Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESIGN DE SOBRANCELHAS Jessica Gabriele da Silva Marques Anatomia da pele e estrutura dos pelos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a estrutura anatômica dos pelos. � Explicar a fisiologia do crescimento dos pelos. � Identificar alopecias de sobrancelhas para indicar métodos de corre- ção/tratamentos adequados. Introdução Nos seres humanos, os pelos exercem basicamente função de proteção mecânica e térmica. Contudo, os pelos que compõem as sobrancelhas apresentam também a importante função de dar expressividade à face. O profissional designer de sobrancelhas precisa compreender o mecanismo e os efeitos da remoção dos pelos, além de saber indicar os métodos de correção e/ou tratamento adequados a cada cliente. Neste capítulo, você vai estudar sobre a anatomia dos pelos e a fi- siologia do ciclo de crescimento. Você também conhecerá os processos que podem afetar o crescimento dos pelos e alterar a estrutura das sobrancelhas. Anatomia da pele e do folículo piloso Os pelos são estruturas filiformes projetadas na superfície da pele, fazendo parte do sistema tegumentar, que compreende a membrana cutânea (pele) e os anexos cutâneos (glândulas sebáceas e sudoríferas, unhas e pelos). A pele constitui um meio de comunicação com o ambiente e age como barreira de proteção contra agentes externos que possam causar agressões físicas, químicas e biológicas. Assim, os pelos também apresentam função de proporcionar proteção, seja mecânica (principalmente em regiões próximo a orifícios naturais, como órbitas oculares, narinas e ouvidos) ou térmica (para evitar exposição aos raios UV). Para Tortora e Derrickson (2016), a pele é estruturalmente formada por duas partes principais. Na superfície, encontra-se a epiderme, que é delgada e composta por tecido epitelial. Logo abaixo, está a derme, mais espessa e composta por tecido conectivo. Zieri et al. (2014) explicam que os pelos originam-se de uma invaginação da superfície epidérmica para a derme, que forma o folículo piloso. A Figura 1 mostra uma ilustração transversal da pele, em que é possível observar, além da estrutura e dos componentes das camadas da pele, o posi- cionamento do folículo piloso e as estruturas associadas a ele. Figura 1. Visão transversal da pele, ilustrando a composição da epiderme e da derme, a tela subcutânea (hipoderme), as glândulas sudoríferas e a unidade pilossebácea. Fonte: Adaptada de Vectorism/Shutterstock.com. Haste do pelo Terminação nervosa livre Veia Artéria Epiderme Derme Tela subcutânea Região interna Região externa Poro sudorífero Papila dérmica Glândula sebácea Músculo eretor do pelo Glândula sudorífera écrina Nervo sensorial Folículo piloso Raiz Glândula sudorífera apócrina Tecido adiposo Crista epidérmica Alça capilar Anatomia da pele e estrutura dos pelos14 Ao folículo piloso estão anexados a glândula sebácea, o músculo eretor do pelo e, em certas regiões do corpo, o ducto excretor de uma glândula apócrina, formando a unidade ou o aparelho pilossebáceo. Para compreender melhor essa estrutura, consulte o Manual de dermatologia clínica (RIVITTI, 2014, p. 8), subtítulo “Estrutura dos anexos cutâneos”. Rivitti (2014) explica que a porção intradérmica resultante dessa inva- ginação é chamada raiz, e que a porção livre, situada na superfície da pele, é denominada haste. De acordo com Elder (2011), a raiz do folículo piloso divide-se em três partes, compreendidas longitudinalmente: 1. o segmento inferior, que se estende da base do folículo até a inserção do músculo eretor do pelo; 2. a porção média, ou istmo, que se estende desde a inserção do músculo eretor do pelo até a entrada do canal sebáceo; 3. a porção superior, ou infundíbulo, que se estende da entrada do ca- nal sebáceo até o orifício folicular. Já na superfície da pele, os pelos apresentam-se como estruturas em forma de haste, ricas em queratina. No segmento inferior, encontra-se o bulbo piloso, que contém a matriz do pelo, formada por um conjunto de células queratinizadas por meio das quais o pelo será produzido por meio do processo de mitose celular. Entre as células da matriz estão também os melanócitos, responsáveis pela formação do pigmento dos pelos. Na matriz de cada bulbo está introduzida a papila pilosa dérmica, uma estrutura oriunda da derme, altamente vascularizada e inervada, capaz de fornecer suprimento às células da matriz. Assim, o crescimento dos pelos depende de substâncias presentes nos capilares encontrados no bulbo. Traumas nas papilas dérmicas podem impedir o crescimento de novos pelos. Além disso, o crescimento dos fios é influenciado por outros fatores, como interferências sistêmicas, nutricionais, emocionais e, especialmente, hormonais (androgênios) (RIVITTI, 2014). 