamos, a velocidade de conduqåo do impulso nervoso depende do diåmetro dos axönios. Contudo, mesmo axOnios extremamente calibrosos conduzem o impulso ner- voso a uma velocidade baixa, o que inviabilizaria o apareci- mento da maioria dos vertebrados tais como os conhecemos — näo fosse a natureza ter langado måo de um artificio: a mie- linizafäo. Boa parte dos ax6nios encontrados no sistema ner- voso dos vertebrados é envolvida por uma bainha de constituida por vårias camadas de membrana celular de outras células que se enrolmn em torno do axönio (Figura 1.6). No lina säo os oligodendråcitos; no sistema nervoso periférico (doravante SNP), os neurolemåcitos ou células de Schwann (estes tipos celulares seräo estudados adiante). As fibras mielinizadas conduzem o impulso nervoso vårias vezes mais rapidamente que uma fibra amielitlica, pois os fenömenos elétricos responsåveis pela propagaqäo do impulso teräo lugan nas fibras mielinizadas, apenas nas regiöes da membrana axönica que näo estiverem envolvidas pela niielina, os nådulos de Ranvier (Figura I .3), Essa conduqäo em saltos possibilita unit multiplicaqäo da velocidade de conciugäo do intpulso nervoso em até cem vezes. Sinapses Durante muito tempo os estudiosos do sistema nervoso se dividiram entre os que achavanl que o tecido nervoso era formado por uma imensa rede cie células em total continui- dade e os que defendiam ponto de vista de que as células nervosas seriam havendo apenas contigui- dade com outras células. A prilneira era a teoria reticular, que se contrapunha å teoria neuronal que, como se sabe hojC% é a correta, pais as células nervosas entram em contato corn outras células c com elas se cojnunicam por meio de sinapses (Figura 1.4). A sinapse costuma ser constituida por uma terminaqåo axönica dilatada, cuja membrana, chamada pré-sinåptica, estå justaposta å membrana de outra célula a membrana pos- sinåptica. Ao microscopio eletrönico, pode-se ver que o ele- mento pré-sinåptico contém numerosas vesiculas sinåpticas, além de mitocöndrias e, ås vexes, outras organelas (Figura I .4). A membrana pré-sinåptica apresenta espessamento no ponto enl que ocorre a passagem dc informaqöcs, a zona ativa. mas leå- 10T- tås- ses gas na- ons em sim ase bra llso ICi• Lie- .er- ras lie- ico nn 'ias os Iso da nat tos do las äo stå as, no Capitulo I Introduqäoå Estrutura eåFunqäo do Tecido Nervoso Espiculas dendriticas Axönio Mitocöndrias Fenda sinåptica Membrana pré-sinäptica Dendritos Vesiculas sinépticas Membrana pös-sinäptica Figura 1.4Visäo esquemåtica de sinapses no SNC. (Aj Neurön10 com sinapses localizadas no pericäria e nos dendritos. (B) Sinapse axassa- måtica inibitÖria. (C} Sinapse axcdendgitica excitatöria. ID) Sinapsc ex• citatöria rm espicula dendritica. (E) Detalhe mostrarndo a liberaqåo da neurotransmissor no espar;a sinåptico; 11 ) vesicula sinäptica acopiada merllbrana pré-sinåptica; neurotransmissct atuando na membrana pös-sinäptica, ainda excitacla; (21 membrana pés-sinåptica excita- corm poros iönico$ativados; (3) membrana pås-sinéptica de volta aa normal, com c necrotransmissor jé desativado. 6 Fundamentos de Neuroanatomia 35 -70 90 35 -70 Membrana celülar Interior da célula Exterior da célula e eeeeooocooooooooe Na 0009000000 35 -70 e aoeeeeeca Na oaeaeaoaeeeeeeeooe Na Figura IS Represenlaqio dö disposicäo cargas eiétricas ao Eonqo da mern11Q1na na céEula nervtna ent repouso e durat'lte a passagem do irllpulso nervosa, A figura superior a diftfibuiqio desigual elétrLzas nas superfic'es externa e interna da membrana neuronal em repouso. Ym (21 observa-se propaqaqao do nervosa. cam as trocas iör3icas cogespondentes. 7 Neurolemöcito ou célula de Schwann Axånio Capitulo T I Introducäoå Estrutura Funcäo do Tecido Nervoso Bainha de mielina •vim. Figura 1.6 Formaqäo da bainha mieiina em fibra nervosa do SNR A fenda sinåptica separa a membrana pré„sinåptica da mem- brana pés-sinåptica, que se torna espessa na zona ativa. Jå vimos que o neurönio é uma célula que tem polariza- fäo funcionali ou seja, ele normal mente recebe informaqöes pelos dendritos ou pelo pericårio (tambétll chamado soma), enquanto o axOnio se encarrega de transmitir os impulsos gerados no neurönio para as outras células com as quais ele entra em contato. A maioria das sinapses se faz entre um axå- nio e um outro elemento neuronal* formando assim sinapses axodendriticast axossomåticas ou axoaxönicas (Figura IA). Outras porgöes do neurönio podem excepcionalmente awir como elemento pré-sinåptico formando, por exemplo, sinap- ses somatossomåticast dendroaxönicas ou mesmo dendro- dendriticas. Sabemos que, nas sinapses, quando um impulso nervoso chega å terminaqäo nervosa, ocorre a liberaqäo de uma substån- cia, o neurotransmissor,que irå agir em proteinas receptoras da membrana pås-sinåptica, tornando possivel a passagem do estimulo nervoso. No SNC dependendo do neurotransmissor e dos receptores da membrana pés„sinåptica, a passagem do impulso pela sinapse pode provocar excitaqäo ou inibiqåo na célula seguinte, isto é: Existem sinapses excitatérias e inibi- törias. Mais ainda: parece possivel estabelecer correlatos mor- f016gicos para estes dois tipos de sinapses: as excitatérias säo geralmente assimétricas (Figura IA), jå que o espessamento da membrana pds-sinåptica é maior que o espessamento da membrana pré-sinåptica, e tém vesiculas esféricas, Por sua vet, as inibit6rias säo, cm geral, simétricas e apresentam, muitas vezes, vesiculas achatadas (Figura 1.4). Pode-se ver, ao microscåpio eletrönico, que as vesiculas sinåpticas säo geralmentc claras, esféricas e medem em torno de 40 nm (l nanömetro = 10-6 mm). As vesiculas säo um ele- mento importante nas sinapses quimicas, pois nelas se localiza o neurotransmissor, cuja natureza pode ser indicada, muitas vezes pelo aspecto daquelas. As sinapses que utilizam a ace- tilcolina como neurotransmissort por exempla, tém vesiculas claras e esféricas, enquanto as sinapses que utilizam coni0 neurotransmissor o åcido gama-aminobutirico (GABA) apte- sentam vesiculas achatadas ou elipticasv Por outro lado, exis- tem vesiculas que apresentam no setl interior utngrånulo ele- trondenso, por isso, sendo chamadas de vesiculas granulares„ - Existem, mesmo no SNC de mamiferos, pontos de contato entre os neurönios ern que as membranas celulares cstäo inlimatnellte justaposlas e nas quais um impulso nervoso pode passar de um neurönio a outro sem a utilizaqa•ho de neurotransmissoE sio as sinapscs elétricas. Esse tipo dc contato é, contudo, raro e, provavelmente, seny importåncia na neurofisiologia dos mamifcros. Por outro ladcb existent locais etn que os neurotransmissores se pelo espaqo extracelular, indo exercer sua dislåncia, onde existetn receptores apropriados. Fsse motlo de transn7issäo, denominado parassinåptico. existe em alguns locals do SNC dos manft•eros e possibilita vårias populaqöes de neurönios sejam reguladas ao mesmo tentpo- Um bom exemplo de sinapses com vesiculas granulates såo aquelas que tém como neurotransmissor as aminas biogénicas (noradrenalina, dopaminm serotonina etc,) (Figuras 8.4 a 86). É preciso notar, contudo, que o aspecto da vesicula é apenas uma indicagäo e näo um elemento decisivo para a identifica- qåo da natureza quimica do neurotransmissor sinåptico, Sabe-se que o sistema nervoso é extremamente plåstica e modifica-se conforme a aprendizagem, ou sejai com os esti- mulos que recebe do meio externo ou do interior do pr6prio organismo ao longo da Vida. Essas modificagöes traduzem-se em alteraqöes na conduqäo da informagäo nas sinapses ou no aumento ou na diminuiqäo do nåmero dessas estruturasv A passagem do impulso nervoso pode entäo ser facilitada ou dificultada por alteragöes induzidas pelas experiéncias vividas, bem como novas sinapses podem ser formadas ou desativadas pelas mesmas experiéncias o que constitui a base neurobiolo- gica do fenömeno da aprendizagem. Neurotransmissores Quando o impulso nervoso atinge o elemento pré-sinåptico, as vesiculas säo conduzidas para a zona ativa e ai se fundem å membranaj liberando na fenda sinåptica o seu conte(ldo, uma subståncia quimicai no caso um neurotransmissor. O neuro- transmissor vai agir, entåo, nos receptores farmac016gicos da membrana pås-sinåptica (os receptores såo proteinas ai situa- das). A interagäo neurotransmissor/receptor geralmente altera a permeabilidade da membrana pås-sinåptica a determinados ions, provocando mudanga na polaridade elétrica da mem- brana, que podc propagar-se a partir do ponto excitado, origi- nando