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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 EPISTEMOLOGIA DO PENSAMENTO SISTÊMICO E A TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA ............................................................................................... 4 2.1 A perspectiva do desenvolvimento familiar .......................................... 6 3 TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA E DE CASAL ....................................... 11 4 A ESCOLHA DO PARCEIRO ................................................................... 15 4.1 Aspectos gerais sobre casais ............................................................. 18 4.2 O significado do casamento ............................................................... 20 4.3 A conjugalidade e o amor romântico .................................................. 22 5 A FAMÍLIA DE ACORDO COM A TEORIA SISTÊMICA ........................... 24 5.1 Funcionamento e dinâmica familiar .................................................... 26 6 FATORES QUE PROVOCAM RESILIÊNCIA E/OU VULNERABILIDADE ÀS FAMÍLIAS ............................................................................................................ 29 6.1 Conflito no pós-divórcio ...................................................................... 31 6.2 Coparentalidade em situação de divórcio........................................... 36 7 O POSICIONAMENTO DO TERAPEUTA E CLIENTE NA VISÃO SISTÊMICA ............................................................................................................... 41 7.1 Características da intervenção da terapia familiar sistêmica .............. 47 7.2 Terapia Familiar, co-terapia, equipe terapêutica e técnicas de intervenção 50 7.3 Processo de terapia conjugal ............................................................. 52 8 Bibliografia ................................................................................................ 59 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 EPISTEMOLOGIA DO PENSAMENTO SISTÊMICO E A TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA Fonte: desenvolviver.com O pensamento sistêmico originou-se no período pós-Segunda Guerra Mundial do século XX como um paradigma alternativo associado à ciência tradicional. Segundo Vasconcellos (2002 apud BOING; 2012), o pensamento sistêmico significa compreender fenômenos complexos e suas relações no contexto, ao invés de encontrar relações simples de causa e efeito entre as partes. É uma série de desenvolvimentos teóricos e aplicado a partir de diferentes áreas do conhecimento, como denominador comum, o conceito de sistema é entendido como um “todo” cujas propriedades surgem da organização das relações entre as partes que o compõem. O pensamento sistêmico baseia-se na teoria geral dos sistemas, que se originou na biologia e propõe fórmulas gerais sobre a organização e função dos sistemas vivos, na cibernética, para compreender a existência de comportamentos autorreguladores por meio de feedback negativo e positivo, e estudar o controle e comunicação de máquinas e organismos dos seres vivos. Segundo Vasconcelos (2002 apud BOING; 2012), os pressupostos básicos do pensamento sistêmico são complexidade, instabilidade e intersubjetividade. 5 A complexidade sugere a necessidade de contextualizar os fenômenos e identificar a causalidade recursiva, contrariando a ideia de explicar os fenômenos pela simplificação da causalidade linear. Dado que fenômenos complexos devem ser imprevisíveis e incontroláveis, a instabilidade é caracterizada pela compreensão de que "o mundo está tomando forma". A intersubjetividade sugere que a realidade depende do observador, interfere nos fenômenos observados e participa da construção da realidade. Com base nesses pressupostos básicos, pode-se entender que a existência de interações ou relacionamentos entre os componentes do sistema é essencial para identificar a existência do sistema como uma entidade, distinguindo- o de simples agregações de partes independentes, BOING; (2012). Conforme a epistemologia do pensamento sistêmico sustenta estudos e pesquisas em múltiplas áreas do conhecimento e, no campo da psicologia, sustenta a abordagem da terapia familiar sistêmica. Segundo Papp (1992 apud BOING; 2012), os terapeutas familiares cujo trabalho é baseado no pensamento sistêmico entendem que nenhum evento ou parte do comportamento leva a outro evento ou parte do comportamento, mas está ligado a muitos outros comportamentos de forma circular. Para Minuchin (1982 apud BOING; 2012), a terapia familiar concebe o ser humano como um membro ativo e reativo aos outros seres humanos e aos grupos sociais, não como um ser isolado. Adolfi (1996 apud BOING; 2012) considera os seguintes aspectos relevantes para a aplicação da compreensão sistêmica à família e à terapia familiar: a família como sistema transformar-se e abrir-se continuamente para atender aos requisitos das diferentes etapas do seu ciclo de desenvolvimento, a propensão de equilíbrio homeostático e a capacidade transformadora da família, que possibilita a contradição dando continuidade para o desenvolvimento do crescimento psicossocial de cada membro e de todo o sistema familiar, e também podemos dizer que a família é um sistema autorregulado onde as tensões internas ou externas podem causar um impacto de tal maneira, que os membros da família precisam se adaptar. Nesse sentido, o trabalho do terapeuta relacional com a família torna-se uma narração, um tipo de texto que o terapeuta relacional e a família contribuem para escrever. Isto consiste em criar um contexto de escuta e acentuar as capacidades que os indivíduos têm de dialogar com o objetivo de criar um novo enquadramento e gerar uma nova perspectiva (ANDOLFI, 1996, p.13 apud BOING; 2012). 6 Essa maneira de perceber a família e a terapia familiar, de acordo com uma estrutura sistemática, permite que os terapeutas analisem as relações, processos e contextos em que as crenças e valores familiares surgem, mantêm e se transformam. Dessa forma, a terapia familiar é considerada a prática do cliente e do terapeuta trabalhando juntos para construir mudanças a fim de restaurar o funcionamento do sistema familiar, BOING; (2012). 2.1 A perspectiva do desenvolvimento familiar A pesquisa que integra o ciclo vital familiar com o desenvolvimento humano sempre foi foco de pesquisas na perspectiva do desenvolvimento familiar. Este campo da psicologia estuda as famílias ao longo do ciclo de vida familiar, o foco é na estrutura e dinâmica familiar, bem como nas funções e tarefas que a família deve desempenhar em cada estágio, dependendo do período específico de desenvolvimento como grupo e do desenvolvimento individual de seus membros. (Kreppner, 2000; Kreppner & Von Eye, 1989; Carter & McGoldrick, 1995; Dessen, 1997;Dessen & Lewis, 1998 apud WENDT; 2006). A perspectiva do desenvolvimento familiar e a perspectiva bioecológica são derivadas da teoria de sistemas e são amplamente utilizadas no campo da terapia familiar (Minuchin, 1982; Andolfi, Angelo, Menghi & Nicolo-Corigliano, 1984; Papp, 1992; Carter e McGoldrick, 1995; Vasconcellos, 2002 apud WENDT; 2006). A partir do final da década de 1970, tornou-se comum a necessidade de uma perspectiva ecossistêmica para compreender o desenvolvimento humano e as interações familiares (Feiring & Lewis, 1978; Belsky & Russell, 1985; Bronfenbrenner, 1986; Minuchin, 1982; Minuchin, 1985; Minuchin, Colapinto e Minuchin, 1999; Desen, 1992; Desen e Lewis, 1998; Cowan e Hetherington, 1991; Kreppner, 2000 apud WENDT; 2006). Para Minuchin (1985 apud WENDT; 2006), a terapia familiar e a psicologia do desenvolvimento são semelhantes, pois as duas veem a família como o principal foco para a compreensão do comportamento humano e disponibiliza um meio de conceituar a relação entre indivíduo e a família. Os autores argumentam que alguns princípios da teoria dos sistemas são particularmente consideráveis para as pesquisas 7 de desenvolvimento e resultam em alterações induzindo em mudança na forma tradicional de pensar sobre o desenvolvimento humano, incluindo: Qualquer sistema é um todo organizado, e elementos dentro do sistema são necessariamente interdependentes: este princípio sustenta que os dados relacionados aos elementos coletados fora da circunstância são fragmentados e inválidos. No campo de pesquisa, o contexto está se referindo ao potencial que este tem no sentido de dados e na significação, como no desenvolvimento de diferentes e possíveis leituras dessa dimensão e representação dos mesmos. (Moré e Crepaldi, 2004 apud WENDT; 2006). Feiring e Lewis (1978 apud WENDT; 2006) e Minuchin (1985 apud WENDT; 2006) ressaltam que a família é o contexto mais importante para a compreensão do funcionamento humano, e suas pesquisas se concentram em padrões de relacionamentos que se desenvolvem e se mantêm dentro da família ao longo do tempo, enquanto Bronfenbrenner (1986 apud WENDT; 2006) se concentra em influências do ambiente externo e sobre esses padrões. Esses padrões estabelecem o desenvolvimento e o comportamento dos membros do sistema familiar, de tal forma que nenhum deles podem ser entendidos ou estabelecidos como verdadeiramente independente, mas como sujeitos que precisam ser vistos e visualizados dentro do contexto. Os padrões em um sistema são prioritariamente circulares: Do ponto de vista dos sistemas, os modelos de interação envolvem um ciclo de feedback recursivo no qual, cada elemento influencia um ao outro e é influenciado pelo outro. Assim, as interações entre os dois os elementos da família são influenciadas por interações envolvendo outros membros da família, WENDT; (2006). 