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0 2019 GABRIEL VELOSO CUNHA KARINA CRISTINA SANTOS LOPES DE MORAES ROSALVO STREIT JÚNIOR CAMILA DE OLIVEIRA PARREIRA Universidade Católica de Brasília - UCB Manual de Exame Físico para o Estudante de Medicina ISBN 978-85-60485-91-8 GABRIEL VELOSO CUNHA KARINA CRISTINA SANTOS LOPES DE MORAES ROSALVO STREIT JÚNIOR CAMILA DE OLIVEIRA PARREIRA Manual de Exame Físico para o Estudante de Medicina 1ª Edição Brasília Universidade Católica de Brasília – UCB 2019 Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Brasília (SIBI/UCB) Bibliotecária Sara Mesquita Ribeiro CRB1/2814 M294 Manual de exame físico para o estudante de medicina [recurso eletrônico] / Gabriel Veloso Cunha ... [et al.]. – 1. ed. – Brasília : Universidade Católica de Brasília, 2019. Ao alto do título: Gabriel Veloso Cunha, Karina Cristina Santos Lopes de Moraes, Rosalvo Streit Júnior, Camila de Oliveira Parreira. Disponível em: <https://ucb.catolica.edu.br>. ISBN 978-85-60485-91-8 1. Manual. 2. Exame físico. 3. Medicina. I. Cunha, Gabriel Veloso. CDU 616(035) AUTORES Gabriel Veloso Cunha Aluno do décimo semestre da graduação em Medicina na Universidade Católica de Brasília (UCB), atuando como Representante de Turma por 3 semestres consecutivos. Autor de 15 artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, tais como International Journal of Exercise Science, Sports, Clinical & Biomedical Research, MEDICINA (FMUSP-RP), Brasília Médica, dentre outras. Possui 5 premiações em congressos da área médica, 2 na categoria “melhor apresentação oral” e 3 na categoria “melhor banner”. Indicado ao “Prêmio de Melhor Iniciação Científica da área de Ciências da Vida no Distrito Federal” em 2017, recebendo menção honrosa pela indicação. Autor do tópico sobre Rabdomiólise no primeiro capítulo do livro "Programas de condicionamento extremo: riscos versus benefícios" (Tibana RA et al. Editora Manole, 2017). Quarto ano de iniciação científica em andamento no Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Católica de Brasília, com financiamento do CNPq, sob orientação do Prof. Dr. Ramires Tibana e Prof. Dr. Jonato Prestes. Revisor de periódico, convidado pelos comitês editoriais, da “Revista Brasileira de Ciência e Movimento” (RBCM) e da “Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício” (RBFE). Participou de 3 ligas acadêmicas, como: “diretor de pesquisa e extensão” e “diretor de ensino”. Atuou como monitor das disciplinas de Bioquímica, Fisiologia Básica, Fisiologia Clínica, Semiologia, Neuroanatomia e Oftalmologia. Karina Cristina Santos Lopes de Moraes Aluna do nono semestre da graduação em Medicina na Universidade Católica de Brasília (UCB). Diretora de Ensino da Liga do Coração da Universidade Católica de Brasília (LiCor-UCB). Foi membro da Liga de Saúde Vascular do Distrito Federal (LSV-DF) e da Liga de Hematologia da Universidade Católica de Brasília (LiHema-UCB). Foi também monitora das disciplinas de Anatomia, Microbiologia, Semiologia e Clínica Médica. Rosalvo Streit Júnior Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pós-graduado em Gestão da Comunicação nas Organizações pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Atualmente, é acadêmico do décimo semestre da graduação em Medicina na Universidade Católica de Brasília (UCB) e diretor de Ensino da Liga de Otorrinolaringologia do Distrito Federal (LiorL), filiada à Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Também é membro de um Programa de Educação Tutorial (PET) sobre rastreamento de doenças crônicas entre moradores do Areal, bairro de Brasília (DF). Foi monitor das disciplinas de Bioquímica, Fisiologia Clínica e Semiologia. Camila de Oliveira Parreira Aluna do nono semestre da graduação em Medicina na Universidade Católica de Brasília (UCB). Graduada em Enfermagem pela Universidade de Brasília (UnB), trabalhando como Enfermeira no box de emergência do Centro de Pronto Atendimento do Hospital Universitário de Brasília no ano de 2013. Presidente da Liga do Coração da Universidade Católica de Brasília (LiCor-UCB) e membro da Liga de Emergência e Trauma da Universidade Católica de Brasília (LET-UCB). Membro-fundador da Liga de Cirurgia Geral da Universidade Católica de Brasília (LACIRG-UCB). Participou dos projetos de extensão "Cuidando dos Idosos e de seus cuidadores no Centro de Medicina do Idoso no HUB" e "Sala de Acolhimento ao Idoso no Centro de Saúde do Paranoá" e "Hiperdia". Participou do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET- Saúde/GraduaSus UCB) por 1 ano, atualmente como voluntária do PET/Saúde Interprofissionalidade (ciclo 2019-2020). Participante do projeto de pesquisa "Avaliação do risco de morte súbita de etiologia cardiovascular em estudantes de Medicina". Possui 2 artigos publicados em revistas científicas, mais de 10 trabalhos apresentados em congressos, sendo 3 premiados com menção honrosa. Foi monitora das disciplinas de Parasitologia, Tópicos Avançados em Promoção da Saúde, Histologia Sistêmica, Fisiologia Clínica, Semiologia e Práticas em Cardiologia. COLABORADORES Carlos Bernardo Tauil Professor da Universidade Católica de Brasília (UCB). Mestrado em Neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Mestrado em Neuroimunologia pela Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha. Residência Médica em Neurologia pelo Hospital do Servidor Estadual de São Paulo. Doutorando em Ciências Médicas pela Universidade de Brasília (UnB). Liana Lauria Pires Graduada em Medicina pela Universidade Federal da Bahia. Especialização e Residência médica pela Universidade Federal da Bahia. Mestrado em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília e doutorado em Patologia Molecular também pela Universidade de Brasília. Professora Adjunta IV, aposentada, no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília. Tem experiência nas áreas de Medicina geral, com ênfase em Semiologia Médica, Clínica Médica, Doenças Infecciosas e Parasitárias, atuando principalmente nos seguintes temas: Doença de Chagas e Parasitoses (Protozoários e Helmintos). Professora do Curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília nas disciplinas de Semiologia e Doenças Infecciosas e Parasitárias. Igor Alexandre Protzner Morbeck Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (1997). Residência Médica em Oncologia Clínica pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte-MG (2001). Mestre em Ciências pela Fundação Antônio Prudente - São Paulo - SP. Título de Especialista em Cancerologia pela Associação Médica Brasileira (AMB). Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica - Regional do Distrito Federal (2011-2013). Professor da disciplina de Semiologia da Universidade Católica de Brasília. Oncologista Clínico Titular do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês - Unidade Brasília Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Membro Titular da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade Européia de Oncologia (ESMO). Membro Titular da Associação Internacional de Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC). Nadja Nobrega de Queiroz Graduada em Medicina pela Universidade de Brasília. Residência Médica em Cirurgia Geral e Coloproctologia, ambas no Hospital Universitáriode Brasília. Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade de Brasília. Professora do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília e Médica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Suzete Mendes Professora de Clínica Médica da Universidade Católica de Brasília (UCB). Especialista em Clínica Médica e Pneumologia. Preceptora do Programa de Residência em Clínica Médica do Hospital Regional de Taguatinga-DF de 1985 a 2009. Responsável pela Enfermaria de Pneumologia do Hospital Regional de Taguatinga até 2009. Denise Nogueira da Gama Cordeiro Graduada em Medicina pela Universidade de Brasília (1975). Residência Médica em Pediatria no Hospital de Base de Brasília (1977). Mestrado em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília (2007). Medica do Ministério da Saúde (1977-1998). Médica da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (1978- 2008). Atualmente é Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB). SUMÁRIO Introdução .................................................................................................. Página 07 Gabriel Veloso Cunha Ectoscopia ................................................................................................... Página 08 Gabriel Veloso Cunha Denise Nogueira da Gama Cordeiro Cabeça e Pescoço ....................................................................................... Página 16 Karina Cristina Lopes de Moraes Igor Alexandre Protzner Morbeck Tórax ........................................................................................................... Página 23 Rosalvo Streit Júnior Suzete Mendes Abdome ...................................................................................................... Página 34 Gabriel Veloso Cunha Nadja Nobrega de Queiroz Cardiovascular ............................................................................................ Página 42 Camila de Oliveira Parreira Liana Lauria Pires Neurológico Geral ....................................................................................... Página 57 Gabriel Veloso Cunha Carlos Bernardo Tauil Neurológico Pares Cranianos ..................................................................... Página 72 Karina Cristina Lopes de Moraes Carlos Bernardo Tauil 7 INTRODUÇÃO É comum que estudantes de medicina apresentem receio e apreensão no seu primeiro contato com a semiologia. Além de ser uma das primeiras oportunidades de interação direta com pacientes, há uma demanda de que sejam dominados conteúdos extensos como epônimos, termos clínicos e técnicas de exame físico. Apesar das características heterodoxas da semiologia médica, esta ciência é fascinante e essencial para o bom exercício da profissão. Afinal, dentre os grandes clichês que cerceiam a insatisfação de pacientes está o clássico “o médico sequer me examinou”. O exame físico é um importante recurso a ser utilizado pelo médico, uma forma de complementar a anamnese, direcionar hipóteses diagnósticas e avaliar a necessidade de exames complementares. A presença de um sinal característico pode ser um estímulo para o profissional considerar uma doença específica e permitir o diagnóstico precoce, muitas vezes fundamental para um bom prognóstico. Este livro foi escrito por ex-monitores da Disciplina de Semiologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), sob supervisão de professores especialistas das disciplinas de Semiologia e Clínica Médica. Neste material buscamos simplificar os conceitos e manobras mais importantes para aqueles que estão iniciando seus estudos no tema ou que desejam revisar os princípios mais importantes de cada etapa do exame físico. Este é um material escrito em sua maioria por estudantes, para estudantes, suprimindo técnicas e conceitos sem aplicação prática cotidiana para o generalista. O objetivo deste livro não é substituir os clássicos tratados de semiologia, mas sim complementar o estudo do componente prático do exame físico. Desta forma, foram omitidas explicações extensas e detalhadas sobre a interpretação de sinais específicos e achados incomuns na prática clínica. Cada capítulo deste material aborda uma parte específica do exame físico segmentar, sendo direcionados para provas teóricas e práticas que abordem a semiologia médica, com uma vasta gama de exemplos para facilitar o aprendizado. Afinal, um médico saber como avaliar seu paciente de forma adequada é mais que uma necessidade, é um dever. Gabriel Veloso Cunha 8 Ectoscopia Gabriel Veloso Cunha Denise Nogueira da Gama Cordeiro A ectoscopia se refere à avaliação inicial do paciente, fornecendo um panorama geral do status do indivíduo um direcionamento para o exame segmentar. Em muitos casos, o examinador é capaz de formular hipóteses diagnósticas somente com essa análise, reforçando ou descartando possibilidades à medida que as demais etapas do exame físico são realizadas. Nesta parte do exame estão incluídas análises de caráter subjetivo baseadas na observação e que demandam criticismo e método por parte do avaliador. Não se deve inferir que a ectoscopia seja apenas “correr o olho no paciente”, pois a sistematização da observação é obrigatória para que não passem despercebidos sinais que poderiam ser fundamentais para a elucidação diagnóstica. Neste capítulo será descrita uma estrutura básica para o exame ectoscópico, com itens que não podem deixar de serem avaliados e descritos na história clínica. Avaliação do Estado Geral O estado geral descreve a impressão que o paciente passa para o avaliador, sendo subjetiva e muitas vezes dependente das comparações que o examinador utiliza. Para se estimar o estado geral sugerimos que sejam levados em consideração os seguintes itens: Estado Nutricional Condições de higiene Sinais evidentes de enfermidades Movimentação Capacidade de comunicação Caso seja pertinente na história clínica, os quesitos acima devem ser pormenorizados isoladamente. No estado nutricional deve-se apontar desnutrição, bom estado nutricional, sobrepeso ou obesidade. As condições de higiene precárias são mais prevalentes em portadores de doença psiquiátrica ou crianças/idosos sem cuidados adequados. Exemplos de sinais de enfermidades são achados físicos relacionados a traumas, movimentos anormais e alterações mentais evidentes. A presença de movimentação ativa e capacidade de comunicação adequada são compatíveis com uma função neurológica adequada. Entretanto, é mais comum se encontrar em prontuários apenas a quantificação do estado global do paciente, normalmente expressa como “bom estado geral” (BEG), “regular estado geral “(REG) ou “mau estado geral” (MEG). Discrepâncias entre avaliadores são frequentes, sendo minimizadas quando se tem em mente um exemplo claro de cada categoria (Tabela 2.1) e tentamos estimar com qual deles o paciente que está sendo avaliado mais se assemelha. 9 Descrição Sigla Exemplos Bom Estado Geral BEG 1) Paciente assintomático que se dirige ao posto de saúde para renovar a receita do fármaco em uso para diabetes mellitus; 2) O leitor deste livro quando procura um dermatologista para um tratamento estético; 3) Um portador de ASMA compensada, que apresenta sibilos esparsos. Regular Estado Geral REG 1) Portador de insuficiência cardíaca com dispneia moderada; 2) Paciente com Dengue apresentando prostração, desidratação não-grave e febre; 3) Portador de hipertireoidismo com tremores, insônia e sudorese, mas com capacidade funcional preservada. Mau Estado Geral MEG 1) Paciente séptico internado em Unidade de Terapia Intensiva, em suporte ventilatório e com instabilidade hemodinâmica. 2) Paciente oncológico, deteriorado por repetidas sessões de quimioterapia e radioterapia; 3) Portador de apendicite que,após dias de evolução, evolui com rotura e peritonite difusa. Tabela 2.1: Exemplos de quantificação do estado geral para serem utilizados como parâmetros de comparação Epidemiologia A adequada identificação do paciente, apesar de presente na anamnese, deve ser reforçada no exame ectoscópico para evitar autodeclarações equivocadas. O processo diagnóstico é extremamente dependente desta parte do exame, devido ao fato de algumas doenças serem mais prevalentes em determinados grupos. A título de exemplificação pode-se citar o Lúpus Eritematoso Sistêmico, típico de mulheres jovens; a Doença de Parkinson, que raramente se manifesta fora da população idosa; além da Hipertensão Arterial Sistêmica, mais grave e frequente na população afrodescendente. 10 Devido à alta miscigenação da população brasileira, a cor da pele nem sempre é um indicativo fiel da prevalência de doenças comuns àquela etnia, mas ainda assim deve ser descrita. Não se deve esquecer de mencionar caso o paciente apresente características orientais, pois existem doenças com maior prevalência no grupo (ex.: a Arterite de Takayasu) e, segundo as publicações mais recentes, classificações diferentes para sobrepeso e obesidade. É fundamental que seja descrito se a idade aparente é compatível com a referida, pois existem situações clínicas que cursam com infantilismo (ex.: síndrome de Turner e hipopituitarismo) ou com aparência desproporcionalmente envelhecida (ex.: alta exposição solar e tabagismo). Em tempos de frequentes discussões sobre padrões de sexualidade, deve-se reiterar que a descrição deste trecho se refere ao sexo biológico, não ao gênero do paciente. Dessa forma, devem ser descritos de forma clara e explícita na ectoscopia o sexo, etnia e compatibilidade entre a idade aparente e a idade referida. Estado de consciência Apesar dessa avaliação fazer parte do exame neurológico, ainda na ectoscopia deve-se tomar nota do nível de consciência e orientação do paciente. Normalmente o examinador é capaz de avaliar tais parâmetros ainda durante a anamnese. Para a descrição ectoscópica é suficiente descrever conforme a frase clássica encontrada na maioria dos prontuários quando o indivíduo é capaz de contar adequadamente a sua história: “lúcido e orientado no tempo e espaço”, frequentemente encontrada em prontuários como a abreviação “L.O.T.E.”. Caso existam dúvidas referentes à orientação do paciente, pode-se proceder perguntas específicas como “Em que mês estamos?” ou “Onde você está?”. Movimentos anormais involuntários também devem ser descritos nesta parte do exame. Para as definições e técnicas de avaliação mais específicas do sistema neurológico, veja o capítulo 7. Deformidades grosseiras Devem ser descritas alterações evidentes que eventualmente podem estar presentes, sendo estas normalmente ortopédicas. É inadmissível que um paciente com um membro amputado não tenha esta informação clara no seu prontuário. Outros exemplos importantes são os desvios da coluna vertebral como cifose, lordose ou escoliose. Caso o paciente não possua nenhuma dessas alterações, normalmente não se faz necessário negar tais achados na história clínica. Posição preferencial Algumas afecções apresentam redução da dor ou melhora da sintomatologia quando se adota uma posição específica, por isso deve-se atentar à postura que o paciente adota no leito ou fora dele. Essas posições preferenciais podem ser voluntárias ou involuntárias, estando as mais comuns descritas na tabela 2.2. 