um impulso nervosa. Depois de provocar a alteraqåo na membrana pos-sinåptica, o neurotransmissor é rapidamente inativado, por difusäo, por recaptagäo pela terminafåo pré-si- nåplica ou destruiqäo enzimåtica. A sinapse, assim, estå pronta para atuar novamente. Os neurotransmissores, na maioria das vezes, såo produzi- dos no pericårio neuronal transportados ao longo do ax0nio e armazenados nas vesiculas sinåpticas. Depais de sua libera• $0, podem ser reaproveitados por recaptaqåo 011 destruidos definitivamente. Atualmente, sio conhecidas dezenas de neurotransmis- sores, e o numero tende a acnnentar, å jnedida que avanqa o conhecinnenlo cientifico. Os neurotransmissores clåssicos tém 11101éculas relativamente pequenas, caso da acetilcolina ou das monoaminas (a noradrenalina, a adrenalina, a dopamina, a serotonina e a Os outros säo aminoåcidos, como o glutamato, o aspartatm o åcido gama-aminobutirico (GABA) ou a glicina. Porém, o maior nümero de neurotransjnissorcs estå entre os polipeptidios, que télll, como se sabe} grande peso tnolecular. Dentre estes, podeni ser citadas as endorfi- nast a subståncia P, a vasopressina etc. Alénm disso, sabe-se que 8 Fundamentos de Neuroanatomia existem neurotransmissores gasosos, como o oxido nitrico e o mon6xido dc carbono. Inicialmentc% pensava-se que cada neurönio pudesse libe- rar apenas um neurotranstnissot; mas hoje se sabe que a coe- xisténcia deles é muito comum, principalmente entre neuro- peptidios e neurotransmissores clåssicos (que (ém baixo peso molecular). Esse fato, naturalmente, amplia a complexidade das agtöes que podem ser exercidas a nivel sinåpticoj com a liberaqäo de um ou outro neurotransmissor ou de suas aqöes conjugadas. Quando existe mais de um neurotransmissor presente, um deles pode atuar como neuromodulador das aqöes do outrof provocando modificaqöes lentas no potencial da membrana, ou allerando o metabolisnto da célula pos- sinåptica„ Neuroglia No tecido nervoso, além dos neurånios, encontramos outras células que näo estäo diretamente envolvidas na recep- e na conduqäo dos impulsos nervosos e que, em conjunto, sio chamadas de neuréglia simplesmente, células da glia (ou células No SNC, existcm quatro tipos de neu- råglia: aströglia, oligodendroglia, microglia e epéndima„ Nas preparaqöes histolégicas de rotina, visualizamos apenas os nåcleos das células gliais com exceqäo do epéndima, que reveste as cavidades ventriculares do SNC- Os astrécitos säo células com numerosos prolongamentos, fato que originou o setl nome. Eles podem ser de dois tipos: fibrosos e protoplasmåticos (Figura 13), presentes, respecti- vamente, nas subståncias branca e cinzenta do SNC, Hii bastante tempo, sabe-se que os astråcitos constituem um suporte estrutural para os neurOnios e participam do processo de cicatrizagåo no SNC, ajudando a produzir o tecido cicatricial. Mais recentemente, descobriu-se que eles contribuenl também para a transmissäo da informagåo, influindo na concentraqäo de ions no espaqo extracelular e Aströcito protoplasmåtico Microglia participando da recaptaqäo de neurotransmissores em lorno das sinapses. Os astrécitos situados na superficie do SNC enviam prolongamentos até a meninge mais inlerna, a pia- måtet; formando com ela a membrana pioglial, que envolvc todos esses c3rgäos. Além disso, prolongamenlos astrocitårios envolvem os capilares sanguineos, de tal mode que a che- gada de nutrientes e a expulsåo de residuos entre as célu- las nervosas e o sangue såo intermediadas pelos astrocitos. (Figura 1.8). Eles participam da regulaqäo do fluxo sanguinco, aumen- tado quando os neurönios eståo ativos e necessitam de mais oxigénio e glicose- Por outro lacto, os aslrécilos fazem parte da chamada barreira hematencefålica, que impede a passagem de muitas subståncias do sangue para o sistema nervoso. Essa barreira evita que muitas toxinas danifiquem os neurönios, mas também impede a passagetn de vårios medicamenlos vei- culados por via sanguinea. Os oligodendr6citos, por sua vez, säo menores que os astr6citost tém poucos prolongamenlos (Figura 1 5) e sua fungäo primordial parece ser a formaqäo da mielina para os axönios do SNC (Figura 1.8b Deve-se notar que no SNP nao existemoligodendröcilos, e por isso a lilielinizaqäo das fibras dos nervos é realizada pelos neurolemåcitos (ou células de Schwann). Os microgliåcitos (Figura 1.7) såo células pequenasi com poucos prolongamentos e, ao conlrårio dos demais elemen- tos da neuroglia, nåo se originam do ectodermm mas pare- cem chegar ao SNC no momento da formaqäo dos seus vasos sanguineos, que 10m Origem mesodérmica. Os microgl i6cilos tém funqäo fagocitåria, removem detritos e microrganismos no interior do SNC, dentro do qual participam também das respostas imun016gicas. Por fim, as células do epéndima (ou ependimöcitos) säo células a!ongadas, frequenlemente ciliadas, que revestem as cavidades do SNC, colocando-se em contato com o liquido cerebroespinhal„ Este liquido, aliås, é produzido em parte pelos ependimåcitos comuns e, principalmente, por uma modifica- qäo do epéndima existente em alguns locals do sistema ven- tricular: o plexo corioide (Figura 3.26). Aströcito fibroso Oligodendröglia Figura 1.7 Diferentes tipos de célulasda neuroglia no SNC. 'Ive 'iOS he- lais xte ssa os öua os läo ras de re- sos tos 10S las iao as 'do los Capitulo | Introduqäoå Estruturo eå Funcäo do Tecido Nervosa Astrdcito Microgliécito Vaso sanguineo Neurönio Oligodcndråcitos Figura 1.8 Visio esquemåtita cla disposiq-io das células neurogliais no SNC- Nervos Os nervos sio cordöes de coloraqäo esbranquigada, constituidos essencialmenle, por libras nervosas (axönios) protegidas por um envolt6rio de tecido conjuntivo. A 'naior parte das fibras nervosas presentes nos nervos såo mielini- zadas, ou seja, tém uma bainha de mielina, que é o resul- tado da justaposiqäo de vårias camadas da membrana celular dos neurolemécitos, que se enrolam em torno dos axönios (Figuras I .6 e I Mesmo as fibras amielinicas costumam ser "abraqadas» por estas células, que formam a bainha de As fibras nervosas, com suas bainhas, säo envolvidas por um tecido conjuntivo delicado, formador do endoneuro. No interior do nervo, as fibras nervosas se organizam em fascicu- lost envolvidos por um perineuro, e o nervo como um todo tem unl envoltörio conjuntivo que leva o nome de epineuro (Figura 1.9). Estes envoltérios de tecido conjuntivc» além de servirem de proteqäo aos nervos, säo importantes por conte- rem vasos sanguineos que iräo trazer oxigénio e outros meta- bölitos essenciais. Ao longo dos nervos, existem apenas prolongamentos neuronais e näa células nervosas, como ocarre nos 6rgåos do SNC- Por isso, neles existe a possibilidade de regeneraqåo em caso de lesåo (Figura 1.10).neurilema. Medula espinhal Gänglio sensitivo Sinapse Endoneuro Perineuro 439. epineuro Célula de Schwann Mielina Mügculo Figura 1.9 Estrutura de um nervo espinhal. (Repr6duzido, sob autorizageio, de Junqueira, I..C,; Carneiro, J, i4istoioqio båsico. Rio de Jane'ro, Guanabara Koogan, 19963 10 Fundamentos de Neuroanatomia Axönio c F Placas motoras Bainha de mielina Lesäo Neurolemécitas Müsculo estriado Terminaqöes em degeneraqäo Axönio em degeneracäo Neurolemöcitos Axånio regenerado Figura 1.10 Representaqäo dos processos de degeneraqäo e de regenerä#o de uma fibra nervosa em nervo periférico- (A) Neurönia motor intacto„ (B) Alteraqäes iniciais provocadas por Iesäo. (C) Principio ee regeneraqäo na porqäo proximal do axönio, com rearganizaqäo dos neu- rolemöcitos; cromatå3ise no corpo celular; degenetaqäo na porgäo distal do axénio. (D) Ramificaqöes axönicas. guiadas pecs neurolemöcitos, penetram na porqäo distal do nervo- (E) Processos axönicos formam novas termineqöesi processos aberrentes degenerarru (F) Regeneraqäo completa. (Adaptada de gurt, A.M. Textbook of neuroanatomy. Philadelphia W.a. Saunders, 1993.) As terminaqöes nervosas Em sua porqäo distal, os nervos iräo entrar em contato com os drgåos periféricos por meio de terminaqöes nervosas, que podem ser sensoriais ou motoras. As terminagöes nervo- sas sensoriais, também chamadas de receptores sensoriais, seräo sensiveis a determinado tipo de estimulo, a partir do qual desencadearäo o aparecimento de impulsas nervosos nas fibras aferentes ao SNC. Existem, assim, receptores tåteiSi tér- micos, dolorosos etc. Do ponto de vista morfolégico, os recep- tores poderäo apresentar-se como terminaqöes nervosas livres ou serem envolvidos por cåpsulas ou formaqöes de natureza conjuntiva (Figura 1.11). As terminaqöes nervosas motoras väo estabelecer contato entre as fibras nervosas e os efetuadores: misculos ou glandu- las. Elas podem ser chamadas de jungöes neuromusculares ou jungöes neuroglandulares„ Morfologicamente, estas ter- minagöes se assemelham ås sinapses entre os neurénios, e ali ocorre a liberaqäo de um neurotransmissor que irå atuar na membrana do efetuadorm Capitulo i I Introducäoå Estruturct eå Funqäo do Tecido Nervoso MeissnerPressåo: Valter-Pacini Terminaqöes livres Ruffini Krause Fuso neuromuscular propriorreceptor Terminagäo tendinea propriorreceptora Figura .11 Terminaqöes nervosas sensoriais, como vistas ao microscöpio éptico. (Reproduzido, sob autorizaqäo, de Junqueira, L.C.; Carneira$ J. Histologic båsico, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1996.