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1 
Curso 
GESTÃO EM SAÚDE 
 
Disciplina 
EPIDEMIOLOGIA E ESTATÍSTICA 
VITAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso 
GESTÃO EM SAÚDE 
 
Disciplina 
EPIDEMIOLOGIA E 
ESTATÍSTICA VITAL 
Alzira FALCÃO 
Jorge PINHO 
Silvia FARIA 
 
 
 
www.avm.edu.br 
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SILVIA MARIA DE FREITAS FARIA: graduada em Estatística pela 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1983, fez os créditos do 
mestrado em Estatística do Instituto de Matemática da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1987. Foi professora de 
Estatística de Saúde no Curso Técnico de Registros em Saúde da 
escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, FIOCRUZ, de 1993 
a 2000, com especializações em Gestão Estratégica e Políticas de 
Saúde no Instituto de Medicina Social da UERJ, 2005, Promoção de 
Espaços Saudáveis e Sustentáveis no Departamento de 
Saneamento e Saúde da ENSP-FIOCRUZ, 2009, e Gestão Pública 
no Instituto A Vez do Mestre, 2010. Estatística do Ministério da 
Saúde desde 1987. 
 
JORGE LUIZI PINHO: Possui graduação em Medicina pela 
Universidade Federal Fluminense (1987) e mestrado em Saúde 
Pública pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente, é 
professor adjunto da Universidade Severino Sombra, especialista 
em Regulação de Saúde Suplementar da Agência Nacional de 
Saúde Suplementar - ANS, com ênfase em Saúde Pública e 
Coletiva. 
 
ALZIRA FALCÃO: Possui licenciatura em Matemática pela 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1992) e Especialização 
em Matemática pela Universidade Federal Fluminense (1993). É 
também especialista em Políticas Públicas e Gestão Estratégica em 
Saúde pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em parceria 
com o Ministério da Saúde (2005) e Especialização em Gestão 
Pública pela AVM Faculdade Integrada (2010). É líder do Projeto 
CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde / Divisão 
de Manutenção de Sistemas de Saúde/DMSS, da Coordenação de 
Desenvolvimento dos Sistemas de Saúde/CDESS (Ministério da 
Saúde - SE/DATASUS). 
 
 
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07 Apresentação 
 
09 
Aula 1 
Epidemiologia: seu campo de 
estudo e trabalho 
 
47 
Aula 2 
Bases epidemiológicas para atuação 
na área de saúde 
 
71 
Aula 3 
Estatísticas vitais e a medida da 
saúde 
 
97 
Aula 4 
Introdução ao conceito de vigilância 
em saúde - desigualdades em saúde 
 
133 
Aula 5 
Uso da epidemiologia no 
planejamento das ações em saúde 
 
175 
AV1 
Estudo dirigido da disciplina 
 
178 
AV2 
Trabalho acadêmico de 
aprofundamento 
 
179 Referências bibliográficas 
 
 
Epidemiologia e 
Estatística Vital 
 
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Nesta disciplina, a Epidemiologia será apresentada a partir de 
muitos conceitos que acompanharam sua evolução até os dias de 
hoje, fazendo com que ela passe a ser mais que uma disciplina da 
área das ciências da saúde. A epidemiologia se presta ao estudo 
das condições de saúde das populações, a análise adequada da 
saúde de populações passa necessariamente pelo conhecimento 
básico do conceito de saúde e sobre o processo de doença e suas 
causas. É importante frisar que, nas últimas décadas, a 
epidemiologia tem aperfeiçoado de forma significativa seu arsenal 
metodológico. Tal fato deve-se, de um lado, à melhor 
compreensão do processo saúde-doença, que nos permitiu uma 
visão mais clara dos múltiplos fatores que interagem na sua 
determinação e, de outro, ao desenvolvimento de novas técnicas 
estatísticas aplicadas à epidemiologia e, também, à utilização, 
cada vez mais ampla, dos computadores pessoais e à criação de 
novos programas (softwares), tornando acessíveis a um número 
cada vez maior de pesquisadores a aplicação de análises 
estatísticas de dados obtidos em investigações epidemiológicas. É 
neste sentido que entendemos a utilização da epidemiologia para 
além do estudo da situação de saúde de populações e indivíduos, 
tornando-a um subsídio indispensável na tomada de decisão na 
Gestão em Saúde. 
 
 
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Este caderno de estudos tem como objetivos: 
 
 Apresentar a disciplina Epidemiologia: seu campo de estudo e 
trabalho; 
 Apresentar quais são as bases epidemiológicas para atuação na 
área de saúde; 
 Compreender o que são Estatísticas Vitais e Medidas da Saúde; 
 Conhecer Vigilância em saúde; 
 Aprender sobre Desigualdades em Saúde e a relação com a 
Epidemiologia; 
 Compreender o uso da Epidemiologia no planejamento das 
ações em saúde. 
 
 
Epidemiologia: seu 
Campo de Estudo e 
Trabalho 
 
Jorge Pinho 
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Definir um tema que se queira abordar é o primeiro passo para 
seu entendimento. Assim, nesta aula, a Epidemiologia será 
apresentada a partir de seus muitos conceitos que acompanharam 
sua evolução até os dias de hoje, fazendo com que a 
epidemiologia passe a ser mais que uma disciplina da área das 
ciências da saúde. Hoje, estendemos sua utilização para além do 
estudo da situação de saúde de populações e indivíduos, 
tornando-a um subsídio indispensável na tomada de decisão na 
gestão em saúde. 
 
 
 
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Apresentar um panorama geral da Epidemiologia por meio de 
um contexto histórico, ao demonstrar sua evolução até os dias 
atuais quando se tornou disciplina da área da saúde de grande 
relevância e incorporou métodos e instrumentos de estudo de 
enorme complexidade; 
 Mostrar ao aluno uma abordagem reflexiva a respeito dos 
aspectos conceituais da Epidemiologia e sua utilização; 
 Sintetizar sua abrangência e importância como suporte na 
prática do profissional de saúde, tanto aquele que lida 
diretamente com a clientela de saúde quanto aquele que tem a 
responsabilidade da gestão da saúde. 
 
Aula 1|Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 10 
Introdução 
 
Na Antiguidade, as doenças eram explicadas de 
forma sobrenatural; simplesmente consideradas um 
castigo dos deuses ou demônios. Porém, nesse período, 
Hipócrates já argumentava que as doenças resultavam 
da relação entre os indivíduos e o meio ambiente. Com 
esse pensamento, esse médico grego, considerado pai 
da Medicina, influenciou o raciocínio médico de sua 
época e das eras seguintes. É considerado por muitos, 
também, o precursor da epidemiologia, por ter 
estudado as doenças epidêmicas e considerar, em suas 
orientações na avaliação da saúde dos indivíduos, a 
influência do tempo, o modo de vida e os hábitos 
higieno-dietéticos. 
 
Seus ensinamentos se mantiveram preservados 
ao longo dos séculos, porém, não de forma 
disseminada pelo mundo ocidental, apenas pelo mundo 
árabe, e retomados no Ocidente, a partir do 
Renascimento. 
 
Quem foi Hipócrates? 
Hipócrates (em grego, Ἱπποκράτης) — (Cós, 460 
–Tessália, 377 a.C.) é considerado por muitos uma 
das figuras mais importantes da história da saúde, 
frequentemente considerado "pai da medicina", 
sendo referido como uma das grandes figuras entre 
Sócrates e Aristóteles durante o florescimento 
intelectual ateniense. Hipócrates era um asclepíade, 
isto é, membro de uma família que durante várias 
gerações praticara os cuidados em saúde. 
Nas obras hipocráticas há uma série de descrições 
clínicas pelas quais se podem diagnosticar doenças 
como a malária, papeira, pneumonia e tuberculose. 
Para o estudioso grego, muitas epidemias 
relacionavam-se com fatores climáticos, raciais, 
dietéticos e do meio onde as pessoas viviam. Muitos 
de seus comentários nos Aforismos são ainda hoje 
válidos. Seus escritos sobre anatomia contêm 
descrições claras tanto sobre instrumentos de 
dissecação quanto sobre procedimentos práticos. 
Foi o líder incontestável da chamada "Escola de 
Cós". O que resta das suas obras testemunha a 
rejeição da superstiçãoe das práticas mágicas da 
"saúde" primitiva, direcionando os conhecimentos em 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 11 
 
 
 
 
 
 
Na Idade Média, na Europa, durante o 
Feudalismo, regime em que predominava a produção 
rural dos feudos, durante o Obscurantismo, o senso 
comum e a maioria dos práticos da medicina admitiam 
que as causas das doenças vinham de castigos de Deus 
e emanações no ar, do solo, com seus compostos e 
dejetos em decomposição, a teoria dos miasmas, ou 
maus ares, dominou o pensamento médico até meados 
do século XIX. A malária, importante doença 
endêmico-epidêmica nessa parte do mundo, nesse 
período, teve o seu nome inspirado nessa concepção 
predominante. Indivíduos suscetíveis entrariam em 
contato com miasmas, que por sua vez eram 
transmitidos a outros indivíduos; dessa forma, as 
epidemias eram explicadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mais tarde, a Idade Moderna vem com a 
decadência do Feudalismo e o surgimento do 
Mercantilismo na Europa, com as grandes navegações, 
em busca de mercados e seus produtos no Oriente e o 
início do crescimento desenfreado das cidades, ou 
Burgos, em função desse processo, num cenário que 
prevalecia a promiscuidade, recrudescem as epidemias. 
Esse modo de disseminação das principais doenças 
transmissíveis assolava a Europa de forma cíclica havia 
saúde no caminho científico. Sua ética resume-se no 
famoso Juramento de Hipócrates. Porém, certos 
autores afirmam que o juramento teria sido 
elaborado numa época bastante posterior. 
Fonte: Wikipédia: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3crates 
Definindo: 
Endemia  Difere da epidemia por seu caráter mais 
contínuo e restrito a uma determinada área. Pode 
evoluir para uma epidemia (doença endemo-
epidêmica). 
Epidemia  Incidência, em um curto período de 
tempo, de um grande número de casos de uma 
doença. 
Pandemia  Epidemia de doença infecto-contagiosa 
que se espalha entre a população localizada em uma 
grande região geográfica. 
Quer 
saber mais? 
 
 
Antiguidade (Idade 
Antiga) – Período 
que se estende 
desde a invenção da 
escrita (4000 a.C. a 
3500 a.C.) até a 
queda do Império 
Romano no Ocidente 
(476 d.C). 
Idade Média – 
Século V (mais 
especificamente 476 
d.C) ao século XV 
(entre 1453 d.C., 
com a queda de 
Constantinopla e 
1493 d.C., com a 
descoberta da 
América) 
Renascimento – Fins 
do século XIII até 
meados do século 
XVII. 
Idade Moderna – A 
partir do século 
XVII. 
 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 12 
séculos, porém, encontrou na estrutura de organização 
social da época o mecanismo de disseminação brutal, 
provocando aniquilação de grande contingente 
populacional. A cólera, o tifo, a peste e a tuberculose 
obrigam, com suas dinâmicas devastadoras, aos 
primeiros levantamentos epidemiológicos, na tentativa 
de determinar as causas de sua disseminação. É por 
volta do século XVII que um homem chamado John 
Grant começa a tabular os primeiros registros de 
óbitos, estudando assim os dados de mortalidade de 
Londres. 
 
A Revolução Industrial, iniciada em meados do 
século XVIII, consolidou o êxodo rural para as cidades 
europeias, que começaram a se formar em Burgos, no 
período do Mercantilismo. A mão de obra para 
alimentar as fábricas, em proliferação, inchava as 
cidades, que sem infraestrutura para abrigá-la, 
consolidava um cenário propício para o 
recrudescimento das grandes epidemias, além da 
jornada de trabalho, extremamente pesada, que se 
impunha nesse período, interferindo de forma 
importante com a resistência das pessoas. As 
epidemias assolavam as grandes cidades; sua dinâmica 
obrigou a movimentos das autoridades para o 
desenvolvimento de medidas de higiene e o 
fortalecimento das legislações sanitárias. 
 
 
 
 
Nesse cenário, o desenvolvimento da 
bacteriologia passa a dividir as opiniões dos 
profissionais de medicina com a teoria dos germes, em 
contraposição à dos miasmas. 
 
Entre o final do século XVIII e meados do século 
XIX, na Europa, importantes movimentos são 
observados: introduz-se o método estatístico em 
Antes de prosseguir, vamos pesquisar? O que é a 
Teoria dos Miasmas? E como a Teoria dos Miasmas 
se diferencia da Teoria dos Germes? 
Dica de 
filme 
 
 
Um filme muito 
interessante para 
entender o 
desenvolvimento 
das epidemias nos 
séculos XVIII e XIX 
chama-se O 
Cavaleiro do telhado 
e a dama das 
sombras, dirigido 
por Jean-Paul 
Rappeneau, em 
1995. 
 
 
Dica de 
leitura 
 
 
Outra referência é o 
livro de Maria Stella 
Bresciani, chamado 
Londres e Paris no 
século XIX, o 
espetáculo da 
pobreza (SP: Editora 
Brasiliense, 1982). 
Este livro nos 
mostra a precária 
urbanização durante 
o processo de 
industrialização na 
França e Grã-
Bretanha e como 
isso afeta o 
desenvolvimento e a 
saúde dos 
habitantes destes 
dois países. 
 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 13 
pesquisa clínica e nasce a Medicina Social, 
apresentando a corrente que defendia a influência de 
determinantes sociais na origem das doenças, ou seja, 
a relação das condições socioeconômicas na 
determinação dos problemas de saúde. Apesar desse 
pensamento, a Teoria dos Germes, reforçada, a 
princípio, pela demonstração dos micro-organismos 
como causadores das principais doenças da época, 
passa a orientar a medicina clínica através da 
concepção de única causa, os microrganismos, e único 
efeito, doenças infecciosas, predominantes nesse 
período. Ao mesmo tempo, devido à influência das 
descobertas da microbiologia, os caminhos da Saúde 
Pública, com suas ações preventivas, se direcionam 
para as medidas nutricionais, de saneamento 
ambiental, e pesquisas na busca de agentes 
imunizantes, as vacinas, já no início do século XX. 
 
Na entrada do século XX, a evolução dos 
conhecimentos sobre a transmissão das doenças 
infecciosas diminui a força da teoria dos germes ao 
introduzir o meio ambiente e seus fatores como um dos 
pilares da relação de transmissão entre agente 
etiológico e hospedeiro. Nesse momento, a Saúde 
passa a ser entendida, por alguns estudiosos, como a 
adaptação do indivíduo, ao longo de sua vida, ao meio 
ambiente, do qual faz parte, através de complexa 
interação com seus inúmeros fatores. Por sua vez, a 
doença é o resultado de um desequilíbrio em algum 
momento desse processo adaptativo; ou devido ao 
envelhecimento, ou pelo aumento da carga de fatores, 
ou ambos. Como afirma Dubos: “Os estados de saúde e 
doença são a expressão do sucesso ou do fracasso 
experimentado pelo organismo em seus esforços para 
responder adaptativamente a desafios ambientais”.1 
 
 
1
 Dubos S. Man adapting. New Haven: Yale University Press, 1965. In: 
http://www.psiquiatradeportoalegre.com.br/saudexdoenca4.html 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 14 
Após a segunda Guerra Mundial, a epidemiologia 
sofre um desenvolvimento marcante. A consolidação do 
processo de industrialização de países que iniciaram a 
Revolução Industrial do século anterior, que não foram 
dizimados na Guerra, o início do processo de 
industrialização dos países subdesenvolvidos, o acesso 
a melhores condições de vida, no aspecto nutricional e 
ambiental, leva à diminuição significativa na incidência, 
casos de doenças transmissíveis, até então as mais 
prevalentes, bem como na sua mortalidade. 
 
Paralelamente, o aumento da expectativa de 
vida, e longevidade das pessoas, permite o aumento 
progressivo das doenças crônicas não transmissíveis. 
Nesse período, as pesquisas em saúde se multiplicam 
tendo como ferramenta os estudos epidemiológicos. A 
epidemiologia tem como foco de pesquisa a 
investigação das condições de saúde das populações, a 
busca da determinação da etiologia das doenças e 
Fatores de Risco e a proposição de intervenções 
seguras para a diminuição da incidênciae evolução de 
doenças. 
 
A epidemiologia, por conta da complexidade da 
multicausalidade e da influência dos inúmeros fatores 
ambientais na determinação das doenças e manutenção 
da saúde das populações, se desenvolveu e foi 
transformada em disciplina na formação de 
profissionais de saúde, e com isso incorporou métodos 
e instrumentos de estudo de igual complexidade. 
 
É importante ressaltar que, praticamente todos 
os problemas de saúde, em todas as áreas da saúde, 
foram, bem ou mal, ou estão sendo estudados, e o são 
através da epidemiologia e seus métodos de 
investigação. 
 
Atualmente, a Epidemiologia encontra-se de tal 
forma desenvolvida, que deixou de estar vinculada 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 15 
exclusivamente à saúde pública ou coletiva, 
debruçando-se quase que totalmente em aspectos 
biológicos, fisiológicos, ou mesmo físicos. A disciplina 
encontra interface na clínica e na sociologia, fazendo 
parte da grade curricular de qualquer curso da área da 
saúde e que aborda assuntos de muitas outras áreas. 
Mesmo assim, podem ser identificados, como alerta 
Pereira, três eixos básicos em sua composição mais 
moderna, todas as áreas das ciências biológicas; as 
ciências sociais, repercutidas, de forma complexa, nas 
relações entre fatores biológicos e ambientais; e a 
estatística apresentando seus recursos para a coleta de 
dados, nas investigações epidemiológicas e suas 
análises, para o diagnóstico da situação, bem como na 
busca de estratégias seguras de intervenção. 
 
Conceito e Relevância 
 
Antes de qualquer coisa, para o seu 
entendimento, é necessário buscar um conceito de 
Epidemiologia. Diversas definições podem ser 
encontradas na literatura, dependendo de cada autor e 
do período em que foi elaborada. 
 
Foram levantadas por um epidemiologista, de 
1927 até 1976, vinte e três definições de Epidemiologia 
na literatura mundial. As mais antigas enfocam 
exclusivamente as doenças transmissíveis, que 
predominavam até o início do século passado. Já as 
mais recentes incluem as doenças não transmissíveis, 
bem como os diversos fatores determinantes dos 
problemas de saúde (Pereira, 2002). 
 
Os autores lembram a sua origem etimológica 
grega: epi, que significa sobre; demo se refere à 
população ou povo e logia, o sufixo grego relacionado a 
estudo (Jekel, 2002). 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 16 
Assim, partindo da simplificação da origem da 
palavra, Jekel define epidemiologia como o “estudo dos 
fatores que determinam a ocorrência e a distribuição da 
doença na população”. Da mesma forma que 
Macmahon: “A Epidemiologia é o estudo da distribuição 
e dos determinantes da frequência de doenças no 
homem” (Pereira, 2002). 
 
Na verdade, esses autores partem do argumento 
de que a epidemiologia é uma das formas pelas quais a 
doença pode ser estudada, considerando os níveis: 
molecular (biologia celular, bioquímica e imunologia); 
dos tecidos e órgãos (anatomia patológica); do 
indivíduo (clínica) e das populações, a epidemiologia. 
 
O conceito de Maxcy que se refere à 
Epidemiologia como “o campo da ciência médica 
preocupado com o inter-relacionamento de vários 
fatores e condições que determinam a frequência e 
distribuição de um processo infeccioso, uma doença ou 
um estado fisiológico em uma comunidade humana”, 
apesar de abordar doenças, fala em “estado 
fisiológico”, de maneira genérica, sim, porém considera 
um aspecto, que não somente a concepção negativa da 
doença, como campo de abordagem; além de admitir a 
existência de uma relação entre diversos fatores e 
condições na determinação desse estado. 
 
Dessa forma, é importante considerar que a 
Epidemiologia é uma ferramenta fundamental, não só 
para o estudo dos determinantes da doença, mas 
também, consequentemente, para os determinantes da 
saúde de populações. Afinal, as condições de saúde de 
uma população, ou mesmo de um indivíduo, estão 
diretamente ligadas à forma como “organizam” seu 
modo de viver e também respondem às influências que 
o meio lhes apresentam. Como entendem Susser, 
quando diz, de forma mais sucinta, que a epidemiologia 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 17 
“é o estudo da distribuição e dos determinantes da 
saúde em populações humanas”, e Leavell, mais 
abrangente, que refere a epidemiologia como “um 
campo da ciência que trata dos vários fatores e 
condições que determinam a ocorrência e a distribuição 
de saúde, doença, defeito, incapacidade e morte entre 
os grupos de indivíduos”. Essa definição é interessante, 
ao abordar a “distribuição da saúde” dando a ela uma 
característica dinâmica de processo e não estática como 
“estado de saúde”, utilizado, se não em todos, mas na 
grande maioria das definições, quando a abordam. A 
saúde, como um processo e não um estado, será tema 
de discussão a ser abordado oportunamente (Pereira, 
2002). 
 
Forattini contribui para o maior entendimento da 
Epidemiologia, em sua definição, ao colocar elementos 
ecológicos em seu conceito. Para ele, a Epidemiologia é 
o “estudo do estado de saúde na comunidade 
antrópica, ou seja, tudo que pode ser atribuído à 
atividade humana, em seus aspectos causais e de 
distribuição com a finalidade de aplicá-los para a 
solução dos problemas a ele relacionados” (Forattini, 
1992). Nessa definição aparece a preocupação em 
mostrar a epidemiologia como, além de uma ciência, 
uma ferramenta, não apenas de pesquisa, apresentada 
assim por diversos autores, mas também como um 
instrumento de Gestão em saúde, quando considera 
todos os aspectos relacionados à atividade humana 
como determinantes (causais e de distribuição) para 
seu estado de saúde, e a finalidade de aplicá-los na 
transformação ou solução dos problemas. Paul explicita 
a questão da atividade humana em sua definição: “A 
Epidemiologia ocupa-se das circunstâncias em que as 
doenças ocorrem e nas quais elas tendem ou não a 
florescer. Essas circunstâncias podem ser 
microbiológicas ou toxicológicas; podem estar baseadas 
em fatores genéticos, sociais ou ambientais. Mesmo os 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 18 
fatores religiosos ou políticos devem ser considerados, 
desde que se note que têm alguma influência sobre a 
prevalência da doença. É uma técnica para explorar a 
ecologia da doença humana”; e Morris de forma um 
pouco diferente chega à mesma conclusão quando diz 
que “A Epidemiologia é uma maneira de aprender a 
fazer perguntas e a colher respostas que levam a novas 
perguntas... empregada no estudo da saúde e doença 
das populações. É a ciência básica da medicina 
preventiva e comunitária, sendo aplicada a uma 
variedade de problemas, tanto de serviços de saúde 
como de saúde” (Pereira, 2002). 
 
Os conceitos buscam dar uma definição 
abrangente à ciência da área da saúde que, ao longo do 
tempo, por estudar os aspectos que interferem na 
saúde ao longo do processo de vida, aspectos estes, 
sociais, culturais, econômicos, ambientais e 
organizativos, ainda mais das populações, tornou-se 
extremamente complexa. No entanto, a simplificação 
do conceito talvez seja a forma mais adequada de 
explicar e de se entender a dimensão do que se está 
tentando definir. 
 
A partir dos conceitos apresentados, percebe-se 
que elementos comuns podem ser apreendidos de 
todos eles, e dessa forma, como conseqüência, chegar 
a uma definição simples a ponto de entender a 
epidemiologia como um amplo espectro de 
possibilidades de utilização dentro da área da saúde 
para a resolução de seus problemas. A definição, 
apresentada por Pereira (2002), faz isso ao considerar 
a Epidemiologia como um “Ramo das ciências da saúde 
que estuda, na população, a ocorrência, a distribuição e 
os fatores determinantes dos eventos relacionados à 
saúde”. 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudoe trabalho 19 
Portanto, a Epidemiologia, partindo do que foi 
apresentado, do mais simples ao mais complexo, pode 
ser definida e podemos entendê–la como o “Ramo das 
ciências médicas empregado no estudo e intervenção 
dos aspectos relacionados à saúde no âmbito de 
populações”. Assim, considerando essa definição, a 
epidemiologia pode ser entendida, não de uma forma 
restrita, fragmentada ou simples, mas pelo contrário, 
como uma ciência que estuda todos os diversos 
aspectos que determinam ou não a saúde, podendo ser 
aplicada, até como ferramenta, em qualquer que seja o 
nível de abordagem dentro das ciências da saúde, 
principalmente na gestão em saúde, ao considerar as 
populações o seu objeto de estudo. 
 
A epidemiologia observa, a partir de populações, 
como se desenvolve o processo de saúde, quando 
levanta suas características de vida e a influência que 
essas exercem nesse processo. Resta, então, no que 
ficou concluído, a partir de sua definição, apresentar os 
conceitos do que é saúde e população. 
 
População e Território 
 
Para a epidemiologia, população, genericamente 
falando, é um conjunto de indivíduos, mais de um 
constituindo-se assim como o contrário de indivíduo. 
 
Os estudos, a observação, a sensibilidade da 
epidemiologia partem de problemas, de soluções, ou 
mesmo da manutenção da saúde, a princípio, de grupos 
de indivíduos, qualquer número maior que uma pessoa 
(Medronho, 2008). Porém, não basta definir população 
do ponto de vista numérico. Um estudo ou 
levantamento epidemiológico trabalha com a noção de 
território, o espaço não somente delimitado, ou 
cercado, mas também, todos os aspectos 
socioeconômicos, culturais, ambientais que influenciam 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 20 
e que são produzidos pelos indivíduos que o habitam, e 
que compõem ou influenciam os diversos 
determinantes no processo de saúde e adoecimento, ou 
seja, na qualidade de vida de seus integrantes. 
 
A epidemiologia não leva em conta apenas os 
indivíduos de uma favela, mas sim como essa 
população se caracteriza, ou seja, sua organização, 
socialização, sua cultura (hábitos e ritos) e sua 
realidade econômica, e como essa mesma organização 
interfere na produção de sua saúde, o que dá a essa 
população um perfil genérico definido. 
 
Concluindo, para a epidemiologia, a concepção 
de população considera os indivíduos sob todos os 
aspectos de seu modo de vida, utilizando o conceito de 
“território” para delimitar uma população, ou seja, 
grupos de indivíduos com características sociais 
semelhantes, além de biológicas. 
 
Portanto, podemos falar em população quando 
estamos considerando um casal, uma família pequena 
ou numerosa, idosos de um asilo, moradores de um 
bairro, crianças de uma creche, habitantes de uma 
cidade, municípios, a população de um estado, de um 
país ou de mais de um. Cada exemplo desse pode ser 
considerado uma população, caracterizada por seus 
diversos aspectos que lhe conferem semelhança. 
 
Conceito de Saúde 
 
Para a continuidade da reflexão e conhecimento 
sobre a importância da Epidemiologia, não só como 
disciplina na área da saúde, mas também como 
instrumento na gestão, é fundamental a discussão 
sobre o que é saúde. Muitos profissionais da área 
atuam sem esse entendimento. Como consequência, 
geralmente empreendem esforços mal direcionados, 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 21 
pouco efetivos, superestimando suas competências e 
responsabilidades, o que acaba gerando pouco impacto 
no resultado das ações, além de frustração profissional. 
 
A epidemiologia, pelo que se concluiu, estuda os 
aspectos relacionados à saúde e as associações entre 
os diversos fatores que compõem a interface entre 
saúde e doença, para propor a intervenção sobre eles, 
quando necessário. 
 
Mas então, quais são esses aspectos? Como 
identificá-los e conhecê-los? Para isso, parece óbvio 
que seja necessário estabelecer um conceito do que 
seja saúde e seus determinantes. Definir 
satisfatoriamente o que é saúde permite um maior 
entendimento sobre sua dinâmica, como preservá-la, 
como buscá-la, e como se organizar para interferir nos 
aspectos que exercem influência sobre ela. Dessa 
forma, tal conceito deve ser, como diz Dever, “amplo, 
abrangente e administrável do ponto de vista 
estratégico”. Interessante essa concepção “do ponto de 
vista estratégico”; significa dizer que o conceito deve 
direcionar ao ponto de partida adequado, na 
intervenção em saúde (Diagnóstico, planejamento e 
execução de ações, monitoramento e avaliação dos 
resultados alcançados). Certos equívocos na concepção 
sobre o que deva ser encarado como saúde têm levado 
o setor a fracassos estratégicos, quanto ao combate 
dos principais problemas que afligem a população 
mundial (Dever, 1988). 
 
A definição de saúde, além de considerar essas 
características, tem de ser simples, para que possa ser 
entendida, não só por profissionais de saúde, uma vez 
que saúde se busca e se conquista através da mobilização 
de esforços integrados de toda a sociedade, assim como 
não apenas pela responsabilidade técnica profissional 
unisetorial, o que será demonstrado, a seguir, com a 
apresentação da sua mais moderna concepção. 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 22 
O conceito de saúde deve, ainda, incorporar os 
modelos epidemiológicos que admitem como fatores 
determinantes das doenças, múltiplas causas e 
múltiplos efeitos, além das associações dos fatores de 
risco como faz o conceito de população na concepção 
de território. 
 
Saúde como campo 
 
A saúde é de difícil definição, sem dúvida. 
Durante muito tempo, desde a criação da “Medicina 
Interna”, início da Clínica, em meados do século XVIII, 
período em que predominavam as doenças infecciosas 
e carências, se restringia à ausência de doenças. 
Concepção essa reforçada pela teoria dos germes e do 
desenvolvimento da bacteriologia, até meados do 
século XIX, comprovando a existência de agentes 
microbianos que, uma vez interagindo com o 
organismo, internamente, desenvolviam lesões e 
sintomas, as doenças, ou seja, uma única causa (o 
agente microbiano, ou mesmo a deficiência nutricional) 
com um único efeito (a doença). Ficou sob a 
responsabilidade dos médicos tratá-las e, sob essa 
racionalidade, os serviços de saúde foram 
rigorosamente constituídos (Pereira, 2002). 
 
Esse conceito foi se perpetuando, na prática, 
apesar da diminuição da incidência e mortalidade de 
doenças transmissíveis mais prevalentes, mais pela 
melhoria das condições de vida das populações, por 
maior acesso à alimentação e soluções sanitárias, do 
que propriamente à intervenção médica. Paralelamente, 
esse contexto reforçava as teorias dos adeptos da 
Medicina Social sobre a multicausalidade das doenças, 
em que os fatores ambientais, extrínsecos influenciam 
a exposição ao agente etiológico. 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 23 
Surge, assim, o modelo epidemiológico 
tradicional. Essa concepção sustenta que a doença tem 
três pilares, o hospedeiro, o agente e, entre eles, o 
ambiente. Os agentes representados por micro-
organismos físicos, químicos ou mesmo as deficiências 
alimentares. Nessa relação pode ser considerado 
qualquer aspecto que promova a suscetibilidade do 
hospedeiro, associada à influência que o meio ambiente 
tem nessa interação entre os três (Rouquayrol, 2003). 
 
É claro que, mais tarde, a alteração nos padrões 
das doenças; a Transição Epidemiológica, em que as 
doenças transmissíveis foram cedendo espaço às 
doenças crônicas não transmissíveis; a interferência do 
processo de industrialização de alguns países no perfil 
de suas populações, a transição demográfica; a 
diminuição da mortalidade das mais importantes 
doenças infecciosas, em especial a tuberculose, levando 
ao aumentoda expectativa de vida: obrigaram à 
proposição de outros modelos, incrementando o modelo 
tradicional, diminuindo a importância dos agentes e 
aumentando a importância dos fatores ambientais e do 
hospedeiro, bem como a relação entre eles no processo 
saúde/doença (Medronho, 2008). 
 
Mesmo assim, essa evolução não interferiu na 
estrutura inicial concebida sob a hipótese do modelo 
simples da causa única e efeito único, o que motivou a 
Organização Mundial da Saúde, só em 1948, quando 
todos os países desenvolvidos já haviam consolidado 
seu processo de industrialização, divulgar sua definição. 
O conceito sustenta que a saúde é “um estado de 
completo bem-estar físico, mental e social” e ainda 
completa, “e não apenas a ausência de doenças”, 
mostrando a sua preocupação em relação à concepção 
primária, que prevalecia entre aqueles responsáveis 
pela administração dos serviços de saúde 
disponibilizados às populações. Observa-se ainda hoje 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 24 
essa racionalidade, não só entre alguns profissionais da 
área, mas também no senso comum, o que só 
prejudica a organização dos sistemas de saúde e a 
resolução de seus problemas. 
 
Esse conceito, apesar de muito divulgado, sofreu 
diversas críticas pelo seu idealismo exagerado e sua 
limitadíssima aplicabilidade. Interessa alertar quanto ao 
fato de que saúde não é apenas ausência de doenças, 
mas como alcançar um completo bem-estar físico 
mental e social diante da complexidade das relações e 
características de agentes, indivíduos e ambiente? 
Como sistemas ou serviços de saúde, partindo desse 
conceito, podem efetivamente promover a saúde que 
essa definição sustenta? Além disso, não é possível 
admitir a saúde como um estado, mas sim um processo 
que varia ao longo da vida, com ganhos e perdas que 
as relações biológicas, sociais, culturais, cognitivas, 
econômicas e ambientais promovem. 
 