8 Os sistemas têm fatores homeostáticos que mantêm a estabilidade de seus padrões: Corrigir comportamentos que diferem daqueles esperados pelos padrões familiares por meio de feedback corretivo que re-estabiliza o equilíbrio familiar e permite relações estáveis entre os membros e entre eles e o meio ambiente. Esses processos fazem parte da autorregulação familiar e são amplamente adaptativos. O conceito de homeostase também afeta os indivíduos quando aplicado aos sistemas familiares. Isso porque a regulação de certas características pessoais – por exemplo, a autonomia de uma criança – pode ser um fator homeostático na família, várias ações de diferentes pessoas manterão essas características dentro dos limites sem colocar o sistema em risco, protegendo-o de mudanças que possam atrapalhar sua organização. Evolução e mudança são inerentes aos sistemas abertos: Os lares familiares são descritos como sistemas abertos, ou seja, sistemas em constante troca com o seu entorno, onde a mudança e a reorganização fazem parte do ciclo de vida. Essa mudança é caracterizada por uma reorganização na qual, todos os membros do sistema participam, porque uma mudança em uma parte do sistema pode afetar todas as outras partes e todo o sistema. Desta forma, o ciclo de vida pessoal e o ciclo de vida familiar se cruzam de maneiras complexas. Sistemas complexos são compostos de subsistemas: De acordo com Minucia (1985 apud WENDT; 2006), cada sujeito pode ser considerado um subsistema. No entanto, a terapia familiar tem a sua atenção voltada para as unidades maiores, como por exemplo o subsistema parental (mãe-pai), o subsistema da relação conjugal (esposo- mulher que, no caso de famílias divorciadas e recasadas, podem incluir indivíduos distintos do subsistema parental), subsistema feminino, subsistema masculino, subsistema 9 avós-netos e subsistema fraterno (irmãos), subsistema pais-filhos (pai e filhos ou mãe e filhos) e outros. De acordo com Feiring e Lewis (1978 apud WENDT; 2006), entender os subsistemas não é suficiente para entender o funcionamento de todo o sistema, porque a natureza das interações dentro dos subsistemas é significativamente diferente de quando os participantes dos subsistemas estão sozinhos, de quando outro membro da família está presente. Dessen (1992 apud WENDT; 2006) enfatizou que os relacionamentos em cada subsistema são únicos e é necessário comparar o processo de estabelecimento e modificação do esquema relacional em cada subsistema. Os subsistemas inseridos num sistema mais amplo são separados por fronteiras e as interações por meio das fronteiras são governadas por regras e padrões implícitos: Os subsistemas são metaforicamente separados por limites e fronteiras, que se referem ás regras e processos entre os subsistemas em relação ao ambiente familiar. As interações humanas com e entre os subsistemas são reguladas por padrões repetitivos e estáveis que são criados e sustentados por todos os membros participantes e mudam com passar do tempo devido a fatores externos ou de desenvolvimento. Além do mais, considera-se a família como um sistema que é interligada a uma rede social mais ampla, que pode afetar positiva ou negativamente o funcionamento dentro da família. Nesta pesquisa, adota-se a concepção de família de Andolfi et al (1984, p. 18 apud WENDT; 2006) que resume os princípios expostos por Minuchin aqui apresentados afirmando que a família é um sistema ativo em constante transformação, que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes. Esse processo dual de continuidade e crescimento permite o desenvolvimento da família como unidade e, ao mesmo tempo, assegura a diferenciação de seus membros. A necessidade de diferenciação, entendida como a necessidade de autoexpressão de cada indivíduo, funde-se com a necessidade de coesão e manutenção da unidade no grupo com o passar do tempo. 10 Quando transferidos para o campo do desenvolvimento infantil, os seis princípios-chaves mencionados acima, provocaram algumas mudanças, principalmente no que diz respeito ao conceito de desenvolvimento, à definição de unidades de análise, à compreensão dos períodos de transição etc. (Minuchin, 1985 apud WENDT; 2006). Dessa forma, o conceito de desenvolvimento na perspectiva ecossistêmica é diferente da perspectiva tradicional, que vê o desenvolvimento como um processo que perpassa todo o ciclo de vida, no qual nenhuma etapa é mais crítica ou proeminente na geração de mudanças e do desenvolvimento, (Hetherington e Baltes, 1988 apud WENDT; 2006). De acordo com os autores, durante o processo de desenvolvimento, o ser humano vivencia períodos sensíveis em que o organismo é particularmente responsivo a determinados tipos de experiências, ou durante os quais a solução de um conjunto de tarefas do desenvolvimento se mostra maisadequada e o ajuda a enfrentar a necessidade subsequentes demandas do seu desenvolvimento, WENDT; (2006). De acordo com Parke (1988 apud WENDT; 2006), múltiplas trajetórias de desenvolvimento coexistem nas famílias, e estas precisam ser consideradas em conjunto para que possam ser visualizadas as trajetórias afetadas pelas mudanças no desenvolvimento infantil e também as que são afetadas pelas mudanças nas trajetórias de desenvolvimento do adulto. Conforme os autores, respeitar a instituição familiar é considerar como um grupo que se desenvolve simultaneamente requer focalizar os indivíduos dentro do sistema familiar como um todo e reconhecer as inter-relações entre as subunidades dentro do sistema familiar, como as díades e tríades do grupo familiar, WENDT; (2006). 11 3 TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA E DE CASAL Fonte: minutopsicologia.com.br A terapia familiar é um método psicoterapêutico utilizado como intervenção em terapia combinada com vários elementos do sistema parental. No que diz respeito à terapia familiar, Sampaio (1984 apud ARAUJO; 2017) aponta que não se trata de psicoterapia para grupos familiares, mas para famílias, ou seja, focando principalmente no modo de parentalidade, ao invés de ser para ajustar a família a uma definição predeterminada. A terapia de casal pode ser vista como um caso especial de psicoterapia familiar. Para Lemaire (1982 apud ARAUJO; 2017), as indicações para terapia de casal estão relacionadas principalmente quando há um padrão de funcionamento conjugal em que a codificação entre os casais se torna mais complexa, e eles funcionam de forma simbiótica ou, inversamente, se protegem fortemente de tudo que possa ameaçar o comportamento simbiótico. Na terapia familiar, o conceito de família é amplamente utilizado e inclui todos os elementos importantes do contexto em que se insere a intervenção. Concentra – se no centro familiar, porque pode intervir na família, mas também porque vê a família como uma unidade importante e duradoura que reconhece a importância do indivíduo. Devido ao relacionamento, em relação aos aspectos biológicos, emocionais que o caracterizam, e por fim as regras específicas que regem seu relacionamento. Machado (2012 apud ARAUJO; 2017) afirma que as intervenções da terapia familiar 12 sistêmica são baseadas na família como um sistema, constituído por elementos interdependentes e que se reforçam mutuamente. Segundo Guntern (1982 apud ARAUJO; 2017), ele pode resumir os princípios básicos e fundamentais da terapia familiar sistêmica em Família é um sistema aberto, em relação dinâmica com a comunidade circundante. Através de duas tendências fundamentais: a tendência para a homeostasia, através da qual mantêm o seu equilíbrio; e a propensão para a transformação, pela qual o grupo familiar desenvolve processos de adaptação e mudança no decurso das suas crises regulares (formação do casal, nascimento dos filhos, adolescência e saída de casa destes, velhice, morte, etc.). Existem famílias dotadas de grande tendência homeostática e pequena capacidade de transformação que justamente não são capazes de modificar seu modo de funcionamento e propiciam o terreno frágil para a formação de sintomas psicológicos. Os subsistemas dentro da família (por exemplo, o subsistema parental) são definidos pelos seus limites e existem regras de funcionamento intrafamiliares que decidem as tarefas. A família hoje pode ser vista, como um sistema equilibrado, e é o acordo de funcionamento familiar que mantém esse equilíbrio. Quando, por algum motivo, esses protocolos são quebrados, entram em jogo meta-regras, que são normas previamente impostas para restabelecer o equilíbrio perdido. As terapias desenvolvidas a partir desta abordagem ressaltam as mudanças no sistema familiar, e se dão principalmente por meio da reorganização da comunicação entre os membros da família, (GUNTERN,1982 apud ARAUJO; 2017). Assim, para Guntern (1982 apud ARAUJO; 2017 apud ARAUJO; 2017), o sistema familiar é afetado pela mudança social como parte de um conjunto maior. As vitórias das mulheres facilitaram muitas mudanças na estrutura familiar, e essas conquistas colocaram em questão a estrutura tradicional em que os homens eram as figuras de autoridade, pois, as mulheres lutavam por mais autonomia para tomar suas próprias decisões, e é a partir daí, que novos arranjos familiares se tornam possíveis. No entanto, na visão de Carneiro (1996 apud ARAUJO; 2017), o passado é descartado como questão central, uma vez que o foco está nos padrões de comunicação atuais. Quando se considera que a família tem organização e estrutura, a unidade de tratamento, passa de duas para três ou mais. O ponto é parte da analogia o sistema é relativo a outras partes, então a comunicação