} neu- 'EGäo icep- livres *treza ntato ndu- lares ter- e ali 2r na Origens e Organizaqäo Geral do Sistema Nervoso 14 Fundamentos de Neuroanatomia Introducäo O conhecimento de alguns aspectos da filogénese (evolu- $0) e da ontogénese (embriologia) do sistema nervoso con- tribui, substancialmente, para a compreensåo de sua morfo- logia e de seu funcionamento na Vida adulta. Sendo assim é importante fazer uma råpida abordagem desses aspectosy bem como tornar clara a organizaqäo anatomica geral do sistema nervoso, antes de iniciar o estudo da neuroanatomia propria- mente dita. Origem filogenética do sistema nervoso O lecido nervoso é constituido por células especializadas na recepqäo, na conduqäo e na transferéncia de informaqöes. Estas propriedades säo fundamentais para que se faga a inte- raqäo entre o organismo e o meio ambiente e säo utilizadas também para o controle do meio interno„ A interaqäo efi- ciente com o meio ambiente é essencial å sobrevivéncia dos seres vivos e é observada mesmo nos organismos unicelulares. Nos animais pluricelulares, porém, é possivel a divisäo de tra- balho entre as células, e para que aquela interaqäo pudesse ser realizada, neles ocorreu a aparifäo das células nervosas, ou neurönios, que säo especializ.adas em excitabilidade, condu- tibilidade e secrefåo- Portanto, células capazes de receber e conduzir estimulos, além de elaborar respostas. Nio se sabe ao certo como e quando surgiram os primei- ros neurdnios. Conludo, o exame de alguns invertebrados mais simples pode nos dar algumas pistas para solucionar estas questöes. Sabemos, por exemplo, que no epitélio de revestimento da esponja do mar existem células difcrencia- das, facilmente excilåveis e que podem contrair-se em res- posta a estimulosr Ao mesmo tempot elas säo capazes de se comunicar com outras seja por mecanismos elétricos, seja pela liberaqåo de subståncias que elas mesmas secretam. Evidentemente, estas células, ainda polivalentes, näo podem ser consideradas como neurönios tipicos. Neurönios Entre os celenterados (como a ågua-viva)} jå encontramos o que podemos chamar de neurånios. Nestes animais, podcm ser vistas células situadas na superficie corporali que se comu- nicam com outras células excitåveis existentes mais interna- menten formando verdadeira rede nervosa (Figura 2.1), pela qual circulam impulsos que eventualmente provocaräo con- tragöes em células musculares. Admite-sc a existéncia, nestes circuitos, de células com atividade ritmica, do lipo "marca- passo", que poderiam ser estimuladas ou inibidas mediante estimulos especificosm Embora em relaqäo a estes animais jå se possa falar de células nervosas e de uma espécie de «sistema nervoso% é preciso reconhccer que sua organizaqäo ainda é muito diferente daquela que encontramos no sistema nervoso dos vertebrados, Umaorganizagäo um pouco mais pr6xitna daquela dos vertebrados pode ser observada em invertebrados como, por exemplo, a minhocaw Nestes anelideos, o sistema nervoso näo é mais representado por uma rede neuronal difusa na superficie do animal, neurönios migraram para o interior do corpo e tendem a se acumular em ganglios, um fenömeno conhecido como centralizaqåo (Figura 2. l). Importante esclarecer: o que chamamos aqui de gånglios nervosos säo estruturas nas quais se concentram corpos neuronais. Nesses animais, os neurönios participam de circuitos mais elaborados e podemos encontrar, por exempla, arcos reflexos, que säo um tipo de estrutura funcional encontrada mesmo no sistema nervoso da espécie humana. A Figura 2.2 mostra que, na minhoca, um neurÖnio sensorial, localizado na superficie do animal, pode receber estimulos vindos do meio ambiente e conduzir impulsos nervosos até um gånglio, no qual ocorre sinapse com um neurönio moton cajo axönio sc dirige a um mtisculo, provacando contragåo. Temos ai um arco reflexo simples, ou monossinåptico. Observe a semelhanga com outro reflexo, o patelan encontrado na espécie humana (Figura 6.10). O fenömeno da centralizagäo tornou possivel, ainday o apa- recimento de circuitos neuronais mais complexos, com fun- goes mais amplas, mas também mais objetjvas. Observe, por exemp10± na Figura 2.2> que as informagöes que o neurönio sensorial leva ao gånglio podem näo so ser repassadas å célula como também podem ser transmitidas a neurönios de associafäo (ou neurönios Os prolonga- mentos dcsses neurönios poderåo dirigir-se, por exemplo, a Gånglios Figura 2.1 (A) Nos celenterados, o sistema nervaso é representadc por uma rede nervosa quo se estende par toda a superficie clo corpo do anitnal. {B) Nos anelicieos, o siste•na nervosa é representado por uma cadeia gangiionar ventral. da qual saern iilotes nervosas que se dirigem para outcas partes do corpo do animal. 15 nos .em Stes nte se OSO dos par icie ido que La is tais no lue, icie nte irre um 0m por nio Illa 'iOS ga- Neurönio motor Müsculo Epitélio de revestimento Gånglio Neurönio sensitivo MÜsculo Capitu/02 1 Origens e Organizaqäo GeraldoSistemaNervoso Neurånio de associagäo Müsculo Figura 2.2 IA} Visio esquemätica de um segmenta de aneiideo trninhcca}, num arco reflexo simples (monossinéptico). (B) Dois segmentos adjacentes do mesmo animal, nos qua;s se vé um reflexo polissinäptica. segmentos adjacentes do corpo do animal, no qual iråo provo- car respostas musculares pela ativaqäo de neurönios motores ali Neste caso, existe um arco reflexo mais com- plexo, polissinåptico, que faz com que o funcionamento do sistema nervoso ganhe em plasticidade> pois o envolvimento dos neurönios de associagäo possibilita que as respostas sejam mais localizadas ou mais espalhadas (dependendo da intensi- dade do estimulo), superando o padräo fixo de respostas do arco reflexo simples. O sistema nervoso estritamente ganglionar, contudo, sé existe nos invertebrados. Durante a evolugäo, a natureza mudou de estratégia e adotou para os vertebrados um sis- tema nervoso central (SNC) compacto e indiviso, afaslado da superficie do animal e protegido por estojos ésseos. Nestes animais, pode„se observar dentro do crånio um encéfalo, que lem continuidade com uma medula espinhal situada ao longo do dorso do animal e protegida pela coluna vertebral, Percorrendo a escala dos vertebrados podemos obser- var agora uma outra tendéncia evolutiva, a da encefalizafäo (Figura 2.3). Hå um aumento gradativo do encéfalo, provo- cado por um actimulo de células e circuitos nervosos na por- qäo cefålica do animal Esteb aliås é um fenömeno que pode ser observado mesmo em invertebrados, pois os ganglios cefålicos tendem a ser maiores e mais importantes do que os demajs gånglios do corpo. Ocorre que, nos animais de sime- tria bilateral, uma das extremidades do corpo se especializa na exploraqäo do ambiente e ai se desenvolvem 6rgäos sensoriais diferenciados, lläo encontrados no resto do corpo. C) acumulo de neurOnios no encéfalo leva ao aparecimento de circuitos neuronais cada vez mais complexos, possibilitando o aparecimento de novas fungöes näo encontradas nas espécies mais simples. Por Outro lad0± as porqöes mais recentes do SNC, situadas mais rostralmente, tendem a controlar e a se sobrepor, hierarquicamente, ås porgöes mais antigas, situadas mais cau- dalmente. Entre os mamiferos finalmentey pode-se observar como tendéncia evolutiva o aumento do c6rtex cerebral, uma regiäo muito rica em corpos de neurönios, que formam uma camada que reveste os hemisférios cerebrais. A espécie humana, por exemplo, tem uma quantidade privilegiada de cdrtex cere- bral o que lhe possibilita desenvolver determinadas fungöes (p. ex., a linguagem verbal, ou as capacidades de raciocinio e planejamento) que outras espécies näo tém„ Organiza$o geral do SNC dos vertebrados Como foi dito antes, os