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Aula 12 - Direito de Família

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AULA 12– DIREITO DE FAMÍLIA 
 
PARTE II – DAS ENTIDADES FAMILIARES 
 
I) DO CASAMENTO – Continuação.... 
 
g) Das várias espécies de Casamento – Continuação.... 
 
g.5) Casamento Anulável – Continuação ... 
 
As hipóteses de erro essencial quanto à pessoa (art. 1550, III, CC) do outro 
cônjuge estão previstas no art. 1557, CC: “Considera-se erro essencial sobre a pessoa do 
outro cônjuge: I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse 
erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável à vida em comum ao cônjuge 
enganado; II – a ignorância de crime anterior ao casamento, que, por sua natureza torne 
insuportável a vida conjugal; III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico 
irremediável, que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível pelo 
contágio ou herança, capaz de por em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua 
descendência; 
O erro quanto à entidade física é de difícil configuração na prática, ainda mais, 
levando-se em consideração os hábitos e costumes atuais. Na doutrina e jurisprudência, 
encontramos algumas situações vinculadas a identidade civil (conjunto de atributos e 
qualidades com que a pessoa se apresenta no meio social), honra (agir de acordo com a 
moral e os bons costumes) e a boa fama (estima social por agir corretamente). 
Sobre a prática de crime anterior ao casamento, essa hipótese somente 
caracteriza erro essencial quanto à pessoa, se o outro cônjuge desconhecia a prática de 
ilícito penal e que o conhecimento do fato tornou insuportável à vida em comum. Parte o 
legislador da premissa de que o conhecimento da prática de ilícito penal seria fator 
predominante para que o outro cônjuge não contraísse núpcias. A absolvição em processo 
crime exclui a possibilidade do cônjuge em pleitear a anulação do casamento com 
fundamento nessa hipótese. Pela sistemática atual, a sentença condenatória poderá ser 
prolatada após a celebração do casamento, desde o crime tenha ocorrido antes do 
casamento. 
O defeito físico irremediável, entende-se ser uma incapacidade física, que 
inabilita o seu portador a realizar atos fundamentais da vida civil, com reflexos 
prejudiciais na esfera do casamento. A impotência pode ser coeundi (inaptidão para a 
prática do ato sexual) ou para fins de reprodução (generandi para os homens e concipiendi 
para as mulheres). A única espécie de impotência que gera a anulação do casamento é a 
decorrente da insatisfação sexual (coeundi), mesmo que não seja absoluta para com outra 
pessoa, pois a esterilidade não é reconhecida como causa de anulação do casamento, por 
não ser a procriação o único fim do casamento. Não podemos esquecer as preciosas lições 
de Luiz Edson Fachin sobre esse assunto: “Pode-se cogitar, entretanto, hipótese em que 
a esterilidade de um dos cônjuges é voluntária – como, por exemplo, em situação na qual, 
antes de contrair matrimônio, o homem realiza uma vasectomia – e, quando do 
casamento, é dolosamente omitida perante o outro contraente. Em tais circunstâncias, 
devidamente aferidos os elementos que compõem o caso concreto, pode ser cogitável a 
anulabilidade do casamento, até mesmo em homenagem ao princípio da boa-fé objetiva, 
que também incide sobre as relações de família”. (FACHIN, 2003, vol. 15, págs. 180 e 
181). Já a moléstia grave e transmissível pelo contágio ou herança capaz de por em risco 
a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência deve ser analisado no caso concreto 
levando em consideração a idade, condições gerais de saúde, as espécies de tratamento 
etc. Procurou o legislador proteger não apenas o cônjuge, mas também a descendência. 
Não é exigido que a cura seja improvável, apenas a gravidade e a possibilidade do 
contágio. São exemplos citados pela jurisprudência: AIDS, sífilis, tuberculose etc. 
Em suma, a caracterização do erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge 
em todas as situações comentadas apresenta como pressupostos: anterioridade (causa pré-
existente ao casamento) e a insuportabilidade da vida em comum. O não preenchimento 
de qualquer um desses pressupostos irá autorizar a propositura da Ação de Divórcio e não 
a possibilidade de ser pleiteado a anulação do casamento por esse fundamento. 
 