Fica claro que, diante da multiplicidade de 
fatores e da complexidade entre diversas causas e 
efeitos, é não só mais simples como mais apropriado 
adotar uma definição ampla, abrangente e que se 
adapte à complexidade dos modelos epidemiológicos 
atualmente propostos. Um conceito que permita a 
quem administra serviços de saúde a adoção da 
epidemiologia como forma de direcionar 
estrategicamente as ações, bem como dimensionar as 
competências e responsabilidades de cada setor na 
resolução dos problemas que se apresentam, 
permitindo maior efetividade das estratégias 
desenvolvidas. 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 25 
O conceito de Campo de Saúde foi proposto, 
com esse propósito, em um documento, a “Carta de 
Ottawa”, em 1986, pelo então Ministro da Saúde do 
Canadá, e se tornou a base da política de saúde desse 
país. Essa definição propõe que a saúde é determinada 
por fatores agrupados em quatro campos: o da biologia 
humana; o do estilo de vida; o do ambiente e o da 
estrutura dos serviços de saúde. O campo da biologia 
humana contém tudo o que se refere à esse aspecto, a 
questão genética, a suscetibilidade, a fisiologia, 
aspectos que fogem do controle do indivíduo. No campo 
estilo de vida são considerados todos os aspectos que 
o indivíduo ou indivíduos adotam como hábito de vida, 
como por exemplo, o fumo, o consumo de álcool, o 
sedentarismo, a atividade física, dizem respeito à sua 
vontade. Da mesma forma, aspectos relacionados ao 
meio ambiente que tem implicação em questões de 
saúde são considerados no campo ambiente, aqui são 
considerados, inclusive, os diversos agentes do modelo 
epidemiológico tradicional. E por último, é importante 
ter em conta que, a estrutura dos serviços de saúde 
concebida em sua forma mais ampla, oferta, 
organização, processo de trabalho, relações humanas e 
profissionais, tem a sua parcela de contribuição na 
gênese, resolução dos problemas e manutenção da 
saúde (Dever, 1988). 
 
Dessa forma, qualquer problema que se 
apresente pode ser enquadrado em pelo menos um 
desses campos e, a partir daí, é possível dimensionar o 
peso que cada campo tem no desenvolvimento do 
problema que se apresenta, e qual a competência e 
responsabilidade que cada setor tem na sua solução. 
Isso é, grosso modo, gestão de saúde. 
 
A partir desse modelo de conceito, é possível 
observar que a causa de problemas de saúde muitas 
vezes é multisetorial e, consequentemente, as 
abordagens para sua resolução são intersetoriais. Não 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 26 
se pode exigir que profissionais de saúde assumam o 
peso e a responsabilidade de solucionar todos os 
problemas de saúde. Grande parte das soluções 
depende da mobilização de outros setores da 
sociedade. Como é argumentado no Relatório Lalonde 
(1974), não se podem diminuir as mortes no trânsito 
construindo mais e mais hospitais de trauma e 
contratando mais e mais médicos neurocirurgiões. É 
necessário também, e principalmente, que se eduquem 
os motoristas e pedestres, se mantenham as vias 
adequadas para o tráfego, veículos mais seguros sejam 
disponibilizados à população, e isso foge à competência 
dos profissionais e gestores de saúde. O grande desafio 
que se apresenta atualmente é disseminar esse 
conceito, não só na área da saúde, mas nos diversos 
setores da sociedade e desenvolver uma articulação 
intersetorial na resolução dos problemas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Relatório Lalonde (1974) 
 
O relatório Lalonde foi um relatório produzido em 
1974, no Canadá, sob o nome de A new perspective 
on the health of Canadians (Uma nova perspectiva 
da saúde de canadenses). É considerado o "primeiro 
relatório governamental moderno no mundo 
ocidental a reconhecer que a ênfase em assistência 
médica sob um ponto de vista biomédico é errado, e 
que é necessário olhar além do sistema tradicional 
de saúde (tratamento dos doentes) se o objetivo é 
melhorar a saúde do público." 
O nome do relatório provém de Marc Lalonde, que 
era o Ministro da Saúde do país à época. Lalonde 
propôs um novo conceito de saúde. Ele notou que a 
"visão tradicional da saúde é que a arte da medicina 
é a fonte onde o qual todas as melhorias na saúde 
surgiram, e que a crença popular iguala saúde com 
a qualidade da medicina." Lalonde propôs que a 
saúde poderia ser classificada em quatro elementos 
gerais: biologia, ambiente, estilo de vida, e 
organização da assistência sanitária; isto é, 
determinantes da saúde fora do sistema de 
assistência sanitária. 
O relatório enfatizou a responsabilidade de cada 
indivíduo em mudar seus comportamentos para 
melhorar sua saúde. Outra inovação do relatório é 
que "propôs que intervenções da saúde pública 
deveriam dar ênfase em segmentos da população de 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 27 
 
 
 
 
A Relevância e Usos de Epidemiologia 
 
Assim, após esmiuçar conceitualmente a 
epidemiologia, é possível perceber que o seu objetivo 
geral, se não o primordial, é o de reduzir os problemas 
de saúde na população. 
 
A Epidemiologia passou a ser abordada como 
disciplina científica em meados do século XX, embora 
seja utilizada desde os primórdios da Clínica Médica 
como instrumento de investigação etiológica das 
doenças transmissíveis. Através da epidemiologia, ficou 
comprovado, antes desse período, que muitas doenças 
tidas como infecciosas eram na verdade causadas por 
deficiências nutricionais. Nessa época, a epidemiologia 
se desenvolveu de forma marcante, e acabou por se 
tornar muito abrangente, a partir de então, a ponto de 
apresentar uma série de subdivisões, de acordo com a 
área de investigação e também de acordo com as 
prioridades que foram surgindo devido à evolução e a 
conformação dos problemas de saúde apresentados 
(Pereira, 2002). 
 
Muitas atribuições são dadas à epidemiologia, 
cada uma com suaforma de abordar aspectos 
peculiares. A Epidemiologia Experimental, quando o 
estudo epidemiológico observa o comportamento de 
populações submetidas à influência de determinados 
fatores; Epidemiologia Genética em que o objeto de 
estudo se foca na etiologia, ocorrência e controle de 
doenças de origem genética; Epidemiologia das 
doenças infecciosas e não infecciosas e muitas outras 
são alguns exemplos. No entanto, são formas 
particulares de abordagem da mesma ciência (Jekel, 
2002). 
maior risco." O relatório também foi fundamental na 
identificação de desigualdades sanitárias. Fonte: 
Relatório Lalonde, In.: http://pt.wikipedia.org/wiki 
/Relat%C3%B3rio_Lalonde 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 28 
A epidemiologia pode ser classificada como 
Clássica e Clínica. Segundo Jeckel, a epidemiologia 
clássica estuda os problemas de saúde a partir da 
comunidade no intuito de encontrar fatores de risco e 
estabelecer formas de controle na população como 
forma de prevenir ou retardar a morte, tal como a sua 
definição, digamos clássica, porém enfocando doença 
(2002). 
 
A epidemiologia clínica estuda os pacientes 
(doentes) em locais em que são submetidos a ações de 
saúde, buscando aprimorar diagnóstico, tratamento e 
prognóstico de doenças. Além de problemas 
metodológicos que podem aparecer nesses estudos, a 
limitação dessa classificação está relacionada à 
impossibilidade de diferenciar na essência uma da 
outra. Ambas estudam aspectos relacionados à saúde, 
sejam fatores de riscos ou doenças. As duas abordam 
populações, uma na comunidade, a outra em 
estabelecimentos de saúde, e finalmente, a intenção é 
a intervenção. Portanto, não há diferença conceitual 
entre as duas (Jekel, 2002). 
 
A epidemiologia clínica utiliza, ou mesmo 
investiga, aspectos da epidemiologia clássica (fatores 
de risco, mudança de hábitos do indivíduo doente); na 
epidemiologia clássica, ao estudar pessoas que estão 
doentes, o objeto de estudo, mesmo que doentes, é 
uma população e utiliza as conclusões para prevenir ou 
retardar a morte. Portanto, essa classificação separa a 
mesma Epidemiologia como ferramenta na intervenção 
sobre a saúde de populações em momentos distintos na 
história natural da doença (Pereira, 2002). 
 
Epidemiologia Descritiva e Analítica 
 
A classificação da Epidemiologia que divide essa 
ferramenta por conta da abordagem que se dá aos 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 29 
problemas de saúde, e que são claramente distintas do 
ponto de vista prático define a Epidemiologia como 
Descritiva e Analítica de acordo com sua característica 
investigativa. . 
 
A Epidemiologia Descritiva tem o objetivo de 
informar, apresentar a “simples” distribuição, 
ocorrência e progressão dos problemas, eventos em 
uma população, de tal forma que é possível estabelecer 
um balanço entre a carga de problemas de saúde e a 
qualidade da saúde dessa população. O conhecimento 
da distribuição dos eventos, ou a determinação do 
diagnóstico epidemiológico tem, pelo menos, dois 
grandes objetivos. O primeiro é estabelecer para quem, 
onde e quando deverão ser direcionadas as ações de 
intervenção e o segundo a proposição de hipóteses que 
determinem as causas dos problemas (Pereira, 2002). 
 
A Epidemiologia Analítica tem a função de 
identificação da etiologia dos eventos levantados, caso 
seja necessária, através de estudos epidemiológicos de 
investigação. Os estudos analíticos são diferentes dos 
estudos descritivos. É considerado a fase posterior à 
obtenção do conhecimento sobre os eventos. Ligados a 
questões formuladas anteriormente, as hipóteses de 
causa e efeito, ou seja, o estabelecimento da relação 
de fatores de exposição e a doença (Pereira, 2002). 
 
Diagnóstico epidemiológico 
 
Traçar o perfil epidemiológico, ou estabelecer o 
diagnóstico epidemiológico, significa tomar 
conhecimento da distribuição dos problemas de saúde 
da população (Fatores de risco, doenças e agravos). 
Esse objetivo consiste no levantamento das 
freqüências, o estudo da distribuição desses eventos na 
população, ou seja, identificando os segmentos mais 
afetados. Essa situação encontrada pode estar limitada 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 30 
a uma condição, que pode estar relacionada a um 
problema, um fator de risco, acesso ou cobertura de 
serviços, ou mesmo uma característica específica e de 
interesse da população estudada. Normalmente, 
quando se trata de uma população de grande porte, 
são detectados mais de um problema e ou fatores de 
risco. Desse diagnóstico faz parte a busca da 
magnitude desses principais problemas de saúde que 
incidem na população estudada (Medronho, 2008). 
 
É importante observar que, para se estabelecer 
um diagnóstico epidemiológico, dois aspectos são 
absolutamente fundamentais. O primeiro é a dimensão 
da população, que se preocupa com a 
representatividade do conjunto de indivíduos para se 
estudar e buscar a relevância do problema. Em 
segundo lugar, é necessária a determinação ou 
construção de indicadores que retratem 
adequadamente a situação. Os indicadores mais 
utilizados para esse propósito são os de morbidade e 
mortalidade, e serão abordados em capítulo específico 
desse curso (RIPSA, 2008). 
 
A organização dos dados relacionados à 
população estudada é um passo fundamental para a 
determinação do diagnóstico epidemiológico de uma 
dada população. A frequência de eventos, ou seja, sua 
incidência, ou casos novos, e a prevalência de todos os 
casos, bem como seus óbitos, devem ser distribuídos 
por subgrupos dessa população. Isso quer dizer que os 
eventos devem ser agrupados por local de ocorrência, 
por sexo, por faixas etárias, por exemplo, para serem 
comparados, na mesma população. Esse procedimento 
permite, também, que essa população seja comparável 
com outras populações, no estudo epidemiológico isso 
pode ser necessário. É importante lembrar que 
determinados problemas ocorrem mais ou menos em 
determinados grupos em locais determinados e em 
períodos determinados (Rouquayrol, 2003). 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 31 
O diagnóstico epidemiológico consiste no 
conhecimento de como os problemas se distribuem na 
população e qual a sua relevância, ou seja, qual a sua 
importância epidemiológica, e em relação aos outros 
problemas identificados. Pode-se dizer que deve ser o 
primeiro passo para a determinação da qualidade de 
saúde de uma população, ou seja, a identificação e 
distribuição dos problemas de saúde, doenças, agravos, 
situações e fatores de risco, e onde as estratégias e 
ações de intervenção devem ser aplicadas. Isso quer 
dizer, que esse é o panorama que deve ser apresentado 
para a tomada de decisão quanto à implantação e 
implementação de medidas de impacto, que para a 
Epidemiologia significa a mudança de uma situação 
atual para uma situação desejada (Pereira, 2002). 
 
Tabela 1 Coeficientes de incidência de 
tuberculose e AIDS, segundo região, Brasil, 2004. 
 
tuberculoseAIDS
Região Norte 47,559,48
Região Nordeste 48,678,62
Região Sudeste 45,2519,06
Região Sul 32,6218,8
Região Centro-Oeste 25,8214,55
Brasil 43,7815,05
Região
Taxa de incidência
 
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informações de 
Mortalidade (SIM) e IBGE 
 
A tabela 1 mostra os coeficientes de incidência 
de tuberculose e AIDS, por região, do Brasil, no ano de 
2004. De acordo com os dados apresentados na tabela, 
ao comparar os coeficientes das duas patologias, em 
qualquer das regiões, observa-se que, o risco de se 
contrair a tuberculose é maior na população em relação 
à AIDS, e chega a ser seis vezes maior na Região 
Nordeste. Dessa forma, esse indicador pode determinar 
que tipo de patologia deve ser priorizada em políticas 
de intervenção, inclusive, em qual população ou região. 
É claro que, nesseexemplo, a comparação é feita de 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 32 
forma a apresentar, didaticamente, a importância das 
informações epidemiológicas de problemas de saúde 
para determinar o perfil de morbidade e o 
direcionamento de prioridades. No que diz respeito a 
essas duas patologias, ambas são de grande relevância 
epidemiológica, alvos de política governamental de 
controle, não cabe priorizar uma em detrimento da 
outra. 
 
Investigação Etiológica 
 
A seguir, diante desse diagnóstico, a 
epidemiologia permite a investigação através de 
metodologia científica dos fatores que determinam essa 
distribuição. A epidemiologia, inclusive, se presta ao 
estudo e à proposição de possíveis intervenções que 
possam causar impacto sobre os problemas levantados, 
o que significa determinar a eficiência (conceito, que 
juntamente com eficácia e efetividade, será abordado 
em outra parte desse caderno) e a segurança das 
ações, para estratégias e programas de serviços de 
saúde (Pereira, 2002). 
 
Isso quer dizer que a distribuição, ou seja, o 
peso, a dinâmica de eventos na população é um 
reflexo, ou consequência de fatores anteriormente 
apresentados, por vezes desconhecidos, e que 
necessitam ser determinados, sem os quais as medidas 
de intervenção para a mudança da situação perdem seu 
efeito, sua efetividade. Grande parte dos problemas 
que se apresentam, tanto individualmente quanto 
coletivamente já tem a sua etiologia determinada, 
principalmente os de maior incidência, prevalência e 
mortalidade, e estão determinadas as múltiplas causas 
de cada um, ou fatores determinantes, o que falta é 
coordenação intersetorial, para que esses problemas 
tenham suas taxas, seus indicadores diminuídos. 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 33 
Porém, por vezes, o diagnóstico epidemiológico 
não é suficiente para o desencadeamento do processo 
de Planejamento e da tomada de decisão para as ações 
de intervenção. Alguns eventos podem incidir em uma 
população, em seus diferentes estratos, em diferentes 
lugares e épocas e o seu estudo pode exigir 
investigações mais elaboradas para se determinar sua 
etiologia, a partir da apresentação de hipóteses de 
causas (exposição, fator de risco, fator determinante) 
que possam levar ao efeito (doença), ou à ocorrência e 
à magnitude desses problemas de saúde (Pereira, 
2002). 
 
Um exemplo recente foi o aparecimento da gripe 
causada pelo vírus H1N1, inicialmente desconhecido, 
antes de promover uma pandemia de proporções sem 
precedentes, se apresentou através de uma série de 
sintomas que, bem no início de sua disseminação, não 
permitia a diferenciação da origem, bacteriana ou viral. 
Estudos epidemiológicos foram fundamentais para a 
determinação de sua origem nos chiqueiros da Cidade 
do México, antes mesmo de ser identificado. 
 
A investigação etiológica, através de estudos 
epidemiológicos de investigação lançados pela 
Epidemiologia Analítica, é a solução de desafios da área 
da saúde para a elucidação das causas da distribuição 
de determinados problemas na população estudada; de 
acordo com o exemplo, o diagnóstico epidemiológico, 
ou seja, a caracterização do problema como epidêmico, 
a distribuição dos casos, não foram suficientes para o 
prosseguimento e determinação de medidas de impacto 
sobre a incidência e letalidade da doença. Nesse caso 
são necessárias técnicas de planos de pesquisa e 
análise de informações, que fazem parte do arsenal da 
Epidemiologia, desenvolvidas e trazidas para a 
epidemiologia para responder às questões mais 
adequadamente quanto às causas da distribuição de 
problemas de saúde (Rouquayrol, 2003). 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 34 
A Relação Causa/Efeito 
 
A síntese estratégica da investigação etiológica 
em epidemiologia é a relação de causa e efeito que 
existe entre os eventos em saúde, aliás em qualquer 
área do conhecimento humano, na explicação dos 
fenômenos. Na área da saúde, embora a relação entre 
os fenômenos, ou eventos, se dê de forma 
extremamente complexa, como já foi comentado, e a 
abordagem multicausal seja mais apropriada no 
raciocínio epidemiológico, o enfoque da única causa 
pode ser, na prática, a solução, e muitas vezes o é. É 
como “empacotar” as múltiplas causas de um problema 
com uma única solução, que pode na conjuntura 
diminuí-lo, ou mesmo solucioná-lo, individual ou 
coletivamente. As doenças infecciosas passíveis de 
imunização são os maiores exemplos dessa abordagem. 
Essas medidas preventivas, as grandes campanhas e a 
organização dos serviços de atenção primária para a 
vacinação em massa, partem do enfoque dos agentes 
(a causa), os micro-organismos, que ao serrem 
eliminados do meio, pelas vacinas, eliminam as 
doenças (o efeito) (Dever, 1988). 
 
Porém, atualmente, apenas os menos 
esclarecidos não admitem a influência de múltiplos 
fatores na determinação das causas e também que uma 
única causa pode resultar em múltiplos eventos, como 
as doenças crônicas não infecciosas de maior 
relevância. A maioria delas não tem estabelecida, 
ainda, a sua etiologia básica, ou a sua etiopatogenia, 
porém, os diversos fatores que as determinam o são. 
Muitas dessas doenças estão associadas à obesidade, 
dieta, sedentarismo, estresse, o hábito de fumar, por 
exemplo. Em contrapartida, um desses fatores podem 
levar a uma associação de doenças. Ambas as 
situações podem ser combatidas e prevenidas, com 
estratégias que induzam a mudança de comportamento 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 35 
em vários aspectos, seja através de várias abordagens, 
seja individual, seja coletiva, na família, na 
comunidade, ou nos diversos setores da sociedade; a 
Diabetes Mellitus e suas principais complicações, as 
doenças cardiovasculares, são importantes exemplos, 
quer de uma, quer da outra situação. Por conclusão, 
nota-se que a intervenção sobre um único fator 
determinante da doença não garante o seu controle, 
ainda que diminua o número de casos. A maioria das 
doenças crônicas não infecciosas tem essa 
característica. 
 
Risco 
 
É fundamental, atualmente, o papel da 
epidemiologia nas investigações científicas em busca, 
sobretudo, da etiologia das principais doenças, sem 
causa conhecida, principalmente as crônicas não 
infecciosas. Além disso, as investigações etiológicas 
geram resultados que determinam os riscos a que um 
ou mais indivíduos estão sujeitos ou expostos. Isso 
significa dizer que essas informações vão estabelecer a 
dimensão da associação entre um fator, dito de 
exposição e o efeito ou doença que surge. A 
determinação desse risco é um parâmetro, o 
argumento técnico, que se tem para a tomada de 
medidas que eliminem ou melhorem esse risco, ou 
ainda como fonte de monitoramento de uma ou mais 
situações de saúde que se deseja manter, como 
estratégia de vigilância em saúde, como um check-up 
(Pereira, 2002). 
 
O risco nada mais é que a probabilidade de um 
evento ocorrer, e essa probabilidade pode ser diferente 
entre os indivíduos, dependendo de como, ou quanto 
(quantidade e combinação com outras exposições) se 
expõe. Porém de um modo geral, o risco pode 
expressar, de maneira aproximada, a probabilidade de 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 36 
uma população sofrer determinado dano. O risco é 
maior quando a exposição é maior, mas o risco pode 
existir mesmo sem exposição. Assim, podemos 
estabelecer três formas de risco, seus significados 
específicos, com seus métodos de cálculo (Medronho, 
2008). 
 
RISCO ABSOLUTO 
 
O risco absoluto é o resultado da compilação de 
casos novos (casos que acontecem, considerando um 
dado período) em uma população. Seu método de 
cálculo representa a taxa ou coeficiente de incidência 
(taxa dos casos novos) e representa, por exemplo, 
número de casosde câncer do pulmão no ano, divididos 
pelo número de fumantes dessa população ( 16/1.000), 
ou ainda, o mesmo número de casos pelo número de 
pessoas que não fumam (2/1.000); por fim, o número 
de casos de câncer do pulmão dividido pela população 
total, todos no mesmo período (18/2.000 o que 
representa 9 casos para cada 1.000 indivíduos da 
população total estudada. Essa taxa pode ser melhor 
representada por 9/1.000). Dessa maneira se obtém o 
risco de câncer nos que fumam (16), nos que não 
fumam (2) e na população geral (18), respectivamente. 
É a forma de estabelecer o risco de determinado evento 
na população de forma simples e segura (Pereira, 
2002). 
 
RISCO RELATIVO 
 
O risco relativo, mostra quanto o risco de 
ocorrência de um evento é maior em uma população 
em relação à outra, face a exposição de um fator 
determinante, ou associado. Pode ser, a comparação de 
uma população exposta ao fator e outra não exposta ao 
fator de risco. Costuma-se dizer que o risco relativo é a 
razão entre as duas incidências. Razão em 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 37 
epidemiologia não é uma simples divisão. Esse assunto 
será apresentado em um capítulo apropriado. Dessa 
forma, o risco relativo, no exemplo acima descrito, 
explica que, após aplicar a razão entre as duas 
incidências (16/2 = 8), o risco de indivíduos fumantes 
adquirirem câncer de pulmão é oito vezes maior do que 
aqueles que não fumam (Pereira, 2002). 
 
RISCO ATRIBUÍVEL 
 
O risco atribuível está relacionado a o quanto, 
efetivamente, da exposição pode ser atribuída como 
causa do evento que se apresenta, ou seja, a diferença 
entre as duas incidências resulta no número de casos 
atribuídos à exposição. 
 
No exemplo, a incidência de câncer de pulmão 
em expostos ao fumo (16 pessoas), subtraída pela 
incidência dos doentes que não se expuseram (2 
pessoas), resulta no risco atribuível de 14, que são 
realmente os casos da doença atribuídos à exposição ao 
fator de risco (Rouquayrol, 2003). 
 
É importante ressaltar que essas estratégias 
apresentadas permitiram e vêm permitindo, ainda hoje, 
por isso tudo, a obtenção dos vários parâmetros 
fisiológicos para diagnósticos, bem como estratégias e 
condutas de tratamento e regimes higienodietéticos 
aplicados na abordagem individual em saúde. Isso quer 
dizer que a utilidade da epidemiologia em desenvolver 
estudos populacionais permite que seus resultados 
sejam aplicados, não somente para a tomada de 
decisões em nível coletivo por gestores de saúde, mas 
também no acompanhamento da saúde em nível 
individual por profissionais de saúde que lidam 
diretamente com pacientes (Medronho, 2008). 
 
Os parâmetros citados correspondem às 
unidades de medida da epidemiologia, resultantes de 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 38 
seus estudos, amplamente utilizados e difundidos em 
qualquer setor da área da saúde. São os indicadores 
epidemiológicos de saúde, primordiais na determinação 
do diagnóstico do estado de saúde, no planejamento e 
na proposição de estratégias de intervenção, na 
tomada de decisão, na definição do prognóstico e na 
avaliação dos resultados das ações implantadas, bem 
como na definição das ações de implementação. 
 
Estudos Epidemiológicos Analíticos 
 
Considerados a segunda fase dos estudos 
epidemiológicos, os estudos analíticos, são diferentes 
dos estudos descritivos. A forma pela qual determinam 
as informações epidemiológicas a que se propõem 
estabelece a primeira diferença, experimental, portanto 
são denominados estudos experimentais, em oposição 
aos estudos de observação da Epidemiologia Descritiva, 
ditos observacionais. Outra diferença consiste na 
solução de uma ou mais hipóteses, que geralmente são 
formuladas pela epidemiologia descritiva, associando 
uma causa, a associação, ao efeito, ou evento 
identificado. Para isso, os estudos epidemiológicos 
analíticos utilizam metodologia científica, que consiste 
na utilização de grupo controle, para a comparação dos 
resultados obtidos a partir do grupo de estudo. A forma 
de como esses grupos são formados é como se 
diferenciam os tipos de estudos epidemiológicos 
analíticos (Pereira, 2002). 
 
Como esses estudos têm o objetivo de 
estabelecer a associação entre uma dada exposição, 
conhecida com suposta causa, a um efeito que ocorre, 
ou seja, a doença, é comum classificar a forma de 
investigação entre exposição e doença de acordo com o 
ponto de partida da observação do estudo. Isso quer 
dizer que, a direção de observação determina a 
modalidade de estudo (Rouquayrol, 2003). 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 39 
A possibilidade de iniciar o estudo, considerando 
a causa (exposição) para determinar o aparecimento do 
seu suposto efeito (doença), estabelece duas formas de 
estudo. O fato de a direção ser inversa, ou seja, o início 
do estudo parte da investigação do efeito (doença) até 
a sua suposta causa (exposição), permite a 
determinação de outra forma de estudo. Outra 
possibilidade de que ambas, exposição e doença, sejam 
observadas simultaneamente (Rouquayrol, 2002). 
 
Dessa forma, há três modos de se iniciar um 
estudo analítico, no entanto, são quatro os tipos de 
estudos sob esses critérios. Assim, é possível 
estabelecer uma subdivisão. São eles: Ensaio Clínico 
Randomizado, Estudo de Coorte, Estudo de Caso 
Controle e Estudo Transversal. 
 
Ensaio Clínico Randomizado 
 
Esse tipo de estudo parte inicialmente da 
observação de uma exposição (causa). Sua 
especificidade reside no fato de que os grupos, de 
estudo e de controle, são selecionados aleatoriamente, 
com o intuito de dar aos dois grupos a maior chance 
possível de serem semelhantes. Outra característica 
desse tipo de estudo é a intervenção. Sua finalidade é 
aplicar uma determinada intervenção sobre um dos 
grupos, o de estudo, para avaliar os seus resultados 
com o outro grupo isento de intervenção, o de controle. 
Esse tipo de estudo é muito comum no teste de 
medicamentos, em que, durante um período, os 
indivíduos dos dois grupos são submetidos à dois tipos 
de exposição, um com medicamento, o de estudo, e o 
outro com placebo, o de controle. No fim desse período 
de observação, são comparados os resultados dos dois 
grupos, no que se refere à ação do medicamento e sua 
capacidade de agir sobre determinada doença 
(Medronho, 2008). 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 40 
Supondo que um grupo de doentes de 
determinada doença aceite ser submetido a um 
tratamento experimental com um medicamento inédito; 
inicialmente, esse grupo é separado aleatoriamente em 
dois grupos, um deles receberá a medicação, no outro 
será administrado placebo. No final do período de 
estudo, os resultados do efeito da medicação serão 
comparados em função do número de indivíduos que 
permaneceram doentes nos dois grupos. 
 
ESTUDO DE COORTE 
 
Esse tipo de estudo, à semelhança do Ensaio 
Clínico Randomizado, se orienta a partir da causa 
(exposição) em direção ao seu efeito (doença), porém, 
no estudo de coorte, os grupos são formados de acordo 
com a exposição que se deseja estudar, duas coortes 
“opostas”, obesos e não obesos, sedentários e não 
sedentários, fumantes e não fumantes (Pereira, 2002). 
 
Supondo que se deseja estabelecer a associação 
entre sedentarismo e doença coronariana, dois grupos 
são formados a partir de um questionário aplicado em 
que se investiga o grau de atividade física de operários 
de uma fábrica. Um grupo de sedentários e outro de 
indivíduos que costumam se exercitar. No final de um 
longo período de observação, ao se comparar esses 
dois grupos, constata-se que aqueles que se exercitam 
têm um risco muito menor de contrair doença 
coronariana em relação ao grupo de indivíduos 
sedentários. 
 
ESTUDO DE CASO CONTROLE 
 
Nesse tipo de estudo, o pontode partida da 
observação se refere ao efeito (doença) e não à causa 
(exposição). Assim, o estudo de caso controle, exige a 
criação dos grupos de estudo e controle a partir de 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 41 
doentes, após o efeito ocorrer. Como exemplo, pode 
ser citado o estudo da associação do hábito de fumar 
com a ocorrência de câncer de pulmão, a partir do 
levantamento desses casos que são comparados com 
um grupo escolhido, como controle, de indivíduos com 
características semelhantes, porém sem a doença. 
Então, são compiladas todas as informações relevantes, 
incluindo a do hábito de fumar. Os resultados mostram 
que há uma associação entre o consumo de tabaco e a 
ocorrência de câncer de pulmão, ou seja, o hábito de 
fumar é muito mais frequente entre os doentes, grupo 
de estudo, do que entre os não doentes, grupo de 
controle (Pereira, 2002). 
 
ESTUDO TRANSVERSAL 
 
Nesse formato de estudo, exposição (causa) e 
doença (efeito) são observadas de maneira simultânea, 
daí o nome do estudo, em oposição às outras 
modalidades de estudo, em que a lógica de observação 
é longitudinal, qualquer que seja sua direção. Por isso, 
os estudos podem ser classificados, de maneira 
simples, de longitudinais e transversais. No caso, o 
estudo transversal é um corte (análise) de determinada 
situação que permite a identificação de expostos 
(doentes) e não expostos (não doentes) (Pereira, 
2002). Em um grupo de 1.000 portadores de 
hipertensão arterial, foi observado que 700 deles são 
da raça negra. Nesse caso, por hipótese, há uma 
associação entre a doença e a raça. 
 
É importante observar que, nos tipos de 
investigação apresentados, a unidade de observação é 
o indivíduo e a relação entre os dois grupos, de estudo 
e de controle; a associação é expressa em Risco 
Relativo, ou seja, a razão entre as incidências. Estudos 
de análise podem considerar um grupo de indivíduos 
como unidade de observação, e se assim for são 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 42 
denominados de Estudos Ecológicos. Os Estudos 
ecológicos, inicialmente, se utilizavam de populações 
delimitadas por áreas geográficas, generalizaram-se 
posteriormente, utilizando grupos como a unidade de 
análise, os resultados apresentam-se de forma 
agregada, por exemplo, o percentual de indivíduos com 
vida sedentária de uma população. 
 
Conclusão 
 
A epidemiologia observa, a partir de populações, 
como se desenvolve o processo de saúde. Diante do 
que foi exposto, a respeito de suas bases conceituais, 
relevância por seus usos e atribuições, a epidemiologia 
possui três grandes objetivos, formando o tripé de suas 
ações. O primeiro objetivo consiste no estudo da 
ocorrência, distribuição e progressão dos eventos que 
interferem na saúde das populações, descrevendo o seu 
nível, como base para o planejamento de ações, na 
correção ou manutenção desse nível, avaliação e 
incorporação de estratégias de promoção de saúde e 
administração dos serviços oferecidos à população. O 
segundo objetivo primordial é fornecer informação 
oportuna, de qualidade, que permita a compreensão da 
etiologia de fatores causais. O terceiro objetivo diz 
respeito à promoção da utilização e divulgação dos 
conceitos epidemiológicos para aqueles que 
administram os serviços e sistemas de saúde. 
 
A tomada de decisões em saúde, seja do 
profissional que lida diretamente com o indivíduo, na 
ponta do sistema de saúde, seja o seu gestor, deve se 
basear, sempre em informações resultantes da 
utilização adequada da epidemiologia; a organização do 
raciocínio clínico, na abordagem individual; a 
organização dos serviços, no planejamento de 
estratégias e programas de saúde. 
 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 43 
 
EXERCÍCIO 1 
 
O papel da epidemiologia nas investigações científicas é 
a busca da etiologia dos principais problemas de saúde. 
Além disso, as investigações etiológicas geram 
resultados que determinam os riscos a que um ou mais 
indivíduos estão expostos. Assim, sobre o risco, pode–
se afirmar: 
 
( A ) O risco em epidemiologia não é a probabilidade de 
um evento ocorrer; 
( B ) Que estabelece a dimensão da associação entre 
um fator de exposição e o efeito ou doença que 
surge; 
( C ) O Risco Relativo representa a taxa ou coeficiente 
de incidência (taxa dos casos novos); 
( D ) O risco é maior quando a exposição é maior, e 
não é admissível existir sem exposição. 
 
