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Achados em neurociências para TEA - TCC IDE CF

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FACULDADE IDE 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS 
 
 
 
 
 
JOSÉ CARLOS DA SILVA LOPES FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROCIÊNCIAS E O TRANSTORNO DO ESPECTRO DO 
AUTISMO: ALGUNS ACHADOS BIBLIOGRÁFICOS 
IMPORTANTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2021 
 
JOSÉ CARLOS DA SILVA LOPES FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROCIÊNCIAS E O TRANSTORNO DO ESPECTRO DO 
AUTISMO: ALGUNS ACHADOS BIBLIOGRÁFICOS 
IMPORTANTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2021 
Projeto de trabalho de conclusão do curso de 
Especialização em Neurociências 
Multiprofissional, sob orientação do Prof. Dr. 
Marcelo Cairrão. 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 Introdução..............................................................................................................06 
 
2 Objetivos................................................................................................................08 
 
3 Discussão...............................................................................................................09 
 
6 Conclusões............................................................................................................21 
 
7 Referências............................................................................................................22 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
6 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os transtornos do Neurodesenvolvimento são caracterizados por déficits no 
desenvolvimento que surgem logo no início da vida e que prejudicam o 
funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional dos indivíduos. Com certa 
frequência, eles aparecem associados a outros transtornos (DSM 5, 2014). Durante 
boa parte do século XX, o termo retardo mental foi utilizado como forma de rotular as 
alterações cognitivas associadas a anormalidades encefálicas que surgiam no 
período inicial da vida, como síndrome de Down e síndrome do X Frágil (KANDEL et 
al. 2014). O Transtorno do Espectro do Autismo, classificado como Transtorno do 
Neurodesenvolvimento, pode ser caracterizado por déficits na comunicação e 
interação social em diversos contextos, o que compromete vínculos sociais, podendo 
estar associado a diversos fatores, como atraso na fala ou déficits na manutenção 
dos relacionamentos. Além disso, padrões de comportamentos e interesses em 
atividades restritas ou repetitivas também são critérios para diagnóstico. O nível de 
gravidade do TEA depende da quantidade de apoio para comportamento social ou 
comportamentos restritos e repetitivos (RRBIs), sendo o nível 1 exigindo algum 
apoio e o nível 3 exigindo apoio muito substancial (DSM 5, 2014). Mesmo com esses 
critérios, as causas fisiopatológicas do autismo ainda são indefinidas, e o diagnóstico 
ocorre através de observação clínica. O autismo é um transtorno geneticamente 
complexo e possui um amplo espectro de manifestações (KANDEL et al. 2014). 
Ambientes sociais, por exemplo, parecem menos recompensadores para pessoas 
com TEA do que indivíduos típicos (CHEVALLIER et al. 2012) e esses achados 
podem estar associados a funções de regiões específicas do encéfalo (DAWSON et 
al., 2005 e SCHULTZ, 2005). Essas dificuldades de motivação social podem gerar 
dificuldades de desenvolver habilidades sociais específicas (DAWSON et al. 1998 e 
KOHLS et al. 2012), hipótese confirmada recentemente por Clements et al. (2018). 
Além disso, pessoas com TEA encontram recompensas por estarem engajadas em 
atividades não sociais, como comportamentos de interesse restritos e repetitivos 
(CASCIO et al. 2014; KOHLS, YERYS E SCHULTZ, 2014; CLEMENTS et al. 2018). 
Assim, o engajamento em RRBIs se torna um concorrente importante com a 
desmotivação social, a partir de alterações nas respostas do Sistema de 
Recompensas (KOHLS et al. 2018). Alterações identificadas no Sistema de 
7 
 
Neurônios Espelho (CHAN e HAN, 2020), que comprometeriam a aquisição de 
habilidades aprendidas socialmente, bem como alterações identificadas também a 
nível molecular, indicando processos neuroinflamatórios que comprometem a 
comunicação celular e processos de apoptose (BESSIS et. al. 2006) podem trazer 
indícios de possíveis caminhos que levam a descobertas direcionadas a 
intervenções mais assertivas no tratamento de pessoas com autismo. 
Este trabalho apresenta uma Revisão Narrativa sobre os temas de 
Neurociências que englobam disfunções no SNC de pessoas com diagnóstico de 
Transtorno do Espectro Autista (DSM -5). Esse tipo de revisão foi escolhida por fazer 
parte de um escopo de “[...] publicações amplas” (ROTHER, 2007) e que permite a 
discussão abrangente sobre determinado assunto, com síntese qualitativa sem 
necessária definição de questão específica. Ou seja, o problema apresenta, 
também, características amplas, diferente da Revisão Sistemática, que apresenta 
questão específica. 
 Quanto ao período, foram escolhidos artigos publicados preferencialmente a 
partir de 2010, tendo em vista que os procedimentos para coleta de dados, os 
equipamentos e os delineamentos de pesquisa se atualizam constantemente, e as 
novas descobertas impulsionam as pesquisas subsequentes para adequação dos 
métodos. Isso não excluiu a inclusão de bibliografia anterior, inclusive considerando 
a relevância para a área. 
 O processo de revisão foi realizado conforme descrito na tabela abaixo: 
 
