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ORIGINAL REV NEUROL 2007; 44 (5): 275-280 275 INTRODUÇÃO A linguagem é uma função cognitiva de extrema importância, pois permite a transmissão de conceitos entre um indivíduo e outro [1]. Assim, em uma avaliação neuropsicológica da linguagem, instrumentos que avaliam os aspectos expressivos e receptivos devem ser utilizados [2]. A avaliação das habilidades de linguagem em crianças tem sido particularmente importante na identificação e diagnóstico diferencial de transtornos do desenvolvimento neuropsicológico, como dislexia [3], disgrafia [4], discalculia [5-6], síndrome não verbal da aprendizagem [7] , transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDAH) [8-9], etc. Além disso, os testes de linguagem podem fornecer parâmetros para a reabilitação neuropsicológica e para avaliar a eficácia dos tratamentos para distúrbios do desenvolvimento da linguagem [10]. A avaliação da linguagem em crianças brasileiras, entretanto, tem sido dificultada pela falta de dados normativos adequados para os testes neuropsicológicos utilizados nesta avaliação. Em nossa revisão da literatura, encontramos dados de amostras de ingleses (crianças norte-americanas ou inglesas), italianos, holandeses (crianças belgas), espanhóis (crianças colombianas e mexicanas) e chineses (crianças de Hong Kong) [11-18]. Esses dados, dadas as diferenças linguísticas e culturais, podem não ser apropriados e não devem ser transferidos diretamente para avaliar crianças brasileiras. No Brasil existem poucos testes padronizados. O Conselho Federal de Psicologia do Brasil reconhece apenas 78 instrumentos para uso clínico com as normas brasileiras. Destes, apenas quatro fornecem algum tipo de medida que pode ser usada para avaliação de linguagem [19]. O objetivo deste estudo foi padronizar três instrumentos para o exame dos aspectos receptivos e expressivos da linguagem em crianças de 7 a 10 anos, matriculadas no ensino fundamental de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Foram escolhidos testes tradicionais em neuropsicologia, como o Teste de Token e a prova de fluência verbal, além de uma prova de nomeação por confrontação visual desenvolvida com os estímulos pertinentes ao contexto dos participantes: a prova mineira de nomeação. ASSUNTOS E MÉTODOS Foram avaliadas 109 crianças com idades entre 7 e 10 anos (média: 8 anos e 8 meses), estudantes da rede pública de Belo Horizonte (MG). Os sujeitos da pesquisa tinham entre 2 e 4 anos de escolaridade. Todos os indivíduos foram submetidos ao teste de matriz progressiva de Raven [20]. Foram excluídas seis crianças que obtiveram resultado abaixo do percentil 25 e duas crianças com idade incompatível com o nível de escolaridade. A amostra final foi composta por 101 crianças (51 meninas e 50 meninos). Para todas as crianças, o português foi a primeira língua. Os sujeitos foram divididos em quatro grupos de acordo com os critérios de idade: 7 anos (7 anos a 7 anos, 11 meses e 29 dias); 8 anos (de 8 anos a 8 anos, 11 meses e 29 dias); 9 anos (de 9 anos a 9 anos, 11 meses e 29 dias); e 10 anos (de 10 anos a 10 anos, 11 meses e 29 dias). Os testes foram aplicados em local sem distrações auditivas ou visuais. Teste de Token O Teste de Token foi usado para avaliar a linguagem receptiva. Foi desenvolvido por De Renzi e Vignolo [21], e sofreu várias modificações posteriormente. Desde sua versão original, tem sido usado em estudos para avaliar as habilidades de linguagem em diferentes populações clínicas, como disléxicos [22] e indivíduos com TDAH [14]. O teste também tem sido útil para avaliar a linguagem em diferentes