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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 3 2 A HISTÓRIA, ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA ......................... 4 3 AS DIFERENTES ABORDAGENS DE TERAPIA FAMILIAR ............. 7 3.1 - Escola Estratégica................................................................... 10 3.2 Escola Estrutural ....................................................................... 11 3.3 Escola de Milão ......................................................................... 12 3.4 Escola Construtivista ................................................................. 13 4 A RELAÇÃO FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL ..................................... 14 5 ENTREVISTA FAMILIAR SISTÊMICA ............................................. 19 6 ABORDAGEM COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: FAMÍLIA E CASAL 26 6.1 A terapia cognitivo-comportamental no tratamento de casais: objetivos e etapas ......................................................................................... 30 7 RECURSOS TERAPÊUTICOS NA TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL 33 7.1 Técnicas da Análise Psicodramática no atendimento de Casal e Família 34 8 BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 40 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A HISTÓRIA, ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA https://zenklub.com.br/ A família é o lugar que dá origem à história de cada pessoa, é o espaço privado onde se dão as relações mais espontâneas. Não podemos escolher nossa qualidade de membro na família a não ser, talvez, pelo casamento. Ainda que possamos acreditar que é possível deixar de pertencer a uma família, rompendo os laços com a família de origem e não nos enveredando na constituição de outra, mesmo assim as lembranças e memórias de um convívio familiar ficarão como marcas em nossas histórias, podendo ser acessadas a qualquer momento. Vale lembrar que algumas pessoas acreditam que a família seja a unidade operacional que dura de nosso nascimento à morte (CARTER & McGOLDRICK, 1995 apud César, 2010). Temos em mente a interação de cada membro com os demais membros, e refletimos sobre a realidade familiar na perspectiva do sistema e da comunicação humana da convivência dos familiares. A perspectiva do sistema e da comunicação tenta compreender as interações que ocorrem no sistema familiar. Essa visão sistemática trata a família como um todo. Os membros da família interagem e se comunicam para construir relacionamentos e manter o sistema equilibrado. 5 O desequilíbrio do sistema levará ao desequilíbrio pessoal e vice-versa. Visto que a família é um sistema contínuo e interconectado, quando um membro da família muda, outros membros também mudam. Sabendo que uma pessoa vive em sistemas diferentes, eles afetarão uns aos outros. Portanto, ao olhar para a família de uma perspectiva sistemática, considerando o processo de comunicação no sistema familiar, queremos analisar as dinâmicas que levam às mudanças do sistema, as limitações dos conceitos de família, a abordagem sistemática da família e o processo de comunicação no sistema familiar. O início de toda vida tem origem na família, ela é um instituto que rege as relações em um todo; não tem como existir alguém que não descenda de uma geração anterior ou que seja parente, mesmo que distante, de uma determinada família. A entidade familiar consiste em marido e mulher. Em seguida, ele se expande com o advento das gerações futuras. Em outros aspectos, a família cresce ainda mais: depois do casamento, os filhos não romperão o vínculo familiar com os pais, continuarão a fazer parte da família e os irmãos continuarão a viver, depois se casarão e terão filhos. Uma família é uma sociedade natural composta de indivíduos, combinados por sangue ou afinidade. A relação de sangue vem da prole. O parentesco ocorre quando o cônjuge e parentes que se juntam à família pelo casamento. Com o passar do tempo, esta sociedade familiar sentiu a necessidade de instituir um direito organizado, com isso surgiu o Direito da Família, regulando as relações familiares e tentando resolver os conflitos daí resultantes, e com o passar do tempo, o direito foi regulando e Na legislação, ajudar a manter a família, para que os indivíduos possam até existir como cidadãos (sem essa estrutura familiar, cada membro tem uma posição clara), e se comprometer com a própria composição (construindo o sujeito) e as relações interpessoais e sociais. A origem da família está diretamente ligada à história da civilização, uma vez que surgiu como um fenômeno natural, fruto da necessidade do ser humano em estabelecer relações afetivas de forma estável. Pois bem, deixando de lado a família da antiguidade, em sua forma primitiva, é possível afirmar que a família brasileira tem como base a sistematização formulada pelo direito romano e pelo direito canônico. 6 A família romana era formada por um conjunto de pessoas e coisas que estavam submetidas a um chefe: o pater famílias. Esta sociedade primitiva era conhecida como a família patriarcal que reunia todos os seus membros em função do culto religioso, para fins políticos e econômicos. AUREA PIMENTEL PEREIRA (apud Noronha,2014) descreveu a estrutura da família romana neste estágio: Sob a auctoritas do pater famílias, que, como anota Rui Barbosa, era o sacerdote, o senhor e o magistrado, estavam, portanto, os membros da primitiva família romana (esposa, filhos, escravos) sobre os quais o pater exercia os poderes espiritual e temporal, à época unificados. No exercício do poder temporal, o pater julgava os próprios membros da família, sobre os quais tinha poder de vida e de morte (jus vitae et necis), agindo, em tais ocasiões, como verdadeiro magistrado. Como sacerdote, submetia o pater os membros da família à religião que elegia. O direito romano teve o mérito de estruturar, por meio de princípios normativos, a família. Isto porque até então a família era formada por meio dos costumes, sem regramentos jurídicos. Assim, a base da família passou a ser o casamento, uma vez que somente haveria família caso houvesse casamento. Pois bem, com a ascensão do Cristianismo, a Igreja Católica assumiu a função de estabelecer a disciplina do casamento, considerando-o um sacramento. Assim, passou a ser incumbência do Direito Canônico regrar o casamento, fonte única do surgimento da família. (NORONHA, Maressa Maelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira 2014) Durante o período imperial, apenas os casamentos católicos eram conhecidos, porque essa é a religião oficial do país. Então só poderiam se casar pessoas que afirmam ser católicas. A Igreja detinha as regras em relação ao casamento, impondo as condições. Naquela época, o estado decidiu intervir e criouum casamento misto, onde era possível unir aqueles que eram pertencentes a seitas dissidentes e observando as respectivas prescrições religiosas. Desta forma, no Brasil, quando da Colônia e Império, haviam três modalidades distintas de casamento: o casamento católico; o casamento misto e o casamento entre pessoas de seitas dissidentes. 7 O que se pode detectar, portanto, é que tanto o Direito Canônico, por meio de suas normas de cunho moral, idealizadas e impostas pela Igreja Católica, quanto outras regras estipuladas e moldadas pelos portugueses, mantinham todas as famílias sob intensa fiscalização e vigilância, fossem formadas por brancos, negros, índios ou advindas da fusão destes. Desta forma, a família se desenvolveu no Brasil, fruto de uma mistura de raças e culturas, sob a tentativa de um controle intenso e repressor realizado a pela igreja católica. Tal constatação mostra-se de suma importância para a compreensão da evolução da família. (NORONHA, Maressa Maelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira 2014). A família é a base de tudo, é onde tudo se originou e se desenvolveu. Nos tempos modernos, é também o lugar onde todos aparecem e se desenvolvem. É o feixe principal do desenvolvimento físico e mental humano. Portanto, a família pode ser composta pelos mais diversos membros, não existem limites. Não há restrições de gênero, função ou número. Existindo afeto e ideais de família entre os membros, então existe uma família. 