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MEDICINA LEGAL

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CURSO DE MEDICINA LEGAL 
PROF. MARCOS MELO 
CURSO DE MEDICINA LEGAL – PROF. MARCOS MELO 
 1 
 
 
CURSO DE MEDICINA LEGAL – PROF. MARCOS MELO 
 2 
 MEDICINA LEGAL 
 
1. MEDICINA LEGAL - CONCEITO E APLICAÇÃO NO DIREITO 
A Medicina Legal é uma ciência extremamente diferente de todas as demais 
porque, enquanto a maioria das ciências apresenta a especialização, a Medicina 
Legal funciona somando, englobando conhecimentos. Ex.: se for fazer um laudo 
sobre estupro vai se valer dos conhecimentos de Ginecologia; se for sobre a 
capacidade vai se valer dos conhecimentos de Psiquiatria. 
A Medicina Legal é uma síntese de outras ciências que se somam 
analiticamente, formando-a. 
O Direito, em inúmeras passagens, está alicerçado em princípios 
eminentemente médicos. O simples enunciado “matar alguém” envolve o 
diagnóstico de que alguém morreu. Na grande maioria das áreas do direito, estão 
embutidos os conceitos de medicina. 
1.1 Histórico 
Questões de cunho médico-legal sempre têm aparecido ao longo da 
História da Humanidade. A associação entre Medicina e a Lei existiu em datas tão 
remotas como no Egito Antigo, por volta de 3.000 anos antes de Cristo (AC). Ainda 
que não se tenha evidências palpáveis, alguns historiadores acreditam que "peritos 
médicos" eram convocados para opinar em cortes de justiça e, ocasionalmente, 
eram solicitados a realizar exames em cadáveres. 
Associações médico-legais mais claras aparecem quando do surgimento 
de sistemas legais mais evoluídos, como o Código de Hamurabi na Babilônia, em 
1.700 AC, e o Código dos Hititas, em 1.400 AC. O registro mais antigo de um 
julgamento por assassinato encontra-se em um tablete de cerâmica, escrito na 
Suméria em 1.850 AC. 
Na Grécia Antiga muitas das opiniões apresentadas em tribunais 
baseavam-se nos trabalhos de Hipócrates. Ainda que Hipócrates tenha estudado 
muitos temas ligados à Medicina e à Ética, ele foi o primeiro a discutir assuntos 
essencialmente médico-legais como a fatalidade relativa dos ferimentos e a 
viabilidade dos prematuros. 
Na Roma Antiga, a lei romana usava os amicus curiae, ou amigos da 
Corte (de Justiça), para proferir testemunhos periciais e para assessorar os juízes 
em temas complexos. O desenvolvimento dos processos de investigação médico-
legal continuou ao longo da Idade Média, com a valorização progressiva do 
testemunho médico nos casos de lesão corporal, infanticídio, estupro e bestialidade. 
Nesta época, a cidade de Bolonha criou um conjunto de regras relativas à 
designação de consultores médicos para as Cortes de Justiça, que foram 
posteriormente adotadas por outras cidades italianas. As Primeiras autópsias 
médico-legais foram feitas em Bolonha, no ano de 1302. 
Um dos primeiros documentos, ou livros, especificamente voltados para 
exames post-mortem foi um manual chinês publicado em 1250, intitulado Hsi Yuan 
Lu. Ele continha algumas técnicas simples de necropsia, propunha rotinas para os 
exames post-mortem, e discutia as lesões causadas por instrumentos rombos e 
afiados. Também tecia comentários sobre como determinar se um indivíduo 
encontrado na água teria se afogado ou se já estava morto ao ser submergido; se 
uma vítima carbonizada estava viva ou morta quando do incêndio; e analisava, 
ainda, o diagnóstico diferencial entre lesões produzidas antes ou depois da morte. 
CURSO DE MEDICINA LEGAL – PROF. MARCOS MELO 
 3 
Em 1374 o papa concede à Faculdade de Medicina de Montpellier a 
primeira autorização para a realização de necropsias para estudos clínicos e 
anatômicos. 
 A obrigatoriedade da perícia médica em mortes violentas só foi 
decretada, de acordo com os registros disponíveis, em 1507, na atual Alemanha, 
pelo Código de Bramberg. Assim mesmo, sem a abertura dos corpos. O exame se 
resumia à inspeção externa. 
A necropsia forense só foi permitida com a promulgação da Constitutio 
Criminalis Carolina pelo Imperador alemão Carlos V, em 1532. Abordava, entre 
outros, vários temas médico-legais, como traumatologia, sexologia e psiquiatria 
forense, mas ainda não tornava a perícia obrigatória. 
Os relatórios médico-legais tornaram-se frequentes. Com a submissão 
destes relatórios às faculdades de medicina para avaliação, houve maior divulgação 
dos problemas médico-legais, despertando o interesse dos estudiosos. As 
compilações destes relatórios viriam a ser o germe das primeiras obras de valor no 
mundo ocidental. 
Na França, em 1575, surge o Traité des Relatoires, escrito pelo grande 
cirurgião Ambroise Paré. Nele, o autor estuda, entre outros temas médico-legais, as 
feridas por projéteis de arma de fogo. Ainda na França, em 1598, Séverin Pineau 
escreveu um livro sobre virgindade e defloramento, em que afirmava que o hímen 
podia restar intacto após a cópula vaginal, chamando a atenção para o fenômeno 
da complacência himenal. Contudo, as obras mais importantes deste período não 
seriam francesas; teriam origem na Itália. A obra de maior repercussão foi escrita 
pelo romano Paolo Zacchia: Quaestiones Medico-Legales. Esta era formada por dez 
volumes, publicados entre 1621 e 1658. Cada livro é dividido em partes que, por 
sua vez, são divididas em questões específicas. Este conjunto abrange aspectos 
médico-legais de obstetrícia, sexologia, psiquiatria, toxicologia, traumatologia, 
tanatologia e saúde pública. Durante o século XVII, além dos italianos, também 
despontaram grandes autores alemães na Medicina Legal. Assim, em 1650, surge o 
primeiro curso especializado em Medicina Legal, lecionado por Michaelis na 
Universidade de Leipzig. Outros nomes, como Welsch e Amman, destacaram-se 
nesta Universidade, mas o mais famoso foi certamente Johannes Bohn. Seu 
trabalho, De Renunciatione Vulnerum, de 1689, foi a principal obra alemã da época. 
Nela, o autor classificava as lesões em mortais por si e naquelas fatais apenas 
quando complicadas por outros fatores, além de fazer diagnóstico diferencial entre 
lesões produzidas em vida ou após a morte. 
As modificações legais introduzidas na França pela Revolução de 1789 
modificaram muito o seu direito processual. O Code d'Instruction Criminelle, 
promulgado por Napoleão em 1808, tornava públicos o trabalho dos juízes e o 
parecer dos médicos, acabando com as práticas jurídicas secretas e inquisitoriais 
dos séculos precedentes. 
As grandes descobertas no campo da Física, da Química e da Biologia 
começaram a ser incorporadas à Medicina Legal no início do século XIX, forjando 
uma base científica sólida para a atividade pericial. A partir da segunda metade 
deste século, a aplicação do método científico às ciências biológicas modificou a 
visão médica das doenças. Pouco a pouco, foram surgindo as especialidades clínicas 
e cirúrgicas — e a Medicina Legal passou a ser considerada ciência, uma forma de 
medicina aplicada. Oscar Freire divide a Medicina Legal no Brasil em três fases: 1) 
estrangeira; 2) de transição; 3) de nacionalização. 
A fase estrangeira vai desde o fim do período colonial até o ano de 1887, 
quando Souza Lima assume a cátedra de Medicina Legal da Faculdade de Medicina 
que hoje pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Naquela época, os 
juízes brasileiros não tinham a obrigação de ouvir peritos antes de proferirem a 
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 4 
sentença. Tal dever só lhes seria imposto com o primeiro Código Penal Brasileiro, 
em 1830. 
No ano de 1832 ocorrem dois fatos importantes para a Medicina Legal 
brasileira. Em primeiro lugar, é regulamentado o processo penal, estabelecendo-se 
regras para os exames de corpo de delito, criando assim a perícia profissional. Além 
disto, as duas antigas escolas médico-cirúrgicas criadas por decreto de Dom João 
VI em 1808, na Bahia e no Rio de Janeiro, são transformadas em Faculdades de 
Medicina oficiais, sendo criada, em cada uma delas, uma cadeira de Medicina Legal. 
Em 1856 é criada a assessoria médica junto à Secretaria de Policia da 
Corte composta por quatromédicos. Dois eram membros efetivos e encarregados 
de fazer os exames de corpo de delito; os outros dois seriam professores de 
Medicina Legal da faculdade, responsáveis principalmente pelos exames 
toxicológicos. No mesmo ano foi criado o primeiro necrotério do Rio de Janeiro, no 
depósito de mortos da Gamboa, usado até então para guardar cadáveres de 
escravos, indigentes e presidiários. 
A fase de transição começa em 1877, quando o ensino da Medicina Legal 
assume um caráter prático. Em 1879, Agostinho José de Souza Lima é autorizado a 
dar um curso prático de tanatologia forense no necrotério oficial. A importância 
maior deste fato é que a mesma facilidade só tinha sido conseguida por Brouardel, 
na França, no ano anterior. 
Em 1895 já na Republica, as disciplinas de Medicina Legal e de Higiene 
das faculdades de Direito fundem-se na disciplina chamada de Medicina Pública. O 
aspecto social da Medicina Legal é realçado nesta união. 
A fase de nacionalização começa nesta época. Seu início é marcado pela 
posse de Raimundo Nina Rodrigues, em 1895, como catedrático de Medicina Legal 
da Faculdade de Medicina da Bahia. Foi ele o maior professor de Medicina Legal 
brasileiro do século XIX; sua obra se destaca, principalmente, no campo da 
psiquiatria forense e da antropologia criminal. Entre outras propostas, Nina 
Rodrigues defendia a realização obrigatória de concursos para a nomeação de 
peritos oficiais. 
 Em 1902, no Rio de Janeiro, Afrânio Peixoto propõe a reformulação do 
Gabinete Médico-Legal (criado em 1900) nos moldes do sistema alemão, então o 
centro europeu mais avançado em Medicina Legal. Por sua influência, o Governo 
Federal baixa o Decreto 4.864 de 15 de junho de 1903, que estabelecia normas 
detalhadas para a descrição e a conclusão das perícias médicas. Entre outros 
avanços, sugeria um protocolo de necropsias semelhante ao do alemão Virchow, o 
pai da patologia celular. Em 1941, com a entrada em vigor do novo Código de 
Processo Penal, as perícias passaram a ser realizadas apenas por peritos oficiais. 
 