11 Posições voluntárias Posições involuntárias Ortopneica: O paciente permanece de pé ou sentado para obter alívio respiratório. Exemplificado pela insuficiência cardíaca e asma. Ortótono: O paciente apresenta os membros estendidos, rigidez muscular generalizada que mantém o paciente sem se curvar, assumindo uma posição retilínea no leito. Exemplificado por miopatias crônicas. Genupeitoral: O paciente se apoia sobre uma superfície com os joelhos e anterioriza o tórax a ponto deste fazer contato com o a mesma. Esta manobra reduz a resistência de enchimento cardíaco. Exemplificada pelo derrame pericárdico Opistótono: O paciente assume decúbito dorsal, com contratura lombar, apenas com a cabeça e os pés em contato com o leito, formando uma convexidade anterior. Exemplificado classicamente pelo tétano Cócoras: O paciente permanece agachado, pela facilidade do retorno venoso propiciada pela posição. Exemplificado pelas cardiopatias congênitas cianóticas Emprostótono: O paciente apresenta contratura muscular que culmina em posição contrária ao opistótono, com concavidade anterior. Exemplificado pela raiva ou tétano. Decúbito lateral: O paciente se deita de lado, estando o ventre lateralizado. Exemplificado pela trepopneia, característica no derrame pleural unilateral Pleurostótono: curvatura lateral no leito. Exmplificada pelo tétano, raiva e meningite. Antálgica: Típica de quadros de apendicite aguda, o paciente assume o decúbito dorsal, coloca a mão sobre a fossa ilíaca direita e flexiona o membro inferior direito. Descerebração e decorticação: associadas a lesões de mesencéfalo e tálamo, respectivamente. Uma dica útil para diferenciação é relacionar a posição com a neuroanatomia: como o tálamo está acima do mesencéfalo, o paciente estará com os cotovelos flexionados na decorticação, mantendo os braços junto ao peito, ao passo que na descerebração há flexão, com os membros superiores ao longo do corpo. Em ambas as posições haverá extensão de membros inferiores Tabela 2.2: Posições preferenciais voluntárias e involuntárias mais comuns. 12 Pele Ainda durante a ectoscopia deve ser realizado o exame dermatológico, que apesar de muitas vezes feito de forma inadequadamente abreviada, é um recurso que possibilita o reconhecimento de desordens locais e sistêmicas. É baseado na inspeção e palpação de superfícies, bem como o reconhecimento de lesões características. Abaixo será descrita uma sistematização do exame, recomendada para evitar descuidos na prática clínica. Os procedimentos para o exame de sensibilidade superficial serão descritos no Capítulo 7. Reiteramos que o objetivo deste livro é fornecer um roteiro prático de exame físico, não sendo detalhadas aqui todas as possíveis lesões de pele e anexos ou suas etiologias, temática que já foi amplamente abordada por tratados de semiologia médica e dermatologia. Coloração Uma avaliação de caráter subjetivo deve ser realizada para determinar se a coloração da pele é compatível com a normalidade. Alterações de cor podem ser focais ou globais. As alterações focais normalmente tendem ao tom vermelho associado à inflamação ou preto associado à necrose. As mudanças globais estão associadas a uma miríade de achados, exemplificados na Tabela 2.3, devendo se classificar em cruzes de acordo com a intensidade da alteração: +/++++ (baixa intensidade), ++/++++ (moderada intensidade), +++/++++ (alta intensidade) e ++++/++++ (muito alta intensidade). Coloração da pele Condições normalmente associadas Amarelo ou alaranjado Icterícia ou hipercarotenemia Azul Cianose Branco Desidratação Vermelho Infecções e alergias Tabela 2.3: Alterações da coloração da pele e suas respectivas causas mais frequentes. Elasticidade e Turgidez Para avaliar esta característica, o examinador deve avaliar a capacidade de distensão da pele das mãos ou do abdome do paciente, conforme ilustrado na figura 2.1. A turgidez está fisiologicamente reduzida na senilidade, e patologicamente reduzida em situações como a desidratação, esclerodermia e edema. A saber, a elasticidade é uma característica da pele, ao passo que a turgidez engloba o tecido subcutâneo. Figura 2.1: (A) Avaliação da elasticidade da pele. (B) Avaliação da turgidez, avaliação mais profunda para englobar também o tecido subcutâneo. 13Temperatura A temperatura está classicamente aumentada em processos inflamatórios e reduzida na oclusão arterial periférica. Para identificar essas alterações o examinador deve encostar o doso das suas mãos na pele das extremidades do paciente, conforme ilustrado na figura 2.2, devendo realizar uma comparação da temperatura entre os membros. Apesar de comumente visto em serviços de saúde, determinar ao toque se o paciente se encontra febril ou afebril é um método de baixa sensibilidade, devendo optar pela aferição com termômetro. Figura 2.2: Avaliação da temperatura de extremidades. Notar que o parâmetro é avaliado em diferentes alturas, com o dorso das mãos, comparando ambos os lados. Unhas e pelos É obrigatória a avaliação sistemática dos anexos da pele, pois podem apresentar repercussões de afecções sistêmicas como a desnutrição, cardiopatias, pneumopatias ou cirrose hepática. Até mesmo suspeitas diagnósticas de doenças psiquiátricas podem ser levantadas pela avaliação extremidades, como a ansiedade (presença de onicofagia) ou bulimia (sinal de Russel). Mucosas Devem ser inspecionadas obrigatoriamente na cavidade oral e na face interna das pálpebras, pois normalmente a falta de umidade é o primeiro achado em quadros de desidratação. Outros sinais que sugerem desidratação são a palidez cutânea, enoftalmia, retração de fontanelas (em lactentes) e, em casos extremos, redução do débito urinário e alteração do nível de consciência. Linfonodos Normalmente impalpáveis, quando perceptíveis devem suscitar as hipóteses inflamatória e neoplásica. Características que falam a favor de adenomegalia inflamatória/infecciosa são: consistência fibroelástica, dolorosa, bilateral e não aderência a planos profundos. Na 14 adenomegalia neoplásica, relacionada com metástases linfáticas de tumores sólidos e malignidades hematológicas, percebe-se a característica endurecida (“pétrea”), pouca mobilidade. Dessa forma, deve-se palpar sistematicamente a topografia das principais cadeias linfáticas superficiais, ilustradas na figura 2.3. Quando houver adenomegalia, deve-se descrever a sua localização, número de linfonodos palpáveis, consistência, mobilidade se é dolorosa à palpação e afirmar se há presença de fistulização para a pele. Figura 2.3: topografia de palpação das cadeias linfonodais. (A) pré-auriculares, (B) suboccipitais, (C) mandibulares, (D) submentonianos (E) poplíteos, (F) supraclaviculares, (G) infraclaviculares, (H) axilares, (I) epitrocleanos. Deve-se palpar também as cadeias linfonodais retro-auriculares, localizadas imediatamente posteriores ao lóbulo da orelha. Deve-se atentar para palpar todas as cadeias linfonodais bilateralmente. Sugestões Bibliográficas Campana, Álvaro Oscar. 2010. Exame Clínico: Sintomas e Sinais Em Clínica Médica. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Goldman, Lee, Dennis Arthur Ausiello, and Andrew I. Schafer. 2016. “Goldman-Cecil. Tratado de Medicina Interna.” In Cecil Tratado de Medicina, ed. Elsevier. Longo, Dan . Fauci , Anthony . Kasper , Dennis . Hauser, Stephen .Jamenson Larry. Loscalzo Joseph. 2012. Harrison Principios de medicina interna Harrison Principios de Medicina Interna. López, Mario, and José Laurentys Medeiros. 2009. Semiologia Médica: As Bases Do Diagnóstico Clínico. 5a. ed. Editora Atheneu. Martinez, José Baddini, Marcio Dantas, and Julio Cesar Voltarelli. 2013. Semiologia Geral e Especializada. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Porto, Celmo Celeno. 2010. Vademecum de Clínica Médica. 3a. ed. Rio de Janeiro - Guanabara Koogan. 15 Porto, Celmo Celeno. 2013. Semiologia Médica. 7a. ed. Editora Guanabara Koogan. 16 Cabeça e pescoço Karina Cristina Lopes de Moraes Igor Alexandre Protzner Morbeck O exame de cabeça e pescoço é composto pela análise de estruturas fundamentais, tais como os olhos, o nariz, a boca e a glândula tireoide. Neste capítulo serão descritas as principais técnicas e pontos a serem abordados no exame físico da cabeça e do pescoço. É sugerido, por questões didáticas, uma sequência no sentido crânio-caudal, a fim de facilitar a técnica e evitar esquecimentos. O paciente deve estar sentado na altura do examinador, de frente para este. Crânio Deve-se iniciar com a inspeção e palpação do crânio. Com as duas mãos, palpa-se o crânio em toda a sua extensão, em busca do reconhecimento de seu tamanho e forma, presença de deformidades, dor à palpação, retrações e abaulamentos. O local da alteração deve ser topografado: região occipital, parietal, temporal, malar, etc. Doenças como a Toxoplasmose congênita e a infecção materna por Zika-vírus, podem cursar com microcefalia. Condições congênitas também podem interferir no formato do crânio: quando há aumento do diâmetro anteroposterior, que se torna maior que o transverso, a condição é chamada dolicocefalia. Outros formatos que podem ser encontrados são a acrocefalia (crânio em torre), escafocefalia (aspecto de casco de navio invertido), entre outras. Abaulamentos podem sugerir traumas, e tumorações podem ser benignas ou malignas, devendo ser investigadas com maior atenção. Fontanelas hipertensas e salientes nos bebês indicam hipertensão intracraniana, enquanto fontanelas hipotensas e abauladas sugerem desidratação. Posição da cabeça e movimentos anormais São avaliados pela inspeção. A cabeça pode estar mais inclinada a um lado do que a outro em condições como o torcicolo e, na posição de opistótono, da irritação meníngea, há hiperextensão da cabeça e do pescoço. Movimentos anormais que podem ser encontrados nessa avaliação são movimentos coreicos, tiques e tremores. Na insuficiência da valva aórtica podem ser encontrados movimentos rítmicos da cabeça em sincronia com os batimentos cardíacos (sinal de Musset); podendo também ser visualizada, no pescoço, a “dança das carótidas”, referente à pulsação acentuada dessas artérias devido a uma diferença considerável entre a pressão arterial sistólica e a diastólica. Outros movimentos anormais que indicam insuficiência aórtica são a pulsação das artérias retinianas e pupilas (sinal de Becker) e a pulsação da úvula (sinal de Muller). Deve ser inspecionada a fim de detectar lesões diversas como aquelas superficiais, na acne; mancha em formato de asa borboleta na região malar, como no LES etc. A palpação de face é realizada em contextos específicos para afastar tumorações e dor à palpação. Cabelos e couro cabeludo Avaliados pela inspeção e palpação. São palpadas lesões, tumorações e cicatrizes, sendo inspecionada também a implantação dos cabelos, a distribuição e a quantidade destes. A implantação normal dos cabelos do homem é alta, havendo a presença das “entradas androgênicas”, enquanto a da mulher é mais baixa. Cabelos finos podem indicar desnutrição ou hipertireoidismo, enquanto cabelos mais espessos e ressecados podem ser encontrados no hipotireoidismo. Rubor e descamação podem indicar dermatite seborreica ou psoríase. A presença de cabelos fracos e quebradiços costuma acompanhar o curso clínico da Leishmaniose visceral. 