faixas etárias [2,23]. Originalmente, consistia em 62 instruções com um aumento gradual da dificuldade em cada item. Sobre PADRONIZANDO UMA BATERIA DE TESTES PARA AVALIAR HABILIDADES DE COMPREENSÃO DA LÍNGUA, FLUIDEZ VERBAL E NOME EM CRIANÇAS BRASILEIRAS DE 7 A 10 ANOS: RESULTADOS PRELIMINARES Retomar. Introdução. O exame neuropsicológico da linguagem requer instrumentos que avaliem os aspectos expressivos e receptivos. Se as diferenças culturais forem levadas em consideração, o uso de testes neuropsicológicos deve ficar condicionado à realização de estudos normativos para o país onde serão utilizados. Objetivo. Obtenha as regras para aplicação do teste de fluência verbal semântica (categorias 'animais', 'partes do corpo' e 'alimentos'), o Teste de Token e a prova de nomenclatura mineira em crianças brasileiras. Assuntos e métodos. Foram avaliadas 101 crianças (51 meninas e 50 meninos) com idades entre 7 e 10 anos (a média de idade foi de 8 anos e 8 meses), e com dois a quatro anos de escolaridade formal. Os critérios de exclusão incluíram resultado abaixo do percentil 25 do teste de matriz progressiva de Raven. Resultados. Não foram encontradas diferenças entre o desempenho de meninos e meninas em nenhum dos testes, mas a idade influenciou no desempenho dos sujeitos nos três testes. Conclusão. Os resultados obtidos são compatíveis com a bibliografia e, mesmo preliminares, podem servir de base para pesquisas e ações clínicas em nosso contexto. [REV NEUROL 2007; 44: 275-80] Palavras chave. Desenvolvimento neuropsicológico. Avaliação neuropsicológica. Língua. Estandardização. Psicometria. Aceito após revisão externa: 24.07.06. Faculdade de Ciências da Saúde. Universidade FUMEC. Nova Lima, Brasil. Correspondência: Prof. Leandro Fernandes Malloy-Diniz. Faculdade de Ciências da Saúde. Universidade FUMEC. Rua de Paisagem, 240. Vila da Serra. 34000-0 Nova Lima, Brasil. E-mail: leandro.fernandes@terra.com.br © 2007, REVISTA DE NEUROLOGIA Padronização de uma bateria de testes para avaliar habilidades da compreensão da linguagem, fluência verbal e nomeação em crianças brasileiras de 7 a 10 anos: resultados preliminares L. Fernandes Malloy-Diniz, RC Bentes, PM Figueiredo, D. Brandão-Bretas, S. da Costa-Abrantes, AM Parizzi, W. Borges-Leite, JV Salgado L. FERNANDES MALLOY-DINIZ, ETAL REV NEUROL 2007; 44 (5): 275-280276 1978, De Renzi e Faglioni [24] desenvolveram uma forma reduzida de aplicação com apenas 36 itens, que é a versão utilizada em nosso estudo. São utilizadas 20 peças que variam entre dois formatos geométricos (círculo e quadrado), dois tamanhos (grande e pequeno) e quatro cores (preto, vermelho, amarelo e branco). A disciplina deve obedecer a 36 instruções divididas em seis partes (descritas na Tabela I): a parte A é composta por sete instruções, as partes B a E são compostas por quatro instruções cada e a parte F é composta por 13 instruções. Nas partes B, D e F, as partes pequenas são cobertas com um pedaço de papel, pois as instruções se referem apenas às partes grandes. As partes apresentam um aumento sucessivo de dificuldade, mas dentro de cada parte todas as instruções apresentam o mesmo nível de dificuldade. Para cada instrução obedecida corretamente, o sujeito ganha um ponto. A pontuação máxima alcançada no teste é de 36 pontos. A disposição das peças no início do teste é mostrada na figura 1. Fluência verbal semântica Seu objetivo é avaliar a busca sistemática de elementos de uma determinada categoria semântica. Esses testes, além de estarem relacionados às funções executivas [25], consistem em medidas de memória semântica [26]. Na maioria dos testes de fluência