ATIVIDADES 
2020 2021 
09 10 11 12 01 02 03 04 05 06 07 08 
Levantamento Bibliográfico X X X X X X X X 
Análise dos Dados X X 
Conclusão X 
Depósito X 
 
Não houve investimento monetário da parte do pesquisador, tampouco foi 
necessário o levantamento de recursos externos para a realização dessa pesquisa. 
 
 
8 
 
OBJETIVOS 
 
OBJETIVO GERAL 
 Discorrer sobre alguns achados importantes em neurociências acerca do 
funcionamento neuroatípico de pessoas diagnosticadas com o Transtorno do 
Espectro do Autismo (TEA). 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 Apresentar aspectos gerais de alguns dos achados acerca do funcionamento 
do Sistema de Recompensa (Reward System) no autismo, e as relações com a 
motivação para comportamento e reforçamento social vs reforço não social ou 
comportamentos repetitivos e interesses restritos (RRBIs); 
 Discorrer brevemente sobre alguns dos achados importantes com relação ao 
Sistema de Neurônios Espelho (Mirror Neuron System – MNS) no que diz 
respeito ao neurodesenvolvimento, considerando a linguagem, empatia e 
aprendizado social no TEA; 
 Expor resumidamente inferências acerca de aspectos biomoleculares e 
neuroinflamatórios como possíveis mecanismos envolvidos na expressão 
fenotípica comportamental de pessoas com Transtorno do Espectro Autista 
9 
 
DISCUSSÃO 
 
O Autismo é uma síndrome heterogênea, caracterizada por dificuldades 
marcantes na interação social e na comunicação (KANNER, 1943). Essas 
dificuldades geram comprometimentos na construção de vínculos afetivos e no 
reconhecimento das emoções. Desde que os primeiros registros foram cunhados, 
complexas discussões históricas e muitas denominações foram utilizadas, o que 
tornava a compreensão ainda mais difícil (WING & GOULD, 1979) até chegarmos ao 
consenso atual de classificação diagnóstica do DSM-V (2014). 
Independente de identificarmos a razão, houve aumento nos casos 
registrados de ASD no mundo e poucas informações consistentes versam sobre isso 
(QUAAK, BROUNS & BOR, 2013). Devido aos limites ainda encontrados no 
tratamento de pessoas com Neurodesenvolvimento atípico, como o TEA, estudos 
como o de Raulston et. al. (2019) apontam para a importância do uso de 
procedimentos comportamentais delineados cientificamente e que objetivem a 
intervenção em sintomas comportamentais para pessoas com diagnósticos em TEA, 
compartilhado por profissionais da área e considerando que há efetivas mudanças 
nessas respostas (redução de comportamentos-problema ou ganho de habilidades 
que estão em déficits).Porém, a compreensão dos mecanismos fisiológicos que mantém essas 
respostas é necessária para ampliar as possibilidades interventivas, como a 
compreensão de atividades disfuncionais de áreas envolvidas na comunicação, 
plasticidade, memória, sistema de recompensa e comportamentos e interesses 
restritos e repetitivos, bem como outras áreas envolvidas em processos motores, 
cognitivos e emocionais. 
 