 
EXERCÍCIO 2 
 
O ensaio clínico randomizado se diferencia dos outros 
delineamentos de estudo porque: 
 
( A ) Parte da causa (exposição), enquanto os outros 
partem do efeito (doença); 
( B ) Trata-se de um estudo de coorte; 
( C ) Os grupos de estudo e de controle devem ser 
sempre determinados de forma aleatória; 
( D ) Da mesma forma que o estudo de coorte, ele é 
um tipo de estudo de caso controle devido ao seu 
aspecto longitudinal de raciocínio. 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 44 
 
EXERCÍCIO 3 
 
A partir da sua leitura e do que apreendeu a respeito da 
epidemiologia dê a ela uma definição. 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
EXERCÍCIO 4 
 
Descreva Epidemiologia Descritiva e Analítica com suas 
principais diferenças. 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
 
RESUMO 
 
Vimos até agora: 
 
 A Epidemiologia passou a ser abordada como 
disciplina científica em meados do século XX, 
embora utilizada desde os primórdios da 
Clínica Médica como instrumento de 
investigação etiológica. Seu destino foi se 
tornar muito abrangente, a ponto de 
apresentar uma série de subdivisões, de 
acordo com a área de investigação e também 
de acordo com as prioridades que foram 
surgindo devido à evolução e a conformação 
dos problemas de saúde; 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 45 
 Como disciplina que se presta ao estudo do 
processo saúde/doença e considera as suas 
complexas relações e os múltiplos fatores que 
determinam uma e outra, a definição mais 
apropriada, a qual se aproxima de sua real 
dimensão e importância, é o “Ramo das 
ciências médicas empregado no estudo e 
intervenção dos aspectos relacionados à 
saúde no âmbito de populações”; 
considerando saúde sob o conceito de campos 
de saúde e população concebida como parte 
integrante de um território; 
 
 Assim, a epidemiologia pode ser entendida 
como a ciência que estuda todos os diversos 
aspectos que determinam ou não a saúde, 
podendo ser aplicada, até como ferramenta, 
em qualquer que seja o nível de abordagem 
dentro das ciências da saúde, principalmente 
na gestão, ao direcionar às populações o seu 
objeto de estudo. Dessa forma, o seu 
principal objetivo é reduzir os problemas de 
saúde na população; 
 
 Para isso, a Epidemiologia Descritiva e a 
Epidemiologia Analítica, como subdivisões 
estratégicas da disciplina, se prestam: A 
primeira com o objetivo de apresentar a 
distribuição dos eventos em uma população 
(o diagnóstico epidemiológico), identificando 
os segmentos mais afetados e qual a sua 
relevância. A Epidemiologia Descritiva 
primeiramente, ao estabelecer o diagnóstico 
situacional, determina para quem, onde e 
quando deverão ser direcionadas as ações de 
intervenção. Posteriormente, formula 
possíveis hipóteses causais dos eventos 
identificados, além de propor soluções 
seguras de intervenção sobre a situação 
Aula 1 | Epidemiologia: seu campo de estudo e trabalho 46 
diagnosticada. A Epidemiologia Analíticatem 
a função de identificar a etiologia dos eventos 
levantados, caso haja necessidade, através 
de estudos epidemiológicos de investigação, 
porque, às vezes, o diagnóstico 
epidemiológico não é suficiente para o 
desencadeamento do processo de 
Planejamento e da tomada de decisão para 
ações de intervenção. A síntese estratégica 
da Investigação etiológica em epidemiologia é 
a relação de causa e efeito que existe entre 
os eventos em saúde. Isso significa 
determinar a associação entre um fator, dito 
de exposição, e o efeito ou doença que surge. 
A determinação desse risco é um parâmetro, 
o argumento técnico, que se tem para 
tomada de medidas que eliminem ou 
melhorem esse risco, ou ainda como fonte de 
monitoramento de uma ou mais situações de 
saúde que se deseja manter; 
 
 A tomada de decisões em saúde deve sempre 
se basear em informações resultantes da 
utilização adequada da epidemiologia, tanto 
na organização do raciocínio clínico, na 
abordagem individual, quanto na organização 
dos serviços, no planejamento de estratégias 
e programas e na sua gestão em saúde. 
 
 
 
 
 
Bases 
Epidemiológicas para 
Atuação na Área de 
Saúde 
 
Jorge Pinho 
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A epidemiologia se presta ao estudo das condições de saúde das 
populações, a partir do seu conceito já se conclui isso. Sua 
relevância foi apontada na aula anterior na determinação dos 
aspectos relacionados aos problemas de saúde e muito de sua 
atribuição. A análise adequada da saúde de populações passa 
necessariamente pelo conhecimento básico do conceito de saúde e 
sobre o processo de doença e suas causas. O conceito de saúde 
foi apresentado, no capítulo anterior, e a partir de agora será 
abordado o processo de adoecimento, na representação do 
modelo da história natural da doença, os tipos de intervenções em 
suas diferentes fases, além de modelos de representação de 
fatores de riscos. 
 
 
 
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Apresentar conhecimentos básicos a respeito do processo 
saúde/doença, suas interfaces; 
 Apresentar os componentes desse binômio e como se 
relacionam ao longo da vida dos indivíduos, sob interferência 
dos diversos fatores que dinamizam essa relação; 
 Apresentar as concepções sobre história Natural das doenças e 
as estratégias de intervenção sobre cada uma de suas fases. 
 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 48 
Introdução 
 
Tendo em mente o conceito de saúde sob o 
enfoque de campos de saúde, a biologia humana, o 
estilo de vida, o meio ambiente e a estrutura do 
sistema de saúde, observa-se que essa concepção 
permite planejar de forma pragmática e determinar a 
situação de saúde de uma população, em função dos 
problemas que se apresentam, bem como estabelecer 
prioridades e abordagens apropriadas sobre eles, como 
exige a prática epidemiológica. 
 
Dessa forma, a saúde não é determinada, de 
forma simplista, pela ausência de doenças, tampouco a 
ausência de doenças não é garantia de saúde. Observa-
se, entre esses dois aspectos da vida humana, uma 
interface que, ao longo do processo fisiológico, 
estabelece gradientes que, dependendo da intensidade, 
aproxima o indivíduo de um deles, afastando-o do 
outro. Isso quer dizer que, entre a saúde e a doença, 
há uma série de fatores que vão determinar a maior ou 
menor quantidade de saúde e risco, e a existência ou 
não da doença, que vão pender como pratos de uma 
balança. 
 
A saúde tem uma carga, pode-se dizer, máxima 
ao nascimento e vai, naturalmente se dissipando, além 
dos ganhos e perdas, dependentes, ao longo desse 
processo, das respostas adaptativas às interferências 
de fatores de risco mais ou menos presentes até a 
morte; a doença se apresenta em algum momento 
dependendo dessa resposta adaptativa. 
 
A razão de observar saúde e doença como um 
processo, além da complexidade de fatores que 
interferem nessa relação, a ponto de aproximá-las em 
um binômio saúde/doença, é de capital importância, 
pois faz com que se entenda sob quais aspectos se 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 49 
deve intervir para a melhoria da qualidade de saúde do 
indivíduo, das populações e que setores mobilizar ou 
responsabilizar. Busca, ainda, sob um enfoque mais 
realista, a qualidade de vida, independente, do estado 
de saúde, com ações direcionadas de forma mais 
racional e efetiva. 
 
A aplicação sobre os quatro componentes do 
conceito de campos de saúde e das etapas da vida na 
concepção da história natural das doenças permite uma 
abordagem de promoção da saúde, prevenção de 
riscos, doenças e complicações, bem como a 
reabilitação. 
 
Determinação de agravos em saúde 
 
A história natural da doença não se refere ao 
aparecimento de doenças, em algum momento, a partir 
do nascimento até a morte. Essa abordagem considera 
que saúde e doença são faces de um mesmo processo 
em que ocorre um número incontável de situações, as 
quais exigem do organismo respostas compensatórias 
que o favorecem ou não. Caso as respostas 
adaptativas, a resistência biológica, a mudança de 
hábitos, o acesso a serviços de saúde, ou a 
transformação favorável do meio ambiente, não 
consigam suportar o equilíbrio do processo, a doença 
fatalmente se instala. Quantos anos são necessários de 
exposição ao fumo para um indivíduo contrair o câncer 
de pulmão? Dependerá, além da quantidade de 
exposição, da sua resistência biológica, sua 
predisposição genética, outros determinantes 
ambientais, a influência da sociedade e do sistema de 
saúde para a diminuição ou eliminação da exposição 
direta (Rouquayrol, 2003). 
 
Trabalhos comprovam que grandes exposições a 
fatores de risco, e prolongadas, levam ao 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 50 
desencadeamento de doenças; porém, se o indivíduo 
vai ou não desenvolver um evento ou agravo que 
comprometa seu estado de saúde, em algum momento 
de sua vida, vai depender, além disso, dos fatores 
relacionados aos outros campos de saúde. As pessoas, 
de um modo geral, são vítimas de doenças e agravos 
porque não conhecem o bastante sobre as suas causas. 
A Sociedade atual é capaz de intervir sobre a maioria 
dos fatores desencadeantes de doenças, qualquer que 
seja a fase da vida em que se instalam, porém isso não 
ocorre devido a falta de articulação entre os seus 
setores, para a ação integrada em todos os campos da 
saúde nos quais estão inseridos esses fatores (Dever, 
1988). 
 
Seriam necessárias estratégias de promoção e 
proteção à saúde e prevenção de riscos e doenças, 
além de ações assistenciais voltadas à cura, prevenção 
de complicações e reabilitação de doenças instaladas, e 
obviamente direcionadas à populações de risco. Essas 
estratégias têm a oportunidade de serem executadas 
em fases específicas da trajetória natural da doença, 
mesmo em populações. A determinação do calendário 
de vacinação é um exemplo de articulação entre o 
comportamento das doenças passíveis de imunização; a 
estrutura do sistema de saúde, cuja organização 
permite altas taxas de cobertura, e as condições 
imunológicas, que são estudas para se concluir a 
melhor época da vida para a imunização. 
 
FASES DE DOENÇA 
 
Da mesma maneira que não ocorrem de forma 
uniforme, as doenças não se distribuem uniformemente 
na população. O seu curso no organismo tampouco é 
uniforme, porque dependem dos fatores relacionados 
anteriormente. Porém as doenças apresentam um 
padrão de progressão mais ou menos estabelecido e, 
por conseguinte pode ser classificado. 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 51 
A fase aguda da doença pode apresentar uma 
evolução clínica fulminante, levando à morte 
rapidamente, como a meningite meningocócica, porexemplo; ou então sintomas clínicos de rápida 
resolução, com manifestação clínica autolimitada, 
muitas doenças infecciosas virais e bacterianas, como 
os resfriados e a amidalite infecciosa, são exemplo 
desse tipo de evolução. 
 
Outra fase que se observa diz respeito àquela 
que ocorre, porém sem apresentar quadro clínico, só 
descoberta através de exames laboratoriais casuais. As 
hepatites virais são um exemplo desse padrão de 
evolução. Tais doenças podem tanto alcançar sua 
remissão quanto se estabelecerem de forma crônica, 
definitiva ou não. 
 
Por fim, a fase crônica pode se apresentar 
através de manifestação clínica progressiva. A 
hipertensão arterial é um bom exemplo ou, então, por 
períodos de remissão e exacerbação, a sífilis, ao se 
manifestar, além de sua fase primária, se enquadra 
nesse perfil, em sua fase secundária (Pereira, 2002). 
 
A HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 
 
A história natural da doença diz respeito à 
identificação das características gerais do curso de uma 
doença e sua evolução, e pode estar relacionada a 
estímulos que surgem no ambiente ou no organismo 
humano mesmo antes de se manifestarem, para que 
medidas tanto preventivas quanto curativas e 
reabilitadoras, dependendo da fase que ocorrem, sejam 
empregadas. Isso quer dizer que as doenças possuem 
uma fase anterior ao seu aparecimento ou à sua 
manifestação clínica, ao contrário, representam a 
exteriorização de um processo que teve início 
anteriormente. Entendida dessa forma, a história 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 52 
natural da doença representa a dinâmica a que se 
refere o processo saúde/doença (Roquayrol, 2003). 
 
O processo saúde/doença pode ser estudado a 
partir de estratos feitos e classificados de acordo com a 
fase do processo de adoecimento, ou seja, a história 
natural da doença. É importante observar que a divisão 
do processo saúde/doença nas fases que serão 
apresentadas representa uma forma transversal e 
esquemática do que se sabe ser algo dinâmico com o 
tempo, longitudinal com influências que aproximam o 
indivíduo, como discutido anteriormente, ora da 
doença, ora da saúde de forma igualmente transversal, 
enquanto progride a vida. 
 
Período pré-patogênico e período 
patogênico 
 
Esse processo pode primeiramente ser dividido 
em dois períodos bem definidos. O período subclínico, 
fase em que não há manifestação clínica, antes do 
adoecimento, chamado de período pré-patogênico, e o 
período em que as manifestações clínicas ocorrem, a 
manifestação da doença, é chamado de período 
patogênico. 
 
O período pré-patogênico corresponde à fase 
inicial da doença, também conhecida como a fase de 
suscetibilidade, não há a apresentação de sintomas 
clínicos evidentes, porém existem condições para a sua 
instalação. É importante considerar que, a 
generalização desse conceito tem como objetivo o 
diagnóstico epidemiológico. Isso significa que conceber 
esse modelo sob bases populacionais serve como 
referência para algumas estratégias de proteção a 
grupos suscetíveis definidos, como gestantes, crianças 
menores de um ano, por exemplo. Como já foi 
discutido, a própria epidemiologia demonstra que os 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 53 
indivíduos nascem com gradientes de saúde variáveis e 
vivem de forma diferente, sofrendo influência de 
fatores protetores e de risco de forma desigual, que 
dificultam ou favorecem o aparecimento das doenças 
(Pereira, 2002). 
 
FASE PATOLÓGICA PRÉ-CLÍNICA 
 
A fase patológica pré-clínica encontra-se dentro 
do período patogênico e corresponde a uma fase em 
que ocorrem alterações fisiopatológicas, mas não são 
suficientes para desencadear manifestações clínicas. 
Pode seguir um curso em direção à cura ou progredir. 
Muitos problemas de saúde podem ser detectados 
nessa fase; em tese, a identificação de uma patologia 
nesse período permite uma maior probabilidade de 
sucesso de intervenção. Essa fase justifica as 
intervenções de rastreamento ou screening em grupos 
sob risco de determinadas doenças, ou seja, a 
realização de exames para a procura de casos em fase 
muito precoce e oportuna para o tratamento em 
indivíduos com maior probabilidade de contrair 
doenças. A proposta desse tipo de estratégia parte do 
conhecimento da associação entre os fatores biológicos 
e fatores ambientais, que podem resultar determinados 
processos patológicos. Essa associação, entre outras, é 
objeto de estudo e elucidação da investigação 
epidemiológica (Dever, 1988). 
 
FASE CLÍNICA 
 
A fase clínica, como se refere o nome, diz 
respeito ao período que sucede a fase patológica pré-
clínica, em que se evidenciam os sinais clínicos, 
corresponde à doença propriamente dita. É importante 
observar que tal manifestação varia de acordo com a 
gravidade, podendo ser aguda ou crônica, e o limite 
entre a ausência de sintomas e a manifestação clínica, 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 54 
denominado de limiar clínico, possui uma variabilidade 
segundo o tipo de doença, as características dos 
indivíduos, o acesso a procedimentos sensíveis à 
percepção. Nessa fase, a intervenção pode ser curativa 
ou pode se restringir a medidas de prevenção de outras 
ocorrências ou mesmo de complicações. 
 
FASE RESIDUAL 
 
A fase residual da doença é a última do período 
patogênico, corresponde à convalescença, caso a 
doença não tenha progredido para a cura total ou para 
a morte, e significa uma estabilização das alterações 
anatômicas e fisiológicas, quer por capacidade do 
organismo em se adaptar, quer devido ao emprego da 
técnica terapêutica ou mesmo ambos. Nesse período se 
apresentam as sequelas, e nele são aplicadas as 
medidas reabilitadoras que têm a finalidade de 
desenvolver as potencialidades residuais para 
proporcionar ao indivíduo qualidade de vida (Pereira, 
2002). 
 
A utilidade do modelo 
 
A utilidade desse modelo de processo 
saúde/doença proposto por Leavell e Clark é importante 
para o seu entendimento; para distribuir os indivíduos 
em categorias, de acordo com os riscos à saúde a que 
são submetidos; além de definir o tipo de estratégia a 
ser empregada, preventiva, curativa ou reabilitadora. 
Tal raciocínio pode ser aplicado tanto no nível 
individual, na busca do diagnóstico e prognóstico em 
função da história de vida do indivíduo em função da 
sua exposição a fatores de risco, condições clínicas e 
faixa etária, quanto coletivo, ao utilizar esse esquema 
como ferramenta no auxílio do estabelecimento do 
diagnóstico epidemiológico, ou seja, o grau de saúde de 
uma população, ao distribuir seus componentes nas 
fases apresentadas. 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 55 
Fase 
patológica pré-
clínica
Fase residual
morte
invalidez 
seqüelas 
cronicidade 
cura
limiar
alterações 
precoces
clínico
PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO PERÍODO PATOGÊNICO
Anterior ao adoecimento Curso da doença no organismo
Fase de suscetibilidade Fase clínica
convalecença
doença 
precoce 
discernível
doença 
avançada
 
Figura 1 Esquema da história natural da Doença de Leavell e Clark 
 
Níveis de Prevenção de Riscos, Doenças e 
Agravos 
 
A divisão da história natural da doença em fases 
tem como uma das finalidades estabelecer a estratégia 
de intervenção mais adequada, a partir da identificação 
do indivíduo ou da distribuição de grupos de indivíduos 
nos segmentos correspondentes. Além disso, a doença 
é um fenômeno dinâmico e sua abordagem deve 
considerar essa dinâmica que, como foi visto 
anteriormente, estabelece características diferentes 
dependendo do seu estágio, e por consequência exige 
estratégias diferentes de investigação e intervenção. 
Sem contar que as relações do indivíduo com o meio, 
qualquer que seja o tipo de doença, ou a forma de 
exposição, vai determinar aintensidade com que os 
eventos se manifestam, o tipo de manifestação, quando 
e quanto tempo vai corresponder a cada fase dentro da 
linha da história natural da doença (Dever, 1988). 
 
Feita a identificação do estágio onde se encontra 
o indivíduo ou a população, faz-se necessário 
determinar o tipo de intervenção que deverá ser 
empregado. O tipo de intervenção corresponde à fase 
em que se encontra o problema identificado (risco ou 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 56 
doença). Essas intervenções costumam ser 
denominadas de níveis de prevenção. Isso significa que 
dizem respeito, não somente a medidas de prevenção 
de doenças, ou seja, implantadas com o intuito de 
preveni-las, mas também medidas que previnem a 
evolução das patologias instaladas, suas complicações e 
sequelas. O que será prevenido estará no estágio de 
doença ou saúde em um indivíduo ou grupo de pessoas 
recebendo esse cuidado. Considerando essa 
concepção, todas as atividades de profissionais de 
saúde estão inseridas em algum nível de prevenção. 
Assim, existem três níveis de prevenção, a Prevenção 
Primária, a Secundária e a Terciária. 
 
PREVENÇÃO PRIMÁRIA E PRÉ-DOENÇA 
 
Correspondem às medidas aplicadas em fase 
anterior à manifestação da doença. O objetivo dessas 
medidas é atenuar ou mesmo eliminar as influências 
dos fatores de risco, no sentido de evitar a ocorrência 
da patologia. As medidas propostas para a mudança do 
estilo de vida estão entre os exemplos mais 
importantes desse nível de prevenção como a prática 
de atividade física e o abandono ao fumo. 
 
A Promoção da Saúde diz respeito à aplicação de 
atividades que evitam uma série simultânea de 
doenças, ou seja, mais de uma. Correspondem a 
medidas que visam mudanças do estilo de vida, 
alterações dietéticas e transformações ambientais. O 
papel do profissional de saúde aqui é limitado, com 
exceção do nutricionista, que faz da reorientação 
dietética a sua principal função, porém a reeducação ou 
educação nutricional adequada da população exige uma 
mobilização maior, não só do especialista da nutrição, 
mas também do setor de vigilância sanitária, da 
educação, de produção, abastecimento, distribuição e 
comércio de alimentos integrados e organizados para 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 57 
dar acesso à população toda, uma alimentação 
adequada. As mudanças do estilo de vida se restringem 
ao aconselhamento e às transformações ambientais 
sanitárias mais complexas, pelo menos do setor da 
Engenharia Sanitária. 
 
As medidas de promoção da saúde exigem 
muitas vezes mobilização de outros setores da 
sociedade. Essa mobilização é fundamental para tornar 
possíveis as mudanças necessárias. Geralmente a cargo 
do Estado, essas medidas necessitam cobertura 
abrangente, bem como execução de obras na área de 
construção civil e paisagismo. Essas mudanças dizem 
respeito, também, a aspectos culturais, cognitivos, 
além de estruturais ambientais. Tais medidas 
correspondem não só à educação, informação e 
sensibilização, mas também dar acesso à população 
ambientes saudáveis e seguros. 
 
Mudanças de Promoção da Saúde podem não ser 
suficientes ou então mal empregadas. Dessa forma, as 
medidas que anteriormente tinham a característica 
abrangente, passam a ter a função, ainda dentro da 
estratégia de prevenção primária, direta sobre um 
aspecto, evento ou doença. Essa forma de prevenção é 
conhecida como proteção específica. As vacinações são 
um exemplo tradicional. O uso obrigatório do capacete 
por motociclistas e caronas é um exemplo de proteção 
específica de Promoção da Saúde aplicada pela 
sociedade organizada, através do setor legislativo, cujo 
apelo veio da epidemiologia, ao apresentar alta 
mortalidade dessa população em acidentes, devido à 
falta dessa proteção e da área assistencial da saúde, 
com demandas crescentes de indivíduos com 
traumatismo crânio-encefálico dando entrada nos 
serviços (Pereira, 2002). 
 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 58 
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA E DOENÇA LATENTE 
 
Essas medidas são aplicadas em indivíduos 
distribuídos no período patogênico, ou seja, com 
doença instalada e detectada de alguma forma, ainda 
que os sintomas estejam ausentes, a chamada fase 
subclínica. Os exames de rastreamento podem ser 
citados como estratégias de prevenção secundária, 
pois, ao serem utilizados sistematicamente e em 
massa, permitem o diagnóstico “precoce” em pessoas 
consideradas como grupo de risco. Tem o objetivo de 
estabelecer o diagnóstico em fase que o tratamento é 
oportuno para a prevenção da evolução do evento e 
suas sequelas. Por isso é denominada prevenção 
secundária, por se tratar de medida preventiva, que 
ataca a doença estabelecida, de alguma forma 
detectada, ainda que sem sintomas, em grupos de 
risco. 
 
PREVENÇÃO TERCIÁRIA 
 
Uma vez estabelecida, a doença necessita de 
intervenção. Por óbvio que possa parecer, nessa fase, 
como nas outras, a patologia necessita ser identificada. 
O sistema de saúde, através de sua sensibilidade, pode 
captar esses casos, a forma ideal, ou absorvê-los, 
quando se apresentam à porta dos serviços. Nessa 
fase, a abordagem, positivamente, se refere à 
prevenção terciária. O seu objetivo principal é intervir 
sobre a evolução do problema instalado, limitando a 
incapacidade e as sequelas, nos que apresentam 
manifestações precoces, ou promovendo a reabilitação 
nas pessoas com sintomas tardios da doença. Limitar a 
incapacidade e seqüelas como prevenção significa 
intervir sobre a doença atenuando o seu dano. Por sua 
vez, reabilitação, como forma de prevenção, quer dizer 
diminuir os efeitos da doença, prevenir incapacidades, 
tanto funcionais quanto sociais, que interferem na vida 
de relação dos indivíduos. 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 59 
Os modelos e classificações apresentados 
mostram limitações; esse tipo de abordagem corre 
sempre esse risco, apesar de organizar de forma 
didática o que se pretende estudar. É característica da 
ciência se utilizar desse recurso. Nesse caso, um dos 
problemas desse modelo é utilizar como base 
problemas da biologia humana e seus aspectos da 
doença, ainda que aborde fatores do estilo de vida, de 
risco à saúde, deixa de lado a influência de condições 
sociais e estruturais da sociedade que vão determinar 
outros riscos, aqueles relacionados ao meio ambiente. 
Outro problema se refere à questão prática no que diz 
respeito à aplicação das medidas preventivas, muitas 
vezes o limite entre as fases é de difícil caracterização, 
exatamente as mesmas, em relação ao diferencial, 
entre saúde e doença, ou melhor, não doença de 
doença (Medronho, 2008). 
 
Outra classificação de prevenção utilizada é 
aquela que considera prevenção como atuação sobre as 
situações em que a doença não está presente ou não é 
detectada ou não percebida, definida em função da 
população ou do grupo de indivíduos que necessitam de 
intervenção. 
 
Assim, existem três formas de prevenção, as 
medidas universais, aplicadas ou recomendadas à 
população em geral, como o exercício físico e dieta 
pobre em gorduras ou rica em fibras. As medidas 
seletivas fazem parte da outra forma de prevenção, e 
são aquelas voltadas a grupos de população, mais 
“frágeis”, por isso, em exposição a um risco. Esses 
grupos podem estar relacionados à faixa etária, 
situações específicas, ou mesmo ao sexo. Como 
exemplo desse tipo de prevenção, pode ser citada a 
vacinação em crianças menores de cinco anos. 
Finalmente, as medidas individuais, específicas, 
conforme a necessidade de um caso que se apresenta, 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 60 
aplicada ao indivíduo exposto a um risco que pode levá-
lo ao adoecimento. Um exemplo marcante é o da 
quimioprofilaxia de tuberculoseou mesmo da 
leptospirose. 
 
Formas de Representação de Fatores 
Etiológicos 
 
Outros modelos podem servir de exemplo para 
se tentar estabelecer associação entre problemas de 
saúde e seus determinantes, e dessa forma direcionar 
estratégias e ações de intervenção. Pereira propõe 
alguns exemplos, os mais frequentes, estudados em 
epidemiologia. A partir daqui serão abordados de forma 
sucinta alguns deles. 
 
CADEIA DE EVENTOS 
 
Essa abordagem simples se baseia na 
identificação dos eventos mais importantes dentro do 
processo (cadeia), ou seja, os eventos entre a não 
doença e seu marco inicial, até a doença manifesta. 
Nesse tipo de esquema, o enfoque parte do agente 
etiológico em suas diversas representações, seja 
biológico, vírus ou bactéria, seja não biológico, físico, 
químico, genético, psíquico ou psicossocial, e sua 
influência e dinâmica na cadeia de eventos do 
adoecimento. Muito utilizada, importante por 
representar a etiopatogenia das doenças 
transmissíveis. 
 
 
 
Figura 2 Cadeia de Eventos, Modelo Linear 
 
Assim, pode-se observar que a característica do 
agente e sua capacidade de desencadear alterações no 
organismo (virulência, no caso dos agentes biológicos) 
é um fator a considerar nesse tipo de representação. 
Agente Hospedeiro 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 61 
Outro aspecto relevante diz respeito à intensidade de 
exposição (infectividade), pois o modelo considera o 
indivíduo suscetível. É bastante útil ao permitir o 
conhecimento das relações entre o agente e o 
hospedeiro (indivíduo), além de apresentar a 
oportunidade de interrupção dessa cadeia de eventos 
como forma de intervenção. 
 
Esse tipo de raciocínio foi muito utilizado, 
aplicado largamente nos livros da área médica, 
principalmente na descrição das cadeias de transmissão 
desse tipo de doença, embora utilizado também nas 
doenças não transmissíveis. 
 
Porém, essa representação e seus esquemas se 
fecham em si mesmos e não consideram, muitas vezes, 
os outros fatores extrínsecos à relação 
agente/hospedeiro, fundamentais na cadeia de elos da 
doença. As características do meio ambiente, o estilo 
de vida ou mesmo as diferenças de gênero e faixas 
etárias influenciam de forma marcante o aparecimento 
de doenças e não são contemplados nesse tipo de 
modelo. É de conhecimento de todos que trabalham na 
área da saúde, principalmente na atenção básica e em 
gestão de saúde, a influência que fatores sociais, de 
estilo de vida e o acesso e cobertura de serviços de 
saúde têm, não só na transmissão como também, na 
incidência, prevalência e até na mortalidade da 
tuberculose, por exemplo (Pereira, 2002). 
 
Modelos Ecológicos 
 
TRÍADE ECOLÓGICA 
 
Para resolver essa limitação, modelos mais 
complexos foram sendo criados. Com a evolução dos 
estudos epidemiológicos, principalmente na segunda 
metade do século XX, modelos chamados ecológicos 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 62 
passaram a ser empregados para explicar a etiologia de 
eventos e suas intrincadas e amplas relações com os 
aspectos determinantes, multicausais em saúde. 
 
O termo ecológico se refere à utilização do meio 
ambiente, em sua amplitude, no raciocínio do modelo 
linear da cadeia de eventos, separando os fatores 
etiológicos em três grupos e não somente em dois. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3 Tríade Ecológica 
 
Essa representação triangular procura mostrar 
as relações de reciprocidade entre os três grupos 
considerados. O modelo é interessante, pois, seja qual 
for o ponto de partida do raciocínio, hospedeiro, agente 
ou meio ambiente, o estudo do evento apresentado 
deve levar em conta, necessariamente, os outros 
aspectos e seus fatores potencialmente determinantes. 
Mesmo assim, tal esquema é fácil observar, interessa 
quando se estuda um processo onde haja a atuação de 
um único agente etiológico. Porém, não resolve quando 
se considera uma doença crônica não transmissível, por 
exemplo, que não tem conhecido um agente etiológico 
específico ainda, e sim uma série de fatores associados, 
nenhum, isoladamente, responsável. Portanto, partindo 
desse raciocínio, o estudo da etiologia de hipertensão 
arterial, por exemplo, a partir desse modelo ficaria 
impossível, pois até onde se sabe, os fatores etiológicos 
da doença dizem respeito a características biológicas 
intrínsecas dos indivíduos (familiares, genéticas), 
fortemente associadas à influências do meio ambiente 
(condições de vida) e estilo de vida ( sedentarismo, 
Agente Meio Ambiente 
Hospedeiro 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 63 
dieta, fumo) em suas fisiologias e anatomias, digamos 
suscetíveis. Nesse raciocínio não cabe o aspecto agente 
(Rouquayrol, 2003). 
 
DUPLA ECOLÓGICA 
 
Assim, modelos mais apropriados foram criados 
para esses casos excluindo agente, ou sua importância, 
considerando o indivíduo como hospedeiro, e o meio 
ambiente como um binômio ecológico. A melhor forma 
de representação dessa relação passa a ser um círculo 
com o indivíduo ocupando o seu centro sofrendo a 
influência do meio, seja biológico (intrínseco ao 
indivíduo), seja físico, ambiental e social (extrínseco ao 
indivíduo). Cada qual com o seu grau de intensidade 
em relação ao evento abordado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 Modelo Circular de representação dos fatores 
determinantes do processo saúde/doença 
 
O modelo circular, considerando a dupla 
ecológica, além da análise racional do processo de 
adoecimento em busca da etiologia, ou dos diversos 
Anatomia 
Fisiologia 
Meio Social Meio Biológico 
Meio Físico 
Indivíduo 
Herança 
Genética 
Estilo de 
vida 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 64 
fatores determinantes de qualquer tipo de evento, seja 
doença transmissível, ou crônica não transmissível, 
permite a observação exata de onde devem ser 
dirigidas as ações de intervenção sobre hábitos do 
indivíduo ou populações, intervenções terapêuticas, ou 
mesmo medidas direcionadas à transformação ou 
controle do meio ambiente, além de estratégias de 
controle de doenças (Dever, 1988). 
 
REDE DE CAUSAS 
 
O modelo de rede de causas pode ser utilizado 
para representar a natureza multicausal das doenças e 
agravos em saúde. Cada uma das doenças é o 
resultado de vários fatores ou exposições que se 
encadeiam e formam um emaranhado de fenômenos 
que podem ser representados graficamente como uma 
rede. Cada causa tem sua representação em um 
retângulo dessa trama, formando a rede de fatores 
causais de um evento, como um organograma. Dessa 
forma, os eventos causais se dispõem conforme a sua 
importância como fator determinante da patologia 
(efeito). Para cada evento, doença, existe uma ou mais 
causas, mais perto ou mais longe dela. A eliminação ou 
controle de uma dessas causas, certamente, vai 
contribuir com a diminuição dos casos, ou seja, a sua 
incidência. Um exemplo que pode ser bem 
representado nesse modelo é o da doença coronariana. 
O sedentarismo, a obesidade, o estresse, a 
predisposição hereditária genética, a hipertensão 
arterial, a diabetes mellitus, a dieta inadequada, altos 
níveis de colesterol, o sexo, a idade, a ocupação, a 
classe social, a arteriosclerose e o ambiente urbano são 
exemplos de causas no desencadeamento da 
insuficiência coronariana, e podem ser dispostos nesse 
modelo (Dever, 1988). 
 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 65 
MÚLTIPLAS CAUSAS/MÚLTIPLOS EFEITOS 
 
É importante observar que podem existir 
situações em que uma causa leva a mais de um evento. 
A idade avançada é um bom exemplo, associada a 
muitos efeitos. É comum um idoso apresentar mais de 
um problema de saúde em função de sua longevidade. 
O hábito de fumar também é um exemplo de exposição 
que está relacionada avárias doenças. Na vida prática, 
são bastante frequentes as múltiplas causas levarem a 
múltiplos eventos, daí a importância desse tipo de 
representação de variação da rede de causas. 
 