verbal, o sujeito deve dizer o número máximo de palavras em um minuto. Vários testes de fluência verbal têm sido descritos na literatura, como, por exemplo, aqueles que utilizam as categorias 'itens que compramos em supermercados' [27], 'animais' [28], 'frutas e vegetais' [29], 'objetos que temos em casa' [30]. Neste estudo, foram utilizadas categorias semânticas adequadas à faixa etária de 7 a 10 anos: 'animais', 'partes do corpo' e 'comida'. Com base na metodologia utilizada por Welsh et al [25] para as instruções iniciais do teste, a categoria 'cor' foi utilizada como exemplo. Os sujeitos foram instruídos: 'Gostaria que me falasse sobre todas as cores que conhece. Você não pode repetir o nome das cores que você jámencionou. Tente falar o mais rápido possível sem repetir ou fazer variações da mesma palavra (por exemplo, azul escuro, azul claro, azul turquesa, etc.). Podemos começar?'. Após o treinamento inicial, os sujeitos receberam as mesmas instruções (sem exemplos) para as categorias 'animais', 'partes do corpo' e 'comida'. Como em Welsh et al [25], para cada categoria o número total de palavras corretas, erros permanentes (repetições de certas palavras) e erros não permanentes (palavras que não pertenciam à categoria semântica e palavras que consistiam de uma determinada elemento, por exemplo, cavalo, cavalo de balanço, cavalo alado). Teste de denominação mineira Tarefas de nomeação de figuras, como o teste de nomeação de Boston [31], são freqüentemente usadas nas baterias de um exame neuropsicológico para avaliar a expressão da linguagem, vocabulário e memória semântica [2]. No entanto, os estímulos utilizados nas provas de nomeação devem ser familiares aos participantes, uma vez que as dificuldades neste tipo de provas podem surgir não tanto por déficits cognitivos, mas sim pela inadequação do instrumento utilizado [32]. Neste estudo, foram escolhidas 65 imagens (preto e branco) de estímulos familiares às crianças brasileiras. O teste consiste em nomear duas imagens seguindo o mesmo formato dos testes de nomenclatura tradicionais usados em neuropsicologia [2]. Os elementos que compõem o teste pertencem a sete categorias semânticas: 'objetos' (15 elementos), 'animais' (10 elementos), 'alimentos' (6 elementos), 'meios de transporte' (4 elementos), 'roupas' (5 elementos), 'ações' (10 elementos) e 'profissões' (15 elementos). Para as categorias 'animais', 'alimentos', 'meios de transporte' e 'roupas', o sujeito deve dizer o nome do que vê. Para a categoria 'ações', o sujeito deve dizer o que a pessoa da imagem está fazendo. Para a última categoria, Análise estatística Foi realizada análise estatística descritiva para cada medida de cada instrumento e calculados as médias, desvios-padrão e percentis. Os efeitos de gênero e idade foram verificados por meio da análise de variância (ANOVA) de dois fatores (gênero e faixa etária). Quando havia um efeito significativo de idade, uma análise comparativa foi realizada post hoc Bonferoni para todas as quatro faixas etárias. Para verificar o Figura 1. Arranjo das partes do TokenTest em versão reduzida. Aplicador saiu TokenTest (Versão reduzida) Direito de aplicador Tabela I. Instruções na forma abreviada de TokenTest. Parte 1 (todas as guias) 1. Toque em um círculo 2. Toque em um quadrado 3. Toque em uma peça amarela 4. Toque em um vermelho 5. Toque uma semínima 6. Toque em um verde. 