vertebrados tém um SNC representado por um encéfalo e uma medula espinhal. O por suavez. constitui-se de trés estruturas: o cérebro, o cerebelo e o tronco encefålico (Figura 2.4). O cérebro é a regiäo major e a mais ros- tral. O cerebelo ("pequeno cérebro") é menor e se situa na regiåo posterior do crånio, em posifäo dorsal com relagäo ao tronco encefålico- Este åltimo, por sua vet, pode ser dividido em tres por- goes que säo, em sentido rostrocaudal: o mesencéfalo, a ponte e o bulbo- A regiåo bulbar é continua com a medula espinhal, que jå estå como sabemos, fora da cavidade craniana. Fundamentos de Neuroanatomia O SNC dos vertebrados é oco, pois se desenvolve, no embriäo, a partir de unta estrutura tubular (veja ()rigem onto- genéliccl do sislema nervoso, neste capitulo). Por causa disso, observamos no interior da medula um canal central e no encé- falo quatro cavidades que levam o nome de ventriculos. Os dois primeiros, conhecidos como ventriculos laterais, locali- zam-se, silnetricamente, no interior dos cerebrais. O terceiro ventriculo estå situado na Iinha mediana, entre os dois henlisférjos. Finalmente, o quarto ventriculo ocupa uma posigåo entre o tronco encefålico e o cerebelo (Figuras 3.15 e 321 O SNC coniunica-se com os Orgäos periféricos por meio do sistema nervoso periférico (SNPL cujas estruturas principais säo os nervos e gånglios. Figura 2.3 Durante a evolL]Cäo das espécies, acorreu aumento progressivo da porcåo mais rostral do SACO a chamada encefalizaqäo, Cé rebro Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Tranco Ponte encefälico Bulbo Figura 2.4 Divisöes cla SNC dos vertebrados. ..<—- cerebelo Medula Capitu102 1 Origens e Organizagäo Gera/ do Sistema Nervoso re os uma .15 e o do ipais Os nervos såo cordöes conlendo prolongamentos neu- ronais que tém origem na medula espinhal ou no encéfalo. No primeiro caso, säo chamados de nervos espinhais; no segundo, nervos cranianos Os gånglios säo, neste caso, aglo- mcrados dc neur0nios situados fora do SNC. Ele podem scr gånglios sensoriais encantrados ao longo de alguns nervos que contém fibras aferentes ao SNC caso dos nervos espi- Encéfalo nervos cranianos com funqåo sensorial. Podcm também scr ganglios viscerais, localizados em vårias partes do corpos nos quais se encontram neurönios molores que iräo inervar estruturas viscerais (Capitulo 5). Finalmenle, no SNP, iremos encontrar, na extremidade dos nervos, as terminagöes ner- vosas, que podem ser sensoriais ou motoras. Esta organiza• anatOmica do sistema nervoso dos vertebrados pode ser esquematizada como na chavc a seguir: Cérebro Cercbelo il'ronco encefålicoSistema nervoso central Sistema nervoso Sistenta nervoso periférico Origem ontogenética do sistema nervoso Mesencéfalo Ponte BulboMedula espinhal Nervos espinhais Nervos cranianos Sensoriais Ginglios Viscerais Sensoridis qurminaqöes nervosas Motoras O sislema nervoso dos vertebrados tem origelll no folheto embrionårio mais externo do embriäo, ou seja, no ectodermiu dado interessante, pois remete å origctn evolutiva dosistema ner- voso, que, prifllitivamenle, leria surgido na superficie externa dos animais- Na espécie human-a, o aparecimento do sistema nervoso acontece na terceira seniana de Vida, quando parte do ectoderma se transforma no neuroectoderma, o que se traduz em um espes- a placaneural (Figura 2.5). Logo a placa neural se dobra, farndo aparecer na superficie dorsal do etnbriåo um sulco neu- ral} o qual se aprofundarå até que as duas pregas do neuroecto- derma se fundam, originando o tubo neural (Figura 2.5). O tuba neural darå origem a todas as estruturas do SNC. Placa neural Ectoderma Sulco neural A placa neural, ao se dobrar formando o tubo neural, acaba por excluir as suas extremidades laterais, quc origina- räo uma estrutura, a crista neural (Figura 23). Esta se loca- liza, portanto, de cada lado do tubo neural, dividindo„se, em seguida, ern måltiplos segmentos, que originaräo as estrutu- ras do SNIP, como os neurönios ganglionares„ A crista neural origina também outras estruturas, ccnno a medula da glån- dula suprarrcnal„ O tubo neural, ao se fechar na quarta semana de Vida intrauterina, apresenta na sua extremidade cefålica tres dilata- qöes, OLI trés vesiculas encefålicas primitivas, que tém o nome de prosencéfalo, mesencéfalo e romboencéfalo (Figura 2.6). Estas regiöes dilatadas daräo origem ao encéfalo no adulto, enquanto o tabo neural indiferenciado se transformarå na medula espinhal. A primeira vesicula, o prosencéfalo, dividir-se-å em duas, denominadas telencéfalo e diencéfalov O mesencéfalo perma- Crista neural c Crista neural Ectoderma Tubo neural Figura 2.5 (A, B C) Formaqäo do lobo neural. Å esquerda, em6riäo de vertebrados em visäc dorsai„ Å direita, corte transversal do rnesrno- Fmbfiåo de 20 dias. (B) Embriäa de 21 dias, (C) Frnbriäo de 24 dias. (Esquema Oaseado em F, Cibo Clinical Symposia Cib&Ceigy Corp.; New Jersey. 1974,) 18 Fundamentos de Neuroanatomia Telencéfalo Diencéfalo Prosencéfalo Mesencéfalo Mesencéfalo Metencéfalo Rombaencéfalo Mietencéfalo Figura 2.6 As vesiculas cncefålicas primitivas doo origern a cinco vesicules secundärias- nece ünico, enquanto o romboencéfalo origina também duas vesiculas: o metencéfalo e o mielencéfalo (Figura 2.6). O telcncéfalo e o diencéfalo däo origem ao cérebro, e o primeiro cresce tanto que envolve o diencéfalo, originando assim a maior parte dos hemisférios cerebrais (Figura 2.4). O mesencéfalo origina no adulto a estrutura de mesmo nome, enquanto o metencéfalo då origem å ponte e ao cerebelo. Por lim. o mielencéfalo se transforma no billbo. Frequentemente, no estudo do sistema nervoso maduro, fat-se referéncia a uma estrutura embrionåria em vet de sua derivada correspondente. Por exemplo, pode-se dizer que o "telencéfalo" tem tais funqöes, em vez de se nomearem as estruturas que esta estrutura origina no cérebro adulta„ Assim, é importante o conhecimento das relagöes entre as estruturas embrionårias e suas derivadas, como resumido no esquema seguintev. Embriäo Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Metencéfalo Mielencéfalo Tubo neural Adulto Cérebro Mesencéfalo Cerebelo Ponte Bulbo Medula cspinhal As cavidades das vesiculas encefålicas comojå mencionad0} däo origem aos quatro ventriculos cerebrais. Um dos aspectos mais fascinantes do cstudo da neurobiologia é verificar como um tubo, formado por uma quantidade relativamente pequena de células, irå transformar-se em um como no caso da espécie humana, com cerca de cem bilhöes de neurönios alta- mente organizados, sem contar as células da neuråglia, que ciao suporte a toda essa complexidade neuronal. As células-tronco, existentes no tubo neural e nas vesiculas encefålicas, sofrem, de inicio, um processo de proliferaqäo, por meio de divisöes celulares sucessivas, por meio do fenömeno conhecido como neurogénese. No embriäo isto ocorre entre a sexta e a vigésima semana da Vida intrauterinam A medida que as novas células säo elas devem ini- Ciar um processo de migra€äo, para se posicionarem no local definitivo em que excrceräo sua fungäo. Neurönios primitives localizados em diferentes porqöes do tubo neural iräo formar diferentes estruturas no sistema nervoso do adulto, e muitas dessas células deveräo deslocar-sc por espaqos consideråveis. É realmente extraordinårio como um nümero täo grande de células pode ser direcionado para posicionar-se de maneira tåo precisa. Na verdade, elas obedecem a sinais quimicos secreta- dos por outras células existentes no embriäo. No cortex cere- bral, regiäo cujo desenvolvimento foi bem estudado, sabe-se que astr6citos especiais, as células gliais radiais, estendem-se da superficie ventricular å superficie externa da vesicula ence- fålica e servem de suporte aos jovens neurönios em migragåo (Figura 2.7), que viajam como sc subissem por uma corda, até atingir Seu ponto de chegada. Note-se que, no cortex cerebrali uma eslrutura constituida de diversas camadas estas camadas seråo formadas de dentro para fora e, portanto, as células das camadas mais exlernas tém que viajar pelas camadas jå forma- das, até atingir Seu destino. fi Claro que um erro no processo de migraqäo pode fazer com que uma populagäo de neurönios näo esteja prescntc dc modo adequado no sistema nervoso do provocando disfunqöes. Na espécie humanat a migra- qåo ocorre principalmente entre a oitava e a vigésima nona semana do desenvolvimento fetal. Uma vez encontrada a localizagäo correta, os neurönios sofrem unn processo de diferencia$o e de maturafäo. No