Abordagem Sistêmica de Saúde 
 
Outra forma de proposição de modelo apresenta 
os efeitos e suas causas como um ou mais sistemas 
que, segundo esse conceito, apresenta esses eventos 
como um conjunto de aspectos com algum grau de 
organização, disposição e relação entre si que dá ao 
modelo esse status de sistema (Pereira, 2002). 
 
Conclusão 
 
A discussão sobre saúde e doença leva à noção 
da complexidade desse processo. O texto apresentado 
não esgota as possibilidades de abordagem sobre o 
tema, mas procura apresentar ao aluno, de maneira 
resumida, as diversas formas de representação e 
modelos de estudo de fatores etiológicos. Essas formas 
de representação do processo de adoecimento, mesmo 
que teóricas, são tentativas de expressar o mundo real, 
e não perdem a sua importância prática, constituindo 
metodologias na busca da identificação, na 
compreensão dos aspectos que interferem no processo 
saúde/doença. 
 
A apresentação desses modelos de 
representação do processo saúde/doença permite 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 66 
verificar a influência de múltiplas causas, em inter-
relação complexa, no seu resultado. Esses fatores 
transitam pelos campos biológico e não biológico, ou 
seja, cultural, social e ambiental. Dessa forma, fica 
comprovado que as investigações apresentam o 
processo do adoecimento como um evento 
biopsicossocial. 
 
EXERCÍCIO 1 
 
Em relação aos níveis de prevenção de riscos, doenças 
e agravos, é correto afirmar: 
 
( A ) Dizem respeito a medidas de intervenção sobre 
fatores de risco, antes de desencadearem o seu 
efeito (doença); 
( B ) A Promoção da Saúde diz respeito à aplicação de 
atividades que evitam uma determinada doença 
em uma dada população; 
( C ) Existem três níveis de prevenção, primária, 
secundária e terciária, e correspondem às 
medidas universais, às medidas seletivas e às 
medidas individuais, respectivamente; 
( D ) O tipo de intervenção corresponde à fase em que 
se encontra o problema identificado (risco ou 
doença). 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 67 
 
EXERCÍCIO 2 
 
Sobre os exemplos de modelos que tentam estabelecer 
associação entre problemas de saúde e seus 
determinantes, os comentários abaixo são corretos, 
exceto: 
 
( A ) A cadeia de eventos se baseia na identificação dos 
eventos mais importantes dentro do processo 
(cadeia). Nesse tipo de esquema, o enfoque parte 
do agente etiológico em suas diversas 
representações. Muito utilizada, importante por 
representar a etiopatogenia das doenças 
transmissíveis; 
( B ) A cadeia de eventos é muito utilizada, e 
importante por representar a etiopatogenia das 
doenças transmissíveis; 
( C ) O termo ecológico se refere à utilização do meio 
ambiente, em sua amplitude, no raciocínio do 
modelo; 
( D ) Dupla ecológica é uma outra forma de denominar 
a trade ecológica em que agente e hospedeiro, a 
dupla, sofrem influências do meio para o 
desencadeamento de problemas de saúde. 
 
EXERCÍCIO 3 
 
A que se refere o modelo de história natural da doença? 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 68 
 
EXERCÍCIO 4 
 
Descreva a utilidade desse modelo de história natural 
da doença. 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
RESUMO 
 
Vimos até agora: 
 
 A história natural da doença diz respeito à 
identificação das características gerais do 
curso de uma doença e sua evolução, e pode 
estar relacionada a estímulos que surgem no 
ambiente ou no organismo humano mesmo 
antes de se manifestar, para que medidas 
tanto preventivas quanto curativas, 
dependendo da fase em que ocorrem, sejam 
idealizadas, propostas e empregadas; 
 
 A divisão da história natural da doença em 
fases tem como uma das finalidades 
estabelecer a estratégia de intervenção mais 
adequada, a partir da identificação do 
indivíduo, ou a distribuição de grupos de 
indivíduos nos segmentos correspondentes; 
 
 O tipo de intervenção corresponde à fase em 
que se encontra o problema identificado 
(risco ou doença). Essas intervenções 
costumam ser denominadas de níveis de 
prevenção. E existem três níveis de 
prevenção, a prevenção primária, a 
secundária e a terciária; 
Aula 2 | Bases Epidemiológicas para atuação na área de saúde 69 
 Cadeia de eventos se baseia na identificação 
dos eventos mais importantes dentro do 
processo, ou seja, os eventos entre a não 
doença e seu marco inicial, até a doença 
manifesta. Nesse tipo de esquema, o enfoque 
parte do agente etiológico; 
 
 Modelos ecológicos passaram a ser 
empregados para explicar a etiologia de 
eventos e suas intrincadas e amplas relações 
com os aspectos determinantes, multicausais 
em saúde; 
 
 O modelo de rede de causas pode ser 
utilizado para representar a natureza 
multicausal das doenças e agravos em saúde. 
Cada uma das doenças é o resultado de 
vários fatores ou exposições que se 
encadeiam e formam um emaranhado de 
fenômenos que podem ser representados 
graficamente como uma rede; 
 
 Múltiplas Causas/Múltiplos Efeitos representam 
situações em que uma causa leva a mais de 
um evento. Na vida prática, são frequentes as 
múltiplas causas levarem a múltiplos eventos, 
daí a importância desse tipo de representação 
de variação da rede de causas; 
 
 Abordagem Sistêmica de Saúde, outra forma 
de proposição de modelo, apresenta os 
efeitos e suas causas como um ou mais 
sistemas que, segundo esse conceito, 
apresenta esses eventos como um conjunto 
de aspectos com algum grau de organização, 
disposição e relação entre si que dá ao 
modelo esse status de sistema. 
 
 
 
 
 
Estatísticas Vitais e a 
Medida da Saúde 
 
Silvia Faria 
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re
s
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o
 
 
Nas últimas décadas, a epidemiologia tem aperfeiçoado de forma 
significativa seu arsenal metodológico. Tal fato deve-se, de um 
lado, à melhor compreensão do processo saúde-doença, que nos 
permitiu uma visão mais clara dos múltiplos fatores que interagem 
na sua determinação e, de outro, ao desenvolvimento de novas 
técnicas estatísticas aplicadas à epidemiologia e também à 
utilização, cada vez mais ampla, dos computadores pessoais e à 
criação de novos programas (softwares), tornando acessíveis a 
um número cada vez maior de pesquisadores a aplicação de 
análises estatísticas de dados obtidos em investigações 
epidemiológicas. A epidemiologia descritiva constitui a primeira 
etapa da aplicação do método epidemiológico com o objetivo de 
compreender o comportamento de um agravo à saúde numa 
população. Nessa fase é possível responder a questões como 
quem? quando? onde?, ou, em outros termos, descrever os 
caracteres epidemiológicos das doenças relativos à pessoa, ao 
tempo e ao lugar. Nos estudos descritivos, os dados são reunidos, 
organizados e apresentados na forma de gráficos, tabelas com 
taxas, médias e distribuição segundo atributos da pessoa, do 
tempo e do espaço, sem o objetivo de se estabelecer associações 
ou inferências causais. Esse tipo de estudo geralmente visa 
descrever populações alvo que apresentem certos atributos de 
interesse. 
 
 
 
O
b
je
ti
v
o
s
 
 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Calcular e interpretaros indicadores utilizados para descrever 
populações e “medir” a saúde destas, distinguindo entre: 
 indicadores demográficos; 
 indicadores de morbidade; 
 indicadores de mortalidade. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 72 
Indicadores de Saúde 
 
Para que a saúde seja quantificada e para 
permitir comparações na população, utilizam-se os 
indicadores de saúde. Estes devem refletir, com 
fidedignidade, o panorama da saúde populacional. É 
interessante observar que, apesar de esses indicadores 
serem chamados, indicadores de saúde, muitos deles 
medem doenças, mortes, gravidade de doenças, o que 
denota ser mais fácil, às vezes, medir doença do que 
medir saúde. 
 
Esses indicadores podem ser expressos em 
termos de frequência absoluta ou como frequência 
relativa, onde se incluem os coeficientes e índices. Os 
valores absolutos são os dados mais prontamente 
disponíveis e, frequentemente, usados na monitoração 
da ocorrência de doenças infecciosas; especialmente 
em situações de epidemia, quando as populações 
envolvidas estão restritas ao tempo e a um 
determinado local, pode assumir-se que a estrutura 
populacional é estável e, assim, usar valores absolutos. 
Entretanto, para comparar a frequência de uma doença 
entre diferentes grupos, deve-se ter em conta o 
tamanho das populações a serem comparadas com sua 
estrutura de idade e sexo, expressando os dados em 
forma de taxas ou coeficientes. 
 
Assim, abordaremos noções de demografia para 
então conhecermos os indicadores mais utilizados. 
 
Dinâmica Populacional 
 
Definimos demografia como: o “estudo do 
tamanho, da distribuição territorial e da composição da 
população, das mudanças e dos componentes de tais 
mudanças; estes últimos podem ser identificados como 
natalidade, mortalidade, movimentos territoriais 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 73 
(migrações) e mobilidade social (mudança de status, 
como de solteiro para casado e também mudanças 
através da natalidade, mortalidade e fecundidade)”. 
 
A composição populacional envolve não apenas 
as variáveis demográficas – idade, sexo e estado 
conjugal – mas também variáveis que aproximam da 
ideia de “qualidade” de vida, como saúde, capacidade 
mental e nível de qualificação”. 
 
Portanto, a demografia estuda a dinâmica 
populacional, que, por sua vez, analisa três 
componentes: mortalidade, fecundidade e 
migração. Por meio dessas componentes é que uma 
população se define. 
 
Observa-se que: 
ENTRADAS - nascimentos e imigração; 
SAÍDAS - óbitos e emigração. 
 
A Equação Demográfica de uma população em 
um determinado período no tempo é: 
 
Exemplo: 
P(2010) = P(2009) + nascimentos(2009) –
óbitos(2009) + imigração(2009) –emigração(2009) 
 
Generalizando: 
 
P(t)= P(0) + N(0, t) –O(0, t) + I(0, t) –E(0,t) 
 
P=POPULAÇÃO 
 
Transição Demográfica 
 
É a passagem (transição) de um estágio de 
equilíbrio de uma população, em função de altas taxas 
de mortalidade e fecundidade, para um estágio de 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 74 
taxas de mortalidade e fecundidade baixas. Portanto, 
refere-se aos padrões de mortalidade e fecundidade de 
uma população fechada. 
 
Países desenvolvidos: transformações 
econômicas (expansão do capitalismo e Revolução 
Industrial) e políticas (Revolução Francesa - ascensão 
da burguesia); 
 
Países em desenvolvimento: coincidiu com os 
processos de industrialização e urbanização. Nesses 
países, a transição está acontecendo de forma mais 
rápida; 
 
No entanto, a transição foi rápida se a análise 
for temporal. Ela deve ser contextualizada levando em 
consideração os avanços tecnológicos e descobertas 
que os países desenvolvidos já haviam experimentado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 75 
A transição demográfica inicia-se com a redução 
da mortalidade e, posteriormente, a da fecundidade, 
provocando dessa forma um crescimento da população. 
Essa passagem também está influenciada pelos 
aspectos econômicos e sociais de cada sociedade, 
portanto ocorreu em períodos diferentes em todo 
mundo. Na América Latina, por exemplo, iniciou na 
década de 1940 com a queda da mortalidade e na 
década de 1960, a queda da fecundidade. 
 
Pirâmides etárias para a França: 
 
1775-Alta natalidade; - Alta mortalidade; 
1851-Mortalidade e fecundidade em queda; -
Envelhecimento da população; 
1901-Mortalidade e fecundidade continuam em 
queda; - Envelhecimento da população; 
1946-População envelheceu bastante; - Perdeu 
regularidade; - Reentrância nas idades de 25 a 30 
anos: redução em certas gerações masculinas e 
redução do número de nascimentos devido a I Guerra 
Mundial; 
1959-População rejuvenescendo – aumento da 
natalidade; - Reentrância nas idades de 40 a 45 anos 
devido à I Guerra Mundial; - Reentrância nas idades de 
15 a 20 anos devido à queda da fecundidade antes de 
1940 e as separações provocadas pela guerra; - Forte e 
duradoura recuperação da natalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasil – 1º período 
Século passado até aproximadamente os anos 
de 1930: População: taxas de natalidade e de 
mortalidade relativamente altas e, consequentemente, 
taxas moderadas de crescimento vegetativo. 
 
Entre 1870 e 1930: incremento populacional 
favorecido pela imigração internacional. 
 
Brasil – 2º período 
A partir de 1940 até o final da década de 1970: 
Os níveis de mortalidade começaram a declinar 
e os movimentos populacionais de origem internacional 
perderam importância no contexto da população 
nacional. 
 
A mortalidade experimentou um declínio rápido 
e sustentável em todos os grupos etários. Passou a ser 
responsável pela variação no ritmo de crescimento da 
população brasileira até 1970 quando, nas décadas de 
1950 e 1960, registrou suas maiores taxas. Isso 
ocorreu devido, também, aos altos níveis de natalidade 
prevalecentes. 
 
 
Quer 
saber mais? 
 
 
IBGE e veja uma 
série de dados sobre 
educação, trabalho, 
famílias, domicílios e 
rendimentos da 
população brasileira. 
Acesse: 
http://www.ibge.gov
.br/home/estatistica
/populacao/trabalho
erendimento/ 
pnad2008/default.sh
tm 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 77 
Estendeu-se até o final da década de 1970: os 
níveis de fecundidade começaram a declinar e, apesar 
da queda da mortalidade, a taxa de crescimento da 
população brasileira continuou a aumentar. 
 
Brasil – 3º período 
A partir do final dos anos 1970: 
No final dos anos 60: queda acelerada da 
fecundidade caracterizada por uma redução rápida da 
taxa de crescimento populacional. 
 
Dados do Brasil 
Taxa Bruta de Mortalidade (por 1.000 hab.) 
1872/1890 = 30,2 2005/2010 = 6,3 
Taxa Bruta de Natalidade 1872/1890 = 46,5 
2005/2010 = 19,2 
 
A taxa de fecundidade total (TFT) passou de 5,5 
filhos entre as mulheres nascidas em 1900-1925, para 
2,0 entre as mulheres nascidas em 1975-1980. As 
mulheres nascidas a partir dos anos 70 já apresentam 
taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição 
(2,1). 
 
A PNAD de 2007 registrou uma TFT de 1,83. 
Implicações da Transição Demográfica 
Mudanças na estrutura etária e por sexo: 
 
Alargamento do topo da pirâmide 
(envelhecimento pelo topo) provocado pela queda da 
mortalidade; estreitamento da base pirâmide 
(envelhecimento pela base) provocado pela queda da 
fecundidade. Proporção da população de 0 a 4 anos era 
de 16% em 1940 e passou para 6% em 2000; 
Proporção da população de 0 a 14 anos era de 43% em 
1940 e passou para 20% em 2000; Proporção da 
população de 60 anos e mais era de 4% em 1940 e 
passou para 9% em 2000. 
Você sabia? 
 
 
Fecundidade cai 
para 2 filhos por 
mulher, em média, 
em 2006. 
 
A tendência é de 
queda. 
 
 
Aula 3 | Estatísticasvitais e a medida da saúde 78 
Proporção maior de idosos e mulheres: a 
razão de sexos em 1940 era de 100 e passou para 97 
em 2000. Entre os idosos a diferença é ainda maior, 
passou de 88 para 82 no mesmo período. O que 
significa que para cada 100 mulheres, em 2000, 
havia 82 homens. Entre os mais idosos, (80 anos e 
mais) essa razão se intensifica, mas não se alterou ao 
longo dos anos, mantendo-se em torno de 65. 
 
Esperança de vida: o aumento da esperança 
de vida foi um dos avanços alcançados pela sociedade, 
associado às melhorias das condições de vida. Passou 
de 43,7 anos em 1940 para 72,4 anos em 2005/2010, 
sendo mais elevada entre as mulheres. A diferença 
entre os sexos ficou mais acentuada. 
 
Em 1940 – homens: 41,5 e mulheres: 46,0 
Em 2005/2010 – homens: 68,8 e mulheres: 
76,1 
 
Há diferenciais por sexo, raça, região geográfica, 
condições socioeconômicas. 
 
A medida da saúde: 
 
A mensuração do estado de saúde de uma 
população se faz negativamente, através da frequência 
de eventos que expressam a “não saúde”: 
 
Números absolutos 
 
O número absoluto de pessoas que morrem e 
adoecem são medidas cujo significado está restrito ao 
tempo e à população considerada. 
 
Não se prestam à comparação de medidas de 
morbidade e mortalidade de diferentes populações (ou 
da mesma população em diferentes momentos). 
MORTE 
 
 
INDICADORES DE 
MORTALIDADE 
 
 
DOENÇA 
 
 
INDICADORES DE 
MORBIDADE 
Quer 
saber mais? 
 
 
A População 
envelhece: 
 
1981 – 6 idosos 
para cada 12 
crianças até 5 anos; 
2004 – 6 idosos 
para 5 crianças até 
5 anos. 
 
 
Quer 
saber mais? 
 
 
Aumenta a 
expectativa de vida 
aos 60 anos: 
A expectativa de 
vida em 1980 era de 
 60 anos para 
homens e 66 anos 
para mulheres. 
Em 2003 passa para 
68 anos para 
homens e 75 anos 
para mulheres. 
 
As mulheres vivem 
mais que os 
homens. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 79 
OBS: Os valores absolutos têm importância para 
o planejamento e a gerência dos serviços. 
 
Números relativos 
 
Os indicadores de saúde são medidas relativas 
(ponderadas) de mortalidade e de morbidade, estão 
sempre referidos a uma população específica e a um 
intervalo de tempo determinado. 
 
Correspondem a quocientes (frações) que 
assumem três formatos genéricos: razões, coeficientes 
e proporções. 
 
Quocientes 
 
Observe a natureza do numerador em relação à 
do denominador nos quocientes abaixo. Há diferença de 
significado (interpretação) entre eles? 
 
 
 
 
 
 
 
Coeficientes 
 
São as medidas básicas da ocorrência das 
doenças em uma determinada população e período. 
Para o cálculo dos coeficientes, considera-se que o 
número de casos está relacionado ao tamanho da 
população que lhes deu origem. O numerador refere-se 
ao número de casos detectados que se quer estudar 
(por exemplo: mortes, doenças, fatores de risco), e o 
denominador refere-se a toda população capaz de 
sofrer aquele evento, é a chamada população em risco. 
O denominador, portanto, reflete o número de casos 
acrescido do número de pessoas que poderiam tornar-
se casos naquele período de tempo. Às vezes, 
Total de óbitos ocorridos 
 
População local 
Total de óbitos em Idosos 
 
Total de óbitos ocorridos 
Total de internações 
 
Número de leitos 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 80 
dependendo do evento estudado, é preciso excluir 
algumas pessoas do denominador. Por exemplo, ao 
calcular-se o coeficiente de mortalidade por câncer de 
próstata, as mulheres devem ser excluídas do 
denominador, pois não estão expostas ao risco de 
adquirir câncer de próstata. Para uma melhor utilização 
desses coeficientes, é preciso o esclarecimento de 
alguns pontos: 
 
 Escolha da constante (denominador); 
 Intervalo de tempo; 
 Estabilidade dos coeficientes; 
 População em risco. 
 
1. Escolha da constante: a escolha de uma 
constante serve para evitar que o resultado seja 
expresso por um número decimal de difícil leitura (por 
exemplo: 0,0003); portanto, faz-se a multiplicação da 
fração por uma constante (100, 1.000, 10.000, 
100.000). A decisão sobre qual constante deve ser 
utilizada é arbitrária, pois depende da grandeza dos 
números decimais; entretanto, para muitos dos 
indicadores, essa constante já está uniformizada. Por 
exemplo, para os coeficientes de mortalidade infantil 
utiliza-se sempre a constante de 1.000 nascidos vivos. 
 
2. Intervalo de tempo: é preciso especificar o 
tempo a que se referem os coeficientes estudados. Nas 
estatísticas vitais, esse tempo é geralmente de um ano. 
Para a vigilância epidemiológica (verificação contínua 
dos fatores que determinam a ocorrência e a 
distribuição da doença e condições de saúde), pode 
decidir-se por um período bem mais curto, dependendo 
do objetivo do estudo. 
 
3. Estabilidade dos coeficientes: quando se 
calcula um coeficiente para tempos curtos ou para 
populações reduzidas, os coeficientes podem tornar-se 
Importante 
 
 
Grupos de 
indicadores de saúde 
(OMS) 
1. Traduzem 
diretamente a 
situação de saúde 
(ou sua falta) em 
um grupo 
populacional 
Ex: mortalidade e 
morbidade 
2. Referem às 
condições 
ambientais que 
influenciam a área 
de saúde 
Ex: abastecimento 
de água, rede de 
esgotos 
3. Medem os 
recursos materiais e 
humanos 
relacionados às 
atividades de saúde 
Ex: nº de 
profissionais de 
saúde, nº de leitos 
hospitalares em 
relação à população 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 81 
imprecisos e não ser tão fidedignos. Para contornar 
esse problema, é possível aumentar o período de 
observação (por exemplo, em vez de observar o evento 
por um ano, observá-lo por dois ou três anos), 
aumentar o tamanho da amostra (observar uma 
população maior) ou utilizar números absolutos no 
lugar de coeficientes. 
 
4. População em risco: refere-se ao 
denominador da fração para o cálculo do coeficiente. 
Nem sempre é fácil saber o número exato desse 
denominador e muitas vezes recorre-se a estimativas 
no lugar de números exatos. 
 
Como analisar os indicadores de saúde? 
 À luz da teoria, não existe análise de dados 
sem reflexão teórica. 
 Em série histórica (análise temporal). 
 Em comparação espacial (análise territorial). 
 
Coeficientes e proporções 
 
COEFICIENTES 
número absoluto de eventos ocorridos 
__________________________________ 
total de eventos (da mesma natureza)teoricamente 
possíveis 
 
PROPORÇÕES 
parcela dos eventos ocorridos que possui um certo 
atributo 
________________________________________ 
total de eventos (da mesma natureza) ocorridos 
 
Os coeficientes costumam ser números 
pequenos (o denominador costuma ser muito maior do 
que o numerador). É praxe multiplicá-los por uma 
potência de 10 (10n), a fim de apresentá-los em um 
formato mais “assimilável” (em geral um número > 1). 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 82 
As proporções são usualmente apresentadas na 
forma de percentagens (x 100). 
 
OBS.: Os termos “taxa”, “proporção”, “índice”, 
“coeficiente”, ”razão” costumam ser empregados 
indistintamente, segundo diferentes autores ou 
circunstâncias, para designar um ou outro formato de 
quociente. 
 
MORBIDADE 
 
A morbidade é um dos importantes indicadores 
de saúde. Muitas doenças causam importante 
morbidade, mas baixa mortalidade, como a asma. 
Morbidade é um termo genérico usado para designar o 
conjunto de casos de uma dada afecção ou a soma de 
agravos à saúde que atingem um grupo de indivíduos. 
Medir morbidade nem sempre é uma tarefa fácil, pois 
são muitas as limitações que contribuem para essa 
dificuldade. 
 
Medidas da morbidade 
 
Para que se possa acompanhar a morbidade na 
população e traçar paralelos entre a morbidade de um 
local em relação a outros, é preciso que se tenha 
medida-padrão de morbidade. As medidas de 
morbidade mais utilizadas são as que se seguem: Medida da prevalência: a prevalência (P) 
mede o número total de casos, episódios ou 
eventos existentes em um determinado ponto 
no tempo. O coeficiente de prevalência, 
portanto, é a relação entre o número de 
casos existentes de uma determinada doença 
e o número de pessoas na população, em um 
determinado período. 
 
Você sabia? 
 
 
META DO MILÊNIO 
1990 – 2015 
ONU 
Combater o 
HIV/aids, a malária 
e outras doenças 
Metas 
• Até 2015, ter 
detido a propagação 
do HIV/aids e 
começado a inverter 
a tendência atual. 
• Até 2015, ter 
detido a incidência 
da malária e de 
outras doenças 
importantes e 
começado a inverter 
a tendência atual. 
 
 
Você sabia? 
 
 
A prevalência de 
fumantes na 
população acima de 
18 anos diminuiu de 
34,8% em 1989 
para 22,4% em 
2003. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 83 
O termo prevalência refere-se à prevalência 
pontual ou instantânea. Isso quer dizer que, naquele 
particular ponto do tempo (dia, semana, mês ou ano da 
coleta, por exemplo), a freqüência da doença medida 
foi de 10%, por exemplo. Na interpretação da medida 
da prevalência, deve ser lembrado que a mesma 
depende do número de pessoas que desenvolveram a 
doença no passado e continuam doentes no presente. 
Assim, o denominador é a população em risco. 
 
 
 
 
 
 
 
COEFICIENTE DE PREVALÊNCIA 
 
Total de casos da doença “D” existentes na população 
em certo momento 
__________________________________ x10n 
População total no momento considerado 
 
 Medida da incidência: a incidência mede o 
número de casos novos de uma doença, 
episódios ou eventos na população dentro de 
um período definido de tempo (dia, semana, 
mês, ano); é um dos melhores indicadores 
para avaliar se uma condição está 
diminuindo, aumentando ou permanecendo 
estável, pois indica o número de pessoas da 
população que passou de um estado de não-
doente para doente. O coeficiente de 
incidência é a razão entre o número de casos 
novos de uma doença que ocorre em uma 
comunidade, em um intervalo de tempo 
determinado, e a população exposta ao risco 
de adquirir essa doença no mesmo período. 
 
 
PREVALÊNCIA: 
 
Quantidade de casos existentes de uma doença, 
em uma determinada população, em certo 
momento. 
 
 
Quer 
saber mais? 
 
. 
A EPIDEMIA DE 
CESARIANAS 
 
A cesariana é maior 
entre as mulheres 
com maior renda e 
escolaridade. 
Em Brasília, por 
exemplo, no setor 
hospitalar privado, 
80% dos partos são 
cesarianas. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 84 
A incidência é útil para medir a frequência de 
doenças com uma duração média curta como, por 
exemplo, a pneumonia ou doença de duração longa. A 
incidência pode ser cumulativa (acumulada) ou 
densidade de incidência. 
 
Incidência Cumulativa (IC). Refere-se à 
população fixa, onde não há entrada de novos casos 
naquele determinando período. No denominador do 
cálculo da incidência cumulativa, estão incluídos 
aqueles que, no início do período, não tinham a doença. 
 
A incidência cumulativa é uma proporção, 
podendo ser expressa como percentual ou por 1.000, 
10.000 (o numerador está incluído no denominador). 
 
A IC é a melhor medida para fazer prognósticos 
em nível individual, pois indica a probabilidade de 
desenvolver uma doença dentro de um determinado 
período. Densidade de Incidência (DI). A densidade de 
incidência é uma medida de velocidade (ou densidade). 
Seu denominador é expresso em população-tempo em 
risco. O denominador diminui à medida que as pessoas, 
inicialmente em risco, morrem ou adoecem (o que não 
acontece com a incidência cumulativa). 
 
Exemplo do cálculo da incidência: 
 
Durante o ano de 2006 foram identificados 300 
casos novos de hanseníase no município X, dos quais 
20 receberam alta no mesmo ano. Em 31 de dezembro 
de 2006, estavam registrados 450 pacientes no 
programa de controle dessa doença, 170 dos quais 
haviam sido identificados no ano anterior e até o final 
de 2006 não haviam recebido alta. Tais informações 
não acrescentam muito ao conhecimento sobre a 
hanseníase no município X, pois não sabemos o 
tamanho de sua população e, portanto, a dimensão da 
população exposta ao risco de adoecer. 
Quer 
saber mais? 
 
 
1.173 municípios 
brasileiros estão 
inseridos nas dez 
áreas de maior 
detecção de casos 
de hanseníase. Entre 
os anos de 2005 e 
2007 eles 
representaram 
53,5% dos casos 
novos. 
 
 
Você sabia? 
 
 
A obesidade tem 
aumentado no Brasil 
e é maior entre as 
mulheres. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 85 
 
Por esse motivo, as medidas de frequência 
devem estar relacionadas a uma população de 
referência. Digamos que a população do município X 
esteja estimada para 1º de julho de 2006 em 354.250 
habitantes. 
 
Infelizmente, a menos que sejam desenvolvidos 
estudos especiais, não podemos identificar e excluir os 
componentes da população que não são suscetíveis. 
Devido a essa dificuldade, na prática utilizamos como 
denominador a população residente levantada pelo 
recenseamento ou estimada para o meio do período, 
quando se tratar de ano intercensitário. No exemplo, os 
354.250 habitantes seriam os componentes da 
população estimados para 1º de julho de 2006. Quando 
a população é conhecida com precisão, utilizamos o 
número exato de expostos ao risco no denominador. 
Como exemplo, citaríamos: 
 
 um surto de hepatite investigado numa 
escola; 
 um surto de gastroenterite entre convidados 
de um jantar, em que a lista completa dos 
convidados é conhecida. 
 
 
 
 
 
 
 
COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA: 
 
Total de casos novos da doença “D” na população em 
certo período 
________________________________ 10n 
População exposta à doença “D” durante o período 
INCIDÊNCIA: 
 
Quantidade de casos novos de um doença, 
ocorridos em uma população, durante um certo 
período. 
 
 
Você sabia? 
 
 
O consumo 
excessivo de 
bebidas alcoólicas é 
muito maior entre os 
homens. 
E é alto na maioria 
das capitais. 
 
 
Quer 
saber mais? 
 
 
A freqüência de 
adultos que referem 
diagnóstico médico 
de hipertensão 
arterial variou de 
15,1% em Palmas-
TO a 24,9% no 
Recife-PE, sendo 
significativamente 
maior entre as 
mulheres. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 86 
Relação entre incidência e prevalência 
 
A prevalência de uma doença depende da 
incidência da mesma (quanto maior for a ocorrência de 
casos novos, maior será o número de casos existentes), 
como também da duração da doença. A mudança da 
prevalência pode ser afetada tanto pela velocidade da 
incidência como pela modificação da duração da 
doença. Esta, por sua vez, depende do tempo de cura 
da doença ou da sobrevivência. 
 
A relação entre incidência e prevalência segue a 
seguinte fórmula (Vaughan, 1992): 
 
PREVALÊNCIA = INCIDÊNCIA X DURAÇÃO 
MÉDIA DA DOENÇA 
 
MORTALIDADE 
 
A informação e os indicadores de mortalidade 
representam importantes subsídios para a saúde 
pública, permitem o planejamento local, regional e 
nacional, bem como a identificação de grupos de maior 
risco. Devido ao envelhecimento demográfico e à 
transição epidemiológica, têm surgido novas propostas 
metodológicas para considerar não só a mortalidade, 
mas os anos de vida vividos com saúde. 
 
Conhecer a estrutura de mortalidade que afeta a 
população idosa pode ajudar as estratégias de ações de 
saúde pública. 
 
Principais usos: 
 
 descrição das condições de saúde de uma 
população; 
 investigação epidemiológica; 
 avaliação de intervenções saneadoras. 
 
Quer 
saber mais? 
 
 
METAS DO MILÊNIO 
1990 – 2015 
ONU 
Reduzir a 
mortalidade na 
infância. 
Meta: 
• Reduzir em dois 
terços, entre 1990 e 
2015, a mortalidade 
de crianças menores 
de 5 anos. 
Melhorar a saúde 
materna. 
• Reduzir em três 
quartos, entre 1990 
e 2015, a taxa de 
mortalidade 
materna. 
 
 
Aula 3 | Estatísticasvitais e a medida da saúde 87 
Limitações do uso da mortalidade como 
indicador: 
 
 exprimem gravidade/refletem um história 
incompleta da doença; 
 danos que raramente levam ao óbito não são 
representados; 
 óbitos são eventos que incidem em pequena 
parcela da população; 
 as mudanças nas taxas de mortalidade são 
lentas. 
 
Serão abordados o coeficiente de mortalidade 
geral, os coeficientes específicos (pessoas, causas) e 
mortalidade proporcional. 
 
Coeficiente Geral de Mortalidade 
 
Obtido pela divisão do número total de óbitos 
por todas as causas em um ano pelo número da 
população naquele ano, multiplicado por 1.000. 
Exemplo: em um estado, em 2007, houve 63.961 
óbitos e a população estimada era de 9.762.110; 
portanto, o coeficiente de mortalidade geral para o 
estado, no ano de 2007, foi de 6,55. 
 
Total de óbitos ocorridos na população durante o 
período 
___________________________________ x10n 
População total no meio do período 
 
A partir do detalhamento dos óbitos ocorridos 
por pessoas (gênero, idade) ou por causas obtemos o 
coeficiente específico de mortalidade. 
 