7. Toque em um espaço em branco Parte 2 (somente blocos grandes) 8. Toque em um quadrado amarelo 9. Toque em um círculo preto 10. Toque em um círculo verde 11. Toque em um quadrado branco Parte 3 (todos os blocos) 12. Toque em um pequeno círculo branco 13. Toque em um grande quadrado amarelo 14. Toque em um grande quadrado verde 15. Toque em um pequeno círculo preto Parte 4 (apenas os ladrilhos grandes) 16. Toque no círculo vermelho e no quadrado verde 17. Toque no quadrado amarelo e no quadrado preto 18. Toque no quadrado branco e no círculo verde 19. Toque no círculo branco e no círculo vermelho Parte 5 (todos os blocos) 20. Toque no grande círculo branco e no pequeno quadrado verde 21. Toque no pequeno círculo preto e no grande quadrado amarelo 22. Toque no grande quadrado verde e no grande quadrado vermelho 23. Toque no grande quadrado branco e no pequeno círculo verde Parte 6 (apenas os ladrilhos grandes) 24. Coloque o círculo vermelho no topo do quadrado verde 25. Toque no círculo preto com o quadrado vermelho 26. Toque no círculo preto e no quadrado vermelho 27. Toque no círculo preto ou no quadrado vermelho 28. Afaste o quadrado verde do quadrado amarelo 29. Se houver um círculo azul, toque no quadrado vermelho 30. Coloque o quadrado verde perto do círculo vermelho 31. Toque nos quadrados lentamente e nos círculos rapidamente 32. Coloque o círculo vermelho entre o quadrado amarelo e o quadrado verde 33. Toque em todos os círculos, exceto o verde 34. Toque no círculo vermelho. Não! O quadrado branco 35. Em vez de tocar no quadrado branco, toque no círculo amarelo 36. Além do círculo amarelo, toque no círculo preto AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DA LINGUAGEM REV NEUROL 2007; 44 (5): 275-280 277 Para correlação entre os resultados dos três instrumentos, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. Em todos os testes, o valor p < 0,05 foi tomado como referência para indicar a diferença estatisticamente significativa. RESULTADOS Teste de Token As médias das respostas corretas por faixa etária são apresentadas na tabela III. A distribuição percentual de acordo com os resultados é apresentada na tabela IV. Houve um efeito significativo na faixa etária ( F = 5.491; p = 0,002) e gênero ( F = 0,776; p = 3,80). A análise post hoc Bonferoni mostrou que crianças de 10 anos eram significativamente melhores do que crianças de 7 a 8 anos ( p = 0,05 e 0,18, respectivamente). Fluência verbal As médias das respostas corretas por faixa etária são apresentadas na tabela I e a distribuição por percentis, de acordo com os resultados, consta da tabela IV. A Tabela V mostra as médias do número total de erros permanentes e do número total de erros não permanentes, por faixa etária, nas três categorias de fluência semântica estudadas. Na categoria 'partes do corpo', não houve efeito significativo nem na faixa etária ( F = 2.690; p = 0,051) ou sexo ( F = 2.422; p = 0,123). Na categoria 'alimentação' houve efeito significativo na faixa etária ( F = 3.800; p < 0,013), mas não gênero ( F = 2.667; p < 0,106). A análise post hoc Bonferoni mostrou que as crianças de 10 anos eram significativamente melhores do que as de 7 ( p = 0,014). Em relação à categoria 'animais', o efeito significativo da faixa etária ( F = 3.030; p = 0,033) e nenhum efeito de gênero ( F = 0,288; p = 0,593). Na análise post hoc Bonferoni não apresentou diferença significativa entre os grupos. Teste de denominação mineira As médias de acertos por faixa etária são apresentadas na tabela I e a distribuição por percentis de acordo com os resultados consta da tabela IV. Houve um efeito significativo da faixa etária ( F = 10.699; p < 0,00), mas não gênero ( F = 0,000; p < 0,994). A análise post hoc Bonferoni mostrou que os acertos totais foram significativamente diferentes entre 10 e 7 a 8 anos de idade ( p = 0,000 e 0,003, respectivamente). As crianças de 