Achados sobre o Sistema de Recompensa e suas respostas à estímulos 
sociais e estímulos não sociais ou comportamentos repetitivos e interesses 
restritos (RRBIs) 
Nos últimos tempos, com novas técnicas de imagem e aperfeiçoamento dos 
processos de pesquisa em neurociências, algumas discussões surgem em torno do 
papel do Sistema de Recompensa (Reward System – RS) no surgimento ou 
manutenção de comportamentos em pessoas com TEA, seja a indisponibilidade 
10 
 
para as relações sociais ou comunicação, seja nos interesses bastante restritos ou, 
ainda, engajamento em comportamentos repetitivos. Podemos encontrar facilmente 
publicações disponíveis acerca desses temas. Fiz a seleção de alguns artigos que 
incluem desde Estudo de Caso-controle até Revisões Sistemáticas com e sem 
Metanálise, e que trazem as discussões mais recentes acerca dos achados que 
incluem o Sistema de Recompensa e sintomas ASD. 
Kohls et. al. (2018), contextualizando que as Neurociências geralmente têm 
apresentado maior interesse nos déficits de comunicação social que nos 
mecanismos cerebrais que causam e mantém os comportamentos e interesse 
restritos e repetitivos (Repetitive and Restricted Behaviors and Interests - RRBIs no 
inglês), e salientando o acumulado de evidências de disfunções no Sistema de 
Recompensa (Reward System) com resultados ainda muito mistos e inconsistentes, 
realizaram pesquisa com 67 participantes utilizando Ressonância Magnética 
Funcional (fMRI) e compararam grupo de 45 jovens com TEA (Autism Spectrum 
Disorder – ASD), sem Deficiência Intelectual, a um grupo controle na realização de 
tarefa que obtinha, como consequências, respostas neutras (imagens neutras), 
reforço social (vídeos de pessoas sorrindo ou fazendo sinal positivo) ou reforço 
personalizado (incluía no grupo TEA coisas de Interesses Circunscritos – Ics). 
Além desse mapeamento, solicitaram que as famílias dos participantes com 
TEA preenchessem algumas escalas indicando preferências e interesses, respostas 
de comportamento social, comportamentos repetitivos e habilidades, entre outros 
aspectos que pudessem dimensionar comportamentos característicos do Espectro. 
Como o estudo utilizou formato de mapeamento de Cluster inteiro do encéfalo, e não 
apenas de uma região específica, os resultados não apontaram diferenças 
significativas do grupo TEA comparado ao grupo controle quanto a ativação do 
Sistema de Recompensa ou áreas mais ligadas a ICs (estriado ventral, cingulado 
anterior, córtex pré-frontal ventro-medial e ínsula), inclusive para respostas sociais. 
Porém, em uma vista mais detalhada, identificaram ativação significativamente 
aumentada no Estriado Dorsal (Núcleo Caudado) para os reforços de Interesses 
Circunscritos, quando comparado ao reforço social nos participantes com TEA 
(KOHLS ET. AL. 2018). 
Como resultado, destacaram o fato de que houve, também, relação positiva 
entre o aumento da atividade do núcleo caudado para RRBIs e o resultado das 
escalas preenchidas pelas famílias e que indicavam, nesses participantes, prejuízo 
11 
 
social ou engajamento em RRBIs. Assim, a relação se apresenta como: quanto 
maior ativação do caudado, maior o nível de prejuízo social e engajamento em 
comportamentos e interesses restritos e repetitivos. Isso aponta para a possibilidade 
do TEA ser, em parte, um transtorno de dependência de RRBIs. Fica em aberto 
então questões como: há alteração aberrante do caudado, também, para reforços 
primários como comidas, por exemplo? Como se dá esse mecanismo de 
recompensa além dos Interesses Circunscritos (ICs), como no caso das 
estereotipias? Apesar de o achado identificar maior ativação do caudado, os 
pesquisadores reconhecem que não há apenas um correlato anatômico para ICs, e 
sim áreas interagindo de modo sistêmico. 
Avaliando as hipóteses de que a motivação para comportamento social no 
autismo é menor do que para grupos neurotípicos, Clements et. al. (2018) 
identificaram em meta-análise alguns achados mistos. A hipótese que mobilizou o 
trabalho é de que pessoas dentro do espectro do Autismo apresentam, desde o 
início da vida, pouca atenção em estímulos sociais, como fazer contato ocular ou 
atentar a rostos, o que implicaria em um dos importantes motivos para os déficits de 
desenvolvimento de certas habilidades, devido a poucas oportunidades para 
aprendizado, como engajar em brincadeiras e fazer amizades. 
Em contrapartida, parece que as informações não sociais produzem 
respostas diferentes, como maior índice de atenção visual para objetos e 
engajamento com esses itens, atenção a sons não sociais (como barulhos de 
animais ou brinquedos), além de sinais claros de que a qualidade das amizades 
deixa a desejar e que as habilidades da teoria da mente se desenvolvem mais 
tardiamente do que pessoas sem TEA. 
A teoria da mente – ToM - (SILVA, RODRIGUES e SILVEIRA, 2012) seria a 
habilidade de compreender e predizer o nosso comportamento ou o dos outros 
quando atribuímos estados mentais, como emoções e crenças ou desejo. Essa 
capacidade de inferir ou interpretar os estados mentais próprios ou dos outros é um 
marco importante do desenvolvimento humano e atrasos no desenvolvimento da 
ToM ou sua aquisição incompleta parece contribuir com prejuízos na comunicação e 
interação social, como acontece no TEA (MATTHEWS e GOLDBERG, 2016). 
Nesse sentido, parece haver menos clareza nas evidências neurocognitivas 
para motivação social, tendo em vista a multiplicidade de informações de dados de 
fMRI (Ressonância Magnética Funcional) disponível na literatura, com 
12 
 