analógica é mais valorizada do que a comunicação digital. Carneiro também enfatiza que os terapeutas sistêmicos evitam explicações porque acreditam que novas experiências – no sentido de novos comportamentos que levam a mudanças no sistema familiar – são responsáveis pelas mudanças. Nesta 13 lógica, o uso de prescrições em sessões de terapia para alterar padrões de comunicação e resoluções fora da sessão pretende estimular uma gama de comportamento de comunicação em grupos familiares. Há uma relevância de uma concentração com o problema atual, mas não é apenas um sintoma, ARAUJO; (2017). Quando existe um elemento portador de um sintoma psicológico, deve ser considerado no seu contexto familiar e social, como sinal de uma instabilidade no sistema. Este elemento é tratado em sessões conjuntas com a sua família e/ou elementos significativos do seu universo relacional. Como foi afirmado anteriormente não se trata de uma terapia individual perturbada pela presença de outras pessoas, porque a epistemologia usada deve ser radicalmente diferente; (BLOCH & RAMBO, (1995/1998); NICHOLS & SCHWARTZ, 2007 apud ARAUJO; 2017). Esses conceitos permanecem uma referência em todas as discussões e desenvolvimentos teóricos posteriores em Bloch & Rambo (1995/1998 apud ARAUJO; 2017). Por este ângulo, vale a pena mencionar uma formulação teórica inicial que teve forte influência na interpretação da dinâmica familiar, nomeadamente em função dos sintomas. Os sintomas presentes nos familiares podem ter a função de estabilizar o movimento de mudanças iminentes, restabelecendo assim a homeostase anterior (equilíbrio). O comportamento sintomático é visto como uma resposta necessária e apropriada ao se envolver em uma comunicação que é psicologicamente prejudicial para a família e todo o sistema, (MACHADO, 2012 apud ARAUJO; 2017). Assim, o sintoma teria uma função homeostática, que fez com que se buscasse olhar o fenômeno muito além da queixa individual. Poderíamos dizer que o sintoma beneficiaria a interação familiar (NICHOLS & SCHWARTZ, 2007 apud ARAUJO; 2017). Deste modo, Neuburger (1988 apud ARAUJO; 2017) resumiu essa posição numa sentença: um membro familiar tem um sintoma, ele pertence à família. Segundo Neuburger (1988 apud ARAUJO; 2017), essa visão conceitual é bastante antiga na atualidade, pois entre eles se estabelecem causalidade e competição. O aparecimento dos sintomas e suas funções reguladoras podem levar a posturas de confronto entre terapeutas e familiares. Os terapeutas hoje estão mais preocupados em construir relacionamentos mais colaborativos com o sistema. 14 Neste ponto de vista, o objetivo da Terapia Bowen é reduzir o foco nos sintomas e aprofundar a motivação do processo familiar. Um importante efeito terapêutico é incentivar os membros da família a valorizar o caminho da autodescoberta. Assim, Bowen (1976 apud ARAUJO; 2017) argumenta que as relações interpessoais são estimuladas por duas forças equilibradas: a individualidade e a proximidade. As dificuldades surgem quando as famílias se polarizam emum desses fatores. De acordo com o que foi exposto acima, são analisados e observados tais fatores nos processos terapêuticos, fatores esses como: diferenciação do "eu" (revisado acima), triângulo emocional, (onde Bowen está muito preocupado e intensificado com o terapeuta para não ser triangulado pela família), família nuclear, métodos de projeção parental, procedimentos de transmissão multigeracional, posição de nascimento do irmão, interrupção do processamento emocional e social, ARAUJO; (2017). Na terapia familiar de Bowen, podemos dizer que um de seus principais objetivos abrangentes é dar às pessoas a oportunidade de aprender mais sobre si mesmas e seus relacionamentos, para que possam assumir a responsabilidade por suas ações. Assim sendo, Bowen (1976 apud ARAUJO; 2017) acrescenta que é necessária uma atenção redobrada ao processo e à estrutura familiar. Esses processos envolvem padrões de respostas emocionais e a estrutura de redes triangulares interligadas. Mais especificamente, na terapia de casais, os objetivos principais são baseados em aumentar o foco em "eu", reduzindo as respostas emocionais e modificar padrões disfuncionais. A terapia familiar de Bowen ajuda os familiares e cônjuges a enfrentar suas limitações e possibilidades, avaliá-las por meio de perguntas reflexivas e investir em ferramentas tecnológicas, como o uso de mapas genéticos. Para Bowen, é uma forma de avaliação na terapia. (Bowen valoriza o legado familiar e seu impacto na família.), ARAUJO; (2017). 15 4 A ESCOLHA DO PARCEIRO Fonte: saudebemestar.pt Não existe possibilidade de casar com o outro, se não casarmos antes com nós mesmos. Conjugar o verbo amar exige capacidade extremamente complexa de, ao legitimar-se na própria singularidade, legitimar a existência do outro. (COLOMBO, 2006, p.35 apud BÚRIGO; 2010). A paixão é uma das muitas maneiras de iniciar um relacionamento amoroso e, uma vez bem-sucedida, pode se transformar em um relacionamento mais sério. As pessoas muitas vezes se perguntam o que faz uma pessoa se apaixonar de repente ser tão intenso por alguém que você não conhece bem, ou melhor, intimamente. Esta escolha, ostensivamente livre e espontânea, compreende-se essencialmente ao longo da vida, no quotidiano do casal, BÚRIGO; (2010). Segundo Pincus & Dare (1981, p.36 apud BÚRIGO; 2010), essa seleção de parceiros acontece de forma rápida, e por ser "baseada em conhecimento consciente relativamente pequeno, à medida que se torna aparente, requer complementaridade e ajuste de personalidade". Ângelo (1995 apud BÚRIGO; 2010) apontou que essa escolha ocorre com "atenção seletiva" ou "desatenção seletiva", dependendo se é importante ou não importante para o indivíduo. A escolha do parceiro expressa um jogo extremamente sutil e sofisticado, em que a atenção culturalmente induzida para perceber elementos específicos de interesse no aspecto ou comportamento de determinada pessoa é acompanhada de uma “desatenção” igualmente seletiva por todos os elementos de seu caráter e do relacionamento com essa pessoa que poderia tornar a relação problemática. (p.47). 16 Outro mecanismo identificado como influenciador na escolha do parceiro é o chamado mecanismo de projeção, no qual os indivíduos atribuem sentimentos e pensamentos internos a pessoas e objetos. Esses processos são normais em todos os relacionamentos, principalmente naqueles mais ligados emocionalmente. De acordo com R. D. Laing (apud PINCUS & DARE, 1981, p.37 apud BÚRIGO; 2010), "Cada parceiro se esforça para encontrar o outro, ou induzir o outro a se tornar parceiro e cooperar um com o outro, seja personificação de alguém que precisa de cooperação para complementar a identidade que sente obrigado a manter". Visto isso, a escolha do parceiro pode ser também motivada pela família de origem ou família extensa e seus padrões funcionais. Por várias razões, algumas pessoas procuram um parceiro com história, cultura e núcleo familiar semelhantes, enquanto outras escolhem alguém com cultura, história de vida e família opostas. Essas regras opostas que parecem governar a escolha do parceiro são referidas por Miermont (1994 apud BÚRIGO; 2010) como “o semelhante atrai o semelhante” e heterogamia “os opostos se atraem”. Conforme Eiguer (apud MIERMONT, 1994 apud BÚRIGO; 2010), a escolha do parceiro é o organizador da relação familiar. De acordo com isso, Angelo (1995, p.49 apud BÚRIGO; 2010) defende que "quanto menos elementos de conflito não resolvido na família de origem, mais "livre" é a escolha dos parceiros, no sentido de que há muito menos necessidade de obrigações, proibições, vincular-se a um tipo "específico" de parceiro". Existem outras razões pelas quais as pessoas se interessam e escolhem seus parceiros. Além da bagagem herdada da família de origem e da própria história, a escolha do parceiro também é influenciada por outros fatores, como o momento do ciclo vital, o contexto e o momento dos encontros e relacionamentos. Assim, para Angelo (1995 apud BÚRIGO; 2010), as estruturas que levam os indivíduos a escolherem um parceiro podem mudar ao longo do tempo. Muitas variáveis conscientes e inconscientes influenciam o processo de escolha de um parceiro, como atração física, projeções, origem familiar, momentos do ciclo vital, etc., no entanto, para Bowen (1991 apud BÚRIGO; 2010), os indivíduos escolhem parceiros com o mesmo nível de maturidade, ou seja, com o mesmo grau de diferenciação que eles próprios. 