Buscar

UMA VISÃO DO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL PELA ÓTICA DOS DIREITOS HUMANOS

Prévia do material em texto

UMA VISÃO DO COMBATE AO TRABALHO 
ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL PELA 
ÓTICA DOS DIREITOS HUMANOS 
 
1. RESUMO 
A presente monografia tem como objetivo abordar a temática do trabalho escravo no Brasil à luz 
dos princípios fundamentais dos Direitos Humanos. Após mais de cento e vinte anos da abolição da 
escravatura ainda pode-se encontrar inúmeros casos comprovados de empresas que desrespeitam a 
Constituição Federal de 1988 e seus princípios fundamentais, colocando trabalhadores em 
condições inumanas. Discute-se também como os tratados internacionais de direitos humanos se 
integram à legislação brasileira e sua hierarquia em relação às outras leis, além da necessidade de 
uma melhor aplicação das leis nacionais e da necessidade de mudanças nas políticas públicas para 
um efetivo combate ao trabalho escravo. Analisa-se também um caso concreto onde o Brasil pela 
primeira vez assumiu frente a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que havia casos de 
trabalho forçado em território nacional. Desse modo, o trabalho demonstra que é necessário buscar 
uma maior discussão com a sociedade, Organizações Não Governamentais e o poder público em 
busca de soluções para a erradicação de trabalho escravo em território nacional, além de demonstrar 
que as soluções já em andamento estão tendo resultados satisfatórios e esperados. Além de 
demonstrar que a solução amistosa em frente a Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
levou à criação de inúmeros projetos de frente social ao combate ao trabalho escravo. 
PALAVRAS-CHAVES: Direitos Humanos. Trabalho Escravo. Escravidão. Atualidade. 
ABSTRACT 
This monograph aims to clarify the slave labor in Brazil in the light of the fundamental principles of 
Human Rights. After more than one hundred and twenty years of the abolition of slavery, one can 
still find countless proven cases of companies that disregard the Federal Constitution of 1988 and 
the fundamental principles, placing workers in inhuman conditions. It also discusses how 
international human rights treaties can integrate with Brazilian legislation and its hierarchy in 
relation to other laws, as well as the need for a better application of national laws and the need for 
changes in the public policies for an effective fight against slave labor. It also analyzes a concrete 
case when Brazil for the first time in front of the Inter-American Commission of Human Rights 
assumed that there were cases of forced labor in national territory. It seeks to a greater discussion 
with society, Non-Governmental Organizations and the public power in search of solutions for the 
eradication of slave labor in the national territory, and if the solutions already underway are having 
satisfactory and expected results. In addition to analyzing how the friendly solution in front of the 
Inter-American Commission on Human Rights led to the creation of numerous social front projects 
to combat slave labor. 
KEYWORDS: Human Rights. Slavery. Slavery. Actuality. 
2. INTRODUÇÃO 
O trabalho escravo é uma mazela que assola o Brasil destes os tempos mais remotos de sua 
existência, acarretando as mais complexas consequências do ponto de vista jurídico, social, 
econômico e sobretudo humano. Nesse sentido, observa-se este trabalho com o objetivo de discutir 
a correlação entre os direitos humanos e o do combate ao trabalho escravo no Brasil. 
Temas estes que se ligam de forma intrínseca, sendo ambas complementares entre si, procurando 
entender até que ponto a exploração de mão de obra é uma violação aos direitos fundamentais 
instituídos pela Constituição Federal e inúmeros tratados internacionais de proteção aos direitos 
humanos 
Justifica-se este trabalho pela necessidade de compreender e alcançar meios capazes de restabelecer 
a condição de dignidade inerente a todos os homens, em conformidade com sentido de vida que não 
pode ser limitado a uma condição de sobrevivência, mas, para além disso, ser caracterizado na 
dignidade humana. 
Para se compreender o trabalho escravo no Brasil e como a aplicação dos direitos humanos é uma 
das principais formas de combate, precisamos primeiro entender o conceito destes dois assuntos, 
levando em consideração seus surgimentos, suas evoluções e os principais e mais eficientes 
instrumentos de combate à escravidão. 
Outro aspecto importante acerta dos temas é de conseguir reunir as diferentes denominações e 
doutrinas que já se debruçaram sobre os mesmos, visto que assim como os direitos humanos vem 
crescendo e evoluindo ao longo dos anos, o mesmo aconteceu com o trabalho escravo, que se 
modifica em diferentes formas como tentativas de fraudar a lei, porém continua criando verdadeiros 
prejuízos sociais. 
Assim procura-se desenvolver ao decorrer deste trabalho cientifico um estudo de cunho 
bibliográfico sobre o trabalho escravo na atualidade, visto pela ótica dos Direitos Humanos, além de 
entender quais são os modos utilizados pelo Estado para diminuir esta mesma prática. 
Importa destacar que o poder estatal brasileiro já tomou algumas decisões em relação ao combate ao 
trabalho escravo e a um caminho mais humano nas relações de trabalho, como por exemplo a 
criação pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva da conhecida como “Lista Suja”, que é um 
cadastrado criado pela Portaria n. 540/2004 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que 
coleciona os nomes dos empregadores no Brasil que foram descobertos explorando trabalhadores 
em condições análogas às de escravidão. 
Há de se citar também o caso em que o Brasil apareceu como polo passivo, pela primeira vez, na 
Comissão Internacional de Direitos Humanos em razão da realização de trabalho escravo, aonde a 
comissão entendeu que o estado brasileiro era o responsável por inúmeros violações à Convenção 
Americana e à Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
O acordo firmado ao fim do processo foi um marco nas decisões relativas à violação dos direitos 
humanos no país, pois o Brasil nunca havia assumido sua responsabilidade internacionalmente, o 
que levou à criação da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Forçado (CONATRAE) e 
uma série de compromissos para erradicação no país de trabalhos análogos a condição de escravo. 
Mais recentemente, em 2014, ocorreu a adoção por parte do Brasil, de um Protocolo e uma 
Recomendação que complementaram a Convenção n° 29 da OIT, fornecendo orientações 
específicas sobre medidas a serem tomadas pelos Estados Membros para eliminar todas as formas 
de trabalho forçado, proteger vítimas e assegurar-lhes acesso à justiça e compensação. 
Além das citadas, são inúmeras as formas de combate nacional e supranacional que visam a 
erradicação à exploração de trabalhadores, porém ainda é bastante comum encontrarmos 
diariamente casos comprovados de trabalho escravo. 
Desta forma se verifica que ainda há um grande caminho a ser percorrido, visto que não há níveis 
aceitáveis de escravidão, e a sociedade como um todo deve encontrar os modos mais eficazes de 
combate ao trabalho escravo. 
Erradicar a escravidão não se trata de simplesmente retirar o trabalhador do local de trabalho e 
efetuar multas e prisões para os empregadores, é importante visualizar a necessidade de mudança no 
modelo de desenvolvimento que escolhemos como sociedade, de se criar uma nova perspectiva de 
convívio e crescimento sustentável, em que o respeito à dignidade humana e aos princípios 
fundamentais dos direitos humanos sejam a vanguarda de todas as relações. 
Para dissertar sobre as questões aqui propostas, este trabalho está estruturado em 3 capítulos que se 
organizam da seguinte maneira: No capítulo 1 será feito uma análise acerca do trabalho escravo no 
Brasil, bem como à legislação atinente ao tema, no capítulo 2 far-se-á uma abordagem sobre os 
Direitos Humanos e os tratados sobre o tema, já o 3º capitulo se propõe a analisar as forma de 
combate ao trabalho escravo, e as maiores dificuldade para sua redução.3. TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL 
3.1. Conceito de trabalho escravo no Brasil 
A conceituação de trabalho escravo é tarefa árdua, tendo em vista que a constante mudança na 
sociedade e nas relações de emprego na modernidade torna necessária as análises sobre diferentes 
ângulos, sejam eles sociais, jurídicos, histórico, sociológico, antropológico, entre outros, além de 
seus reflexos no passado e possíveis no futuro. 
Um dos entendimentos mais amplos disponíveis hoje, foi emitido por Sakamoto (2006, p. 17), em 
seu estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho que define: 
No Brasil, há variadas formas e práticas de trabalho escravo. O conceito de trabalho escravo 
utilizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) é o seguinte: toda a forma de trabalho 
escravo é trabalho degradante, mas o recíproco nem sempre é verdadeiro. O que diferencia um 
conceito do outro é a liberdade. Quando falamos de trabalho escravo, estamos nos referindo a 
muito mais do que o descumprimento da lei trabalhista. Estamos falando de homens, mulheres e 
crianças que não têm garantia da sua liberdade. Ficam presos a fazendas durante meses ou anos 
por três principais razões: acreditam que têm que pagar uma dívida ilegalmente atribuída a eles e 
por vezes instrumentos de trabalho, alimentação, transporte estão distantes da via de acesso mais 
próxima, o que faz com que seja impossível qualquer fuga, ou são constantemente ameaçados por 
guardas que, no limite, lhes tiram a vida na tentativa de uma fuga. Comum é que sejam 
escravizados pela servidão por dívida, pelo isolamento geográfico e pela ameaça às suas vidas. 
Isso é trabalho escravo. 