17 Supercílios Devem ser inspecionados. Condições como a Hanseníase, o Mixedema e a Esclerodermia podem cursar com madarose, que é a perda de cílios e/ou supercílios. Simetria da face e mímica facial É avaliada pela inspeção, devendo ser orientada pela comparação da simetria dos dimídios. Alterações da simetria ocorrem nas paralisias faciais periféricas e centrais, principalmente, e na presença de tumores. A mímica facial é a movimentação dos músculos da face e deve ser pesquisada pedindo ao paciente que fale algumas palavras e faça caretas, sorrisos e expressões, que serão avaliadas como normais ou anormais. Pode estar diminuída na doença de Parkinson e na Esclerodermia, por exemplo, e aumentada nas coreias e tiques. Esta etapa do exameé detalhadamente descrita no Capítulo 7. Olhos Mais uma vez, utiliza-se da inspeção das estruturas. Pode ser notada a presença de exoftalmia (protusão do globo ocular característica da doença de Graves) ou enoftalmia (retração anormal do olho em relação à pálpebra). Nas pálpebras deve-se pesquisar simetria, edema, inflamações e lacrimejamentos. Uma pálpebra caída, também conhecida como ptose, pode ser um sinal de Miastenia gravis; edemas palpebrais podem indicar síndrome nefrótica, por exemplo. Outras alterações que podem ser encontradas são: epicanto (prega palpebral comum nos pacientes com Síndrome de Down), ectrópio e entrópio (eversão e inversão da pálpebra, respectivamente), equimose, xantelasmas (placas de gordura acumulada no citoplasma dos histiócitos superficiais; costumam ser marcadores de dislipidemias). As conjuntivas devem ser inspecionadas à procura de alterações da coloração (ictéricia e palidez, por exemplo), hemorragias, inflamações, ulcerações e cicatrizes. As escleróticas podem apresentar pterígio (membrana de tecido fibroso que se estende do ângulo interno do olho em direção à córnea) e pinguécula (degeneração que se expressa como um depósito amarelado na esclera), entre outras afecções. Devem ser observados, ainda, movimentos anormais dos olhos como o sinal de Becker, já descrito anteriormente, e nistagmos, que são movimentos rápidos, involuntários e repetitivos dos olhos, que podem acontecer nas doenças do labirinto e nos traumas crânio-encefálicos. Para a pesquisa de estrabismo utiliza-se um objeto (caneta, lanterna) e pede-se para o paciente seguir os movimentos desse objeto apenas com o olho, sem mover a cabeça. Faz-se então, no ar, um “H” com o objeto para observar todos os movimentos possíveis do globo ocular. As pupilas são analisadas conforme o seu aspecto: se estão isocóricas (mesmo tamanho e formato), se há discoria (alteração do formato da pupila), midríase (dilatação) ou miose (contração) anormais. Os reflexos pupilares são pesquisados com o auxílio de uma lanterna. É testado o reflexo fotomotor com a projeção da luz da lanterna na pupila que está a ser avaliada, devendo esta se contrair (miose). Já o reflexo consensual é pesquisado direcionando a luz na pupila e avaliar se há presença de miose contralateral. Para avaliar o reflexo de acomodação, deve-se aproximar o objeto (caneta, lanterna desligada etc.) do canto interno dos olhos do paciente e o afastar lentamente enquanto se avalia a pupila. Todos esses reflexos foram descritos e ilustrados no Capítulo 7. Nariz O exame do nariz deve ser feito pedindo-se ao paciente que incline ligeiramente a sua cabeça para traz, a fim de analisar melhor as estruturas nasais. Deve ser utilizada uma lanterna para melhor visualização da cavidade, conforme exemplificado na figura 3.1. 18 Figura 3.1: Inspeção do nariz. Devem ser buscadas deformidades, corrimentos e palpados pontos dolorosos à palpação do nariz, bem como o septo nasal (se há desvios, ulcerações). Algumas doenças são acompanhadas por alterações características do nariz, como é o caso da sífilis congênita e o “nariz em sela”, bem como na Leishmaniose mucocutânea o denominado “nariz de tapir”, em que o septo nasal encontra-se destruído e o nariz em tamanho aumentado. Seios paranasais A palpação dos seios paranasais deve ser feita utilizando os dois primeiros dedos. Os seios frontais estão mediais aos supercílios; deve ser feita uma leve pressão com o polegar, em cada um deles, seguida da indagação ao paciente acerca de dor. Os seios etmoidais se encontram um pouco acima do canto interno dos olhos; com o dedo indicador e polegar, pode-se palpar os dois seios paranasais ao mesmo tempo. Já os seios maxilares encontram-se na altura das maxilas, entre o final do nariz e o lábio superior. Podem ser palpados com o dedo indicador e o polegar, novamente, ao mesmo tempo. Na sinusite, por exemplo, o paciente se queixa de dor à palpação em topografia de seios paranasais. Orelhas Para permitir a adequada inspeção da orelha externa deve-se tracionar levemente o pavilhão auricular posteriormente e para cima, conforme ilustrado na figura 3.2. A lanterna também pode ser utilizada para facilitar a visualização. É analisada a forma e a implantação da orelha, bem como a presença de nódulos a saída de secreções ou hemorragia. Em pacientes com trauma de base do crânio, muitas vezes, a saída de líquido (otorreia) ou de sangue (otorragia) pelos ouvidos são sinais presentes. 19 Figura 3.2: Inspeção da orelha externa. Lábios Devem ser inspecionados quanto à simetria, coloração, deformidades, fissuras, edema, erupções, dentre outros. Nos pacientes com paralisia facial periférica, por exemplo, há desvio da rima labial para o lado são quando se pede ao paciente para sorrir. Na anemia ferropriva pode ser observada a queilite angular. Cavidade bucal Deve-se pedir ao paciente que usa prótese para que a retire para melhor avaliação da boca. As gengivas devem ser inspecionadas quanto a tumefações, hemorragias e ulcerações. Pacientes com Pênfigo vulgar, por exemplo, podem apresentar gengivite descamativa e marginal. Na inspeção dos dentes, deve-se analisar o estado de conservação, as raízes dentárias, a presença de cáries e outras afecções. Na paciente com sífilis congênita são encontrados os “dentes de Hutchinson”, que possuem o aspecto em chave de fenda. As alterações encontradas devem ser descritas (por exemplo: “presença de cavitação cariogênica no primeiro molar esquerdo superior”). A mucosa oral tem coloração normal avermelhada; deve ser avaliada quanto à presença de palidez e icterícia, especialmente abaixo da língua, no frênulo lingual, onde também pode ser visualizada a falta de saliva na desidratação. Na escarlatina e em outras condições, podem ser visualizadas manchas petequiais no palato duro, chamadas de enantema (exantema em mucosas); no sarampo, podem ser vistas as manchas de Koplik, minúsculas manchas esbranquiçadas na mucosa bucal. A língua deve ser avaliada quanto a seu tipo, cor, presença de ulcerações, desvios, movimentos anormais (como fasciculações nas síndromes piramidais), estase venosa, etc. Alguns cânceres de pele e lesões pré-cancerígenas se manifestam na língua; assim, esta deve ser inspecionada, com o auxílio de um abaixador de língua, em toda a sua extensão. Os tipos mais comuns de língua são descritos na tabela abaixo. 20 ALTERAÇÃO DA MORFOLOGIA DA LÍNGUA DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÕES CLÍNICAS MAIS COMUNS Língua saburrosa Acúmulo de substância branco-amarelada na superfície da língua Higiene bucal precária, candidíase ou tabagismo Língua lisa Atrofia das papilas linguais que dão o aspecto rugoso característico fisiológico Desnutrição e anemias carenciais Língua pilosa Papilas filiformes hipertrofiadas e marrons Tabagismo Língua em framboesa Acentuadamente avermelhada, com pontos mais escuros focais Escarlatina Língua escrotal Sulcos irregulares em toda a extensão lingual Deficiências vitamínicas Tabela 3.1: Alterações mais comuns da língua e suas interpretações Faringe A espátula deve ser colocada sobre a língua e deve-se pedir ao paciente que fale “aaaaah” continuamente. Não é necessária a colocação da língua para fora da boca. A lanterna deve ser utilizada para melhor visualização das estruturas, o que é ilustrado na figura 3.3. Devem ser descritas lesões, exsudatos ou deformidades nos pilares. As tonsilas palatinas devem ser inspecionadas quanto ao seu tamanho e a presença de congestão, exsudato, membranas e abscessos. Na faringoamigdalite estreptocócica, classicamente, há a presença de pústulas nas tonsilas. A mononucleose infecciosa também pode se apresentar dessa forma. Figura 3.3: Inspeção da orofaringe. Parótidas Devem ser palpadas com os dedos indicador, médio e anular justapostos abaixo e ligeiramente à frenteda orelha externa, com a compressão da área. A presença de dor à palpação pode indicar parotidite, por exemplo. 