predominância para o estudo do envolvimento do Sistema de Recompensa (o que 
inclui estriado dorsal – caudado, estriado ventral – accumbens, córtex órbito-frontal, 
córtex pré-frontal ventromedial, córtex cingulado anterior, putâmen, ínsula e 
amígdala) para respostas com uso de recompensas monetárias. 
Eles apontam que os resultados, em geral, são contraditórios sobre 
hiperativação ou hipoativação de determinadas regiões de recompensa para 
visualização de faces humanas e que as amostras também são pequenas, o que 
pode ter influenciado nas dificuldades de analises anteriores. Assim, justificam a 
importância de uma nova meta-análise para combinar melhor os resultados e 
apresentar resultado mais sintetizado e homogêneo, tendo em vista as técnicas mais 
recentes meta-analíticas (como uso de covariáveis e inclusão de resultados opostos, 
por exemplo) e com foco no uso de Cluster de cérebro inteiro (CLEMENTS ET. AL. 
2018). 
Após uso dos descritores na pesquisa à época (ASD, Asperger, fMRI) em 
bases de dados até Junho de 2017, que identificou inicialmente 836 artigos de caso-
controle que, após excluídos os estudos não originais com uso de grupo controle, os 
que não continham “recompensa” descritos no resumo, além dos que não continham 
metodologia alinhada a vários paradigmas de avaliação de recompensa (como 
visualização passiva, recompensa por tomada de decisão ou desempenho 
recompensado por atraso de incentivo, tarefas Go-no go e outras como 
discriminação auditiva), os pesquisadores elegeram 13 artigos, incluindo 259 
indivíduos com TEA e 246 crianças com desenvolvimento típico, sendo taxa de 90% 
de homens para os dois grupos. Todos os estudos foram submetidos ao teste de 
Egger, não fornecendo indícios de viés de publicação. 
O resultado da meta-análise aponta alterações no Sistema de Recompensa 
não apenas para interesses sociais, mas também para interesses não sociais ou 
interesses restritos.Os achados indicam que há hipoativação do circuito de 
recompensas para atividades sociais e recompensas não sociais (caudado, 
accumbens e giro cingulado anterior com hipoativação mais robusta). Já para os 
interesses restritos, a metanálise observa que houve hiperativação desses circuitos 
de recompensa, além de evidências preliminares indicando alterações no 
processamento de recompensas primárias (imagens de comidas), cabendo novas 
investigações. 
13 
 