Além desta definição, pode-se citar também Sento-Sé (2011, p. 60): 
Dessa maneira, poderíamos conceituar o trabalho escravo contemporâneo como sendo a atividade 
laboral desenvolvida pelo trabalhador em benefício de terceiro, em que se verifica restrição à sua 
liberdade e/ou desobediência a direitos e garantias mínimos (sujeição à jornada exaustiva ou a 
trabalho degradante, dívida abusiva em face do contrato de trabalho, retenção no local de trabalho 
por cerceamento do uso de qualquer meio de transporte, manutenção de vigilância ostensiva e 
retenção de documentos) dirigidos a salvaguardar a sua dignidade enquanto trabalhador. Trata-se 
de conceito que segue a previsão do art. 149 do Código Penal e que, a nosso ver, esclarece a 
compreensão da matéria 
A Organização Internacional do Trabalho na Convenção 29, que dispõe sobre a eliminação do 
trabalho forçado ou obrigatório em todas as suas formas, classifica em seu artigo 2º o trabalho 
forçado ou obrigatório como: 
Artigo 2º - 1. Para fins desta Convenção, a expressão "trabalho forçado ou obrigatório" 
compreenderá todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o 
qual não se tenha oferecido espontaneamente. 
Assim, para um conceito didático, pode-se utilizar de fatos concretos para a caracterização do 
trabalho escravo contemporâneo, podendo citar entre outros a dependência econômica, péssimas 
condições de trabalho, subjugação em frente aos patrões e falta de segurança mínima para realização 
das atividades. 
Ao contrário da crença popular de que o trabalhador em condições análogas ao escravo estaria 
acorrentado, morando em senzalas, torturados e em constante terror. A escravidão nos tempos 
contemporâneos não se caracteriza apenas pela restrição da liberdade, mas também pelas péssimas 
condições de trabalho impostas pelo trabalhador, conforme explica Sento-Sé (2011, p. 1): 
Sob um outro prisma, é possível afirmar que o escravo da atualidade não se encontra numa 
situação de exploração muito distante da que estava envolto o escravo da Idade Antiga ou do 
período da colonização portuguesa no Brasil a partir do Século XVI. Como se constituía em 
parte integrante do patrimônio do seu amo, este tinha toda preocupação e cuidado de alimentá-lo 
e vesti-lo, como também de curar as suas doenças, já que o escravo representava um 
investimento econômico vultoso e caro. Na atualidade, ao contrário, a mão de obra que se 
encontra nessa situação de escravidão é considerada descartável e inutilizável pelo explorador, 
particularmente quando se encontra idosa, doente ou, por qualquer outra razão, desnecessária 
para o trabalho. O patrão não tem qualquer espécie de compromisso com esses trabalhadores e, 
além disso, tem a sua disposição um autêntico exército de pessoas para substituí-los já que 
estariam disponíveis para trabalhar em condições semelhantes, por viverem num quadro de 
pobreza e miséria que lhes impõe sujeitar-se ao labor de tal jaez 
Diante a explicação é fundamental que se entenda que o trabalho escravo contemporâneo não se 
apresenta somente na forma de restrição de liberdade, com celas e grilhões semelhantes aos 
escravos dos livros de história. Cada vez mais a exploração da mão de obra se modernizou para 
novos sistemas, o que faz compreender que a exploração continua tão prejudicial quanto nos tempos 
de escravidão no Brasil. 
Conforme explica Sento Sé (2011, p. 58), o grau de exploração e de maleficio ao trabalhador é tão 
agressivo que não haverá qualquer erro em utilizar-se do termo trabalho escravo, inclusive sendo 
possível afirmar que o trabalhador dos dias de hoje que se encontra nesta condição não está muito 
distante da que estava envolto o escravo da Idade Antiga ou do período da colonização portuguesa 
no Brasil a partir do Século XVI. 
Inclusive destacou que a diferença na visão do patrão que se utiliza de mão de obra escrava, é que 
no período antes da abolição o escravo representava um investimento econômico vultoso e caro, 
tendo o mesmo a preocupação de alimentá-lo e de curar suas doenças, ao contrário dos dias de hoje, 
época em que o trabalhador é considerado descartável pelo empregador. 
Nas palavras de Arruda (1995, p. 687): 
[...] em muitos casos, o escravo grego, por exemplo, tinha situação melhor que a dos explorados 
da modernidade, uma vez que possuía roupas, alimentação e moradia, enquanto o atual 
explorado, além de igualmente não possuir liberdade, não tem sequer o acesso às suas 
necessidades básicas. A sociedade, quando escravocrata, reconhece a necessidade de escravos 
para a sua sobrevivência, enquanto em uma sociedade democrática, baseada na liberdade de 
trabalho, a existência de trabalho escravo é uma amostragem inequívoca de sua ruína 
Maranhão Costa (2010, p. 40) também comenta sobre o assunto: 
A categoria “trabalho escravo” atualmente utilizada no país refere-se à escravidão 
contemporânea e guarda inúmeras diferenças com formas anteriores de escravidão. Essas eram 
legais, tinham longa duração e, em alguns casos, como a escravidão africana nas Américas, 
passavam de uma geração para outra. A escravidão contemporânea, por sua vez, é de curta 
duração; a pessoa é tratada como se fosse mercadoria; há um poder total exercido sobre a vítima, 
ainda que temporariamente; a maioria esmagadora das vítimas é migrante de estados distantes 
das fazendas onde são exploradas e tem idade superior a 16 anos. 
Diante o exposto, e da constante evolução das relações patronais é possível verificar que na 
sociedade atual o conceito de trabalho escravo é melhor visualizado no caso concreto, utilizando-se 
do afastamento das garantias fundamentais dos direitos humanos nas relações do trabalho para sua 
caracterização. 
Com a negação destes fundamentos basilares do direito brasileiro, não se encontra maiores 
dificuldades na caracterização do trabalho escravo. Privar o trabalhador de sua dignidade é mais do 
que desrespeitar a legislação trabalhista em vigência, pois ao ferir sua liberdade, impedir o 
trabalhador de deixar o serviço e retirar a dignidade da pessoa, o patrão rebaixa a pessoa a uma 
condição de não ser humano, submetendo o mesmo a uma enorme humilhação, sendo uma violação 
direta e literal aos direitos humanos e as garantias fundamentais previstasna constituição de 1988. 
3.2. O trabalho escravo na constituição federal da república brasileira 
A Constituição Federal de 1988 tem como ideia principal a igualdade dos seres humanos, o respeito 
a sua dignidade, o seu crescimento pessoal e profissional. A carta de 1988 alargou 
significativamente o campo dos direitos e garantias fundamentais, colocando-se entre as 
constituições mais avançadas do mundo no que diz respeito à matéria, conforme Piovesan (2013 p. 
84). 
Sejam estas ideologias demonstradas por leis expressas ou por conjunto de princípios que saturam 
suas páginas, a Carta Maior repudia a todas as custas o trabalho escravo. De forma exemplificativa 
se pode citar o artigo 1° que determina como fundamento da republica a dignidade da pessoa 
humana. Além disso, o artigo 5° coloca como pilar da sociedade a garantia fundamental a liberdade 
do ser humano. 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos 
ou diretamente, nos termos desta Constituição 
O artigo 5°, inciso XLVII, alínea “c”, da Constituição Federal de 1988 também demonstra que nem 
mesmo o Estado pode obrigar os condenados a pena privativas de liberdade ao trabalho forçado. 
Pode ser retirado do artigo supracitado, que todo trabalho realizado por presos só pode tomar lugar 
se houver o consentimento destes, como por exemplo, o instituto da detração penal, que prevê que a 
cada 03 (três) dias trabalhados subtrai-se 01 (um) da pena. Além disso, a recente modificação do 
Art.243 da Constituição Federal de 1988, que foi modificada pela Proposta de Emenda à 
Constituição nº 81, de 2014, prevê que ocorrerá a expropriação de propriedade e destinação à 
reforma agrária, sem qualquer indenização, de propriedades rurais aonde forem encontrados 
exploração de mão de obra escrava: 
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas 
culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei 
serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem 
qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, 
observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 
81, de 2014) 
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico 
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e 
reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela 
Emenda Constitucional nº 81, de 2014) (BRASIL, 1988). 
3.3. A legislação e convenções sobre o trabalho escravo 
A existência do crime de submeter alguém a condição análoga a escravo, previsto no Art.149 do 
Código Penal Brasileiro, quanto a obrigação de garantir os Direitos Trabalhistas, previsto em toda a 
Consolidação das Leis Trabalhistas, não são coisas novas e desconhecidas, não podendo o 
proprietário de empresas que utilizam mão de obra escrava argumentar de seu desconhecimento 
sobre o tema, e que são na maioria das vezes pessoas com alto grau de escolaridade e com grande 
apoio jurídico e financeiro. 
Além das leis já previstas na legislação brasileira, há inúmeros acordos e convenções internacionais 
que tratam da escravidão contemporânea, sendo tratadas principalmente nas convenções 29 de 1930 
e 105 de 1957, todas ratificadas pelo Brasil. 