1.2 Conceito 
 Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos, jurídicos, psíquicos 
e biológicos que servem para subsidiar a elaboração e execução de normas que 
dela necessitam. Utiliza conceitos não apenas para aplicação de leis, mas também 
para sua elaboração. 
A Medicina Legal se relaciona com uma série de ciências: sociologia, filosofia, 
botânica, zoologia e outras, mas principalmente com o direito em todas as suas 
áreas. 
A importância desse estudo é a repercussão da Medicina Legal no cotidiano. 
Tudo o que se fala em Medicina Legal tem uma importância decisiva na vida dos 
indivíduos. Outro aspecto da importância da Medicina Legal é que, enquanto a 
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 5 
Medicina comum se limita à vida da pessoa, a Medicina Legal não se restringe à 
pessoa humana enquanto viva: começa na fecundação e não termina nunca; 
enquanto houver vestígios, pode-se encontrar dados relativos à vida e à morte do 
indivíduo. 
"É a arte de fazer relatórios em juízo". (Ambrósio Paré) 
"É a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judiciais". (Nério Rojas) 
"É a ciência do médico aplicada aos fins da ciência do Direito". (Buchner) 
"É a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da administração da justiça". 
(Lacassagne) 
"É o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto, somente naquilo que possa 
formar assunto de questões forense". (De Crecchio) 
"É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar respostas às 
questões jurídicas". (Bonnet) 
"É a aplicação dos conhecimentos médico - biológicos na elaboração e execução das 
leis que deles carecem". (F. Favero) 
"É a medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais". (Genival V. de França) 
"É o conjunto de conhecimentos médicos e para médicos destinados a servir ao 
direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na 
execução dos dispositivos legais, no seu campo de ação de medicina aplicada". 
(Hélio Gomes) 
 
1.3. Medicina Legal Geral 
Estuda a deontologia e diceologia, que são fundamentalmente os parâmetros 
de atuação profissional do médico. 
Deontologia define todos os parâmetros dos deveres profissionais e 
diceologia define os direitos da atuação profissional. Direitos e deveres do médico 
constam do Código de Ética Médica. A Deontologia é a parte da Medicina Legal que 
se ocupa das normas éticas a que o médico está sujeito no exercício da profissão, 
abrangendo a responsabilidade profissional nas esferas penal, civil, ética e 
administrativa. Inclui a Bioética e seus princípios. 
1.4. Medicina Legal Especial 
Estuda o homem em geral: antropologia, traumatologia, asfixiologia, 
tanatologia, toxicologia, infortunística, psicologia, psiquiatria, sexologia, 
criminologia e vitimologia. 
1.4.1. Antropologia Forense 
Estuda a identidade e a identificação do homem. A identificação médico legal 
é determinada através de métodos, processos e técnicas de estudo dos seguintes 
caracteres: idade, sexo, raça, altura, peso, sinais individuais, sinais profissionais, 
dentes, tatuagens, etc. e a identificação judiciária é feita através da antropometria, 
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 6 
datiloscopia etc. 
 
1.4.2. Traumatologia Forense 
Estudo dos traumas, lesões corporais e energias causadoras do dano. 
Trauma é tudo aquilo que, afetando o corpo humano, o vulnere. Pode ser 
provocado por agentes mecânicos (atropelamento), físicos (calor, frio, eletricidade), 
químicos (tóxicos, venenos, ácidos), mistos (bactérias), psíquicos (chantagem, 
ameaças que afetam a saúde física). 
1.4.3. Asfixiologia Forense 
Todas as hipóteses em que o indivíduo, submetido à uma ação exterior, tem 
prejudicado a oxigenação dos tecidos. 
1.4.4. Sexologia Forense 
Vê a sexualidade sob o ponto de vista normal, anormal e criminoso (estudo 
do matrimônio, gravidez, aborto, himeneologia, atentado aos costumes, 
contaminação venérea, etc.). 
 
1.4.5. Tanatologia Forense 
Estuda os aspectos médico-legais da morte, fenômenos cadavéricos, 
autópsias, embalsamamento, direitos sobre o cadáver, etc. 
1.4.6. Toxiologia Forense 
Tóxicos e venenos; estuda os casos de envenenamento e intoxicações. 
1.4.7. Infortunística 
Noções de medicina do trabalho, das doenças profissionais e dos acidentes 
de trabalho. 
1.4.8. Psicologia Judiciária 
É o estudo da capacidade civil e responsabilidade penal, psicologia do 
testemunho e da confissão, inteligência, fatores e avaliação. 
 
1.4.9. Psiquiatria Forense 
É o estudo das doenças mentais, psicoses, psiconeuroses, personalidades 
psicopatias, simulação, dissimulação etc. 
 
1.4.10. Criminologia 
Estudo do crime, do criminoso, da sociedade, da vítima e de todas as 
condições capazes de explicar como e por que ocorreu o crime. 
1.4.11. Vitimologia 
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Estudo da vítima; ninguém é totalmente isento de participação no crime que 
foi cometido contra ele. Saber como, por que e quando foi cometido o crime contra 
determinada vítima. 
 
2. PERÍCIAS E PERITOS 
2.1. Perícia 
É o conjunto de procedimentos visando a elaboração de um documento por 
demanda jurídica. Ou ainda, o conjunto de procedimentos executados para 
esclarecer fato de interesse legal. 
Quem faz a perícia são os peritos. 
2.2. Peritos 
São pessoas qualificadas para proceder as perícias. Podem ser oficiais 
(peritos criminais e médicos legistas) e não oficiais (peritos nomeados pela 
autoridade judiciária, que têm a liberdade de aceitar ou não a nomeação, mas não 
no foro criminal). 
1. Peritos oficiais: concursados com nível superior, podendo apenas um 
perito assinar o laudo. 
2. Peritos não oficiais, louvados ou Ad Hoc: nomeados pela autoridade 
policial ou judicial, de nível superior e de preferência na área específica do 
exame. Devem sempre dois peritos assinarem o laudo. 
3. Assistente Técnico:atua no âmbito penal e civil, a serviço da parte. 
O Perito pode alegar suspeição nos termos da legislação para Juízes de 
Direito. 
O Juiz não está adstrito ao Laudo pericial, podendo aceitá-lo no todo ou 
em parte, ou até desconsiderá-lo no total. 
O objetivo da perícia é atender às necessidades da comunidade, após haver 
uma infração penal ou busca de direito no caso Cívil. 
Elaborado o processo de perícia, surgem os documentos médico-legais. 
3. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS 
3.1. Atestado Médico 
É o mais simples dos documentos médico-legais. É no atestado que o médico 
afirma ou nega, sem maiores considerações, um fato médico. Gera também todos 
os efeitos jurídicos, com efeito legal. O documento não exige na sua definição 
nenhum esclarecimento maior, basta que o médico afirme que “fulano de tal não 
pode comparecer”. Não há necessidade de nenhuma outra afirmação. O médico 
afirma ou nega um fato de natureza médica. 
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Tipos: administrativo (ex: justificar faltas de servidores públicos ou 
aposentadoria), judicial (quando por solicitação da administração da justiça), 
oficioso (quando dado para interesse privado). 
3.2. Relatórios 
3.2.1. Laudo Médico 
É o documento que se elabora após a primeira perícia, descrevendo-a 
detalhadamente. O laudo deve conter: 
 Identificação: identificação completa da pessoa ou coisa a ser periciada; 
 Histórico: descrição do quê, quando e como aconteceu o fato; nessa parte 
colhe-se informações sobre o evento, não necessariamente sendo a 
verdade real dos fatos. 
 Descrição: descrição minuciosa do exame externo e interno (cadavérico), 
não tendo espaço para suposições ou opiniões. 
 Discussão: discute-se o que pode ou não pode ser (ex.: quantos tiros e 
qual foi fatal, se houve defesa ou não). Informa se foi coletado material 
ou o motivo de não ter sido feito tal coleta. 
 Conclusão: dá-se a conclusão; 
 Respostas aos quesitos: os quesitos podem ser oficiais ou formulados pela 
autoridade requisitante. 
Quesitos no Exame Cadavérico: 
 Houve morte? 
 Qual a sua causa? 
 Qual o instrumento ou meio que a causou? 
 Foi empregada asfixia, fogo etc.? 
Os quesitos podem variar de acordo com o crime. Ex: no crime de estupro, 
os quesitos serão: 
 Há vestígio de conjunção carnal? 
 Há vestígio de ato libidinoso diverso da conjunção carnal? 
As autoridades requisitantes freqüentemente solicitam quesitos extras após o 
laudo pericial. 
Exemplo de aditamento ao laudo inicial: no exame interno é colhido material 
e o laudo só será finalizado após o resultado desse exame dado pelo laboratório. 
3.2.2. Auto Médico-Legal 
O auto médico-legal é feito e ditado ao escrivão na presença de uma 
testemunha. 
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 9 
3.3. Parecer Médico-Legal 
Numa situação de dúvida ou de desencontro de perícia, podem as partes ou 
o Magistrado se socorrerem de um parecer. É necessário que ele seja elaborado por 
alguém que tenha certas características aceitas pelas partes, que seja uma pessoa 
de notável saber, cuja sabedoria seja pertinente ao trabalho a ser realizado. 
Podendo se socorrer de Sociedades de Especialidades, por exemplo. 
3.4. Depoimento Oral 
Convocação do perito para esclarecer pontos obscuros do laudo em juízo. 
Também chamado de esclarecimento oral. 
3.5. Notificação 
É a notificação compulsória feita por médico à autoridade pública sobre 
moléstias infectocontagiosas, doenças do trabalho ou morte encefálica 
(transplante). 
4. ANTROPOLOGIA FORENSE 
 
Antropologia é o estudo do ser humano, suas características, seu 
comportamento, seu aspecto biológico. 
4.1. Identidade do Indivíduo 
É o conjunto de traços e características que diferencia, que individualiza uma 
pessoa ou coisa. São as características e atributos que tornam a pessoa única. 
4.2. Identificação 
É o conjunto de procedimentos que são feitos buscando as características 
individuais. É o processo, a tecnologia que se adota para se chegar à identidade, 
permitindo uma comparação prática. 
4.3. Requisitos Técnicos dos Métodos de Identificação 
Unicidade ou individualidade – mostra que o indivíduo é único. 
Perenidade – as características devem estar presente desde o nascimento até 
depois da morte. 
Imutabilidade – as características devem ser imutáveis no decorrer do tempo. 
Praticabilidade – o método de identificação deve ser prático. 
Variabilidade e classificabilidade – o método deve ter uma classificação que pode 
ser encontrada a qualquer tempo. 
 