17 O casamento é, em geral, uma aliança entre dois parceiros que partilham o mesmo nível de diferenciação. Quanto mais baixo for o nível, mais fusional será o casal e mais a relação correrá o risco de ser patológica. A patologia do casal manifesta-se sob a forma de conflitos insolúveis e costuma traduzir- se pela presença de sintomas em um dos parceiros. (BOWEN apud MIERMONT, 1994, p.121 apud BÚRIGO; 2010). Pincus & Dare (1981 apud BÚRIGO; 2010) apontaram que, como seu princípio abrangente em seu estudo do casamento, assim como na escolha de um parceiro, as motivações que levam as pessoas a se casarem são muitas vezes inconscientes. Além do mais, eles alegam que, quando se pergunta diretamente a um casal por que escolheu essa pessoa para se casar, raramente é possível obter razões convincentes para a escolha ou a natureza do casamento. Quando duas pessoas escolhem se casar, elas unem vidas de duas culturas, crenças e histórias familiares diferentes. Parte do desafio do casamento, no entanto, é fazer com que ambos aprendam e vivam com toda a bagagem de seu parceiro e construam os valores, crenças e histórias dessa nova família ao longo do relacionamento, BÚRIGO; (2010). Fundamentalmente, o casal é capaz de ver essas personalidades e “escolher” o que elas podem reutilizar para se tornar parte de nós e o que não combina mais com elas. É a isso que Pontes (2006 apud BÚRIGO; 2010) se refere como “a carne do casal”, definida por um conjunto de fatores que conectam os cônjuges, ainda que ambas as partes consigam manter suas respectivas silhuetas. Para tanto, é muito importante que o casal, tenha sua privacidade e seu espaço físico que lhes permita a liberdade de se adaptar à nova situação. A formação de um casal envolve uma fase de adaptação mútua que inclui "fazer regras sobre a intimidade conjugal, padrões de cooperação nas tarefas domésticas, frequência das relações sexuais, estabelecimento de limites ou limitações com parentes e amigos, etc.". (DUQUE, 1996, p.79 apud BÚRIGO; 2010). Vários autores (MC GOLDRICK, 1995; CERVENY, 1998, etc. apud BÚRIGO; 2010) defendem que o casamento é um processo natural do ciclo vital familiar em que falando pelo lado da teoria, os cônjuges são separados da família de origem para que possam seguir seu próprio caminho. Essa é a uma nova situação para ambos, não só para os recém-casados, mas tambémpara suas famílias, que precisam se ajustar à ideia de que um filho ou filha não faz mais parte do núcleo familiar. 18 Essa nova adaptação é necessária para que a família possa respeitar a privacidade e o território do casal para que eles não interfiram demais em suas vidas. Dessa forma, a identidade conjugal só é possível a partir do momento em que ambas as partes superam a apatia e algum grau de separação – individuação. Caso contrário, o casal vai continuar mantendo as suas respectivas famílias de origem, apud BÚRIGO; (2010). 4.1 Aspectos gerais sobre casais As mudanças aconteceram nas relações familiares e consequentes relações conjugais com o passar dos anos. Tendo como exemplo: a entrada da mulher no mercado de trabalho, mudanças econômicas, o crescimento dos papéis de gênero, possibilidade de constituição de diversidade entre os cônjuges (novas formas conjugais), não obrigatoriedade de sindicalização formal, direito ao divórcio e a valorização do crescimento pessoal. De acordo com esses e entre outros fatores, podem levar a mudança do indivíduo e suas percepções em relação a família e casamento, influenciando a qualidade e satisfação conjugal. (COMIN; SANTOS; SILVA, 2016; ROSADO, 2014 apud BASTOS; 2018). Em termos de papéis de gênero, maridos e esposas tradicionais têm uma divisão de trabalho, como por exemplo, o homem responsável pela economia e a mulher responsável pelo trabalho doméstico, cuidando dos filhos e sendo submissa ao marido, entretanto, já é possível perceber o crescimento de casais de dupla carreira, onde ambos os cônjuges têm emprego, renda própria, e até mesmo casais que não trabalham, como casais mais velhos e aposentados ou sustentados por pais de filhos mais novos. (MONTEIRO, 2001 apud BASTOS; 2018). Dados da literatura apontam que já é possível identificar pesquisas e estudos que relatem sobre os novos formatos de casais, tais como: homoafetivos (gays, lésbicas); casais heterossexuais que não tem filhos; casamentos informais (união estável); casais que moram ou não na mesma residência, assim como também há casais que moram em cidades distintas (ROSADO, 2014). Quanto à possibilidade no processo do divórcio, o mesmo poderá acarretar sofrimento psíquico para os cônjuges, como para os filhos e as suas famílias extensas e irá demandar de todos os envolvidos uma reorganização do sistema familiar (ZORDAN; WAGNER; MOSMANN, 2012 apud BASTOS; 2018). 19 As taxas crescentes de recasamento indicam que os indivíduos estão ansiosos para buscar uma união satisfatória, o que pode indicar que, se continuarem seu relacionamento sem sucesso, acabaram de trocar de parceiro e podem repetir os motivos do término do relacionamento anterior, o que leva à importância de os casais desenvolverem um trabalho que os ajude a manter o relacionamento e, assim, a satisfação conjugal (ZORDAN; WAGNER; MOSMANN, 2012 apud BASTOS; 2018). Uma relação afetiva amorosa pode contribuir para o crescimento pessoal de uma pessoa, de acordo com isso, pode proporcionar mais autonomia para o casal, maturidade e estabilidade para ambas as partes, da mesma forma que poderá também oferecer espaços para os conflitos (COMIN; SANTOS; SILVA, 2016 apud BASTOS; 2018). Pesquisas mostram que maior satisfação com um relacionamento está associada a maior satisfação com a própria vida; demonstrando que quando os casais se unem, conseguem compartilhar ideias e projetos de vida, tomar decisões em conjunto, utilizar estratégias de resolução de conflitos e outras atitudes, o que indicou um aumento do nível de satisfação conjugal (COSTA; MOSMANN, 2015 apud BASTOS; 2018). Para Comin e Santos (2010 apud BASTOS; 2018), os casais contemporâneos têm que lidar com suas personalidades e o desenvolvimento de seu relacionamento conjugal, as particularidades dos cônjuges em conjunto moldam a relação conjugal, mas a valorização da personalidade do outro pode enfraquecer ou fortalecer a relação, ao contrário o que o indivíduo pode estar fazendo por outro abre mão de sua personalidade. No entanto, vale ressaltar que nenhum dos parceiros pode lidar facilmente com esses fatores, por isso é importante que os casais mantenham um equilíbrio entre esses dois aspectos do relacionamento. Os cônjuges entendem que o casamento é pessoal e subjetivo para todos, mas também são influenciados pela família de origem, alguns fatores aprendidos sobre o casamento, como comida, trabalho, sono, conversas, discussões e sexo. Além dessa nova forma de relacionamento conjugal, os dois mantêm suas relações familiares de origem, amizades e vida social. (SCHMIDT et al, 2015 apud BASTOS; 2018). 20 4.2 O significado do casamento Na maioria das sociedades, falar sobre casamento é algo estabelecido e rotineiro ao longo do desenvolvimento de uma pessoa, mas o significado desse evento mudou ao longo do tempo. Essa mudança pode estar relacionada às mudanças nos papéis das mulheres e à crescente diversidade de nossa cultura. Muitas pessoas optam por morar juntas ou viver com vários parceiros sem nenhum compromisso antes do casamento, MARTINS; (2016). Outros se casam cedo, motivados por diversos motivos, um dos quais pode ser: sair de casa ou adiar essa decisão por causa da tensão entre carreira e casamento. Além do mais, eles também podem optar por se casar mais tarde, porque, têm um exemplo negativo de casamento em casa ou simplesmente porque preferem morar sozinhos, MARTINS; (2016). Embora seja cada vez mais comum adiar o casamento, muitos ainda se casam e têm filhos antes dos 30 anos,(Mcgoldrick, 1995 apud MARTINS; 2016). McGoldrick (1995 apud MARTINS; 2016) destacou que os casais devem se atentar à cerimônia de casamento, mesmo que simples e sem grandes comemorações, mesmo aqueles que vivem em juntos por alguns anos. As celebrações podem ajudar os casais a fazer a transição e a se ajustar a uma nova etapa do ciclo de vida, e também podem ajudá-los a entender melhor as dificuldades futuras do casal em relação aos próximos estágios. As cerimônias de casamento mudaram um pouco, tradicionais e estáticas, e hoje os casais podem criar o que acharem melhor para a situação. Entre algumas mudanças, o culto religioso deixou de ser obrigatório, o significado da roupa branca mudou, o uso do véu é uma opção, as flores na cabeça deixaram de ser um ritual, entre outras coisas. (Mcgoldrick, 1995 apud MARTINS; 2016). Além de tudo, é necessário que os casais reconheçam que o casamento é um evento típico e familiar, e as questões emocionais dos pais muitas vezes devem ser consideradas, mesmo que muitas decisões rituais sejam tomadas pelo próprio casal. A repercussão emocional, tende a ser maior quando acontece de a criança ser filho (a) único (a), ou pode acontecer também quando o casal possui apenas uma filha dentre os outros filhos. De acordo com isso, ainda existem situações em que pais repetem as suas histórias no casamento dos filhos, ou seja, como tradição de família celebrar com o mesmo formato de cerimônia em que escolheram para eles. Algumas 21 pessoas, porque não tiveram a oportunidade quando eram jovens, dessa forma, os pais ficam na expectativa de experimentar isso com seus filhos, mesmo que eles não sonhem em organizar uma festa ou uma celebração tradicional, (Mcgoldrick, 1995 apud MARTINS; 2016). A transição de marido e mulher é uma tarefa assustadora, porque está acontecendo em meio a uma mudança complexa, mas muitos acreditam que casar oficialmente no papel significa menos dificuldade, e que a sensação de solidão desaparece. (Mcgoldrick, 1995; Minuchin, 1982; Cruz, 2006 apud MARTINS; 2016). Com isso em mente, muitos casais desenvolvem rapport, ou seja, estabelecem uma relação fusional, onde um parceiro tem expectativas muito altas do outro, e não cumpri-las pode causar dor e sofrimento. No entanto, é preciso ver o casamento como umlugar de crescimento pessoal e não moldar os outros à sua vontade, (Cruz, 2006 apud MARTINS; 2016). É importante saber que, não se deve assumir responsabilidade por outra pessoa ou se sentir culpado por sentimentos ou falhas que não lhe pertencem, e o cônjuge não deve ser culpado por não responder. Visto que, quando se assumi uma união é fato que quando há parceria e complementaridade, são evitadas várias áreas de tensão e isso leva o casal ter flexibilidade em suas relações, estimulando a comunicação, (Mcgoldrick, 1995 apud MARTINS; 2016). As pessoas muitas vezes pensam que forneceram afeto suficiente umas às outras e reclamam que estão recebendo tão pouco. Para que sejam bem compreendidos, é preciso companhia, respeito ao espaço pessoal e evitar que o outro conheça a vida, as necessidades, os conflitos e os sentimentos do outro. O desafio maior não é o de encontrar o parceiro (a) perfeito (a), mas construir o melhor relacionamento possível e saudável com aquele que escolhe amar para sempre, (Cruz, 2006 apud MARTINS; 2016). Parece que todos querem encontrar a qualidade de seu relacionamento amoroso, mas para isso, o casal deve ser capaz de se distinguir da família de origem e entender que seus papéis serão alterados e negociados com os demais membros, (Montoro, 2006 apud MARTINS; 2016). 