primeirot eles se transformam nos diferentes tipos neuro- nais que podemos observar em diferenles pontos do sislema nervosov No cortex cerebral, por exempla, iräo diferenciar-se em células piramidais enquanto no cerebelo apareceräo os neurönios conhecidos como células de Purkinje Isto ocorre pela manifestaqäo de diferentes genes existentes no material genético dessas células. Esses neurönios comeqalll, tatnbétn, a desenvolver seus prolongamentos (Figura 2.8). Forma•se, assim, a arborizaqäo dendriticat cuja grande superficie pro- piciarå um aumento da complexidade das conexöes para as células, ao mesmo tempo em que ocorre o crescimenlo dos axönios, que deveräo encontrar as células-alvo a que deveräo Capitu102 1 Origense Organizagäo Geraldo Sistema Nervoso 00 Corpo do neurönio em migraqäo 19 Encéfaio primitivo Ventriculo cerebral Neuroglia radial Neurönios em migraqäo •ina. ini- ocal ivos mar titas geis. de . tåo eta- ere- e-se Ice- qäo até das das rna- sso lios do ona lios Iro- t-se OS }rre rial as dos räo Figura 2.7 Migraqäo dos nourönics corticais, (A) Vesiculas encefélicas no embriäo dc algumas sennanas„ (B} Carte frontal regiåo do telen- céfalor (C; Üetalhe de mostrando neurOnias migrando da zona ventricular para a superficie externa da vesicula, (D} Deta[he de (C), no qual 50 verm os neutönios migrac;åo, orientados pelFf. fibras da neuröglia radial. se conectar. Aquii mais uma vez, causa espanto como essas fibras (os axönios) säo capazes de encontrar o seu destino> via- jando por um trajeto de vårios centimetros, frequentemente tortuoso e que envolve obståculos pelo caminho. Existem evidéncias de que os axönios säo guiados por molécu• las secretadas poroutras células existentes no scu trajeto. Algumas dessas subståncias säo atrativas e "puxam" os axönios em cresci- mento em sua diregäo; outras såo repelentes e fazem com que eles mudem de direqåo. O resultado final é que as fibras nervosas conseouem atingir o seu destino com uma precisäo espantosa, podenda estabelecer as conexöes sinåpticas necessårias para o funcionamento correto dos circuitos neuronais. O processo de maturagäo e do estabelecimento de conexöes comeqa pela vigé- sima semana da Vida intrauterina e estende-se para além do nas- cimento (Figura 2.9). Hoje sabemos que novas conexöes podem se fazer e se desfazer, inclusive durante toda a Vida adultam Dendritos Axönio Figura 2.8 Viséo esquemética da diferenciaqäo neuronal, corn ratmaqäa de prolongamentos celulares-20 Fundamentos de Neuroanatomia 25 dias 50 dias 5 meses .11. Figura 2.9 Desenvolvimcnto do encéfalo humano no periodo intrauterino. O eslabelecimento das conexöes sinåpticas, a sinaptogé- nese, comeqa em torno do quinto més de gestaqåo. Muitas das concxöes såo determinadas geneticamente, mas boa parte depende das condigöes ambientais internas ao sislema ner- voso e das interaqöes entre o individuo e o meio externo. Um (ato interessante no desenvolvimento do sistema ner- voso é que sio produzid•as muito mais células e conexöes sinåp- ticas do que o que serå necessårio para a Vida do individuo. Por causa disso, um fenömeno normal que acontece por volta do nascimento é a morte neuronal programada (apoptose) de um grande nümero de neurOni05. 'I'udo indica que sio eliminados os neurOnios que näo conseguem estabelecer as conexöes ade- quadas portant(b nåo se (ornam funcionais. Da mesma format o numero de sinapses, que aumenta de modo consideråvel até o final do primeiro ano, sofre por essa época o que se chama de desbastamento sinåptico, uma acentuada queda em seu nåmero* (o que ocorre outra vez no inicio da adolescéncia). Os chamados fatores neurotröficos, secretados pelas célu- las-alvo, såo importantes para a manutengäo dos neurönios que com elas estabelecem conexåo. Provavelmente, as sinap- ses que nåo tenham um significado funcional säo também eli- minadas, enl um processo que tem Sido comparado ao de um escultor que vai eliminando a matéria supérflua até conseguir chegar å fornum ideal. Note-se que a maior parte dos axönios do SNC é mieli- nizada. A fornnagäo da bainha de mielina, ou mielogénese, ocorre de maneira ordenada, primeiro em algumas åreas, depois em outras em um processo que se eslende por muitos anos e mesmo décadas apås o nascimento. Durante muito tetnpo, acredilava-se que as conexöes ner- vosas eram formadas apenas ao longo do desenvolvimento intrauterino e da primeira infåncia e que a grande plasticidade observada nesta época näo era mais encontrada no sistema nervoso maduro- Hoje, sabe-se que isto näo é verdade, pois hå plasticidade tneslno nos individuos idosos, e a interaqäa com o meio ambiente é fundamental para formar e manter um grande nåmero de conexöes entre as células nervosas, nåo so na infåncia, mas durante toda a Vida. Outra crenga arraigada e hoje desmentida é a de que näo haveria geraqåo de neurönios apos o nascimentom Descobertas mais recentes demonstraram que um pequeno nfimero de células-tronco permanece em algumas poucas åreas do SNC por toda a Vida e podem produzir novas células nervosas em um processo permanente, Isto é importante, pois talvez seja possivel descobrir como induzir essas células-troncm mesmo durante a Vida adulta, para a produqäo de neuronios que rege- net-em estruturas perdidas devido a doenqas ou a processos degenerativos. 3 Morfologia Externa do Sistema Nervoso Central lieli- reas, uitos ner- ento dade lema pois •aqåo mter nåo näo ertas o de SNC s em seja rege- essos 22 Fundamentos de Neuroanatomia Introduqäo O estudo da morfologia externa do SNC é importante, pois fornece informaqöes necessårias para a abordagem e a compreensäo de sua cstrutura interna e das conexöes entre as diferentes regiöes que o constituem. Para fazer este estudo, convém, an les de mais nadt% conhecer a terminologia anatö- mica, que possibilita descrever com precisäo a posiqäo espa- Cial das diversas estruturas nervosas, bem como das relaqöes que guardam entre si. deve-se considerar que as descrigöes ana- tömicas levam em conta trés planos espaciais (Figura 3.1 Os planos sagitais dispöem-se paralelamente ao plano median(), que é aquele que divide o corpo em duas meta- des simétricas. Os planos coronais såo perpendiculares aos planos sagitais e repartem o corpo em uma porgäo anterior (da frente) e uma porqäo posterior (de trås). Os pianos horizontais säo perpendiculares aos outros planos e dividem o corpo humano em uma porgäo superior e uma porgäo inferior. Muitas estruturas internas so se tor- nam visiveis quando o SNC é seccionado em um desses planos, Além disso, o SNC distribui-se ao longo de dois grandes eixos que säo designados como rostrocaudal e dorsoventral (Figura 3.2). Assim, uma estrutura mais pr6xima da cabega é chamada de rostral em relagäo a outra estrutura que esteja mais perto da cauda, que é chamada caudal. Do mesmo 1110dc% uma estrutura que esteja mais pr6xima das costas é chamada de dorsal em relagåo a outra estrutura mais perto da barriga ou ventrei a ventral. Nos animais em geral, o eixo rostrocaudal é reto mas, na espécie humanm que assumiu uma postura bipede, o eixo fle- xiona-se e o encéfalo encontra-se em um ångulo de noventa graus em relagäo å medula espinhal. Por causa disso, as estru- turas dorsais que na altura do corpo, eram posteriores, na regiåo do cérebro passam a ser superiores. O mesmo ocorre com as estruturas ventrais, na regiäo do cérebro, säo infe- riores e näo mais anteriores como no resto do sistema nervoso central (Figura 3.21 0 Quadro 3A registra um pequeno glos- sårio com os termos de relaqäo mais usados para o estudo do Rostral Rostral Dorsal Ventral Caudal Dorsal (superior) Ventral (inferior) Ventral Dorsal (posterior) (anterior) Caudal Figura 3.2 Os eixos anatömicos e sua retaqäo com o sistema nervoso central, O sistema nervoso central dos vertebrados divide-se (Capitulo 2) da seguinte maneira: EncéfaloSNC Medula espinhal Cérebro Cerebelo Tronco encefålico c Sagital Mesencéfalo Ponte Bulbo SNC Horizontal Coronal ou frontal Figura 3.1 Os planos anatémicos espaciais. Capitu103 Morfologia Externa do Sistema Nervoso Central 23 Quadro 3.1 Glossårio. Termo Caudal Contralateral Distal Dorsal Intermédio Ipsilateral Lateral Medial Medianc Proximal Rostral cranial) Ventral Significado Nais préximo dB Gudä dos Contråfiode rostral. Quefca do lado oposto do torpo- Conttårio deipsilateral. Mais afastadc do ponto d? origem. Contririo de proximal. Mais priximo do dorso- Geralmente sininimo de posterior (coma exteqäo das estruturasdo cérebro}. Cantrårio d? ventral, Oue fica