1. IDENTIFICAÇÃO 
A identificação pode ser efetuada quanto: 
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 10 
 a) Espécie 
Entre animal e ser humano. Pode-se chegar a essa classificação pela análise 
dos ossos e dos canais de Havers. 
 b)Raça 
Há cinco tipos étnicos fundamentais: caucasiano, mongólico, negróide, 
indiano e australóide. A raça é identificada pelo índice cefálico (forma do crânio e 
ângulo facial). 
c)Sexo 
O sexo do indivíduo pode ser identificado das seguintes maneiras: 
 sexo cromossomial: avaliação dos cromossomos. Ex.: sexo masculino: 
quem tem cromossomo XY; sexo feminino: quem tem cromossomo XX; 
 sexo gonadal: os indivíduos humanos que têm ovário são do sexo 
feminino; os que têm testículos são do sexo masculino; 
 sexo cromatímico: com a aplicação, nas células humanas, de corante que 
se adere ao corpúsculo cromatino. A presença da cromatina indica o sexo 
feminino; sua ausência indica o sexo masculino. 
 sexo da genitália interna: quem tem útero e ovário é do sexo feminino; 
quem tem próstata é do sexo masculino; 
 sexo da genitália externa: quem tem vagina e clitóris é do sexo feminino; 
quem tem pênis e escroto é do sexo masculino; 
 sexo jurídico: é o sexo constante nos documentos do indivíduo. Pressupõe-
se que alguém constatou o sexo do indivíduo; 
 sexo de identificação: é o sexo psíquico, sexo do comportamento, é a 
sexualidade do indivíduo. Na maioria das vezes, tem tudo a ver com o 
sexo físico. É o sexo que o indivíduo projeta no plano da sexualidade; 
 sexo pericial: é o sexo de avaliação, por meio de toda uma avaliação dá-se 
um laudo sopesando todos os aspectos. 
Legalmente, no Brasil, o que vale é o sexo físico. O judiciário não pode 
autorizar a mudança de sexo na documentação, pois poderia estar incorrendo em 
uma fraude. 
1.1. Idade 
Existem algumas faixas etárias juridicamente importantes: 13, 16, 18 e 21 
anos. Especialmente a faixa dos 18 anos, que é a faixa da imputabilidade. 
Universalmente, hoje se aceita a Tabela de Grevlisch para determinar a idade 
das pessoas. Grevlich, ao radiografar os ossos dos braços das pessoas, chegou a 
um padrão de calcificação para determinar as faixas etárias jurídicas. Esse processo 
de calcificação dos osso se encerra com 21 (vinte e um) anos. Não é possível 
distinguir uma radiografia de uma pessoa com 25 (vinte e cinco) anos de outra com 
35 (trinta e cinco) anos, porém, é possível identificar, pela radiografia, um 
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indivíduo de 20 (vinte) anos e 9 (nove) meses de outro indivíduo de 21 (vinte e 
um) anos. 
 Os ossos do antebraço são o rádio e o úmero. Posição anatômica é a posição 
da pessoa voltada para a frente, com os braços voltados para a frente e as pernas 
ligeiramente afastadas. Sendo essa a posição anatômica, o rádio localiza-se no 
exterior do antebraço. 
 Ossos do punho: escalóide, semilunar, piramidal, psiforme, na primeira 
fileira. Na segunda fileira: trapézio, trapezóide, grande osso e ganchoso ou 
unciforme. 
 Os ossos da mão são cinco e chamam-se metacarpianos. 
 Dedos: indicador, polegar, médio, anular e mínimo. O polegar tem dois 
ossos, duas falanges, que recebem o nome de proximidal e distal. Os quatro outros 
dedos possuem três falanges: proximidal, medial e distal. Além disso, existem 
pequenas esferas ósseas que ajudam no processo de articulação, chamados 
semamóides. 
 Temosentão 32 (trinta e dois) pontos de observação (ossos) para identificar 
a idade das pessoas. É por isso que se adota essa parte do corpo para proceder a 
identificação: pela quantidade de detalhes e variedade de pontos de observação. 
1.2. Altura 
Existem tabelas para que se possa verificar a altura do indivíduo. Ex.: se o 
fêmur mede 48,6 cm, o indivíduo vivo tinha 1,80 m. A tabela pode ser aplicada 
sobre vários ossos: fêmur, tíbia etc. 
1.3. Outros Tipos de Identificação 
Para ajudar numa identificação individual, são valiosos os seguintes sinais: 
a) sinais individuais: verrugas, manchas etc.; 
b) malformações: lábio leporino, desvio de coluna, consolidação viciosa de 
uma fratura etc.; 
c) sinais profissionais: calosidade de sapateiros, calo nos lábios de 
sopradores de vidro, de músicos de instrumentos de sopro etc.; 
d) cicatrizes: traumática (ação de agentes mecânicos, queimaduras), 
patológicas (vacinas) ou cirúrgicas. 
A identificação pelos dentes, no morto, é relevante. Porém, para que tal 
identificação seja possível, seria necessário dispor de uma ficha dentária fornecida 
pelo dentista da vítima. Uma cárie com restauração de determinado material, 
colocação de prótese, influem na identificação do indivíduo. Deve-se levar em 
conta, também, as alterações adquiridas pelos agentes mecânicos, químicos, físicos 
e biológicos (desgastes dos dentes, dentes manchados de fumo etc.). 
A identificação por fotografia não é um método de grande segurança. Ele 
será usado quando falhar os métodos mais significativos. Consiste na superposição 
de fotos do indivíduo tiradas em vida sobre a foto do esqueleto do crânio. 
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1.4. Identificação Jurídica 
Jean de Vucetich, estudando as cristas que todo ser humano possui nas 
polpas digitais (pontas dos dedos), chegou à conclusão que nenhuma pessoa possui 
as impressões iguais às de outra, e também que a impressão das cristas em papel 
(impressão digital) poderia mudar de tamanho conforme a idade do indivíduo, mas 
jamais mudaria o desenho. 
Essa forma de identificação, embora fosse barata, esbarrava na dificuldade 
de se encontrar determinada impressão num arquivo imenso. 
Vucetich começou, então, a classificar as impressões por grupos. Essas 
cristas digitais consistem em uma série de linhas, mais ou menos horizontais, as 
quais Vucetich denominou de sistema basilar. No centro da polpa digital existe o 
sistema nuclear. Grande parte dos indivíduos possuem também o sistema marginal. 
Vucetich verificou que certas pessoas, na confluência dos três sistemas, 
formam uma figura chamada delta. O delta pode aparecer nas pessoas de 
diferentes maneiras: dois deltas, ausência de delta, só do lado interno ou só do 
lado externo. 
A figura de 2 (dois) deltas é chamada de verticilo (V). As pessoas que têm 
o delta só do lado externo, chamou-se de presilha externa (E). As que têm só do 
lado interno, presilha interna (I). As pessoas que não têm o delta, chamou-se de 
arco (A). 
Para seu estudo, Vucetich resolveu colher a impressão dos dez dedos das 
mãos. O sistema de letras fica restrito aos polegares; os demais dedos recebem a 
numeração seguinte: 
V (verticilo) = 4 
E (presilha externa) = 3 
I (presilha interna) = 2 
A (arco) = 1 
Todos os indivíduos de uma população a ser identificada que tiverem a forma 
A4214, A2421 ficam arquivados em conjunto, facilitando, dessa maneira, a 
identificação. 
As cristas não são lineares e formam inúmeros desenhos. Ex.: ao examinar 
determinada impressão, se encontrados 12 (doze) pontos de coincidência, pode-se 
identificar certamente o indivíduo. 
 A esse sistema de identificação dá-se o nome de sistema decadactilar 10 
(dez) dedos. 
 A ciência que se propõe a identificar as pessoas fisicamente, por meio de 
impressões dos desenhos formados pelas cristas papilares, recebe o nome de 
datiloscopia. 
 