22 4.3 A conjugalidade e o amor romântico O termo relacionado a relação conjugal ou conjugalidade é definido como uma relação entre pessoas que estão unidas com o propósito de viverem juntas, e é chamado de cônjuge. Quando se faz a análise da palavra cônjuge, conforme o dicionário Aurélio a mesma tem a sua origem do latim, dessa forma, o prefixo con dá- se a noção de um com o outro e o sufixo juge faz a ligação ou união. Os casamentos contemporâneos podem ser estabelecidos de diversas formas, com ampla variedade de configurações possíveis do núcleo familiar, MARTINS; (2016). Existem os casais que são do gênero masculinos e femininos, aqueles casais do mesmo sexo, outros que são maduros que reorganizaram suas famílias e também os casais em que um é adolescente e o outro é um casal de meia-idade. De forma geral, as relações conjugais se caracterizam com o mesmo objetivo de vida: desenvolver e construir uma vida a dois, objetivos, compartilhar os sonhos, e aumentar a familiar com a chegada de um filho (a), (CERVENY, 2010 apud MARTINS; 2016). Nesse caso, o casamento continua sendo o sonho de muitos, seja uma união consensual ou um relacionamento firmado em cartório e consagrado em uma igreja. Segundo Wagner (2011, p. 11 apud MARTINS; 2016), “as razões para a escolha da vida conjugal incluem “a busca pela satisfação dos desejos e atração pessoais, sexo, amor, maternidade e a consolidação da identidade como fatores motivacionais para a construção do relacionamento conjugal”. O amor torna-se um sentimento usualmente presente dentro das relações conjugais, e pode ser definido em termos de dicionários ou publicações científicas (Goldenson, 1970; Gregory, 1988 apud MARTINS; 2016), como um sentimento de cuidar, proteger, preocupar e desejar estar perto de um ente querido. O amor romântico permeia nossas vidas desde que nascemos, através de histórias, filmes, livros e músicas que muitas vezes colocam esse tema no centro de nossa existência. Idealizado no casamento, entende que o casamento é como uma solução para a solidão, desamparo, e representa uma mudança de vida onde tudo o que se espera é a felicidade levando a uma “ (quase plenitude) ”, sem espaço para as últimas dificuldades inerentes a qualquer mudança de vida, MARTINS; (2016). 23 As pessoas esperam maior satisfação, e muitas pessoas "apostam todas as fichas" no relacionamento, esperando que ele satisfaça quase todas as suas necessidades emocionais. Na união de duas pessoas, o acordo é necessário, arranjos, a serem decididos pela família de origem antes da união. Desde horários, férias, como lidar com o dinheiro até como viver com sua família, MARTINS; (2016). A construção da identidade conjugal é influenciada por fatores como a história de cada pessoa, parentesco e diferenças culturais. O equilíbrio de relacionamento que os novos casais formam, ocorrem quando eles percebem diferenças emocionais de suas famílias de origem e diferenças emocionais como indivíduos e como casal, (CERVENY, 2010 apud MARTINS; 2016). Na visão de Furtado (2008 apud MARTINS; 2016), o amor assumiria diversas formas, dentre elas o amor conjugal, definido como entrega apaixonada de si, desejo sexual e amizade seletiva. Saarni (1999 apud MACHADO, 2007 apud MARTINS; 2016), destaca que os seres humanos buscam relacionamentos significativos para experimentar sentimentos tais como os de amor e intimidade. É nessa busca que o casamento surge como uma possibilidade. Esse tipo de união é bastante cultivado em nossa cultura, seja pela profundidade e intimidade proporcionadas, seja pela companhia e pela autoafirmação advindas da relação estabelecida com o parceiro. Existe também uma questão social, que trata a união entre duas pessoas como algo esperado, natural e inerente ao desenvolvimento humano. Na sociedade existe muitas vezes um “certo estranhamento” em relação a aqueles que nunca se uniram, nunca dividiram a vida com um cônjuge. De acordo com isso (2007, p. 21 apud MARTINS; 2016) demonstrou que o casamento é considerado “o mais forte preditor de felicidade e bem-estar pessoal, e o relacionamento mais importante que poderá levar a satisfação de nossas necessidades emocionais básicas”. 24 5 A FAMÍLIA DE ACORDO COM A TEORIA SISTÊMICA Fonte: cienceconempr.com A família é um sistema que se desenvolve e é influenciada por um ambiente de especificidade social e econômica. É um dos principais contextos de socialização, influenciado por mudanças sociais e pressões externas, fazendo com que a família realize mudanças para continuar sua função de garantir o crescimento psicossocial de seus membros. (Valle, 2009 apud FERNANDES; 2018). É característica da família dois objetivos: acomodação e transmissão relacionada a cultura e também a proteção psicossocial, com o objetivo principal de apoiar seus membros. Este é um "sistema sociocultural aberto em transição" (S. Minuchin, 1982, p. 56 apud FERNANDES; 2018). Seus membros desenvolvem padrões de negociação transicionais, criando assim estruturas familiares. As famílias precisam criar pertencimento e sua própria individualidade, manter sua continuidade e proporcionar o autodesenvolvimento de seus membros. A família é a nossa primeira instituição na qual todos estão inseridos, é a "matriz identitária" (S. Minuchin, 1982, p.53 apud FERNANDES; 2018), é o lugar onde se adquirem as competências relacionais, e além de ser um sistema aberto de transformação, são os sistemas externos que recebem e enviam inputs, para os sistemas externos. Segundo Patrícia Minuchin (2011 apud FERNANDES; 2018), uma família que tem sua estrutura e desenvolve seu padrão é um tipo especial de sistema. De acordo com esta autora, a família é uma “pequena sociedade humana cujo os 25 membros possuem conexões imediatas, vínculos afetivos e uma história compartilhada” (p. 15). A formação dos padrões existentes da família, passa a se formar através da contribuição de cada membro da família, assim como as famílias também tem a capacidade de estimular e moldar o comportamento e a personalidade individual. Além dos padrões, os limites são estabelecidos dentro da família, dentro de cada subsistema e dentro da família como um todo (S. Minuchin, 1982; P. Mnuchin, 2011 apud FERNANDES; 2018). Segundo Salvador Minuchin (1982 apud FERNANDES; 2018), os limites de um subsistema são "as regras que definem quem participa e como" (p. 58). Sua função é garantir que o sistema seja diferente enquanto se protege. Os limites são uma maneira de medir o funcionamento familiare podem se manifestar de três maneiras: difusão e emaranhamento, que ocorre quando uma família está um pouco "fechada" aos sistemas externos, rigidez, quando os membros carecem de funções de comunicação e proteção, levando a desconexões familiares; e clareza, quando cada membro entende seu papel dentro do sistema familiar, e também quando há comunicação entre os membros. Para que aconteça um funcionamento familiar bom e estável, são necessários limites claros para que cada membro do sistema aprenda e compreenda o seu papel e suas funções. No entanto, não se deve julgar que o emaranhamento ou desconexão necessariamente torna o sistema funcional ou disfuncional. De acordo com Osório (1996 apud FERNANDES; 2018) apud Pratta e Santos (2007 apud FERNANDES; 2018), é importante que a família seja responsável pelo desenvolvimento biopsicossocial e isso se dá através de três características principais: as funções sociais e psicológicas que são relevantes para a sobrevivência do indivíduo e também temos as funções biológicas. As famílias garantem afeto, suporte e criam ambiente adequado para aprendizagem e desenvolvimento. Pratta e Santos (2007 apud FERNANDES; 2018), citando Romanelli (1997 apud FERNANDES; 2018), afirmam que é no interior da família que se desenvolvem os primeiros relacionamentos significativos, nos quais ocorrem as trocas emocionais que funcionarão como suporte afetivo ao longo da vida do indivíduo. 26 Como caracteriza Pratta e Santos (2007 apud FERNANDES; 2018), “ as trocas emocionais com o passar dos anos, ou melhor, ao longo da vida, são imprescindíveis para o desenvolvimento individual e aquisição de condições mentais e físicas para cada estágio do desenvolvimento mental”. 