3 AS DIFERENTES ABORDAGENS DE TERAPIA FAMILIAR https://www.altoastral.com.br/ 8 A terapia de casal pode ser considerada como um caso particular de terapia familiar. As indicações de terapia de casal, para Lemaire (1982 apud Carneiro, 2015), estão sobretudo relacionadas a certos tipos de funcionamento conjugal onde as codificações tomaram-se mais complexas entre os cônjuges que, ou funcionam de um modo simbiótico ou fusionai, ou, ao contrário, defendem-se intensamente de tudo que poderia ser uma ameaça de funcionamento simbiótico ou fusional. É o que leva certas pessoas a brigarem e a ficarem agressivas a partir do momento em que experimentam ternura ou desejo de felicidade fusionai ou regressiva. Para estas pessoas aparentemente tão "individualizadas", trata-se de formações reativas muito marcadas. Neuburger (1988 apud Carneiro, 2015), ao discutir a questão da especificidade da abordagem terapêutica individual, familiar ou de casal ressalta que não se pode falar de tal especificidade, sem se falar de especificidade da demanda. Para ele, a demanda é constituída de elementos entre os quais figuram o sofrimento, o sintoma e a queixa. Na clínica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente ao casal, sintomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casal. Lemaire (1987 apud Carneiro, 2015) mostra como a escolha entre terapia individual e terapia de casal não é sempre evidente. Há os que demandam terapia de casal para escapar a um questionamento pessoal, individual e, neste caso, o terapeuta deve encaminhá-los a terapias individuais. Mas, inversamente, muitos terapeutas desconhecem ainda o caminho clínico que a terapia de casal pode abrir para o tratamento de pessoas mal individualizadas. Diante das disfunções individuais, que estão relacionadas a um clima simbiótico entre os cônjuges, os terapeutas, muitas vezes, indicam terapias individuais como solução para este problema. Isto significa compreender mal o sentido da colusão inconsciente que presidiu à fundação do casal. Por isto, muitas das terapias individuais são interrompidas prematuramente. Para Eiguer (1984 apud Carneiro, 2015), a terapia de casal representa, muitas vezes, uma demanda de um segundo e último ritual de casamento. Assim, o terapeuta de casal estaria colocado, pelos cônjuges, mais perto da lei do que do desejo. Para este autor, os problemas conjugais estão situados em 9 relação aos dois universos pessoais dos parceiros, à parte que não quer admitir a especificidade da outra. Seria um combate entre dois narcisismos individuais. Willi (1978 apud Carneiro, 2015) ressalta que o resultado mais importante da terapia de casal é o conhecimento da temática fundamental do conflito colusivo vivido pelos cônjuges. Os parceiros, antes, em suas posições polarizadas, acreditam que não tinham nada em comum. A terapia vai mostrar que, com seus problemas, estão no mesmo barco. O que antes consideravam que os separava é agora o que os une. O objetivo é não tornar os temas fundamentais colusivos ineficazes, mas levar o casal a um equilíbrio livre e flexível. São as posturas extremas rígidas, nas quais os cônjuges se fixam, que tornam a relação menos saudável. Se vividos com flexibilidade, os temas da colusão se convertem em enriquecimento recíproco. Diferentemente da teoria psicanalítica, que teve suas raízes no início deste século, as teorias que influenciaram as formulações teóricas dos autores das escolas sistêmicas em terapia de família e de casal desenvolveram-se na segunda metade do século. Em 1948, Wiener publicou o livro Cybernetics e, na década seguinte várias ciências começam a enfatizar os sistemas homeostáticos com processos de retroalimentação (mecanismos de feedback) que tornam os sistemas autocorretivos. No início da década de 50, Bertalanffy (Bertalanffy, 1973 apud Carneiro, 2015) desenvolve a Teoria Geral dos Sistemas que, juntamente com a Cibernética e a Teoria da Comunicação, muito influenciaram os desenvolvimentos teórico-técnicos da terapia sistêmica de família e de casal. A família, o marido e a esposa são considerados um sistema equilibrado, e são as regras da família e as funções do marido e da esposa que mantêm esse equilíbrio. Quando essas regras são violadas por algum motivo, as meta-regras funcionarão para restaurar o equilíbrio perdido. As terapias desenvolvidas desta forma enfatizam as mudanças no sistema familiar e matrimonial, reorganizando a comunicação entre os membros. Não se trata de trazer à consciência o conteúdo reprimido. O passado não é mais uma questão central, porque o foco está na maneira atual como as pessoas se comunicam. Os terapeutas comunicacionais se abstêm de fazer interpretações na medida em que assumem que novas experiências - no sentido de um novo comportamento que provoque modificação no sistema familiar ou conjugal é que geram mudanças. Neste sentido, são usadas prescrições nas sessões 10 terapêuticas para mudar os padrões de comunicação e prescrições fora das sessões com o objetivo de encorajar uma gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no sistema familiar e conjugal. Há uma concentração no problema presente e o comportamento sintomático é visto como uma resposta adequada ao comportamento comunicativo que o provocou. (Carneiro, Terezinha Feres 2015). A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se desenvolveram, entre elas a Escola Estrutural, a Estratégia, a de Milão e, mais recentemente, a Escola Construtivista. 3.1 - Escola Estratégica clinicapsicoplus.com.br Para Haley (1979), o que caracteriza o sistema familiar e o sistema conjugal é a luta pelo poder. O termo "estratégico" é utilizado por ele para descrever qualquer terapia em que o terapeuta realiza ativamente intervenções para resolver o problema. Para que uma terapia seja bem-sucedida é preciso que comece adequadamente. Isto é, através da negociação de um problema solucionável e da descoberta da situação social e familiar que o mantém. Ao discutir o conceito de "diretivas terapêuticas", Haley (1973 apud Carneiro, 2015) fala da influência que sofreu do trabalho de Milton Erickson. As diretivas ou tarefas propostas à família ou ao casal têm, em primeiro lugar, o objetivo de fazer com que as pessoas se comportem diferentemente e, como resultado, tenham experiências subjetivas diferentes. Em segundolugar, as diretivas são usadas para intensificar o relacionamento com o terapeuta. E, 11 finalmente, têm o objetivo de obter informações sobre os pacientes e sobre como responderão às mudanças desejadas. Os teóricos da escola estratégica apresentam alguns princípios fundamentais do seu trabalho terapêutico: 1) a orientação franca para o sintoma; 2) a visão dos problemas como dificuldades de interação; 3) a visão dos problemas como uma super-ênfase ou uma sub-ênfase nas dificuldades do viver cotidiano; 4) a busca de resolução dos problemas através da substituição dos padrões de comportamento; 5) a utilização de meios que podem parecer ilógicos para promover mudanças; 6) o "pensar pequeno" focalizando o sintoma; 7) a adoção de uma abordagem pragmática na terapia: abordam-se as interações e os porquês são evitados. 3.2 Escola Estrutural slideplayer.com.br O principal teórico da escola estrutural é Salvador Minuchin para quem a família é um sistema e o casal um subsistema que se definem em função dos limites de uma organização hierárquica. O sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas. 12 As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa e como participa de cada subsistema, e para que o funcionamento da família seja adequado, elas devem ser nítidas. Em algumas famílias tais fronteiras são muito rígidas e em outras muito difusas. Estes dois extremos de funcionamento das fronteiras são classificados respectivamente como "desligado" e como "aglutinado" e indicam áreas de possíveis patologias (Féres-Carneiro, 1983). Minuchin (1982) define a terapia familiar estruturada como uma terapia de ação que visa mudar o presente em vez de explorar ou explicar o passado. O objetivo da intervenção do terapeuta é o sistema familiar ao qual ele se integra, usando a si mesmo para transformá-lo. Ao mudar a posição dos membros da família ou casais no sistema, o terapeuta pode mudar os requisitos subjetivos de cada membro. Para Minuchin, a transformação do sistema familiar ou do sistema conjugal inclui três passos importantes: o terapeuta deve se unir à família ou ao casal, desempenhando o papel de líder; deve descobrir e avaliar a estrutura familiar ou conjugal; e deve criar circunstâncias que permitam a transformação desta estrutura. Neste processo de reestruturação, o terapeuta então age tanto como "diretor" quanto como "ator" no drama familiar. Como "diretor", ele cria cenários, coreografias, dá realce a temas e leva os membros da família ou do casal a improvisarem; como "ator", ele atua promovendo alianças e coalizões, criando, fortalecendo ou enfraquecendo fronteiras, sempre tentando colocar desafios aos quais os membros da família ou do casal devem se "acomodar" para, com isto, "descristalizar" padrões transacionais desadaptativos. (Carneiro, Terezinha Feres 2015). 