2. TRAUMATOLOGIA MÉDICO LEGAL 
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 13 
A traumatologia estuda as formas de vulneração do corpo humano. 
Basicamente tudo aquilo que ofende a saúde é um trauma. O trauma produzido por 
energia pode ser físico ou psíquico. 
A energia vulnerante é classificada em: mecânica, física, química, biológica e 
mista. 
2.1. Energia Mecânica 
 É a energia cinética, que atua sobre um corpo (E = M x V), isto é, (Energia = 
Massa x Velocidade). O que varia é a velocidade. Ex.: se colocar suavemente um 
tijolo sobre a cabeça de alguém, o mesmo não produzirá nenhum trauma. Porém, 
se o tijolo for atirado com força, pode provocar um corte ou até mesmo uma 
fratura de crânio. O tijolo (massa) é o mesmo; o que variou foi a velocidade. 
Existem alguns objetos cuja massa, por si só, já produzem energia suficiente 
para provocar um trauma. Ex.: um cofre de 3.000 Kg sobre a cabeça de alguém. 
O que determina a intensidade do trauma é o resultado M x V (massa x 
velocidade). 
 A energia pode atuar de várias maneiras: explosão, impacto, tração etc. 
 Existem três grupos de instrumentos: 
 que atuam num único ponto – ex.: perfurantes; 
 que atuam numa linha – ex.: cortantes; 
 que atuam num plano ou superfície – ex.: contundentes. 
a) Perfurantes 
São instrumentos punctórios, finos e pontiagudos. Atuam por pressão, 
afastando as fibras do tecido e, raramente, secionando-as. As feridas 
produzidas por esse tipo de instrumento recebem o nome de punctória ou 
puntiforme. Exemplo de objetos perfurantes: agulha, prego, picador de 
gelo, compasso etc. 
b) Cortantes 
São instrumentos que agem por um gume mais ou menos afiado, por 
mecanismo de deslizamento sobre os tecidos. A ferida causada por esse tipo 
de instrumento chama-se incisa. É errado falar “ferida cortante”: o 
instrumento é cortante, a ferida é incisa. Exemplo de objetos cortantes: faca, 
bisturi etc. 
c) Contundentes 
São instrumentos que agem por pressão, deslizamento, torção etc. Os 
instrumentos são como uma superfície plana que atua sobre o corpo 
humano. A lesão típica provocada por objeto contundente tem vários 
estágios, dependendo da força ou do objeto. Exemplo de instrumentos 
contundentes: martelo, soco, balaustre, veículo, escada etc. 
 Espécies de lesões contusas 
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 14 
 Rubefação 
É a primeira lesão provocada por objeto contundente e a mais simples. 
Alguns penalistas não aceitam o eritema como lesão corporal. Não há lesão 
anatômica, somente uma mancha vermelha transitória que não deixa vestígios. 
É provocada por impacto de baixa densidade, produzindo uma dilatação dos 
vasos sangüíneos. Enquanto existir, retrata com fidelidade o instrumento que a 
causou. Ex.: tapa. 
 Equimose 
Se a lesão foi provocada com tal intensidade que chegou a romper alguns 
vasos sangüíneos, recebe o nome de equimose. São as famosas manchas roxas 
provocadas por ruptura de vasos capilares, que são vasos pouco expressivos, 
perto da superfície da pele. Não há sangramento, mas pequena infiltração de 
sangue entre as malhas do tecido. As manchas seguem uma evolução 
padronizada: mudam de cor até o décimo quinto dia, quando então 
desaparecem. 
 Hematoma 
Ocorre quando o instrumento contundente, atuando no tecido corporal, 
provoca ruptura de vasos importantes, produzindo o afastamento de tecidos; 
quando o instrumento bate mais pesado e chega a romper um vaso, provocando 
vazamento de sangue. 
 Escoriação 
É a lesão superficial de atrito (ralada) que rompe a epiderme, deixando a 
derme descoberta. Não há sangramento (pode ter orvalho sangrante e deixar 
crosta hemática) e não deixa cicatriz. A escoriação é produzida quando o 
instrumento tangencia e produz uma abrasão na epiderme. 
 Ferida contusa 
Produzida quando o instrumento age com muita violência que é capaz de 
rasgar os tecidos (invade a derme ou abaixo), formando uma lesão aberta. 
2.1.1. Feridas produzidas pelos instrumentos (ação mista) 
Com frequência, os instrumentos misturam as sequências da lesão.Ex.: 
instrumento perfurocortante, produzido por uma faca de ponta. 
Existem instrumentos que por sua velocidade, mais do que por sua forma, 
produzem lesões. Ex.: instrumento perfurocontundente (projétil de arma de 
fogo), que atua perfurando e contundindo. 
Existe também uma combinação de instrumento que corta e que contunde: 
instrumento cortocontundente. O instrumento típico corto-contundente é o 
machado. 
Temos, então, 3 (três) instrumentos básicos (perfurantes, cortantes e 
contundentes) e 3 (três) formas combinadas (perfurocortante, perfurocontundente 
e cortocontundente). 
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 15 
A ferida produzida pelo instrumento perfuro-cortante é denominada perfuro-
incisa. 
A lesão produzida pelo instrumento perfuro-contundente denomina-se 
perfuro-contusa. 
A lesão típica produzida pelo instrumento corto-contundente, denomina-se 
corto-contusa. 
Instrumentos básicos 
Instrumento Característica Ferida 
Perfurante Perfura Punctória 
Cortante Corta Incisa 
Contundente Contunde Eritema, equimose, 
hematoma, escoriação, 
ferida contusa 
 
Instrumentos combinados 
Instrumento 
C
a
r
a
c
t
e
r
í
s
t
i
c
a 
Lesão 
Perfuro-contundente Perfura e contunde Perfuro-contusa 
Perfuro-cortante Perfura e corta Perfuro-incisa 
Corto-contundente Corta e contunde Corto-contusa 
 
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 16 
 
 
a) Feridas punctórias (produzidas por instrumentos perfurantes) 
Feridas punctórias são feridas produzidas por instrumentos perfurantes, 
porém apresentam características de corte, como a casa de um botão; em razão 
disso, surgem três leis a respeito das feridas punctórias: 
1.ª Lei: as feridas punctórias provocam, quando retirado o instrumento, a forma de 
casa de botão ou botoeira; 
2.ª Lei: feridas punctórias numa mesma região de linhas de tensão ou linhas de 
Languer, têm todas o mesmo sentido; 
3.ª Lei: diz respeito às feridas que acontecem coincidentemente numa mesma 
região de linhas de tensão, e diz respeito à forma que a lesão vai apresentar, ou 
seja, forma triangular. 
 As feridas na zona de confluência das linhas de força tomam a forma de 
triângulo. 
 A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal localiza-se 
no fato de serem esses instrumentos inoculares de infecção, pois as feridas 
produzidas, embora aparentemente pequenas, são profundas. 
 Esses instrumentos também têm uma propriedade do sinal do acordeão, ou 
sinal de Lacassagne, cuja ferida, em virtude de ser comprimida, apresenta uma 
extensão maior do que o instrumento que a produziu. 
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 17 
 b) Feridas incisas (produzidas por instrumentos cortantes) 
 Características das feridas incisas: 
 regularidade das bordas (pois não foi rasgada); 
 regularidade do fundo da lesão; 
 ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida; 
 hemorragia abundante; 
 predominância do comprimento sobre a profundidade; 
 afastamento das bordas da ferida, se o corpo é vivo, em razão da 
retratilidade da pele; 
 cauda de escoriação voltada para o lado em que terminou a ação do 
instrumento; 
 a extensão da ferida é quase sempre menor do que aquela que 
realmente foi produzida, em virtude da elasticidade dos tecidos; 
 as vertentes (encostas) da lesão são emparedadas (regulares) e serão 
verticais se o instrumento agiu perpendicularmente, e em forma de 
bizel se o instrumento agiu inclinadamente (oblíquo); 
 o centro da ferida é mais profundo que as extremidades. 
Nas feridas incisas, quando existem duas lesões cruzadas, é possível 
determinar qual a primeira e qual a segunda, pois a primeira foi feita sobre a pele 
íntegra e, na segunda, vai haver um degrau, porque foi feita sobre a lesão anterior. 
A esse “degrau” dá-se o nome de Sinal de Chavigny: angulação que se verifica na 
segunda ferida, na hipótese de duas feridas se entrecortarem. 
 Algumas feridas incisas têm nome próprio: 
1. esgorjamento: ferida incisa na região anterior do pescoço; 
2. degolamento: ferida incisa no plano posterior do pescoço (nuca, lembra de 
gola da camisa); 
3. decapitação: ferida incisa secionando todo o pescoço (guilhotina). 
c) Feridas produzidas por instrumento contundente 
 Rubefação ou eritema: No período em que é visível, tem uma grande 
importância, porque reproduz o instrumento que a produziu. Caracteriza-
se por uma vermelhidão no local atingido. Há uma forte corrente dizendo 
que a rubefação não possui os requisitos de uma lesão corporal, pois não 
tem uma base anatômica e dura pouco tempo (em média, 15 minutos). 
 Escoriação: Abrasão, lixamento da pele. Só é escoriação a abrasão que 
se verifica na epiderme por atrito tangencial ou instrumento contundente. 
Quando a abrasão se estende em profundidade, pegando a 
segunda camada da pele, não se trata de escoriação. Não existe 
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 18 
cicatriz de escoriação. Na escoriação há uma reconstrução integral 
da pele. Se houver cicatriz, trata-se de uma perda de substância e não 
de escoriação. 
 Equimose: Manchas roxas. A seqüência das cores da equimose permite 
estabelecer um diagnóstico cronológico da mesma. Outra característica da 
equimose é que, nos impactos, costumam haver equimoses exatamente 
na forma do objeto que as produziu. 
 Hematomas: São provocados por objetos contundentes. 
Consistem no extravasamento dos vasos sangüíneos. O sangue 
forma uma bolsa que caracteriza o hematoma. Independentemente dos 
hematomas superficiais, os instrumentos contundentes podem provocar 
hematomas de extrema gravidade. Podem provocar uma onda de choque 
que pode levar a uma lesão dentro do fígado ou do baço. Essa ruptura 
intra-baço, nos primeiros momentos, não produzem graves sintomas e 
podem passar desapercebidos num exame clínico. O sangue fica dentro 
da cápsula que envolve o baço, quando a cápsula se rompe, ocorre a 
hemorragia e o indivíduo entra em choque. Chama-se hematoma em 
dois tempos e é mais comum no baço e no fígado. Outra situação 
extremamente grave são alguns traumatismos no crânio. 
Ainda que não haja uma fratura ou ferida externa, pode ocorrer a ruptura de 
um pequeno vaso na parte externa do cérebro, que vai gotejando sangue e 
descolando a membrana que se expande até comprimir violentamente o cérebro, 
levando o indivíduo ao coma. É um hematoma extradural em dois tempos que 
leva à uma compressão do cérebro. Quando o impacto é maior e há um anteparo 
ósseo, prensando partes moles entre o instrumento e o osso, pode ser que a lesão 
se abra. Aí recebe o nome de ferida contusa. Ex.: soco no supercílio. 
d) Feridas contusas: 
É uma espécie de contusão. Suas características são: 
 bordas irregulares; 
 traumas nas proximidades das bordas; 
 vertentes e fundo irregulares; 
 entre uma lateral e outra pode haver ponte de tecido íntegro; 
 sangram menos; 
 são mais profundas do que compridas. 
Esses são os itens que permitem diferenciar uma ferida contusa de uma 
ferida incisa. 
 As contusões podem provocar também ruptura de órgãos internos. Existem 
órgãos que, por suas características, são mais sujeitos à ruptura, como o fígado e o 
baço. 
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 19 
 Se o órgão é comprimido por aumento de pressão interna, ele se rompe no 
ápice da curvatura. Na medida em que se aumenta a pressão interna do órgão, por 
compressão, ele se rompe. 
 As contusões podem provocar ainda algumas lesões típicas. Ex.: 
martelada na cabeça provoca uma lesão característica que recebe o nome 
de ferida de Strassmann. Outra característica da pancada com martelo é o 
sinal de Carrara (pequenos círculos na região afetada). 
e) Empalamento 
O indivíduo é amarrado e suspenso. Coloca-se uma haste e o indivíduo é 
descido pela haste, que penetra na região perianal. Era uma prática utilizada como 
pena de morte. Acidentalmente podem ocorrer empalações. Ex: quedas a cavaleiro; 
quedas no campoda construção civil. 
f) Lesões produzidas por cinto de segurança 
Quando a colisão ultrapassa em energia a capacidade do cinto, ele passa a 
funcionar como instrumento contundente. Hoje existem três tipos de cinto: 
 pélvico: provoca lesão na bacia, luxações na coxa com relação ao 
quadril; 
 transverso toráxico: costumam provocar uma violenta projeção do 
pescoço e da cabeça; 
 cinto de três pontos: toráxico, diagonal e pélvico. Provocam o chicote 
cervical que provoca luxação cervical ou fratura com morte imediata. 
1. LESÕES COMBINADAS 
 