5.1 Funcionamento e dinâmica familiar É primordial analisar as famílias a partir de sua origem social. Minuchin (1982 apud SCHÜTZ; 2008) apontou que esse contexto é afetado significativamente em relação aos processos internos da mente e é influenciado por ela nas interações em ações recíprocas. O indivíduo que vive numa família é um membro de um sistema social, ao qual deve se adaptar. Suas ações são governadas pelas características do sistema e estas características incluem os efeitos de suas próprias ações passadas. O indivíduo responde aos estresses em outras partes do sistema, às quais se adapta, e pode contribuir significativamente para estressar outros membros do sistema. O indivíduo pode ser encarado como um subsistema ou como parte do sistema, mas o todo deve ser levando em conta (MINUCHIN, 1982, p. 18 apud SCHÜTZ; 2008). Contudo, a estrutura familiar está profundamente voltada para o ambiente familiar, Cerveny e Berthoud (1997 apud SCHÜTZ; 2008) especificam a estrutura familiar como um sistema de dados objetivos com a sua relação direcionada para o número de membros e avalia tais itens como: idade, moradia, sexo, ocupação, raça etc., que detalha as características de uma família. Para Minuchin (1982, p. 57 apud SCHÜTZ; 2008), “estrutura familiar representa um conjunto de requisitos funcionais intangíveis que estabelecem a forma como os indivíduos da família interagem”. Os autores definem padrões transacionais como o modo de funcionamento da família, na qual possuem dois sistemas de inibição, ou repressão: um idiossincrásico e outro genérico. O sistema de inibição, ou repressão como já mencionado, são relacionados a inibição de padrões genéricos transicionais e refere-se a regras sociais que não são exclusivas de uma determinada família, porém, são regras compartilhadas por inúmeras famílias que estão inseridas em um mesmo contexto e tem como característica a universalidade. Já conforme o segundo sistema de repressão, a heterogeneidade/idiossincrática, instala a forma típica e particular das relações 27 familiares, revelando a especificidade da relação entre os membros e envolvendo expectativas mútuas que se tornam explícitas e implícitas nos acontecimentos cotidianos da família, SCHÜTZ; (2008). "Transações repetidas estabelecem padrões de como, quando e com quem irá se relacionar e esses padrões fortalecem o sistema" (MINUCHIN, 1982, p. 57 apud SCHÜTZ; 2008). Funcionam automaticamente, tendo em vista que muitas vezes os membros da família não sabem de sua existência. E é uma forma de manter as funções da família. Nesse contexto, os padrões alternativos de negociação transicionais que ultrapassam os limites de tolerância das famílias, são vistos como ameaças ao equilíbrio do sistema e despertam mecanismos que podem restaurar a funcionalidade anterior. Situações como essas podem deixar os familiares desconfortáveis que sentem que os outros membros não estão cumprindo seus "papéis" e demandas por causa da lealdade familiar, SCHÜTZ; (2008). No dizer de SCHÜTZ; (2008), a saúde da família refere-se à possibilidade de flexibilização dos modelos de negociação transicionais, dessa forma desenvolve – se a capacidade de os membros mudarem, quando acontecer de mudar as circunstâncias. A existência continuada de família, como um sistema, depende de uma extensão suficiente de padrões, da acessibilidade de padrões transacionais alternativos e da flexibilidade para mobilizá-los, quando necessário. Desde que a família deve responder às mudanças internas e externas, deve ser capaz de transformar-se de maneiras que atendam às novas circunstâncias, sem perder a continuidade, que proporciona um esquema de referência para seus membros (MINUCHIN, 1982, p. 58 apud SCHÜTZ; 2008). Na visão de Minuchin da terapia estrutural, os padrões transacionais, conseguem ser compreendidos por meio da análise dos subsistemas familiares. De acordo com autor, os subsistemas são caracterizados por díades (cônjuge, mãe e filho), e/ou por indivíduos, que podem ser constituídos por características como, geração, gênero, funções ou interesses. Cada membro da família participa de diferentes subsistemas: filho, pai, marido, tio, sobrinho, etc. Cada subsistema apresenta comportamentos diferentes, SCHÜTZ; (2008). 28 As relações nos subsistemas são repletas de características complementares, por exemplo, é impossível ser pai sem filho. Complementaridade, conceito derivado da teoria da comunicação de Bateson, Watzlawick e colaboradores (1976 apud MEYNCKENS-FOUREZ, 2000, p.21 apud SCHÜTZ; 2008) isso difere significativamente entre os membros da relação. Nesse contexto, para este tipo de relação as diferenças entre os membros constituem o complemento um do outro. Um outro conceito importante para a compreensão da estrutura e dinâmica familiar é a definição de limites. De acordo com Meynckens-Fourez (2000 apud SCHÜTZ; 2008), embora as famílias sejam organizadas ao longo das gerações, as fronteiras entre as diferentes gerações que acabam por desenvolver alianças específicas refletem em grande parte a organização familiar. “ De acordo com o tipo de subsistema em que as fronteiras estejam instaladas, podemos dizer que elas são regras que determinam quem irá participar e como (...), as fronteiras tem o papel de proteger a diferenciação do sistema” (MINUNCHIN, 1982, p. 58 apud SCHÜTZ; 2008). Existem limites claros para o funcionamento normal, ou seja, cada membro deve poder desempenhar seu papel no sistema familiar sem interferência indevida, mas ter flexibilidade para se conectar com membros de outros subsistemas. Minuchin (1982 apud SCHÜTZ; 2008) propôs os tipos de limites, ou seja, fronteiras que podem ser encontrados nas famílias através de um continuum com dois polos: fronteiras extremamente rígidas e fronteiras difusas. As fronteiras difusas são atribuídas a famílias como características com alto nível de comunicação e preocupação entre os membros e adaptam –se a uma proximidade excessiva, levando a vida muitas vezes em torno de si mesmo, o que pode levar a uma carga em excesso ao sistema. Em relação ao outro pólo,pode-se encontrar fronteiras mais rígidas, com uma sensação de desconexão e despreocupação ou descuido, essa forma de fronteira torna a comunicação lesada e pode levar ao distanciamento emocional de seus membros, SCHÜTZ; (2008). Uma mesma família pode apresentar diferentes tipos de fronteiras entre seus subsistemas, ou até entre um mesmo subsistema como, por exemplo, a fronteira entre mãe- filho, que pode variar ao longo do ciclo vital da família. Existe maior risco de patologia nas fronteiras que se encontram nos pólos extremos, salienta Minuchin (1982 apud SCHÜTZ; 2008). 29 O empobrecimento nas relações familiares pode criar possibilidades para aparecimentos de sintomas, esse tipo de fronteira chama-se fronteiras emaranhadas ou extremamente difusa. Dessa forma, quando for constatado que a patologia está voltada pelas fronteiras extremas, os terapeutas geralmente assumem o papel de criar limites claros, protegendo os subsistemas e permitindo que eles prosperem, SCHÜTZ; (2008). 6 FATORES QUE PROVOCAM RESILIÊNCIA E/OU VULNERABILIDADE ÀS FAMÍLIAS Fonte: terapiafamiliarsistemica.wordpress.com Segundo Walsh (1998 apud OLIVEIRA; 2014), a resiliência é a capacidade de suportar crises e adversidades da vida e superá-las. A autora expande sua pesquisa no campo da resiliência, antes com foco nos indivíduos, e desenvolve o conceito de resiliência relacional (WALSH, 1998 apud OLIVEIRA; 2014), que integra a resiliência familiar a partir de uma perspectiva sistêmica e ecológica de desenvolvimento (WALSH, 2005 apud OLIVEIRA; 2014). Conforma a autora (WALSH, 1998 apud OLIVEIRA; 2014), as famílias podem se tornar ainda mais fortalecidas, mesmo tendo que lidar com as situações de crise e estresse, independentemente se o estresse é externo ou interno, dessa forma possibilita a resiliência a todos os outros membros. 30 Para Yunes (2003 apud OLIVEIRA; 2014), as pesquisas sobre resiliência familiar tendem a enfatizar os aspectos falhos e negativos da vida familiar. Para Walsh (2005 apud OLIVEIRA; 2014), no entanto, a pesquisa nesta área deve se concentrar em compreender as mudanças positivas que advêm do enfrentamento de situações estressantes, ao contrário de apenas o processo de coping ou adaptação. Um estudo de Yunes, Garcia e Albuquerque (2007 apud OLIVEIRA; 2014) sobre a percepção de agentes comunitários sobre famílias pobres monoparentais sugere que esses indivíduos são pessimistas quanto ao seu funcionamento, o que contrasta com os fatores indicativos de resiliência, encontrados pelos pesquisadores nas histórias familiares. Portanto, ao invés de contribuir para a mudança e conscientizar as famílias sobre as situações de risco, a crença dos profissionais implica em ações ineficazes e apáticas, seu pensamento se concentra em culpar as famílias pela situação de pobreza, dificultando as soluções. (VASCONCELOS, YUNES e GARCIA, 2006 apud YUNES, GARCIA E ALBUQUERQUE, 2007 apud OLIVEIRA; 2014). Os fatores de vulnerabilidade são aqueles que oferecem riscos à vida familiar, e esses processos estão frequentemente associados a resultados negativos ou indesejados (CECCONELLO, 2003 apud OLIVEIRA; 2014). Os riscos não são apenas a ocorrência de eventos negativos para o indivíduo, são processos dinâmicos de situações difíceis que envolvem eventos que antecedem e precedem as circunstâncias da vida (YUNES, GARCIA & ALBUQUERQUE, 2007 apud OLIVEIRA; 2014). Ungar (1995 apud LIBÓRIO E UNGAR, 2010 apud OLIVEIRA; 2014) articula o conceito de resiliência oculta, em que os sujeitos usam estratégias de adaptação e enfrentamento para escapar dos estereótipos tradicionais, ocidentais e “centrados no adulto” das chamadas estratégias de resiliência saudável. Por exemplo, o trabalho infantil pode ser visto como uma vulnerabilidade em geral, mas contextualmente, pode ser um fator resiliente que uma família encontra para enfrentar as adversidades. Por falta de recursos financeiros, não conseguem fornecer condições básicas para a sobrevivência do grupo. Diante dessa complexidade contextual-fenomenológica, não apresentaria categorias rígidas de fatores hipotéticos que representam risco para as famílias, mas sim como determinados fatores que afetam o contexto em que estão inseridos, mais ou menos positivo, levando à resiliência ou fragilidade/vulnerabilidade na organização familiar. 