3.3 Escola de Milão A principal representante deste grupo é Mara Selvini Palazzoli que, juntamente com Boscolo, Ceccin e Prata, fundou em 1967 o Centro para o Estudo da Família. Partindo dos mesmos pressupostos teóricos da Escola Estratégica, Palazzoli et al (1980, apud Carneiro, 2015) consideram que os problemas que emergem quando os mapas familiares não são mais adequados, ou seja, os padrões de comportamento desenvolvidos não são mais úteis nas situações atuais. Dada a tendência à homeostase, os problemas surgem quando 13 as regras que governam o sistema são tão rígidas que possibilitam padrões de interação repetitivos, homeostáticos e vistos como "pontos nodais" do sistema. O princípio básico do tratamento do Grupo Milão é a conotação positiva do comportamento demonstrado pela família. Quando o comportamento sintomático é definido como positivo, é causado mais pela tendência de estado estacionário do sistema do que pelo comportamento. Outro método de intervenção utilizado pelo Grupo Milan são os rituais familiares, ou seja, realizar uma ação ou uma série de ações para envolver todos os membros da família. O objetivo do ritual é evitar comentários orais sobre as regras que tornam o jogo perpétuo. Na cerimônia familiar, as novas regras substituem as regras anteriores por padrão. Para desenvolver um ritual, o terapeuta deve ser muito observador e criativo. A cerimônia é estritamente para uma família específica. 3.4 Escola Construtivista No final da década de 70, utilizando os conceitos da cibernética de segunda ordem e de sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A partir da concepção de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979 apud Carneiro, 2015), considera-se que a evolução de um sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que, a cada patamar, surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e assim sucessivamente. Nesta perspectiva em que os sistemas vivos são considerados como hipercomplexos e indeterminados, instabilidade e a crise ganham um novo sentido no sistema familiar. A crise não é mais um risco, mas parte do processo de mudanças, assim como o sintoma. Ocorre uma ruptura entre o sistema familiar / observado e o terapeuta / observador. O sistema é mostrado como a estrutura de seus participantes. O terapeuta não estará mais interessado no comportamento a ser mudado, mas sim no significado produzido no estabelecimento da realidade e do sistema familiar. O foco mudou do que o terapeuta introduzia no sistema para o que o sistema permitia que ele escolhesse e entendesse. Alguns terapeutas estratégicos podem ser citados como tendo incluído posteriormente na sua prática o modo de pensar construtivista; entre eles, os do grupo de Milão. Palazzoli et al (1980) estabelecem três princípios indispensáveis 14 ao trabalho terapêutico: a formação de uma hipótese, a circularidade e a neutralidade. A hipótese formulada deve ser testada ao longo da sessão; se rejeitada, o terapeuta procurará outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da primeira hipótese. Todas as hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir todos os membros da família e fornecer uma conjetura que explique a função da relação. A circularidade diz respeito à capacidade do terapeuta de conduzir a sessão baseando-se nos feedbacks recebidos da família como resposta à informação que solicitou em termos relacionais. A neutralidade consiste numa atitude de imparcialidade do terapeuta que se alia a cada membro da família, neutralizando qualquer tentativa de coalizão ou sedução de qualquer componente do grupo familiar. (Carneiro, Terezinha Feres 2015). A abordagem construtivista foi proposta na perspectiva do segundo sistema e, portanto, questionou o papel do terapeuta na terapia familiar e na intervenção terapêutica guiada. O foco não está no problema, mas na estrutura da interação. As ações do terapeuta são projetadas para explorar a estrutura do problema. 4 A RELAÇÃO FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL https://saude.abril.com.br/ 15 Para falar sobre o cuidado em saúde mental no âmbito familiar é imprescindível que se faça uma apresentação da família moderna. Segundo Beltrame e Bottoli (2010 apud Santin; Klafke 2011), a família moderna constitui- se através do progresso da vida privada, ou seja, a família assume um espaço maior em detrimento da sociedade. Assim, é importante considerar que, "a relação da família com o portador de transtorno mental é historicamente construída" (ROSA 2003, p. 28), sendo que nem sempre foi vista como uma instituição capaz de acolher e cuidar de um familiar que adoece mentalmente. Com a culpabilização da família, em relação ao adoecimento psíquico, ocorre que o saber psiquiátrico, cada vez mais, procura afastar o paciente do ambiente familiar. Assim, ganham força as instituições psiquiátricas e a cultura do isolamento social do portador de sofrimento psíquico. Melman (2008 apudSantin; Klafke 2011) aponta outra justificativa para o procedimento de isolamento, considerando também necessário proteger a família da loucura e prevenir uma possível contaminação dos demais membros. De uma forma ou outra, a família entra para o rol das intervenções dos especialistas. Esse movimento se intensifica no século XX, principalmente com influência das teorias freudianas, que destacam a importância das relações familiares sobre o psiquismo dos sujeitos (ROSA, 2003 apud Santin; Klafke 2011). Ao penetrar no universo familiar, identificam na determinação da doença ou das disfunções a maneira como os pais conduzem a educação dos seus filhos. A ação psiquiátrica tendia a culpabilizar os pais pelas inadequações do comportamento da criança, orientando sua interpretação de conduta para a má educação ou para a doença (ROSA, 2003, p. 59 apud Santin; Klafke 2011). Por meio da observação sistemática, da pesquisa e da intervenção direta no ambiente familiar, a família passou a intervir, com foco no papel de mãe. Alguns autores também começaram a dar importância ao papel da patologia nos grupos familiares. Os pacientes com doenças mentais se tornarão os porta- vozes dos pacientes identificados, as doenças de toda a família. Cada vez mais, o portador de transtorno mental é visibilizado em seu papel positivo, como um agente catalizador que adoece para proteger o grupo familiar, mantendo sua homeostase, ou é invalidado, rotulado e alçado a 'bode expiatório' com a mesma 16 finalidade, impedindo que se processem mudanças nos padrões de relacionamento do grupo (ROSA, 2003, p. 61 apud Santin; Klafke 2011). A relação e o significado da família na prestação do cuidado do paciente com sofrimento psíquico têm passado por diferentes fases, sendo modificadas com o tempo e o espaço de acordo com as realidades sociais, culturais e econômicas. O grupo familiar do CAPS por exemplo, é composto principalmente pelas mães ou irmãs de usuários com sofrimento psíquico, tem o objetivo de dar apoio aos familiares, fazer perguntas aos usuários sobre o tratamento e manejo espacialmente e também permitir que os cuidadores familiares falem sobre sua ansiedade e cansaço. Para Pontes (2009 apud Santin; Klafke 2011), nos grupos de familiares ou nos atendimentos de família, é comum que as discussões girem em torno dos sintomas, e é importante que o profissional que coordena o grupo fique atento às possibilidades e ao conjunto de recursos que a família apresenta e como cada um se apropria deles ou como fica paralisado diante do momento vivido. Alguns participantes são familiares dos usuários, estes usuários não estão relacionados às atividades do cotidiano do CAPS, apenas às consultas médicas e medicamentos, dificultando a adesão dos usuários a outros planos de tratamento. Portanto, pode-se dizer que o vínculo mais importante com esses usuários é por meio dos familiares que participam do grupo. Portanto, é fundamental envolver a família no tratamento. Outra característica marcante é o fato de a maioria dos cuidadores serem mulheres. Esse fato é comumente encontrado na literatura sobre o cuidado de portadores de sofrimento psíquico no ambiente doméstico. Conforme Rosa, há uma feminização do encargo de assistir ao portador de transtorno mental (ROSA, 2003, p. 240 apud Santin; Klafke 2011), deixando claro que o provimento de cuidado para familiares é uma questão de gênero historicamente produzida e mantida pela sociedade que vê na mulher uma cuidadora por excelência, tanto para familiares adoecidos ou não. Se de um lado temos a mulher/mãe cuidadora, de outro temos o filho portador de transtorno mental. Para Rosa (2003 apud Santin; Klafke 2011), o impacto que a doença mental provoca na família está diretamente relacionado à posição que o portador de sofrimento psíquico ocupa na estrutura familiar. 