21 Pescoço Deve ser inspecionado quanto à forma geral, deformidades e mobilidade muscular. No torcicolo, por exemplo, há contração do músculo esternocleidomastoideo, diminuindo a movimentação do pescoço. Os vasos arteriais e venosos devem ser observados; na Síndrome da veia cava superior e em outras afecções que prejudiquem o retorno venoso ao coração, pode haver estase jugular venosa. Com a região lateral das mãos deve ser feita a pesquisa de frêmitos na base do pescoço (região das carótidas). Um frêmito é a sensação tátil de um sopro, descritos e ilustrados no Capítulo 6. Traqueia Fisiologicamente localizada no centro do pescoço, afecções pulmonares como atelectasias e tumores no parênquima podem desviar a traqueia. Com os dedos indicador e polegar a estrutura deve ser movimentada levemente; processos infiltrativos e neoplásicos locais podem diminuir a sua mobilidade. Tireoide Existem algumas técnicas para a palpação da tireoide, sendo esta normalmente não-visível e não-palpável. Se palpável, devem ser descritos o volume, consistência, mobilidade e superfície. O istmo pode eventualmente ser palpável com a colocação do polegar horizontalmente abaixo da cartilagem cricoide, pedindo para o paciente deglutir. O examinador deve se posicionar de frente para o paciente. Após a localização do istmo, os dedos polegar e indicador são colocados lateralmente a ele e pede-se ao paciente para deglutir, conforme ilustrado na figura 3.4. Alternativamente o examinador pode se posicionar de pé, atrás do paciente e realizar a palpação com os dedos indicadores e médio. Figura 3.4: Técnica para palpação de tireoide. O examinador deve solicitar que o paciente realize deglutição para facilitar a localização da glândula. Sugestões Bibliográficas Bailey, Byron J., Jonas T. Johnson, Ronaldo Pontes, and Carlos E. R. Santos. 2014. Otorrinolaringologia: Cirurgia de Cabeça e Pescoço. 4a. ed. Thieme Revinter. Flint, Paul. 2017. Cummings Otorrinolaringologia. 1a. ed. Elsevier. 22 Goldman, Lee, Dennis Arthur Ausiello, and Andrew I. Schafer. 2016. “Goldman-Cecil. Tratado de Medicina Interna.” In Cecil Tratado de Medicina, ed. Elsevier. Martinez, José Baddini, Marcio Dantas, and Julio Cesar Voltarelli. 2013. Semiologia Geral e Especializada. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Porto, Celmo Celeno. 2013. Semiologia Médica. 7a. ed. Editora Guanabara Koogan. 23 Tórax O exame físico do tórax é fundamental para o estudante de medicina porque envolve órgãos vitais e regiões como os pulmões e o mediastino. Saber avaliar essas estruturas e interpretar seus achados é imprescindível para fazer uma boa correlação dos achados semiológicos com o diagnóstico, por exemplo, de síndromes pulmonares ou pleurais. Dessa forma, o capítulo será direcionado para os principais pontos a serem abordados no exame físico do aparelho respiratório e parede torácica. Um detalhe deve ser lembrado sempre: o exame não pode ser feito com o tórax coberto, ou seja, sempre será necessário pedir ao paciente que retire a camisa ou blusa. Se for paciente feminina, a situação exige ainda mais atenção, devendo ser demonstrado respeito e cuidado para evitar exposições desnecessárias. É recomendado que se ofereça à paciente um lençol ou toalha para cobrir os seios enquanto é examinada, seja em ambulatório, enfermaria ou pronto- socorro. Posicionamento do paciente Antes de começar, é preciso posicionar o paciente sentado em uma banqueta ou no próprio leito. O examinador precisa escolher uma posição que possibilite o movimento ao redor do paciente, a fim de permitir o exame adequado das regiões anterior, posterior e lateral do tórax. (Figura 4.1). Quatro componentes fazem parte dessa etapa do exame físico, respeitando a seguinte ordem: 1º - Inspeção; 2º – Palpação; 3º – Percussão; 4º – Ausculta. Figura 4.1: Posicionar o paciente de forma que o examinador tenha espaço adequado para realizar todas as etapas do exame físico na (A) face anterior e (B) face posterior do tórax. 24 INSPEÇÃO A inspeção é dividida em duas etapas: a estática e a dinâmica. Inspeção estática Nesta etapa do exame, não é necessário que o examinador toque no paciente, devendo apenas observar de forma atenta e sistemática a configuração do tórax e outros achados da ectoscopia, que podem ser importantes para revelar patologias do trato respiratório. Nessa etapa, devem ser avaliados os seguintes itens: Formato do tórax: chato, tonel ou em barril, infundibuliforme, cariniforme, em sino ou piriforme, cifótico ou escoliótico; e o biotipo: normolíneo, brevilíneo ou longilíneo; Presença de abaulamentos, retrações, cicatrizes ou circulação colateral Presença de possíveis achados como cianose ou baqueteamento digital; Inspeção dinâmica Atenção para esses itens: 1) Frequência respiratória - valor de referência, segundo o livro ‘Exame Clínico’, de Celmo Porto, de 16 irpm a 20 irpm. Nesse ponto, é importante conhecer outros dois conceitos importantes, estabelecidos pelo autor José Baddini Martinez, no livro ‘Semiologia Médica Geral e Especializada’: bradipneia (menos de 8 irpm) e taquipneia (mais de 24 irpm). 2) Amplitude respiratória: Também há o conceito de hipopneia (diminuição da amplitude respiratória) e hiperpneia (aumento da amplitude respiratória). 3) Tipo respiratório: costal superior ou toracoabdominal; 4) Ritmo respiratório: Cheyne-Stokes, Biot, Kussmaul e suspirosa; Aqui vale acrescentar que Porto, no livro ‘Exame Clínico’ inclui, ainda, outros ritmos: platipneia, trepopneia e ortopneia. 5) Expansibilidade dos pulmões: observar atentamente se está simétrica. 6) Tempo inspiratório e tempo expiratório: verificar se estão alterados. 7) Presença de sinais de insuficiência respiratória: tiragem, sinal de Hoover, respiração frenolabial, respiração paradoxal e outros sinais que indicam utilização de musculatura acessória: batimento de asa do nariz,a retração dos espaços supraclaviculares e fúrcula esternal. 25 Palpação Na palpação, o examinador deve se atentar a um item fundamental: a simetria. Isso significa que as manobras serão comparativas entre os dois hemitóraces, ou seja, não se deve palpar todo o lado direito e somente depois todo o lado esquerdo. Essa técnica é importante pois permite comparações à mesma altura com o hemitórax contralateral, permitindo identificar mais facilmente a presença de achados patológicos unilaterais. O exame se dará com a pesquisa de áreas de sensibilidade, análise da expansibilidade e do Frêmito Toracovocal (FTV). Um artifício útil é dividir visualmente o tórax do paciente em partes iguais, a fim de uniformizar os locais para palpação. Sugere-se palpar, em cada hemitórax, dois locais na face anterior e, na porção posterior, três para a expansibilidade (terço superior, médio e base) e cinco para o FTV, permitindo uma avaliação completa do ápice à base torácica. Mas os cinco pontos são apenas uma referência para o exame. O mais importante é lembrar que um exame cuidadoso mantém uma distância de aproximadamente 2 cm entre os pontos, ou seja, todo o tórax deve ser avaliado. Não se deve esquecer, ainda de palpar a porção lateral da base do tórax, que também pode fornecer achados semiológicos importantes. Figura 4.2: Examinador deve inspecionar cuidadosamente a porção anterior (A) do tórax, posterior (B) e laterais. Inspeção estática e dinâmica pode revelar achados semiológicos. 26 Figura 4.3: Sítios de palpação para a pesquisa de áreas de hipersensibilidade, expansibilidade e FTV. (A) Na face anterior do tórax deve-se realizar a palpação em dois pontos de cada lado, próximo ao esterno, no centro do tórax. (B) Nodorso, a palpação fica no meio, entre a coluna e a escápula.) Conforme mencionado anteriormente, três parâmetros serão investigados na palpação: 1) Presença de áreas de hipersensibilidade: explicar ao paciente as manobras que serão feitas e pedir que ele informe se sentir algum desconforto ou dor. 2) Expansibilidade: realiza-se uma avaliação complementar à inspeção dinâmica, posicionando as mãos no tórax do paciente, conforme a figura 4.4, e solicitando que este realize incursões respiratórias profundas. A técnica deve ser feita repousando as duas mãos sobre o tórax, levemente inclinadas e com os polegares se tocando levemente ou na mesma altura. Avaliar dois pontos na porção anterior e três na posterior (terço superior, médio e base). 3) Frêmito toracovocal (FTV): o examinador deve posicionar sua mão nos focos de palpação e solicitar que o paciente diga em voz alta a expressão “trinta e três”. Sempre comparando a bilateralidade dos achados. O padrão de resposta pode ser normal, aumentado ou reduzido em algumas patologias. 27 Figura 4.4: Na etapa da palpação do exame de tórax deve-se ter atenção especial à simetria. (A e B) Comparação de possíveis áreas de hipersensibilidade. (C e D) Análise da expansibilidade de cada hemitórax - superior, médio e inferiormente. (E e F) Avaliação do FTV de forma comparativa entre o lado direito e esquerdo, na mesma altura. Percussão Na percussão deve-se manter o critério de simetria. O examinador deve posicionar uma das mãos próxima ao tórax com o dedo médio encostado na pele, que será percutido pelo dedo médio da outra mão do profissional. O dedo deve ser posicionado, preferencialmente, nos espaços intercostais. 