A convenção de 29 de 1930 dispõe sobre a eliminação do trabalho forçado ou obrigatório em todas 
suas formas, admitindo algumas exceções de trabalho obrigatório, como o serviço militar e em 
casos de emergências, como guerras e desastres naturais; Já convenção 105 de 1957 é a Convenção 
sobre Abolição do Trabalho Forçado, a qual se proíbe toda forma de trabalho forçado como meio de 
coerção ou convencimento político. 
Essas duas convenções citadas anteriormente foram reconhecidas por quase toda a comunidade 
internacional, recebendo o maior número de ratificações dentre todas as convenções realizadas pela 
Organização Internacional do Trabalho. 
É possível citar também a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da 
Costa Rica) de 1969: ratificada pelo Brasil em 1992, no qual os signatários firmaram um 
compromisso de repressão à servidão e à escravidão em todas as suas formas. 
Já na legislação infraconstitucional, a principal lei sobre o trabalho escravo é previsto no Código 
Penal Brasileiro de 1940 em seu Art.149 que define o crime de redução à condição análoga de 
escravo: 
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos 
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer 
restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador 
ou preposto: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no 
local de trabalho; 
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos 
pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. 
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: 
I - contra criança ou adolescente; 
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem (BRASIL, 1940). 
O crime é realizado quando o agente reduz a vítima à condição semelhante à de escravo, tornando a 
mesma totalmente submissa à vontade de outra pessoa. A conduta é impossível de ser praticada em 
por meio de omissão ou culpa, porém admite-se a tentativa. 
Diante o exposto, se torna clara a tipificação penal de sujeitar alguém a um estado de submissão 
absoluta, impedindo sua liberdade e reduzindo sua condição a de objeto, sendo o julgamento do 
crime de redução a condição análoga de escravo pertencente à maioria das vezes à Justiça Federal, 
por advento do informativo nº 450 do Supremo Tribunal Federal: 
Crime de Redução a Condição Análoga à de Escravo e Competência - 2 
Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário 
para anular acórdão do TRF da 1ª Região, fixando a competência da justiça federal para 
processar e julgar crime de redução a condição análoga à de escravo (CP, art. 149) - v. 
Informativo 378. Entendeu-se que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e 
instituições que preservam, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o 
homem trabalhador, atingindo-o nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, 
enquadram-se na categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no 
contexto de relações de trabalho. Concluiu-se que, nesse contexto, o qual sofre influxo do 
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, informador de todo o sistema jurídico-
constitucional, a prática do crime em questão caracteriza-se como crime contra a organização do 
trabalho, de competência da justiça federal (CF, art. 109, VI). Vencidos, quanto aos 
fundamentos, parcialmente, os Ministros Gilmar Mendes e Eros Grau, que davam provimento ao 
recurso extraordinário, considerando que a competência da justiça federal para processar e julgaro crime de redução a condição análoga à de escravo configura-se apenas nas hipóteses em que 
esteja presente a ofensa aos princípios que regem a organização do trabalho, a qual reputaram 
ocorrida no caso concreto. Vencidos, também, os Ministros Cezar Peluso, Carlos Velloso e 
Marco Aurélio que negavam provimento ao recurso. 
RE 398041/PA, rel. Min. Joaquim Barbosa, 30.11.2006. (RE-398041) 
Desta forma, o Supremo Tribunal Federal entendeu que será da Justiça Federal a competência para 
julgar crime de redução a condição análoga à de escravo nos casos em que haja ofensa aos 
princípios formadores da organização do trabalho. 
Sobre o tema, cita-se também os julgados do Superior Tribunal de Justiça: 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE 
ESCRAVO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES DESTA CORTE E 
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. - Nos 
termos da jurisprudência firmada nesta Corte e no Supremo Tribunal Federal, compete à Justiça 
Federal processar e julgar o crime de redução a condição análoga à de escravo, pois a conduta 
ilícita de suprimir dos trabalhadores direitos trabalhistas constitucionalmente conferidos viola o 
princípio da dignidade da pessoa humana, bem como todo o sistema de organização do trabalho e 
as instituições e órgãos que o protegem. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo 
Federal da 11ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Goiás, ora suscitado.(STJ - CC: 132884 
GO 2014/0056244-2, Relator: Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA 
CONVOCADA DO TJ/SE), Data de Julgamento: 28/05/2014, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de 
Publicação: DJe 10/06/2014) 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE REDUÇÃO A 
CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. ART. 149 DO CÓDIGO PENAL. RESTRIÇÃO À 
LIBERDADE DO TRABALHADOR NÃO É CONDIÇÃO ÚNICA DE SUBSUNÇÃO TÍPICA. 
TRATAMENTO SUBUMANO AO TRABALHADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA 
FEDERAL. 1. Para configurar o delito do art. 149 do Código Penal não é imprescindível a 
restrição à liberdade de locomoção dos trabalhadores, a tanto também se admitindo a sujeição a 
condições degradantes, subumanas. 2. Tendo a denúncia imputado a submissão dos empregados 
a condições degradantes de trabalho (falta de garantias mínimas de saúde, segurança, higiene e 
alimentação), tem-se acusação por crime de redução a condição análoga à de escravo, de 
competência da jurisdição federal. 
(STJ - CC: 127937 GO 2013/0124462-5, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de 
Julgamento: 28/05/2014, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 06/06/2014) 
Porém, a lei ainda é bastante inócua e ineficiente em relação a efetiva aplicação e inibição da prática 
de exploração de mão de obra, sendo a sanção penal insuficiente, visto que menos de 10% dos 
envolvidos em trabalho escravo no sul-sudeste do Pará, entre 1996 e 2003, foram denunciados por 
esse crime, segundo o relatório do OIT denominado Trabalho Escravo no Brasil do Século XXI. 
O mesmo relatório afirma que é cada vez mais imperativo que os legisladores endureçam as penas 
sobre o tema em conjunto com uma aplicação efetiva por parte do poder público, para uma concreta 
redução da escravidão trabalhista que ainda ocorre no país. 
Por enquanto a melhor ferramenta ainda será a verificação e aplicação dos direitos fundamentais 
previstos na Constituição Federal de 1988, visto que a sua ausência é um dos principais fatores que 
levam a constituição de trabalho escravo ou análogo ao trabalho escravo. 
4. DIREITOS HUMANOS NO BRASIL 
4.1. Conceito de direitos humanos 
Atualmente a sociedade enfrenta inúmeras discussões sobre o papel do cidadão na criação de uma 
sociedade em que os direitos basilares sejam garantidos e respeitados, tanto pelo estados como 
daqueles que nele vivem, restando evidente que esta mesma sociedade saiba da importância dos 
Direitos Humanos como cimento para solidificação da democracia e do respeito aos direitos do 
cidadão. 
Destaca-se que o conceito de Direitos Humanos está intimamente ligado com a dignidade da pessoa 
humana. Para que uma pessoa, seja ela estrangeira, cidadão ou apátrida possa viver uma vida digna, 
se faz importante a sua aplicação na vida de cada um e na comunidade como um todo. 
Para que possamos entender melhor o conceito de Direitos Humanos, podemos citar Casado Filho 
(2012, p. 21): 
Somando todas essas ideias, temos que os Direitos Humanos são um conjunto de direitos, 
positivados ou não, cuja finalidade é assegurar o respeito à dignidade da pessoa humana, por 
meio da limitação do arbítrio estatal e do estabelecimento da igualdade nos pontos de partida dos 
indivíduos, em um dado momento histórico 
Fica explicado então que os Direitos Humanos representam valores fundamentais expressos na 
Constituição sendo o fundamento último do Estado Brasileiro e base para aplicação e interpretação 
da nossa Carta Magna em toda a sua forma. 
As principais características ou ideias-chaves dos Direitos humanos são sua universalidade, 
essencialidade, superioridade normativa e a vedação do retrocesso; Ramos (2014, p.25) conceitua 
estas características: 
A universalidade consiste no reconhecimento de que os direitos humanos são direitos de todos, 
combatendo a visão estamental de privilégios de uma casta de seres superiores. Por sua vez, a 
essencialidade implica que os direitos humanos apresentam valores indispensáveis e que todos 
devem protegê-los. Além disso, os direitos humanos são superiores a demais normas, não se 
admitindo o sacrifício de um direito essencial para atender as “razões de Estado”; logo, os 
direitos humanos representam preferências preestabelecidas que, diante de outras normas, devem 
prevalecer. Finalmente, a reciprocidade é fruto da teia de direitos que une toda a comunidade 
humana, tanto na titularidade (são direitos de todos) quanto na sujeição passiva: não há só o 
estabelecimento de deveres de proteção de direitos ao Estado e seus agentes públicos, mas 
também à coletividade como um todo. Essas quatro ideias tornam os direitos humanos como 
vetores de uma sociedade humana pautada na igualdade e na ponderação dos interesses de todos 
(e não somente de alguns). 
A universalidade explica que deve-se alcançar todos os seres humano sem distinção, independe de 
raça, cor, nacionalidade ou qualquer outro fator. Já a essencialidade explica que os Direitos 
Humanos são inerentes ao ser humano, tendo como base os valores maiores, como o respeito à 
dignidade e seus aspectos formais. 
Entende-se que a superioridade relativa dos Direitos humanos é como um prisma, através do qual 
devemos olhar todos as outras leis, tratados e acordos. Já a vedação do retrocesso, como o próprio 
nome diz, explica que os Direitos Humanos jamais podem ser reduzidos ou diminuídos no que tange 
o aspecto ao tamanho da sua proteção. 