17 Quando o filho é o portador de transtorno mental, a família é afetada em uma dimensão diferente e bem menor do que quando o pai ou a mãe adoecem. Isso ocorre pela suposta relação de dependência que o filho tem com os pais, podendo até exercer uma função positiva de unir o casal, ou, ao contrário, e agravar as tensões entre o casal (ROSA, 2003 apud Santin; Klafke 2011). O adoecimento mental de um filho abala, frequentemente de forma intensa, a autoestima dos pais. O filho doente parece representar, para muitos genitores, uma denúncia das falhas do sistema familiar, que não conduziu com sucesso sua missão de formar os filhos (MELMAN, 2008, p. 32 apud Santin; Klafke 2011). A questão do trabalho também é abordada pelos familiares em relação à impossibilidade ou à dificuldade do portador de sofrimento psíquico em ter um emprego, havendo somente dois usuários exercendo atividade remunerada. Essa é uma realidade encontrada com bastante frequência, sendo poucas as pessoas acometidas por algum transtorno mental grave (em especial a esquizofrenia, que é a realidade vivida pela maioria dos familiares do grupo) que estão empregados. Isso parece se tornar ainda mais delicado quando o sujeito adoeceu já na idade adulta, pois, dessa forma, a família já estava acostumada em ter aquele indivíduo como alguém produtivo e que ajudava com as despesas e as tarefas domésticas e, de repente, se vê obrigada a arcar com o seu sustento. Para Rosa (2003 apud Santin; Klafke 2011), a ociosidade constante do portador de transtorno mental compromete sua autonomia e a liberdade do cuidador. Uma queixa dos familiares é em relação à agressividade que muitas vezes se faz presente com a doença mental. Conforme Rosa (2003 apud Santin; Klafke 2011), a agressividade é um dos aspectos mais destacados pelos familiares como típicos da loucura. Quase todas as pessoas do grupo já relataram algum episódio de agressividade, principalmente em situações de surto, quando a relação da família com o enfermo psicótico tende então a ser mais dramática, pois os sintomas são mais intensos e ameaçadores à segurança do grupo (ROSA, 2003, p. 262 apud Santin; Klafke 2011). Essa é uma situação que deixa os familiares bastante apreensivos, mas é importante destacar que as agressões são mais comuns no início do desenvolvimento da doença, quando a família ainda não sabe ao certo o que está acontecendo e o tratamento não está adequado. 18 O medo de sofrer uma agressão ou, mais comumente, a necessidade de estar sempre vigilante para que o portador de sofrimento psíquico não coloque sua vida em risco e faça o tratamento medicamentoso corretamente, entre outros cuidados necessários, acaba gerando uma sobrecarga na família. Para conviver com a doença, o núcleo de toda a família precisa se reorganizar. Frequentemente, ouvimos relatos de familiares que precisam mudar drasticamente suas rotinas para cuidar dos doentes. Para algumas famílias, esse momento é ainda mais dramático, porque algumas pessoas com sofrimento psíquico se recusam a cuidar e receber tratamento. Portanto, o cuidador necessita passar mais tempo com sua família, o que acaba prejudicando outras atividades de seu dia a dia. O conhecimento desse quadro de sobrecarga por parte dos profissionais de saúde sugere que as intervenções terapêuticas levem em consideração essa realidade. Ajudar os familiares na interação e na gestão da vida cotidiana dos pacientes alivia o peso dos encargos, facilita o processo de estabelecimento de uma cooperação, diminui os fatores estressantes ativadores de situações de crise, estimula a criação de possibilidades participativas, melhorando a qualidade de vida de todas as pessoas envolvidas (MELMAN, 2008, p. 80 apud Santin; Klafke 2011). O aconselhamento sobre a reinserção social do doente mental e a relação com a família não é fácil. Embora as famílias desejem a proximidade de todos os membros, também refletem os medos e preconceitos que existem em nossa sociedade, o que muitas vezes astorna relutantes em receber pacientes: A construção de um tratamento pautado também pela conquista da cidadania e a confirmação de um outro modo de cuidar não poderia calar a necessidade de um espaço de escuta, para que nele pudesse aparecer o sofrimento muitas vezes inerente à convivência com alguém que representa na família algo estranho (SOUZA; BAGNOLA, 2007, p. 268 apud Santin; Klafke 2011). Dessa forma, um grupo de familiares pode funcionar como um espaço de acolhimento das experiências de vida dos seus participantes. O estímulo às trocas de experiências tem se revelado uma importante ferramenta para ampliar a capacidade de lidar com os problemas, assim como tem permitido que um 19 familiar possa se abrir para o discurso do seu companheiro (MELMAN, 2008 apud Santin; Klafke 2011). Feuerwerker e Merhy (2008, apud Santin; Klafke 2011) dizem que os modos de cuidar da família e do serviço respondem a lógicas diferentes de cuidado e que, portanto, entre essas duas instâncias se estabelece uma competição pelo cuidado. Uma das expressões da competição é a desqualificação ou o não reconhecimento do cuidado realizado pelo outro. 5 ENTREVISTA FAMILIAR SISTÊMICA https://br.pinterest.com/ A entrevista é uma ferramenta básica para os psicólogos trabalharem em diferentes áreas no contexto: clínico, hospitalar, organizacional, escolar, jurídico, etc. No contexto clínico, este instrumento é muito importante no acolhimento, avaliação e na condução de todo o processo terapêutico até o seu encerramento Neste sentido, a entrevista psicológica se estrutura a partir dos pressupostos teóricos que sustentam o entendimento do indivíduo, do seu desenvolvimento, das suas relações, das suas potencialidades e limitações, da sua saúde e de seu adoecimento. Assim, pode estar baseada numa perspectiva psicanalítica, cognitivo-comportamental, humanista, sistêmica ou outra. (ZORDAN et al.2012) 20 As propriedades do sistema que podem ser observadas na família são: totalidade, causalidade circular, equifinalidade, equicausalidade, limitação, regras de relação, ordenação hierárquica e teleologia. A propriedade de totalidade considera que o entendimento de uma família não se constitui apenas pela soma das condutas de seus membros, mas sim pela compreensão das relações entre eles. A causalidade circular descreve as relações familiares como recíprocas, pautadas e repetitivas, de forma que a resposta de um membro A para a conduta de outro membro B é um estímulo para que B dê uma resposta que pode servir de estímulo para A. No que se refere à equifinalidade, entende- se que um sistema pode alcançar o mesmo estado final a partir de condições iniciais distintas, o que dificulta buscar uma única causa para o problema. A equicausalidade significa que a mesma condição inicial pode resultar em estados finais diversos. Estas duas propriedades equifinalidade e equicausalidade estabelecem a conveniência de abandonar a busca de uma causa passada originária do sintoma e centrar-se no aqui e agora, nos fatores que estão mantendo o problema. Em relação à limitação, entende-se que quando se adota uma determinada sequência de interação, a probabilidade de que o sistema emita uma resposta diversa é diminuída, de modo que, se esta for uma conduta sintomática, ela tende a converter-se em patológica porque contribui para manter o problema. As regras de relação definem a interação entre seus componentes e a maneira que as pessoas enquadram a conduta ao comunicar-se entre si. A ordenação hierárquica postula que em toda a organização há uma hierarquia, na qual certas pessoas possuem mais poder e responsabilidade do que outras. Na família, além do domínio que uns exercem sobre os outros, é inerente a ajuda, a proteção e o cuidado que oferecem aos demais, sendo que há uma relação hierárquica entre as pessoas e também entre os subsistemas. Por fim, teleologia significa que o sistema familiar se adapta às diferentes exigências dos diversos estágios de desenvolvimento a fim de assegurar continuidade e crescimento psicossocial a seus membros (OCHOA DE ALDA, 2004 apud ZORDAN et al.2012). Na entrevista propriamente dita, Lopez e Escudero (2003 apud ZORDAN et al.2012) destacam que podemos diferenciar dois tipos de habilidades técnicas: as que se relacionam com a manutenção de uma comunicação adequada para o desenvolvimento da entrevista e as que se referem ao uso de técnicas 21 específicas de intervenção durante a mesma. Aqui serão descritas as primeiras, isto é, as habilidades gerais para a manutenção da entrevista: Empatia/ conexão emocional: Escuta ativa, reflexão de sentimentos e transmissão de interesse genuíno pelo que diz e expressa cada membro da família Autenticidade/credibilidade: Mostrar sinceridade e espontaneidade, aplicar os procedimentos profissionais de forma natural e adequada ao momento que vivem Clareza na comunicação: Uso de linguagem adaptada, assegurando-se de que todas as