Coeficiente Específico (pessoas) 
 
Nº de óbitos de pessoas com o atributo “a” na 
população e no período 
___________________________________ x10n 
Total de pessoas com o atributo “a” na população no 
meio do período 
Para refletir 
 
 
No Brasil, os 
acidentes e 
violências ocupam a 
terceira causa de 
mortes na população 
geral e primeira 
causa entre os 
adolescentes e 
jovens. 
 
 
Você sabia? 
 
 
Os homens 
apresentam maior 
risco de morte por 
causas externas. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 88 
O coeficiente de mortalidade infantil refere-se ao 
óbito de crianças menores de um ano e é um dos mais 
importantes indicadores de saúde. O coeficiente de 
mortalidade perinatal compreende os óbitos fetais (a 
partir de 28 semanas de gestação) mais os neonatais 
precoces (óbitos de crianças de até seis dias de vida). 
 
Coeficiente de Mortalidade Infantil: 
 
Óbitos de menores de 1 ano 
na população durante o período 
________________________________ x103 
Total de nascidos vivos 
na população durante o período 
 
Coeficiente de Mortalidade Infantil: 
 
 Um dos indicadores mais empregados para 
medir níveis de saúde e de desenvolvimento 
social de uma região); 
 A mortalidade infantil mede o risco de um 
nascido vivo morrer no seu primeiro ano de 
vida; 
 Alta correlação como as condições sociais, o 
que a posiciona como um bom indicador 
indireto das condições sanitárias; 
 Coeficiente < 20/1000 é considerado baixo; 
 ≥ 50 / 1000 nascidos vivos é considerada 
elevada. 
 
Outro importante indicador de saúde que vem 
sendo bastante utilizado, nos últimos anos, é o 
coeficiente de mortalidade materna, que diz respeito 
aos óbitos por causas gestacionais. 
 
MORTALIDADE MATERNA 
 
Total de óbitos devidos a causas ligadas à gestação, 
parto ou puerpério na população durante o período 
___________________________________ x10n 
Total de nascidos vivos durante o período 
 
Você sabia? 
 
 
A taxa de 
mortalidade infantil 
tem caído 
principalmente pela 
redução da 
mortalidade pós-
neonatal, reflexo da 
melhoria da atenção 
básica à criança e 
dos fatores 
associados ao meio 
ambiente, sobretudo 
à qualidade da água 
e ao saneamento 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 89 
É possível obterem-se os coeficientes específicos 
por determinada causa como, por exemplo, o 
coeficiente por causas externas, por doenças 
infecciosas, por neoplasias, por AIDS, por tuberculose, 
entre outros. Da mesma forma, podem-se calcular os 
coeficientes conforme a idade e o sexo. 
 
Estes coeficientes podem fornecer importantes 
dados sobre a saúde de um país e, ao mesmo, tempo 
fornecer subsídios para políticas de saúde. 
 
Exemplo: o coeficiente de mortalidade por 
tuberculose no RS para o ano de 2.000 foi de 51,5 por 
100.000 habitantes. 
 
COEFICIENTE ESPECÍFICO (causa) 
Total de óbitos devidos à causa “C” na população 
durante o período 
__________________________________ x10n 
População sob risco de morrer devido a “C” no meio do 
período 
 
MORTALIDADE PROPORCIONAL 
 
MORTALIDADE PROPORCIONAL (pessoas) 
Nº de óbitos de pessoas com o atributo “a” na 
população durante o período 
__________________________________ x100 
Total de óbitos na população durante o período 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURVAS DE MORTALIDADE PROPORCIONAL 
 
MORTALIDADE PROPORCIONAL (causa) 
Nº de óbitos devidos à causa “C” na população durante 
o período 
________________________________ x100 
Total de óbitos na população durante o período 
Você sabia? 
 
 
Em 2005, morreram 
63.504 mulheres de 
10 a 49 anos de 
idade no Brasil. 
Destas, 1.619 por 
problemas 
relacionados a 
gravidez, parto, 
puerpério e aborto. 
São mortes que 
podem ser evitadas, 
em sua quase 
totalidade. 
Os problemas 
relacionados com 
pressão alta foram 
os maiores 
responsáveis por 
mortes maternas. 
E as mulheres 
negras, suas 
maiores vítimas. 
Em 2007, 13,1% 
dos óbitos maternos 
ocorreram entre 
mulheres de 15 a 19 
anos e 19% 
ocorreram na faixa 
etária de 20 a 24 
anos. 
 
 
Quer 
saber mais? 
 
 
Em 2005, foram 
mais de 36 mil 
óbitos por diabetes 
no Brasil, 
observando-se um 
intenso aumento da 
mortalidade nas 
últimas décadas. 
 
 
% % % % 
0 
<1 1-4 5-19 20-49 50+ 
0 
<1 1-4 5-19 20-49 50+ 
0 
<1 1-4 5-19 20-49 50+ 
0 
<1 1-4 5-19 20-49 50+ 
Muito Baixo Baixo Regular Elevado 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 90 
MORTALIDADE PROPORCIONAL por DOENÇAS 
INFECCIOSAS: 
 
Nº de óbitos por doenças infecciosas na população 
durante o período 
_________________________________ x100 
 
Total de óbitos na população durante o período 
 
Letalidade 
 
A letalidade refere-se à incidência de mortes 
entre portadores de uma determinada doença, em 
certo período de tempo, dividida pela população de 
doentes. É importante lembrar que, na letalidade, o 
denominador é o número de doentes. 
 
Total de óbitos devidos à doença “D” na população em 
um período 
_________________________________ x100 
Total de casos da doença “D” na população durante o 
período 
 
Padronização dos coeficientes 
 
Como, na maioria das vezes, a incidência ou 
prevalência de uma doença varia com o sexo e o grupo 
etário, a comparação das taxas brutas de duas ou mais 
populações só faz sentido se a distribuição por sexo e 
idade das mesmas for bastante próxima. 
 
Sendo essa uma situação absolutamente 
excepcional, o pesquisador frequentemente vê-se 
obrigado a recorrer a uma padronização (ou 
ajustamento), a fim de eliminar os efeitos da estrutura 
etária ou do sexo sobre as taxas a serem analisadas. 
 
Para um melhor entendimento, examinemos, 
por exemplo, os índices (1980) de mortalidade da 
França e do México. Caso a análise limite-se à 
comparação das taxas brutas. 368 e 95 por 100.000 
habitantes/ano, respectivamente, pode parecer que há 
Aprofundamento 
 
 
Argumenta 
Haenszel: "Há 
muito se reconhece 
que o número de 
óbitos, apenas, não 
fornece uma 
descrição completa 
da mortalidade, e 
têm sido cogitadas 
medidas que dêem 
alguma contribuição 
à idéia intuitiva, 
amplamente 
admitida, de que a 
morte aos 70 anos, 
por exemplo, não 
representa perda tão 
grande para a 
sociedade quanto a 
morte aos 35 anos". 
 
 
Para pensar 
 
 
EPIDEMIA DE AIDS 
 
Entre os jovens, 
74% usaram 
preservativo na 
última relação com 
parceiro eventual. 
Na faixa dos 40 aos 
54 anos, 60% não 
fazem uso de 
preservativo com 
parceiro eventual; é 
entre eles e elas que 
a epidemia mais 
cresce. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 91 
uma grande diferença entre os padrões de mortalidade dos 
dois países. 
 
Entretanto, ao considerar-se a grande diferença 
na distribuição etária dos mesmos, com o predomínio 
no México de grupos com menoridade, torna-se 
imprescindível a padronização. Uma vez efetuada a 
padronização por idade, o contraste entre os dois 
países desaparece, resultando taxas de 164 e 163 por 
100.000 habitantes/ano, respectivamente. 
 
Esses índices ajustados são na verdade fictícios, 
prestando-se somente para fins de comparação. 
 
Há duas maneiras de realizar-se a padronização. 
 
1. Método direto: este método exige uma 
população padrão que poderá ser a soma de duas 
populações a serem comparadas (A e B) ou uma 
população padrão. É obtido multiplicando-se a 
distribuição da população padrão conforme a idade 
pelos coeficientes de mortalidade (por exemplo) de 
cada uma das populações a serem estudadas (A e B). 
 
2. Método indireto: utiliza-se o método indireto 
quando os coeficientes específicos por idade da 
população que se quer estudar não são conhecidos, 
embora se saiba o número total de óbitos. 
Empregando-se uma segunda população (padrão), 
semelhante à população que se quer estudar, cujos 
coeficientes sejam conhecidos, multiplica-se o 
coeficiente por idades da população padrão pelo 
número de óbitos de cada categoria de idade, 
chegando, assim, ao número de mortes que seria 
esperado na população que está sendo estudada. O 
número total de mortes esperado dessa população é 
confrontado com o número de mortes efetivamente 
ocorridas nessa população, resultando no que se 
Você sabia? 
 
 
A mortalidade por 
acidente com 
motocicleta continua 
crescendo em todo o 
país. 
Em 2006, nas 
regiões Centro-
Oeste e Nordeste, o 
óbito por acidente 
com motocicleta, 
pela primeira vez, 
supera o óbito por 
acidente de 
automóvel. 
 
 
Importante 
 
 
As causas externas 
foram responsáveis 
por 127.633 óbitos 
em 2005 (12,7% do 
total de óbitos). 
Seus principais 
componentes são os 
acidentes de trânsito 
e os homicídios. 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 92 
convencionou chamar de razão padronizada de 
mortalidade (RPM). 
 
RPM = ÓBITOS OBSERVADOS/ÓBITOS 
ESPERADOS 
 
A RPM maior ou menor do que um indica que 
ocorreram mais ou menos mortes do que o esperado, 
respectivamente. 
 
PRINCIPAIS FONTES DE DADOS SOBRE 
MORTALIDADE 
 
 Estatísticas constantes de anuários, relatórios 
e outras publicações: 
 
Internacionais: ONU, OMS, OPS, Unicef, Banco 
Mundial. 
 
Nacionais: anuários do Ministério da Saúde e do 
IBGE. 
 
 Atestados de óbitos: nas Secretárias 
Estaduais de Saúde ou de Planejamento e nos 
Cartórios de Registros Civil (arquivos ou livros 
próprios para registro). 
 Sistema de Informações sobre Mortalidade 
(SIM); Sistema de Informações sobre 
Nascidos Vivos (SINASC). Ambos do 
Ministério da Saúde / DATASUS. 
 Registros e livros de autópsias: nos hospitais 
e Institutos de Medicina Legal. 
 Prontuários e estatísticas hospitalares. 
 Registros especiais de doenças: 
especialmente tuberculose e câncer. 
 Inquéritos. 
 Recenseamentos demográficos. 
Aprofundamento 
 
 
Leia: 
 Painel de 
Indicadores do SUS 
– uma publicação do 
Departamento de 
Monitoramento e 
Avaliação da Gestão 
do SUS 
Secretaria de Gestão 
Estratégica e 
Participativa 
Ministério da Saúde 
 
 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 93 
 Registros diversos: repartições de polícia e 
departamentos de trânsito. 
 
Resumindo, as taxas brutas são facilmente 
calculadas e rapidamente disponíveis; entretanto, são 
medidas difíceis de interpretar e de serem comparadas 
com outras populações, pois dependem das variações 
na composição da população. Taxas ajustadas 
minimizam essas limitações, entretanto são fictícias e 
sua magnitude depende da população selecionada. 
 
CGM: Pop A x Pop B 
Idade Pop A % Óbitos Coef M A Pop B % Óbitos Coef M B 
0 a 4 17.243 11,25 102 5,9 19.727 7,58 38 1,9 
5 a 19 51.641 33,70 31 0,6 55.227 21,21 23 0,4 
20 a 44 57.000 37,20 149 2,6 101.339 38,93 178 1,8 
45 a 64 19.967 13,03 205 10,3 50.888 19,55 375 7,4 
65 e + 7.367 4,81 388 52,7 33.158 12,74 1.662 50,1 
Total 153.218 875 5,7 260.339 2.276 8,7 
 
 
EXERCÍCIO 1 
 
Analise os dados apresentados acima, duas populações 
A e B distribuídas por faixa etária, nº absoluto de óbitos 
ocorridos e mortalidade proporcional por idade. 
Compare a mortalidade nas duas populações e 
responda qual população apresenta maior mortalidade. 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 94 
 
EXERCÍCIO 2 
 
Qual indicador estima o risco de morrer a que está 
sujeita uma pessoa de uma determinada área, num 
determinado ano e seu valor é afetado pela composição 
etária da população. 
 
( A ) Coeficiente de Incidência; 
( B ) Coeficiente de Letalidade; 
( C ) Coeficiente de Mortalidade Geral; 
( D ) Mortalidade Proporcional por Idade. 
 
 
EXERCÍCIO 3 
 
Podemos dizer sobre os Coeficientes Específicos de 
Mortalidade por causas: 
 
( A ) Expressam gravidade; 
( B ) Não abrangem todo o espectro de eventos que 
acometem a população (alta incidência com baixa 
letalidade); 
( C ) Podem substituir indicadores de morbidade 
quando estes não estão disponíveis; 
( D ) Alta taxa de letalidade da morbidade da 
população (ex.: CA de pâncreas, raiva); 
( E ) Todas as anteriores. 
Aula 3 | Estatísticas vitais e a medida da saúde 95 
 
EXERCÍCIO 4 
 
Podemos dizer sobre o Coeficiente de Mortalidade 
Infantil: 
 
( A ) Estima o risco de um nascido vivo morrer antes 
de completar um ano de vida; 
( B ) Ótimo indicador de saúde, de condições de vida e 
de desenvolvimento social de uma região; 
( C ) Interpretação: ≥ 50: alta 20 – 49: Média; < 20: 
baixa; 
( D ) Todas as anteriores. 
 
 
EXERCÍCIO 5 
 
Diferencie prevalência de incidência e traga exemplos 
para ilustrar estas definições. 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
 
 
 
Introdução ao 
Conceito de Vigilância 
em Saúde – 
Desigualdades em 
Saúde 
 
Alzira Falcão 
Silvia Faria 
A
U
L
A
 
4 
 
 
A
p
re
s
e
n
ta
ç
ã
o
 
As ações de investigação epidemiológica e as medidas de 
prevenção e controle das doenças transmissíveis são 
fundamentais para melhorar a condição de saúde de nossa 
população pela eliminação e/ou atenuação dos riscos associados à 
rápida disseminação ou persistência com grande impacto sobre a 
morbimortalidade que as mesmas apresentam. A Vigilância 
Epidemiológica tem se constituído em importante instrumento de 
controle de doenças transmissíveis capaz de responder aos 
desafios postos pelo complexo perfil epidemiológico da atualidade, 
através de monitoramento contínuo do perfil (tendência) de uma 
doença/agravo na população, gerando informação para a ação. 
 
 
 
 
O
b
je
ti
v
o
s
 
 
 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Entender o Conceito; 
 Compreender os Objetivos; 
 Sintetizar as Características Gerais do Sistema de Vigilância; 
 Entender os Aspectos Operacionais; 
 Conhecer as Limitações dos Sistemas de Notificações de 
Doenças. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 98 
desigualdades em saúde 
A Vigilância como Instrumento de Saúde 
Pública 
 
CONCEITO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE PÚBLICA 
 
Langmuir apresentou, em 1963, o seguinte 
conceito: 
 
Vigilância é a observação contínua da 
distribuição e tendências da incidência 
de doenças mediante a coleta 
sistemática, consolidação e avaliação 
de informes de morbidade e 
mortalidade, assim como de outros 
dados relevantes, e a regular 
disseminação dessas informações a 
todos os que necessitam conhecê-la.Esse autor foi cuidadoso ao distinguir a vigilância 
tanto da responsabilidade das ações diretas de 
controle, que deveriam ficar afetas às autoridades 
locais de saúde, quanto da epidemiologia no sentido 
amplo de método ou de ciência, embora reconhecesse a 
importância da interface entre as três atividades. 
 
Langmuir era favorável ao conceito de vigilância 
como uma aplicação da epidemiologia em saúde 
pública, que denominava inteligência epidemiológica. O 
profissional que trabalha na vigilância deveria assumir o 
papel dos "olhos e ouvidos da autoridade sanitária", 
devendo assessorá-la quanto à necessidade de medidas 
de controle; porém, a decisão e a operacionalização 
dessas medidas devem ficar sob a responsabilidade da 
autoridade sanitária. 
 
A vigilância adquirirá o qualificativo 
epidemiológica em 1964, em artigo sobre o tema 
publicado por Raska, designação que será 
internacionalmente consagrada com a criação, no ano 
seguinte, da Unidade de Vigilância Epidemiológica da 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 99 
desigualdades em saúde 
Divisão de Doenças Transmissíveis da Organização 
Mundial da Saúde. 
 
Raska afirmava que a vigilância deveria ser 
conduzida respeitando as características particulares de 
cada doença, com o objetivo de oferecer as bases 
científicas para as ações de controle. Afirmava, ainda, 
que sua complexidade técnica está condicionada aos 
recursos disponíveis de cada país. 
 
Em 1968, a 21ª Assembléia Mundial de Saúde 
promove ampla discussão a respeito da aplicação da 
vigilância no campo da saúde pública, resultando 
dessas discussões uma visão mais abrangente desse 
instrumento, com recomendações para a sua utilização 
não só em doenças transmissíveis, mas também em 
outros eventos adversos à saúde. 
 
A partir da década de 70, a vigilância passa a 
ser aplicada também ao acompanhamento de 
malformações congênitas, envenenamentos na infância, 
leucemia, abortos, acidentes, doenças profissionais, 
outros eventos adversos à saúde relacionados a riscos 
ambientais, como poluição por substâncias radioativas, 
metais pesados, utilização de aditivos em alimentos e 
emprego de tecnologias médicas, tais como 
medicamentos, equipamentos, procedimentos 
cirúrgicos e hemoterápicos. 
 
Thacker & Berkelman, em extenso trabalho 
publicado em 1988, discutem, entre outros pontos, os 
limites da prática da vigilância e analisam a apropriação 
do termo epidemiológica para qualificar vigilância na 
forma em que ela era aplicada até então em saúde 
pública. 
 
Afirmam esses autores que as informações 
obtidas como resultado da vigilância podem ser usadas 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 100 
desigualdades em saúde 
para identificar questões a serem pesquisadas, como é 
o caso de testar uma hipótese elaborada a partir de 
dados obtidos numa investigação de um surto, relativa 
a uma possível associação entre uma exposição (fator 
de risco) e um efeito (doença), ou avaliadas quanto à 
necessidade de definir determinada estratégia de 
controle de uma doença. 
 
Porém, enfatizam que a vigilância não abrange a 
pesquisa nem as ações de controle; essas três práticas 
de saúde pública são relacionadas, mas independentes. 
As atividades desenvolvidas pela vigilância situam-se 
num momento anterior à implementação de pesquisas 
e à elaboração de programas voltados ao controle de 
eventos adversos à saúde. 
 
Nesse contexto, afirmam Thacker & Berkelman, 
o uso do termo epidemiológica para qualificar vigilância 
é equivocado, uma vez que epidemiologia é uma 
disciplina abrangente, que incorpora a pesquisa e cuja 
aplicação nos serviços de saúde vai além do 
"instrumento de saúde pública que denominamos 
vigilância". A utilização desse qualificativo tem induzido 
frequentemente a confusões, reduzindo a aplicação da 
epidemiologia nos serviços ao acompanhamento de 
eventos adversos à saúde, atividade que constitui 
somente parte das aplicações da epidemiologia nesse 
campo. 
 
Devido a essa discussão, Thacker & Berkelman 
propõem a adoção da denominação vigilância em saúde 
pública como forma de evitar confusões a respeito da 
precisa delimitação dessa prática. 
 
Essa denominação, vigilância em saúde pública, 
desde então consagrou-se internacionalmente, 
substituindo o termo vigilância epidemiológica e 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 101 
desigualdades em saúde 
passando a ser utilizada em todas as publicações sobre 
o assunto desde o início dos anos 90. 
 
A vigilância nas formas propostas por Langmuir 
e Raska desenvolveu-se e consolidou-se na segunda 
metade deste século, apresentando variações em sua 
abrangência em países com diferentes sistemas 
políticos, sociais e econômicos e com distintas 
estruturas de serviços de saúde. Um dos principais 
fatores que propiciaram a disseminação em todo o 
mundo desse instrumento foi a Campanha de 
Erradicação da Varíola, nas décadas de 60 e 70. 
 
Utilizando o enfoque sistêmico e sintetizando os 
diversos conceitos de vigilância, sem discutir o mérito 
de cada um deles para um particular sistema de saúde, 
podemos dizer que a vigilância de um específico evento 
adverso à saúde é composta, ao menos, por dois 
subsistemas: 
 
1. Subsistema de informações para a agilização 
das ações de controle - situa-se nos sistemas locais de 
saúde e tem por objetivo agilizar o processo de 
identificação e controle de eventos adversos à saúde. A 
equipe que faz parte desse subsistema deve estar 
perfeitamente articulada com a de planejamento e 
avaliação dos programas, responsável, portanto, pela 
elaboração das normas utilizadas no nível local dos 
serviços de saúde. 
 
2. Subsistema de inteligência epidemiológica - é 
especializado e tem por objetivo elaborar as bases 
técnicas dos programas de controle de específicos 
eventos adversos à saúde. 
 
Salientamos que norma deve ser entendida no 
sentido utilizado em planejamento, ou seja, como um 
instrumento para planejamento e avaliação de 
Importante 
 
 
1. Alexander 
Langmuir, 
epidemiologista 
norte-americano, é 
considerado um dos 
principais mentores 
do desenvolvimento 
da vigilância como 
instrumento de 
saúde pública. 
 
2. Karel Raska, 
epidemiologista 
tcheco, é 
considerado, 
juntamente com 
Alexander Langmuir, 
um dos principais 
responsáveis pela 
ampla difusão da 
vigilância como 
instrumento de 
saúde pública. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 102 
desigualdades em saúde 
programas de saúde; portanto, deve ser adequada à 
realidade local. Ao falarmos em bases técnicas de um 
programa, estamos nos referindo à fundamentação 
técnica de um programa, que apresenta um caráter 
mais universal. 
 
Por exemplo, as bases técnicas para um 
programa de controle de difteria em Santa Catarina, na 
Bahia ou, talvez, na Polônia são muito semelhantes; o 
que irá diferir é a norma, que deve estar vinculada às 
características locais do comportamento da doença na 
comunidade, devendo também levar em consideração 
os recursos humanos, materiais e a tecnologia 
disponíveis para o desenvolvimento dos programas de 
controle. 
 
Outro objetivo do subsistema de inteligência 
epidemiológica é identificar lacunas no conhecimento 
científico e tecnológico, uma vez que, à medida que for 
acompanhando o comportamento de específicos 
eventos adversos à saúde na comunidade, poderá, 
eventualmente, detectar mudanças desse 
comportamento não explicadas pelo conhecimento 
científico disponível. Identificada essa lacuna no 
conhecimento disponível, é papel da inteligência 
epidemiológica induzir a pesquisa. 
 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 103 
desigualdades em saúde 
Esse subsistema tem por função também 
incorporar aos serviços de saúde o novo conhecimento 
produzido pela pesquisa, com o objetivo de aprimorar 
asmedidas de controle. Isso pode ser feito introduzindo 
esse novo conhecimento nas bases técnicas que são 
encaminhadas aos serviços de saúde na forma de 
recomendações disseminadas por boletins 
epidemiológicos. Esse subsistema constitui a ponte 
entre o subsistema de serviços de saúde e o 
subsistema de pesquisa do Sistema Nacional de Saúde. 
 
OBJETIVOS DOS SISTEMAS DE VIGILÂNCIA 
 
Entre os principais objetivos da vigilância, 
podemos citar: 
 
 Identificar novos problemas de saúde pública. 
 Detectar epidemias; 
 Documentar a disseminação de doenças; 
 Estimar a magnitude da morbidade e 
mortalidade causadas por determinados 
agravos; 
 Identificar fatores de risco que envolvem a 
ocorrência de doenças; 
 Recomendar, com bases objetivas e 
científicas, as medidas necessárias para 
prevenir ou controlar a ocorrência de 
específicos agravos à saúde; 
 Avaliar o impacto de medidas de intervenção 
por meio de coleta e análise sistemática de 
informações relativas ao específico agravo, 
objeto dessas medidas; 
 Avaliar a adequação de táticas e estratégias 
de medidas de intervenção, com base não só 
em dados epidemiológicos, mas também nos 
referentes à sua operacionalização; 
 Revisar práticas antigas e atuais de sistemas 
de vigilância com o objetivo de discutir priorida 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 104 
desigualdades em saúde 
des em saúde pública e propor novos 
instrumentos metodológicos. 
 
Não podemos entender como objetivo da 
vigilância a mera coleta e análise das informações, mas 
a responsabilidade de elaborar, com fundamento 
científico, as bases técnicas que guiarão os serviços de 
saúde na elaboração e implementação dos programas 
de saúde com a preocupação de uma contínua 
atualização e aprimoramento. 
 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS SISTEMAS DE 
VIGILÂNCIA 
 
Devido às peculiaridades de cada sistema 
nacional de saúde, temos diferentes conceitos de 
vigilância; porém, existem algumas características que 
são internacionalmente aceitas, entre elas: 
 
1. Os sistemas de vigilância devem ser simples e 
contínuos. 
 
2. Os sistemas de vigilância apresentarão, 
obrigatoriamente, três componentes: 
 
 coleta de dados; 
 análise; 
 ampla distribuição das informações analisadas 
a todos aqueles que as geraram e que delas 
necessitam tomar conhecimento. O 
instrumento de divulgação das informações 
analisadas será o Boletim Epidemiológico. 
 
3. A vigilância como instrumento de saúde 
pública deve ser entendida como um pré-requisito para 
a elaboração de programas de saúde e um instrumento 
para avaliação do seu impacto. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 105 
desigualdades em saúde 
4. Devem ser úteis também para a identificação 
dos fatores de risco e das populações vulneráveis à 
exposição ao risco, de forma a tornar mais efetivas as 
medidas de controle. 
 
5. Devem submeter-se a avaliações frequentes, 
de forma que eles possam se adequar às características 
dos sistemas nacionais de saúde, em cada momento. 
 
6. Cada sistema de vigilância será responsável 
pelo acompanhamento contínuo de específicos eventos 
adversos à saúde, com o objetivo de estabelecer as 
bases técnicas, assim como as normas para a 
elaboração e implementação dos respectivos programas 
de controle. 
 
7. Cada sistema de vigilância, de acordo com 
seus objetivos e peculiaridades, apresentará 
características específicas. 
 
8. Os sistemas de vigilância de específicos 
eventos adversos à saúde são pré-requisitos para a 
elaboração e instrumento para a avaliação e 
reformulação periódica de programas de controle de 
agravos à saúde. 
 
9. Os sistemas de vigilância de específicos 
eventos adversos à saúde incluem o acompanhamento 
dos respectivos programas de controle com o objetivo 
de avaliar o impacto deles decorrente. 
 
10. Os sistemas de vigilância devem ser 
adequados, periodicamente, às condições da estrutura 
e grau de desenvolvimento e complexidade tecnológica 
do Sistema Nacional de Saúde (SNS). 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 106 
desigualdades em saúde 
11. Os sistemas de vigilância constituem o elo 
entre o subsistema de serviços de saúde e o de 
pesquisa do SNS. 
 
12. Os sistemas de vigilância abrangerão 
quaisquer eventos adversos à saúde, poderão ser 
desenvolvidos nas formas ativa ou passiva e utilizarão 
todas as fontes de informações necessárias e 
disponíveis. 
 
13. Os sistemas de vigilância podem ser 
entendidos também como a inteligência do SNS voltada 
ao estabelecimento das bases técnicas para as ações de 
controle de específicos eventos adversos à saúde. 
 
14. O SNS deverá desenvolver tantos sistemas 
de vigilância para específicos eventos adversos à saúde 
quantos sejam os problemas prioritários de saúde para 
os quais haja possibilidade de desenvolver programas 
nacionais, estaduais, regionais ou locais de controle. 
Por sua vez, os sistemas locais de saúde poderão ou 
não aderir a cada um desses sistemas, conforme suas 
prioridades e recursos disponíveis para desenvolver os 
programas de controle dos agravos correspondentes. 
Constituem exceções as doenças de notificação 
compulsória. 
 
15. Os sistemas de vigilância pressupõem a 
existência de programas continuados de formação e 
treinamento de recursos humanos, especialmente de 
epidemiologistas. 
 
ASPECTOS OPERACIONAIS DA VIGILÂNCIA EM 
SAÚDE PÚBLICA 
 
Definidos os aspectos conceituais da vigilância 
em saúde pública, vamos apresentar e discutir a sua 
operacionalização. Ao planejarmos desenvolver 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 107 
desigualdades em saúde 
sistemas de vigilância para específicos agravos à saúde, 
é importante considerar dois pontos: 
 
 a vigilância pode variar em metodologia, 
abrangência e objetivos; 
 a vigilância necessita ser adequada ao nível 
de complexidade e grau de desenvolvimento 
tecnológico dos sistemas de saúde em que 
será implantada. 
 
Identificação de prioridades 
 
O primeiro passo é estabelecer os critérios de 
prioridade a serem observados na identificação de 
agravos à saúde que deverão ser contemplados com 
sistemas específicos de vigilância. 
 
Os critérios frequentemente recomendados são 
os seguintes: 
 
 incidência e prevalência de casos; 
 letalidade; 
 índices de produtividade perdida como, por 
exemplo, dias de incapacidade no leito, dias 
de trabalho perdidos; 
 taxa de mortalidade; 
 existência de fatores de risco ou fatores de 
prognóstico suscetíveis a medidas de 
intervenção; 
 impacto potencial das medidas de intervenção 
sobre os fatores de risco (risco atribuível); 
 possibilidade de compatibilizar as diversas 
intervenções em programas de controle 
polivalentes; 
 anos de vida potencialmente perdidos; 
 custo e factibilidade da intervenção versus 
eficácia; 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 108 
desigualdades em saúde 
 existência de medidas eficazes de profilaxia e 
controle (vulnerabilidade do dano às 
intervenções profiláticas e terapêuticas); 
 identificação de subgrupos da população que 
estarão sujeitos a um risco elevado de serem 
atingidos pelo dano. 
 
ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE 
VIGILÂNCIA 
 
Quando decidimos implementar um sistema de 
vigilância, cumpre seguir as seguintes etapas: 
 
1ª etapa - definição dos objetivos do 
sistema de vigilância proposto 
 
Entre os objetivos frequentemente utilizados, 
temos: 
 
 descrição da história natural de uma doença; 
 identificação e investigação de surtos de 
determinado agravo; 
 acompanhamento de tendências; 
 identificação de contatos de doentes para a 
administração de drogas de ação profilática; 
 identificação de casos num estudo de caso-
controle; 
 geração de hipóteses sobre a etiologia. 
 
2ª etapa - definiçãode caso 
 
A definição precisa do que se considera "caso" 
para o específico agravo à saúde contemplado pelo 
sistema de vigilância é uma questão técnica importante 
para o aprimoramento da qualidade da informação, 
permitindo a comparabilidade dos dados. 
 
Como exemplo, as definições de caso de 
poliomielite em diferentes momentos do 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 109 
desigualdades em saúde 
desenvolvimento do programa em nosso país. Quando 
o objetivo era estabelecer um sistema de vigilância 
voltado a um programa de controle dessa doença, a 
definição de caso poderia ser a seguinte: 
 
 Doença infecciosa aguda, com paralisia flácida 
assimétrica não reversível seis meses após o 
quadro agudo, sem alteração da 
sensibilidade; 
 Num outro momento, quando a vigilância 
visava oferecer subsídios para um programa 
de eliminação do poliovírus selvagem, a 
definição de caso poderia ser: doença 
infecciosa aguda, com paralisia flácida 
assimétrica não reversível seis meses após o 
quadro agudo, sem alteração da 
sensibilidade, com isolamento de poliovírus 
caracterizado por técnicas moleculares como 
selvagem e conversão sorológica para o 
poliovírus isolado; 
 A característica da primeira definição que nos 
chama a atenção é a elevada sensibilidade, 
fator que deve repercutir positivamente na 
capacidade do sistema de vigilância de 
identificar um maior número de casos. No 
entanto, deve também elevar o número de 
casos falsamente positivos. 
 
A segunda definição, por sua vez, é bem mais 
específica: diminui provavelmente o número de casos 
falsamente positivos, mas deve reduzir também a 
capacidade do sistema de identificar casos. 
 
Em determinadas situações, como é o caso de 
sistemas de vigilância para planos de eliminação de 
doenças, podemos utilizar duas definições: uma 
definição de caso suspeito e outra de caso confirmado; 
a primeira, mais sensível, e a segunda, mais específica. 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 110 
desigualdades em saúde 
Utilizando essa estratégia, obteremos resultados 
semelhantes àqueles proporcionados pela aplicação de 
testes de laboratório em série, como, por exemplo, a 
aplicação da técnica de ELISA e em seguida a de 
Westernblot no diagnóstico da AIDS. 
 
3ª etapa - identificação dos componentes 
do sistema de vigilância 
 
Estabelecidos os objetivos e a definição de caso, 
devemos passar a identificar os componentes do 
sistema, que são os seguintes: 
 
 Qual a população alvo desse sistema de 
vigilância? 
 Qual a periodicidade da coleta de 
informações? 
 Quais informações serão coletadas? 
 Qual é a fonte dessas informações? Quem 
provê a informação para o programa? 
 Como a informação será coletada? 
 Como é transferida a informação? 
 Quem analisa as informações? 
 Como são analisadas as informações? 
 Com que frequência são analisadas as 
informações? 
 Com que frequência são difundidos os 
relatórios? 
 