Perceberam, ainda, que houveram respostas diferentes entre o desejo por 
estímulos sociais (hipoativação do Sistema de Recompensa) ou o gostar de 
estímulos sociais (hiperativação do sistema de recompensa), mas que essa relação 
também precisa ser melhor esclarecida. Com esses resultados, Clements et. al. 
(2018) reconhecem que não é possível explicar, por um único mecanismo neural ou 
cognitivo, o desenvolvimento e a manutenção dos sintomas presentes em todas as 
pessoas com TEA. Assim, sugerem ampliação dos estudos acerca dos circuitos que 
envolvem motivação e recompensa para esse grupo, destacando que, apesar da 
confiabilidade desta análise, dados muito heterogêneos foram identificados porque 
os critérios adotados pelos trabalhos revisados não foram replicados 
adequadamente para todos, e cada estudo abordou a pesquisa com parâmetros 
individuais. 
Tschida e Yerys (2020) também se preocuparam com a necessidade de 
revisões sistemáticas que abordassem o tema de recompensa, mas incluindo um 
sistema de avaliação de valência positiva para pessoas com TEA, baseados também 
na teoria de desmotivação social para pessoas com TEA. Porém, considerando que 
há um levantamento de dados que suporta essa hipótese amplamente, resolveram 
usar um instrumento para quantificar o processamento de recompensa em ASD 
(Autism Spectrum Disorder), levando em conta os componentes desse 
processamento de recompensa (Resposta da recompensa, aprendizagem da 
recompensa e avaliação da recompensa). 
Assim, buscam entender quais desses componentes de recompensa são 
alterados em pessoas com TEA, usando um Sistema de Valência Positiva (PVS), 
uma matriz de critério de domínio de pesquisa (RDoC) do National institute of Mental 
Health (EUA), já revisado em outros trabalhos, como o de Insel et. al (2010). Eles se 
deteram em avaliar apenas os critérios de valência positiva, não considerando os 
critérios de Valência negativa importantes para esta revisão. 
A hipótese é de que, baseados nos trabalhos que sinalizam as regiões do 
Sistema de Recompensa ativados, há possibilidade de identificar qual a relação do 
surgimento e manutenção de comportamentos restritos e repetitivos ou de 
comportamentos sociais com os processos de recompensa (considerando o reforço 
positivo) no TEA. Os autores alertaram, ainda, que usariam ampla literatura 
disponível, afim de criar um “Modelo Heurístico” de explicação dos processamentos 
de recompensas nesse grupo, como o que Kohls et. al. (2014) propõem quando 
14 
 
afirmam que os comportamentos repetitivos são mantidos por supervalorização das 
recompensas obtidas nesse engajamento e que, por essa razão, há resistência em 
mudanças para aprender novos comportamentos. De todo modo, esse modelo 
proposto pode ser revisado e testado futuramente em outros ensaios (TSCHIDA e 
YERYS, 2020) 
Em razão de considerar a valência positiva obtida em algumas respostas 
comportamentais já identificadas em outros trabalhos, esses autores conjecturam 
que ocorre já desde cedo no TEA uma seleção preferencial que vai na direção dos 
comportamentos repetitivos e restritos (RRBIs) e não sociais, em detrimento dos 
comportamentos sociais. 
Assim, baseados na revisão de 34 trabalhos selecionados a partir de critérios 
bem estabelecidos, como artigos que usaram apenas modelos humanos e com 
componentes que incluíam recompensa e, ainda, baseados nos critérios RDoC, 
avaliaram a resposta inicial à recompensa (no momento que esta é recebida), a 
antecipação da recompensa (quando se espera por ela - expectativa) e a saciedade 
da recompensa (quando já não mais a deseja). 
Considerando que a revisão visou integrar estudos comportamentais e 
cognitivos acerca dos processamentos de recompensa em indivíduos com TEA, 
Tschida e Yerys (2020) chegaram a algumas conclusões dos resultados obtidos e 
das regiões envolvidas: a ínsula foi considerada implicada na resposta inicial à 
recompensa, enquanto núcleo accumbens e amígdala foram mais implicados na 
antecipação da recompensa. As evidências não foram suficientes para explicitar 
áreas envolvidas na saciedade de recompensa. Outros domínios também foram 
avaliados, como erro de previsão de recompensa, aprendizagem probabilística e 
hábito, ligados ao Sistema de valência Positiva (PVS), mas não é o objetivo deste 
trabalho nos deter a eles. 
Assim, Tschida e Yerys (2020) concluem que há evidências de ativação 
atípica do accumbens e córtex pré-frontal em crianças e adultos para muitos 
subconstrutos do Sistema de Valência Positiva. Nesse sentido, o Córtex pré-frontal 
medial, o córtex órbitofrontal, o núcleo accumbens, a ínsula e o cingulado anterior 
surgem como possíveis alvos de intervenções futuras. Apesar de sinalizarem a 
esparsa e mista literatura encontrada e alertar para a importância de seguir as 
orientações e critérios RDoC para evitar que as tarefas de fMRI recrutem áreas que 
não deveriam ser ativadas durante o rastreio, para eles as descobertas são 
15 
 
encorajadoras a respeito das relações de recompensa com parâmetros do Sistema 
de Valência Positiva. 
Esses achados acerca do Sistema de Recompensa (RS) apontam para um 
caminho importante e de necessário aprofundamento para melhor esclarecer as 
relações entre a ativação dessas áreas e os comportamentos presentes no TEA. 
 