perguntas, explicações ou sugestões são compreensíveis para cada elemento da família Ritmo adaptado ao paciente: Ter em mente que o contexto e os profissionais são uma experiência nova para eles, o ritmo da entrevista deve acompanhar as possibilidades deles Estímulo para que o paciente fale: É muito importante estimular que todos e cada um dos componentes da família falem e expressem seus pontos de vista e opiniões Estrutura a informação: Geralmente a informação inicial que a família traz é contraditória ou desestruturada, o entrevistador deve focar a entrevista no que é mais importante, oferecendo um guia para fornecer informação útil Controle das emoções/conflito: O entrevistador deve ser capaz de criar um equilíbrio entre a expressão necessária das emoções por parte dos membros da família e a possibilidade de trabalhar coletivamente, avançando no processo Assim, esta primeira entrevista tem como objetivo criar uma aliança com a família e desenvolver uma hipótese sobre o que mantém o problema apresentado. Para estabelecer a aliança com a família, o terapeuta inicia se apresentando, pedindo para os pais que apresentem os filhos, cumprimentando a cada um com um aperto de mão. Neste contato inicial e apresentação fica explicitada a relação hierárquica em que adultos têm mais poder e 22 responsabilidade. Após o terapeuta mostra a sala e expõe a duração e objetivos da sessão (ZORDAN et al.2012) Visando contemplar os aspectos teóricos mencionados, os terapeutas familiares norte-americanos Nichols e Schwartz (2007 apud ZORDAN et al.2012) apresentam uma lista de verificação da primeira sessão que inclui dez itens: Fazer contato com cada membro da família e reconhecer seu ponto de vista em relação ao problema e seus sentimentos em relação à terapia; Estabelecer liderança, controlando a estrutura e o ritmo da entrevista; Desenvolver uma aliança de trabalho com a família, equilibrando simpatia e profissionalismo; Elogiar as pessoas por ações positivas e forças familiares; Ser empático com cada membro da família e demonstrar respeito pela maneira da família de fazer as coisas; Focar problemas específicos e as soluções tentadas; Desenvolver hipóteses sobre interações prejudiciais em torno do problema apresentado. Investigar porque elas persistem; Não ignorar o possível envolvimento de membros da família, amigos ou auxiliares que não estão presentes; Negociar um contrato de tratamento que reconheça os objetivos da família e especifique como o terapeuta vai estruturar o tratamento; Estimular perguntas. 23 https://psicoenvolver.com.br/ Por sua vez, Ríos-González (1993 apud ZORDAN et al.2012) destaca que na primeira entrevista deve ficar estabelecido que o trabalho terapêutico será realizado com esse sistema familiar, não só atravésda verbalização, mas de métodos ativos e dinâmicos que ponham em jogo as interações. A proposta é trocar o esquema linear tradicional pelo esquema circular retroalimentador, que compreende os seguintes passos: passar do indivíduo ao sistema, dos conteúdos aos processos, de interpretar a prescrever, de buscar origens a compreender condutas, de analisar sintomas a analisar as mensagens implícitas nestes sintomas e de investigar as causas a reestruturar modelos de interação. Considerando sua experiência com terapia familiar na Espanha, Ochoa de Alda (2004 apud ZORDAN et al. 2012) propõe um modelo de entrevista criado para contextos privados, porque requer tempo e a possibilidade de trabalhar com uma equipe atrás de um espelho unidirecional. Ela estipula cinco etapas importantes da entrevista: a pré-sessão, a sessão, as pausas, a intervenção e a pós-sessão. Pré-sessão: Compreende o período anterior ao início da entrevista com a família, quando a equipe se reúne durante 15 a 20 minutos para discutir as informações obtidas no contato telefônico. A finalidade é criar hipóteses sobre o que pode estar acontecendo no sistema familiar e em torno do sintoma, para que se possa planejar a sessão, especificando as estratégias que serão seguidas, os temas que serão abordados e a ordem de aparecimento, bem como as perguntas a serem realizadas para cada membro da família. (ZORDAN et al.2012) 24 Sessão: Segunda etapa, dura 50 ou 90 minutos, e o terapeuta começa definindo o contexto terapêutico, explicando sobre as condições sociais e sobre as técnicas que serão utilizadas durante as sessões, assim como esclarece possíveis dúvidas e firma um primeiro contrato verbal sobre essas condições. Posteriormente apresentará um contrato escrito com todos os aspectos da terapia, o que vai ser trabalhado, as técnicas a serem utilizadas, sigilo, honorários, horários, número de sessões e sobre o uso de filmagem durante o tratamento, se for o caso, o qual será assinado por todos os componentes da família. O objetivo do terapeuta consiste em orientar a entrevista para obter informações que vão confirmar ou não as hipóteses levantadas durante a pré- sessão. O procedimento terapêutico abrange perguntas lineares e circulares, redefinições e conotações positivas em relação às informações que as pessoas da família trazem para a sessão. (ZORDAN et al.2012) As perguntas lineares são usadas no começo da entrevista para o terapeuta orientar-se sobre o que ocorre em torno do sintoma e, assim, aproximar-se da família através de seus pontos de vista. Exemplos: qual é o problema? Desde quando está acontecendo? Aconteceu alguma coisa que possa explicar seu aparecimento? Permitem conhecer a definição e a explicação da família para o sintoma. Com as perguntas circulares o terapeuta busca mais informações para confirmar ou refutar as hipóteses iniciais, sendo que estas caracterizam-se por buscar conexões entre pessoas, ações, percepções, sentimentos e contextos, apoiando-se nos pressupostos da circularidade e da neutralidade. Em seguida solicita que cada um expresse suas percepções sobre as relações e as diferenças entre os componentes do sistema. (ZORDAN et al.2012) Pausas: Que têm como objetivo proporcionar um tempo para que o terapeuta se desvincule deste ambiente, retornando à sessão com um olhar menos parcial sobre a família. (ZORDAN et al.2012) Intervenção: Geralmente acontece no final de cada sessão. Após realizar a última pausa, o terapeuta tenta gerar com a família uma mudança comportamental-cognitiva-afetiva, na forma como eles lidam com o sintoma e no 25 sintoma mesmo. Os recursos técnicos que podem facilitar esse entendimento compreendem conotações positivas, redefinições, tarefas diretas e paradoxais, rituais e metáforas. (ZORDAN et al.2012) As tarefas diretas são técnicas de intervenção que visam mudar as regras e os papeis do sistema familiar, incluindo entre elas ensinar aos pais sobre como controlar os seus filhos, e estabelecer regras disciplinares. As tarefas paradoxais são técnicas de intervenção que contêm uma dupla mensagem, por um lado se afirma à família que seria bom mudar e por outro que seria bom que não mudasse, prescreve-se a continuidade da sequência sintomática por um tempo determinado, com a finalidade de interromper tal sequência. Os rituais caracterizam-se pela prescrição de uma série de ações destinadas a mudar as regras de um sistema familiar. Metáforas ou intervenções metafóricas são técnicas de intervenção que permitem evitar as estratégias de tipo relacional que o paciente ou a família podem opor à prescrição do terapeuta, revelar-lhes um padrão de interação, ou fazer com que os mesmos descubram a solução do seu problema. (ZORDAN et al.2012) Pós-sessão: A equipe se reúne entre 5 a 15 minutos para analisar a resposta da família à intervenção, observando tanto o feedback verbal quanto o não-verbal, conforme propõe o quarto axioma da comunicação. É também o momento de fazer predições sobre como a família reagirá durante o intervalo entre as sessões e quanto às tarefas propostas para iniciar a mudança. (ZORDAN et al.2012) Independente do modelo adotado, os autores destacam que nesse primeiro encontro é importante o terapeuta entrar em sintonia com a família, procurando encontrar um jeito, uma linguagem, uma postura que possa se adaptar ao funcionamento daquela família para ser reconhecido pela mesma como parte do sistema. Este aspecto é relevante porque facilita o vínculo de aceitação e de confiança (ACQUAVIVA, 1999 apud ZORDAN et al. 2012) Cabe ressaltar que a compreensão do funcionamento sistêmico fará uma profunda diferença nas relações entre pais e filhos. Na medida em que acreditarem que não existe certo e errado pré-definidos, vão treinar isso no dia a dia, não vão definir as regras a priori, mas redefinir caminhos a cada passo e, 26 portanto, estarão disponíveis para rever suas verdades e decisões (ROSSET, 2008 apud ZORDAN et al. 2012) A entrevista na Terapia Familiar Sistêmica é baseada em causalidade circular total, reciprocidade, causalidade múltipla, a comunicação inclui todas as fórmulas, além das expressões verbais, as pessoas também expressam suas próprias formas ao se comunicar. É importante criar uma aliança com cada membro da família, priorizando a aliança com aquele capaz de manter a família em tratamento. 