Através desta explicação já se consegue enxergar a importância dos Direitos Humanos, cujo 
conjunto de direitos possibilita uma vida digna para o indivíduo que vive em uma sociedade em 
equilíbrio consigo mesma e com os outros. 
Os Direitos Humanos também não surgiram instantaneamente, e foi na verdade o resultado de 
muitas conquistas em diferentes partes do mundo, como qualquer outra grande conquista passou por 
inúmeras fases, cada uma com suas características próprias, seus pontos positivos e negativos, e 
permitiram de modo que as evoluções cientificas, sociais e tecnologias chegassem ao que se entende 
por Direitos Humanos nos dias atuais. 
Olhamos para o passado, para não cometer os mesmos erros, por isso a extrema importância de se 
compreender o significado atual de Direitos Humanos, para que se eliminem os erros e aperfeiçoe 
os acertos. Assim como explica Ramos (2014, p.28): 
Não há um ponto exato que delimite o nascimento de uma disciplina jurídica. Pelo contrário, há 
um processo que desemboca na consagração de diplomas normativos, com princípios e regras 
que dimensionam o novo ramo do Direito.No caso dos direitos humanos, o seu cerne é a luta 
contra a opressão e busca do bem-estar do indivíduo; consequentemente, suas “ideias-âncoras” 
são referentes à justiça, igualdade e liberdade, cujo conteúdo impregna a vida social desde o 
surgimento das primeiras comunidades humanas. Nesse sentido amplo, de impregnação de 
valores, podemos dizer que a evolução histórica dos direitos humanos passou por fases que, ao 
longo dos séculos, auxiliaram a sedimentar o conceito e o regime jurídico desses direitos 
essenciais. 
A contar dos primeiros escritos das comunidades humanas ainda no século VIII a.C. até o século 
XX d.C., são mais de vinte e oito séculos rumo à afirmação universal dos direitos humanos, que 
tem como marco a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. 
4.2. A hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos 
A doutrina nacional sempre entendeu que os tratados de direitos humanos possuem status 
constitucional, porém este não era o entendimento do Supremo Tribunal Federal. 
A corte maior entendia que os tratados possuíam a mesma hierarquia que as leis federais, como 
consequência, lei posterior ao tratado poderia afastar a aplicação de tratado anterior que fosse 
incompatível com a lei. Esse posicionamento era o vigente antes da Emenda Constitucional 
n.45/2004, que foi estabelecido no julgamento do Recurso Extraordinário n. 80.004, em 1977. 
Como resume Castilho (2012, p. 118): 
Em suma, para o STF, independentemente de qual fosse a matéria versada em tratado 
internacional, seu status, em nosso ordenamento, seria sempre o de lei federal, de modo que nada 
impediria que fosse ele posteriormente revogado por lei que a ele sucedesse e que com ele fosse 
incompatível. 
Com a vinda da Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, houve significativas 
alterações, ao modificar o art. 5º, § 3º da Constituição Federal do Brasil com a seguinte redação: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em 
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos 
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional 
nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo) 
Porém, mesmo com a Emenda Constitucional n. 45, não se resolveu por completo qual seria a 
hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos, pois o dispositivo não esclarece que 
status os mesmos possuiriam caso não tramitassem da forma prevista pelo artigo. 
Inclusive, criando-se uma dúvida sobre aonde se encaixariam os tratados anteriores à emenda, 
questiona Casado Filho (2012, p. 116) 
Entretanto, surgia uma dúvida: e os tratados sobre direitos humanos anteriores à Emenda 
Constitucional n. 45/2004, como ficavam na ordem constitucional brasileira? Seriam 
equivalentes às leis federais, como os demais tratados internacionais? Seriam equiparados à 
Constituição? Ou se encaixariam em alguma outra categoria hierárquica? 
O atual entendimento do Supremo Tribunal Federal, foi modificado em 3 de dezembro de 2008, 
quando por unanimidade, os ministros negaram provimento ao Recurso Extraordinário n. 466.343-1, 
que tinha como tema de debate a prisão civil do devedor como depositário infiel. 
Esta prisão entrava em conflito com o art. 7º, § 7º, da Convenção Americana de Direitos Humanos 
(Pacto de São José da Costa Rica), que proíbe a prisão por dívida. 
A tese que tomou corpo a partir dessa decisão, foi a do Ministro Gilmar Mendes, de que os tratados 
internacionais possuíam status infraconstitucionais, mas acima das leis ordinárias, como explicado 
pelo próprio Ministro: 
Em conclusão, entendo que, desde a ratificação, pelo Brasil, sem qualquer reserva, do Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e da Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos – Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base 
legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais 
sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da 
Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados 
internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna inaplicável a 
legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de 
ratificação. Assim ocorreu com o art. 1.287 do Código Civil de 1916 e com o Decreto-Lei n° 
911/69, assim como em relação ao art. 652 do Novo Código Civil (Lei n° 10.406/2002). 
(RECURSO EXTRAORDINÁRIO 466.343-1 SÃO PAULO RELATOR: MIN. CEZAR 
PELUSO RECORRENTE(S): BANCO BRADESCO S/A ADVOGADO(A/S): VERA LÚCIA 
B. DE ALBUQUERQUE E OUTRO(A/S) RECORRIDO(A/S): LUCIANO CARDOSO 
SANTOS) 
Entende-se então que houve uma grande evolução no pensamento da corte, que até aquele momento 
entendia que que os tratados possuíam apenas status de lei ordinária. 
Porém, o entendimento mais vanguardista é de Piovesan (2013, p.475) 
8) Por força do art. 5º, § 2º, da Constituição Federal de 1988, todos os tratados de direitos 
humanos, independentemente do quórum de aprovação, são materialmente constitucionais, 
compondo o bloco de constitucionalidade. O quórum qualificado introduzido pelo § 3º do mesmo 
artigo (fruto da Emenda Constitucional n. 45/2004), ao reforçar a natureza constitucional dos 
tratados de direitos humanos, vem a adicionar um lastro formalmente constitucional aos tratados 
ratificados, propiciando a “constitucionalização formal” dos tratados de direitos humanos no 
âmbito jurídico interno. Nessa hipótese, os tratados de direitos humanos formalmente 
constitucionais são equiparados às emendas à Constituição, isto é, passam a integrar formalmente 
o Texto. Com o advento do § 3º do art. 5º surgem, assim, duas categorias de tratados 
internacionais de proteção de direitos humanos: a) os materialmente constitucionais; e b) os 
material e formalmente constitucionais. Frise-se: todos os tratados internacionais de direitos 
humanos são materialmente constitucionais, por força do § 2º do art. 5º. Para além de serem 
materialmente constitucionais, poderão, a partir do § 3º do mesmo dispositivo, acrescer a 
qualidade de formalmente constitucionais, equiparando-se às emendas à Constituição, no âmbito 
formal. 
9) Essa conclusão advém de interpretação sistemática e teleológica do Texto, especialmente em 
face da força expansiva dos valores da dignidade humana e dos direitos fundamentais, como 
parâmetros axiológicos a orientar a compreensão do fenômeno constitucional. A conclusão 
decorre ainda do processo de globalização, que propicia e estimula a abertura da Constituição à 
normatividade internacional — abertura que constitui um traço marcante da ordem constitucional 
contemporânea, alargando o “bloco de constitucionalidade”, como forma de densificação ou 
revelação específicas de princípios ou regras constitucionais positivas. Também em favor da 
natureza constitucional dos direitos enunciados em tratados internacionais, acrescente-se a 
natureza materialmente constitucional dos direitos fundamentais, como ainda o princípio da 
máxima efetividade das normas constitucionais referentes a direitos e garantias fundamentais, o 
que justifica estender aos direitos enunciados em tratados o regime constitucional conferido aos 
demais direitos e garantias fundamentais. 
O entendimento da autora é de que todos os tratados internacionais de direitos humanos teriam força 
constitucional, sendo estes equivalentes às emendas à constituição, afastando de lado o pensamento 
segundo o qual todos os tratados de direitos humanos já ratificadosseriam recebidos como lei 
federal, pois não teriam recebido o quórum qualificado de três quintos, visto que não seria razoável 
sustentar que os tratados de direitos humanos já ratificados fossem recepcionados como lei federal, 
enquanto os demais adquirissem hierarquia constitucional exclusivamente em virtude de 
seu quórum de aprovação, conforme explica Piovesan (2013, p.129). 
4.3. Principais tratados e convenções internacionais de direitos humanos sobre o 
trabalho escravo 
Conforme explica Piovesan (2013, p. 107), os tratados internacionais são acordos internacionais 
juridicamente obrigatórios e vinculantes que constituem hoje a principal fonte de obrigação do 
Direito Internacional, sendo os mesmos disciplinados e regulamentados Convenção de Viena, 
concluída em 1969, que teve por finalidade servir como a Lei dos Tratados. 