Descobertas acerca do Sistema de Neurônios Espelho (MNS) e suas possíveis 
influências no neurodesenvolvimento: aprendizagem, empatia e aprendizado 
social 
 
Tem-se discutido a importância de entender os mecanismos que estão por 
trás da compreensão das ações dos outros. Um dos eixos importantes e tradicionais 
da discussão surge a partir das inferências acerca dos neurônios-espelho, tendo em 
vista que aparentemente nossa compreensão do que os outros estão fazendo se dá 
por inferências e, na teoria, as informações são recebidas e submetidas a 
processamento sensorial simples e, em seguida levadas para áreas associativas 
(superiores), onde serão processadas por mecanismos cognitivos sofisticados, 
comparando com informações armazenadas anteriormente. Somente após esse 
processo, conseguimos entender o que as outras pessoas estariam fazendo 
(RIZZOLATTI et al. 2009). 
Porém, a facilidade de compreendermos essas ações apontam, na verdade, 
para a existência de uma rede alternativa envolvida nessa percepção, onde as 
informações, após passar pelo sistema visual, são mapeadas no sistema motor 
correspondente do observador, tornando-o ciente do resultado das próprias ações e 
ocorrendo um padrão neural semelhante ao que surge quando realizam a ação 
voluntária. Essa é a hipótese que levaria à entender o processo de compreensão 
das ações dos outros. O Sistema de Neurônios-espelho (Mirror Neuron System – 
MNS) foi descrito inicialmente em primatas, sendo originalmente descoberta na área 
F5, que compreende a área ventral do córtex pré-motor nos macacos (RIZZOLATTI 
etal. 2009). Também foi identificado no PFG e no lobo parietal inferior, nas áreas 
intraparietais inferiores. 
No Humanos, a partir de técnicas de imagem, foram identificados nível BOLD 
(oxigenação) nas áreas visuais, giro inferior do lobo parietal (IPL), na área ventral do 
córtex pré-motor, além do Giro Frontal Inferior (IFG) na parte mais caudal, ativando 
16 
 
regiões somatotópicas e envolvidas no movimento (áreas parietais e frontais, como 
no modelo de Penfield), além do sulco temporal superior. Os neurônios da parte 
posterior do lobofrontal inferior e os neurônios da parte anterior do lobo parietal 
inferior (áreas anatomicamente conectadas formando um sistema MNS 
frontoparietal) possuem propriedades fisiológicas muito importantes para a 
integração sensório motora (LACOMBONI & DAPRETTO, 2006). 
O que já foi compreendido é que esses neurônios disparam tanto no momento 
em que realizamos o ato, quanto no momento em que observamos alguém fazer, e 
que estão ligados ao objetivo da tarefa, independente da topografia motora que 
iremos usar (RIZZOLATTI et.al. 2009). Isso indica que deste modo há a 
compreensão, principalmente, na intenção dos atos motores dos outros, e esse 
sistema está relacionado, ainda, a outros processos cognitivos, como imitação, 
linguagem e teoria da mente (OBERMAN et al. 2005). Porém, é observado que há 
neurônios espelho em áreas que participam de atividades mais viscerais e eventos 
emocionais, como córtex cingulado e ínsula anterior (GALLESE V et al. 2004) e 
(SINGER T 2006), indicando sua participação também na compreensão ou 
expressão de eventos emocionais. 
Essas áreas foram identificadas em estudos em que pessoas observavam 
imagens referentes a dor ou nojo, ocorrendo ativação de ambas e é importante 
ressaltar o destaque dado por Rizzolatti et. al. (2009) de que a ínsula anterior possui 
estrutura disgranular, o que a faz citoarquitetonicamente semelhante às áreas 
motoras. Ainda, em humanos há neurônios-espelho identificados na área de Broca, 
envolvida no processamento da linguagem e produção da fala. 
No Transtorno do Espectro Autista – TEA (Autism Spectrum Disorder – ASD), 
é hipotetizado que há mau funcionamento nas funções mediadas pelo MNS 
(hipótese do espelho quebrado), o que contribui com o surgimento dos sintomas 
como prejuízos na linguagem, comunicação, emoções e compreensão na intenção 
dos outros (WILLIAMS et al. 2001). Esses estudos têm se ampliado, confirmando em 
partes essa teoria, como o estudo de caso-controle realizado por Oberman et.al. 
(2005), que identificou alteração na resposta de supressão do ritmo MU (8-13 Hz na 
área motora), comparando grupo de 10 indivíduos ASD com grupo controle na 
observação de movimentos. 
Mais recentemente, estudando através de tractografia probabilística e tensor 
de difusão a microestrutura da matéria branca (axônios) de neurônios espelho 
17 
 