entre duas estruluras, uma medial, outra lateral. Que fire do mesmo lido do Contririo de contralateral Mais afastado do plano mediano, Contririo de medial. Mais pré/arnodo plano mediano. Contråfio de lateral Dit-se de irgäo au estrutura localizados no plano media no, que divide 0 corpo em metades simétrit$. Mais prÖximo do ponto demigem- Contrårio de distal pröximo da de Mais pr"imo dB barriga. Gerälmente,é sinönimode anterior .com a exceqäo das estruturasdc Contrårio de dorsal. Sulco mediano posterior Cone medular Intumescéncia cervical Intumescéncia lombar Filamento terminal vcsc le-se 10 Neste capftu10i faremos o estudo macrosc6pico dessas estruturas, comeqando pela medula espinhal e abordand0} sucessivamente, as estruturas mais rostraisv Medula espinhal A medula espinhal é um cilindro de tecido nervoso contido no canal vertebral e envolvido por membranas conjuntjvas as meninges (Figura 3.5)i Na espécie humanm tal como em outros mamiferosj o calibre da medula näo é uniforme, sendo visiveis duas dilatagöes as intumescéncias cervical e lombar. Estas dilataqöes corresponden-o respectivamente, ås regiöes da medula de onde saem os nervos que inervaräo os mem- bros superior e inferior. A inervagäo desses membros requer a presenga de maior nümero de neurönios ei portanto, de maior massa de tecido nervoso, o que aumenta o calibre da Figura 3.3 Visäc esquemética da superficie posterior de medula es- pinhal, da qual icram retirados os nervos espinhais, medulam Por outro lado, a extremidade caudal da medula espi- nhal é afilada, formando o cone medular (Figura 33), A medula espinhal é percorrida em toda a sua extensäo por sulcos longitudinais: na face anterior säo visiveis a fissura mediana anterior, ladeada pelos sulcos laterais anteriores; na face posteriori observamos o sulco mediano posterior; ladeado pelos sulcos laterais posteriores(Figura 3.4), Na regiäo cervical da medulai entre os sulcos laterais posteriores e o sulco median0} existem, de cada lado, os sulcos intermé- dios posteriores. Sulco mediano posterior Sulco intermédio posterior Sulco lateral posterior Fasciculo cuneiforme Fasciculo gräcil Canal central da medula Funicufo posterior Reiz posterior do nervo espinhal Gänglio espinhal Funiculo lateral Raiz anterior do nervo espinhal Funiculo anteriorSulco lateral anterior Fissura mediana anterior Figura 3.4 Corte transversal da medula espinhal. em visio esquemätica, 24 Fundamentos de Neuroanatomia Os sulcos da superficie da medula säo importantes para delimitar trés regiöes em cada lado dessa estrutura: o funiculo anterior, situado entre a fissura mediana anterior e o sulco lateral anterior; o funiculo lateral, entre os sulcos laterais anterior e posterior e o funiculo posterior, delimitado pelos sulcos mediano posterior e lateral posterior (Figura 3.4). O luniculo posterior, na porqäo cervical da medula, é dividido, por conta do sulco interfilédio, em dais fasciculos o gråcil, mais medial, e o cuneiforme% mais lateral. Nos funiculos, eståo presentes feixes de libras nervosas, que conduzem impulsos em direqäo ascendente ou descen- dente dentro da medula. Os fasciculos gråcil e cuneiforme, por exemplo, säo feixes sensoriais que levam informaqöes para estruturas nervosas acima da medula. Os sulcos laterais da superficie da medula säo o local em que tém origem os nervos espinhais Estes sio formados por duas rafzes a ventral ou anterior e a dorsal ou posterior. A raiz ventral nasce do sulco lateral anterior, enquanto a raiz dorsal nasce do sulco lateral posterior, Nesta Illtima, existe um ganglio (os gånglios nervosas säo dilataqöes formadas por um aglomerado de neurönios), o gånglio espinhal ou gån- glio da raiz posterior. Note-se que as raizes såo formadas por uma série cle filamentos nascidos separadamentes os filamen- Pia-måter Aracnoide Dura-mater Tecido adiposo no espaqo epidural Véftebra 7 tos radiculares, que depois se unem para formar as raizes dos nervos (Figura 3.5). A porqäo da medula que då origem a um par de nervos espi- nhais é chamada de segmento medularm Existenli portanto, tantos seomentos tnedulares quantos såo os nervos espinhais e cada segmento recebe o nome do nervo correspondenter Por exemplo: o printeiro segmento cervical serå chamada Cl, o quinto segmento toråcico serå T5 e assim sucessivamente nas porgöes lombar, sacral e coccigea da medllla (Figura 3.6). Chama a atenqåo, quando se observa a medula in situ, o fato de que ela é mais curta do que o canal vertebral, termi- nando no nivel das vértebras Ll ou 1.2m As raizes dos nervos que saem das reoiöes mais caudais da medulü continuant a ocupar o canal vertebral abaixo deste ponto e, em conjunto, fortnam a chamada cauda equina (Figura 3.6), por sua seme- Ihanqa com o rabo dos cavalos. A medula é envolvida por tnembranas de natureza conjun- tiva: as meninges. A mais externa e também mais espessa é cha- mada dura-måter. Entre ela e as vértebras, exisle um ocupado por gordura e veias: o espago extradural ou epidural (que costuma ser utilizado para a introduqäo de anestésicos em algumas cirurgias)r A segunda meninge é a aracnoide, separada da dura-måter por um espaqo virtual, o espago sub- Filamentos radiculares Sulco mediano posterior Espaqo subdural Espaqo epidural Gänglio espinhal Nervo espinhal Figura 3.5 espinhal com seus enva\tårios. Capitu103 1 Morfologia Externa do Sistema Nervoso Central 25 os spi- into, Ihais Por nas rmi- rvos Into, inte- jun- cha- •aqo ural iicos 'ide, sub- 0 CIO TIO Cauda equina col Figura 3.6 fvTcduia esp?nhal na interior da vertebra, ondc se vé a relacåo entre segmentas medulares as vértebras e a formagäo cla cauda equina. dural. Por outro lado, enlre a aracnoide e a pia-nlåter, existe uma {rea mais ampla, o espaqo subaracnåideo, no qual circula o liquor (veja Meninges e liquor, ainda neste capilulo) (Figura 3.5). A pia-måter reveste intimamen le a superficie da medula e format quando esta termina, o filamento terminal, encontrado entre as raizes nervosas da cauda equina (Figura 3.3). Tronco encefålico O tronco encefålico (Figuras 3.7 e 3.14L porfäo do SNC imediatatnente rostral å ruedula espinhalt divide-se em bulbo, ponte e mesencéfalo. Vamos abordar esta regiäo comeqando por seu contorno anterior, partindo da parte mais caudal em direqäo å rostral (Figura 3114). () bulbo é a continuagåo direta da medula espinhal e com ela se limita por uma linha que tangencia o aparecinnento do primeiro nervo cervical Na superficie anterior do bulbo, observa-se a continuaqåo da fissura mediana anterior e dos sulcos laterais anteriores, jå esludados na parte dedicada å medula. Entre a fissura mediana anterior e o sulco lateral anterior localiza-sc% de cada lado, uma eminéncia, a piråmide. As piråmides såo constituidas por fibras ntotoras, as quais conduzem impulsos ncrvosos que descem dc årcas da super- ficie cerebral em direqåo å medula espinhalm Essas fibras cru- zam o plano mediano na regiåo caudal do bulbo, obliterando a fissura mediana anterior: é a decussagäo das piråmides.l Por causa desse cruzamento, o hemisfério cerebral esquerdo Quando as fibras nervosas cru-zam obliquamente o plano dentro do SNC, chamamos a isso uma decussaväo (palavra derivada do nuttiera] ronvano X = deco)- controla a musculatura do Jado direito do corpo e vice-versa. Laleralmente ao sulco lateral anterior existe uma saliéncia de forma oval, a Oliva, que corresponde a um agrupamento de neurånios (o nåcleo olivar inferior) ali existente. O limite superior do bulbo é sulco horizontal, o sulco bulbopon- tino, que o separa da ponte. No Ironco encefålico, fazenl cone.xäo vårios pares de ner- os nervos cranianos, cujos pontos de origem descreve- remos a seguin No sulco lateral anteriori entre a piråmide e a oliva, nasce o nervo hipoglosso, décimo segundo par craniano. Lateralmente å do sulco laleral posterior, continuacgåo do sulco de mesmo nome da medula nascent, em sentido cra- niocaudal, os nervos glossofaringeo, vago e acessério, respec- tivamente nono, décimo e décimo primeiro pares cranianos. Note-se que o nervo acess6rio tcm outra raiz (raiz espinhall que nasce do funiculo lateral da medula cervical e sobe para se unir å raiz bulbar, formando o décimo primeiro par. Na regiäo do sulco bulbopontino orioinam-se os nervos abducente, facial e vestibulococlear (sexto, sétimo e oitavo pares cranianos). Entre os nervos facial e vestibulococlear, nasce o nervo intermédim parte do sétimo par. A ponte é a porqåo média do tranco encefålico. Sua super- ficie anterior é ntarcada pela presenga de estriaqöes