15Anatomia da pele e estrutura dos pelos O pelo propriamente dito é formado por três camadas concêntricas de células queratinizadas mortas. No centro, encontra-se a medula, composta por células grandes e espaços de ar, e cuja função ainda é discutida. Estudos recentes indicam uma associação dessa estrutura com o início da fase de germinação do pelo, apresentando a função de direcionar o novo pelo em direção ao poro (ou seja, a região onde o pelo se projeta para a superfície da pele, na parte superior do infundíbulo). Na haste de pelos finos, a medula é descontínua e quase inexistente. Envolto na medula encontra-se o córtex, constituído por queratinócitos fortemente compactados, os quais proporcionam solidez e elasticidade aos pelos. Apresenta uma espécie de cimento intercelular ou complexo de mem- brana celular, que tem a função de dar coesão ao córtex e às escamas da última camada, a cutícula. Esse complexo de membrana celular contribui para a solidez dos fios. Por fim, a cutícula, que recobre os pelos externamente, sendo altamente queratinizada e organizada com células sobrepostas como em um telhado. Além disso, a cutícula é propensa a maiores desgastes e tem como função proteger o córtex como barreira física e química, além de ser responsável pelo brilho, considerando os cabelos. Os pelos contêm melanina no córtex e na medula. A coloração dos pelos varia conforme a quantidade de melanina presente nessas estruturas. Elder (2011) explica que a melanina é produzida nos melanócitos e é incorporada às futuras células do pelo por meio do processo de fagocitose da porção distal dos prolongamentos dendríticos. Pelos brancos não possuem pigmento cortical e, de acordo com Tortora e Derrickson (2016), esse fenômeno ocorre devido a um declínio na síntese de melanina e ao acúmulo de bolhas de ar na haste do pelo. Há também a presença de estruturas chamadas bainhas radiculares, que envolvem o pelo ainda dentro do folículo piloso. Rivitti (2014) explica que a bainha radicular interna é composta por três camadas concêntricas, quais sejam (de dentro para fora): cutícula da bainha folicular interna, camada de Huxley e camada de Henle. Após completa queratinização, ao alcançar o istmo, as camadas da bainha radicular interna desintegram-se. Nessa mesma Anatomia da pele e estrutura dos pelos16 altura, a bainha radicular externa começa sua queratinização. Enquanto a bainha interna se origina do bulbo, a externa se prolonga a partir da epiderme até as porções laterais do bulbo, diminuindo progressivamente de espessura. O pelo e a bainha folicular movem-se para cima em consonância, e as células da cutícula do pelo se justapõem fortemente à cutícula da bainha radicular interna, o que confere a intensa adesão dos pelos, dificultando os processos de remoção. Todas essas estruturas e a forma como se dispõem podem ser observadas na Figura 2. Figura 2. Estrutura do folículo piloso. Fonte: Adaptada de Rivitti (2018, p. 16). Córtex Medula Papila Acrotríquio Infundíbulo Istmo Glândula sebácea Segmento inferior Cutícula Camada de Huxley Camada de Henle Bainha interna da raiz Membrana basalhialina Matriz do pelo Melanócitos Células germinativas Bulbo Bainha externa da raiz A queratina é o componente principal do pelo. Ela é composta por cerca de 20 aminoácidos, sendo os principais a cisteína, a arginina e a citrulina. As cadeias de queratina se ligam por pontes dissulfeto (entre as moléculas de enxofre), o que confere resistência à haste. Há também pontes de hidrogênio, importantes na manutenção da estrutura da haste. Assim, o pelo compreende uma estrutura muito resistente, flexível e elástica, capaz de alongar-se de 20 a 30%, quando seco, até 100% quando molhado. 