4ª etapa - elaboração do fluxograma para 
cada sistema de vigilância 
 
Nesta etapa, apresentam-se numa forma gráfica 
os principais passos a serem seguidos por um sistema 
de vigilância; quanto maior e mais complexo esse 
esquema, mais dispendioso será o sistema. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 111 
desigualdades em saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tipos de sistemas de vigilância 
 
Dependendo das características do agravo, dos 
objetivos do sistema, dos recursos disponíveis, da fonte 
ou das fontes de informação a serem utilizadas, 
podemos optar por sistemas ativos ou passivos de 
vigilância. Para tomarmos a decisão a esse respeito, 
devemos analisar as vantagens, desvantagens e 
limitações de cada uma dessas duas opções. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 112 
desigualdades em saúde 
SISTEMAS PASSIVOS 
 
Os sistemas de vigilância passiva caracterizam-
se por terem como fonte de informação a notificação 
espontânea, constituindo o método mais antigo e 
frequentemente utilizado na análise sistemática de 
eventos adversos à saúde, e, além disso, são aqueles 
que apresentam menor custo e maior simplicidade. 
Porém, esse tipo de vigilância tem a desvantagem de 
ser menos sensível, ou seja, é mais vulnerável à 
subnotificação, portanto menos representativo, 
apresentando maior dificuldade para a padronização da 
definição de caso. 
 
Alguns estudos têm demonstrado que, mesmo 
para doenças comuns, em países que contam com 
serviços de saúde mais organizados, a proporção de 
casos notificados pode variar de 10% a 63% dos casos 
realmente ocorridos na comunidade. Além disso, para 
determinadas doenças infecciosas, cujo agente 
etiológico apresenta baixa patogenicidade como, por 
exemplo, a hepatite A, a infecção frequentemente não 
é diagnosticada. 
 
Apesar de as notificações obtidas passivamente 
não oferecerem uma visão completa da ocorrência da 
doença, nem sempre é essencial dispormos do número 
total de casos para estabelecer medidas efetivas de 
controle. Mudanças na distribuição etária e cronológica 
dos casos de uma doença, mesmo dispondo de dados 
subestimados, podem ser analisadas para detectar 
epidemias e avaliar medidas de intervenção. 
 
A subnotificação de doenças pode determinar a 
diminuição da eficiência das ações de controle de 
doenças à medida que: 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 113 
desigualdades em saúde 
 induzir distorções na tendência observada em 
sua incidência ou na estimativa do risco 
atribuível para se contrair uma enfermidade; 
 interferir na exatidão da avaliação do impacto 
de medidas de intervenção. 
 
SISTEMAS ATIVOS 
 
Outro tipo de vigilância são os sistemas ativos 
de coleta de informações. Essa forma de obtenção de 
dados é, geralmente, aplicada a doenças que ocorrem 
raramente ou em sistemas de vigilância epidemiológica 
voltados aos programas de erradicação de doenças. 
 
Os sistemas ativos de vigilância caracterizam-se 
pelo estabelecimento de um contato direto, a intervalos 
regulares, entre a equipe da vigilância e as fontes de 
informação, geralmente constituídas por clínicas 
públicas e privadas, laboratórios e hospitais. 
 
Os sistemas ativos de coleta de informação 
permitem um melhor conhecimento do comportamento 
dos agravos à saúde na comunidade, tanto em seus 
aspectos quantitativos quanto qualitativos. No entanto, 
são geralmente mais dispendiosos, pois necessitam de 
uma melhor infra-estrutura dos serviços de saúde. 
 
FONTES DE DADOS PARA SISTEMAS DE 
VIGILÂNCIA 
 
O desenvolvimento de sistemas de vigilância 
implica o acesso à elevada gama de informações, 
especialmente as relativas à morbidade, mortalidade, 
estrutura demográfica, estado imunitário e nutricional 
da população, situação sócio-econômica, saneamento 
ambiental, entre outras. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 114 
desigualdades em saúde 
Com referência às fontes de dados que se 
oferecem para a implementação de sistemas de 
vigilância de agravos específicos, podemos citar seis 
como as mais importantes: 
 
1. Vigilância com base em sistemas de 
notificações de doenças 
 
Essa fonte, quando na sua forma típica, tem por 
base leis e regulamentos que obrigam o médico e 
outros profissionais de saúde a notificar doenças da 
maneira mais ágil possível às autoridades locais e 
estaduais da saúde. Nesse caso, o tipo de vigilância é o 
passivo. É a fonte de informação para sistemas de 
vigilância mais utilizada na maioria dos países. 
 
Vale salientar que atualmente existe uma 
tendência, principalmente em países desenvolvidos, a 
usar, com maior frequência, mesmo para doenças 
infecciosas, sistemas de vigilância que têm por fonte de 
informação hospitais e laboratórios em vez da 
notificação compulsória.2. Vigilância com base em sistemas 
articulados de laboratórios 
 
Os sistemas de vigilância que utilizam essa fonte 
de dados desenvolvem-se a partir do isolamento de 
cepas de microrganismos ou de parasitas em 
laboratórios, públicos ou privados, responsáveis pelo 
apoio diagnóstico oferecido aos serviços locais de 
saúde. 
 
Essas cepas são posteriormente enviadas ao 
laboratório de saúde pública de referência para a 
caracterização taxonômica (classificação do gênero e 
espécie) e a identificação de marcadores 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 115 
desigualdades em saúde 
epidemiológicos relacionados a determinado tipo de 
comportamento de interesse para a vigilância. 
 
3. Vigilância com base em dados 
hospitalares 
 
O hospital é uma fonte importante de 
informação para os sistemas de vigilância, 
especialmente de doenças nas quais o tratamento 
hospitalar é praticamente obrigatório. 
 
No caso dessas enfermidades, o 
desenvolvimento de sistemas ativos de vigilância, 
utilizando os diagnósticos de altas hospitalares, permite 
o aumento significativo de sua representatividade. No 
entanto, quando isso não for possível, o levantamento 
periódico desses dados nos oferece avaliação do nível 
de subnotificação. 
 
Sistemas de vigilância de infecções hospitalares 
podem ser implementados por meio do 
acompanhamento contínuo de dados obtidos de uma 
amostra representativa das unidades hospitalares de 
uma região. Nesse caso, é indispensável a integração 
com sistemas articulados de vigilância de base 
laboratorial voltados, principalmente, para bactérias de 
maior importância associadas a infecções ocorridas em 
ambiente hospitalar. 
 
Unidades hospitalares constituem também 
fontes importantes de informações para sistemas de 
vigilância de eventos adversos à saúde decorrentes da 
aplicação de tecnologias médicas. Um exemplo é o 
acompanhamento sistemático de informações relativas 
à evolução e efeitos colaterais verificados em pacientes 
submetidos, por distintas indicações clínicas ou clínico-
cirúrgicas, a diferentes esquemas de radioterapia. 
Outro é o desenvolvimento de sistemas de vigilância 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 116 
desigualdades em saúde 
integrados de bases hospitalar e laboratorial para 
septicemias causadas por bactérias Gram-negativas 
decorrentes de infecção hospitalar. 
 
A notificação de doenças a partir do diagnóstico 
de altas hospitalares, especificando a época do início da 
doença e os locais de residência e de trabalho dos 
pacientes, pode permitir a identificação da ocorrência 
de agregados de casos de eventos adversos à saúde. 
 
É possível desenvolver também sistemas de 
vigilância com base em informações obtidas em 
hospitais a partir de pacientes não internados, mas que 
frequentam ambulatórios hospitalares. Alguns países 
aplicam essa estratégia para a vigilância da gripe. 
 
4. Vigilância com base em "eventos 
sentinelas" 
 
Esse tipo de fonte de informação pode ser 
utilizado em sistemas de vigilância de agravos que 
sejam identificados indiretamente por meio do que tem 
sido denominado eventos sentinelas de saúde. 
 
O termo "evento sentinela" tem sido aplicado 
para eventos que podem servir de alerta a profissionais 
da saúde a respeito da possível ocorrência de agravos 
preveníveis, incapacidades ou de óbitos possivelmente 
associados à má qualidade de intervenções de caráter 
preventivo ou terapêutico, que devem ser aprimorados. 
 
Essa metodologia permite, ainda que com 
ressalvas, avaliar a importância de determinadas 
doenças profissionais ou associadas à ocupação como 
causa de óbito. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 117 
desigualdades em saúde 
5. Vigilância com base em informações 
obtidas de "médicos sentinelas" 
 
Uma fonte de informação para sistemas de 
vigilância muito utilizada em alguns países como Reino 
Unido, Holanda e Bélgica é a denominada "rede de 
médicos sentinelas". Essa metodologia é utilizada com 
o objetivo de obter informações relativas à incidência e 
aspectos mais importantes do comportamento de 
determinados eventos adversos à saúde. Esse tipo de 
fonte de informação apresenta alguns problemas 
operacionais, principalmente relativos à garantia do 
grupo de médicos sentinelas como amostra 
representativa. 
 
6. Vigilância com base em informações 
obtidas em unidade de assistência primária à 
saúde 
 
Essa fonte de informação é das mais utilizadas 
na maioria dos países para sistemas de vigilância. No 
entanto, tanto os médicos como os demais profissionais 
da saúde não se engajam com a intensidade 
necessária, e a subnotificação e o preenchimento 
incompleto das informações diminuem o desempenho 
desses sistemas. 
 
Um dos problemas é a questão da falta de 
homogeneidade de critérios utilizados pelos médicos no 
estabelecimento do diagnóstico. Uma das maneiras de 
padronizar os dados necessários às estatísticas de 
saúde é a aplicação da Classificação Internacional de 
Doenças (CID). 
 
Essas seis fontes de informação podem ser 
consideradas como as mais importantes para o 
desenvolvimento de sistemas de vigilância, ao passo 
que as formas ativas e passivas para a obtenção de 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 118 
desigualdades em saúde 
dados podem ser utilizadas isoladamente ou de 
maneira combinada. 
 
AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE VIGILÂNCIA 
 
O desenvolvimento de sistemas de vigilância 
requer revisões e modificações periódicas, baseadas em 
critérios explícitos de utilidade, custo e qualidade. Isso 
pode ser efetuado por meio de métodos adequados e 
específicos de avaliação. 
 
No processo de avaliação, deve-se levar em 
consideração que os sistemas de vigilância variam em 
metodologia, abrangência e objetivos, não obedecendo 
a uma única versão aplicável em todos os casos e para 
todas as situações nacionais e regionais. Devem variar 
de sociedade para sociedade, adequando-se às 
características dos serviços de saúde existentes, ou 
seja, aos recursos humanos e financeiros, assim como 
ao grau de complexidade das tecnologias disponíveis. 
 
Outro aspecto importante da avaliação de 
sistemas de vigilância epidemiológica é aquele relativo 
ao custo-benefício. No entanto, a metodologia aplicável 
à análise econômica, abrangendo custos diretos e 
indiretos de sistemas de vigilância epidemiológica, 
apresenta-se ainda de aplicação difícil em nosso meio. 
 
LIMITAÇÕES DE SISTEMAS DE NOTIFICAÇÕES DE 
DOENÇAS 
 
Embora os sistemas de vigilância não precisem 
ser perfeitos para serem úteis, muitas vezes certas 
limitações impedem que esse instrumento tenha a 
utilidade necessária que justifique sua implementação. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 119 
desigualdades em saúde 
Os fatores que frequentemente levam a 
limitações do desempenho de sistemas de vigilância 
são: 
 
 subnotificação; 
 baixa representatividade; 
 baixo grau de oportunidade; 
 inconsistência da definição de caso. 
 
A subnotificação geralmente decorre do fato de 
a maioria dos sistemas de vigilância serem passivos. É 
frequente nesses casos a subnotificação atingir níveis 
superiores a 50% ou 70% dos casos, determinando o 
retardo ou mesmo a ausência de ações de controle. 
 
A subnotificação está frequentemente 
relacionada a: 
 
 falta de conhecimento, por parte dos 
profissionais da saúde, da importância e dos 
procedimentos necessários para a notificação; 
 desconhecimento da lista de doenças 
submetidas à vigilância; 
 ausência de adesão à notificação, pelo tempo 
consumido no preenchimento da ficha e pela 
ausência do retorno da informação analisada 
com as recomendações técnicas pertinentes; 
 preocupação dos profissionais da saúde com 
referência à quebra da confidencialidade das 
informações; 
 falta de percepção, pelosprofissionais, da 
relevância em saúde pública das doenças 
submetidas à vigilância. 
 
A baixa representatividade de um sistema de 
vigilância pode resultar da falta de homogeneidade da 
subnotificação, dificultando a identificação de 
tendências, grupos e fatores de risco. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 120 
desigualdades em saúde 
Os dois erros sistemáticos mais observados são: 
 
 tendência a notificar mais os casos de maior 
gravidade e os hospitalizados do que os de 
características benignas, ainda que estes 
últimos possam constituir as principais fontes 
de infecção; 
 notifica-se com maior intensidade doenças 
que estão sendo focalizadas pelos meios de 
comunicação. 
 
A falta de oportunidade de um sistema de 
vigilância pode ocorrer em diferentes momentos por 
diversos motivos, entre eles: 
 
 dificuldade, em alguns casos, de se obter o 
diagnóstico antes da confirmação laboratorial; 
 ineficiência dos serviços no procedimento de 
notificação; 
 demora na análise - um problema frequente 
quando o sistema de vigilância é uma 
atividade mais burocrática do que técnica, 
voltada ao apoio dos serviços de saúde; 
 o retardo em qualquer fase do sistema leva a 
uma demora na disseminação da informação 
analisada, impedindo que a população e os 
profissionais da saúde tenham as informações 
indispensáveis para uma ação oportuna e 
eficiente. 
 
A inconsistência da definição de caso leva a 
vigilância a confirmar os casos aceitando o diagnóstico 
dos clínicos, independentemente da forma como eles 
foram efetuados. Como exemplo da necessidade de 
uma padronização dessa definição, podemos citar os 
critérios de confirmação das meningites assépticas, que 
podem variar de local para local e de um médico para 
outro. 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 121 
desigualdades em saúde 
MEDIDAS DIRIGIDAS AO APRIMORAMENTO DE 
SISTEMAS DE VIGILÂNCIA 
 
A participação dos médicos e demais 
profissionais da saúde é um ponto crítico da qualidade 
da coleta de dados; portanto, o esclarecimento dessas 
equipes, salientando a importância da notificação de 
doenças para o aprimoramento dos serviços de 
assistência à saúde, deve ser prioritário nos programas 
de treinamento e formação de recursos humanos para 
esse campo de atividade. Porém, cabe salientar que a 
adesão dos médicos e dos profissionais da saúde à 
notificação sistemática de casos está, em boa parte, 
condicionada à resposta da vigilância, ou seja, à 
frequência e agilidade com que ela devolve a esses 
profissionais as informações devidamente analisadas, 
acrescidas de recomendações técnicas úteis ao 
aprimoramento dos serviços de assistência à saúde. 
 
DESIGUALDADE EM SAÚDE E DIFERENÇAS ENTRE 
GRUPOS SOCIAIS: O QUE DEVEMOS MEDIR? 
 
Quando se mede a saúde da população, com o 
uso dos mais variados indicadores, devem ser 
considerados tanto as desigualdades em saúde como as 
diferenças de saúde entre grupos sociais. Ainda que a 
magnitude dessas diferenças seja um fato bastante 
reconhecido em muitos países, dos mais diferentes 
níveis de ingressos, existem controvérsias a respeito 
tanto do significado como da medição das 
desigualdades em saúde, assim como as diferenças de 
saúde entre grupos sociais e as situações de iniquidade. 
A falta de definições, de estratégias de medição e de 
indicadores padronizados vêm limitando, e continuará 
limitando, as comparações das desigualdades em saúde 
e, mais importante, as análises comparativas das 
determinantes destas desigualdades. Essa limitação diz 
Você sabia? 
 
 
A taxa de 
mortalidade infantil 
de crianças cujas 
mães têm educação 
secundária ou 
superior no Brasil é 
em média três vezes 
menor do que a de 
crianças cujas mães 
têm menos de três 
anos de estudos. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 122 
desigualdades em saúde 
respeito à comparação entre países, bem como para 
um mesmo país, ao longo do tempo. 
 
Chama-se a atenção quanto à importância 
desses estudos comparativos, essenciais para formular 
políticas eficazes que possibilitem aos governos reduzir 
essas desigualdades 
 
Os especialistas em saúde pública 
reiteradamente demonstram, porém, que a assistência 
médica é apenas um entre vários fatores determinantes 
da saúde da população - e nem sempre o mais 
importante. 
 
Fatores socioeconômicos, como renda, 
educação, qualidade de moradia e ambiente de 
trabalho, os chamados determinantes sociais da saúde, 
são tão ou mais importantes que a assistência médica, 
como confirma o importante relatório da Organização 
Mundial da Saúde: "Closing the Gap in a Generation: 
Health Equity through Action on the Social 
Determinant of Health". 
 
As enormes desigualdades no acesso à saúde 
ameaçam a estabilidade social e a segurança, 
destacando que a expectativa de vida nos países ricos 
pode ser até 40 anos maior do que nas nações pobres. 
 
O Relatório Mundial de Saúde 2008, dedicado a 
avaliar o atendimento primário de saúde, chega a 
conclusões muito críticas sobre a forma como 
aumentaram os desequilíbrios da saúde entre os países 
e entre grupos de população dentro de um mesmo 
Estado. Assim, o gasto público em saúde varia de US$ 
20 por pessoa por ano em certos países até US$ 6 mil 
em outros. Em países de renda média ou baixa, 5,6 
milhões de pessoas precisam pagar metade de todas as 
suas despesas médicas, o que, somado aos custos cada 
Para refletir 
 
 
Uma menina nascida 
no Lesoto, na África, 
viverá em média 42 
anos amenos que 
uma nascida no 
Japão. Na Suécia, as 
chances de uma 
mulher morrer 
durante a gravidez 
ou parto é de 1 em 
17.400; no 
Afeganistão, de 1 
em 8. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 123 
desigualdades em saúde 
vez mais elevados do atendimento médico, leva a cada 
ano mais de 100 milhões de pessoas para baixo da 
linha da pobreza. As diferenças em matéria de acesso 
também são chocantes, segundo a OMS, que cita o 
caso de Nairóbi, onde o índice de mortalidade entre 
crianças menores de 5 anos é de 15 entre cada mil nas 
zonas mais ricas da cidade, enquanto nas áreas pobres 
é de 254. "Os dados indicam uma situação na qual 
muitos sistemas de saúde perderam sua orientação em 
um acesso justo ao atendimento, sua capacidade de 
investir os recursos inteligentemente e de cobrir as 
necessidades das pessoas, principalmente dos pobres". 
 
O relatório da Comissão sobre os Determinantes 
Sociais da Saúde confirma e esclarece, com riqueza de 
dados, várias conexões intuitivas entre determinantes 
sociais e saúde, mas também refuta relações de 
causalidade que antes pareciam evidentes. 
 
Não surpreende, por exemplo, que a pobreza e 
as privações que ela implica, em termos de nutrição, 
educação, moradia e falta de cuidados médicos, tenha 
um impacto direto e significativo na saúde das pessoas. 
 
 O que talvez surpreenda muitos é que, a partir 
de um determinado nível (por volta de US$ 5.000 per 
capita), a renda em si deixa de ter impacto significativo 
na saúde da população. É isso o que explica, por 
exemplo, o fato de o país mais rico do mundo, os EUA, 
ocupar apenas a 44ª posição no ranking mundial de 
expectativa de vida e de outros países relativamente 
mais pobres, como a Costa Rica, apresentarem 
expectativa de vida similar a dos países mais ricos. 
 
Acima daquele patamar de renda, são as 
desigualdades sociais que têm impacto relevante. Em 
países mais igualitários, com políticas de proteção 
Você sabia? 
 
 
O Relatório Mundial 
de Saúde 2008 
(OMS) destaca que 
Brasil é exemplo na 
atenção básica à 
saúde. 
 
 
Para refletir 
 
 
Classes sociais e a 
desigualdade na 
saúde: 
 
Os padrões de 
doença, longevidade 
e os estilos de vida 
relacionados com a 
saúde, variam de 
acordo com as 
classes sociais, 
gênero e 
escolaridade. Os 
indivíduos quese 
inserem nas classes 
sociais que 
concentram maiores 
recursos econômicos 
e culturais 
apresentam em 
média, uma 
longevidade superior 
e tendem a adotar 
estilos de vida mais 
saudáveis. Pelo 
contrário, do 
conjunto dos 
indivíduos inseridos 
nas classes 
assalariadas de 
base, são sobretudo 
os Operários do sexo 
masculino que 
apresentam em 
média as 
longevidades mais 
baixas. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 124 
desigualdades em saúde 
social mais amplas e universalistas, a saúde da 
população é melhor e vice-versa. 
 
Essas conexões, que se repetem em todos os 
países, importam por duas razões fundamentais. Em 
primeiro lugar, porque revelam que as enormes 
desigualdades em saúde existentes entre (e dentro de) 
países é fruto de injustiça social. Como posto de uma 
maneira chocante, porém verdadeira, pelos autores do 
relatório, "a injustiça social está matando em grande 
escala". 
 
Em segundo lugar, porque indicam o caminho a 
ser seguido no combate a essa inaceitável situação. 
São necessárias políticas públicas que enfrentem os 
determinantes sociais da saúde como um todo, isto é, 
que vão além da assistência médica, na qual 
geralmente se coloca ênfase desproporcional nos países 
em desenvolvimento. 
 
Nesse ponto, o Brasil apresenta um histórico 
ambíguo. 
 
Ao mesmo tempo em que estamos 
implementando medidas como o Programa de Saúde da 
Família, citado no relatório da OMS como exemplo 
positivo de política pública que enfrenta os 
determinantes sociais da saúde, apresentamos um 
déficit de investimento em saneamento básico 
incompatível com nosso nível de desenvolvimento 
econômico (quase 30% da população brasileira não tem 
acesso a serviço de esgoto). 
 
Uma das explicações desta situação é que, em 
muitos casos, o atendimento se baseia em um modelo 
centrado nas doenças, na alta tecnologia e no cuidado 
especializado, esquecendo praticamente as 
possibilidades de prevenção. Segundo cálculos da OMS, 
Você sabia? 
 
 
Como o esgoto é um 
dos determinantes 
sociais importantes 
da saúde em geral 
e, particularmente, 
da mortalidade 
infantil, não 
surpreende que 
nossa taxa (19 por 
1.000 nascidos 
vivos) seja muito 
superior à verificada 
na Argentina 
(14/1.000) e na 
Costa Rica 
(11/1.000), países 
com PIB per capita 
similares ao nosso, 
mas cujo acesso da 
população à rede de 
esgoto é quase 
universal. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 125 
desigualdades em saúde 
"um melhor uso das medidas preventivas existentes 
poderia reduzir a carga global de doenças em até 
70%". Por outro lado, o relatório critica os casos em 
que "especialistas realizam tarefas que são melhor 
efetuadas por clínicos gerais, médicos de família ou 
enfermeiras", o que contribui para o encarecimento do 
serviço e, portanto, para que menos pessoas tenham 
acesso a ele. Destaca que o atendimento primário de 
saúde oferece a oportunidade de enfrentar três males 
do século XXI: os estilos de vida que fazem mal à 
saúde, a urbanização rápida e sem planejamento e o 
envelhecimento da sociedade. Lavar as mãos. Um fato 
tão simples como lavar as mãos com sabão antes de 
comer ou após ir ao banheiro reduziria à metade o 
número de mortes de crianças por diarreia, afirma o 
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). 
Lavar as mãos com sabão também pode reduzir a 
incidência de infecções respiratórias em 23% dos casos, 
entre elas a pneumonia, a primeira causa de morte de 
crianças com menos de cinco anos e que mata a cada 
ano 1,8 milhões pequeninos. Considera-se que lavar as 
mãos com sabão é "a intervenção mais efetiva e de 
menor custo" para evitar estas doenças. 
 
O Brasil é um país de desigualdades, muitas 
delas aceitáveis e valorizadas, e que fazem dele o país 
diverso e belo que admiramos. Mas é também o país 
desigual e iníquo que gostaríamos de mudar, com 
ações diretas ou com reprodução ou produção de 
conhecimento. Esse é o grande desafio que nos é posto 
desde sempre, reduzir as desigualdades injustas: a 
aviltante concentração de renda, as situações de 
miséria e fome, a dificuldade de acesso a bens e 
serviços básicos, a exploração do trabalho adulto e 
infantil, as condições desumanas de moradia, entre 
inúmeras outras mazelas nacionais. 
 
Para refletir 
 
 
Segundo o Unicef, 
5.000 crianças com 
menos de cinco anos 
morrem a cada dia - 
1,7 milhão por ano - 
por causa de 
doenças diarréicas 
perfeitamente 
evitáveis. A 
metade destas 
mortes poderia ser 
evitada com o 
simples 
procedimento de 
lavar as mãos com 
sabão nos 
momentos chaves. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 126 
desigualdades em saúde 
Um dos retratos possíveis da desigualdade no 
Brasil é representado pelo Índice de Desenvolvimento 
Humano, indicador composto que congrega renda, 
escolaridade e expectativa de vida. A apresentação 
cartográfica do Brasil, segundo o IDH dos municípios, 
mostra os muitos brasis que ele comporta, salientando-
se num extremo o Brasil gaúcho e catarinense, e no 
outro, o Brasil amazônico e nordestino. 
 
Com maiores e menores variações, a 
desagregação desse indicador no interior dos 
municípios, principalmente os metropolitanos e de 
maior porte, vai mostrar outras micros-situações de 
desigualdade e iniquidade, não detectadas quando o 
município é a unidade de análise. 
 
Uma publicação da Secretaria de Vigilância em 
Saúde/MS (Brasil 2004) apresenta, no nível macro 
(regiões geográficas ou estados como unidades de 
análise), uma série de indicadores que permitem 
evidenciar as desigualdades em saúde ou nos 
determinantes e condicionantes do processo saúde-
doença, ainda que externos ao setor saúde. A 
publicação salienta as desigualdades na estrutura 
demográfica, no saneamento básico, na disponibilidade 
de serviços de saúde e de recursos humanos, nos riscos 
de adoecer e morrer. Um extenso conjunto de 
indicadores que dá uma pequena amostra das 
desigualdades existentes entre as regiões brasileiras, 
cujos determinantes, na maioria das vezes, são 
indesejáveis, injustos e muitas vezes evitáveis, 
caracterizando tais desigualdades como iniquidades. 
 
Análises das distribuições de renda segundo as 
medidas de saúde avaliam o acesso a seguro saúde, as 
necessidades de cuidados médicos e consumo dos 
serviços de saúde no Brasil, segundo o rendimento do 
chefe de família. Verifica-se que os indivíduos mais 
Importante 
 
 
Desigualdade na 
Saúde: 
 
Um pior rendimento 
gera uma saúde 
mais precária, e 
uma pior saúde, um 
menor rendimento. 
É nesse sentido que 
políticas de provisão 
de saúde pública são 
políticas de combate 
à pobreza e à 
desigualdade. 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 127 
desigualdades em saúde 
pobres têm pior acesso a seguro, necessitam de 
maiores cuidados com a saúde, mas consomem menos 
os serviços, o que acaba por aprofundar o quadro de 
desigualdade dos rendimentos. 
 
As desigualdades em saúde no Brasil 
 
A desigualdade em saúde no Brasil está 
polarizada nos níveis nacional e intrarregional. A região 
Sul apresenta, em geral, indicadores mais favoráveis 
que as demais regiões. Essa, também, é a que 
apresenta resultados com alto grau de homogeneidade. 
As demais regiões mostram estruturas polarizadas, com 
o Norte e Nordeste apresentando indicadores 
predominantemente desfavoráveis e o Sudeste e 
Centro-oeste apresentando indicadores 
predominantemente favoráveis. Contudo, devido a 
limitações nas bases de dados, a polarização 
observada, principalmente no interior das regiões Norte 
e Nordeste, pode estar superestimada. 
 
Devido à magnitude das diferenças dos 
indicadores observados entre as regiões, o padrão que 
emerge pode ser definido como marcadamente 
assimétrico. Essa característica parece atravessar os 
vários eixos analisados do padrão da desigualdade em 
saúde noBrasil, tanto o relacionado à 
morbimortalidade, quanto o ligado à organização dos 
serviços de saúde, aí inclusos os sistemas de 
informação em saúde. Além disso, com exceção da 
região Sul, essa assimetria se expressa também no 
nível intrarregional. 
 
As deficiências quanto à qualidade da 
informação de saúde disponível apontam algumas 
limitações para as análises de desigualdade em saúde: 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 128 
desigualdades em saúde 
 uma parcela importante dos problemas de 
saúde da população pode estar invisível para 
os órgãos gestores da saúde; 
 espera-se que sistemas de saúde de menor 
grau de organização sejam mais expostos aos 
erros de registro de informação, distorcendo 
os diferenciais encontrados; 
 algumas variáveis essenciais para o estudo de 
desigualdades em saúde – ocupação, raça, 
dieta, tabagismo, consumo de álcool, entre 
outras – são negligenciadas em seu 
preenchimento ou estão ausentes das bases 
de dados em saúde. 
 
A pobreza remete às dificuldades inerentes à 
obtenção dos meios individuais ou societários de saúde, 
i.e., obtenção dos bens e serviços ligados direta ou 
indiretamente à saúde. Os serviços de saúde podem, 
per si, aumentar ou promover as desigualdades em 
saúde. Nesse aspecto, duas variáveis devem ser 
destacadas: acesso e qualidade dos serviços de saúde. 
Esse conjunto de variáveis é particularmente relevante, 
pois refere-se à esfera de intervenção imediata dos 
órgãos de saúde. 
 
O padrão epidemiológico coloca o Estado 
brasileiro frente a um grande desafio: combater 
simultaneamente a exposição aos fatores de risco das 
doenças do “atraso” e do “desenvolvimento”. Implica a 
intervenção, tanto por meio de políticas de ampliação 
de infraestrutura, redistribuição de riqueza e ampliação 
do acesso aos serviços públicos, quanto maior eficiência 
na regulação da composição dos produtos de consumo 
doméstico (alimentos, bebidas e fumo, higiene) e de 
uso na produção (agrotóxicos, solventes, exposição aos 
metais) e nas políticas de combate à violência e 
detecção precoce e tratamento das doenças crônico-
degenerativas. 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 129 
desigualdades em saúde 
Algumas intervenções de médio e longo alcance 
em termos de políticas de saúde para combater as 
desigualdades em saúde: 
 
 disseminar o uso de dados secundários sobre 
desigualdade em saúde, nos níveis nacional e 
infranacional, ao mesmo tempo em que se 
promova a melhoria de sua qualidade; 
 desenvolver um guia prático para subsidiar a 
realização desse tipo de estudo pelas 
Secretarias de Estado de Saúde e Secretarias 
Municipais de Saúde; 
 identificar e sugerir novas bases de dados 
para estudos de desigualdade em saúde que 
possam complementar as bases de dados 
existentes – para o monitoramento das 
desigualdades em saúde; 
 identificar ou desenvolver indicadores de 
desigualdade em saúde aplicáveis aos 
contextos nacional e regionais; 
 aprimorar metodologias para análise sobre 
desigualdades em saúde atribuíveis à 
organização dos serviços de saúde; 
 definir uma política articulada do setor saúde 
para a redução das desigualdades em saúde; 
 subsidiar a elaboração do Livro Verde sobre 
as desigualdades em saúde no Brasil. 
 
EXERCÍCIO 1 
 
Qual das seguintes alternativas não está relacionada 
com a vigilância de doenças? 
 
( A ) É um processo contínuo; 
( B ) Analisa a distribuição de específicas doenças; 
( C ) Abrange exclusivamente doenças de notificação 
compulsória; 
( D ) Inclui a análise do potencial de transmissão de 
específicas doenças. 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 130 
desigualdades em saúde 
 
 
 
EXERCÍCIO 2 
 
Vigilância de doenças é um processo sistemático de: 
 
( A ) Notificação de doenças, consolidação dos dados, 
análise das informações e implementação de 
medidas de controle; 
( B ) Notificação de morbidade, preparação de tabelas, 
gráficos, diagramas e distribuição das 
informações coletadas; 
( C ) Investigação de casos, cálculo de taxas de 
incidência e prevalência, análise dos dados e 
distribuição da informação; 
( D ) Coleta de dados, consolidação e análise dos 
dados, distribuição da informação, devidamente 
analisada, acrescida de recomendações técnicas 
visando medidas de controle de doenças 
específicas. 
 
EXERCÍCIO 3 
 
A(s) principal(ais) razão(ões) para um departamento de 
saúde desenvolver sistemas de vigilância de doenças 
para as quais não existam medidas de controle é(são): 
 
( A ) Identificar epidemias, quando elas ocorrem; 
( B ) Identificar atividades prioritárias em programas, 
quando medidas de controle forem disponíveis; 
( C ) Permitir a avaliação do impacto de medidas de 
controle, quando elas estiverem disponíveis; 
( D ) As alternativas "b" e "c" estão corretas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 4| Introdução ao conceito de vigilância em saúde - 131 
desigualdades em saúde 
 
EXERCÍCIO 4 
 
A consolidação das informações obtidas em sistemas de 
vigilância deve ser efetuada em: 
 
( A ) Níveis local e estadual; 
( B ) Nível nacional; 
( C ) Nível internacional; 
( D ) Todos os níveis citados. 
 