Conceito explanado por Castilho (2012, p.100): 
Tratados são acordos internacionais concluídos por escrito entre Estados e regidos pelo Direito 
Internacional, quer constem de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos anexos, 
qualquer que seja sua denominação específica. Constituem a principal fonte de obrigação do 
Direito Internacional. O termo “tratado”, em verdade, é genérico, e abrange também pactos, 
convenções, cartas, convênios e protocolos firmados entre países 
Estes tratados internacionais só criam regras para os estados-membros que expressamente 
consentiram com sua adoção, conforme explica Piovesan (2013, p.129): 
Se assim é, a primeira regra a ser fixada é a de que os tratados internacionais só se aplicam aos 
Estados-partes, ou seja, aos Estados que expressamente consentiram em sua adoção. Os tratados 
não podem criar obrigações para os Estados que neles não consentiram, ao menos que preceitos 
constantes do tratado tenham sido incorporados pelo costume internacional. Como dispõe a 
Convenção de Viena: “Todo tratado em vigor é obrigatório em relação às partes e deve ser 
cumprido por elas de boa-fé”. Acrescenta o art. 27 da Convenção: “Uma parte não pode invocar 
disposições de seu direito interno como justificativa para o não cumprimento do tratado”. 
Consagra-se, assim, o princípio da boa-fé, pelo qual cabe ao Estado conferir plena observância 
ao tratado de que é parte, na medida em que, no livre exercício de sua soberania, o Estado 
contraiu obrigações jurídicas no plano internacional. 
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) 
Castilho (2012. p.108) também comenta sobre o assunto: 
Enfatize-se que os tratados são, por excelência, expressão de consenso. Apenas pela via do 
consenso podem os tratados criar obrigações legais, uma vez que Estados soberanos, ao aceitá-
los, comprometem-se a respeitá-los. A exigência de consenso é prevista pelo art. 52 da 
Convenção de Viena, quando dispõe que o tratado será nulo se a sua aprovação for obtida 
mediante ameaça ou pelo uso da força, em violação aos princípios de Direito Internacional 
consagrados pela Carta da ONU. 
Podemos então entender que os tratados internacionais são acordos entre estados-membros, que ao 
aceitá-lo, tornam os mesmos leis a serem seguidas em seu território, não podendo usar do direito 
interno para negar o cumprimento do tratado. 
Inúmeros tratados internacionais de direitos humanos foram assinados e ratificados durantes os anos 
pelo Brasil, como A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) de 1948, o Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP), a Convenção n.º 29 da OIT, sobre o trabalho 
forçado ou obrigatório, a Convenção n.º 105 da OIT, sobre a Abolição do Trabalho Forçado, o 
Protocolo de 2002 relativo à Convenção da Organização Internacional do Trabalho sobre a 
Segurança e a Saúde dos Trabalhadores, entre outros. 
Porém ao citarmos os tratados internacionais de direitos humanos que tenham conexão com o 
trabalho escravo, é necessário indagar quais são os precedentes históricos da proteção desses 
direitos. 
Segundo Piovesan (2014, p. 187), O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização 
Internacional do Trabalho situam-se como os primeiros marcos do processo de internacionalização 
dos direitos humanos. Sendo estes os percursores de todos os tratados que o Brasil é consignatário. 
A principal evolução para o tema aqui discutido, foi a criação da Organização Internacional do 
Trabalho (OIT), única agência das agências das Nações Unidas com uma estrutura tripartite, 
composta por representantes de governos e de organizações de empregadores e de trabalhadores. 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência especializada das Nações Unidas 
que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um 
Trabalho Decente. 
Esta entidade tem a competência de realizar tratados, convenções e recomendações de matéria 
trabalhista entre seus países membros. Sua criação decorreu do entendimento constante no 
preâmbulo de sua constituição de que a paz universal só pode basear-se na justiça social. 
Segundo a Constituição da Organização Internacional do Trabalho (Declaração de Filadélfia), em 
seu próprio preâmbulo: 
Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande número de 
indivíduos, miséria e privações, e que o descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e 
a harmonia universais, e considerando que é urgente melhorar essas condições no que se refere, 
por exemplo, à regulamentação das horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e 
da semana de trabalho, ao recrutamento da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia 
de um salário que assegure condições de existência convenientes, à proteção dos trabalhadores 
contra as moléstias 3 graves ou profissionais e os acidentes do trabalho, à proteção das crianças, 
dos adolescentes e das mulheres, às pensões de velhice e de invalidez, à defesa dos interesses dos 
trabalhadores empregados no estrangeiro, à afirmação do princípio "para igual trabalho, mesmo 
salário", à afirmação do princípio de liberdade sindical, à organização do ensino profissional e 
técnico, e outras medidas análogas; 
A OIT com coordenação de Leonardo Sakamoto (2006, p. 4) também lançou o livro Trabalho 
Escravo no Brasil do Século XXI, que é considerado o estudo mais completo feito já feito sobre a 
situação do trabalho escravo contemporâneo no Brasil, fruto de um esforço conjunto do Escritório 
da Organização Internacional do Trabalho e de especialistas no tema. 
Através deste estudo, e do apoio da Organização Internacional do Trabalho, pode-se ter uma ideia 
sobre a realidade do trabalho escravo no Brasil na atualidade e a efetividade das ações ao combate 
ao trabalho forçado. Conforme Sakamoto (2006, p. 7-8): 
Já tendo demonstrado importante liderança internacional nessa matéria, o Brasil tem uma chance 
real de desenvolver um modelo integrado para a Aliança Global contra o Trabalho Forçado. 
Avançando no fortalecimento de uma rede de proteção social e na criação de oportunidades de 
geração de renda e trabalho decente, integrando medidas preventivas com a rigorosa aplicação 
das leis, o País pode atacar as raízes da pobreza e da impunidade que suprem e fomentam o 
trabalho forçado, assim como punir os ofensores que lucram ilegalmente abusando da 
vulnerabilidade dos que tem menos condições. Por tirar proveito da vulnerabilidade dos mais 
pobres através de meios e procedimentos que ferem não apenas os direitos e princípios 
fundamentais no trabalho, como também os mais elementares direitos humanos à vida e à 
liberdade, o trabalho forçado é a verdadeira antítese da Agenda de Trabalho Decente promovida 
pela OIT. 
Outro importante fator para o combate ao trabalho forçado foi a assinatura da Convenção nº 29 da 
OIT de 1930 que definiu sob o caráter de lei internacional o trabalho escravo como todo trabalho ou 
serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido 
espontaneamente.Esta mesma Convenção, proibiu o trabalho forçado em geral, incluindo à escravidão, que constitui-
se no absoluto controle de uma pessoa sobre a outra, ou de um grupo de pessoas sobre outro grupo 
social. Com destaque para o seu art. 2: 
Art. 2 — 1. Para os fins da presente convenção, a expressão ‘trabalho forçado ou obrigatório’ 
designará todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de qualquer penalidade e 
para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade. 
2.Entretanto, a expressão ‘trabalho forçado ou obrigatório’ não compreenderá, para os fins da 
presente convenção: 
a) qualquer trabalho ou serviço exigido em virtude das leis sobre o serviço militar obrigatório e 
que só compreenda trabalhos de caráter puramente militar; 
b) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais dos cidadãos de 
um país plenamente autônomo; 
c) qualquer trabalho ou serviço exigido de um indivíduo como consequência de condenação 
pronunciada por decisão judiciária, contanto que esse trabalho ou serviço seja executado sob a 
fiscalização e o controle das autoridades públicas e que dito indivíduo não seja posto à 
disposição de particulares, companhias ou pessoas privadas; 
d) qualquer trabalho ou serviço exigido nos casos de força maior, isto é, em caso de guerra, de 
sinistro ou ameaças de sinistro, tais como incêndios, inundações, fome, tremores de terra, 
epidemias, e epizootias, invasões de animais, de insetos ou de parasitas vegetais daninhos e em 
geral todas as circunstâncias que ponham em perigo a vida ou as condições normais de existência 
de toda ou de parte da população; 
e) pequenos trabalhos de uma comunidade, isto é, trabalhos executados no interesse direto da 
coletividade pelos membros desta, trabalhos que, como tais, podem ser considerados obrigações 
cívicas normais dos membros da coletividade, contanto, que a própria população ou seus 
representantes diretos tenham o direito de se pronunciar sobre a necessidade desse trabalho. 
Este artigo, além de definir a proibição do trabalho escravo, também cita as exceções ao mesmo, 
como por exemplo o serviço exigido em virtude das leis sobre o serviço militar obrigatório ou 
trabalhos em casos de força maior, como guerras. 
A convenção 105 da Organização Internacional do Trabalho também é muito importante para a 
erradicação do trabalho forçado, visto que prevê em seu art. 1: 
Todo País-membro da Organização Internacional do Trabalho que ratificar esta Convenção 
compromete-se a abolir toda forma de trabalho forçado ou obrigatório e dele não fazer uso: 
a) como medida de coerção ou de educação política ou como punição por ter ou expressar 
opiniões políticas ou pontos de vista ideologicamente opostos ao sistema político, social e 
econômico vigente; 
b) como método de mobilização e de utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento 
econômico; 
c) como meio de disciplinar a mão-de-obra; d) como punição por participação em greves; 
e) como medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa. 
É possível citar também a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que segundo 
Casado Filho (2012, p. 70): 
A partir da Declaração, pode-se dizer que o ser humano começou a ter voz no plano 
internacional, com uma Declaração realizada e idealizada na perspectiva dos governados. 