17Anatomia da pele e estrutura dos pelos Em sua posição normal, os pelos emergem em ângulo com a superfície da pele e estão presentes na maior parte do corpo humano, com exceção de algumas regiões, como lábios, palmas das mãos, plantas dos pés, glande do pênis e clitóris. Sua espessura e conformação estão intimamente ligadas às funções que exercem, podendo ser classificados em: � Lanugos: muito finos e encontrados nos fetos. � Velos: considerados fracos, pequenos e claros, recobrindo a superfície corporal. � Terminais: consideravelmente fortes, espessos, longos, grosseiros e escuros, estando presentes nas regiões genitais, nas axilas, no couro cabeludo e em determinadas regiões da face. Do ponto de vista funcional, além de servirem como defesa nas áreas orificiais e como barreira térmica no couro cabeludo, os pelos diminuem o atrito em áreas intertriginosas, e ainda fazem parte do aparelho sensorial cutâneo devido à abundante inervação nessa área. Os pelos também recebem denominações específicas de acordo com o local em que se desenvolvem. Assim, chamamos cabelos os pelos que se desenvolvem no couro cabeludo, supercílios os que crescem sobre as órbitas oculares (sobrancelhas), cílios os que estão localizados nas bordas das pálpebras, bigode os pelos que crescem no lábio superior, barba os que cobrem o terço inferior da face masculina, pelos pubianos os que recobrem a região do púbis, vibrissas os encontrados nas entradas das narinas, tragos os dispersos no pavilhão articular junto ao meato acústico e hircos aqueles agrupados na região axilar. O ciclo de crescimento do pelo Os pelos não crescem continuamente. Há alternância entre fases de crescimento, repouso e queda, indicando que há um padrão cíclico no desenvolvimento e na multiplicação das células da matriz folicular. A esse padrão dá-se o nome de ciclo de crescimento do pelo (RIVITTI, 2014). Anatomia da pele e estrutura dos pelos18 As fases do ciclo de crescimento são caracterizadas por alterações que ocorrem na porção inferior do folículo, onde a matriz é estimulada a produzir um novo pelo para cada pelo antigo que cai. Embora tradicionalmente sejam reconhecidas apenas três fases de crescimento, estudos mais recentes revelam cinco fases, que são: fase de crescimento ativo (anagênese ou fase anágena); fase de regressão ou involução (catagênese ou fase catágena); fase de repouso (telogênese ou fase telógena); fase de repouso absoluto (fase quenógena); e fase de queda (fase exógena) (Figura 3). As duas últimas vêm sendo acrescentadas à literatura mais recente. O ciclo ocorre de forma independente e assíncrona em todos os pelos humanos, não importando o tipo, a localização e o padrão de crescimento. Figura 3. Fases do ciclo de crescimento dos fios. Fonte: Adaptada de Rivitti (2018, p. 17). Anágeno Catágeno Telógeno Anágeno A duração de um ciclo de crescimento completo varia conforme os diferentes tipos de pelo e as diferentes partes do corpo em que se encontram. Enquanto no couro cabeludo, por exemplo, o ciclo leva de 3 a 6 anos para findar, nas sobrancelhas, é concluído em quatro meses (KUMAR; WAHID; ANOOP, 2012). 19Anatomia da pele e estrutura dos pelos A fase anágena caracteriza-se por intensa atividade mitótica na matriz do folículo piloso, que gera a formação de nova fibra de pelo, empurrando para o exterior o pelo antigo, inativo. Nessa fase, o bulbo piloso apresenta- -se como uma expansão nodular, composto pelas células da matriz do pelo e melanócitos em atividade. Além disso, uma pequena estrutura dérmica de formato ovoide, a papila dérmica do bulbo piloso, projeta-se para seu interior e induz e mantém o crescimento do pelo. Elder (2011) explica que à medida que se movem para cima, as células originadas da matriz se diferenciam em seis tipos, cada uma queratinizando-se em um nível diferente. A primeira a se queratinizar é a camada de Henle — a mais externa da bainha radicular interna —, criando um firme envoltório nas partes centrais moles do pelo em formação. Em seguida, queratinizam-se as outras camadas internas da bainha e a cutícula do pelo, e por fim o córtex e a medula. Nessa fase, o pelo apresentará sua