9 anos eram significativamente melhores do que as de 7 ( p = 0,08). Deve-se notar que a diferença entre as diferentes faixas etárias nas categorias 'objetos' ( F = 0,755; p < 0,522), 'comida' ( F = 1.400; p < 0,247), 'animais' ( F = 1.403; p <0,247) e 'compartilhamentos' ( F = 0,266; p <0,850). No entanto, um efeito significativo de faixa etária foi observado nas categorias 'roupas' ( F = 7.040; p = 0,000), 'meio de transporte' ( F = 4.576; p = 0,005) e 'profissões' ( F = 7.072; p = 0,000). Para a categoria 'roupas', as crianças de 10 anos pontuaram significativamente mais alto do que as de 7 a 8 anos ( p = 0,000 e 0,06, respectivamente). Para a categoria 'profissões', as crianças de 7 anos obtiveram resultados significativamente inferiores. mais de 9 e 10 anos de idade ( p = 0,27 e 0,00, respectivamente). As crianças de 7 anos obtiveram resultados significativos. cativamente mais baixos do que aqueles de 8 anos de idade ( p = 0,021), 9 ( p = 0,012) e 10 anos ( p = 0,011) na categoria de 'meio de transporte'. Correlação entre testes Os resultados do Teste de Token, O teste de fluência verbal semântica e o teste de nomeação de Minas Gerais apresentaram correlação positiva significativa conforme tabela IV. DISCUSSÃO O objetivo principal deste estudo foi fornecer dados normativos relacionados ao desempenho de crianças em idade escolar em alguns testes de linguagem. Os resultadosmostram semelhanças com os obtidos na Itália por Riva et al [17] no teste de fluência verbal semântica. As crianças italianas obtiveram desempenho um pouco melhor do que as brasileiras nas categorias 'animais' e 'comida'. No entanto, essa diferença pode refletir o efeito da diferença metodológica, visto que durante a aplicação do teste os autores deram pistas para as crianças que apresentavam dificuldades na tarefa. Em nosso estudo, esse procedimento não foi realizado. O fator idade influenciou o desempenho dos sujeitos nos três testes. As crianças de 10 anos foram melhores do que as de 7 anos em todas as tarefas, exceto as de fluência verbal para a categoria semântica 'animais'. Os grupos de 7 e 8 anos não apresentaram diferenças significativas em nenhuma das tarefas. O mesmo foi observado entre as crianças de 9 a 10 anos e de 8 e 9 anos. Esses resultados estão de acordo com resultados anteriores em outros países [11,17] nos quais uma clara melhora no desempenho foi demonstrada de acordo com a idade nos testes de fluência verbal e no teste de nomeação de Boston. EM Quanto a Teste de Token, há poucos Tabela II. Lista de itens do teste de denominação de Minas Gerais. Objetos Animais Comida Meios de transporte Carro Bicicleta Autocarro Trem Roupas Ações Profissões Chaves Pente de cabelo Guitarra Telefone Cadeira Martelo Coelho Gato Frango Peixe Cachorro Aranha Abacaxi morango Banana Linguiça Milho torrado Sanduíche tênis Jeans Grampo de cabelo ou grampo Cinto Camisa Esticar Dança Empurrar Escreva Leitura Acontecer Bombeiro Carteiro cozinheiro Escritor / trabalhador de escritório Dentista Empregada ou limpeza Rancheiro Professor Pintor Padre Pedrero ou pedreiro Motociclista Médico Policial Garçom Livro Regra Vela Cama Vassoura Penico Garfo Lápis Bola Borboleta Cavalo Porco Rato Pescar Aparar Tome um banho Varrer L. FERNANDES MALLOY-DINIZ, ETAL REV NEUROL 2007; 44 (5): 275-280278 estudos normativos publicados na bibliografia para essa faixa etária. Lass et al [12], em crianças de 6 a 11 anos e 11 meses, divididas em 12 faixas etárias, utilizaram uma versão reduzida do teste, que continha 39 itens. Neste estudo, apenas uma pequena diferença foi encontrada entre o desempenho das diferentes faixas etárias. O número