A Declaração estabeleceu uma gama completa de direitos aplicáveis a todos os povos do mundo. 
A autoridade suprema deixava de ser a vontade do soberano ou as “razões de Estado” para passar 
a ser a qualidade de humanidade que todos os povos do mundo têm em comum. 
O Preâmbulo já coloca a dignidade da pessoa humana como fundamento da liberdade, da justiça 
e da paz no mundo. Em seguida, estabelece como direitos as necessidades essenciais que todos 
os indivíduos têm, independentemente das diferenças entre eles. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos teve importante papel na construção dos direitos 
fundamentais, visto que pela primeira vez colocou a dignidade humana como fundamento da 
liberdade, criando segundo Casado Filho (2012, p. 71), um ideal comum a ser atingido por todos os 
povos e todas as nações, iniciando um movimento mundial para promover o respeito universal a 
esses direitos que proclamou. 
Neste panorama, cita-se também o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, adotado pela 
Assembleia Geral da ONU em 1966, no seu artigo 8º, inciso § 1º, dispõe que “ninguém poderá ser 
submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em todas as suas formas, ficam 
proibidos”, e, ainda, em seu § 2º “ninguém poderá ser submetido à servidão”. 
Também, destaca-se a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, conhecida como Pacto 
San Jose da Costa Rica, ratificada pelo Brasil em 1992, que também consagra a proteção específica 
que proíbe a escravidão e a servidão conforme previsto em seu artigo 6º prevendo que “ninguém 
pode ser submetido à escravidão ou à servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico 
de mulheres são proibidos em todas as formas” (BRASIL, 1992). 
Diante o exposto fica claro a importância dos tratados internacionais de direitos humanos em frente 
ao combate ao trabalho escravo, não só Brasil, mas em todo o mundo. 
5. FORMAS DE COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO 
5.1. Principais formas de combate ao trabalho escravo no Brasil 
Há de se verificar quais são as formas atualmente utilizadas pelo poder estatal para o combate de 
trabalho forçado no Brasil, conferindo sua eficácia e comparando resultados com outras possíveis 
formas de erradicação ao trabalho escravo. 
Um das primeiras atitudes positivas nesse sentido foi a reformulação em 1995, quando aconteceu a 
criação do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (GERTRAF) para combater o 
trabalho escravo, prevendo a articulação de diversas áreas do Governo Federal e o seus ministérios, 
conforme Figueira (2004, p. 360): 
Nesse sentido, em 1995 foi criado o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado 
(GERTRAF) para “combater o trabalho escravo”, em um contexto em que as autoridades 
governamentais manifestavam-se em documentos escritos utilizando, preferencialmente, o termo 
“trabalho forçado”. 
Sua atuação previa a articulação de diversas áreas do Governo, contando, desse modo, com 
representantes de sete ministérios - Ministérios da Justiça, do Meio Ambiente, dos Recursos 
Hídricos e da Amazônia Legal, da Agricultura e do Abastecimento, da Indústria do Comércio e 
do Turismo, da Política Fundiária, da Previdência e Assistência Social -, sob a coordenação do 
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). 
Em 2002, foi criado o projeto “Combate ao Trabalho Escravo no Brasil”, momento em que o 
governo brasileiro em parceria com a Organização Internacional do Trabalho, buscou fortalecer as 
instituições nacionais que defendem os direitos humanos, conforme Costa (2010, p. 126): 
Em sintonia com as particularidades e necessidades brasileiras para o enfrentamento da questão, 
o Projeto de Cooperação Técnica “Combate ao Trabalho Escravo no Brasil”, desenvolvido pela 
OIT, desde abril de 2002, tem buscado fortalecer a articulação das instituições nacionais 
parceiras (governamentais e não-governamentais) que defendem os direitos humanos, além de 
contribuir para a prevenção do trabalho escravo e a reabilitação de trabalhadores resgatados, de 
modo a evitar o seu retorno às condições de trabalho análogas à escravidão. A OIT-Brasil, desse 
modo, atua em uma lógica complementar ao Governo Brasileiro, que centra esforços nos 
mecanismos de repressão do trabalho escravo. 
Atualmente, os esforços se concentram na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho 
Escravo (CONATRAE), que foi primeiro elaborada em março de 2003 e reúne aspirações das 
diferentes instituições que atuam no combate ao problema, sendo formada por representantes dos 
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e de vários segmentos da sociedadecivil. 
A CONATRAE tem como objetivo fiscalizar e acompanhar as metas estabelecidas em um conjunto 
de ações propostas pelo Governo Brasileiro no Acordo de Solução Amistosa assinado perante a 
Organização dos Estados Americanos (OEA), tendo ampla participação do OIT-Brasil na 
elaboração do projeto, solução esta a ser estudada no próximo capitulo. 
O Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo obteve importantes resultados, ajudando 
o Brasil ao combate ao trabalho forçado e ao cumprimento da solução amistosa realizada com a 
OEA. 
Esta solução foi implementada após a denúncia do Brasil a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos, que é um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos. Segundo Casado 
Filho (2012, p. 85): 
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na forma do que dispõe a Convenção 
Interamericana de Direitos Humanos, é um órgão autônomo da OEA, cuja função principal é 
promover a observância, a defesa e a promoção dos Direitos Humanos e servir como órgão 
consultivo da OEA sobre a matéria. 
A CIDH é formada por 7(sete) membros, com mandatos de 4(quatro) anos, renováveis por mais 
4(quatro) anos, que tenham se destacado na área de conhecimento dos direitos humanos, com sede 
em Washington (EUA), cuja atividades estão previstas no Pacto de San José, entre seus arts. 34 a 
51. 
Segundo Casado Filho (2012, p.87), a Comissão não tem função jurisdicional, mas exerce 
importante papel nos países membros, colocando sua influência para o efetivo cumprimento dos 
acordos: 
A Comissão não tem função jurisdicional, mas exerce uma enorme influência sobre os países-
membros. É ela que recebe as denúncias de violações que lhe são apresentadas pelas vítimas ou 
por quaisquer pessoas ou organizações não governamentais, contra atos que violam os direitos 
fundamentais por parte dos Estados ou que não tenham encontrado reconhecimento ou proteção 
por parte dos mesmos Estados. Tal fato faz com que a Comissão tenha uma função, nesta área, 
semelhante à atuação do Ministério Público. 
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos processa essas denúncias, e, após examiná-las 
e admiti-las, faz recomendações aos Estados. Ao final, decide se apresenta ou não o caso à Corte 
Interamericana. Assim, a Corte só passa a decidir sobre os casos que lhe são apresentados pela 
Comissão ou por um Estado-parte. 
Casado Filho considera que apesar de não possuir função jurisdicional, a comissão tem mostrado ser 
o órgão mais eficaz do sistema interamericano, pelo menos no que se refere ao Brasil, alcançando 
importante conquistas (Casado Filho, 2012) 
Outro importante projeto foi o cadastro instituído pela Portaria n. 540/2004 do Ministério do 
Trabalho e Emprego (MTE), que prevê o agrupamento dos nomes dos empregadores flagrados na 
exploração de trabalhadores em condições análogas às da escravidão e condenados 
administrativamente pelas infrações à legislação do trabalho. 
Além de ficarem expostas perante a sociedade, as empresas incluídas na lista “suja” do trabalho 
escravo perdem, o acesso a financiamentos em bancos públicos, como o Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil, que assinaram o Pacto 
Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo 
Podemos também citar as ações dos grupos móveis de fiscalização, Integrados por auditores fiscais 
do Trabalho, procuradores do Trabalho e policiais federais, segundo Sakamoto (2006, p. 54): 
Em 1995, atendendo a reivindicações da sociedade civil, o governo federal criou os grupos 
móveis de fiscalização com o objetivo de averiguar as condições a que estão expostos 
trabalhadores rurais, principalmente em locais remotos. Quando encontram irregularidades, 
como trabalho escravo, trabalho infantil e superexploração do trabalho aplicam autos de infração 
que geram multas, além de garantir que os direitos sejam pagos aos empregados. Auditores 
fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), agentes e delegados da Polícia Federal e 
procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) integram esses grupos. Hoje, são sete 
equipes – podendo se desdobrar em 14 – que rodam o país e respondem diretamente a Brasília. 
O Brasil obteve relativa eficácia com as ações dos grupos móveis de fiscalização, sendo integrados 
por auditores fiscais do Trabalho, procuradores do Trabalho e policiais federais, liberando mais de 
17 mil pessoas do trabalho forçado, através de 395 operações, conforme Sakamoto (2006, p. 24): 
De 1995 até 2005, 17.983 pessoas foram libertadas em ações dos grupos móveis de fiscalização, 
integrados por auditores fiscais do Trabalho, procuradores do Trabalho e policiais federais. No 
total, foram 1.463 propriedades fiscalizadas em 395 operações. As ações fiscais demonstram que 
quem escraviza no Brasil não são proprietários desinformados, escondidos em fazendas atrasadas 
e arcaicas. Pelo contrário, são latifundiários, muitos produzindo com alta tecnologia para o 
mercado consumidor interno ou para o mercado internacional. Não raro nas fazendas são 
identificados campos de pouso de aviões. O gado recebe tratamento de primeira, enquanto os 
trabalhadores vivem em condições piores do que as dos animais. 