estrutura já completamente desenvolvida. A duração da fase anágena pode variar de meses a anos, e é dependente da proliferação contínua e da diferenciação das células da matriz, sendo diretamente proporcional ao comprimento do pelo. Você já nasceu com todos os seus folículos pilosos presentes, e com praticamente todos em fase anágena. Porém, na fase adulta, apenas 85 a 90% dos seus pelos encontram-se nessa fase, considerando que o ciclo de crescimento de seus pelos esteja saudável. A fase catágena é a fase intermediária, período de transição entre a fase de crescimento e a de repouso. É considerada uma fase de regressão, com intensa atividade de apoptose e fagocitose. Anatomia da pele e estrutura dos pelos20 Na fase catágena, a estrutura do folículo diminui em um terço de suas dimensões anteriores por meio de um processo que inclui a apoptose de células epiteliais no bulbo e na bainha radicular externa. A melanogênese na matriz é interrompida, e a proliferação celular diminui continuamente, até cessar. O bulbo se retrai e se separa da papila dérmica, e à medida que o pelo se move para cima a porção inferior do folículo involui. As células da porção superior do bulbo continuam seu processo de diferenciação à haste do pelo. Nessa fase, o pelo assume forma clava em sua extremidade e se mantém aderido ao saco folicular por retalhos de queratina (RIVITTI, 2014). Depois de apenas alguns dias ou semanas, a fase catágena termina e o pelo entra na fase de repouso. A fase de repouso dura de poucas semanas a alguns meses e denomina-se telógena. Nessa fase, não existe proliferação nem diferenciação ou apoptose significativa. É a fase em que o pelo se separa da papila dérmica, podendo ser mais facilmente removido. Contudo, apresenta sua porção inferior quera- tinizada em forma de clava em virtude da deposição adicional de queratina. Tortora e Derrickson (2016) indicam que, nessa fase, os folículos mostram-se completamente quiescentes, reduzidos à metade ou menos de seu tamanho normal, já havendo total desvinculação entre a papila dérmica e o pelo em estágio de eliminação. Alguns autores recentemente têm indicado mais duas fases de crescimento, as quais ficam entre a telógena e a nova anagênese. São elas: um período de total repouso folicular, que recebe o nome de fase quenógena, e um período em que ocorre o desprendimento total do pelo e sua consequente queda, marcada pelo nome de fase exógena. Antes da queda definitiva do pelo, é possível observar um trato fibroso na região anteriormente ocupada, onde será iniciada uma nova fase anágena por subsequente diferenciação. Assim, para produzir novos pelos, os folículos precisam passar por todas essas fases, retornando para a anagênese, e assim refazendo o ciclo. Da mesma forma que a duração do ciclo, a taxa de cresci- mento dos pelos também está relacionada com o tipo de pelo e a área corporal envolvida, sendo mais rápida para pelos mais longos, como no caso dos do couro cabeludo (0,35 mm/dia), e mais lenta para pelos mais curtos, como no caso dos das sobrancelhas (0,16 mm/dia). A taxa de crescimento também pode ser afetada pela idade e por alterações hormonais. 21Anatomia da pele e estruturados pelos Durante a puberdade, por exemplo, os testículos começam a liberar quantidades significativas de andrógenos (hormônios sexuais masculinos), fazendo com que os meninos desenvolvam um padrão masculino comum de crescimento de pelo, incluindo barba e pelos no peito. Já nas meninas, os ovários e as glândulas suprarrenais produzem pequenas quantidades de andrógenos, resultando no crescimento de pelos nas axilas e na região púbica. Além disso, há o escurecimento e espessamento dos pelos das sobrancelhas para ambos os sexos. De acordo com Tortora e Derrickson (2016, p. 105): Ocasionalmente, um tumor nas glândulas suprarrenais ou nos ovários pode produzir uma quantidade excessiva de andrógenos. O resultado em mulheres ou homens pré-púberes é o hirsutismo, uma condição de excesso de pelos corporais. Com o envelhecimento, ocorrem diversas alterações morfológicas e fi- siológicas na pele, como o declínio na taxa de crescimento dos pelos, decor- rente do encurtamento progressivo das fases do seu ciclo, e uma progressiva