de itens de teste e os critérios de correção utilizados por esses autores diferem dos adotados em nosso estudo, o que dificulta a comparação direta dos resultados. Não houve diferença significativa entre os gêneros quanto ao desempenho dos testes avaliados. Estes resultados Esses resultados concordam com os de Riva et al [17] e Matute et al [12]. No entanto, eles não são consistentes com os de Halperin et al [11], TableV. Média e desvio padrão para as medidas do teste de fluência verbal - total de palavras (TP), erros permanentes (EP) e erros não permanentes (ENP) para as categorias 'animais', 'partes do corpo' e 'alimento' - de acordo com a faixa etária. Era Animais EP 0,20 (± 0,41) 0,18 (± 0,5) 0,24 (± 0,43) 0,33 (± 0,18) Partes do corpo TP IN P 13,10 (± 3,2) 0,15 (± 0,5) 13,36 (± 3,65) 0,09 (± 0,29) 14,20 (± 4,6) 0,31 (± 1,00) 15,90 (± 3,7) 0,20 (± 0,48) Comida EP 0,10 (± 0,44) 0,10 (± 0,3) 0,24 (± 0,43) 0,58 (± 1,1) 0,60 (± 0,25) 0,76 (± 1,3) IN P 0 0 0 0 IN P 7-8 8-9 9 a 10 10-11 0 0,22 (± 0,75) Tabela III. Desvios médios e padrão no TokenTest, Fluência verbal semântica e a prova mineira de nomeação, segundo faixa etária. Metade Desvio padrão TokenTest 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 30 31 32 33 2,6 3,1 2,3 2,1 Fluência verbal para a categoria 'animais' 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 12,3 12,8 14,27 14,7 3,6 2,9 3,5 2,9 Fluência verbal para a categoria 'partes do corpo' 7 anos 13,1 8 anos 13,36 9 anos 14,2 10 anos 15,9 3,2 3,65 4,6 3,7 Fluência verbal para a categoria 'comida' 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 12 12,9 14,1 15,2 2,6 3,9 4,3 3 Teste de Denominação 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 58 59,9 61 62,7 3,6 2,7 2,8 2,2 Tabela IV. Distribuição por percentis dos resultados do Teste de Token, teste de fluência verbal semântica e teste mineiro de nomeação segundo faixa etária. Percentil cinquenta10 25 75 90 TokenTest 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos Fluência verbal para a categoria 'animais' 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos Fluência verbal para a categoria 'partes do corpo' 7 anos 8 onze 8 anos 8 onze 9 anos 8 10 10 anos 12 13 Fluência verbal para a categoria 'comida' 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos Teste de Denominação 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 26 26 29 30 28 28 32 31 31 32 33 33 33 3. 4 3. 4 35 3. 4 35 3. 4 36 7 9 10 onze 10 onze 12 12 13 12 14 14 14 quinze 16 17 quinze 18 19 18 14 13 quinze quinze quinze 16 18 19 17 19 vinte 22 7 8 9 onze onze 10 onze 13 12 12 14 quinze 14 16 17 18 quinze 19 22 19 52 56 57 59 56 58 59 62 60 60 62 63 61 62 63 65 62 63 64 65 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DA LINGUAGEM REV NEUROL 2007; 44 (5): 275-280 279 que apresentou melhor desempenho masculino no teste de nomenclatura de Boston. Segundo Riva et al [17], eventuais diferenças entre os gêneros podem corresponder à relação examinador-participante, de forma que examinadores mais severos podem gerar maior número de respostas 'não sei' do que examinadores menores. participantes. A correlação positiva entre os testes é consistente com as observações de Riva et al [17], que mostraram correlação entre o teste de fluência verbal semântica, mas não o teste de fluência verbal fonética, com o teste de nomeação de Boston. Esses resultados sugerem que fluência semântica, nomeação e compreensão verbal têm processos de linguagem sobrepostos. O teste de nomenclatura mineiro, entretanto, embora apresente princípios semelhantes aos demais testes de nomenclatura [2], necessita de estudos de validação. A