1.1. Feridas Perfuroincisas 
Essas feridas são provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando 
por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a 
borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima. Agem, 
portanto, por pressão e por seção. 
1.1.1. Faca de ponta 
Na ponta da lesão há a perfuração; no trajeto, o tecido se rasga e, no fundo, 
há a incisão. Regiões de defesa: braço, antebraço, mão e dorso da mão. Para 
alguns doutrinadores, num ataque com faca, de acordo com as lesões provocadas 
nas regiões de defesa, já se convencionou no Tribunal do Júri que não existe o 
ataque de surpresa, pois as lesões comprovam a defesa e, portanto, conclui-se que 
não houve surpresa, desqualificando o homicídio. 
1.2. Feridas Perfurocontusas 
Essas lesões são produzidas por um mecanismo de ação que perfura e 
contunde. Na maioria das vezes, esses instrumentos são mais perfurantes do que 
contundentes. Esses ferimentos são produzidos quase sempre por projéteis 
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 20 
de arma de fogo; no entanto, podem estar representados por meios 
semelhantes, como a ponta de um guarda-chuva. 
1.2.1. Armas de fogo 
Acionam cartuchos com projétil, que é um instrumento característico da 
ferida perfurocontusa. Existem outros instrumentos que produzem esse tipo de 
ferida, mas não de uso tão freqüentes como as armas de fogo que, são 
caracterizadas como instrumentos perfurocontudente. 
As armas podem ser classificadas em: 
 mecânica: revólver; 
 semi-automática: pistolas; 
 automáticas: metralhadoras; 
 curtas: pistolas, revólveres; 
 longas: rifles, fuzis e cartucheiras; 
 projétil único: revólver, metralhadora, rifle; 
 projétil múltiplo: garrucha e cartucheira. 
Calibre é o diâmetro medido na saída do cano. Essa medida é o que dá 
o calibre em milímetros ou em centésimos de polegada. 
Nas armas de projétil múltiplo, o calibre é dado pelo peso. Ex.: calibre 
12 – o cartucho dessa arma contém doze esferas de chumbo que, somadas, 
correspondem a uma libra. 
De uma maneira geral, o cartucho é composto de um cilindro com uma 
extremidade fechada e outra aberta. Dentro desse cilindro há a espoleta, 
impregnada por mercúrio, que, pelo atrito, produziz uma pequena chama. 
O cartucho é composto, ainda, de pólvora (enxofre+carvão+salitre). Esse 
combustível é tamponado por papel, papelão ou tecido, que recebe o nome 
de bucha. Finalmente, encravado no cartucho, há uma peça de metal, que é 
o projétil. 
A arma de fogo é o aparelho que coloca em ação o cartucho. Impactada pela 
espoleta, a pólvora é incendiada. A queima de uma carga padrão (calibre 38) gera 
gases que, aquecidos, são capazes de saturar 800 cm³, o que aumenta a pressão 
do compartimento e desentuba o projétil, imprimindo-lhe uma velocidade em torno 
de 600 a 800 km/h. Isso nos projéteis chamados de baixa energia. 
Quando o projétil desentuba, ocorre a explosão do cartucho. Uma parte da 
pólvora não se queima, sendo lançada a uma distância de até 15cm, sob a forma 
de grãos. Junto com o projétil são lançados também restos da bucha, labareda, 
fumaça e eventuais sujeiras, como graxa. Atingem a ferida tudo o que estava no 
caminho do projétil (tecido da roupa, botão etc.). O projétil se “enxuga” e chega 
limpo ao destino. Essa área chama-se área de enxugo. 
O projeto é, então, composto de: 
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 21 
 cartucho: estojo de latão, plástico ou papel prensado; 
 espoleta: fulminato de mercúrio ou fosfato de bário; 
 pólvora: carvão pulverizado, enxofre e salitre; 
 bucha: disco de feltro, metal ou papelão; 
 projétil: de chumbo, podendo ser revestido de níquel. 
O projétil é instrumento perfurocontundente. 
1.2.2. Tiros à queima-roupa (curta distância) 
Se o alvo estiver colocado a 10 cm da arma, o projétil, além de contundir e 
perfurar, queimará a pele, provocando uma zona de queimadura. 
O projétil, perfurando a pele, rompe pequenos vasos, formando a zona 
equimótica. 
O interior do cano das armas curtas, de projétil único, não é liso. A usinagem 
do cano possui cristas que recebem o nome de raia. A raia produz uma rotação do 
projetil a alta velocidade, o que propicia um alcance maior e uma direção mais 
precisa. 
As raias podem ser: 
 Destrogiras: imprimem um movimento no sentido horário. 
 Sinistrogiras: imprimem uma rotação no sentido anti-horário. 
Devido à rotação, o projétil provoca na pele uma escoriação. Onde o 
projétil perfurar, haverá uma orla de escoriação. Essa zona recebe o nome de zona 
de Fisch. 
Chegam também à ferida os detritos da bucha, que são retidos pela 
pele, que se chama orla (halo) de enxugo. Nessa zona de enxugo serão 
encontrados tudo o que o projétil leva pelo caminho (tecido, sujeiras etc.; coisas 
que estão interpostas entre o cano e a pele do indivíduo). 
A pólvora que chega junto com o projétil e que se aloja na pele, 
produz a zona de tatuagem. 
Por fora dessa zona, a fumaça: zona de esfumaçamento (é a mais periférica 
de todas). 
A característica da zona de esfumaçamento é que pode ser facilmente 
retirada com uma simples limpeza no local. Se traçarmos uma linha da zona de 
esfumaçamento, teremos a figura geométrica de um cone. Quanto maior a 
base do cone, maior a distância entre a arma e o alvo. 
É possível, a partir do exame da ferida, determinar a qual distância foi dado 
o tiro. 
A zona de Fisch alongada aponta na direção de onde veio o projétil. Nos 
orifícios ovais, a maior extensão da zona de Fisch indica a direção do projétil. 
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 22 
São características do furo de entrada nos tiros à queima-roupa: 
 menor que o diâmetro do projétil, devido à elasticidade da pele; 
 forma circular se o disparo for perpendicular à pele, e forma ovalar se o 
disparo for tangencial; 
 a borda está voltada para dentro; 
 presença de orla de escoriações (zona de Fisch); 
 orla de enxugo; 
 zona de tatuagem; 
 zona de esfumaçamento periférico; 
 auréola (orla) equimótica; 
 zona de queimadura - a borda é ligeiramente queimada pelo calor do 
projétil; 
 zona de compressão de gases, vista apenas nos primeiros instantes. 
 
 
 
1.2.3. Tiros encostados 
Quando o orifício do cano está encostado à pele, não há espaço entre 
o cano e a pele. Acontece uma explosão interna: gases, pólvora, fumaça, 
fica tudo sob a pele. Essa ferida recebe o nome de Câmara de Mina de 
Hoffman. 
Após o disparo, a zona atingida fica estufada e crepita (sinal de crepitação). 
A área fica algo abaulada. Esse sinal só vale para os primeiros momentos 
após o disparo. 
Sinal de Banassi – impregnação de fuligem no osso. 
O disparo encostado pode produzir a impressão do cano quente da 
arma na pele. Esta impressão recebe o nome de sinal de Werkgaertner. 
orifício 
Pele íntegra 
Orla de escoriação, de 
enxugo e equimótica 
 
Zona de 
queimadura, 
esfumaçament
o e tatuagem 
 
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 23 
Existe uma outra hipótese, quando o revólver não está totalmente 
encostado à pele. Isso gera uma figura diferente, o sinal de Werkgaertner 
aparece pela metade, em forma de meia lua. 
Nos três tipos de disparos, as bordas da ferida estão voltadas para 
dentro. No ser humano vivo, os orifícios de entrada são menores que o 
diâmetro do projétil, por causa da elasticidade da pele. 
 
São característicasdas feridas produzidas por tiro encostado: 
 orifício de diâmetro menor que o projétil (maior quando forma a mina de 
Hoffman; 
 marca quente, desenhando a boca do cano na pele (sinal de 
Werkgaertner); 
 a forma do orifício é irregular, denteada e com entalhes, devido à 
ação resultante dos gases que deslocam e dilaceram o tecido 
(sinal de Hoffmann – quando há superfície óssea subjacente); 
 em geral, não há zona de tatuagem e esfumaçamento, pois os 
elementos da carga penetram pelo orifício da bala. 
 
1.2.4. Tiros à distância 
São características do orifício de entrada: 
 forma arredondada ou ovalar, dependendo do disparo, se for 
perpendicular ou oblíquo em relação à vítima; 
 quando o tiro é dado em perpendicular, o diâmetro da ferida é menor que 
o projétil; 
 a orla de escoriações tem aspecto concêntrico nos orifícios arredondados 
e em crescente ou meia lua nos orifícios ovalares; 
 presença da auréola equimótica (ruptura de pequenos vasos localizados 
na vizinhança do ferimento); 
 bordas para invaginadas. 
orifício 
 
Orla de escoriação, de 
enxugo e equimótica 
Sinal: 
Hoffmann 
Werkgartner 
e outros. 
 
Pele íntegra 
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 24 
 Pouco sangrante. 
 
São características de saída do projétil das feridas produzidas por 
arma de fogo: 
 o orifício de saída é maior que o de entrada; 
 a forma é de ferida estrelada (irregular com as bordas voltadas para 
fora); 
 nunca tem zona de Fisch, nem qualquer outra lesão de pele, pela 
simples razão que em momento algum o projétil tocou a superfície da 
pele na saída, ele a vulnerou de dentro para fora; 
 Sangrante. 
 
De maneira geral, a linha reta que une o orifício de entrada e o 
orifício de saída representa o trajeto do projétil dentro do corpo. 
Em várias ocasiões, o projétil pode mudar de trajeto dentro do corpo, pode 
se fragmentar e pode, também, mudar de ângulo. 
Na cabeça, conforme o grau de impacto, pode ocorrer um fenômeno: O couro 
cabeludo é móvel, e sob o couro existe um tecido mole. Algumas vezes, o projétil 
passa pelo couro cabeludo e não penetra na cabeça, dando-se o nome de bala 
giratória. O projétil faz o trajeto entre o couro cabeludo e o tecido que envolve o 
crânio. 
A localização do projétil de arma de fogo dentro do corpo humano é 
extremamente difícil sem o auxílio do raio X, pelo fato de o projétil mudar o seu 
trajeto dentro do corpo. 
Quando o projétil entra, forma um cone que recebe o nome de sinal 
de Bonnet (do funil), onde o orifício de entrada é menor que o de saída. 
Tem o formato de um funil e, na entrada, o diâmetro menor aponta a 
direção do projétil. 
 