diminuição na densidade de folículos pilosos por área de unidade na face e no couro cabeludo. A haste dos pelos geralmente encontra-se com diâmetro reduzido em pessoas mais velhas. No entanto, em sobrancelhas, ouvidos e narinas dos homens e na região supralabial e mentoniana de mulheres, o diâmetro é aumentado (ELDER, 2011). Assim, mulheres maduras comumente apresentam sobrancelhas ralas e falhadas, enquanto homens apresentam sobrancelhas com pelos grosseiros e compridos. Tal fato pode gerar insatisfação com a imagem pessoal do ponto de vista estético, levando ambos à procura de procedimentos para solucionar o problema. O design de sobrancelhas, para homens, é o mais indicado, apresentando caráter contínuo, uma vez que os pelos voltam a crescer. Para as mulheres, recomenda-se a micropigmentação, que molda o desenho das sobrancelhas por meio da implantação subepidérmica de pigmentos. A micropigmentação tem duração semipermanente, tendo que ser realizada ao menos uma vez a cada dois anos. Anatomia da pele e estrutura dos pelos22 A fase do ciclo de crescimento em que se encontra o pelo influencia no momento da sua remoção. Por exemplo, pelos em anagênese são especialmente sensíveis a agressões físicas, químicas, inflamatórias ou infecciosas, e pelos em fase telógena saem com maior facilidade, sem causar grandes desconfortos. Alterações do crescimento das sobrancelhas Além de proteção mecânica e térmica do globo ocular, as sobrancelhas po- dem embelezar a face, mudando a fisionomia. O olhar é um dos pontos mais importantes e marcantes da face, pois projeta intenções, sensações, emoções, ações e reações. As sobrancelhas, assim, são responsáveis por dar expressão e harmonia facial de acordo com o perfil de cada indivíduo. As sobrancelhas apresentam, em cada época, características peculiares, pois as mulheres moldam seus pelos de acordo com as tendências de moda. Basta olhar e comparar as sobrancelhas das mulheres das diferentes gerações de sua família. Fonte: Adaptada de Aastock/Shutterstock.com; Photobac/Shutterstock.com. 23Anatomia da pele e estrutura dos pelos Segundo Santos (2018), a autoestima é fundamental para a identidade do sujeito, bem como é considerada um dos indicadores de saúde mental. Assim, considerando que na sociedade atual há uma supervalorização da aparência estética, pessoas insatisfeitas com suas sobrancelhas podem apresentar sintomas de baixa autoestima. Quando um cliente procura realizar o procedimento de design de sobrancelhas, nem sempre o emprego de uma técnica aprendida é suficiente, considerando que cada indivíduo apresentará características pe- culiares de cor, forma, espessura e densidade, as quais deverão ser analisadas pelo profissional antes de executar o procedimento. Quando os pelos estão em excesso, não há grandes dificuldades para o profissional, uma vez que os processos de corte e remoção dos fios são su- ficientes para proporcionar o design adequado ao cliente. Contudo, existem fatores que podem interferir no ciclo de crescimento dos pelos, deixando as sobrancelhas ralas, falhadas ou até com ausência total de pelos. Nesses casos, é preciso que o profissional saiba avaliar e indicar os melhores recursos para recuperar os fios ou pelo menos a aparência de sobrancelhas naturais. A utilização de fichas de anamnese pode ser muito útil para auxiliar o profissional a identificar a causa das alopecias. Na ficha, são registrados, além dos dados cadastrais, informações relevantes ao histórico do cliente em relação aos cuidados com as so- brancelhas e questões norteadoras para desvendar possíveis quadros patológicos. Podem ser realizadas perguntas como: Há quanto tempo você remove os pelos de suas sobrancelhas? Qual o método utilizado? Você faz uso de algum medicamento regular? Há histórico de alopecias em sua família? Alopecias são doenças que se caracterizam pela redução ou ausência de cabelos e/ou pelos. Há vários quadros clínicos de alopecias. Em geral, elas são classificadas como alopecias não cicatriciais, que podem ocorrer devido à queda acelerada dos fios e/ou involução dos folículos pilosos, ou alopecias cicatriciais, em que a lesão se dá por cicatriz e fibrose na região do folículo piloso (HABIF, 2012). Anatomia da pele e estrutura dos pelos24 Alopecias não cicatriciais Dentre as alopecias não cicatriciais estão a alopecia areata e o eflúvio aná- geno e telógeno, em que a queda anormal dos cabelos e pelos é provocada por condições que alteram o ciclo de crescimento em alguma das suas fases (anágena, catágena ou telógena). Há também a alopecia pós-quimioterápica, induzida por medicamentos quimioterápicos, e a alopecia androgenética, que ocorre por indução hormonal. Essa última caracteriza uma condição de involução dos folículos pilosos por indução hormonal. É uma condição genética de miniaturização dos folículos terminais comum, gradual e progressiva. Ocorre em determinadas áreas do couro cabeludo e é produzida pela ação de andrógenos circulantes. Apesar de ocorrer tanto em homens quanto em mulheres, a alopecia androgenética restringe-se ao couro cabeludo, não afetando os pelos das sobrancelhas. Tortora e Derrickson (2016) explicam que agentes quimioterápicos utilizados na quimioterapia para tratamento do câncer têm como objetivo interromper o ciclo de vida das células cancerosas, que se dividem de forma rápida. Infelizmente, os medicamentos também afetam outras células que se dividem com rapidez no corpo, como é o caso das células da matriz do folículo piloso. É por isso que ocorre a perda dos cabelos e pelos de pacientes submetidos à quimioterapia. Contudo, aproximadamente 15% das células da matriz do couro cabeludo estão na fase de repouso, e essas células não são afetadas pela quimioterapia. Então, assim que a quimioterapia é interrompida, as células da matriz substituem os folículos pilosos e o crescimento dos cabelos e pelos recomeça. A alopecia areata é uma doença crônica que se manifesta pela queda de pelos sem sinais de atrofia ou inflamação. Pode ocorrer de maneira circunscrita ou generalizada em certas partes do corpo, ou ainda de maneira universal, resultando na perda de todos os pelos do corpo. Na maioria dos casos, o couro cabeludo é a primeira área afetada. Entretanto, a ausência dos pelos pode se dar nas sobrancelhas, nos cílios ou em outras áreas corporais (Figura 4). As causas da doença ainda não estão totalmente claras, mas nota-se relação com fatores genéticos, imunológicos e até psicológicos. Uma vez que se trata de uma doença benigna, que tende a regredir espontaneamente e rescindir sem 25Anatomia da pele e estrutura dos pelos causa aparente, o tratamento não é obrigatório. Contudo, costuma ser indicado porque pode causar distúrbios psicológicos importantes. O uso de corticoides, tópicos ou injetáveis, tem sido relatado como um dos recursos mais eficazes no tratamento. Porém, também há estudos mostrando benefíciosdo uso de soluções de Minoxidil para estimular o crescimento dos pelos. Figura 4. Paciente com alopecia areata em sobrancelhas. Fonte: Adaptada de Photographee.eu/Shutterstock.com. Os eflúvios decorrem de alguma situação-estímulo (estresse, febre, de- ficiência nutricional e uso de alguns medicamentos, por exemplo) que gera um desequilíbrio no ciclo de crescimento, fazendo com que os pelos em fase anágena entrem, antes do programado, na fase catágena ou telógena, interrom- pendo o ciclo. Tal fenômeno resulta em queda exagerada dos cabelos. Contudo, não se observam efeitos significativos nos pelos das sobrancelhas. Algumas doenças sistêmicas podem, também, afetar os pelos das sobrancelhas. Entre elas destaca-se a sífilis (doença sexualmente transmissível), a hanseníase e o hipotireoidismo. Anatomia da pele e estrutura dos pelos26 Neste link, confira a relação da sífilis com alopecias de sobrancelhas. https://goo.gl/XaspZq Já neste link, leia mais sobre a hanseníase relacionada a alopecias de sobrancelhas. https://goo.gl/CvPsUh Alopecias cicatriciais Você já deve ter ouvido falar que o hábito de remover os pelos repetidamente ao longo dos anos, seja com pinça, cera ou linha, pode promover o afinamento progressivo das sobrancelhas. De fato, isso pode acontecer. A alopecia traumática é também conhecida como alopecia mecânica, alopecia induzida por pressão, alopecia de tração ou alopecia pós-operatória. Ocorre por algum tipo de ação mecânica, que pode resultar em quadros de alopecia temporária