correlação entre seus resultados e os da Teste de Token ( 0,318) e os testes de fluência verbal semântica nas categorias 'animais' (0,347), 'partes do corpo' (0,262) e 'comida' (0,284) podem ser considerados como um teste de validade. A padronização dos três instrumentos descritos neste estudo é de fundamental importância no contexto da neuropsiquiatria. Ciência brasileira se levarmos em consideração a escassez de testes cognitivos padronizados no Brasil. O Teste de Token e o teste de fluência verbal semântica são instrumentos que apresentam grande número de estudos descritos na bibliografia e sua facilidade de uso os torna instrumentos atrativos para pesquisas clínicas e neuropsicológicas em diferentes faixas etárias, principalmente na faixa etária pediátrica. Segundo Pineda et al [14], os dois testes revelam de forma eficiente as dificuldades cognitivas de indivíduos com TDAH. A prova de nomenclatura mineira, ainda inédita, segue os mesmos princípios de utilização das demais provas de nomenclatura. Sua adaptação à população brasileira o torna um instrumento de potencial uso clínico e de pesquisa em nosso contexto. Os resultados alcançados até o momento devem ser considerados preliminares. Os estudos precisam ser realizados com amostras maiores, diferentes níveis socioeconômicos e outras faixas etárias. Estudos com populações clínicas são particularmente importantes para acumular evidências de validade discriminativa para esses testes em nosso meio. Embora preliminares, os resultados aqui apresentados podem ser úteis na escolha de dificuldades de linguagem expressiva e receptiva em crianças com idade e características sociais semelhantes. TableVI. Correlação entre o resultado da forma reduzida do TokenTest ( TTFR-36), número total de palavras na prova de fluência verbal semântica (categorias 'animais', 'partes do corpo' e 'comida') e acertos totais na prova mineira de nomeação. TTFR-36 Fluência verbal Teste de Denominação de minas gerais Animais Partes de Corpo 0,395 para0,000 0,498 para 0,000 1 Comida TTFR36 Correlação de Pearson p Correlação de Pearson p Correlação de Pearson p Correlação de Pearson p Correlação de Pearson p 1 0,325 para 0,001 1 0,325 para 0,001 0,598 para 0,000 0,474 para 0,000 1 0,318 para 0,001 0,211 para 0,034 0,262 para 0,008 0,284 para 0,004 1 Fluência verbal Animais 0,329 para 0,001 0,395 para 0,000 0,325 para 0,001 0,318 para 0,001 Partes do corpo 0,498 para 0,000 0,598 para 0,000 0,211 para 0,034 Comida 0,474 para 0,000 0,262 para 0,008 Teste de Denominação de minas gerais 0,284 para 0,004 para Correlação significativa p = 0,01. BIBLIOGRAFIA 1. Damasio AR, Damasio H. Aphasias. 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Fornecer dados normativos para escolares brasileiros em relação ao Token Test, Semmantic Verbal Fluency Test e Minas Gerais Naming Test (animais, partes do corpo e categorias de alimentos). Assuntos e métodos. 101 crianças (51 meninos, 50 meninas) com idades entre 7 a 10 anos (média: 8 anos e 8 meses), com 2 a 4 anos de escolaridade formal. Os critérios de exclusão incluíram pontuação abaixo do percentil 25 no Teste de Raven. Resultados. Não houve diferenças entre o desempenho masculino e feminino. A idade foi significativamente relacionada ao desempenho em todos os testes. Conclusão. Os resultados são compatíveis com a literatura e, a princípio, podem ser usados como referência em pesquisas e ambientes clínicos em nosso país. [REV NEUROL 2007; 44: 275-80] Palavras-chave. Língua. Normalização. Avaliação neuropsicológica. Desenvolvimento neuropsicológico. Psicometria.
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