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Patologia – Elaboração: Prof. Me. Alexandre Castelo Branco 1 AULA 05 – PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS ENDÓGENAS Os pigmentos, que são substâncias com cor própria, distribuídos amplamente na natureza e são encontrados em células vegetais e animais, nas quais desempenham importantes funções. A pigmentação é o processo de formação e/ou acúmulo, normal ou patológico, de pigmentos no organismo. Pigmentação patológica pode ser sinal de alterações bioquímicas pronunciadas, sendo o acúmulo ou a redução de certos pigmentos aspecto importante em várias doenças. Grande número de pigmentos origina-se de substâncias sintetizadas pelo próprio organismo (pigmentos endógenos), enquanto outros são formados no exterior e, por via respiratória, digestiva ou parenteral, penetram e depositam-se em diversos órgãos (pigmentos exógenos). PIGMENTAÇÕES ENDÓGENAS: Pode ser derivadas de: ✓ Hemoglobina (pigmentos biliares, hematoidina, hemossiderina); ✓ Melanina; ✓ Lipofuscina. 1. Pigmentos de hemoglobina: Pigmentos biliares: O principal pigmento biliar é a bilirrubina, um pigmento amarelo e produto final do catabolismo da fração heme da hemoglobina e de outras hemoproteínas. O conhecimento do seu metabolismo é essencial para o diagnóstico de grande número de doenças, hereditárias ou adquiridas, do fígado e do sangue. Hiperbilirrubinemia é a elevação da bilirrubina no sangue, decorrente do aumento na produção ou defeito hepático na remoção da mesma da circulação, cujo sinal clínico muito importante, a icterícia, que se caracteriza pela deposição do pigmento na pele, esclera e mucosas. Além disso, aumento na excreção de bilirrubina na bile favorece a formação de cálculos biliares. Patologia – Elaboração: Prof. Me. Alexandre Castelo Branco 2 Hematoidina: É constituída pela mistura de lipídeos e um pigmento semelhante à bilirrubina, sem ferro, que se forma em focos hemorrágicos, após a degradação das hemácias por macrófagos. Aparece a partir do final da segunda ou terceira semana após o sangramento, sob a forma de cristais de cor que varia do amarelo-ouro, amarelo-alaranjado ou vermelho-alaranjado até marrom dourado, constituídos de agulhas dispostas radialmente ou formando pequeninas placas romboidais, esferoidais ou irregulares. Hemossiderina: Junto com a ferritina, são as duas principais formas de armazenamento intracelular de ferro. A quantidade de ferro no corpo de um homem adulto é de aproximadamente 4 a 5 g, dos quais 65 a 70% estão presentes na hemoglobina; outros 10% estão contidos em mioglobinas, citocromos e enzimas que contêm ferro; os 20 a 25% restantes são armazenados como ferritina e hemossiderina nos hepatócitos (cerca de 40% do ferro armazenado) e em macrófagos do fígado, baço, medula óssea e linfonodos. O ferro é vital para todos os seres vivos, pois participa de diversos processos metabólicos, como transporte de oxigênio e síntese de DNA. Como o ferro é potencialmente tóxico, é necessário um constante equilíbrio entre absorção intestinal, transporte plasmático, armazenamento em hepatócitos e macrófagos e utilização pelas células. Aparece à microscopia de luz como grânulos intracitoplasmáticos grosseiros, castanho- escuros ou amarelo-dourados. A deposição excessiva de hemossiderina nos tecidos (hemossiderose) pode ser localizada ou sistêmica. Hemossiderose localizada é encontrada em hemorragias, em que a hemossiderina é vista no interior de macrófagos 24 a 48 h após o início do sangramento. Patologia – Elaboração: Prof. Me. Alexandre Castelo Branco 3 Hemossiderose sistêmica ocorre por aumento da absorção intestinal de ferro, em anemias hemolíticas e após transfusões de sangue repetidas. O pigmento acumula-se, sobretudo, nos macrófagos do fígado, baço e medula óssea e em linfonodos, mas pode ocorrer também no fígado, pâncreas, coração e glândulas endócrinas, evidenciando-se grânulos azulados. Em casos de hemossiderose sistêmica na qual há aumento da absorção intestinal do ferro por defeito genético, têm-se um quadro de hemocromatose. Devido à limitada capacidade de excreção, exceto quando ocorre hemorragia, e à falta de um mecanismo fisiológico de excreção do excesso do metal, aumento da absorção de ferro resulta no acúmulo do metal em vários órgãos. Excesso de ferro lesa as células por meio da formação de radicais livres e/ou da liberação de enzimas hidrolíticas e de ferro acumulado nos lisossomos. Com isso, surgem lesões em vários órgãos, sobretudo cirrose hepática e hipotrofia do pâncreas exócrino