ou até mesmo definitiva (nesse caso, cicatricial). Diferentes situações podem causar alopecias traumáticas, entre elas queima- duras, incisões cirúrgicas, infecções e, inclusive, sucessiva retirada mecânica dos pelos, como no caso das sobrancelhas (HIGINO et al., 2012). Para todos esses casos, o tratamento poderá ser eficaz ou não, de acordo com o comprometimento da lesão do folículo. Assim, folículos com traumas leves e em estágios iniciais terão resposta eficaz ao tratamento. Entretanto, folículos que já apresentam fibrose cicatricial possivelmente não apresentarão resultado algum. Toda vez que um tecido sofre trauma, ele é induzido à regeneração. Quando a re- generação ocorre por segunda intenção, isto é, quando a lesão é maior do que a capacidade de o tecido se regenerar de forma sadia, ocorre a substituição de células parenquimais por tecido fibroso. Como o tecido fibroso não apresenta as mesmas características do tecido original, este perde suas funções específicas. Assim, quando o folículo apresenta-se fibrosado, como no caso de queimaduras graves, por exemplo, não haverá possibilidades de regenerá-lo. 27Anatomia da pele e estrutura dos pelos A maioria dos tratamentos propostos tem como objetivo reativar os folículos pilosos que estão danificados pelo trauma. Isso é feito por meio do estímulo de regeneração tecidual por indução de processo inflamatório ou do estímulo do aumento da atividade celular. Estudos mostram resultados satisfatórios com o uso do laser vermelho de baixa potência e do microagulhamento associado a alguns fatores de crescimento específicos. Outro tipo de patologia que tem se mostrado preocupante é a alopecia fibrosante frontal. Apesar de os primeiros casos terem sido descritos apenas em 1994, hoje ela é considerada uma epidemia, sendo uma das mais frequentes alopecias cicatriciais. A queda dos pelos das sobrancelhas pode ser o primeiro sintoma da doença. Além desse, apresenta recessão da linha de implantação dos cabelos e couro cabeludo discretamente atrófico, com folículos pouco visíveis e coloração eritemato-violácea. Apesar de ainda não haver cura relatada, é possível controlar a progressão com medicamentos orais, os quais diminuem a atividade inflamatória. Por isso, quanto mais cedo houver um diagnóstico, maior será a eficácia do tratamento. O médico poderá indicar anti-inflamatórios, corticoides e afins de acordo com o estágio e a gravidade da doença. Como mencionado, em muitos casos há a possibilidade de recuperação dos pelos com tratamento adequado, seja medicamentoso (indicado pelo médico), cosmético ou eletrotermofotoestético, dependendo do grau de acometimento da alopecia. Para todos os casos de alopecia que não apresentam cura ou possibilidade de regressão, o procedimento de design de sobrancelhas pode ser associado a técnicas de maquiagem, coloração semipermanente com henna ou tintura de sobrancelhas e, ainda, micropigmentação. A micropigmentação é o único recurso que oferece uma solução de longo prazo, podendo durar de 8 meses a 2 anos. É muito importante conhecer o quadro clínico e as características específicas das diferentes alopecias de sobrancelhas para poder auxiliar o seu cliente, seja com indicações de tratamento ou com encaminhamento médico. No vídeo a seguir, você poderá aprender um pouco mais sobre esse tema. https://goo.gl/GmZ377 Anatomia da pele e estrutura dos pelos28 1. A matriz presente no bulbo folicular é composta por um conjunto de células que, por meio do processo de mitose celular, formam a haste do pelo. Para a indução da mitose, é necessária a presença de uma estrutura responsável pelo suprimento e pela inervação das células da matriz. Assinale a alternativa que indica a estrutura em questão. a) Haste folicular. b) Camada de Henle. c) Bainha radicular externa. d) Papila dérmica. e) Medula. 