31 Como sugeriu Brofenbrenner, o contexto pode estar mais próximo ou mais distante (2011 apud OLIVEIRA; 2014). O contexto mais aproximado é o do microssistema, partindo para o mesossistema, exossistema, e, por último, o macrossistema. Em cada caso, o risco de inserção em um momento específico do ciclo de vida, pode levar a uma maior vulnerabilidade. Portanto, o termo "vulnerabilidade" será usado com mais destaque do que "risco" porque está intimamente relacionado a um indivíduo e sua tendência a reagir negativamente ou às consequências de uma maneira particular, considerando que o termo "risco" se refere a grupos e probabilidades estatísticas que existem dentro de uma população (CECCONELLO, 2003 apud OLIVEIRA; 2014), dependendo da gravidade, duração, frequência ou intensidade desses comportamentos, sendo comportamentos inesperados que podem ser desencadeados evento de estresse (DE ANTONI, BARONE e KOLLER, 2007 apud OLIVEIRA; 2014). Portanto, se o sistema familiar torna-se disfuncional diante de um evento de risco, a família pode ser considerada vulnerável nesse momento. (GARMEZY, 1996; RUTTER, 1987 apud DE ANTONI, BARONE e KOLLER, 2007 apud OLIVEIRA; 2014). 6.1 Conflito no pós-divórcio A maior ruptura dentro do sistema familiar é o divórcio, levando a uma série de mudanças no ambiente familiar, pois afeta a estrutura familiar básica e em todos os seus relacionamentos. O divórcio exige uma grande mudança na forma como essas famílias operam em muitas áreas e uma nova definição de vida familiar normal (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Hackner, Wagner e Grzybowski (2006 apud NEVES; 2016) alegam que o processo de concordância sobre a renegociação do relacionamento entre os ex- cônjuge após a separação é demorado e pode envolver dificuldades na definição da permeabilidade dos limites/fronteiras, o que, por sua vez, pode gerar conflitos. De acordo com apanhado é importante compreender que no divórcio, estão circundados como o modo em que o casal está ligado um ao outro e a forma como ocorre a negociação entre os cônjuges e o lugar do filho na relação familiar. Se, nestas fases do ciclo de vida familiar, algumas coisas não são resolvidas, pode ser que o processo 32 de divórcio seja dificultado e o acordo implícito estabelecido no casamento, em última análise, podem acabar estruturando os conflitos para o divórcio. Segundo Lamela (2009 apud NEVES; 2016), ao longo das últimas décadas, a literatura é rica em enunciar e descrever o quão disruptivo e nocivo pode ser o divórcio. A maioria dos estudos conclui que as pessoas divorciadas experienciam pior bem-estar psicológico, piores níveis de felicidade e maiores índices de depressão e outras psicopatologias, quando comparadas às pessoas que permanecem casadas. Para o mesmo autor, os adultos divorciados reportam índices superiores de estresse psicológico, pior saúde física e menor esperança média de vida, com probabilidade de suicídio, perdas severas na segurança financeira e econômica, alterações depreciativas das percepções do self e desestabilização emocional esses estressores psicossociais têm um impacto acentuado na pessoa divorciada que lhe diminuem os níveis reais de qualidade de vida, diminuição similar à encontrada nas pessoas viúvas. O divórcio é muitas vezes um momento de perda e dor para a própria família, pois, as identidades familiares podem mudar drasticamente com essa perda. Além dessa sensação de perda e mudanças nas identidades familiares, há outras coisasassociadas à separação, bem como à separação de outros membros que constituem a família: os filhos, (Sousa, 2012 apud NEVES; 2016). No Direito de Família, o conceito antiquado ajuda a manter a prestação de contas a quem deseja se divorciar e estimula cada vez mais a culpabilidade de ambos pelas posições de “vencedor” e “perdedor”. Dessa forma, posturas litigiosas mais intensas passaram por decisões judiciais e, por conseguinte, acontece a interferência na vida familiar durante e após o divórcio. Enfrentando um estímulo de alguma forma no processo de divórcio, a origem familiar só pode inicialmente estar associada à ruptura da relação conjugal, mas acaba por ser exacerbada pela orientação contencioso das partes no processo de divórcio, NEVES; (2016). Mesmo durante o divórcio, onde os problemas entre marido e mulher parecem ser definidos legalmente, a convivência após a separação gera inúmeras brigas, e muitas relacionadas a consequência da desigualdade na criação concedida pelo sistema de guarda única, no que concerne sobre a visitas, pensões alimentícias, agravando os conflitos parentais e as dificuldades na vida familiar (Martins, 1999 apud NEVES; 2016). Para Carter e McGoldrick (1995 apud NEVES; 2016), o processo pós-divórcio inclui três etapas distintas, as consequenciais, o reajuste e a estabilidade. O primeiro estágio, chamado de consequência, é o primeiro ano do divórcio e pode ser considerado tão devastador quanto qualquer desastre natural. 33 A família ficou abalada e, em sua confusão e perplexidade, poucos conseguem expressar suas experiências nesta fase. As famílias querem acreditar que o divórcio legal acompanha o divórcio emocional, e os casais costumam usar um processo de negociação através dos advogados, sem perceber que ter uma outra pessoa, não descarta a necessidade de um processo de resolução. Um divórcio legal pode ou não ajudar a solução do divórcio emocional. Um divórcio emocional completo nunca acontecerá, especialmente se eles tiverem filhos. (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Além das mudanças na relação familiar nuclear, as famílias extensas também passam por transformações. O ex-cônjuge, enfrenta o desafio de manter uma relação familiar do ex-cônjuge. Embora difícil, manter um sistema de relacionamento aberto é importante porque as famílias extensas geralmente protegem seus membros e querem culpar o outro pelo divórcio. Permitir que as crianças vejam os entes queridos requer compreensão e disposição, se possível, para incluí-los nas celebrações familiares (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Nesse processo, o relacionamento com a própria família também muda, dependendo da força do relacionamento com os pais e da frequência de divórcios na família. Em famílias com divórcios mais frequentes, os membros da família estão mais dispostos a negociar questões de divórcio, por outro lado, famílias que nunca vivenciaram o divórcio é muitas vezes mais doloroso. O divórcio pode transformar alguns relacionamentos em mais positivos para casamentos considerados "desfavoráveis" à família (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). No decorrer da etapa seguinte, as famílias passam da crise para a transição, que pode durar de dois a três anos, e essa etapa é considerada a fase do realinhamento, à medida que certos pontos da vida se acalmam, há momentos de euforia e depressão. Este foi um período marcado por mudanças econômicas e sociais, na busca de novos relacionamentos, incluindo amizade e amor (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Segundo Carter e McGoldrick (1995 apud NEVES; 2016), é esperado que no final desta fase o casamento termine emocionalmente. Apesar de muitas vezes o divórcio ser uma boa resolução, esse gera tristeza e muitas pessoas tentam escapar desse sentimento preenchendo com outras pessoas e preocupações. Assim, é possível passar por todo o processo dessas três fases e até casar-se novamente, sem lidar com o sofrimento que o divórcio causou. 34 Muitas vezes, um ex-cônjuge que teve várias brigas e envolveu filhos no conflito pode não ser capaz de resolver os problemas emocionais do divórcio. Alguns também continuam envolvidos no relacionamento, compartilhando questões pessoais e se envolvendo com os problemas do dia-a-dia um do outro. Inúmeras vezes, esses ex- cônjuges não pedem o divórcio e permanecem marido e mulher, mas como não casados, causando confusão tanto para eles quanto para seus filhos. Portanto, qualquer movimento em direção às relações sociais é considerado uma ameaça, (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). O divórcio emocional é um processo doloroso e difícil que exige enfrentar e aceitar os próprios erros no casamento e o conhecimento emocional do que poderia ou não fazer o casamento funcionar. Se os ex-cônjuges conseguirem responder e resolver, o que o divórcio solucionou ou não para si, as capacidades de enfrentar as preocupações da família são ampliadas (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). O divórcio pode significar uma mudança na maneira que cada progenitor se relaciona com os filhos. É possível que alguns filhos se ajustem ao novo arranjo da família, enquanto outros podem não se ajustar e sentir um desconforto em relação a esses arranjos. A maior necessidade dos filhos é poder ter um contato constante com os pais e sentir o apoio de cada um, sem que isso ameaça a sua lealdade ao outro (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). À medida que os pais começam a sair e construir relacionamentos amorosos, as crianças precisam se ajustar ao novo ambiente. Para as crianças, isso pode significar que não há mais um relacionamento romântico entre os pais e que não é mais possível que os pais se tornem marido e mulher novamente porque estão saindo com outras pessoas. Quando os pais iniciam outro relacionamento, os filhos costumam apresentar reações negativas, tentando se desvincular desses novos relacionamentos, sendo desobedientes ou desagradáveis, NEVES; (2016). Além disso, podem comparar o novo parceiro ao pai ou à mãe, criticando a aparência, os maneirismos e outras características da outra pessoa (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Já na terceira etapa a que chamamos de estabilização, algumas famílias descobrem que chegam a esse estágio sem negociar e lidar com o processo de se tornarem pais solteiros. Muitas vezes, o novo casamento pode produzir estabilidade, mas sem abordar questões financeiras, autoridade ou uma rede social viável, os aspectos do processo que devem ser resolvidos/concluídos podem trazer problemas antigos que permanecem e não resolvidos (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). 