5.2. Caso concreto 
Para melhor compreensão do combate ao trabalho escravo é necessário que se veja a aplicação dos 
mecanismos no caso concreto, estudando aspectos da disciplina jurídica do trabalho forçado no 
Brasil o funcionamento do Sistema de Proteção Interamericano aos Direitos Humanos, 
especificamente no que se refere à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. 
Com referência de modo específico ao caso do adolescente José Pereira, vítima dessa prática na 
Fazenda Espirito Santo, localizada no sul do Estado do Pará, onde foi alegado a cumplicidade de 
agentes do Estado do Pará, dado que, em alguns casos, policiais estaduais prendem e devolvem para 
a fazenda os trabalhadores que conseguem escapar ou em outros casos, a polícia finge não ver 
quando os vigilantes privados tentam deter os trabalhadores fugitivos. 
Através dessa denuncia, ficou claro que o próprio Estado é cúmplice da situação, ao ignorar os 
repetidos casos de ocorrência de trabalho escravo pelas mesmas empresas e empregadores. 
Segundo Scaff (2010, p. 203), a denúncia foi realizada por Organizações Não Governamentais 
(ONGs) em 16 de dezembro de 1994: 
Em 16 de dezembro de 1994, as organizações não governamentais Américas Watch e o Centro da 
Justiça e Direito Internacional apresentaram uma petição à Comissão contra o Brasil denunciando 
a prática de trabalho forçado (submissão de outrem a condições análogas à de escravo), além de 
violação ao direito à vida e à justiça no sul do estado do Pará. 
O Brasil é acusado de violar os artigos I (direito à vida, à liberdade, à segurança e integridade 
física da pessoa), XIV (direito ao trabalho e à justa remuneração) e XXV (direito à proteção contra 
a detenção arbitrária) da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, e também dos 
dispositivos 6 (proibição da escravidão e da servidão), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção 
judicial) em consonância com o art. 1 da Convenção Americana dos Direitos Humanos. 
Um dos principais fatores apontados pelas Organizações Não Governamentais foi a cumplicidade 
dos agentes do Estado do Pará, frisando a corrupção no Brasil, alegando-se que a Policia Federal 
não havia investigado nenhuma denúncia feitas desde 1987, só sendo realizado alguma diligência 
sobre o caso após diversos pedidos dos grupos de Direitos Humanos, conforme explica Scaff (2010, 
p. 205): 
A despeito disso, argumentaram as peticionarias que até a data da denúncia ninguém no estado 
do Pará havia sido procurado ou condenado por este caso em particular, e que as investigações 
estavam muito lentas. Frisaram a corrupção no Brasil. Isto porque constataram existir 
cumplicidade dos agentes do estado do Pará, pois, não raras vezes, os policiais devolvem à 
fazenda os trabalhadoresque tentam escapar. 
Afirmam que as autoridades do Ministério do Trabalho e as da polícia federal não tomaram 
medidas capazes e eficazes para prevenir, impedir ou reprimir o crime em análise. Por fim, 
concluíram que o estado brasileiro é omisso quanto ao combate ao trabalho forçado. Isto porque 
a polícia federal não investigou as denúncias feitas desde 1987 com respeito à Fazenda Espírito 
Santo. 
As investigações somente começaram sobre o caso José Pereira, após muita insistência por 
pressão de grupos de Direitos Humanos. Com isso, acrescentaram que as investigações 
começaram em 1989 e somente em 1994 as investigações da Polícia Federal foram levadas ao 
Judiciário para instauração do processo penal. Sob o argumento de que os recursos internos se 
esgotaram em face da demora na prestação jurisdicional brasileira, ingressaram com a petição na 
Comissão. 
Em 18 de setembro de 2003 firmou-se uma solução amistosa junta a Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos, momento em que o Brasil pela primeira vez assumiu sua responsabilidade 
internacionalmente, conforme destaca Scaff (2010, p. 207): 
O acordo constituiu um marco nas decisões relativas à violação dos direitos humanos para o país. 
Apesar de ser comum este tipo de solução entre os países membros da Organização dos Estados 
Americanos, o Brasil nunca havia assumido sua responsabilidade internacional. 
Diante da incapacidade do Estado em prevenir e punir a prática do trabalho escravo neste 
particular, o caso em análise permaneceu impune no ordenamento jurídico interno. Isto porque a 
pena aplicada a um dos autores não pôde ser executada em virtude do excesso de tempo 
transcorrido entre o inquérito e o oferecimento da denúncia, a chamada prescrição retroativa. 
Essa solução amistosa ficou prevista no Relatório Nº 95/03, CASO 11.289, e ocorreu em 23 de 
outubro de 2003, na qual previu que o Brasil tomaria Medidas de Prevenção, como modificações 
legislativas, medidas de fiscalização e repressão do trabalho escravo e medidas de sensibilização 
contra o trabalho escravo. Nesse sentido previu-se as modificações legislativas a seguir: 
IV.1 Modificações Legislativas 
10. A fim de melhorar a Legislação Nacional, que tem como objetivo proibir 
a prática do trabalho escravo no país, o Estado brasileiro compromete-se a 
implementar as ações e as propostas de mudanças legislativas contidas no 
Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, elaborado pela 
Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, e 
iniciado pelo Governo brasileiro em 11 de março de 2003. 
11. O Estado brasileiro compromete-se a efetuar todos os esforços para a 
aprovação legislativa (i) do Projeto de Lei Nº 2130-A, de 1996 que inclui, 
entre as infrações contra a ordem econômica, a utilização de mecanismos 
“ilegítimos da redução dos custos de produção como o não pagamento dos 
impostos trabalhistas e sociais, exploração do trabalho infantil, escravo o 
semi-escravo”; e (ii) o Substitutivo apresentado pela Deputada Zulaiê Cobra 
ao projeto de Lei Nº 5.693 do Deputado Nelson Pellegrino, que modifica o 
artigo 149 do Código Penal Brasileiro. 
12. Por último, o Estado brasileiro compromete-se a defender a determinação 
da competência federal para o julgamento do crime de redução análoga à de 
escravo, com o objetivo de evitar a impunidade. 
Percebe-se então a preocupação do Estado Brasileiro em trilhar pela via da sensibilização, o que 
remete ao olhar humanístico de preservação da dignidade. 
O mesmo Relatório Nº 95/03, CASO 11.289, também tratou de medidas de fiscalização e repressão 
do trabalho escravo: 
IV.2 Medidas de Fiscalização e Repressão do Trabalho Escravo 
13. Considerando que as propostas legislativas demandarão um tempo 
considerável para serem implementadas na medida que dependem da atuação 
do Congresso Nacional, e que a gravidade do problema da prática do 
trabalho escravo requer a tomada de medidas imediatas, o Estado 
compromete-se desde já a: (i) fortalecer o Ministério Público do Trabalho; 
(ii) velar pelo cumprimento imediato da legislação existente, por meio de 
cobranças de multas administrativas e judiciais, da investigação e a 
apresentação de denúncias contra os autores da prática de trabalho escravo; 
(iii) fortalecer o Grupo Móvil do MTE; (iv) realizar gestões junto ao Poder 
Judiciário e a suas entidades representativas, no sentido de garantir o castigo 
dos autores dos crimes de trabalho escravo. 
14. O Governo compromete-se a revogar, até o fim do ano, por meio de atos 
administrativos que lhe correspondam, o Término de Cooperação assinado 
em fevereiro de 2001 entre os proprietários de fazendas e autoridades do 
Ministério de Trabalho e do Ministério Público do Trabalho, e que foi 
denunciado no presente processo em 28 de fevereiro de 2001. 
15. O Estado brasileiro compromete-se a fortalecer gradativamente a Divisão 
de Repressão ao Trabalho Escravo e de Segurança dos Dignatários-DTESD, 
criada no âmbito do Departamento da Policia Federal por meio da Portaria-
MJ Nº 1.016, de 4 de setembro de 2002, de maneira a dotar a Divisão com 
fundos e recursos humanos adequados para o bom cumprimento das funções 
da Polícia Federal nas ações de fiscalização de denúncias de trabalho 
escravo. 
16. O Estado brasileiro compromete-se a diligenciar junto ao Ministério 
Público Federal, com o objetivo de ressaltar a importância da participação e 
acompanhamento das ações de fiscalização de trabalho escravo pelos 
Procuradores Federais. 
E por último no mesmo documento acima mencionado no que diz respeito as medidas de 
sensibilização contra o trabalho escravo: 
IV.3. Medidas de Sensibilização contra o Trabalho Escravo 
17. O Estado brasileiro realizará uma campanha nacional de sensibilização 
contra a prática do trabalho escravo, prevista para outubro de 2003, e com 
um enfoque particular no Estado do Pará. Nessa oportunidade, mediante a 
presença dos peticionários dar-se-á publicidade aos termos deste Acordo de 
Solução Amistosa. A campanha estará baseada num plano de comunicação 
que contemplará a elaboração de material informativo dirigido aos 
trabalhadores, a inserção do tema na mídia pela imprensa e através de 
difusão de curtas publicitários. Também estão previstas visitas de 
autoridades nas áreas de enfoque. 