28 O examinador deve estar atento ao ruído produzido pela percussão. O som fisiologicamente encontrado é denominado “som claro pulmonar”, e as alterações são diversas, como macicez, submacicez, timpanismo ou hipersonoridade. Esta etapa do exame é ilustrada na figura 4.5 Figura 4.5: Percussão de tórax. (A) Atentar-se ao posicionamento adequado dos dedos para realizar os movimentos. (B e C). A avaliação também deve ser feita de forma simétrica, comparando lado direito e esquerdo. A percussão do tórax revela-se fundamental à medida que pode auxiliar no diagnóstico diferencial de algumas situações clínicas como processos consolidativos como pneumonia, presença de derrame pleural (som maciço ou submaciço) ou pneumotórax e (timpanismo ou hipersonoridade). Ausculta Apesar de ser a última etapa, a ausculta é um método que merece especial atenção do examinador, pois pode revelar achados fundamentais para a elucidação diagnóstica. Um erro frequente, que deve ser evitado, é realizar a ausculta por cima da roupa do paciente. O atrito do tecido com a membrana do estetoscópio pode simular achados patológicos à ausculta, levando a inaceitáveis erros diagnósticos. Como já foi citado no início do capítulo, nessa etapa é ainda mais importante pedir para o paciente tirar a camiseta ou blusa, mantendo-se os mesmos cuidados em relação à intimidade do paciente, principalmente as mulheres. O paciente deve permanecer sentado, assim como nos demais momentos do exame de tórax. Deve-se orientar que faça uma respiração mais profunda e com os lábios entreabertos, mas evitando emitir ruídos desnecessários tanto na inspiração quando na expiração, para não gerar ruídos que induzam o examinar ao erro. Neste ponto, também é importante respeitar a simetria e comparar primeiro as regiões do ápice na parte anterior e, em seguida, do ápice à base na porção posterior, sem se esquecer da porção basolateral do tórax, conforme ilustrado previamente na figura 4.3. A regra é a mesma já comentada: avaliar todo o tórax – simetricamente – com uma distância de aproximadamente 2 cm de altura entre os pontos. 29 Os principais achados que podem ser encontrados na ausculta pulmonar são: múrmurio vesicular, que poderá estar normal, diminuído (pneumotórax ou espessamento pleural, por exemplo) ou aumentado (em portadores de síndromes pulmonares unilaterais – mecanismo vicariante), creptos finos, creptos grossos, roncos ou sibilos. Há, ainda, os estridores que, na verdade, são escutados sem o uso do estetoscópio, podendo ser observados já na inspeção dinâmica acompanhados de visível dificuldade inspiratória. Mais detalhes na tabela 4.1 Figura 4.6: A ausculta é um dos momentos mais importantes do exame. Posicionar o estetoscópio nas porções anterior e posterior do tórax e fazer a comparação simetria, do ápice para a base (A e B). Muito importante auscultar a lateral dos de cada hemitórax (C). 30 Alteração Descrição Possíveis significados clínicos comuns Inspeção estática Tórax em tonel ou barril Aumento do diâmetro anteroposterior Enfisema pulmonar Tórax infundibuliforme Depressão no esterno Anormalidade congênita ou raquitismo Tórax cariniforme Convexidade do esterno Raquitismo Tórax cifótico/escoliótico Encurvamento da coluna Lesão vertebral ou anormalidade congênita Inspeção dinâmica Platipneia Dificuldade para respirar em posição ortostática Síndrome hepatopulmonar Ortopneia Dificuldade para respirar na posição deitada Insuficiência cardíaca Trepopneia Paciente respira melhor em decúbito lateral Derrame pleural Hipopneia Diminuição da amplitude da respiração Apneia do sono Hiperpneia Aumento da amplitude da respiração Estresse emocional, esforço físico, septicemia, abuso de álcool Respiração de Cheyne-Stokes Incursões respiratórias profundas até amplitude máxima e diminuição gradativa Insuficiência cardíaca grave, traumatismo cranioencefálico Respiração de Biot Episódios de apneia, com frequência irregular, que interrompem as incursões respiratórias Meningite ou hematoma extradural Respiração de Kussmaul Incursões respiratórias amplas e rápidas, Cetoacidose diabética ou insuficiência renal 31 interrompidas por apneias Taquipneia Frequência respiratória aumentada Estresse, ansiedade, asma, pneumonia, DPOC Bradipneia Frequência respiratória diminuída Lesões cerebrais com hipertensão intracraniana ou intoxicações por barbitúricos Tiragem Espaços intercostais com depressão na inspiração Obstrução mecânica, asma brônquica, insuficiência respiratória, fibrose cística Palpação Expansibilidade diminuída Diminuição perceptível da mobilidade de um ou dos dois hemitóraces. Derrame pleural, pneumotórax, atelectasia ou pneumonia. Aumento do FTV Aumento na intensidade das vibrações percebidas pelo examinador Pneumonias e infarto pulmonar Diminuição do FTV Diminuição na intensidade das vibrações percebidas pelo examinador Derrame pleural, pneumotórax ou enfisema pulmonar Percussão Submacicez e macicez Diminuição da sonoridade pulmonar Derrame pleural, pneumonia, tuberculose ou neoplasias pulmonares Timpanismo ou Hipersonoridade Aumento da sonoridade pulmonar Pneumotórax ou caverna tuberculosa Ausculta Murmúrio vesicular diminuído Som fisiológico diminuído Pneumotórax, enfisema pulmonar ou oclusão mecânica das vias aéreas Murmúrio vesicular aumentado Som fisiológico aumentado Significa aumento do trabalho respiratório do pulmão contralateral (pulmão vicariante) 32 Tabela 4.1: Alterações mais comuns ao exame torácico, suas descrições e significados clínicos mais comuns. Creptos finos Sons agudos, com duração curta e não se modificam com a tosse. O som lembra a abertura de um velcro. Estão presentes no final da inspiração Pneumonias, congestão pulmonar ou doenças intersticiais Creptos grossos Sons de frequência menor e duração maior que os finos, são mais rudes e mais altos. Mudam de posição com a tosse Bronquites ou bronquiectasias Roncos Mais altos que os creptos. Mobilizam-se com a respiração e a tosse.Asma brônquica, bronquites ou bronquiectasias Sibilos Sons agudos, de alta frequência. Deve-se observar se estão presentes na inspiração, expiração ou ambos Asma, neoplasia pulmonar ou corpo estranho Estridor Ruído inspiratório produzido por obstrução da laringe ou traqueia Difteria, laringite ou câncer de laringe Atrito pleural Ruído irregular, descontínuo, semelhante ao ranger de couro atritado Pleurite 33 Sugestões Bibliográficas Broaddus, V. Courtney. 2017. Murray & Nadel. Tratado de Medicina Respiratória. 1a. ed. Elsevier. Campana, Álvaro Oscar. 2010. Exame Clínico: Sintomas e Sinais Em Clínica Médica. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Faresin, Sonia Maria et al. 2013. Pneumologia. 2a. ed. Manole. Martinez, José Baddini, Marcio Dantas, and Julio Cesar Voltarelli. 2013. Semiologia Geral e Especializada. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Porto, Celmo Celeno. 2013. Semiologia Médica. 7a. ed. Editora Guanabara Koogan. 34 Abdome Gabriel Veloso Cunha Nadja Nobrega de Queiroz O exame físico de abdome é fundamental para o diagnóstico de afecções do aparelho digestivo, genitourinário ou até mesmo da parede abdominal. O exame é feito com o paciente em decúbito dorsal, com exceção para a manobra de Giordano (descrita adiante), feita em ortostatismo. Idealmente deve-se seguir uma ordem na qual a investigação seja iniciada da forma menos invasiva possível, a fim de evitar que um quadro álgico desencadeado pela palpação interfira nos resultados das demais etapas do exame. Dessa forma, recomendamos a seguinte ordem para avaliação do abdome: 1º - Inspeção 2º - Ausculta 3º - Percussão 4º - Palpação Inspeção do abdome Em decúbito dorsal, procede-se a inspeção estática, na qual devem ser avaliados os itens descritos abaixo e ilustrados na Figura 5.1. Morfologia do abdome (plano, globoso, gravídico, em avental, pendular etc.) Status da cicatriz umbilical (intrusa ou protrusa) Presença de lesões superficiais do abdome (manchas, cicatrizes, estrias e circulação colateral) Presença de hérnias da parede abdominal (Quadro 5.1) Quadro 5.1: Manobras utilizadas para avaliação da presença de hérnias abdominais. Como avaliar a presença de hérnias da parede abdominal? 1. Manobra de Valsalva O paciente deve ser orientado a soprar contra a resistência (ex. o dorso de sua própria mão). O aumento da pressão intra-abdominal secundário ao esforço torna herniações mais evidentes, fazendo-as protruir pela parede abdominal. 2. Manobra de Smith-Bates Útil para avaliar a presença de diátase do músculo reto abdominal, o paciente é orientado a tentar encostar o queixo no manúbrio do osso esterno, enquanto o avaliador quantifica a distância entre os hemicomponentes da musculatura. 35 Figura 5.1: A descrição da inspeção estática do abdome da imagem (A) poderia ser feita como: “abdome plano, sem abaulamentos ou retrações, cicatriz umbilical intrusa. Presença de mácula hipocrômica, formato ovoide, em topografia de quadrante inferior direito, com bordas irregulares, medindo cerca de 5 cm no seu maior eixo. Ausência de cicatrizes, estrias, circulação colateral ou herniações em parede abdominal”. Estão ilustrados também as manobras de Valsava (B) e Smith-Bates (C), descritas detalhadamente no Quadro 5.1. Durante a inspeção dinâmica deve-se atentar à presença de pulsações proeminentes, as quais devem levantar a suspeita de aneurismas de vasos abdominais. A presença de ondas peristálticas visíveis, denominadas como “ondas de Kussmaul”, normalmente se associa a quadros de peristalse aumentada (ex.: fase inicial de uma obstrução intestinal ou pilórica). Ausculta do Abdome A ausculta de abdome é feita com o objetivo de avaliar a presença de ondas peristálticas. Idealmente se deve auscultar o abdome por 3 minutos para constatar a ausência de peristaltismo. Entretanto, caso sejam localizadas nos primeiros segundos de ausculta, é desnecessário prolongar esta parte do exame. Considerando que uma onda peristáltica segue por todo o intestino, não há obrigatoriedade de se realizar a ausculta em todos os quadrantes do abdome. Uma vez constatada a presença em um quadrante, pode-se deduzir que estará presente nos demais. Entretanto, para caracterizar a ausência de ondas peristálticas. Entretanto, caso haja suspeita de alterações, é aconselhável que se ausculte o abdome por um tempo mais prolongado com o objetivo de se confirmar diminuição ou ausência de ruídos hidroaéreos. Percussão do Abdome Nesta fase são realizadas duas avaliações importantíssimas do exame físico: a hepatimetria e percussão do espaço de Traube, além da percussão global do abdome. 