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Resenha - Processo Penal - Princípio da Imparcialidade

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Andressa Avelino – Graduanda em Direito pelo Centro Universitário Santo Agostinho
Resenha Crítica: o paralelo entre o capítulo “A colidência entre os modelos de Juiz Wargrave e o das garantias: um estudo sobre a imparcialidade judicial” e os apontamentos feitos em aula sobre o princípio da imparcialidade do juiz na disciplina de direito processual penal
O princípio da imparcialidade do juiz possui previsão constitucional, pois é o que se delimita quando dito que toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial.
O capítulo que aqui abordarei está impresso na coletânea “Sentir o Direito”, escrita por Sara Alacoque Guerra Zaghlout, Paulo Thiago Fernandes Dias, Vicente de Paulo Barreto e outros autores. Toda a coletânea gira em torno do direito e de produções artísticas, tais como cinema e literatura.
Tudo começa com a exposição de um clássico da escritora Agatha Christie, no capítulo 17 da coletânea, famosa por seus romances policiais. Em síntese, o clássico conta a história de dez pessoas, até então desconhecidas uma das outras, que foram convidadas por um casal um tanto quanto misterioso para se hospedarem numa grandiosa e luxuosa mansão na Ilha do Soldado (um ambiente inospitaleiro). Em determinado horário da noite, uma gravação começa a ser tocada em um dos cômodos da mansão e desestabiliza os convidados do casal. Chega a ser macabro, mas o que aconteceu é que, um a um, foram apontados como autores ou responsáveis diretos pelas mortes de outras pessoas, encerrou-se a gravação dizendo as palavras “acusados presentes no tribunal têm algo a ser dito em sua defesa?” (CHRISTIE, 2014, p.73).
Dentre os convidados desta noite de horrores, está o ex-juiz Wargrave, sugestivo nome advindo da junção war que significa guerra, e grave que significa caixão. Ele então toma as rédeas da situação, colocando-se no lugar de juiz e aproveitando a sua condição de ex-magistrado. Depois de sucessivas desconfianças acontece então a morte de todos os convidados. E isso se deu por uma razão um tanto quanto simples: o destino de cada um deles havia sido cuidadosamente planejado por ninguém mais, ninguém menos que o juiz Wargrave, sendo ele o autor de toda a trama.
O personagem criado por Agatha privou os convidados, da então noite de horrores, do seu direito de serem julgados perante um órgão do Poder Judiciário imparcial, adentrando então ao nosso outro paralelo dessa resenha, a aula sobre o princípio da imparcialidade do juiz na disciplina de direito processual penal.
O que diferencia a atividade jurisdicional das atividades legislativa e administrativa é a imparcialidade. Dispor sobre jurisdição é dispor sobre imparcialidade, pois essa é um elemento constitutivo da própria jurisdição. Podemos dizer também que a imparcialidade é um princípio “supremo” do processo, como bem foi exposto por Werner Goldschmidt e em sala de aula, sendo assim é impossível falar sobre processo justo sem a presença de um juiz imparcial.
O professor Jacinto Coutinho foi feliz em dizer que “ter um juiz imparcial é ter um juiz que atua como um órgão supraordenado as partes”, ou seja, não é um órgão que está acima, mas sim além dos interesses das partes. No texto de Agatha Christie restou claro que o ex-magistrado Wargrave agiu com parcialidade, pondo-se como peça central e resolutiva de todo o conflito gerado, em nada ponderou a sua atuação. Levando isso em consideração, vale lembrar que quando um juiz determina a “prova” de ofício ele não está atuando como um órgão supraordenado como dito anteriormente, ele está fazendo um papel de parte, saindo do seu lugar de juiz e indo atrás da prova, mas no processo acusatório quem trás as provas ao juiz é a parte, sendo assim o juiz tem a sua imparcialidade comprometida.
Percebemos que deve haver imparcialidade, um afastamento natural e estrutural, um estranhamento em relação ao caso penal em julgamento, aquilo que para os italianos é chamado de terzietà. E já que estamos falando de outros direitos, direitos internacionais, vamos lembrar então que a imparcialidade está expressa no tratado internacional chamado Pacto de São José da Costa Rica, mostrando então a sua importância para o parâmetro geral.
Essa imparcialidade é dividida sob dois parâmetros, quais sejam: imparcialidade objetiva (quando se fala em relação ao caso concreto) e imparcialidade subjetiva (quando se trata dos envolvidos). Os positivistas acreditam que é possível manifestar decisões racionais e neutras, acontece que é impossível dissociar a razão da emoção, tendo em vista que a emoção faz parte da maquinaria razão, foi então que se passou a valorizar a “estética de imparcialidade”, ou seja, a aparência e percepção de um juiz imparcial. É de extrema importância que o juiz mantenha essa estética de julgador, pois é crucial para que se tenha confiança por parte do jurisdicionado.
Sempre acreditei sobre a multipotencialidade de cada um de nós e dentro do direito essa multipotencialidade tem sido cada vez mais evidenciada, isso será possível de observar nas próximas linhas quando abordarei psicologia para explicar um ponto do direito.
Na psicologia social existe um conceito chamado de dissonância cognitiva, qual seja a tendência do ser humano de procurar coerência entre suas cognições, ou seja, conhecimentos, crenças e outras opiniões, sendo assim o ser humano vai buscar agarrar-se aquelas atitudes, aqueles discursos que “casam” com aquilo que ele pensa ou faz.
A dissonância cognitiva no direito entra exatamente na questão da imparcialidade, uma vez que o juiz começando a atuar desde o inquérito policial em um caso já está predestinado a ter sua consonância com o órgão acusador durante o processo, pois ele já possui conhecimento da fase de investigação.
Analisando a psicologia social surgiu então, com o advento do pacote anticrime, a figura do “juiz das garantias”, um juiz de direito responsável pelo controle da investigação criminal e responsável pela salvaguarda dos direitos fundamentais. Esse instituto não possui cunho investigatório, mas sim de controle da legalidade dos atos. O juiz que atua como juiz de garantias será proibido de atuar na ação penal proposta.
Portanto, o juiz criminal, para ser imparcial, deve conhecer do caso penal originariamente e a partir do processo. Deve formar sua opinião pela prova colhida originariamente na fase do contraditório, sem pré-cognições sobre o objeto do processo. Caso contrário, se continuar com o modelo aplicado no Brasil, o processo acaba tendo sua imparcialidade prejudicada, com um juiz que já formou sua decisão sobre o caso e que entra na fase de instrução apenas para confirma as hipóteses previamente estabelecidas pela acusação e tomadas verdadeiras por ele.
Para concluir, o texto abordado e os apontamentos feitos em sala de aula evidenciam que se deve permanecer a originalidade cognitiva do juiz nos processos, para que não seja posta em xeque a sua imparcialidade.

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