18. O Estado brasileiro compromete-se a avaliar a possibilidade de realização 
de seminários sobre a erradicação do trabalho escravo no Estado do Pará, até 
o primeiro semestre de 2004, com a presença do Ministério Público Federal, 
estendendo o convite para a participação dos peticionários. 
Com a assinatura dessa solução em 1995, o Brasil se tornou um dos primeiros países no mundo a 
assumir a existência de trabalho escravo, sendo um forte passo ao caminho da erradicação do 
trabalho forçado, conforme comenta Sakamoto (2006, p. 23): 
Em 1995, o governo federal brasileiro – por intermédio de um pronunciamento do então presidente 
da República Fernando Henrique Cardoso – assumiu a existência do trabalho escravo 4 O 
trabalhador é levado para longe de seu local de origem e, portanto, da rede social na qual está 
incluído. Dessa forma, fica em um estado de permanente fragilidade, sendo dominado com maior 
facilidade. • 23 perante o país e a OIT. Com isso, tornou-se uma das primeiras nações do mundo a 
reconhecer oficialmente a escravidão contemporânea. Em 27 de junho daquele ano, foi editado o 
decreto número 1538, criando estruturas governamentais para o combate a esse crime, com 
destaque para o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf) e o Grupo Móvel de 
Fiscalização, coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Em março de 2003, o atual 
presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou o Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho 
Escravo e instituiu, em agosto do mesmo ano, a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho 
Escravo (Conatrae). 
Desta forma foi criada estruturase projetos que até hoje são as principais fontes de combate ao 
trabalho escravo no Brasil, desde a criação do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado 
(Gertraf) até a criação da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae). 
5.3. Entraves ao combate do trabalho escravo 
Primeiramente temos que destacar a ineficácia ainda existente quanto a aplicação das leis no Brasil, 
principalmente na área penal, conforme demonstra Sakamoto (2006, p. 105): 
Apesar de 17.983 trabalhadores61 terem sido libertados em 1.463 fazendas fiscalizadas, houve 
muitos poucos casos de condenação pelo artigo 149 do Código Penal, que prevê de dois a oito anos 
de prisão. Além disso, nenhum dos condenados, cumpriu pena na prisão. Esse é o caso 
publicamente conhecido de Antônio Barbosa de Melo, proprietário das fazendas Araguari e 
Alvorada, em Água Azul do Norte, Sul do Pará, cuja condenação foi revertida em doação de cestas 
básicas. Vale salientar que este fazendeiro foi reincidente no crime de trabalho escravo. 
É verdade que houve um número maior de julgamentos desfavoráveis ao réu do que apenas nesses 
casos. Contudo, devido ao longo tempo de tramitação do processo na Justiça, ele acaba 
prescrevendo, a condenação é anulada e o proprietário rural permanece como réu primário. 
A lei número 109 do Código Penal especifica o prazo para a prescrição de um crime. O cálculo 
considera o tempo entre o momento da denúncia do Ministério Público e a sentença do juiz. Isso 
não seria um problema caso fosse dada a pena máxima prevista (oito anos), o que implicaria um 
prazo de prescrição de 12 anos. Nesse espaço, dificilmente não haveria tempo para o julgamento e 
os recursos. Porém, normalmente a Justiça opta pela pena mínima, de dois anos. De acordo com a 
legislação, se o processo durou quatro anos e o juiz deu dois, o crime prescreve 
Destaca-se que houve um maior número de julgamentos contra o trabalho escravo, porém como a 
justiça opta pela pena mínima de dois anos, a pena acaba prescrevendo ou o infrator se livra com 
pagamento de apenas uma multa, perdendo toda sua eficácia no combate ao trabalho forçado. 
É importante também que haja a prevenção, principalmente em estados mais carentes 
economicamente, aonde há um índice maior de trabalhadores escravos, conforme Sakamoto (2006, 
p. 108): 
A erradicação do trabalho escravo no Brasil passa pela adoção de políticas de prevenção nos 
locais de origem dos trabalhadores libertados. Oriundos de municípios muito pobres do Norte e 
Nordeste (os estados do Piauí, Maranhão, Tocantins e Pará concentram 80% dos casos), com 
baixo Índice de Desenvolvimento Humano, estes brasileiros são constantemente iludidos. Ao 
ouvir histórias de serviço farto em fazendas, mesmo em terras distantes, esses trabalhadores são 
aliciados por gatos e transportados em caminhões, ônibus ou trem por centenas de quilômetros. 
O destino principal é a região de fronteira agrícola, onde a floresta amazônica tomba para dar 
lugar a pastos e plantações. 
A reforma agrária é considerada por entidades da sociedade civil e setores do governo federal 
como um dos mais importantes instrumentos de prevenção ao trabalho escravo. 
Apesar disso, o orçamento destinado a ela é pequeno e o Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária (Incra), órgão responsável pela demarcação de terras, enfrenta dificuldades 
operacionais. Há muitas fazendas baseadas em documentos de propriedade fraudulentos que não 
são destinadas à reforma agrária por falta de infraestrutura e de servidores públicos para 
investigar a situação. 
Destaca-se a importância da reforma agrária como instrumento de combate ao trabalho escravo, que 
até nos dias atuais, não há uma grande movimentação por parte do poder estatal para sua efetiva 
realização, dificultando com que haja propriedades para o pequeno produtor rural, evitando que o 
mesmo tenha que se submeter a trabalhos em condições degradantes. 
No Brasil também há pouco ou quase nenhum projeto nacional de geração de emprego e renda, 
voltados especificadamente para os miseráveis, conforme destaca Sakamoto (2010. p. 110): 
Não há projetos nacionais de geração de emprego e renda elaborados especificamente para evitar 
que populações miseráveis caiam na rede da escravidão ou para reinserir os escravos libertos de 
modo a evitar que não sejam aliciados novamente que estejam implantados e produzindo 
resultados – como mostra a avaliação da meta 53 do Plano Nacional pela Erradicação do 
Trabalho Escravo. O que existe são projetos locais e regionais, com alcance limitado, ou projetos 
maiores que não conseguiram ser viabilizados por falta de recursos, de pessoal e de coordenação. 
Nota-se que a falta de planos nacionais de geração de emprego e renda acabam por levar ao 
empregado a se sujeitar a qualquer trabalho disponível, mesmo que o emprego seja nas piores 
condições possíveis. 
Além de formas de combate, um importante fator que deve ser mais explorado no Brasil é a 
publicidade das decisões, pois apesar de já existir alguns projetos do Ministério do Trabalho e de 
outros órgãos estatais, ainda há um grande caminho a ser percorrido, expõe Braga (2015, p. 37) 
Os dados referentes às operações de fiscalização são organizados e divulgados, o que caracteriza 
uma medida tanto de repressão como de prevenção por meio da conscientização. Em verdade, 
apesar da relevância destas ações para os casos já existentes, os empenhos no sentido da 
prevenção desta prática tão condenável devem receber a maior atenção. 
Para além da validade intrínseca aos métodos que preveem e buscam evitar a concretização dos 
problemas, fato observado pela CPI do Trabalho Escravo em São Paulo é que muitas das 
empresas flagradas em condutas delitivas, embora passem a empregar discursos de viés social e 
se comprometam com mudanças, estas promessas não passam de estratégias de marketing a fim 
de recuperar a boa imagem, já que pouco fazem na prática, continuando a ignorar as 
irregularidades de sua cadeia produtiva e a incidir no crime. 
As tentativas de se escusar da responsabilidade se fundam sobre o argumento de que as violações 
se dão em oficinas contratadas para fornecimento, negando ocorrência de terceirização irregular 
É importante levar ao consumidor o conhecimento de que marcas estão ou utilizaram trabalho 
escravo em suas empresas, para que o cidadão comum consiga criar real impacto e evitando futuros 
casos de trabalho forçado. 
É importante também que haja um aumento financeiro do poder público voltado ao combate ao 
trabalho forçado, como Sakamoto (2006, p. 119) explica: 
a) Aumentar os recursos financeiros. As três esferas de poder – federal, estadual e municipal – 
devem aumentar o repasse de verbas de órgãos e entidades envolvidas no combate ao trabalho 
escravo para que possam atuar com plena capacidade e fazer frente ao tamanho deste desafio. 
Além de aumentar a integração das entidades envolvidas, conforme Sakamoto (2006, p. 120): 
c) Aprimorar a integração das entidades envolvidas. A estrutura de combate carece da existência 
de um núcleo coordenador que possua respaldo político, chame para si responsabilidades e 
acompanhe a ação das entidades envolvidas. Sem isso, o processo continuará em um ritmo mais 
lento que o desejado. Essa integração poderia ser obtida mediante um fortalecimento das 
atribuições da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) 
Diante o exposto é notório uma maior necessidade de envolvimento da sociedade e do poder público 
no combate ao trabalho escravo em todas as suas formas, desde de criação de mais instituições 
voltadas ao tema, como maior integração e investimento financeiro. 
6. CONCLUSÃO 
Diante o exposto, pode-se notar a importância dos direitos humanos, refletidos principalmente em 
forma de tratados internacionais em que o Brasil ratificou, para o combate ao trabalho escravo. O 
respeito aos princípios dos direitos humanos tornam-se

Continue navegando