36 A hepatimetria diz respeito à estimativa das dimensões do fígado no sentido crânio-caudal. Deve-se iniciar a percussão a nível do segundo espaço intercostal, na linha hemiclavicular, e percutir progressivamente para baixo, com intervalos aproximados de 1 a 2 cm. Inicialmente o examinador irá perceber o “som claro pulmonar”, que logo se tornará maciço. Quando isto ocorrer, o examinador pede que o paciente coloque seu dedo no local de transição e continua percutindo para baixo até que o som de caráter maciço se torne timpânico. A distância entre os pontos de transição, medida por fita métrica, fornece o valor da hepatimetria, que deve se situar entre 8 a 12 cm. A dor à percussão do hipocôndrio direito é denominada Sinal de Torres-Homem, e classicamente está associada a abscessos do parênquima hepático. O espaço de Traube corresponde ao hipocôndrio esquerdo, topografia típica do baço. Fisiologicamente a percussão local fornece um som timpânico, que se adquire caráter maciço em casos de esplenomegalia. Deve-se lembrar que o hipocôndrio direito apresenta um som maciço fisiologicamente, devido ao parênquima hepático. A percussão do espaço de Traube é mais sensível para esplenomegalia que as manobras de palpação do baço, portanto, é possível que haja macicez à percussão do espaço de Traube na ausência de esplenomegalia palpável. Na figura 5.2 são ilustradas topografias e especificidades da avaliação do espaço de Traube e da hepatimetria, Figura 5.2: (A) A seta à direita do abdome indica o sentido e topografia na qual deve ser realizada a hepatimetria. Na mesma imagem há uma linha mais fina à esquerda, indicando a topografia de percussão do espaço de Traube. (B) Deve-se pedir para o paciente posicionar seu próprio dedo na zona de transição superior da hepatimetria, servindo de referência para (C) realizar a medição ao término da percussão. Não se deve esquecer de percutir também lateralmente à topografia do espaço de Traube durante esta avaliação (D). Na percussão global do abdome deve-se percutir sistematicamente todos os quadrantes na busca de macicez localizadas que podem corresponder a achados como abscessos, granulomas ou tumores. Neste momento deve-se lembrar de realizar a punho-percussão lombar, também conhecida pelo epônimo “manobra de Giordano”. O paciente deve estar em posição ortostática, e o examinador realiza suavemente movimentos de pequeno impacto do punho em topografia renal, ilustrado na Figura 5.3. Considera-se a manobra de Giordano positiva quando o paciente 37 apresentar dor desproporcional ao estímulo, estando esta classicamente associada a infecções do trato urinário superior (i.e. Pielonefrite). Figura 5.3: Manobra de Giordano. Deve-se realizar leve percussão com punho em região lombar posterior a fim de buscar dor desproporcional ao estímulo, normalmente associada a infecções do trato urinário superior. Palpação do Abdome A palpação do abdome é fundamental para localizar massas e áreas dolorosas. Para a realização das manobras, é convenção que o examinador deve estar ao lado direito do paciente, com exceção para a manobra de Mathieu-Cardarellina palpação do baço. Seguindo o princípio que o exame físico deve partir das análises mais superficiais para as mais invasivas, se inicia pela palpação superficial para depois progredir para a palpação profunda. Na palpação superficial deve-se avaliar todos os quadrantes do abdome na busca por regiões com consistência ou sensibilidade alteradas. Neste momento é válido lembrar o paciente para informar ao examinador caso apresente dor mediante o estímulo de algum ponto específico da parede abdominal. O tônus do abdome também é avaliado nesta fase do exame, sendo a rigidez “em tábua” uma alteração presente em quadros de peritonite difusa. Na palpação profunda do abdome deve-se buscar novamente tumorações ou áreas dolorosas, estas que podem não ter sido localizadas por meio da palpação superficial. Este também é o momento de realizar manobras para avaliar se o fígado e baço estão palpáveis. Para a palpação do fígado usualmente são realizadas duas manobras: Lemos-Torres e Mão em Garra (Manobra de Mathieu), e para o baço Mathieu-Cardarelli e a Manobra da Mão Estendida. Na Manobra de Lemos-Torres, o examinador deve, delicadamente, forçar para cima o hipocôndrio direito do paciente com a mão esquerda enquanto realiza uma palpação profunda com a mão direita em região imediatamente abaixo dos arcos costais do mesmo lado. Feito isso, o paciente deve ser orientado a realizar incursões respiratórias amplas, e o examinador aprofundar a mão direita no momento da expiração. Dessa forma, em casos de hepatomegalia, 38 o médico irá perceber o parênquima hepático passando pela sua mão direita, devendo avaliar a sua superfície, borda, consistência e sensibilidade. Na manobra da Mão em garra, o médico deve posicionar as pontas dos dedos de ambas as mãos imediatamente abaixo do limite inferior dos arcos costais no hipocôndrio direito. Assim como na manobra de Lemos-Torres, o paciente é orientado a realizar incursões respiratórias profundas, sendo que o avaliador irá aprofundar a palpação durante a expiração. Dessa forma, será percebido o movimento da borda hepática em casos de hepatomegalia. As manobras para palpação do fígado estão ilustradas na figura 5.4. Figura 5.4: Manobras para palpação do fígado. (A) Manobra de Lemos-Torres, perceber a mão esquerda do examinador elevando a região de hipocôndrio, enquanto (B) a mão direita realiza a palpação. (C) Manobra da Mão em garra. A manobra de Mathieu-Cardarelli, para palpação do baço, é semelhante à Mão em Garra, a diferença é que o examinador se posiciona à esquerda do paciente e posiciona seus dedos abaixo do limite inferior dos arcos costais do hipocôndrio esquerdo. A Manobra da Mão Estendida, utilizada para a palpação do baço, possui semelhanças com a Manobra de Lemos-Torres. O examinador deve se posicionar à direita do paciente, com a mão esquerda elevando a região imediatamente abaixo dos arcos costais do lado esquerdo do paciente, e a mão direita realizando palpação profunda do hipocôndrio esquerdo. Novamente, o paciente deve ser orientado a realizar incursões respiratórias amplas, e o examinador aprofundar a mão direita no momento da expiração, buscando palpar o baço. As manobras para palpação do baço estão ilustradas na figura 5.5. 39 Figura 5.5: Manobras para palpação do baço. (A) Manobra de Mathieu-Cardarelli, com o examinador à esquerda do paciente, se realiza um movimento semelhante à Mão em garra em hipocôndrio esquerdo. (B) Manobra da Mão-estendida, reitera-se que o examinador deve estar à direita do paciente. Uma manobra específica para pesquisa de colecistite aguda, é a pesquisa do sinal de Murphy, na qual o examinador deve pressionar profundamente o ponto cístico (junção da borda externa do músculo reto-abdominal com a borda costal) e solicitar que o paciente realize uma inspiração profunda. O Sinal de Murphy positivo é caracterizado pela inspiração interrompida, devido à dor, mediante compressão do ponto cístico. Um importante sinal de irritação peritoneal é o Sinal de Blumberg, que diz respeito à dor à descompressão súbita do abdome. Quando localizado na fossa ilíaca direita, normalmente é sugestivo de apendicite aguda, assim como o Sinal de Rovsing. Para se pesquisar o Sinal de Rovsing se deve realizar a compressão em topografia de fossa ilíaca esquerda, sendo positivo quando o paciente apresentar dor na fossa ilíaca contralateral. É de fundamental importância realizar manobras específicas quando se suspeita de acúmulo de líquido no espaço peritoneal (ascite), para tal são feitos testes que foram detalhados no quadro 5.2 40 Quadro 5.2: Manobras para pesquisa de ascite Figura 5.6: Manobra para pesquisa do sinal de Piparote. (A) Deve-se posicionar a mão do paciente em sentido craniocaudal, em topografia da linha alba. (B) Após devidamente posicionado, se percute com uma mão e avalia se há propagação contralateral do estímulo. Como realizar a pesquisa por ascite no exame físico? 1. Presença do Semicírculo de Skoda: Durante a percussão global do abdome o examinador percebe que, apesar do timpanismo na face ventral, há macicez nas regiões laterais dos flancos. Este fenômeno ocorre devido à deposição periférica do conteúdo líquido peritoneal secundário à ação da gravidade, havendo alteração da sonoridade nestas áreas. Pode ser a única alteração presente em ascites de moderado volume. 2. Sinal da Macicez Móvel Na presença de macicez móvel, o examinador solicita ao paciente que se posicione em decúbito lateral. Desta forma, a região do flanco contralateral ao decúbito deixará de apresentar som de caráter maciço para exibir sonoridade timpânica. Este fenômeno acontece devido à movimentação de líquidos secundária à troca de posição do paciente, estando normalmente presente em ascites de pequeno a moderado volume. 