e endócrino, que provoca diabetes (conhecido como diabetes bronzeado, devido à pigmentação bronzeada da pele), hipogonadismo, insuficiência cardíaca e artropatia. Patologia – Elaboração: Prof. Me. Alexandre Castelo Branco 4 2. Melanina: A melanina (do grego melas = negro), pigmento cuja cor varia do castanho ao negro, é amplamente encontrada em insetos, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, bem como em plantas. A diversidade da cor observada na pele, cabelos e olhos dos seres humanos e da plumagem das aves resulta em grande parte da distribuição de melanina. As impressões visuais da cor da pele e do cabelo são muito importantes nas interações individuais; além disso, a cor da pele é tradicionalmente utilizada para definir as diferentes etnias humanas. As funções da pigmentação melânica cutânea são proteção contra a radiação ultravioleta B (fotoproteção), ação antioxidante, absorção de calor, cosmética, comunicação social, camuflagem em várias espécies animais (p. ex., peixes e anfíbios) e reforço da cutícula de insetos e parede de células vegetais. A ação fotoprotetora da melanina deve-se à sua eficiência em absorver e dispersar fótons, convertendo rapidamente sua energia em calor. A produção excessiva e a redução na síntese de melanina (hiper e hipopigmentação melânicas), denominadas melanodermias e leucodermias, são frequentes e associam-se a numerosas doenças. As lesões hiperpigmentadas mais comuns são as efélides (sardas), as manchas senis, os nevos e os melanomas. Ao lado disso, muitas substâncias podem causar hiperpigmentação melânica, como medicamentos (sulfonamidas, hidantoína, cloroquina, levodopa), anticoncepcionais orais, metais pesados (arsênico, bismuto, ouro, prata) e agentes quimioterápicos (ciclofosfamida, 5-fluoruracila, doxorrubicina, bleomicina). A hipopigmentação pode ser congênita (p. ex., albinismo) ou adquirida (p. ex., vitiligo). Patologia – Elaboração: Prof. Me. Alexandre Castelo Branco 5 3. Lipofuscina: Também chamada lipocromo, pigmento de desgaste ou pigmento do envelhecimento, a lipofuscina (do latim fuscus = marrom) é marcador de envelhecimento celular. Aparece como grânulos intracitoplasmáticos, pardo-amarelados. A lipofuscina contém principalmente proteínas e lipídeos, que formam polímeros não degradáveis originados da degradação oxidativa de várias macromoléculas (proteínas glicadas, com ligações cruzadas entre as moléculas, fosfolipídeos, ácidos graxos, colesterol e metais). A maioria das células renova suas macromoléculas e organelas lesadas ou que não são mais necessárias. A lipofuscina resulta da peroxidação de material autofagocitado e acumulado em lisossomos; ferro nesse material favorece a formação de radicais livres, o que causa peroxidação do conteúdo intralisossômico e contribui para a formação de lisossomos secundários, alguns dos quais se transformam em corpos residuais (lipofuscina). A formação de corpos residuais resulta, portanto, do desequilíbrio entre o processo de autofagocitose contínua e a incapacidade da célula de eliminar os resíduos da autodigestão. Lesão celular por radicais livres constitui a teoria do envelhecimento pelo estresse oxidativo. Segundoessa teoria, a lesão celular e a formação de lipofuscina seriam resultantes de radicais livres produzidos no metabolismo normal a partir do oxigênio molecular. Com o avançar da idade, a lipofuscina deposita-se especialmente em células pós-mitóticas como neurônios, células musculares cardíacas e esqueléticas e epitélio pigmentar da retina. Células diferenciadas de vida curta, como ceratinócitos, enterócitos e hemácias, são logo substituídas e, portanto, não acumulam corpos residuais. Os órgãos afetados pelo acúmulo de lipofuscina sofrem redução volumétrica e ponderal e adquirem coloração parda (hipotrofia parda). O acúmulo de lipofuscina no epitélio pigmentar da retina associa-se à degeneração macular relacionada com a idade, que é a principal causa de cegueira ou distúrbio visual grave nos países desenvolvidos, afetando 10 a 20% dos indivíduos acima de 65 anos. Patologia – Elaboração: Prof. Me. Alexandre Castelo Branco 6 O pigmento acumula-se também no miocárdio e no fígado de indivíduos desnutridos, particularmente aqueles com caquexia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FILHO, G. B. Bogliolo Patologia. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. FRANCO, M.; MONTENEGRO, M. R. Patologia: Processos Gerais. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009.
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