35 Originalmente, nesta etapa, os membros da família devem ser capazes de lidar com as tarefas de co-desenvolvimento do ciclo de vida familiar. Este é um período, geralmente, de tranquilidade e calma, onde as respostas a inúmeras perguntas ao longo do processo são vivenciadas e vividas. As crianças podem deslocar-se entre as casas dos pais com tranquilidade, NEVES; (2016). O ex-cônjuge, pode se sentir à vontade um com o outro e estabelecer novos relacionamentos (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Na grande maioria, os casais que se separam, se casa novamente, identificando a tarefa de acrescentar ao problema do padrasto, da madrasta e dos irmãos. Porém, o novo casamento/recasamento requer ajuste familiar. No entanto, quando o processo de divórcio é consagrado e finalizado, esperara – se que as famílias incorporem essas mudanças e desempenhem tarefas normativas para os estágios futuros do ciclo de vida (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Para Carter e McGoldrick (1995 apud NEVES; 2016), frequentemente os pais que pagam pensão regularmente veem mais os filhos e tem a sensação de que esse dinheiro faça com que as chances de ter o filho usado contra si, seja menor.Muitos homens ainda lidam como opção a participação da paternidade, mas o papel dos pais vem mudando na sociedade e faz com que haja um aumento daqueles que querem guarda compartilhada. Já as mulheres raramente consideram o afastamento dos filhos como opção e as que fazem, correm um enorme risco de opinião negativa por parte da sociedade. Se os pais acharem difícil manter contato com seus filhos, eles podem se retirar completamente da vida de seus filhos. Isso pode acontecer, devido a um novo emprego em outro estado, ou simplesmente, não fazer as visitas habituais. Dessa maneira, é mais provável de ocorrer em famílias onde o conflito conjugal permanece extremamente alto. A ex- esposa pode decidir afastar o filho do pai, assim como o pai pode se sentir incapaz de lidar com a ex-esposa, possivelmente para remover a necessidade de conexão, pois o ex-casal não conseguiu resolver um divórcio emocional, gerando um mal-estar e fazendo com que os pais tenham um sentimento de impotência (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). Quando se trata de relacionamentos sociais, os homens muitas vezes olham para as mulheres como amigas e buscam conforto emocional. Logo após o divórcio, é comprovado que os homens se casam mais cedo do que as mulheres e geralmente são pessoas mais jovens do que seus parceiros. Os homens podem cometer prematuramente devido à perda de uma família, NEVES; (2016). 36 No entanto, fazê-lo não abordar questões relacionadas ao divórcio, muitas vezes agrava ou pode acentuar o problema. Porém, já para outros o foco está em ter relações sexual, desses novos relacionamentos, evitando completamente a intimidade de um relacionamento duradouro, pois se caso aconteça um envolvimento a mais nesses relacionamentos, essas pessoas tendem a procurar uma outra relação, ou seja, indo de uma relação para outra sem apegar emocionalmente (Carter & McGoldrick, 1995 apud NEVES; 2016). 6.2 Coparentalidade em situação de divórcio Como construto psicológico, o surgimento da coparentalidade está relacionado principalmente ao estudo das relações familiares pós-divórcio. Frizzo et al. (2005 apud NEVES; 2016) enfatiza a prevalência inicial da pesquisa sobre coparentalidade em situações de divórcio, à medida que as relações de coparentalidade se tornam aparentes nessas situações, na maioria das vezes, essa é a única área em que os pais ainda continuam a se relacionar após a separação. O divórcio ou separação presume –se o fim da relação conjugal, no entanto, irracionalmente, após a separação, os pais esperam conseguir promover uma relação de cooperação entre eles: uma relação de co-parentalidade, muitas vezes difícil de exercer, especialmente, após a separação, onde a relação afetiva entre os cônjuges é cercada de mágoa e ressentimento, dificultando a distinção entre ex-casamento e relações parentais, ou seja, onde a separação põe fim sobre a relação conjugal, mas não à função parental. Por consequência, neste momento de crise, é fundamental distinguir ex-cônjuge, de pai/mãe, pois não é justificável que os ex-cônjuges passem a ser também ex-pai/mãe (Grzybowski, 2007 apud NEVES; 2016). Como caracteriza os autores Hackner, Wagner e Grzybowski (2006 apud NEVES; 2016), uma das maiores dificuldades no divórcio é a separação da relação conjugal e da paternidade/parentalidade. Redefinir o engajamento emocional dos dois envolvidos é um processo demorado que cria lacunas e ausências nas margens dos relacionamentos, especialmente no conflito pós-divórcio. Os papéis e regras dos pais precisam ser (re) definidos porque têm um impacto direto na relação de co- parentalidade. A co-parentalidade exige muitas responsabilidades básicas e essenciais para as crianças, tais como: garantir que as necessidades financeiras e 37 materiais sejam atendidas, fornecer orientação e direção, exercer autoridade, promover a comunicação emocional e o compartilhamento de experiências cotidianas (Grzybowski & Wagner, 2010 apud NEVES; 2016). Os autores Lamela, Figueiredo e Bastos (2010 apud NEVES; 2016) identificaram variações da função coparental entre as díades parentais divorciadas, são elas: a coparentalidade cooperativa, a conflituosa e a descomprometida. A coparentalidade cooperativa é adquirida por meio de interações de qualidade entre os pais, pautadas por uma comunicação regular sobre os filhos, caracterizada por níveis mínimos de conflito e ausência de estratégias de ataques das interações que cada pai mantém individualmente com os filhos. A coparentalidade conflituosa é também marcada pela regularidade da comunicação entre os pais, no entanto, esta comunicação contém elevados níveis de conflito, hostilidade, criticismo e competição que, devido a esta postura de adversários, provoca um curto- circuito nas tentativas de um trabalho coparental eficaz. Por último, na coparentalidade descomprometida, mais frequente em díades parentais divorciadas, existe um envolvimento de cada pai na vida da criança, mas este envolvimento não é conjunto, e os pais praticam uma parentalidade paralela, pautada por uma comunicação mútua rudimentar em torno das questões educacionais dos filhos. Nos primeiros dois anos após o divórcio, as relações co-parentais são frequentemente caracterizadas por altos níveis de conflito ou baixos níveis de compromisso relacionado a educação recíproca para os seus filhos, NEVES;(2016). Esta condição leva a uma situação de conflito e desengajamento, parece traduzir-se em práticas parentais paralelas e levam a perder a sintonia, que acaba colaborando para o enfraquecimento da percepção dos filhos sobre as alianças parentais e incita o conflito parental e a disfunção familiar (Nunes-Costa, Lamela, & Figueiredo, 2009 apud NEVES; 2016). Ainda de acordo com Grzybowski e Wagner (2010 apud NEVES; 2016), foram encontrados os seguintes fatores positivos para uma boa relação parental conjunta após o divórcio: guarda conjunta, menor hostilidade sobre os divórcios, satisfação com o apoio financeiro e baixos níveis de conflito entre ex-cônjuges. Além desses aspectos, há outros aspectos igualmente importantes, como: filhos pequenos e acordos de visitação; novos relacionamentos amorosos que auxiliam nas tarefas educacionais ou permitem que os parceiros passem mais tempo com os filhos; preocupação com o ex-cônjuge e nível de amizade; relação entre a comunicação do ex-cônjuge; percepções de habilidades parentais do ex-cônjuge; idade dos filhos e o gênero dos progenitores, NEVES; (2016). 38 Em contrapartida, Margolin, Gordis e John (2001 apud NEVES; 2016) alegaram que um dos ex-cônjuges se casou novamente e ainda mantém uma forte intensidade emocional em relação ao outro, exceto os desacordos sobre a educação dos filhos antes do divórcio mostram os danos e as complicações da co-parentalidade. O fato de não haver guarda também tem sido apontado como fonte de hostilidade dos ex-cônjuges, fazendo com que muitos se comuniquem apenas por meio dos filhos e evitem participar das decisões relacionadas aos filhos que não estão sob sua proteção. Brito (2002 apud NEVES; 2016) observou que para compreender o comportamento e as expectativas dos pais divorciados, uma pesquisa realizada sobre questões envolvendo a guarda dos filhos, foi que muitos pais relataram o quão difícil era separar as questões relacionadas ao âmbito conjugal, com a guarda dos filhos, em relação ao ex-casamento, no contexto do divórcio. Raiva, mágoa, desprezo ou mal-entendido por um ex-cônjuge sobre a separação podem levar ao distanciamento dos filhos. Na maioria das vezes, esses pais não conseguem discernir o que é certo para o casal. No que diz respeito à parentalidade, pode ser que a própria legislação tenha criado essa confusão há muito tempo, e essas questões impedem que as relações de co-parentalidade funcionem adequadamente, NEVES; (2016). Brito (2002 apud
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