Diferenças entre Casamento Nulo e Casamento Anulável: 
 
Várias são as distinções de ordem teórica/prática entre essas duas espécies de 
casamento. Para evitarmos discussões bizantinas sobre o tema, iremos abordar as 
seguintes: quanto à natureza jurídica da ação a ser proposta e seus efeitos; legitimidade 
ativa para a propositura da ação; possibilidade ou de convalidação; espécie de bem 
tutelado; possibilidade ou não da aplicação da prescrição ou decadência etc. 
A nulidade do casamento acarreta a possibilidade de Ação Declaratória com 
efeitos “ex tunc”, ou seja, os efeitos da sentença retroagem a data da celebração do 
casamento como se o mesmo não tivesse ocorrido. A Ação Constitutiva é a espécie de 
ação utilizada para as hipóteses de casamento anulável. A sentença que decreta a anulação 
do casamento gera efeitos “ex nunc”, em suma, o casamento produz efeitos até o 
pronunciamento do Poder Judiciário determinando a sua anulação. 
Quanto à legitimidade para a propositura de ação, são legitimados para o 
ingresso de Ação de Nulidade de Casamento qualquer pessoa maior capaz, o 
representante do Ministério Público e mesmo o Estado-Juiz pode reconhecer de ofício a 
nulidade do vínculo jurídico matrimonial. Por sua vez, têm legitimidade para o ingresso 
de Ação de Anulação do Casamento somente as pessoas que demonstrarem interesse 
jurídico. Sobre esse assunto recomendamos a leitura dos art. 1552 até 1564, todos do 
Código Civil onde o legislador especifica a legitimidade para cada hipótese de anulação 
do casamento. 
Ainda sobre as diferenças entre casamento nulo e casamento anulável, 
destacamos que a primeira espécie provoca ofensa à ordem pública e em razão disso o 
maior rigor estabelecido pela lei. Enquanto no casamento anulável a ofensa os direitos 
ofendidos são eminentemente de ordem particular. Em razão dessa diferença, o 
casamento nulo não está sujeito aos fenômenos da prescrição ou decadência e o 
casamento anulável depende da propositura de ação nos prazos estabelecidos pelo 
legislador sob pena de decadência e convalidação pelo decurso do tempo. 
 
g.6) Casamento Putativo: 
 
O Casamento Putativo é aquele que se outorga efeitos ao casamento, quando 
os cônjuges, ou ao menos um deles, acreditaram estar casando validamente. É o 
casamento nulo ou anulável que pelo menos um dos cônjuges está de boa-fé. Casamento 
Putativo é o casamento “imaginário” (verbo putare significa crer, acreditar). A sentença 
que decreta a nulidade ou anulação do casamento em atenção à boa-fé de pelo menos um 
dos cônjuges produz efeitos “ex nunc”, ou seja, o casamento produz efeitos em relação 
aos cônjuges e filhos até a data do pronunciamento do Estado-Juiz. A esse respeito 
citamos o art. 1561, CC, que bem ilustra essa espécie de casamento: 
Art. 1561, CC: “Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé, por 
ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os 
efeitos até o dia da sentença anulatória. 
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus 
efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. 
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus 
efeitos civis só aos filhos aproveitarão”. 
Com a aplicação do Princípio da Igualdade Jurídica e consequentemente a 
equiparação dos filhos independentemente da procedência (casamento, união estável, 
adoção, relacionamento extraconjugal etc.) e o reconhecimento da união estável como 
entidade familiar essa espécie de casamento perdeu um pouco a sua importância prática, 
devendo a putavidade ser reconhecida na própria ação anulatória ou em processo 
autônomo. 
Na doutrina, Silvio Venosaao comentar os efeitos do Casamento Putativo, 
comunga o mesmo entendimento: “Como visto, não mais importando a boa ou má-fé dos 
pais, a anulação de casamento não prejudicará as condições dos filhos, não importando 
sua origem. Terão eles o estado técnico de legítimos, desconsiderando-se outros 
qualificativos, tais como adulterinos ou incestuosos, os quais, modernamente, nos termos 
do art. 227, § 6º, da Magna Carta, não podem mesmo ser utilizados, salvo para explanação 
didática. Como regra geral, o cônjuge menor que se emancipou com o casamento não terá 
repristinada sua incapacidade anterior na hipótese de casamento putativo. No entanto, há 
que se apurar se o menor casou de má-fé, exclusivamente para obter a plena capacidade. 
Nessa situação, embora não haja unanimidade na doutrina, terceiros não podem ser 
prejudicados por essa situação, o que se examina no caso concreto. Com a putavidade, 
portanto, escoimam-se situações irregulares que seriam reconhecidas na ausência desse 
entendimento legal: adultério da segunda mulher do bígamo, por exemplo. As pensões 
alimentícias porventura impostas serão devidas até a data da sentença, sem direito à 
repetição, embora exista corrente que entende persistir o dever alimentar em favor do 
cônjuge inocente no casamento putativo (Cahali, 1979:124). As dívidas contraídas pelo 
cônjuge regulam-se como se o casamento tivesse sido válido até a data da sentença de 
anulação”. (VENOSA, 2007, vol.VI, pg.122). 
Quanto aos consortes, deve-se analisar duas situações: a) se ambos atuaram 
de boa-fé ou b) se apenas um dos cônjuges atuou de boa-fé. Surgindo a necessidade de 
análise ao direito a alimentos, herança, meação e dívidas do casal e a demonstração da 
putatividade do casamento. 
 
 Sugestão de pesquisa: Outras espécies de casamento:1) Casamento 
Consular; 2) Casamento Nuncupativo e 3) Casamento Irregular

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