humanos com estudo de caso controle com 15 ASD e 13 indivíduos saudáveis, 
Fründt et. al. (2018) concluíram que a anatomia da rede MNS é semelhante no grupo 
ASD comparado ao controle, com fortes conexões entre áreas do cérebro (hipótese 
do espelho ininterrupto), e que a microestrutura da matéria branca que conecta o 
Giro Supra Marginal (SMG) direito e o Giro Frontal Inferior (IFG) está 
significativamente associada com a gravidade dos sintomas de TEA, talvez mais 
associados à empatia e funcionamento socioemocional do que à linguagem. 
Há resultados anteriores de fMRI que indicam mau funcionamento de MNS, 
mas que é possível que a idade tenha sido um dos fatores influenciando diretamente 
os resultados (FRÜNDT et al., 2018), tendo em vista que este estudo tractográfico 
utilizou indivíduos adultos, ao contrário de alguns estudos anteriores que indicavam 
mau funcionamento de MNS em crianças, como o de Dapretto et.al. (2006). Além 
disso, uso de medicamentos, nível de QI e o sexo podem influenciar 
substancialmente os resultados. 
Compilando essas informações compreendemos que, também para as 
hipóteses do funcionamento do Sistema de Neurônios Espelho (MNS), os achados 
são inconclusivos, com amostras muito mistas e divergências nos resultados, com 
influências sobre métodos de pesquisa, idade e natureza dos estímulos. 
Porém, reconhecendo esses achados múltiplos, Chan e Han (2020) também 
concluem, em matanálise, que há realmente alterações prejudiciais no MNS e que 
os resultados das pesquisas são influenciados, em geral, pelos fatores que modulam 
a ativação do sistema, como natureza dos estímulos e a idade dos participantes, e 
isso pode ajudar a explicar as contradições das pesquisas anteriores. 
 
Processos biomoleculares e neuroinflamatórios e o Transtorno do Espectro 
Autista 
 
Além das questões já abordadas nesse trabalho, outros estudos importantes 
apontam para um eixo mais associado à biologia molecular, e que indica processos 
neuroinflamatórios como possíveis fatores associados aos sintomas presentes no 
Transtorno do Espectro Autista (TEA). 
No momento, como não existem ainda fatores esclarecidos sobre os processos 
fisiopatológicos do TEA, o diagnóstico é baseado em sintomas clínicos, como déficit 
18 
 
na comunicação/interação social e comportamentos restritos e repetitivos (MATTA, 
HILL-YARDIN e CRACK 2019). 
Porém, evidências recentes e cada vez mais crescentes apontam para um 
processo neuroinflamatório desregulado, e surge interesse da comunidade científica 
pelo envolvimento potencial na reação dos astrócitos e micróglias a esses estímulos 
inflamatórios, seja na estruturação de uma resposta imune ou na regulação das 
funções sinápticas. Assim, a interação e diálogo que ocorre no eixo intestino-cérebro 
também tem sido alvo de pesquisa crescente, devido ao diálogo microbiano-
imunológico-neuronal subjacente. A neuroinflamação é um processo que surge após 
doenças, infecção ou lesão, ocorrendo proliferação das células da glia, ou seja, dos 
astrócitos e micróglias (MATTA, HILL-YARDIN e CRACK 2019). 
De acordo com revisão de Bessis et. al. (2006), tem se discutido a muito tempo 
o papel das micróglias no sistema nervoso, hora como benéfica e hora como 
prejudicial. Porém, indica a importância de atentarmos, a partir de estudos recentes, 
para a sua tarefa de parceira permanente dos neurônios, como reguladora da 
maioria das funções neuronais, e nos processos de sinaptogênese e apoptose. 
Os Astrócitos têm a importante função de manutenção da homeostasia 
fisiológica dentro do SNC (MATTA, HILL-YARDIN e CRACK 2019), dando suporte a 
função neuronal, além da transmissão glial e também na liberação e captação de 
sinalizações via Cálcio, bem como participando ativamente no processamento das 
informações pelo Sistema Nervoso (ARAQUE e NAVARRETE, 2010), contradizendo 
teorias anteriores que defendiam suas funções como sendo apenas de suporte para 
os neurônios. Ou seja, além de haver comunicação entre neurônios, há ainda entre 
astrócitos e neurônios e entre astrócitos e astrócitos (neurotransmissão e 
gliotransmissão), influenciando na comunicação pré e pós sináptica, respaldando o 
conceito de sinapses tripartidas e tornando a compreensão da rede comunicadora 
do SNC ainda mais complexa. 
A disfunção imunológica identificada no TEA ainda não teve sua etiologia 
identificada, ou seja, não se sabe se a inflamação ocasiona os sintomas de TEA ou 
se é uma consequência da desordem. O fato é que há na literatura levantamentos 
importantes de alterações na atividade sináptica quando há sinais de inflamação, o 
que inclui os levantamentos sobre o eixo intestino-cérebro devido as respostas 
imunológicas, e provavelmente contribuem para os fenótipos apresentados em ASD, 
seja por atividade reduzida ou por hiperconectividade cerebral (MATTA, HILL-
19 
 