6 ABORDAGEM COGNITIVO-COMPORTAMENTAL: FAMÍLIA E CASAL psicologiaexplica.com.br/ O modelo cognitivo de Beck tem sido aplicado a diferentes transtornos mentais e populações específicas (Falcone, 2001). Beck et al. (1979/1997 apud Peçanha et al. 2008), por exemplo, colaboraram para o entendimento do ser humano ao apresentar alguns processos cognitivos como influenciadores das emoções e comportamentos. Segundo esses autores, cognições inadequadas 27 ou disfuncionais, pensamentos automáticos e crenças estariam na base de uma variedade de desordens psicológicas. Beck (1995) apontou que muitos problemas encontrados no casamento também podem estar relacionados às cognições disfuncionais de ambas as partes. Alguns estudos confirmaram esta hipótese de que pensamentos, crenças, expectativas, atribuições, etc. têm um efeito negativo na qualidade do relacionamento Os pensamentos automáticos vêm sendo concebidos como ideias ou imagens que passam despercebidas e de forma muito rápida na mente das pessoas. Esses pensamentos por si só não são adequados ou inadequados. Devido ao fato de esses tipos de pensamento não serem sempre racionalmente avaliados, eles tendem a ser aceitos como algo razoável, em situações específicas. Tem sido apontado que esse fluxo de ideias instantâneas, que pode passar na cabeça de um dos cônjuges, pode influenciar seus estados emocionais e suas ações negativamente. Por exemplo, quando uma esposanão recebe a atenção que gostaria de receber de seu marido, a respeito de um problema de trabalho, pode chegar à seguinte conclusão: “ele nunca me ouve”. Nessa situação, a parceira pode sentir raiva e gritar com seu companheiro, dizendo que ele é um imprestável (Dattilio et al., 1998 apud Peçanha et al. 2008). Os pensamentos automáticos disfuncionais podem ser influenciados por distorções cognitivas. Estas seriam distorções sistemáticas no processamento da informação, falhas de interpretação e raciocínios desprovidos de lógica (Beck & Alford, 2000 apud Peçanha et al. 2008). A leitura mental, por exemplo, é um tipo de distorção segundo a qual uma pessoa acredita ser capaz de ler os pensamentos de alguém. Por exemplo, quando um homem está falando com a esposa e essa boceja por estar cansada, ele pode pensar: “ela está achando chato conversar comigo”. Ele, então, pode ficar magoado e evitar sua parceira ao longo do dia. Existem inúmeras outras distorções relatadas na literatura especializada que podem ter influência sobre o relacionamento de casais (Beck, 1995; Dattilio, 2004 apud Peçanha et al. 2008). Beck et al. (1979/1997 apud Peçanha et al. 2008) apontaram que o surgimento das crenças intermediárias e centrais ocorre durante a interação das crianças com pessoas significativas em suas vidas e estão associadas a fatores socioculturais. São ideias que uma pessoa tem sobre si mesma, sobre as 28 pessoas de uma maneira geral, sobre o mundo, sobre relacionamentos, entre outros aspectos. Crenças mais centrais têm maior impacto sobre o pensamento de uma forma geral, são mais rígidas e mais difíceis de mudar do que crenças mais periféricas. Ambos os tipos podem ser inadequados e levar ao aumento de conflitos em um relacionamento amoroso. Por exemplo, um marido pode ter a seguinte crença central, “não sou uma pessoa digna de ser amada”. Para tentar não acreditar nesse pensamento, o esposo pode desenvolver uma crença intermediária do tipo, “se eu sempre recebo apoio em todas as minhas decisões, então eu sou amado”, ou do tipo “se minha esposa não concorda comigo a todo o momento, então estou sendo rejeitado”. Uma vez que a esposa não endossa todas as ideias do marido, este pode ficar triste e não expressar seus pensamentos, por acreditar que realmente não pode ser amado por alguém (Beck, 1995 apud Peçanha et al. 2008). Outros tipos de cognição também podem ter um impacto negativo na vida do casado. Entre essas cognições, podemos mencionar atenção seletiva, atribuição, expectativas, suposições e padrões. A atenção seletiva: É entendida como um processo de percepção no qual uma pessoa captura informações sobre a situação de acordo com categorias que são significativas para o seu ponto de vista. Além disso, ele ignora dados que não se enquadram em seu perfil de relacionamento. Por exemplo, uma mulher quando acredita que é fraca, pode ficar atenta aos comportamentos do seu marido que julgue serem de dominação. Quando ela pede ao parceiro para visitar os pais dela, e ele não quer ir, a esposa pode pensar que ele nunca atende aos seus desejos por não a respeitar. Então, ela pode sentir-se frustrada e passar a evitar o marido. Entretanto, o parceiro não aceitou o convite por estar sentindo enxaqueca. Em diversas situações, essa mulher busca fazer diferentes solicitações que em sua maioria são atendidas pelo marido. Contudo, ela geralmente presta atenção aos seus próprios desejos, que ele não atende (e.g., Baucom et al., 1989 apud Peçanha et al. 2008). Atribuição: Refere-se à inferência de um parceiro sobre a causa e a responsabilidade de uma determinada situação. Por exemplo, um parceiro pode culpar sua esposa por todos os problemas conjugais e não perceber que ele 29 também contribui. As expectativas referem-se ao que um indivíduo acha que vai acontecer no seu relacionamento. Por exemplo, uma mulher pode esperar que seu marido sempre pergunte como foi seu dia de trabalho (e.g., Baucom & Epstein, 1990 apud Peçanha et al. 2008). Pressupostos: São crenças que as pessoas mantêm sobre a natureza dos relacionamentos e das pessoas em geral Por exemplo, um homem pode pressupor que a existência de desacordo entre parceiros é algo prejudicial para a relação. Os padrões são crenças que um indivíduo tem sobre como “deveria” ser uma vida conjugal Por exemplo, uma mulher pode acreditar que, numa relação amorosa, deveria haver o eterno sentimento de paixão (e.g., Epstein & Baucom, 2002 apud Peçanha et al. 2008). Epstein e Baucom (2002 apud Peçanha et al. 2008) apontaram que as emoções desempenham um papel igualmente importante na vida amorosa. Emoções como raiva, medo, ansiedade e tristeza podem afetar negativamente a cognição e o comportamento. Por outro lado, emoções como amor e felicidade podem afetar positivamente o relacionamento conjugal. Os casais que estão sob muita pressão no relacionamento há muito tempo tendem a ter o primeiro sentimento mais do que o segundo. Por exemplo, se uma parceira pede ajuda ao marido para carregar objetos pesados e este deixa de cuidar dela devido a um problema de saúde que ele ainda não conhece, ela pode ficar com raiva porque não obteve uma resposta, e pode pensar: "Ele nunca me ajuda" o chamando de egoísta. 30 6.1 A terapia cognitivo-comportamental no tratamento de casais: objetivos e etapas psicologiaviva.com.br Pode-se afirmar que os principais objetivos da terapia cognitivo- comportamental, no tratamento de casais em conflito, são a reestruturação de cognições inadequadas, o manejo das emoções, a modificação de padrões de comunicação disfuncionais e o desenvolvimento de estratégias para solução de problemas cotidianos mais eficazes (e.g., Beck, 1995 apud Peçanha et al. 2008). Outros procedimentos utilizados são as alterações de comportamentos que formam padrões negativamente específicos (Dattilio, 2004 apud Peçanha et al. 2008). Normalmente, a primeira sessão é realizada na presença de ambos os cônjuges. Esta é uma oportunidade para o terapeuta examinar as áreas problemáticas no relacionamento, a interação entre o casal, seu estilo de comunicação, a força do relacionamento, fatores externos que podem exercer pressão sobre o parceiro, etc. As informações obtidas neste encontro ajudarão no processo de formulação de hipóteses preliminares sobre as causas do conflito conjugal. Um dos principais alvos da terapia é promover a reestruturação de cognições disfuncionais. Esse é um processo realizado em diferentes etapas. O objetivo é fornecer ao casal habilidades que possam diminuir os seus conflitos. 