transver- sais, causadas por numerosos feixes de fibras, que convergem de cada lado para farmar as pedånculos cerebelares médios, constituidos por libras nervosas que penetram no cerebelo. Nesta regiåo emerge o nervo trigémeo, quinlo par craniano„ O trigémeo nasce sob a forma de duas raizes, uma motora, delgada, e outra sensorial, mais calibrosa„ A ponte apresenta anteriormente uma depressäo em sua face anterior, o sulco basilar, formado por uma artéria que ai se aloja: a artéria basilar. Em posiqäo rostral å ponte, loca- lira-se o representado pelos pedünculos cere- brais, duas colunas de fibras que penetram no cérebro e deli- mitam entre si um espaqo, a fossa interpeduncular. Nessa fossa, ocorre a emergéncia do nervo oculomotor, terceiro par craniano. Vamos examinar agora o contorno posterior do tronco encefålico, comeqando novamente pela regiåo mais caudal (Figura 3.7). A parte caudal do bulbo nåo apresenta novidades em rela- qäo å medula cervical, eslando presentes os sulcos laterais pos- teriores, intertnédios e mediano posterior, bem como os fas- ciculos gråcil e cuneiforme, jå estudados, Estes dois fasciculos säo constituidos de fibras que sobem pela medula e terminam nas nicleos gråcil e cuneiformc% representados na superficie dobulbo por duas saliéncias denontinadas, respectivamente, tubérculos gråcil e cuneiforme„ Importante lembrar: no inte- rior do SNC chamamos de nücleos os aglomerados de neurö- nios cam aspecto e fungäo semelhantes. Em continuidade aos tubérculos gråcil e cuneiform€b hå belares inferiores. Eles delimitam lateralmente o assoalho do quarto ventriculo e säo constituidos por fibras que se dirigem do bulbo ao cerebelo. Logo acima dos tubérculos, observa-se a abertura de uma cavidade, cuja parede ocupa a maior parte do contorno pos- terior do tronco encefålico: trata-se do assoalho do quarto ventriculo, que se estende por regiöes do bulbo e da ponle, O quarto ventriculo é uma cavidade, cujo teto constitui-se essencialmente pelo cerebelo (retirado nas peqas para estudo do tronco encefålico). O assoalho do quarto ventriculo tem a forma de um losango e é percorrido por um sulco longitudinal, o sulco mediano, que é ladeado por dois outros SUICOS: os sulcos limitantes. 26 Fundamentos de Neuroanatomia 32 ventriculo Trigono habenular Pineal Corpo geniculado lateral Coliculo superior Nervo troclear Pedünculo cerebelar superior Sulco mediano do 40 ventrfculo Pedünculo cerebelar inferior Tubérculo do nucleo gråcil Sulco intermédio posterior Fasciculo gracil Tålamo (pulvinar) Corpo geniculado medial Braco do coliculo inferior Coliculo inferior PedÜncuio cerebelar médio Area vestibular Eminéncia medial Sulco limitante Tubérculo do nücleo cuneiforme Fasciculo cuneiforme Sulco mediano posterior Figura 3.7 Superficie posterior do tronco encefélico- Entre o sulco limitante e o sulco mediano, estå presente a eminéncia medial. Lateralmente aos sulcos limitantes encon- tramos a årea vestibulan assim chamada por corresponder å regiäo na qual estäo situados os nåcleos vestibulares. O quarto ventriculo comunica-se com•m (a) o tercciro ventri- culm pelo aqueduto cerebral; (b) o canal central da medula; (c) com o espaf0 subaracnéideoi pelas aberturas mediana e laterais do quarto ventriculo. Acima e ao lado do assoalho do quarto ventriculo, veem-se feixes de fibras que ligam o cere- belo com a ponte e com o mesencéfalo, respectivamente cha- mados de pedånculos cerebelares, médios e superiores. Na regiäo do mesencéfalo, existem quatro eminéncias arredondadas•. os coliculos superiores e os coliculos inferio- res. Logo abaixo dos coliculos inferiores, emerae o nervo tro- clear, quarto par craniano. Cada coliculo inferior se une, pelo brago do coliculo inferior, a uma estrutura do diencéfalo, o corpo geniculado medial. Por sua vet, cada coliculo superior, por meio do brago do coliculo superior, mantém ligaqäo com o corpo geniculado lateral O corpo geniculado medial e os coliculos inferiores fazem parte das vias da audifäo. Jå os corpos geni- culados laterais e os coliculos superiores estäo envolvidos na fungäo visual. Os coliculos constituem o chamado teto do mesencéfalo. A Figura 3.8 mostra a regiäo mesencefålica em corte transver- sal, com suas subdivisöes. Nela localizam-se dois importantes grupamentos neuronais do mesencéfalo: a subståncia negra e o nåcleo rubro, e ainda a cavidade do mesencéfalo, o aque- duto cerebral. Cerebelo O cerebelo (Figuras 3.9 a 3.13), cujo nome significa pequeno cérebro'% situa-se posteriormente ao tronco ence- fålico e em posiqäo inferior regiäo mais posterior do cérebro (Figura 3.15). O cerebelo estå ligado ao Ironco cerebral por trés pedånculos cerebelares de cada lado, anteriormente men- cionados. Teto Mesencéfalo PedÜnculo cerebral Capitu103 1 Morfologia Externa do Sistema Nervoso Central 27 Coliculo Aqueduto cerebral Subståncia cinzenta periaquedutal Nücleo rubro Substäncia negra Base do pedünculo cerebral Figura 3.8 Corte transversel do mesencéfalo, em visio esquemåtica. O cerebelo tem uma porqäo mediana, o vérmis, ladeado por duas massas lalerais os hemisférios cerebelaresv A super- ficie do cerebelo é in lensamente pregueada e apresenla-se sob a forma de låminas transversais de tecido nervoso, as folhas do cerebelo, separadas por sulcos. Alguns sulcos mais pro- fundos säo denominados fissuras do cerebelo e servelll para delimilar divisöes desse Orgäo os lobos e 16bulos cerebelares„ Fazendo-se cortes passando pelo cerebelo (Figuras 311 e 3,121 observa„se que nele a subståncia cinzenta dispöe-se exter- namente, formando o cårtex cerebelart ao passo que a subståncia branca se dispöe internamente, constituindo o corpo medular do cerebelo. No interior do corpo medular existem aglomera- dos de neurönios, os nücleos centrais do cerebelo, denominados fastigial, globose, emboliforme e denteado (Figura 3.12). Em um corte sagital mediano (passando, portanto, pelo vérmis), nota-se que o cerebelo assemelha-se a uma årvore (Figura 3.11). Cada ramo dessa årvore corresponde um 16bulo do cerebelo„ O ramo mais inferior da årvore é denominado nådulo e a ele se liga, de cada lados utna porqåo do hemisfério chamada flöculo (Figura 3.10). Os f16culos ficam logo abaixo dos pedånculos cerebelares médios, que säo, como jå foi dito, feixes de fibras nervosas que ligam a ponte ao cerebelo„ O nodulo e os flöculos, em conjunto, constituenl um lobo do cerebelo, o lobo floculonodular. Este lobo é separado do res- tante do cerebelo pela fissura posterolateral. Ainda utilizando o corte sagilal passando pelo vérmis se contarmos os ramos da årvore a partir do ramo mais superi013 geni- os na éfa10T tsver- tantes negra aque- ;nifica ence- :rebro il por men- Lobo anterior Fissura prima i. Hemisférios cerebeleres vamos localizar, logo apos o terceiro ramo, uma fissura muito evidente, a fissura prima (Figuras 3.9 e 3.11). Esta fissura divide o corpo do cerebelo nos lobos anterior e posterior. Temos entåo trés lobos no o anterior, o pos- terior e o floculonodular, separados entre si pelas fissuras prima e posterolateral. Esta divisåo, com base encontra uma certa correspondéncia filogenética. Admite-se que o lobo floculonodular corresponde ao primeiro ccrcbclo a aparecer na escala animalt o arquicerebelo„ O lobo ante- rior corresponde a um cerebelo de origem intermediåria, o paleocerebe10i Jå o lobo posterior, que aparece somente nos mamiferos mais evoluidos, corresponde aa neocerebelo (dois 16bulos do vérmis do lobo posterior: a piråmide e a üvula costumam ser incluidos no A Figura 3.13 apresenta um diagrama dessa divisäo celebelar. Cérebro O cérebro, a porqäo mais rostral e mais desenvolvida do SNC, é derivada de duas das vesiculas embrionårias encefåli- cas — o diencéfalo e o telencéfalo. Como a vesicula telencefå- I ica cresce muito, envolve a vesicula diencefålica (Capitulo 2), de tal modo quet no cérebro do adult(b as estruturas derivadas do diencéfalo sé såo visiveis na face inferior do encéfalo ou em cortes, enquanto as estruturas telencefålicas ocuparäo quase a totalidade da superficie cerebral Vérmis cerebelar Lobo posterior Figura 3.9 Superficie posterior do cerebelo- 28 Fundamentos de Neuroanatomia Lobo anterior Lobo posterior Fissura posterolateral Nödulo Fissura posterolateral Nücleo fastigial Nücleo denteado Nücleo globoso Vérmis cerebelar Figura 3.] O Superficie enteriar do cea?beio. Lobo anterior PedÜnculo cerebelar superior Pedünculo cerebelar rnédio Flöculo Nödulo Tonsila Fissura prima Lobo posterior Figura 3.11 Cone saqital m,ediano do