3. Sinal de Piparote Típico de ascites de grande volume, é solicitado ao paciente que coloque uma de suas mãos na linha mediana do abdome imediatamente acima da cicatriz umbilical. O examinador deve encostar a palma de uma das suas mãos de um lado do abdome, enquanto percute suavemente o hemiabdome contralateral com a outra mão. O sinal é positivo quando a energia da percussão se dissipa em forma de ondas percebidas na região contralateral, devido à transmissão pelo líquido localizado na cavidade peritoneal. 41 Sugestões Bibliográficas Goldman, Lee, Dennis Arthur Ausiello, and Andrew I. Schafer. 2016. “Goldman-Cecil. Tratado de Medicina Interna.” In Cecil Tratado de Medicina, ed. Elsevier. López, Mario, and José Laurentys Medeiros. 2009. Semiologia Médica: As Bases Do Diagnóstico Clínico. 5a. ed. Editora Atheneu. Martinez, José Baddini, Marcio Dantas, and Julio Cesar Voltarelli. 2013. Semiologia Geral e Especializada. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Porto, Celmo Celeno. 2010. Vademecum de Clínica Médica. 3a. ed. Rio de Janeiro - Guanabara Koogan. Townsend, Courtney M., R. Daniel Beauchamp, B. Mark Evers, and Kenneth l. Mattox. 2015. Sabiston Tratado de Cirurgia. 19a. ed. Elsevier. 42 Cardiovascular Camila de Oliveira Parreira Liana Lauria Pires O exame físico do aparelho cardiovascular deve ser realizado de maneira sistemática, sempre associado a informações obtidas na história clínica e aspectos gerais do paciente que orientarão e fornecerão elementos fundamentais para o diagnóstico das doenças que acometem o sistema circulatório. Compreende técnicas de inspeção, palpação e ausculta. Estas técnicas são complementares e não devem ser negligenciadas na avaliação clínica. A percussão, por fornecer informações limitadas e imprecisas, não é utilizada na prática clínica, sem qualquer prejuízo, da exploração semiológica do coração. Esta etapa do exame físico, apesar de tecnicamente simples, apresenta uma miríade de possíveis achados que devem serinterpretados pelo examinador para uma adequada elucidação diagnóstica. Dessa forma, é fundamental ter em mente a anatomia cardíaca e o funcionamento do ciclo cardíaco, que serão brevemente revisados a seguir. Igualmente, é importante para o exame clínico, o conhecimento das projeções superficiais do coração e dos vasos da base na área precordial que orientarão o posicionamento e localização dos chamados focos de ausculta cardíaca, descritos a seguir. O coração possui quatro câmaras, denominadas como átrio direito, ventrículo direito, átrio esquerdo e ventrículo esquerdo. Os átrios são separados dos ventrículos pela valva atrioventricular direita (tricúspide) e atrioventricular esquerda (mitral). No átrio direito desembocam as veias cava inferior e superior, com sangue venoso advindo da circulação sistêmica. Do ventrículo direito se origina o tronco pulmonar, composto pelas artérias pulmonares, direita e esquerda. Após a oxigenação pulmonar, o sangue retorna ao coração pelas quatro veias pulmonares através do átrio esquerdo. Por fim, o sangue contido no ventrículo esquerdo é ejetado para a artéria aorta. O ciclo cardíaco é composto por duas fases: sístole e diástole. Na primeira há contração miocárdica com ejeção ventricular, ao passo que na segunda ocorre o influxo do sangue presentes nas veias pulmonares e cavas superior e inferior para os átrios. O início do ciclo pode ser analisado a partir da entrada de sangue nos átrios direito e esquerdo, momento em que as valvas atrioventriculares e as valvas semilunares encontram-se fechadas. Com o aumento da pressão atrial, as valvas atrioventriculares se abrem, permitindo o fluxo dos átrios para os ventrículos. A partir do momento em que os ventrículos se enchem, a pressão ventricular aumenta até culminar no fechamento das valvas atrioventriculares e originar o som da primeira bulha cardíaca (B1). Os ventrículos, repletos de sangue, irão realizar a sístole. Assim que o sangue é ejetado dos ventrículos, as valvas semilunares se fecham, o que resulta no surgimento da segunda bulha cardíaca (B2). Com esses conceitos em mente, deve-se posicionar o paciente em decúbito dorsal, com a cabeceira elevada a 45°, em ambiente silencioso e adequadamente iluminado. É importante que o examinador se posicione à direita do paciente, e oriente este a manter as pernas esticadas e os braços ao longo do tronco. Como será descrito adiante, outras posições (ortostase com o tórax inclinado para frente, decúbito lateral esquerdo / manobra de Pachón) podem ser necessárias em situações específicas. 43 Avaliação inicial A avaliação inicial do aparelho cardiovascular é constituída pela análise da frequência cardíaca, frequência de pulso e pressão arterial, cujas técnicas de avaliação serão detalhadamente descritas e ilustradas neste momento. A frequência cardíaca é realizada através da contagem do número de ciclos cardíacos realizados em um minuto, ou seja, a quantidade de vezes em que o coração realiza um ciclo completo: uma sístole e uma diástole, durante o período de 60 segundos. A sístole encerra-se durante o fechamento das valvas semilunares e a diástole, durante o fechamento das valvas atrioventriculares. Portanto, para a contagem da frequência cardíaca, primeiramente deve-se localizar um foco de ausculta, normalmente mitral ou tricúspide (descritos adiante). O examinador deve então posicionar o estetoscópio por um período de 60 segundos, realizando a contagem do número de vezes em que o coração realiza o fechamento das valvas atrioventriculares e o das semilunares (“TUM-TÁ”), descrevendo o resultado em batimentos por minuto (bpm). Os possíveis achados estão descritos na Tabela 6.1. Frequência Cardíaca Avaliação < 60 bpm Bradicardia 60 a 100 bpm Normocardia >100 bpm Taquicardia Tabela 6.1: Possíveis achados para os valores de frequência cardíaca A frequência de pulso é avaliada por meio da quantificação do número de pulsações arteriais no período de um minuto. Esta é realizada por meio da compressão de uma artéria periférica de fácil acesso, comumente em topografia de artéria radial. Esta está localizada próxima ao processo estiloide do rádio, na região ventral do antebraço. A técnica é realizada por meio da compressão bidigital do pulso radial (Figura 6.1). Figura 6.1: Localização e técnica de palpação da artéria radial Dessa forma, utilizam-se as polpas dos dedos indicador e médio para realizar uma compressão que permita ao avaliador perceber e quantificar a pulsação arterial, sendo o resultado descrito em pulsações por minuto (ppm). Os possíveis achados estão descritos na Tabela 6.2. 44 Frequência de Pulso Avaliação < 60 ppm Bradisfigmia 60 a 100 ppm Normosfigmia >100 ppm Taquisfigmia Tabela 6.2: Possíveis achados durante a avaliação da frequência de pulso Para a aferição da pressão arterial o paciente deve estar com o braço posicionado à altura do precórdio, podendo estar sentado com o membro superior repousando sobre alguma estrutura elevada ou deitado com o braço sobre o próprio leito. O examinador deve identificar a artéria braquial, na região da fossa cubital, medialmente ao tendão do músculo bíceps braquial. Com os dedos indicador e médio, realiza-se a palpação da artéria braquial (Figura 6.2). Figura 6.2: Localização e técnica de palpação da artéria braquial Em seguida, o manguito do esfigmomanômetro deve ser posicionado ao redor do braço, de maneira que a saída dos tubos referentes à pera e ao manômetro estarem na direção da artéria braquial. O equipo deve estar a uma distância aproximada de dois a três dedos da fossa cubital. (Figura 6.3) 45 Figura 6.3: Posição adequada do esfigmomanômetro O examinador deve então realizar o enchimento do manguito, concomitantemente à pulsação bidigital da artéria braquial (Figura 6.4). Este enchimento se encerra quando o examinador parar de sentir a pulsação da artéria braquial, indicando que a pressão foi suficiente para causar oclusão arterial no membro. O valor registrado no manômetro deve ser memorizado pelo profissional, e então o manguito é desinsuflado. Figura 6.4: O examinador deve realizar o enchimento do esfigmomanômetro simultaneamente à palpação da artéria radial. Idealmente após dois minutos, o manguito será inflado até 20 a 30 mmHg adicionais ao valor em que a pulsação braquial se tornou imperceptível na etapa anterior. A artéria braquial é palpada e o diafragma do estetoscópio é colocado na topografia desta (Figura 6.5). 46 Figura 6.5: O examinador deve posicionar o diafragma do estetoscópio em topografia da artéria braquial Em seguida, se procede a desinsuflação do manguito de maneira lenta e gradual, para permitir a ausculta de mudanças nos tons acústicos correspondentes aos sons obtidos: sons de Korotkoff. A primeira aparição de ruídos rítmicos, de forma clara e repetitiva, coincidindo aproximadamente com a identificação do pulso palpável corresponde ao valor da pressão sistólica e o momento referente ao desaparecimento dos ruídos indicará a pressão diastólica. Os valores encontrados devem ser interpretados de acordo com a Tabela 6.3. Pressão Arterial Significado clínico ≤120/80 mmHg Normotensão 121/81 a 139/89 mmHg Pré-hipertensão 140/90 a 159/99 mmHg Hipertensão estágio 1 160/100 a 179/109 mmHg Hipertensão estágio 2 ≥180/110 mmHg Hipertensão estágio 3 Tabela 6.3: Interpretações possíveis para valores de Pressão Arterial segundo a VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia Inspeção Nesta etapa do exame, deve-se solicitar que o paciente permaneça em decúbito dorsal, com cabeceira elevada a 45°, e exponha o tórax a fim de permitir a avaliação do precórdio. Neste momento, o examinador deve verificar se há abaulamentos ou retrações que possam ter
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