31 Inicialmente, o terapeuta explica a relação entre as ideias, sentimentos e comportamentos durante a interação conjugal destrutiva. Cada parceiro aprende a identificar, a avaliar e a responder aos pensamentos distorcidos que podem estar influenciando de forma negativa o relacionamento. As técnicas mais utilizadas são os registros de pensamentos automáticos, diários, questionamentos na sessão, recordações (e.g., Beck, 1995; Rangé & Dattilio, 2001 apud Peçanha et al. 2008). A identificação das distorções cognitivas é outra etapa relevante. O terapeuta ensina o casal a relacionar essas distorções com os pensamentos automáticos. A apresentação de uma folha contendo uma lista de distorções é bastante eficaz para atingir esse objetivo. Ambos os cônjuges aprendem também a verificar e questionar suas crenças intermediárias e centrais. São empregadas algumas técnicas específicas, como, o questionamento socrático, a técnica da flecha descendente, e dramatizações (Dattilio, 2004 apud Peçanha et al. 2008). Parece óbvio dizer que, em uma conversa, uma pessoa deve ouvir enquanto a outra fala e vice-versa. No entanto, isso não parece acontecer com casais com altos níveis de conflito. Normalmente, os parceiros falam ao mesmotempo e não prestam atenção na conversa entre si, tornando essa relação cada vez mais insuportável. Em termos de comportamento de tratamento, o treinamento de comunicação é particularmente importante. O foco desse procedimento é fornecer aos casais habilidades para ouvir e falar para ajudá-los a reduzir brigas, aumentar a satisfação conjugal e a adaptabilidade. Existem algumas regras básicas que muitas vezes são discutidas com os casais, e essas regras são relevantes e úteis para os parceiros que desejam conversar. Algumas pessoas acreditam que relatórios breves, objetivos e claros que descrevem e enfocam questões específicas de uma maneira comportamental costumam ser o primeiro passo para uma comunicação mais eficaz. Por outro lado, o ouvinte precisa ser empático. Prestar atenção ao que os outros estão dizendo é o ponto de partida para um diálogo construtivo. Este comportamento de atenção pode ser alcançado por meio de expressão verbal ou mesmo por meio de gestos. É importante observar que cada relacionamento tem suas vantagens e desvantagens. Com o passar dos anos, as dificuldades conjugais só levarão à consciência das desvantagens da vida de duas pessoas. O terapeuta aponta e 32 fortalece ações positivas entre os parceiros. Além disso, ele tenta modificar alguns padrões de comportamento negativos que prejudicam essa relação. A intervenção de resposta emocional excessiva ou insuficiente é um aspecto importante da terapia cognitivo-comportamental de casais. O tratamento conjugal visa ajudar os parceiros a desenvolver habilidades para controlar e expressar suas emoções. Algumas pessoas tendem a não tolerar emoções desagradáveis e expressar seus sentimentos de maneiras exageradas. Uma técnica utilizada é a identificação de uma emoção e sua relação com os pensamentos automáticos. Outra é avaliar o grau de intensidade dos sentimentos em uma situação específica. O paciente aprende, ainda, a expressar seus sentimentos, ou seja, a direcionar sua fala para problemas específicos e comportamentais. O role-play é um procedimento utilizado ao logo do tratamento e que, na interação entre paciente e terapeuta, é possível treinarem-se essas habilidades específicas (Dattilio, 2004 apud Peçanha et al. 2008). No trabalho com casais em conflito utiliza-se, ao final, a técnica de prevenção de recaídas. Esse é um procedimento importante, dentro da terapia cognitivo-comportamental, para o tratamento de diferentes transtornos psicológicos. A partir da primeira sessão, os pacientes são preparados para eventuais recaídas e vão sendo ainda orientados para o término dos atendimentos. O objetivo é a antecipação de prováveis “quedas” e retomadas de alguns comportamentos que eram responsáveis pelos conflitos conjugais (Schmaling et al., 1997 apud Peçanha et al. 2008). 33 7 RECURSOS TERAPÊUTICOS NA TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL clinicapsicoplus.com.br Geralmente, casais e famílias em busca de tratamento sentem angustiados e em crise devido a problemas interpessoais. Um dos principais objetivos da terapia de casais e família é reconstruir o diálogo franco e sincero e desenvolver a capacidade de negociar e buscar sugestões para mudanças. Atender casais na perspectiva da análise do comportamento é entender que cada ser é único, e eles agirão de acordo com a história atual mais as histórias passadas de relacionamento. Isso significa que o psicólogo tomará medidas durante o processo de tratamento para analisar os efeitos dos comportamentos. Esses comportamentos são os papéis do casal na vida atual. Esses comportamentos são a soma das experiências e padrões de comportamento aprendidos em relacionamentos anteriores assim como, os modelados entre eles. Ao falar de técnicas, devemos considerá-las como parte dos procedimentos utilizados na terapia de casal para complementar a atuação do terapeuta, desde a coleta de dados e identificação de demandas até as intervenções. É importante dizer que o terapeuta é responsável por adquirir 34 conhecimentos teóricos, conquistar a empatia do casal e tornar o ambiente favorável para o seu contato durante o processo psicoterápico. Este processo pode ser entendido como um conjunto de procedimentos que promovem mudanças graduais no comportamento dos pares, podendo ser modificado durante o processo de tratamento através dos métodos de intervenção e dos recursos e técnicas utilizadas. A negociação entre os parceiros são estratégias construtivas onde envolvem comunicação respeitosa, percepção do conflito como oportunidade de melhorar o relacionamento, clareza sobre a corresponsabilidade dos cônjuges, autocontrole, flexibilidade, tolerância e a busca conjunta por uma solução satisfatória para o casal. As destrutivas, por sua vez, caracterizam-se pela identificação de culpados, foco demasiado no problema, racionalização, comportamentos de esquiva e de retraimento, hostilidade, reclamações, rigidez e negatividade (Anderson & Johnson, 2010; Sierau, & Herzberg, 2012; Sullivan, Pasch, Johnson, & Bradbury, 2010; Wheeler, Updegraff, & Thayer, 2010; Whiting, 2008 apud Costa et al). 7.1 Técnicas da Análise Psicodramática no atendimento de Casal e Família terapiaaconselhamentofamiliar.com.br 35 Algumas técnicas são utilizadas na Análise Psicodramática e Abordagem Sistêmica e no atendimento de Casais e Famílias. As técnicas a seguir tornam o tratamento mais fácil e benéfico, para que possamos ajudá-los a resolver ou aliviar seus conflitos. Duplo: O duplo é uma técnica de psicodrama, realizada pelo ego-auxiliar ou às vezes pelo próprio terapeuta, que em determinado momento expressa o conteúdo que o paciente não consegue expressar, ou seja, fala com o conteúdo que ele não consegue colocar em palavras. Inicialmente o ego-auxiliar adota postura corporal do protagonista (paciente) procurando ter com ele uma sintonia emocional. A partir daí expressa questões, perguntas, sentimentos e ideias, fazendo com que ele se identifique com este duplo; possibilita assim um insight do protagonista. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000) No atendimento, o terapeuta pode manejar essa técnica Duplo da maneira que acabamos de descrever, ou usar apenas os princípios da técnica para a expressão verbal, como usar frases como "Sinto-me no seu lugar/eu no seu lugar sinto ...". Nas terapias de casal e familiar, podemos usar essa técnica se conseguirmos a autorização do paciente enquanto ele estiver na Tribuna Livre, e houver certas dificuldades em expressar opiniões. Inversão de papéis: Essa provavelmente é uma das técnicas clássicas muito utilizada num processo clínico. Propicia além da vivência do papel do outro, o emergir de dados sobre o próprio papel que, sem este distanciamento, não seria possível. Consiste em assumir o papel do outro como ele o percebe na sua presença. Funciona para pessoas que estejam de alguma forma intimamente ligadas entre si (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000) As informações coletadas por meio desta técnica podem ajudar a alcançar várias funções: para entender melhor os sentimentos do paciente por meio de efeitos auxiliares; para ver novas verdades da perspectiva de outros; para responder pessoalmente às perguntas que você tem que fazer papéis complementares. A técnica também pode fornecer sua própria imagem como um espelho, de modo que, neste caso, você também pode obter uma melhor exibição de sua 36 própria visão através dos olhos dos outros. A inversão de papéis é realmente útil para estabelecer relacionamentos em qualquer tipo de grupo. Esta técnica, sempre foi amplamente utilizada em casais e terapia familiar para os fins acima mencionados, o que é favorável à comunicação e percepção. Ex: "Sente-se nesta cadeira e fale como se fosse seu pai. Tente entrar em contato com seu pai interior, sua maneira defalar, postura sentada, expressão. Vou entrevistá-lo como se fosse seu pai." O terapeuta faz algumas perguntas preliminares, como seu nome, sua idade, sua vida, etc. Continuaremos a entrevistá-lo sobre como ele se vê nesta família (ou relacionamento), como ele se vê e