 
EXERCÍCIO 5 
 
Relacione cinco atributos a serem considerados quando 
avaliamos um sistema de vigilância. 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
 
EXERCÍCIO 6 
 
Quais são os três componentes obrigatórios de um 
sistema de vigilância? 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
 
 
 
Uso da Epidemiologia 
no planejamento das 
ações em saúde 
 
Alzira Falcão 
Silvia Faria 
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o
 
A vigilância epidemiológica deve fornecer orientação técnica 
permanente para os profissionais de saúde que têm a 
responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle 
de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, 
informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e 
agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área 
geográfica ou população definida. A vigilância epidemiológica 
constitui-se importante instrumento para o planejamento, 
organização e operacionalização dos serviços de saúde, bem como 
a normatização das atividades técnicas correlatas. Nessa 
perspectiva, nos propomos a discutir os limites e as possibilidades 
de desenvolvimento do enfoque epidemiológico no processo de 
reorientação da gestão e da organização social das práticas de 
saúde, bem como analisar a contribuição da epidemiologia ao 
desenvolvimento teórico-metodológico do planejamento de saúde. 
 
 
O
b
je
ti
v
o
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Ter a capacidade para monitorar continuamente a tendência de 
uma doença/agravo na população, estabelecendo medidas de 
prevenção e controle; 
 Conhecer o fluxo das informações no Sistema de Vigilância 
Epidemiológica (SVE); 
 Conhecer o papel e a responsabilidade dos diversos níveis no 
SVE; 
 Notificar e realizar a investigação epidemiológica de um caso 
suspeito. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 134 
Introdução 
 
A articulação entre a epidemiologia e o 
planejamento de saúde é um dos temas que mais tem 
mobilizado a atenção de pesquisadores, docentes e 
profissionais dos serviços, no contexto recente da 
Reforma Sanitária Brasileira. 
 
Isto tem ocorrido tanto a partir de um ponto de 
vista estritamente teórico quanto a partir de demandas 
e necessidades geradaspelo processo de 
implementação de estratégias para a construção de um 
novo sistema de saúde no país. 
 
Os aspectos abordados referem-se ao papel da 
epidemiologia na definição do objeto do planejamento 
de saúde, em vários níveis de gestão do sistema. 
 
Ao longo da evolução histórica do planejamento 
de saúde, a epidemiologia comparece como uma 
disciplina subsidiária, basicamente instrumental. 
 
Era utilizada na elaboração dos diagnósticos de 
saúde ao lado de outras disciplinas como a economia, a 
administração e as ciências políticas, bem como na 
formulação dos objetivos e metas, expressos em forma 
de redução de taxas e coeficientes de 
morbimortalidade, na programação de ações e nas 
propostas de acompanhamento e avaliação. 
 
Coloca-se a possibilidade de construção de uma 
nova prática sanitária entendida como uma forma de 
organização e operacionalização do sistema que 
enfatize as ações intersetoriais de promoção da saúde e 
as ações e serviços de prevenção de riscos e agravos 
junto a grupos populacionais priorizados. 
 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 135 
Vários avanços metodológicos e instrumentais 
vêm sendo propostos e aperfeiçoados, notadamente no 
que se refere aos Sistemas de Informação em Saúde, 
aos processos de análise da situação, ao planejamento 
de ações da chamada vigilância da saúde, às 
metodologias de capacitação gerencial e de avaliação 
de sistemas locais de saúde. 
 
Considera-se que a reorientação da gestão, do 
financiamento, da organização e, em última análise, do 
“modelo assistencial” do sistema são processos que não 
podem prescindir da epidemiologia, enquanto saber 
científico e prática instrumental que confere 
especificidade aos objetos de conhecimento e de 
intervenção no âmbito da saúde em sua dimensão 
populacional, isto é coletiva. Se este pressuposto é 
válido para países que já atravessaram a chamada 
“transição epidemiológica” e enfrentam uma situação 
de saúde em que prevalecem problemas derivados das 
modernas condições de vida típicas das sociedades 
urbano-industriais, é ainda mais pertinente em países 
como o Brasil, em que a situação de saúde reflete as 
extremas desigualdades sociais diante das condições de 
vida, definindo padrões heterogêneos no adoecer e no 
morrer. 
 
A contribuição da epidemiologia ao 
planejamento, gestão e organização do 
sistema de saúde 
 
A planificação, programação e operacionalização 
de ações e serviços voltados à melhoria das condições 
de vida e saúde, com redução das desigualdades 
sociais, exige, em primeiro lugar, um grande 
investimento na difusão do enfoque epidemiológico, 
paralelamente ao processo de descentralização da 
gestão do sistema para os estados e municípios. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 136 
Isto exige um movimento interno de 
aperfeiçoamento dos sistemas de informação, incluindo 
o desenho de novos indicadores de saúde, indicadores 
socioeconômicos, políticos e culturais, numa releitura 
crítica dos dados existentes. 
 
Com a adoção de mecanismos de financiamento 
que privilegiam a lógica do mercado transformando o 
próprio setor público em prestador de serviços, torna o 
exercício de planejamento um mero instrumento de 
captação de recursos e induz o processo de gestão a 
concentrar-se em aspectos administrativos, 
distanciando-se do reconhecimento dos problemas e 
necessidades de saúde da população e da gestão de 
processos de mudança na organização da produção de 
serviços em função desses problemas. 
 
Com a reprodução de um estilo de gestão e de 
um modelo assistencial que privilegiam a gerência 
contábil e o atendimento à demanda por serviços 
médico-ambulatoriais e hospitalares em detrimento das 
ações promocionais e de prevenção de agravos e danos 
à saúde coletiva, reforça-se a iniquidade no acesso aos 
serviços e a desigualdade das condições de vida e 
saúde da população. 
 
A epidemiologia é um campo de saber e práticas 
necessário ao processo de formulação de políticas, 
definição de prioridades, organização de serviços e 
avaliação de ações, tanto ao nível de “macro-sistemas” 
quanto e principalmente, ao nível “micro”, nos sistemas 
locais, especialmente no que diz respeito à redefinição 
dos “modelos assistenciais” e reorganização dos 
processos de trabalho em saúde. 
 
Ao nível “macro”, o grande desafio, sem dúvida, 
é a formulação e implementação de políticas de 
financiamento e gestão que tenham como propósito a 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 137 
promoção da equidade, isto é, a redução das 
desigualdades sociais expressas em termos de 
indicadores epidemiológicos e sócio-sanitários. 
 
Ações Prioritárias de Vigilância em Saúde 
 
A programação anual do Estado é representada 
pelas Ações Prioritárias de Vigilância em Saúde, que 
corresponde a um consolidado estadual, ou seja, uma 
sistematização do resultado de todo processo de 
elaboração de programação, envolvendo a composição 
orçamentária, o modelo de gestão, o modelo de 
atenção e os recursos estratégicos. No que tange 
especificamente ao modelo de atenção, contém o 
resultado da programação acordada entre municípios 
quanto à assistência, à vigilância sanitária, à vigilância, 
à prevenção e controle de doenças. 
 
As Ações Prioritárias de Vigilância em Saúde 
estabelecem um conjunto de atividades e metas, 
discutidas e acordadas entre a Secretaria de Vigilância 
em Saúde (SVS), Secretarias Estaduais de Saúde (SES) 
e Secretarias Municipais de Saúde (SMS), relativo à 
área de vigilância, prevenção e controle de doenças e 
ações básicas de vigilância sanitária. 
 
Essas ações estão agrupadas nos seguintes 
módulos: 
 
 Notificação de doenças e agravos; 
 Investigação epidemiológica; 
 Diagnóstico laboratorial de agravos de saúde 
pública; 
 Vigilância ambiental; 
 Vigilância de doenças transmitidas por 
vetores e antropozoonoses; 
 Controle de doenças; 
 Imunizações; 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 138 
 Monitorização de agravos de relevância 
epidemiológica; 
 Divulgação de informações epidemiológicas; 
 Elaboração de estudos e pesquisas em 
epidemiologia; 
 Alimentação e manutenção de sistemas de 
informação; 
 Acompanhamento das atividades 
programadas; 
 Ações básicas de vigilância sanitária. 
 
A União, por intermédio da Secretaria de 
Vigilância em Saúde, estabelece anualmente as metas e 
ações a serem desenvolvidas por estado e município, 
respeitadas as especificidades estaduais, tendo como 
base fundamental a análise da situação epidemiológica 
de cada agravo. 
 
As Ações Prioritárias de Vigilância em Saúde 
propõem atividades e metas que visam fortalecer o 
Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e 
Ambiental em Saúde, tendo como premissa básica o 
aumento da capacidade dos estados e municípios 
assumirem as atividades de notificação, investigação e 
confirmação laboratorial, imunização, sistemas de 
informação e vigilância ambiental em saúde. 
 
A Vigilância Epidemiológica das Doenças 
Transmissíveis 
 
Constitui-se como importante instrumento para 
o planejamento, organização e operacionalização dos 
serviços de saúde, bem como a normatização das 
atividades técnicas correlatas. Sua operacionalização 
compreende uma série de funções específicas, 
permitindo conhecer o comportamento da doença ou 
agravo selecionado como alvo das ações, de forma que 
as medidas de intervenção pertinentes possam ser 
desencadeadas com oportunidade e eficácia. 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 139 
São funções da vigilância epidemiológica: 
 
 Coleta de dado; 
 Processamento dos dados coletados; análise e 
interpretação dos dados processados; 
 Recomendação das medidas de controle 
apropriadas; 
 Promoção das ações de controle indicadas; Avaliação da eficácia e efetividade das 
medidas adotadas; 
 Divulgação de informações pertinentes. 
 
As mudanças no perfil epidemiológico das 
populações, no qual se observa declínio das taxas de 
mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e 
crescente aumento das mortes por causas externas e 
doenças crônico-degenerativas, têm propiciado a 
incorporação das doenças e agravos não transmissíveis 
às atividades da vigilância epidemiológica. 
 
As competências de cada esfera do sistema de 
saúde (municipal, estadual e federal) abarcam todo o 
espectro das funções de vigilância epidemiológica, 
porém com graus de especificidade variáveis. As ações 
executivas são mais inerentes à esfera municipal e seu 
exercício exige conhecimento analítico da situação de 
saúde local. 
 
Quanto mais capacitada e eficiente for a 
instância local, mais oportunamente podem ser 
executadas as medidas de controle. Os dados e 
informações aí produzidos serão mais consistentes, 
possibilitando melhor compreensão do quadro sanitário 
estadual e nacional e, consequentemente, o 
planejamento adequado da ação governamental. 
 
A informação para a vigilância epidemiológica 
destina-se à tomada de decisões – informação para a 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 140 
ação. Este princípio deve reger as relações entre os 
responsáveis pela vigilância e as diversas fontes que 
podem ser utilizadas para o fornecimento de dados. 
Entre essas, a principal é a notificação, ou seja, a 
comunicação da ocorrência de determinada doença ou 
agravo à saúde feita à autoridade sanitária por 
profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins 
de adoção de medidas de intervenção pertinentes. 
 
Historicamente, a notificação compulsória tem 
sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a 
partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o 
processo informação-decisão-ação. 
 
O caráter compulsório da notificação implica 
responsabilidades formais para todo cidadão, e uma 
obrigação inerente ao exercício da medicina, bem como 
de outras profissões na área da saúde. 
 
Aspectos que devem ser considerados na 
notificação: 
 
 Notificar a simples suspeita da doença, sem 
aguardar a confirmação do caso, pois isto 
pode significar perda da oportunidade de 
intervir eficazmente; 
 A notificação tem de ser sigilosa, só podendo 
ser divulgada fora do âmbito médico-sanitário 
em caso de risco para a comunidade, 
respeitando-se o direito de anonimato dos 
cidadãos; 
 O envio dos instrumentos de coleta de 
notificação deve ser feito mesmo na ausência 
de casos, configurando-se o que se denomina 
notificação negativa que funciona como um 
indicador de eficiência do sistema de 
informações. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 141 
As doenças de notificação compulsória 
constituem risco à saúde da população e, para que 
sejam desencadeadas ações de controle, é primordial o 
conhecimento oportuno da ocorrência das mesmas. 
 
Doenças de Notificação Compulsória 
Nacional 
 
(Portaria GM/MS Nº 104, DE 25 DE JANEIRO DE 
2011) 
 
Lista de Notificação Compulsória – LNC 
 
1. Acidentes por animais peçonhentos; 
2. Atendimento antirrábico; 
3. Botulismo; 
4. Carbúnculo ou Antraz; 
5. Cólera; 
6. Coqueluche; 
7. Dengue; 
8. Difteria; 
9. Doença de Creutzfeldt - Jacob; 
10. Doença Meningocócica e outras Meningites; 
11. Doenças de Chagas Aguda; 
12. Esquistossomose; 
13. Eventos Adversos Pós-Vacinação; 
14. Febre Amarela; 
15. Febre do Nilo Ocidental; 
16. Febre Maculosa; 
17. Febre Tifoide; 
18. Hanseníase; 
19. Hantavirose; 
20. Hepatites Virais; 
21. Infecção pelo vírus da imunodeficiência 
humana – HIV em gestantes e crianças 
expostas ao risco de transmissão vertical; 
22. Influenza humana por novo subtipo; 
 
http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/Portaria_GM-MS_n_104_de_25-01-2011_-_Pag_37_e_38.pdf
http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/Portaria_GM-MS_n_104_de_25-01-2011_-_Pag_37_e_38.pdf
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 142 
23. Intoxicações Exógenas (por substâncias 
químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos 
e metais pesados); 
24. Leishmaniose Tegumentar Americana; 
25. Leishmaniose Visceral; 
26. Leptospirose; 
27. Malária; 
28. Paralisia Flácida Aguda; 
29. Peste; 
30. Poliomielite; 
31. Raiva Humana; 
32. Rubéola; 
33. Sarampo; 
34. Sífilis Adquirida; 
35. Sífilis Congênita; 
36. Sífilis em Gestante; 
37. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - 
AIDS; 
38. Síndrome da Rubéola Congênita; 
39. Síndrome do Corrimento Uretral Masculino; 
40. Síndrome Respiratória Aguda Grave associada 
ao Coronavírus (SARS-CoV); 
41. Tétano; 
42. Tuberculose; 
43. Tularemia; 
44. Varíola; 
45. Violência doméstica, sexual e/ou outras 
violências. 
 
Mesmo diante do cenário de transição 
epidemiológica, onde os agravos e doenças não 
transmissíveis assumem importância cada vez maior na 
carga de morbidade e mortalidade no país, o cenário do 
aparecimento de novas doenças, emergentes e 
reemergentes, como a dengue e a hantavirose, assim 
como a manutenção de altas incidências de doenças 
como a tuberculose e a malária na região amazônica, 
demonstra que ainda se faz necessária a execução das 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 143 
ações de prevenção e controle de forma continuada, 
além do seu monitoramento por meio dos sistemas de 
notificação, com vistas a acompanhar suas tendências, 
direcionando/redirecionando e priorizando as medidas 
de controle. 
 
Nesse sentido, é muito importante que as 
Secretarias Estaduais de Saúde possuam equipes 
capacitadas e estruturadas compatíveis, para 
assessoria e supervisão aos municípios, assim como 
resposta ágil para situações de emergência 
epidemiológicas e/ou a ocorrência de agravos 
inusitados. 
 
Caso a situação extrapole a capacidade das 
Secretarias Estaduais de Saúde, a Secretaria de 
Vigilância em Saúde poderá prestar apoio, por 
intermédio do Centro de Informações Estratégicas em 
Vigilância em Saúde (Cievs). 
 
Outro aspecto importante é a manutenção dos 
sistemas de informação relacionados às doenças de 
notificação compulsória. 
 
O país por sua dimensão territorial continental, 
sua heterogeneidade climática e marcadas 
desigualdades econômicas e sociais deve ter um 
sistema de vigilância articulado em suas três esferas 
que contemple a vigilância dos agravos transmissíveis e 
não transmissíveis, com planejamento e definição de 
prioridades, sem prejuízo à população. 
 
A vigilância das doenças crônicas não-
transmissíveis (DCNT) e seus fatores 
protetores e de risco 
 
A vigilância de doenças crônicas não-
transmissíveis (DCNT) exige estratégias especificas, 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 144 
integradas e complementares entre si, poucas vezes 
coincidentes com as estratégias tradicionalmente 
usadas na vigilância de doenças infecciosas. Isso por- 
que, em geral, no campo das DCNT, a morbidade e a 
mortalidade refletem risco acumulado durante toda a 
vida, e tendem a mudar lentamente, a partir de 
intervenções específicas, pois os eventos abordados são 
doenças que apresentam longos períodos de indução e 
latência. Ou seja, a morbidade e a mortalidade, em um 
dado ano, refletem sempre a exposição a um ou mais 
fatores de risco no passado. Por outro lado, a exposição 
atual a estes fatores de risco indicam uma maior ou 
menor probabilidade de desenvolver uma doença 
crônica no futuro. Entre aqueles já doentes, o perfil de 
exposição a estes mesmos fatores de risco no presente 
influencia o prognóstico destas doenças. Portanto, a 
modificação do perfil de risco, com a adoção de modos 
de vida saudável é a estratégia mais importante tanto 
para prevenir novos casos de doenças crônicas, e deter 
o crescimentodas mesmas, quanto para melhorar o 
prognóstico daqueles que já estão doentes. 
 
Nesse contexto, um sistema baseado apenas na 
vigilância de casos (novos e/ou prevalentes) e óbitos, 
resulta, geralmente, em um sistema de baixa 
sensibilidade e especificidade, apresentando grande 
dificuldade em identificar resultados positivos ou 
negativos decorrentes de mudanças contemporâneas 
nos padrões de exposição das populações. 
 
Para as DCNT, a vigilância da morbi-mortalidade 
deve ser realizada, mas não como mecanismo exclusivo 
de acompanhamento do perfil de risco das populações. 
A vigilância da prevalência e características de adesão a 
fatores protetores e de risco já conhecidos, tem se 
apresentado como o principal instrumento nessa tarefa, 
permitindo aferir as exposições atuais e as tendências 
futuras, possibilitando a análise e construção de 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 145 
cenários de riscos prospectivos. Além disso, alguns dos 
fatores de risco conhecidos são potencialmente 
modificáveis, o que os tornam alvos importantes de 
políticas públicas com certo potencial de sucesso. Outra 
vantagem dessa abordagem situa-se no fato de que é 
uma prática, geralmente, com boa relação custo-
efetividade, uma vez que um conjunto limitado de 
fatores protetores e de risco está associado a uma 
grande gama de desfechos indesejáveis em saúde. Por 
exemplo, a prevenção do tabagismo pode auxiliar na 
redução da ocorrência de vários desfechos 
desfavoráveis em saúde, como cânceres e doenças 
cardiovasculares, entre outros. 
 
São características desejáveis de um sistema de 
vigilância de DCNT: a coleta e análise sistemática 
(contínua e/ou periódica) de dados e informações, 
preferencialmente de base populacional, que permita 
estimar a magnitude do problema que está sendo 
abordado, prevalência de seus fatores de risco, 
magnitude de sua morbimortalidade, aferir suas 
tendências no tempo, produzir evidências úteis para a 
tomada de decisão e interferir ativamente na 
formulação de políticas e programas de promoção e 
atenção à saúde. Esse processo deve, ainda, incluir 
ações de avaliação e monitoramento do impacto das 
intervenções implementadas. 
 
Para um conjunto expressivo de determinantes e 
condicionantes, existem evidências científicas sólidas 
sobre seu impacto na saúde de indivíduos e 
populações. Baseado nesse fato e na urgente demanda 
imposta pela ascensão das DCNT, a Organização 
Mundial da Saúde (OMS) publicou um conjunto de 
recomendações aos países, denominado Estratégia 
Global para prevenção e controle das DCNT (EG/OMS) e 
visa à abordagem dos principais fatores de risco 
modificáveis, em especial a alimentação e a atividade 
física. 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 146 
Ademais da alimentação e da atividade física, 
merecem destaque outros importantes fatores de risco 
comportamentais associados às DCNT, em especial, o 
tabagismo e o consumo abusivo de bebidas alcoólicas. 
A abordagem desses fatores de forma integrada tem 
sido recomendada, uma vez que potencializa o impacto 
para a minimização da carga das DCNT. 
 
Modelo de vigilância dos acidentes e 
violências 
 
A ascensão dos homicídios, a magnitude 
persistente da violência no trânsito e a oculta face da 
violência doméstica contra a mulher, o idoso, a criança 
e o adolescente são diferentes manifestações do 
contexto social, político e econômico experimentado 
historicamente pelo país, mediado pelas desigualdades 
sociais, o desemprego, a concentração de renda e a 
persistência de um grande contingente de excluídos 
sociais. 
Fenômeno de natureza tão complexa exige 
intervenções articuladas, interdisciplinares e 
intersetoriais para o seu enfrentamento. Assim sendo, 
deve ser assumido como prioridade de políticas públicas 
de vários setores - educação, transporte, segurança, 
saúde, entre outros -, bem como envolver e mobilizar 
toda a sociedade. Além disso, constata-se o fato de 
esses serem eventos em sua grande maioria evitáveis. 
Apenas como exemplo desta evitabilidade, no ano de 
1998 o Brasil experimentou uma redução imediata de 
mais de cinco mil mortes por acidentes de transporte 
terrestre, coincidindo com a implantação do novo 
Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Infelizmente, essa 
tendência de queda não foi completamente sustentável, 
e em anos mais recentes, já se observa uma reversão 
nesse quadro, com retomada da ascensão das mortes 
no trânsito. 
 
Quer 
saber mais? 
 
 
No ano de 2004, as 
causas externas 
foram responsáveis 
por 127.470 mortes 
no Brasil, com 
especial destaque 
aos homicídios e 
acidentes de 
transporte terrestre. 
Além disso, elas 
foram causas de 
755.826 
hospitalizações, 
destacando, nesse 
caso, as quedas. 
 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 147 
Fontes de dados e indicadores 
 
Semelhante à Vigilância das DCNT também para 
a Vigilância de Acidentes e Violências, é desejável 
dispor de fontes de dados nos três eixos: fatores 
protetores e de risco, morbidade e mortalidade. Quanto 
à morbidade e mortalidade, assim como para as DCNT, 
os sistemas de informação de hospitalizações, 
atendimentos ambulatoriais e mortalidade são 
particularmente úteis, e permitem a construção de uma 
série de indicadores importantes para o monitoramento 
desses eventos. 
 
No que se refere à morbi mortalidade por 
acidentes de trânsito, é importante destacar que os 
sistemas de informação do setor saúde carecem de 
informações importantes para a descrição e 
levantamento de hipóteses acerca dos fatores de risco 
envolvidos nesses eventos como, por exemplo, local do 
acidente. Assim, tem sido fomentada a prática do uso 
de dados dos boletins de ocorrência e dos sistemas de 
informação dos departamentos de segurança pública e 
viária. 
 
A abordagem da violência, em especial a 
violência doméstica, mesmo em sua expressão extrema 
quando produz o óbito da vítima, não é um evento 
facilmente identificado por meio de dados secundários, 
pois existe grande omissão de informações relevantes 
para a classificação do caso, seja por parte da vítima e 
seus familiares, seja por parte dos profissionais de 
saúde. 
 
Vigilância em Saúde Ambiental 
 
A partir da Conferência das Nações Unidas sobre 
Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, em 
Estocolmo, as preocupações com os problemas 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 148 
ambientais tornaram-se um dos assuntos mais 
importantes no âmbito internacional. Um dos 
resultados mais importantes foi a Declaração de 
Estocolmo que refletia o conjunto das preocupações e 
concepções ambientais e o Plano de Ação de Estocolmo, 
com recomendações que visavam estabelecer as bases 
para as tomadas de medidas designadas ao aumento 
do conhecimento do meio ambiente, a melhoria da sua 
qualidade e a sua preservação. 
 
A vigilância ambiental busca a identificação de 
situações de risco ou perigos no ambiente que possam 
causar doenças, incapacidades e mortes com o objetivo 
de se adotar ou recomendar medidas para a remoção 
ou redução da exposição a essas situações de risco. 
 
São áreas prioritárias de atuação da Vigilância 
em Saúde Ambiental (VSA): o controle da qualidade da 
água para consumo humano; qualidade do ar; solo 
contaminado; substâncias químicas; desastres 
naturais; acidentes com produtos perigosos; fatores 
físicos (radiações ionizantes e não ionizantes); e 
ambiente de trabalho. Esses elementos da VSA são 
abordados sob a óptica da promoção da saúde e da 
prevenção dos riscos de agravos às populações 
humanas. A seguir, são detalhadas essas prioridades, 
buscando identificar o papel de cada uma das esferas 
de governo. 
 
Vigilância da Qualidade da Água para 
Consumo Humano (Vigiagua) 
 
A Vigilância em Saúde Ambiental relacionada à 
Qualidade da água para ConsumoHumano consiste no 
conjunto de ações adotadas continuamente pelas 
autoridades de saúde pública para garantir que a água 
consumida pela população atenda ao padrão e às 
normas estabelecidas na legislação vigente e para 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 149 
avaliar os riscos que a água consumida representa para 
a saúde humana. Merecem destaque as seguintes 
atribuições do Vigiagua e que devem ser executadas 
e/ou coordenadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde 
(SES) no âmbito estadual: 
 
 Estruturar a área de vigilância em saúde 
ambiental, bem como estabelecer as 
referências laboratoriais municipais para 
atender às ações de vigilância da qualidade 
da água para consumo humano; 
 Acompanhar o cadastramento, pelos 
municípios, dos sistemas de abastecimento de 
água, soluções alternativas coletivas e 
soluções alternativas individuais; 
 Acompanhar e supervisionar o monitoramento 
da qualidade da água para consumo humano 
pela vigilância ambiental em saúde, realizado 
pelos municípios, por meio de análises físico-
químicas (cloro residual, turbidez, fluoreto), 
bacteriológicas, mercúrio e agrotóxico; 
 Receber e analisar os relatórios de controle 
da qualidade da água para sistemas de 
abastecimento de água e soluções 
alternativas coletivas, enviadas pelos 
prestadores de serviços de abastecimento de 
água; 
 Alimentar o Sistema de Informação da 
Vigilância da Qualidade da Água para 
Consumo Humano (Sisagua), com dados de 
cadastro, controle e vigilância; 
 Avaliar os sistemas de abastecimento de 
água, soluções alternativas coletivas e 
soluções alternativas individuais, a partir das 
informações que constam no Sisagua, além 
de outras fontes de informação pertinentes, 
sob a perspectiva do risco à saúde; 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 150 
 Acompanhar surtos de doenças de 
transmissão hídrica em articulação com as 
demais áreas envolvidas, sendo 
imprescindível para isso a articulação da área 
de Vigilância das SES e Secretarias Municipais 
de Saúde (SMS). 
 
Para coletar e disponibilizar informações sobre 
os sistemas e soluções alternativas coletivas e 
individuais de abastecimento de água, para tomada de 
decisão nas três esferas de gestão do SUS, em 2000, 
foi desenvolvido o sistema de informação (Sisagua). 
 
Vigilância em Saúde de Populações 
Expostas a Solo Contaminado (Vigisolo) 
 
Compete à Vigilância em Saúde de Populações 
Expostas a Solo Contaminado (Vigisolo) recomendar e 
adotar medidas de promoção da saúde ambiental, 
prevenção e controle dos fatores de risco relacionados 
às doenças e outros agravos à saúde decorrentes da 
contaminação por substâncias químicas no solo. Entre 
os objetivos específicos do Vigisolo, cabe às Secretarias 
Estaduais de Saúde as seguintes atividades: 
 
 Identificar e priorizar áreas com populações 
expostas a solo contaminado; 
 Coordenar e estimular ações intrassetoriais 
entre as áreas de vigilância ambiental, 
epidemiológica, sanitária, saúde do 
trabalhador, atenção básica e laboratórios 
públicos, entre outras; 
 Realizar articulação com os órgãos 
ambientais, entre outros, no controle e 
fiscalização de atividades ou 
empreendimentos causadores ou 
potencialmente causadores de degradação 
ambiental, com vistas à prevenção e controle 
da contaminação de solos; 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 151 
 Implementar metodologia de avaliação de 
risco à saúde humana; 
 Alimentar sistema de informação de vigilância 
em saúde de populações expostas a áreas 
com solo contaminado. Esse sistema de 
informação é disponibilizado pela Secretaria 
de Vigilância em Saúde do Ministério da 
Saúde; 
 Informar a sociedade sobre os riscos 
decorrentes da exposição humana a solo 
contaminado. 
 
Entre as ações básicas e estratégicas do 
Vigisolo, destaca-se a identificação de populações 
expostas ou sob risco de exposição a solo contaminado. 
 
Iniciado no ano de 2004, o trabalho de 
identificação de áreas com populações expostas, ou sob 
risco de exposição a solo contaminado, conta com 703 
áreas identificadas. Este resultado não representa um 
censo das áreas de risco existentes no país, mas um 
primeiro esforço para capacitar técnicos dos estados 
para a necessidade de uma ação intersetorial e 
contínua, tanto em relação à identificação das 
populações quanto na complementação e qualificação 
das informações levantadas. 
 
O conjunto de informações levantadas, 
continuamente e armazenado no Sistema de 
Informação da Vigilância em Saúde de Populações 
Expostas a Solo Contaminado (Sissolo), subsidiará a 
construção de indicadores de saúde e ambiente, 
favorecendo o planejamento e o fortalecimento de 
ações prioritárias e interventoras por parte do setor 
saúde. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 152 
Vigilância em Saúde Ambiental 
Relacionada à Qualidade do Ar (Vigiar) 
 
A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à 
Qualidade do Ar tem por objetivo promover a saúde da 
população exposta aos fatores ambientais relacionados 
aos poluentes atmosféricos (proveniente de fontes 
fixas, de fontes móveis, de atividades relativas à 
extração mineral, da queima de biomassa ou de 
incêndios florestais), contemplando estratégias de 
ações intersetoriais. 
 
Os objetivos específicos consistem em: 
 
 Identificar os efeitos agudos e crônicos 
decorrentes da contaminação do ar; 
 Avaliar os efeitos da poluição atmosférica 
sobre a saúde das populações expostas; 
 Vigiar as tendências dos indicadores de 
qualidade do ar e saúde; 
 Avaliar o risco à saúde decorrente da poluição 
atmosférica; 
 Desenvolver (subsidiar/demandar) ações de 
controle em conjunto com os demais setores 
envolvidos; 
 Fornecer elementos para orientar as políticas 
nacionais e locais de proteção da saúde da 
população frente aos riscos decorrentes da 
poluição atmosférica. 
 
Vigilância em Saúde Ambiental 
Relacionada às Substâncias Químicas 
(Vigiquim) 
 
A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada às 
Substâncias Químicas tem como objetivo central a 
identificação, a caracterização e o monitoramento das 
populações expostas às substâncias químicas, de 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 153 
interesse à saúde pública. Foram selecionadas cinco 
substâncias, classificadas como prioritárias, devido aos 
riscos à população. São elas: asbesto/amianto, 
benzeno, agrotóxicos, mercúrio e chumbo. Entre os 
grupos de risco prioritários, expostos a estes 
contaminantes, destacam-se os trabalhadores e as 
comunidades que residem no entorno de áreas 
industriais. A forma de atuação da Vigilância em Saúde 
Ambiental relacionada às substâncias químicas está 
centrada em três eixos: 
 
 A vigilância do risco, com a caracterização 
das substâncias químicas perigosas e o 
monitoramento de sua presença no ar, no 
solo nas águas e na cadeia alimentar; 
 A vigilância da população exposta, através de 
monitoramento epidemiológico e avaliação da 
intensidade e duração da exposição humana 
às substâncias químicas perigosas; 
 A vigilância dos efeitos, através da 
investigação da ocorrência de agravos sobre a 
saúde humana e do acompanhamento da 
população exposta a curto e a longo prazo. 
 
Ainda no escopo do Vigiquim, está inserida a 
vigilância ambiental em saúde relacionada aos 
acidentes com produtos perigosos, que envolvem desde 
a identificação das potenciais fontes de riscos até o 
monitoramento das populações expostas, bem como o 
acompanhamento das ações de prevenção, preparação, 
resposta, mitigação e controle desenvolvidos pelas 
diferentes instituições públicas envolvidas com os 
acidentes com produtos perigosos. 
 
Nessa área específica, cabe às Secretarias 
Estaduais de Saúde uma extensa articulação com os 
órgãos ambientais,de defesa civil e companhias de 
abastecimento de água, para a preparação de planos 
integrados de ação. 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 154 
Para a vigilância epidemiológica das intoxicações 
por agrotóxicos foi implantada no Sinan a ficha de 
notificação compulsória denominada Ficha de 
Intoxicações Exógenas. A partir das notificações 
realizadas, serão extraídas as informações necessárias 
ao desencadeamento das ações de vigilância 
relacionadas ao agrotóxico. 
 