 
 
Pele íntegra 
Orla de escoriação, de 
enxugo e equimótica 
 
orifício 
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 25 
1. ENERGIA DE ORDEM FÍSICA 
 
Vários são os agentes físicos: som, luz, frio, calor, radioatividade etc. 
 
1.1. Ações Físicas da Temperatura 
 
1.1.1. Frio 
Os seres humanos são homeotérmicos (temperatura constante) e resistem a 
uma variação de temperatura pequena (abaixo de 42 graus centígrados e acima de 
32 graus centígrados de seu próprio corpo). Para tanto, há mecanismos 
termoreguladores que mantêm a temperatura estável em aproximadamente 36 
graus centígrados. 
O frio sistêmico faz diminuir as funções circulatórias e cerebrais. A ação do 
frio leva a alterações do sistema nervoso, sonolência, convulsões, delírios, 
perturbações dos movimentos, anestesias, congestão ou isquemia das vísceras, 
podendo advir a morte. 
Os cadáveres têm pele clara, extravasamento de sangue pelas vias 
respiratórias, resfriam rapidamente e demoram mais para entrar em putrefação. 
O frio pode atuar diretamente sobre o corpo. Podem ocorrer 
geladuras localizadas de vários tipos: 
a) Primeiro grau 
Área superficial pálida (ou rubefação), inchada e de aspecto anserino na pele. 
Dura algumas horas e depois cessam os efeitos, porém a pele descasca. 
b) Segundo grau 
Ação mais intensa do frio, que provoca a destruição da epiderme, com 
formação de bolhas de sangue que estouram e cicatrizam. 
c) Terceiro grau 
Quando a ação do frio é muito intensa, provocando o congelamento do local 
e levando à necrose dos tecidos moles por falta de circulação. Formam-se úlceras 
e, às vezes, são necessários enxertos. Causam deformidades permanentes. 
 
1.1.2. Calor 
O calor pode atuar de duas formas: 
a) Calor difuso 
Calor sistêmico, tendo como conseqüência as temonoses: 
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 26 
 insolação: exposição à natureza; 
 intermação: exposição a outras fontes de calor, ambiente confinado, 
lugares mal arejados. Pode ocorrer a degeneração das proteínas, 
desidratação, convulsão e morte. 
b) Calor direto 
Calor local tem como conseqüência as queimaduras, que podem ser causadas 
por chamas, gases, líquidos ou metais aquecidos. Os materiais em combustão são 
instrumentos para essa ação. Mais do que a profundidade da queimadura, interessa 
a sua extensão. Assim, queimaduras de qualquer grau que atinjam mais de 40% da 
superfície do corpo determinarão a morte do indivíduo. 
Em Medicina Legal, adota-se a classificação das queimaduras feita 
por Hoffmann: 
a) Primeiro grau 
Vermelhão, a pele apresenta-se inchada e quente, dolorida. Presença de 
eritema (sinal de Christinson). A epiderme descasca após 3 ou 4 dias (ex.: 
queimadura por raios solares). 
b) Segundo grau 
A superfície apresenta vesículas com líquido amarelado (sais e proteínas). 
Dependendo da área afetada, pode haver abalos no mecanismo, levando à morte. 
As bolhas (sinal de Chambert) podem infeccionar, produzindo manchas (ex.: 
queimadura em decorrência de gases, líquidos e metais aquecidos). 
c) Terceiro grau 
São as queimaduras produzidas, geralmente, por chama ou sólido 
superaquecido e determinam a queima da pele. A queimadura de terceiro grau 
incide até no plano muscular. Forma-se uma placa dura e preta que, retirada, 
resulta em úlcera, sendo necessário o enxerto. A pele fica retrátil, com cicatrizes 
chamadas sinéquias. 
d) Quarto grau 
É a carbonização do plano ósseo. Pode ser total ou generalizada. 
A carbonização total é rara e difícil de ser produzida. A carbonização 
generalizada reduz o volume do corpo por condensação dos tecidos. Corpos de 
adultos carbonizados chegam à estatura de 100 a 120 cm. O morto toma a posição 
de “boxer”, devido à retração dos músculos. A explosão de gases causa o 
rompimento da cavidade abdominal e do crânio. 
1.1.3. Importância médico-legal das queimaduras 
A observação das queimaduras propicia saber se o indivíduo já estava morto 
ou não no momento da carbonização. Se morreu no fogo, o sangue dos 
pulmões e coração possui alta taxa de óxido de carbono, há fuligem e 
fumaça nas vias respiratórias (sinal de Montalti); só fica na posição de 
“boxer” se foi carbonizado enquanto vivo ou logo após a morte por 
qualquer outra causa. 
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 27 
Identificação do morto: é feita por meio da ausência de órgãos, disposição 
dos dentes, fratura óssea antiga e por meio de material genético. 
1.1.4. Temperaturas oscilantes 
Oscilações bruscas de temperatura podem diminuir a resistência, a 
imunidade do indivíduo (pneumonia, tuberculose etc.). Ocorrem em indivíduos que 
trabalham em câmara fria. 
1.2. Ações Físicas da Pressão Atmosférica 
Com a diminuição da pressão atmosférica, há a diminuição de oxigênio e de 
gás carbônico e o indivíduo passa mal. É o chamado mal das montanhas. 
Sofrem aumento da pressão atmosférica os mergulhadores, escafandristas e 
outros profissionais que trabalham debaixo d’água ou em túneis subterrâneos. Não 
correm só o perigo do aumento da pressão atmosférica, mas especialmente o da 
descompressão brusca, que pode causar lesões muito graves. Essa síndrome é 
conhecida como mal dos caixões. 
A natureza jurídica desse evento é quase sempre acidental e desperta 
interesse no estudo da infortunística(acidente de trabalho). 
1.3. Ações Físicas da Eletricidade 
A eletricidade natural e a artificial podem atuar como energia danificadora. 
A eletricidade natural, quando age letalmente (quando há óbito), 
denomina-se fulminação. Quando provoca apenas lesões corporais, chama-
se fulguração (ex.: raios). Sinal de Lichtenberg (arboriforme), típico da 
fulminação ou fulguração. 
A eletricidade industrial é a produzida pelo homem e tem como ação uma 
síndrome chamada eletroplessão. São assim chamadas todas as formas de 
lesões causadas por eletricidade industrial sem morte. Há, também, a 
eletrocussão, que é a morte causada pela eletricidade artificial. 
Marca elétrica de Jelineck: entrada da corrente elétrica, lesão 
apergaminhada, pardacenta, podendo haver metalização (impregnação do 
objeto, como o fio de cobre derretido). 
Há três hipóteses de morte causada por eletricidade: 
 a carga elétrica leva à desorganização dos batimentos cardíacos, 
provocando a contração fibrilar do ventrículo e a morte – 110/220V; 
 a carga elétrica leva à contratura, podendo levar o indivíduo à asfixia 
(contratura dos músculos respiratórios) – até 1000V; 
 a carga elétrica leva à parada cerebral ocasionada por hemorragia das 
meninges, das paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal – 
acima de 1000V. 
Na fulguração, as lesões podem ser por queimaduras ou por alterações 
funcionais dos órgãos citados acima. Mas pode ser que haja resistência, levando ao 
calor, produzindo queimaduras (“auto-fritura”). É o chamado efeito Jaule. 
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 28 
Às vezes, a morte é devida a outras causas sobrevindas de quedas 
ocasionadas pela eletricidade. Ao receber o choque elétrico, a vítima é precipitada 
ao solo, morrendo por ação de energia mecânica (contusão). 
2. ENERGIA DE ORDEM QUÍMICA 
Existem substâncias que, por ação química, física ou biológica, são capazes 
de causar danos à vida e à saúde. 
Quando a ação é de ordem externa, as substâncias recebem o nome 
de cáusticos. 
Quando a ação é de ordem interna, as substâncias recebem o nome 
de venenos. 
2.1. Ação Externa (cáusticos) 
Entre as substâncias químicas de ação externa, dois grupos são mais 
importantes: alcáles e ácidos. 
 Efeito coagulante: os cáusticos produzem lesão grave, afetando a pele 
violentamente, formando escaras (áreas enegrecidas). A evolução mostra 
que essa área deve ser retirada para que ocorra a cicatrização. O efeito 
coagulante desidrata os tecidos (ex.: nitrato de prata). 
 Efeito liquefaciente: a substância química atua desfazendo os tecidos. 
Produzem escaras moles (ex.: soda cáustica). 
 Vitriolagem: é um tipo de comportamento delinqüente, em que alguém 
joga sobre as pessoas uma substância cáustica. No século XVIII, quando 
a química começou a desenvolver-se, chamou a atenção dos químicos o 
ácido sulfúrico, que, na época, chamava-se óleo de vitríolo, daí o nome 
vitriolagem, dado à atitude de alguém que joga, dolosamente, uma 
substância química sobre as pessoas. 
Venenos são substâncias químicas que, atuando no organismo, vão 
desempenhar um efeito sistêmico. Veneno é qualquer substância que, introduzida 
no organismo, danifica a vida ou a saúde. Entende-se por envenenamento, 
portanto, a morte violenta ou o dano grave à saúde, ocasionados por determinadas 
substâncias de forma acidental, criminosa ou voluntária. 
 
2.2. Ação Interna (venenos) 
Os venenos apresentam-se em dois grupos: organofosforados e 
clorados. 
Tanto um grupo como o outro, principalmente os organofosforados, 
podem ser causadores de envenenamento por contato com a pele, ingestão e 
inalação. A morte ocorre por parada respiratória e edema pulmonar. O indivíduo 
fica cianótico (roxo), o que é um sinal de que está havendo má respiração dos 
tecidos. 
Os clorados são menos perigosos, porém podem envenenar o sistema 
nervoso central (ex.: formicida, gás metano, combustíveis, dependendo da 
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 29 
quantidade). 
As noções do veneno, necessariamente, passam pela consideração de ordem 
quantitativa. 
Não basta, apenas, a qualidade da substância, é preciso que haja uma certa 
quantidade. 
Essa noção de quantidade passa a envolver praticamente todas as 
substâncias. 
Existem substâncias que, em quantidade muito pequena, podem produzir a 
morte (ex.: estricnina – 1mg pode causar convulsão, contratura e morte); porém, 1 
milésimo de miligrama pode servir como remédio. 
A mesma cocaína que excita, numa quantidade maior, pode ocasionar a 
morte, num efeito inverso. A variação da quantidade pode inverter o efeito da 
substância. 
 