cerebelo Cörtex cerebelar Nücleo emboliforme Corpo medular Fig ura 3.12 Corte horizontal do cerebelo mostrando os nücteos cerebe!ares. Capitulo 3 Morfo/ogia Externa do Sistema Nervoso Central 29 Lobo anterior Lobo posterior Lobo floculonodular Arquicerebelo Paleocerebelo Neocerebefo Fissura prima Piramide Üvula Fissura posterolateral Figura 3.13 Diaqrama da supeficie cerebelar mastrcando suas ciivisöes. Diencéfalo O diencéfalo (Figuras 3.14 e 3.15) origina quatro regi- Oes cerebrais: o tålamo, o hipotålamo, '0 epitålamo e o subtålamo (quase todas fazendo parte da parede do ter- ceiro Em um corte sagital mediano doencéfalo (Figura 3.15), pademos visualizat o terceiro ventriculo, Lima cavidade mediana em forma de fenda que se comunica com o quarto ventriculo pelo aquedulo cerebral e com os ventri- culos laterais pelos forames interventriculares. Na parede do lercciro ventriculo, observa-sc um sulco que vai do forame interventricular ao aqucduto cerebral o sulco hipotalå- micov As estruturas siluadas acima deste sulco na parede do ventriculo pertencem ao tålamo; as abaixo dele pertencem ao hipotålamo. O tålamo lem uma forma ovalada e estå frequentemente ligado ao tålamo do lado oposto por uma ponte de tecido nervoso a aderéncia intertalåmica. A porqäo posterior Bulbo olfatdrio Fissura longitudinal do cérebro Trato olfatörio Nervo dptico Trigona olfatörio Tiber cinéreo Corpo mamilar Nervo oculomotor Pendünculo cerebral Nervo troc[ear Nervo trigémeo (raiz motore) Nervo trigémeo (raiz sensitiva) Nervo abducente Nervo vestibulococlear Sulco bulbopantino Nervo hipoglosso Nervo acessörio (raiz bulbar) 1 P nervo cervical Nervo acessörio (raiz espinhal) 4, 0, Figura 3.14 Superficie interior do encéialo. Sulco olfatÖrio Giros orbitais Giro reto Hipöfise Quiasma éptico Trato Öptico Fossa interpeduncufar Nervo oftälmico Nervo maxiliar Netvo mandibular Sulco basilar Nervo facial Netvo intermédio Oliva Nervo glossofaringeo Nervo vago Pirämides Suco lateral anterior Dccussaqäo das piråmides Fissura mediana anterior 30 Fundamentos de Neuroanatomia Giro frontal superior Aderéncia interta[åmica Sulco do cingulo Giro do cingulo Corpo caloso Septo pelücido Forame interventricular Årea subcalosa (Area septal) Comissura anterior Låmina terminal Tålamo Quiama Optica HipotäEamo {na parede do 30 ventriculo) Sulco hipotalämico Hipåfise Corpo mamilar Ponte ulbo Figura 3.15 Superficie do encéfalo em carte saqital mediano„ Sulco central Lébulo paracentral Sulco do corpo caloso Sulco parieto-occipital Förnix Teto do 39 ventriculo Sulco calcarino Pineal Comissura posterior Coliculos Cerebelo Aqueduto cerebral 49 ventriculo Teto do 40 ventriculo do tålamo leva 0 nome de pulvinar do tålamo e abaixo dela podem ser visualizadas outras duas estruturas talåmicas: os corpos geniculados lateral e medial, citados no item corres- pondente ao tronco encefålico. O hipotålamo situa-se abaixo do tålamo (Figura 3.15) e, além dc ocupar parte da parede do terceiro ventriculo, a ele perten- cem estruturas visiveis na face inferior do cérebro -- o quiasma o tilber cinéreo e os corpos mamilares (Figura 3.14). Os corpos mamilares säo duas eminéncias arredondadas situ- adas em frente aos ped(tnculos cerebrais. Os nervos épticos (segundo par craniano) emergem do quiasma Optico; poste- riormente a este, veem-se os dais tratos dpticos„ Note-se que os tratos Öpticos terminam no corpo geniculado lateral. A regiäa situada entre os corpos mamilares e o quiasjna åplico denomi- na-se tåber cinéreo. Desta regiäo, orioina-se uma espécie de funilt o infundibulo da hip6fise, continuo com esta glåndula. O epitålamo silua-se posteriormente ao tålamo e nele encontramos o corpo pineal e as habénulas (Figuras 3.7 e 3.15). Finalmente, o subtålamo, uma regiåo diencefålica näo visivel na paredc do terceiro ventriculo, encontra„se entre o mesencéfalo e 0 hipotålamo e pode ser visto em cortes como na Figura 3.21, sob a forma dos nåcleos subtalåmicos, uma das estruturas que o compöem. C) tercejro ventriculo é limitado, anteriormente, pela låmina terminal, uma estrutura telencefålica (Figura 3.15), e superiormente, pela tela coriéidea, da qual se origina o plexo corioide (estrutura dificil de se visualizar em peqas anatomi- cas Os plexos corioides såo estruturas vasculares, existentes em todos os ventriculos cerebrais. Eles såo impor- tantes porque parlicipam da forniaqäo do liquido presente nos ventriculos, o liquor. Telencéfato A vesicula telencefålica (Figuras 3.14 a 3.19) do embriäo origina a maior parte dos hemisférios cerebrais. Os dois hemisfériost um de cada lado, säo separados entre si pela fis- sura longitudinal do cérebro. Na espécie humana, o cérebro tem uma superficie irregular, marcada pela presenqa de sulcos que delimitam giros ou circunvolugöes cerebrais. Cada hemis- fério cerebral tem ti'és faces: (a) a dorsolateral; (b) a medial e (c) a inferior (ou base do cérebro)m A superficic de cada hemisfério cerebral pode ser dividida em regiöes denominadas lobos, tomando-se como pontos dc referéncia os sulcos ai existentes. Em geral, cada lobo leva 0 nome do osso suprajacente, existindo assim os lobos frontal, parietal, temporal e occipital (Figura 3.16). Para delimitar esses lobos, é necessårio identificar inicial- mente um grande sulco horizontal na superficie do cérebro — o sulco lateral (Figura 3.18). Um outro sulco, vertical e ocupando mais ou menos o centro do hemisfério, é o sulco central. Com estes dois sulcos, torna-se possivel delimitar trés lobos: acitna do sulco lateral, teremos os lobos frontal e parie- tali situados, respectivamenle, anterior e posteriormente ao sulco central; o lobo temporal situa-se abaixo do sulco lateral, enquanto o lobo occipital, por sua vez, delimita-se pelo sulco parieto-occipital (mais visivel na face medial do hemisfério) (Figura 3.19) e por uma pequena depressio na borda inferior do cérebro, a incisura pré-occipital. Uma linha ligando esses dois acidentes da superficie, constitui o limite anterior do lobo occipital. Um quinto lobo cerebral, deno- minado insula, situa„se internamente, tornando-se visivel quando se abrem as bordas do sulco lateral (Figura 3.17). 31 central icentral Jlco do caloso SUICO •ccipital FörniX reto do ltriculo Itarino - Pineal rsterior )liculos :erebral ntriculo Teto do ntriculo dois fis- ebro ,llcos mis- lial e ,dida de nra o ntal, icial- ebro cal e ;ulco trés arie- ao teraL itllco ério) erior låria, mite eno- Capitulo 3 insula Morfologia Externa do Sistema Nervoso Central 8 Giro temporal transverso anterior Lobo frontal Lobo temporaltZZÄ Lobo parietal Lobo occipital Figura 3.16 Lobos corticais do cérebro. IA) Visao do face dotsokitera!. B) Visio das faces rnedial e inferior. Face dorsolateral No lobo frontal, existe um sulco paralelo ao sulco central, o sulco pré-centraL Esses dois sulcos delimitanl o giro pré-cen- tral, a principal årea motora do cortex cerebral (Figura 3.18). O lobo frontal apresenta ainda trés giros de posifäo hori- zontal: os giros frontais superior, médio e inferior. Esses Sulco central Giro frontal superior Giro pré-central Sulco frontal superior Sulco pré-central Giro frontal média Sulco frontal inferior Giro frontal inferior {parte oper cular) Ramo ascendente do sulco lateral Giro frontal inferior (parte triangular) Ramo anterior do sulco lateral Giro frontal inferior (parte orbital) Sulco lateral Giro temporal superior Giro temporal médio Sulco temporal inferior Figura 3.17 Face dorsolateral do cérebro em que foi exposta a in- sula, giras säo delimitados por dois sulcos: os sulcos fronlais supe- rjor e inferior. O giro frontal inferior é subdividido em trés partes por ramos do sulco lateral; este nasce na base do cére- bro e se divide em trés ramos na face dorsolateral: os ramos anterior e ascendente penetram no lobo frontal e o ramo posterior, continuagåo do sulco lateral, dirige-se para trås e para cima, run10 ao lobo parietal. A porqio do giro frontal inferior, localizada abaixo do ramo anterior, chama-se parte orbital, por$o situada entre os ramos anterior e ascendente é a parte triangular e a porgäo posterior ao ramo ascendentc é a parte opercular do giro frontal inferior. As partes opercular e triangular do hemisfério esquerdo säo åreas que regulam a expressäo da linguagem -v a palavra falada ou escrita -o sendo também conhecidas como årea de Broca- No lobo parietal, observa-se, posteriormente ao sulco cen- tral e paralelamente a ele% a presenga do sulco pés-centraL Entre
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