A vigilância em saúde ambiental Relacionada ao 
amianto vem sendo desenvolvida por meio do Sistema 
de Monitoramento de Populações Expostas a Agentes 
Químicos (Simpeaq), que integra dados da saúde e 
meio ambiente relacionado às populações expostas aos 
referidos agentes químicos. 
 
Vigilância em Saúde Ambiental 
Relacionada a Fatores Físicos (Vigifis) 
 
A Vigilância em Saúde Ambiental relacionada a 
Fatores Físicos cobre ampla faixa de agentes 
ambientais possivelmente capazes de causar danos à 
saúde humana. No entanto, tem desenvolvido ações na 
parcela desses agentes correspondente a radiações 
eletromagnéticas tanto ionizantes quanto não 
ionizantes. Dessas ações as que resultaram numa 
proposta concreta foram as relacionadas a campos 
eletromagnéticos, nas frequências compreendidas entre 
0 e 300 MHz, que cobrem as emissões de linhas de 
transmissão e distribuição de eletricidade e as estações 
de rádio base e terminais móveis para telefonia sem 
fio, entre outras. 
 
Desde 2001, são desenvolvidos esforços para 
proteção de saúde humana relacionada a campos 
eletromagnéticos compreendendo desenvolvimento de 
políticas públicas, pesquisa científica e regulamentação 
legal. O Programa de Vigilância em Saúde Ambiental 
Relacionado a Fatores Físicos (Vigifis) priorizou sua 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 155 
atuação em exposições humanas a radiações 
eletromagnéticas não ionizantes-RNI e ionizantes-RI. 
 
Para as radiações não ionizantes, está sendo 
proposto um modelo de vigilância baseado no conceito 
de mapa de exposição, que registra a intensidade da 
exposição sobreposta à dinâmica populacional e 
estruturas urbanas. Com o objetivo de avaliar e 
recomendar aspectos normativos relacionados à 
exposição humana a campos eletromagnéticos – CEM – 
no espectro de 0Hz a 300GHz e identificar e conciliar a 
legislação referente aos limites de exposição humana a 
campos eletromagnéticos no espectro de 9KHz a 
300GHz. 
 
No que se refere às radiações ionizantes, o 
Ministério da Saúde, como integrante do Sistema de 
Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro, propôs a 
Política de Uso do Iodeto de Potássio em Emergências 
Nucleares, medicamento utilizado na prevenção dos 
efeitos à saúde humana provocados pela exposição à 
radioatividade. Atualmente, essa política encontra-se 
em discussão por outros ministérios que integram o 
referido sistema. 
 
Vigilância em Saúde Ambiental dos 
Riscos Decorrentes dos Desastres 
Naturais (Vigidesastres) 
 
A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada 
aos Desastres Naturais tem como objetivo desenvolver 
um conjunto de ações continuadas para reduzir a 
exposição da população aos riscos de desastres com 
ênfase nos desastres naturais, inundações, 
deslizamentos, secas e incêndios florestais, assim como 
a redução das doenças e agravos decorrentes dos 
mesmos. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 156 
As principais atividades desenvolvidas pelo 
Vigidesastres destinam-se ao atendimento às 
demandas das Unidades Federadas atingidas por 
desastres naturais. Quando a gravidade dos desastres 
se configura em situações de emergência ou estado de 
calamidade pública, a atuação do Vigidesastres dar-se-
á em parceria com a Secretaria Nacional de Defesa 
Civil. 
 
Vigilância em Saúde do Trabalhador - 
Visat 
 
A Vigilância em Saúde do Trabalhador não deve 
ser vista de forma restrita como, por exemplo, apenas 
ações de monitoramento de doenças detectadas pela 
clinica médica e nem de acompanhamento de 
populações expostas por meio de indicadores biológicos 
de exposição e de efeitos subclínicos. 
 
Deve ser compreendida de uma forma mais 
ampla e estritamente ligada à Saúde Pública, compondo 
um conjunto de práticas sanitárias, articuladas supras-
setorialmente, cuja especificidade está centrada na 
relação da saúde com o ambiente e os processos de 
trabalho e nesta com a assistência, calcado nos 
princípios da vigilância em saúde, para a melhoria das 
condições de vida e saúde da população. 
 
Outro aspecto importante é que a Visat deve ser 
compreendida como parte da Vigilância em Saúde. 
Neste sentido, pretende acrescentar ao conjunto de 
ações da vigilância em saúde estratégias de produção 
de conhecimentos e mecanismos de intervenção sobre 
os processos de produção, aproximando os diversos 
objetos comuns das práticas sanitárias àqueles 
oriundos da relação entre o trabalho e a saúde. 
 
Investir na Vigilância em Saúde do Trabalhador 
é aprofundar o conhecimento sobre o processo de 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 157 
sofrimento, adoecimento e morte dos trabalhadores 
brasileiros, de forma específica, e da população em 
geral. Traz a possibilidade de identificar e controlar os 
fatores de risco, diagnosticar precocemente, tratar, 
salvar vidas, reabilitar e especialmente promover 
saúde. 
 
No que diz respeito ao planejamento das ações 
de Visat, questões como território, ramos produtivos, 
perfil epidemiológico e a participação dos trabalhadores 
e das comunidades devem ser considerados, definindo 
a Visat como uma atuação contínua e sistemática, ao 
longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer, 
pesquisar e analisar os fatores determinantes e 
condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos 
processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos 
tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, 
com a finalidade de planejar, executar e avaliar 
intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-
los ou controlá-los. 
 
São objetivos da Visat: 
 
a) conhecer a realidade de saúde da população 
trabalhadora, independentemente da forma de inserção 
no mercado de trabalho e do vínculo trabalhista 
estabelecido, considerando: 
 
 a caracterização de sua forma de adoecer e 
morrer em função da sua relação com o 
processo de trabalho; 
 o levantamento histórico dos perfis de 
morbidade e mortalidade em função da sua 
relação com o processo de trabalho; 
 a avaliação do processo, do ambiente e das 
condições em que o trabalho se realiza, 
identificando os riscos e cargas de trabalho a 
que está sujeita, nos seus aspectos 
tecnológicos, ergonômicos e organizacionais 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 158 
já conhecidos; 
 a pesquisa e a análise de novas e ainda 
desconhecidas formas de adoecer e morrer 
em decorrência do trabalho; 
 
b) intervir nos fatores determinantes de agravos 
à saúde da população trabalhadora, visando eliminá-los 
ou, na sua impossibilidade, atenuá-los e controlá-los, 
considerando: 
 
 a fiscalização do processo, do ambiente e das 
condições em que o trabalho se realiza, 
fazendo cumprir, com rigor, as normas e 
legislações existentes, nacionais ou mesmo 
internacionais, quando relacionadas à 
promoção da saúde do trabalhador; 
 a negociação coletiva em saúde do 
trabalhador, além dos preceitos legais 
estabelecidos, quando se impuser a 
transformação do processo, do ambiente e 
das condições em que o trabalho se realiza 
não previsto normativamente; 
 
c) avaliar o impacto das medidas adotadas para 
a eliminação, atenuação e controle dos fatores 
determinantes de agravos à saúde, considerando: 
 
 a possibilidade de transformar os perfis de 
morbidade e mortalidade; 
 o aprimoramento contínuo da qualidade de 
vidano trabalho; 
 
d) subsidiar a tomada de decisões dos órgãos 
competentes, nas três esferas de governo, 
considerando: 
 
 o estabelecimento de políticas públicas, 
contemplando a relação entre o trabalho e a 
saúde no campo de abrangência da vigilância 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 159 
em saúde; 
 a interveniência, junto às instâncias do 
Estado e da sociedade, para o aprimoramento 
das normas legais existentes e para a criação 
de novas normas legais em defesa da saúde 
dos trabalhadores; 
 o planejamento das ações e o 
estabelecimento de suas estratégias; 
 a participação na estruturação de serviços de 
atenção à saúde dos trabalhadores; 
 a participação na formação, capacitação e 
treinamento de recursos humanos com 
interesse na área; 
 
e) estabelecer sistemas de informação em saúde 
do trabalhador, junto às estruturas existentes no setor 
saúde, considerando: 
 
 a criação de bases de dados comportando 
todas as informações oriundas do processo de 
vigilância e incorporando as informações 
tradicionais já existentes; 
 a divulgação sistemática das informações 
analisadas e consolidadas. 
 
SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DA VIGILÂNCIA EM 
SAÚDE 
 
Uma das ferramentas de trabalho mais 
importantes para a vigilância em saúde é a informação. 
A tríade “informação-decisão-ação” sintetiza a dinâmica 
das atividades da vigilância epidemiológica. A 
informação em saúde é a base para a gestão dos 
serviços, pois orienta a implantação, acompanhamento 
e avaliação dos modelos de atenção à saúde e das 
ações de prevenção e controle de doenças. Para tanto é 
fundamental que essas informações/dados disponíveis 
tenham qualidade e retratem de forma fidedigna a 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 160 
situação de saúde nos diversos estados e municípios 
brasileiros. Oportunidade, atualidade, disponibilidade e 
cobertura são características que determinam a 
qualidade da informação. 
 
Há diversos conceitos sobre sistemas de 
informação. Um sistema de informação deve 
disponibilizar o suporte necessário para que o 
planejamento, as decisões e as ações dos gestores, em 
determinado nível decisório (municipal, estadual e 
federal), não se baseiem em dados subjetivos, 
conhecimentos ultrapassados ou conjecturas. 
 
O Sistema de Informação em Saúde (SIS) 
integra as estruturas organizacionais dos sistemas de 
saúde. É constituído por vários subsistemas e tem 
como propósito geral facilitar a formulação e avaliação 
das políticas, planos e programas de saúde, 
subsidiando o processo de tomada de decisões. Para 
tanto, deve contar com os requisitos técnicos e 
profissionais necessários ao planejamento, coordenação 
e supervisão das atividades relativas à coleta, registro, 
processamento, análise, apresentação e difusão de 
dados e geração de informações. 
 
Um de seus objetivos básicos é possibilitar a 
análise da situação de saúde em nível local tomando 
como referência microrregiões homogêneas e 
considerando, necessariamente, as condições de vida 
da população na determinação do processo saúde-
doença. A esfera local tem, então, responsabilidade não 
apenas com a alimentação do sistema de informação 
em saúde, mas também com sua organização e gestão. 
A concepção do sistema de informação deve ser 
hierarquizada e que o fluxo ascendente dos dados 
ocorra de modo inversamente proporcional à agregação 
geográfica, ou seja, em nível local faz-se necessário 
dispor, para as análises epidemiológicas, de maior 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 161 
número de variáveis. 
Os atuais recursos do processamento eletrônico 
estão sendo amplamente utilizados pelos sistemas de 
informação em saúde, aumentando sua eficiência na 
medida em que possibilitam a obtenção e 
processamento de um volume de dados cada vez 
maior, além de permitirem a articulação entre 
diferentes subsistemas. 
 
Entre os sistemas nacionais de informação em 
saúde existentes, alguns se destacam em razão de sua 
maior relevância para a vigilância epidemiológica. 
 
Sistema de Informações sobre Mortalidade 
(SIM) 
 
Criado em 1975, tem como instrumento 
padronizado de coleta de dados é a Declaração de Óbito 
(DO), impressa em três vias coloridas, cuja emissão e 
distribuição para os estados, em séries pré-numeradas, 
são de competência exclusiva do Ministério da Saúde. 
 
A distribuição das DOs aos municípios fica a 
cargo das secretarias estaduais de saúde. O controle e 
distribuição entre os profissionais médicos e instituições 
que a utilizem, bem como pelo recolhimento das 
primeiras vias em hospitais e cartórios são de 
responsabilidade das secretarias municipais. 
 
O preenchimento da DO deve ser realizado 
exclusivamente por médicos, exceto em locais onde 
não exista, situação na qual poderá ser preenchida por 
oficiais de Cartórios de Registro Civil, assinada por duas 
testemunhas. 
 
A obrigatoriedade de seu preenchimento, para 
todo óbito ocorrido, é determinada pela Lei Federal n° 
6.015/73. Em tese, nenhum sepultamento deveria 
ocorrer sem prévia emissão da DO. 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 162 
O registro do óbito deve ser feito no local de 
ocorrência do evento, embora o local de residência seja 
a informação comumente mais utilizada. A análise dos 
dados por local de ocorrência é importante para o 
planejamento de algumas medidas de controle como, 
por exemplo, no caso dos acidentes de trânsito e 
doenças infecciosas que exijam a adoção de medidas 
de controle no local de sua ocorrência. 
 
As informações obtidas pela DO permitem 
também delinear o perfil de morbidade de uma área 
para as doenças mais letais e doenças crônicas que não 
são de notificação compulsórias. Para as doenças de 
notificação compulsória, a utilização eficiente desta 
fonte de dados depende da verificação rotineira da 
presença desses agravos no banco de dados do SIM. 
Deve-se, também, checar se as mesmas constam no 
Sinan, bem como a evolução do caso para óbito. 
 
Sistema de Informações sobre Nascidos 
Vivos (Sinasc) 
 
O Sinasc é o sistema responsável pelo registro 
de nascidos vivos. Tem como instrumento padronizado 
de coleta de dados a Declaração de Nascido Vivo (DN), 
cuja emissão, a exemplo da DO, é de competência 
exclusiva do Ministério da Saúde. Tanto a emissão da 
DN como o seu registro em cartório serão realizados no 
município de ocorrência do nascimento. Deve ser 
preenchida nos hospitais e outras instituições de saúde 
que realizam partos, e nos Cartórios de Registro Civil, 
na presença de duas testemunhas, quando o 
nascimento ocorre em domicílio sem assistência de 
profissional de saúde. 
 
O número de nascidos vivos é o denominador 
que possibilita a constituição de indicadores voltados 
para a avaliação de riscos à saúde do segmento 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 163 
materno-infantil, a exemplo dos coeficientes de 
mortalidade infantil e materna, que constitui relevante 
informação para o campo da saúde pública. 
 
Antes da implantação do Sinasc, em 1990, esta 
informação só era conhecida no Brasil por estimativas 
realizadas a partir da informação censitária. 
Atualmente, são disponibilizados, no endereço 
eletrônico www.datasus.gov.br, dados do Sinasc a 
partir do ano de 1994. 
 
O uso do Sinasc como denominador para o 
cálculo de alguns indicadores só é possível em regiões 
onde sua cobertura é ampla, substituindo deste modo 
as estimativas censitárias. 
 
A obrigatoriedade do registro da Declaração de 
Nascidos Vivos é dada pela Lei n° 6.015/73. A DN deve 
ser preenchida para todos os nascidos vivos no país, 
segundo conceito definido pela OMS. No caso de 
gravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para 
cada criança nascida viva. 
 
Igualmente à DO, os formulários de Declaraçãode Nascido Vivo são pré-numerados, impressos em três 
vias coloridas e distribuídos às SES pela SVS/MS. É 
preconizado que as SMS devem assumir a distribuição 
aos estabelecimentos de saúde e cartórios. 
 
Sistema de Informação de Agravos de 
Notificação (Sinan) 
 
O Sistema de Informação de Agravos de 
Notificação (Sinan) é alimentado, principalmente, pela 
notificação e investigação de casos de doenças e 
agravos que constam da lista nacional de doenças de 
notificação compulsória (Portaria GM/MS n. 05 de 21 de 
fevereiro de 2006), mas é facultado a estados e 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 164 
municípios que utilizam o Sinasc para cálculo direto 
para o coeficiente da mortalidade infantil incluir outros 
problemas de saúde regionalmente importantes. Tem 
por objetivo coletar, transmitir e disseminar dados 
gerados rotineiramente pelo Sistema de Vigilância 
Epidemiológica das três esferas de governo, por 
intermédio de uma rede informatizada, para apoiar o 
processo de investigação e dar subsídios à análise das 
informações de vigilância epidemiológica das doenças 
de notificação compulsória. 
 
No Sinan, a entrada de dados ocorre pela 
utilização de alguns formulários padronizados: 
 
 Ficha Individual de Notificação (FIN) que é 
preenchida pelas unidades assistenciais para 
cada paciente quando da suspeita da 
ocorrência de problema de saúde de 
notificação compulsória ou de interesse 
nacional, estadual ou municipal. Este 
instrumento deve ser encaminhado aos 
serviços responsáveis pela informação e/ou 
vigilância epidemiológica das Secretarias 
Municipais, que devem repassar 
semanalmente os arquivos em meio 
magnético para as Secretarias Estaduais de 
Saúde (SES). A comunicação das SES com a 
SVS deverá ocorrer quinzenalmente, de 
acordo com o cronograma definido pela SVS 
no início de cada ano. 
 
Caso não ocorra nenhuma suspeita de doença, 
as unidades precisam preencher o formulário de 
notificação negativa, que tem os mesmos prazos de 
entrega. Esta é uma estratégia criada para demonstrar 
que os profissionais e o sistema de vigilância da área 
estão alerta para a ocorrência de tais eventos e evitar a 
subnotificação. 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 165 
 Ficha Individual de Investigação (FII) − na 
maioria das vezes configura-se como roteiro 
de investigação, distinto para cada tipo de 
agravo, devendo ser utilizado, 
preferencialmente, pelos serviços municipais 
de vigilância ou unidades de saúde 
capacitadas para a realização da investigação 
epidemiológica. Permite a obtenção de dados 
que possibilitam a identificação da fonte de 
infecção e mecanismos de transmissão da 
doença. Os dados, gerados nas áreas de 
abrangência dos respectivos estados e 
municípios, devem ser consolidados e 
analisados considerando aspectos relativos à 
organização, sensibilidade e cobertura do 
próprio sistema de notificação, bem como os 
das atividades de vigilância epidemiológica. 
 
Além dessas fichas, o sistema também possui 
planilha e boletim de acompanhamento de surtos, 
reproduzidos pelos municípios, e os boletins de 
acompanhamento de hanseníase e tuberculose, 
emitidos pelo próprio sistema. 
 
A impressão, distribuição e numeração desses 
formulários são de responsabilidade do estado ou 
município. 
 
Caso os municípios não alimentem o banco de 
dados do Sinan, por dois meses consecutivos, são 
suspensos os recursos do Piso de Atenção Básica (PAB), 
conforme prevê a Política Nacional de Atenção Básica. 
 
Sistema de Informações do Programa 
Nacional de Imunização (SI-PNI) 
 
Implantado em todos os municípios brasileiros, 
fornece dados relativos à cobertura vacinal de rotina e, 
em campanhas, taxa de abandono e controle do envio de 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 166 
boletins de imunização. Além do módulo de avaliação do 
PNI, este sistema dispõe de um subsistema de estoque e 
distribuição de imunobiológicos para fins gerenciais. O 
objetivo fundamental do SI-PNI é possibilitar aos gestores 
envolvidos no programa uma avaliação dinâmica do risco 
quanto à ocorrência de surtos ou epidemias, a partir do 
registro dos imunos aplicados e do quantitativo 
populacional vacinado, que são agregados por faixa 
etária, em determinado período de tempo, em uma área 
geográfica. 
 
Por outro lado, possibilita também o controle do 
estoque de imunos necessário aos administradores que 
têm a incumbência de programar sua aquisição e 
distribuição. 
 
O SI-PNI é formado por um conjunto de 
sistemas: 
 
 Avaliação do Programa de Imunizações (API). 
Registra, por faixa etária, as doses de 
imunobiológicos aplicadas e calcula a 
cobertura vacinal, por unidade básica, 
município, regional da Secretaria Estadual de 
Saúde, estado e país. Fornece informações 
sobre rotina e campanhas, taxa de abandono 
e envio de boletins de imunização. Pode ser 
utilizado nos âmbitos federal, estadual, 
regional e municipal; 
 Estoque e Distribuição de Imunobiológicos 
(EDI). Gerencia o estoque e a distribuição dos 
imunobiológicos. Contempla o âmbito federal, 
estadual, regional e municipal; 
 Eventos Adversos Pós-vacinação (EAPV). 
Permite o acompanhamento de casos de 
reações adversas ocorridas pós-vacinação e a 
rápida identificação e localização de lotes de 
vacinas. Para a gestão federal, estadual, 
regional e municipal; 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 167 
 Programa de Avaliação do Instrumento de 
Supervisão (Pais). Sistema utilizado pelos 
supervisores e assessores técnicos do PNI 
para padronização do perfil de avaliação, 
capaz de dar agilidade a tabulação de 
resultados. Desenvolvido para a supervisão 
dos estados; 
 Programa de Avaliação do Instrumento de 
Supervisão em Sala de Vacinação (PAISSV). 
Sistema utilizado pelos coordenadores 
estaduais de imunizações para padronização 
do perfil de avaliação, capaz de dar agilidade 
à tabulação de resultados. Desenvolvido para 
a supervisão das salas de vacina; 
 Apuração dos Imunobiológicos Utilizados 
(AIU). Permite realizar o gerenciamento das 
doses utilizadas e das perdas físicas para 
calcular as perdas técnicas a partir das doses 
aplicadas. Desenvolvido para a gestão 
federal, estadual, regional e municipal; 
 Sistema de Informações dos Centros de 
Referência em Imunobiológicos Especiais - 
Sicrie. Registra os atendimentos nos Cries e 
informa a utilização dos imunobiológicos 
especiais e eventos adversos. 
 
Análise de situação de saúde 
 
A prática constante de análise de dados 
secundários é um fator fundamental para o contínuo 
processo de aperfeiçoamento, gerência e controle da 
qualidade dos dados, aprimoramento das fontes de 
informações e a construção de propostas de análise de 
situação de saúde, estimulando uma prática de gestão 
da saúde pública baseada em evidências. 
 
Um dos grandes problemas para a análise de 
informações é a confiabilidade dos indicadores gerados 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 168 
pelos dados obtidos por meio dos sistemas de 
informações. A análise da qualidade dos dados deve ser 
realizada por todas as esferas de gestão, a partir da 
análise periódica dos indicadores de produção e de 
qualidade de base de dados. 
 
Para o bom gerenciamento dos sistemas e 
garantia de sua qualidade, os gestores devem estimular 
a prática das análises de completude e consistência e 
que os relatórios gerados dessas análises sejam 
trabalhados pelas unidades notificadoras para a 
correção de falhas e aperfeiçoamento dos dados 
produzidos. 
 
A análise da situação de saúde deve ocorrer nos 
seus diversos níveis, de forma sistemática, com 
periodicidade previamente definida, de modo a permitir 
a utilização das informações quando da tomada de 
decisão e nas atividades de planejamento,definição de 
prioridades, alocação de recursos e avaliação dos 
programas desenvolvidos. Adicionalmente, a divulgação 
das informações geradas pelos sistemas assume valor 
inestimável como instrumento de suporte ao controle 
social, prática que deve ser estimulada e apoiada em 
todos os níveis e que deve definir os instrumentos de 
informação, tanto para os profissionais de saúde como 
para a comunidade. 
 
EXERCÍCIO 1 
 
Assinale quais das afirmativas abaixo são corretas: 
 
I - O objetivo fundamental do SI-PNI é possibilitar aos 
gestores envolvidos no programa uma avaliação 
dinâmica do risco quanto à ocorrência de surtos ou 
epidemias, a partir do registro dos imunos aplicados e 
do quantitativo populacional vacinado, que são 
agregados por faixa etária, em determinado período de 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 169 
tempo, em uma área geográfica. Por outro lado, 
possibilita também o controle do estoque de imunos 
necessário aos administradores que têm a incumbência 
de programar sua aquisição e distribuição; 
II - O Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
- Sinan - é alimentado, principalmente, pela notificação 
e investigação de casos de doenças e agravos que 
constam da lista nacional de doenças de notificação 
compulsória, mas é facultado a estados e municípios 
incluir outros problemas de saúde importantes em sua 
região, como varicela no estado de Minas Gerais ou 
difilobotríase no município de São Paulo; 
III - O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) 
foi criado pelo Ministério da Saúde, em 1975, para a 
obtenção regular de dados sobre mortalidade no país. A 
partir da criação do SIM, foi possível a captação de 
dados sobre mortalidade, de forma abrangente e 
confiável, para subsidiar as diversas esferas de gestão 
na saúde pública. Com base nessas informações, é 
possível realizar análises de situação, planejamento e 
avaliação das ações e programas na área. O SIM 
proporciona a produção de estatísticas de mortalidade e 
a construção dos principais indicadores de saúde. A 
análise dessas informações permite estudos não apenas 
do ponto de vista estatístico e epidemiológico, mas 
também sociodemográfico. 
 
( A ) I e II estão corretas, III incorreta; 
( B ) I e III estão corretas, II incorreta; 
( C ) II e III estão corretas, I incorreta; 
( D ) Apenas I está correta; 
( E ) Todas as alternativas estão corretas. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 170 
 
EXERCÍCIO 2 
 
Com relação à Vigilância em Saúde Ambiental, 
podemos afirmar: 
 
I - Todos os desastres são únicos e com efeitos 
diferentes, pois cada área afetada tem condições sociais, 
econômicas, políticas, climáticas, geográficas e sanitárias 
peculiares. Entretanto, os efeitos sobre a saúde são 
similares e o seu reconhecimento prévio pode permitir 
que as comunidades possam se preparar para evitar, 
minimizar ou enfrentar esses riscos, e ainda facilitar o uso 
racional de recursos do setor saúde. Os desastres de 
origem natural estão relacionados com distúrbios do clima 
como os ciclones, tornados, enchentes, furacões e ondas 
de calor ou frio ou com a geologia como os terremotos, os 
maremotos e os vulcões; 
II - Do ponto de vista dos prestadores de saúde, um 
desastre deve ser definido com base nas suas 
consequências sobre a saúde e os serviços de saúde; 
III - A saúde ambiental em situações de desastre de 
origem natural compreende a prestação de serviços 
essenciais para a proteção e garantia do bem-estar da 
população afetada, especialmente a garantia do 
fornecimento de água potável e eliminação de águas 
residuais, disposição de excrementos humanos e de 
resíduos sólidos, segurança alimentar, controle de 
vetores, saneamento básico, higiene doméstica e enterro 
dos mortos; 
IV – A Vigilância em Saúde Ambiental dos Riscos 
decorrentes dos Desastres Naturais é realizada pelo 
Vigidesastres. 
( A ) Somente a alternativa I está correta; 
( B ) Estão corretas as alternativas I e III; 
( C ) Estão corretas as alternativas II e IV; 
( D ) Estão corretas as alternativas I, III e IV; 
( E ) Todas as alternativas estão corretas. 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 171 
 
EXERCÍCIO 3 
 
TUBERCULOSE: Mito ou Verdade? Marque V para 
verdadeiro e F para falso: 
(oba) “Tecnologias sociais comunitárias na prevenção 
da tuberculose” são experiências criativas sobre 
tuberculose, realizadas por organizações comunitárias 
das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador, 
Belém e Porto Alegre, e que podem ser adaptadas e 
reproduzidas na Atenção Primária brasileira; 
(oba) O Brasil permanece na lista de 22 países que 
concentram 80% dos casos de tuberculose do mundo. 
Anualmente, são notificados aproximadamente 72 mil 
casos novos e 4,7 mil mortes em decorrência da 
doença. Estima-se ainda que 57 milhões de pessoas 
estejam infectadas pelo bacilo da tuberculose 
(Mycobacterium tuberculosis) em todo o país. O Rio de 
Janeiro é o estado de maior incidência da doença; 
(oba) Apesar de ser uma doença antiga, considerada 
emergência global pela Organização Mundial de Saúde 
(OMS), a falta de informação é ainda um dos principais 
desafios enfrentados para o seu controle; 
(oba) O objetivo de difundir hábitos saudáveis para a 
população persiste por ser uma doença que só afeta 
aos pobres. 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 172 
 
EXERCÍCIO 4 
 
Quais as doenças que devem ser notificadas em 24h 
(Notificação Imediata)? 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
 
EXERCÍCIO 5 
 
O que são e como se configuram as Ações prioritárias 
de vigilância em saúde? 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
RESUMO 
 
Nesta aula vimos: 
 
 A capacidade para monitorar continuamente a 
tendência de uma doença/agravo na 
população, estabelecendo medidas de 
prevenção e controle; 
 
 O fluxo das informações no Sistema de 
Vigilância Epidemiológica (SVE); 
 
 O papel e a responsabilidade dos diversos 
níveis no SVE; 
 
Aula 5| Uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde 173 
 A notificação e realização de uma 
investigação epidemiológica de um caso 
suspeito. 
 
 
 
GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: 
AULA 1 – 1A; 2A. AULA 2 – 1C; 2D. AULA 3 – 1B; 2C. AULA 4 – 1C; 2E. 
AULA 5 – 1E; 2E; 3(V,V,V,F). 
 
 
 
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina 
CURSO: Gestão em Saúde 
DISCIPLINA: Epidemiologia e Estatística Vital 
ALUNO(A): MATRÍCULA: 
 
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________ 
QUESTÃO 1: A partir da sua leitura e do que apreendeu a respeito da 
epidemiologia dê a ela uma definição. 
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: 
 
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: 
endereço eletrônico) – OPCIONAL: 
 
 
Resposta (com as suas palavras): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUESTÃO 2: A que se refere o modelo de História Natural da Doença? 
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: 
 
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: 
endereço eletrônico) – OPCIONAL: 
 
 
Resposta (com as suas palavras): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUESTÃO 3: Diferencie Prevalência de incidência, e traga exemplos para ilustrar 
estas definições. 
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: 
 
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: 
endereçoeletrônico) – OPCIONAL: 
 
 
Resposta (com as suas palavras): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUESTÃO 4: O que são e como se configuram as Ações prioritárias de vigilância 
em saúde? 
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: 
 
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: 
endereço eletrônico) – OPCIONAL: 
 
 
Resposta (com as suas palavras): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATENÇÃO: 
 
Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma 
argumentação com suas próprias palavras. 
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender 
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é 
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem 
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas 
(citações), quando este for o caso. 
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados 
com freqüência para as respostas das avaliações. 
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas 
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina. 
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO 
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS. 
 
 
 
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento 
CURSO: Gestão em Saúde 
DISCIPLINA: Epidemiologia e Estatística Vital 
ALUNO(A): MATRÍCULA: 
 
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________ 
Atividade: 
O pulso 
Titãs 
 
O pulso ainda pulsa 
O pulso ainda pulsa... 
Peste bubônica 
Câncer, pneumonia 
Raiva, rubéola 
Tuberculose e anemia 
Rancor, cisticercose 
Caxumba, difteria 
Encefalite, faringite 
Gripe e leucemia... 
E o pulso ainda pulsa 
E o pulso ainda pulsa 
Hepatite, escarlatina 
Estupidez, paralisia 
Toxoplasmose, sarampo 
Esquizofrenia 
Úlcera, trombose 
Coqueluche, hipocondria 
Sífilis, ciúmes 
Asma, cleptomania... 
 
E o corpo ainda é pouco 
E o corpo ainda é pouco 
Assim... 
Reumatismo, raquitismo 
Cistite, disritmia 
Hérnia, pediculose 
Tétano, hipocrisia 
Brucelose, febre tifóide 
Arteriosclerose, miopia 
Catapora, culpa, cárie 
Cãibra, lepra, afasia... 
O pulso ainda pulsa 
E o corpo ainda é pouco 
Ainda pulsa 
Ainda é pouco 
Pulso 
Pulso 
Pulso 
Pulso 
Assim... 
Das doenças relacionadas na música acima, já possuem vacinas para: 
Pneumonia, Raiva, Tuberculose, Gripe, Hepatite B e Hepatite A, Rubéola, Caxumba, 
Sarampo, Difteria, Coqueluche, Tétano, Febre Tifóide (tifo), Catapora. 
1) Cite pelo menos três doenças de notificação compulsória em 24h. 
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________ 
2) Explique o que é notificação compulsória e cite a portaria sobre a mesma. 
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________ 
 
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Solange. Dinâmica populacional brasileira na virada do século 
XX. Texto para discussão nº1034. Rio de Janeiro, IPEA, 2004. 
 
BULLETIN OF WORLD HEALTH ORGANIZATION – OMS – 
Desigualdade em saúde e Diferenças entre grupos Sociais: O 
que devemos medir? 2000. 
 
CARVALHO, José Alberto Magno de; SAWIER, Diana Oya e 
RODRIGUES, Roberto do Nascimento. Introdução a Alguns 
Conceitos Básicos e Medidas em Demografia. Belo Horizonte: 
ABEP, 1994; 63 pp. 
 
CÔRTES, José de Angelis. Epidemiologia – Conceitos e princípios 
fundamentais. São Paulo: Livraria Varela, 1993. 
 
DUARTE, E. C.; SCHNEIDER, M. C.; SOUSA, R. P.; RAMALHO, W. 
M.; SARDINHA, L. M. V.; SILVA JR, J. B.; SALGADO, C. C. – 
Epidemiologia das Desigualdades em Saúde no Brasil – Um 
estudo exploratório – FUNASA/OPAS/OMS – 2002. 
 
FERRAZ, O. L. M., Saúde, Pobreza e Desigualdade – 2008; 
 
FORATTINI, Oswaldo Paulo. Epidemiologia Geral. 2ª Ed. Depto 
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Fundação IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 
Dicionário demográfico multilingue: versão brasileira, Centro 
Brasileiro de Estudos Demográficos. Rio de Janeiro: IBGE, 1969. 
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JEKEL, James F. et al. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina 
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LESER, Walter. et al. Elementos de Epidemiologia Geral. São 
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