1. ASFIXIAS 
Todo e qualquer mecanismo que intervenha na correta oxigenação dos 
tecidos humanos constitui uma asfixia. 
Asfixias são todas as formas de carência ou ausência de oxigênio, vital para o 
ser humano, todas as anormalidades no processo respiratório. 
 Hipóxia: situação em que está ocorrendo uma diminuição da oxigenação 
dos tecidos. 
 Anóxia: ausência de oxigenação. 
Toda e qualquer situação que interfira nas vias respiratórias, na caixa 
toráxica, nos pulmões, caracteriza asfixia. 
A caixa torácica é um sistema fechado. Em seu lado inferior está localizado o 
músculo do diafragma. Há um espaço entre a parede interna da caixa torácica e o 
pulmão: o espaço pleural. A pressão nesse espaço é maior que a pressão 
atmosférica. A lesão corporal que perfure expressivamente a caixa torácica vai 
provocar uma abrupta entrada de ar, que recebe o nome de pneumotórax, que 
“cola” o pulmão e o indivíduo não consegue respirar. 
O ser humano oxigena em ambiente gasoso, com determinadas 
características. Não respiramos quando o meio gasoso é muito alterado, quando o 
ar é composto por outros gases, nem em meio líquido e nem em meio sólido. 
1.1. Classificação das Asfixias 
1.1.1. Por modificação do meio ambiente 
 Confinamento 
 Soterramento 
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 Afogamento 
1.1.2. Por obstrução das vias aéreas 
 Enforcamento 
 Estrangulamento 
 Esganadura 
1.1.3. Por impedimento da expressão do tórax 
 Sufocação indireta 
 Afundamento de tórax 
1.1.4. Por paralisação dos músculos respiratórios 
 Paralisia espástica – eletroplessão, estricnina 
 Paralisia flácida – curare 
1.1.5. Por parada respiratória central ou cerebral 
 Eletroplessão 
 Traumatismo crânio-cefálico 
1.1.6. Por paralisia central 
 Depressão do sistema nervoso central – tóxicos 
1.2. Sinais Gerais de Asfixia 
1.2.1. Manchas de hipóstase 
O indivíduo morre e, em consequência da morte, o coração não bate. O 
sangue contido nos pequenos vasos próximos à pele, com a morte, acumula-se, por 
força gravitacional, nas regiões de maior declive. Se o morto está em pé 
(enforcado), o sangue vai para as extremidades (mãos, pés, pernas). Se o morto 
está deitado, as manchas tendem a se formar nas costas, se ele estiver em 
decúbito dorsal, ou no tórax, se ele estiver em decúbito ventral. Nas regiões 
de apoio, o sangue não chega, portanto, não se formam as manchas nessas 
regiões. Essas manchas começam a se formar 1 ou 2 horas depois da morte. 
Nos casos de asfixia, as manchas hipostásicas são mais marcadas (pronunciadas) e 
mais precoces, porque o sangue está sem oxigênio, com gás carbônico. O sangue 
venoso (com gás carbônico) é mais escuro, por isso que as manchas 
hipostásicas são mais visíveis nos asfixiados. São, também, mais precoces, 
porque, em decorrência do aumento da pressão, há um acúmulo muito maior de 
sangue nas extremidades. 
1.2.2. Cianose 
Face, rosto, parte alta do pescoço nos asfixiados são cianóticos. Em 
todos os casos de asfixia, percebe-se, na face, o sinal de cianose (roxidão). 
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1.2.3. Equimose 
Manchas na pele e em algumas vísceras; em conseqüência do aumento da 
pressão, os vasos se rompem formando as manchas equimóticas. No pulmão, 
recebem o nome de Manchas de Tardieu. Algunscasos são também visíveis no 
coração (em crianças de pouca idade). 
1.2.4. Sangue não coagulado 
O sangue tende a não coagular, a permanecer fluido. 
1.2.5. Maior quantidade de sangue nos órgãos 
Órgãos que normalmente contêm sangue, como o fígado, ficam muito 
cheios. Esse mesmo aumento da pressão, durante a asfixia, pode provocar um 
aumento de sangue nos alvéolos dos pulmões e pode ocorrer ruptura de vasos dos 
alvéolos; por isso é comum a secreção sanguinolenta nos casos de asfixia. 
1.3. Asfixias por Modificação do Meio Ambiente 
1.3.1. Confinamento 
A modalidade mais comum de confinamento é o das pessoas que, num 
ambiente compartimentado, têm o sangue enriquecido por monóxido de carbono. 
Ex.: num comboio de trem a carvão, fechado sem oxigênio, o indivíduo morre 
asfixiado. 
A cor da hemoglobina é mais avermelhada. O sangue não tem a 
coloração forte das outras asfixias, porque não foi asfixiado com gás carbônico, 
mas com monóxido de carbono. 
Confinamentos podem ocorrer com grupos de pessoas num compartimento 
onde não há renovação do ar. As pessoas se asfixiam com o próprio gás carbônico: 
é a asfixia clássica. 
O confinamento pode se dar em ambientes em que a mistura atmosférica é 
pobre em oxigênio: confinamento por inadequação da mistura oxigenatória (ex.: 
cabine de avião). 
O confinamento em ambiente com gás também é outra causa de asfixia. 
1.3.2. Soterramento 
Soterramento é a asfixia no meio terroso. 
É uma asfixia clássica. Ocorre a sufocação direta, indireta, mais a imersão 
em meio não respirável (sólido). 
É possível , também, o soterramento em grãos (soja, trigo etc.). 
1.3.3. Afogamento 
Afogamento é a asfixia no meio líquido: pode ser água, tanque de coca-cola, 
álcool, gasolina etc. 
Num primeiro momento, o afogado tem a fase de surpresa: fica agitado e 
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segura ao máximo a respiração. Quando não aguenta mais, respira 
profundamente inundando os pulmões de água. Entra em concussão e 
morte aparente. Após isso, o coração bate por mais ou menos 9 minutos. 
a) Sinais externos do afogamento 
 Baixa temperatura da pele: a temperatura da pele dos afogados é 
precocemente mais baixa (mais fria). 
 Pele anserina: a pele tem um aspecto chamado anserino - arrepiada 
pelo mecanismo pilo-eretor. Recebe o nome de Sinal de Bernt. 
 Contração de determinadas partes do corpo: os mamilos, a bolsa 
escrotal, pênis e clitóris são contraídos. 
 Maceração da pele palmar e plantar: a pele das mãos e dos pés ficam 
maceradas (enrugadas). A pele chega a descolar e permanece tão 
perfeita, destacada com tanta precisão (como uma luva), que é até 
possível colher as impressões digitais. 
 Máscara equimótica: o rosto fica preto, devido à quantidade de sangue 
acumulado. 
 Cogumelo de espuma: espuma branca ou rosada que sai da boca e dos 
orifícios nasais. A presença de cogumelo de espuma no cadáver, por 
si só, não confirma o diagnóstico da morte por afogamento. Nos 
casos de pneumonia, também pode ocorrer o cogumelo de 
espuma. 
 Lesões por animais aquáticos: são comuns nos afogamentos. Os 
animais têm predileção pelos lábios, pálpebras e nariz. O cadáver atacado 
pela fauna aquática tem um aspecto mais ou menos uniforme. Esses 
sinais são bem característicos. 
b) Sinais internos de afogamento 
 Inundação das vias aéreas com líquido: as pessoas se afogam em 
vários tipos de líquido. A presença desses líquidos não deve ser, apenas, 
uma constatação pericial. Por meio do líquido pode-se analisar o meio 
aquático em que o indivíduo se afogou. Ex.: o indivíduo pode ter sido 
morto em uma banheira e ter o seu corpo jogado no mar. A presença do 
líquido serve, também, para esclarecer, exatamente, o lugar onde ocorreu 
o afogamento. Mesmo se tratando de afogamento em água doce com 
posterior remoção do cadáver para um rio, também de água doce, há 
diferenciação entre os líquidos. 
 Lesão dos pulmões: apresenta um pontilhado de manchas chamadas de 
manchas de Tardieu. Quando o processo de afogamento é mais 
demorado, essas manchas podem ser grandes, recebendo o nome de 
manchas de Pautalf. Quando o indivíduo aspira uma grande quantidade 
de água, rompem-se os alvéolos e o líquido passa pelo espaço intra-
alveolar. Os pulmões, então, enchem-se de água, inchando-se. Isso se 
chama enfisema aquoso ou sinal de Brouardel. Nas mortes agônicas, os 
pulmões tornam-se extremamente estendidos. O pulmão adquire um 
volume maior, às expensas do líquido que está nas vias. A distensão dos 
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 33 
pulmões não se dá só em virtude do líquido que está dentro dele, mas 
também porque o pulmão ainda estava cheio de ar. Forma-se, então, 
uma mistura borbulhante de água e ar. Isso explica o fato de que, ao 
retirar o cadáver da água, forma-se um cogumelo de espuma. A 
pressão atmosférica age na mistura de ar e água, formando o 
cogumelo. 
 Presença de líquidos no aparelho digestivo: o indivíduo também 
engole água, além de inspirá-la. A trompa de Eustáquio liga a faringe ao 
ouvido médio; nos afogamentos, há presença de líquido no ouvido médio, 
que chegou até lá pela trompa de Eustáquio. 
Um cadáver dentro da água, pela sua densidade, tende a afundar. Durante 
as primeiras 24 horas, o cadáver fica submerso, depois disso ele vem à tona, 
porque o processo da putrefação humana, na sua segunda fase, produz uma 
enorme quantidade de gases (fase gasosa). Esses gases fazem com que o cadáver 
venha para a superfície. 
Em um cadáver putrefato, a certeza de que ocorreu o afogamento é 
dada pela análise comparativa do sangue da aurícula direita e esquerda do 
coração. O sangue com oxigênio vai para a periferia. Num afogamento, a água 
passa para a pequena circulação e mistura-se com o sangue. Se for retirado sangue 
do lado direito do coração e sangue do lado esquerdo, que veio do pulmão, o 
sangue mais diluído será o da aurícula esquerda, que é aquele que veio da pequena 
circulação. O sangue que veio da aurícula direita será mais concentrado. Isso dará 
a certeza se houve ou não afogamento. 
Resumindo: se o sangue da aurícula esquerda estiver mais diluído, 
com certeza ocorreu o afogamento. 
Pela análise do sangue, pode-se, também, dizer em qual tipo de líquido 
ocorreu o afogamento. 
c) Mecanismos jurídicos da morte por afogamento 
Acidente, suicídio e homicídio. 
A hipótese de afogamento por acidente configura a maior parte dos casos. 
Tecnicamente, não existe suicídio por afogamento. É comum encontrar 
nesses afogados sinais de luta pela sobrevivência. Esses casos recebem o nome de 
suicídio acidental. 
Permanecido na água o morto por afogamento, quando retirado, há uma 
violentíssima aceleração do processo de putrefação. 
Nos cadáveres cuja pele não está íntegra, não há compartimentação de 
gases e é mais difícil de se encontrar o cadáver. 
1.4. Asfixia por Obstrução das Vias Aéreas 
1.4.1. Enforcamento 
Enforcamento é a constrição do pescoço por um instrumento 
chamado laço e a força que constrange é a do próprio indivíduo. 
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No enforcamento, a força constritiva é o próprio peso do indivíduo. 15 kg 
são suficientes para que ocorra o enforcamento. 
No enforcamento e no estrangulamento, o laço que circunda o 
pescoço, levando o indivíduo à morte por asfixia, deixa uma marca 
característica, que se chama sulco. É uma marca, em baixo relevo, do material 
utilizado no laço que provocou o enforcamento, que desenha o instrumento que 
constringiu o pescoço, caracterizando o sulco. 
Além do sulco, embaixo da pele há lesões: hemorragias e fraturas em 
cartilagens, ruptura de vasos, nervos achatados e secção da artéria 
carótida, que recebe o nome de sinal de Amussat. 
Há dois tipos de enforcamento: 
a) Suspensão completa 
Quando há uma distância considerável entre o corpo e o chão. O corpo, 
verticalizado, fica solto no espaço, sem contato com o plano de sustentação. 
b) Suspensão incompletaQuando o corpo não fica inteiramente pendurado. Ex.: amarrar o laço numa 
janela. 
Nas asfixias por enforcamento, o mecanismo é misto, pois, além da 
constrição das vias respiratórias, constringe-se, também, a circulação sanguínea e 
o sistema nervoso que comanda a respiração e os batimentos cardíacos. 
c) Fases da morte por enforcamento 
 Fase da resistência: agitação; o indivíduo tem alucinações, visão turva, 
torpor, perda da consciência (quase coma). Essa fase dura de 40 a 80 
segundos. 
 Fase da agitação: ausência de consciência, convulsões intensas, 
alterações na cor da pele, língua protusa, olhos esoftalmos. Essa fase 
dura de 3 a 5 minutos. 
 Fase de prostração ou morte aparente: o coração bate e essa fase 
pode durar até 10 minutos. 
No enforcamento, o sulco é oblíquo ascendente, tem profundidade 
variável, é interrompido no nó, fica por cima da cartilagem tireóidea. 
1.4.2. Estrangulamento 
No estrangulamento, que também é uma constrição por um laço, a força 
constritiva é externa. O que constringe é o laço, acionado por uma força externa, 
geralmente homicida. 
Para determinar se a causa da morte foi enforcamento ou estrangulamento, 
é necessária a análise das características do sulco deixado pelo laço. 
No estrangulamento, o sulco é horizontal, tem profundidade 
uniforme, não é interrompido e fica no meio do pescoço. 
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1.4.3. Esganadura 
Esganadura é a constrição do pescoço por um membro do corpo humano: 
mãos, pés, cotovelos, joelhos. 
A esganadura é sempre um homicídio, porque a força constritiva será 
sempre um segmento do corpo humano. 
Na esganadura, sempre há disparidade de forças entre os sujeitos. 
1.5. Asfixias por Impedimento da Expansão do Tórax 
1.5.1. Sufocação indireta 
Diz respeito a todo e qualquer fenômeno que comprima o tórax, impedindo a 
sua expansão (ex.: acidente de veículos, homicídio, estouro de pessoas contra a 
parede, morte por pisoteamento contínuo entre os seres humanos). 
Há uma compressão do tórax, que impede a respiração, provocando a asfixia. 
1.5.2. Afundamento de tórax 
Fraturas múltiplas nas costas que bloqueiam a respiração, provocando a 
morte por asfixia. 
1.6. Asfixias por Paralisação dos Músculos Respiratórios 
1.6.1. Paralisia espástica 
É a contratura dos músculos. Ocorre nos casos de morte por eletroplessão. 
Alguns tóxicos também podem levar a esse estado. 
O tétano é também outra causa da paralisia espástica. 
Um veneno que leva a essa paralisia é a estricnina. 
1.6.2. Paralisia flácida 
A paralisia flácida é causada por substância vegetal, utilizada pelos 
índios da Amazônia, de nome curare. O curare é utilizado, também, nas 
anestesias. 
Outra hipótese remota, mas que também pode ocasionar paralisia flácida, é o 
traumatismo de medula (raquimedular). 
1.7. Asfixias por Parada Respiratória Central ou Cerebral 
1.7.1. Traumatismo crânio-encefálico 
O traumatismo crânio-encefálico pode ser ocasionado por uma pancada 
violenta na cabeça, que afunda o cérebro. Esse traumatismo lesa os centros de 
comando e o indivíduo pára de respirar. 
1.7.2. Eletroplessão 
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 36 
A carga elétrica leva à parada cerebral ocasionada por hemorragia das 
meninges, das paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal. 
1.8. Asfixias por Paralisia Central 
1.8.1. Depressão do sistema nervoso central 
É ocasionada por drogas que levam o sistema nervoso a parar. O modelo 
clássico inclui as substâncias barbitúricas, álcool e overdose por cocaína (asfixia por 
depressão do sistema nervoso central). 
Outras substâncias que podem produzir esse mesmo efeito são alguns 
tranqüilizantes. 
 