como vê os problemas que estamos resolvendo. Espelho: Técnica através da qual o protagonista olha uma cena em que está envolvido. Isto permite à pessoa (protagonista) olhar fora dela algo que ela produziu. Nesta técnica o terapeuta repete o discurso do paciente em direção do próprio paciente e, após a resposta, troca de papel com o paciente e torna a repetir o diálogo. Desta forma força-se o paciente a conversar consigo mesmo. Durante o espelho o terapeuta no papel do paciente deve sempre pressionar visando uma resposta do paciente à sua pergunta ou questão proposta pelo próprio paciente quando neste lado da conversa (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000) Usamos a técnica do Espelho, que na realidade é a técnica do Espelho que Retira, na terapia de casal/família com alguns objetivos específicos. O terapeuta repete o discurso do paciente (casal/família) enquanto o paciente fica no papel de observador de si mesmo e desta forma força-se o paciente a conversar consigo mesmo. Muitas vezes o paciente traz um discurso repetitivo, sem qualquer reflexão do que fala, e sem apresentar qualquer proposta de mudança. Neste caso esta técnica dribla as possíveis defesas instaladas, ajudando no processo de reflexão e contato com as próprias possibilidades. Esclarecemos ao casal que iremos repetir o discurso que trouxeram nas sessões até o presente momento. Assim sendo vamos assumindo o papel de cada um e repetindo o seu discurso. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000) 37 Tribuna livre: Esta é uma técnica muito interessante e útil que pode ser usada para trabalhar com casais ou famílias. Isso também é eficaz para o trabalho em grupo. Seu principal objetivo é exercitar a audição e evitar interferências e contrastes (tremores) que ocorrem frequentemente na terapia domiciliar. A técnica envolve a colocação de cadeira no ambiente de tratamento (setting terapêutico). Esta cadeira será utilizada por cada membro do casal ou família (um rodízio), podendo "falar livremente". “A partir de agora vamos usar uma técnica chamada Tribuna Livre para trabalhar com vocês. Quem sentar na cadeira, só vai falar comigo, como se fôssemos apenas duas pessoas nesta sala. Os demais devem ouvir com atenção e ficar em silêncio. O terapeuta determina a ordem e cada membro do casal ou família pode ocupar a "Tribuna Livre" várias vezes. Cadeira vazia: A cadeira vazia é uma espécie de psicodrama imaginário em que o paciente ora assume seu próprio papel, ora o papel da outra pessoa em questão, sentando-se na cadeira vazia e representando a pessoa à qual deseja falar algo ou dela obter resposta, explicação ou qualquer outra fala que proporcione o fechamento da Gestalt aberta. É uma técnica muito usada também em trabalhos de despedida, nos processos de “dizer adeus”, seja a alguém que já morreu ou afastou-se definitivamente do paciente (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000) A técnica da cadeira vazia consiste em colocar uma cadeira vazia no setting na qual, imaginativamente, estará sentado um personagem qualquer a quem o paciente e o terapeuta devem se dirigir. Esta é uma experiência útil para a resolução de situações inacabadas, caso em que as pessoas não conseguem estabelecer conexões satisfatórias em seus relacionamentos devido a sentimentos como raiva, mágoa e ressentimento, consciente ou inconsciente. Átomo social: O átomo social é uma forma social de relacionamento interpessoal que se desenvolve desde o nascimento. Suas origens incluem mãe e filho. Com o tempo, a amplitude de todos que entram no círculo infantil vai aumentando que lhe são agradáveis ou desagradáveis e aqueles que 38 reciprocamente a têm como agradável ou desagradável. Essa técnica pode ser usada com o terapeuta, exigindo que o paciente apresente dramaticamente as pessoas que são emocionalmente importantes para ele. Das figuras imaginárias presentes, passadas e até futuras, elas podem estar próximas ou distantes, mortas ou vivas. Representa-se a si mesmo e a todos os membros do seu meio imediato do seu átomo social. Procura mostrar como atua em situações decisivas diante deles e como eles atuam nestas situações em relação a ele. Então, tenta mostrar como atua em situações chave. Procura reviver estas situações tão fielmente quanto possível. Apresenta a si mesmo de uma forma unilateral e subjetiva e apresenta diversas pessoas do seu meio, unilateral e subjetivamente, e não como elas são. Representa seu pai, sua mãe, seu irmão, sua esposa e qualquer membro do seu átomo social, com todo tendencionismo subjetivo. Representa e revive as correntes emocionais que enchem o átomo social. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). Átomo da Crise: O processo é igual ao do átomo social, mas com a seguinte frase: “Pensem nas pessoas que fazem parte deste tema (da crise, da dinâmica) que vocês estão trazendo. Imaginem que cada uma delas está sentada numa cadeira da sala. Falem para elas tudo que acharem que devem, que querem e que precisam falar”. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). Se for um casal, eles trazem o átomo da crise, isto é, as pessoas do conflito, e um por vez fala para cada uma das pessoas do átomo através da técnica da Cena de Descarga. Exemplo: Paciente: “Vou falar para meu sogro! ”Terapeuta: “Isto! Imagine que ele está sentado nesta cadeira e fale tudo que deseja para ele”. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). Os outros membros apenas ouvem e, quando for a vez deles, eles farão o mesmo. O terapeuta que conduz a conversa pode ajudar o paciente a fazer uma Cena de Descarga usando a Técnica do Duplo ajudando a falar coisas que o paciente já falou em outras sessões, mas neste momento não está conseguindo falar. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). 39 Cena de descarga: A Cena de Descarga é uma técnica sistematizada e desenvolvida por Victor R.C.S. Dias. Uma Cena de Descarga pode ser sobre uma situação que nunca tenha acontecido e que podem até não acontecer na vida do paciente, mas com o auxílio desta técnica, pode-se fazer com que ocorram e os objetivos daremos após a descrição das duas subdivisões desta técnica. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). Cena de Descarga Direta: é feita pelo próprio paciente estimulado pelo terapeuta, expressando e comunicando seus conteúdos internos para um personagem do seu mundo externo (relacional) ou para um personagem do seu mundo interno (intrapsíquico). Estes personagens podem ser representados por almofadas, cadeiras vazias, objetos da sala e, quando existe a possibilidade, para um ego-auxiliar. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). Cena de Descarga pelo Espelho: é feita pelo próprio terapeuta usando a técnica do espelho. O paciente fica com o papel de observador, enquanto a terapeuta expressa e comunica os conteúdos, contidos ou reprimidos, do paciente para personagens do seu mundo interno (intrapsíquico). Nestes casos, muitas vezes, o terapeuta acaba acoplando ao espelho conteúdos latentes (Técnica do Duplo), aumentando assim a eficiência da descarga. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). Tendo o objetivo de reduzir o superaquecimento do paciente pela exacerbação dos conteúdos internos e conseguir um mínimo de postura reflexiva para examiná-los. E evitar cargas transferenciais para o terapeuta, dirigindo o fluxo de conteúdo do paciente para personagens do seu mundo externo ou para figuras internalizadas em questão, e não para o terapeuta. (Coelho, Maria Lúcia Mendonça. 2000). 40 8 BIBLIOGRAFIA CESAR, Claudia cacau Furia. A vida das famílias e suas fases: desafios, mudançase ajustes. 2010. NORONHA, Maressa Maelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA. 2014 CARNEIRO, Terezinha Feres. Diferentes abordagens em terapia de casal: uma articulação possível? 2015. CARNEIRO, Terezinha Feres. Terapia familiar: das divergências às possibilidades de articulação dos diferentes enfoques. 2015 SANTIN Gisele; KLAFKE, Teresinha Eduardes. A família e o cuidado em saúde mental. 2011 ZORDAN, E. P; DELLATORRE, R; WIECZOREK, L. A ENTREVISTA NA TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS, MODELOS E TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO. 2012 ACQUAVIVA, Nira Lopes. As Entrevistas Iniciais em Terapia de Família. 2005. PEÇANHA, Raphael Fischer; Rangé, Bernard Pimentel. Terapia cognitivo- comportamental com casais: uma revisão. 2008 COELHO, Maria Lúcia Mendonça. Técnicas da Análise Psicodramática no atendimento de Casal e Família. 2000 COSTA, Crístofer Batista; DELATORRE, Marina Zanella; WAGNER, Adriana; MOSMANN, Clarisse Pereira. Terapia de Casal e Estratégias de Resolução de Conflito: Uma Revisão Sistemática. 2015
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