2. A haste folicular é formada por três camadas concêntricas de células queratinizadas mortas: medula, córtex e cutícula. Assinale a alternativa que justifica a função da cutícula em relação à sua estrutura anatômica. a) A cutícula está firmemente justaposta ao córtex para direcionar os pelos em direção ao infundíbulo. b) A cutícula apresenta uma espécie de cimento intercelular ou complexo de membrana celular, que tem a função de dar coesão ao córtex. c) A cutícula é organizada em células sobrepostas em forma de telhado com a função de formar uma barreira de proteção contra agentes físicos e químicos. d) A cutícula é altamente queratinizada e organizada para proporcionar uma estrutura cíclica aos pelos. e) A cutícula é formada por células grandes e justapostas e é propensa a maiores desgastes. 3. No ciclo de crescimento dos pelos, a matriz é estimulada a produzir um novo pelo para cada pelo antigo que cai. Embora a maioria dos livros cite apenas três fases do ciclo, estudos recentes revelam cinco fases. Considerando a fase quenógena, assinale a alternativa que indica sua descrição. a) Sinaliza a transição entre o crescimento e o repouso dos pelos. b) Demarca o período de repouso total e absoluto da atividade folicular. c) Identifica a fase em que o pelo está em processo de separação da papila dérmica. d) Demarca o período em que ocorre o desprendimento total do pelo e sua consequente queda. e) Indica o surgimento de um trato fibroso na matriz, onde será iniciada uma nova fase anágena para produção do um novo pelo. 4. Existem alterações que podem interferir no ciclo de crescimento dos pelos, causando patologias que acarretam desconforto do ponto de vista estético e geram problemas de autoestima aos pacientes. Considerando as desordens estudadas, assinale a alternativa correta. a) A alopecia fibrosante frontal é uma doença crônica manifestada pela queda de pelos 29Anatomia da pele e estrutura dos pelos circunscrita, generalizada ou universal, sem sinais inflamatórios ou de atrofia folicular. b) O hirsutismo é uma doença crônica manifestada pela queda de pelos circunscrita, generalizada ou universal, sem sinais inflamatórios ou de atrofia folicular. c) O eflúvio telógeno é uma doença crônica manifestada pela queda de pelos circunscrita, generalizada ou universal, sem sinais inflamatórios ou de atrofia folicular. d) A alopecia androgenética é uma doença crônica manifestada pela queda de pelos circunscrita, generalizada ou universal, sem sinais inflamatórios ou de atrofia folicular. e) A alopeciaareata é uma doença crônica manifestada pela queda de pelos circunscrita, generalizada ou universal, sem sinais inflamatórios ou de atrofia folicular. 5. Do ponto de vista funcional, os pelos exercem diferentes atividades. Sua espessura e conformação estão ligadas às funções que exercem, recebendo nomenclaturas e classificações específicas. Assinale a alternativa que indica a nomenclatura, a classificação e a função dos pelos das sobrancelhas. a) Vibrissas, lanugo, defesa térmica e orificial. b) Supercílios, velo, barreira orificial e aparato sensorial. c) Hircos, terminal, barreira térmica e redução de atrito. d) Supercílios, terminal, barreira térmica e defesa orificial. e) Vibrissas, velo, defesa orificial, proteção térmica e aparato sensorial. ELDER, D. E. (Ed.). Histopatologia da pele. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. HABIF, T. P. Dermatologia clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. HIGINO, K. S. et al. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 69, n. 1/2, p. 14-20, jan./fev. 2012. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_ma- teria=4958>. Acesso em: 21 jun. 2018. KUMAR, S.; WAHID, A.; ANOOP, KV. Physiology and anatomy of hair in drug abusing cases. International Journal of Medical Toxicology and Forensic Medicine, Teerã, v. 2, n. 4, p. 153-159, Autumn/2012. Disponível em: <http://journals.sbmu.ac.ir/ijmtfm/article/ viewFile/IJMTFM-3765/pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018. RIVITTI, E. A. Dermatologia de Sampaio e Rivitti. 4. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2018. Anatomia da pele e estrutura dos pelos30 RIVITTI, E. A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. São Paulo: Artes Médicas, 2014. SANTOS, S. Como aumentar a autoestima e ter motivação todos os dias: em passos simples. [S.l.]: SSTrader, 2018. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. São Paulo: Artmed, 2016. ZIERI, R. Anatomia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. 31Anatomia da pele e estrutura dos pelos
Compartilhar