1. LESÃO CORPORAL 
A lei penal distingue lesões corporais em três tipos: leves, graves e 
gravíssimas. 
As lesões classificam-se pelo resultado, não importando o seu lugar, o que as 
produziu ou qual sua extensão. Do ponto de vista médico-legal, as lesões são 
classificadas pelo resultado. 
A lei dispõe “se da lesão corporal resulta (...)” e relaciona quatro 
resultados que definem as lesões graves e cinco resultados que definem as 
lesões gravíssimas. Por exclusão, as lesões não definidas pela lei são 
consideradas leves. 
1.1. Lesões Corporais Graves 
1.1.1. Se da lesão corporal resultar incapacidade para as habitualidades 
ocupacionais por mais de trinta dias 
Ocupação habitual é tudo o que a pessoa faz, desde o nascimento até a 
morte. É mais do que o trabalho, embora também o inclua. O exame que 
comprova a incapacidade deve ser realizado no 30.º dia após a lesão. A 
incapacidade não precisa necessariamente ser absoluta. 
1.1.2. Se da lesão corporal resultar perigo de vida 
É a lesão que causa uma quase morte, que provoca uma periclitação vital. 
Não existe, legalmente, a expressão “risco de vida”. Risco é prognóstico e não 
existe em medicina legal. Perigo de vida é um momento, um instante, em que 
uma função vital periclitou (ex.: parada cardíaca, estado de coma, parada cerebral 
etc.). 
1.1.3. Se da lesão corporal resultar debilidade permanente de membro, sentido ou 
função 
 Membros: são os braços, antebraços, cotovelos, mãos, dedos, coxas, 
pernas e pés. 
 Sentidos: são a visão, audição, olfato, paladar e tato. 
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 Função: é o conjunto de atividades de um ou mais órgãos, sistema ou 
aparelho que conduz a uma atividade padrão (ex.: função digestiva, 
função respiratória). 
 Debilidade: não é anulação da atividade, mas sim uma expressiva 
redução da mesma. 
 Permanente: quando cessam os meios habituais de tratamento ou 
recuperação. Meios habituais de tratamento são os meios rotineiros. 
Exemplos: 
 Debilidade permanente de membro: traumatismo no nervo do braço, 
devido ao qual o indivíduo fica com uma expressiva diminuição da força; 
 Debilidade permanente de sentido: redução da audição por poluição 
sonora violenta; traumatismo ocular que produza descolamento da retina 
e o indivíduo tenha reduzida sua visão; 
 Debilidade permanente de função: espancamento no rim, que ocasiona 
diminuição da função renal. 
1.1.4. Se da lesão corporal resultar antecipação do parto 
A lei protege o direito da mãe de gestar durante 40 semanas, ou do feto 
permanecer em gestação por 40 semanas. Se provocar antecipação e, 
conseqüentemente, a perda desse direito, a lesão corporal é considerada 
grave. 
 
1.2. Lesões corporais gravíssimas 
1.2.1. Se da lesão corporal resultar incapacidade permanente para o trabalho 
Permanente é a incapacidade que sobrevém no instante em que cessam os 
meios habituais de tratamento. A lei diz claramente que a incapacidade diz 
respeito a qualquer tipo de trabalho, e não somente para o trabalho 
especificamente exercido pela vítima. 
1.2.2. Se da lesão corporal resultar enfermidade incurável 
Incurável é aquilo que é definitivo, em face de processos normalmente 
utilizados para a cura. 
Enfermidade é uma anomalia, patologia permanente, resultante de um 
trauma externo (ex.: ferida penetrante no tórax que ocasiona lesão grave da 
pleura, produzindo uma aderência do pulmão à caixa torácica e diminuindo, 
assim, a capacidade respiratória do indivíduo). Quando resulta de fator 
interno, é chamada de doença. 
1.2.3. Se da lesão corporal resultar perda ou inutilização de membro, sentido ou 
função 
CURSO DE MEDICINA LEGAL – PROF. MARCOS MELO 
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Nesse caso a graduação é maior do que na debilidade permanente (lesão 
grave). Perda é o zeramento das funções de um órgão, sua retirada, 
amputação, extração. 
Exemplos: 
 Perda de membro: amputação de quaisquer dos quatro membros; 
Perda de sentido: enucleação (extração) do globo ocular 
 Perda de função: pancada no rosto que arranca todos os dentes, 
perdendo a função mastigadora; 
 Inutilização de membro: traumatismo sob o plexo braquial (embaixo 
do braço), com secção de nervo, inutilizando o braço; 
 Inutilização de sentido: cegueira dos dois

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