YARDIN e CRACK 2019). É necessário que haja investigações mais aprofundadas 
entre anormalidades gliais e imunes e suas associações com sintomas de ASD para 
que surjam novos caminhos direcionados à intervenção, mas é importante citar que 
foi observado um aumento desproporcional no volume de substância branca por 
muitos pesquisadores, que pode ser uma das causas do aumento no volume do 
encéfalo relatado em ASD. Essas alterações foram encontradas em crianças no 
início da vida, não estando presentes na adolescência (KANDEL et al. 2014). 
Um grupo de pesquisadores brasileiros realizou estudo em que modelaram a 
interação entre neurônios e astrócitos de pessoas autistas usando células-tronco 
humanas pluripotenteinduzidas (iPCs), com intuito de compreender como se dá a 
relação entre os neurônios e astrócitos em pessoas com autismo não sindrômico 
(idiopáticos) a partir da amostra retirada de 3 indivíduos ASD não sindrômicos e 
comparando a um grupo de 3 controles (RUSSO et. al., 2017). 
A partir das culturas neuronais mistas, em que geravam interações, 
sinaptogênese e atividade neuronal usando uma plataforma Multi Eletrodo Array 
(MEA), os pesquisadores descobriram que os neurônios ASD diminuíram 
consideravelmente as expressões gênicas sinápticas (poucas ramificações) e os 
níveis de proteína, e reduziram a taxa de disparos espontâneos devido à baixa 
liberação do neurotransmissor glutamato. Identificando que houveram influências de 
uma citocina pró-inflamatória (interleucina 6 ou IL6), conseguiram aumentar as 
sinaptogêneses dos Neurônios bloqueando os níveis de IL6, confirmando hipóteses 
anteriores 
A partir do projeto Fada do Dente (USP), Russo et. al. (2017) colheram polpas 
de dente de leite de algumas crianças e, a partir de critérios próprios, que incluíram o 
diagnóstico de Autismo não sindrômico, definiram uma mostra de ASD com 3 
indivíduos, para comparar com grupo controle, também com critérios definidos. A 
partir das iPCs, os neurônios e astrócitos foram gerados e avaliados nos níveis 
moleculares e funcionais, a fim de compreender os mecanismos moleculares e 
celulares responsáveis pelos sintomas ASD nessa interação. 
Constataram que os neurônios derivados de pessoas com autismo eram menos 
ativos fisiologicamente e tinham eventos sinápticos reduzidos ao comparar com a 
amostra do grupo neurotípico. Combinando neurônios do grupo controle com 
astrócitos do grupo ASD, observaram que houve prejuízo nas ramificações 
sinápticas. Inversamente, combinando células de ASD com astrócitos do grupo 
20 
 
controle, obtiveram uma resposta neuronal mais saudável, com melhor morfologia e 
sinaptogênese. 
Além disso, para testar hipóteses anteriores sobre a presença de IL6 em 
indivíduos com TEA, usaram bloqueadores da interleucina e concluíram que houve 
melhora da sinaptogênese (RUSSO et. al., 2017). Esses estudos, ainda preliminares 
in vitro, precisam ser melhor testados in vivo, com modelos animais e humanos, 
tendo em vista que o uso de anti-IL-6 pode provocar agravamento da 
neuroinflamação, o que sugere que possui ação protetora no Sistema Nervoso. Esse 
ensaio aponta para caminhos possíveis para testar ação terapêutica de novas 
drogas e já traz indícios importantes da função dos astrócitos na qualidade das 
ramificações neuronais e sinaptogêneses. 
Nesse sentido, ainda, os estudos de Xu, Kim e Tan et.al. (2020) trazem 
contribuições acerca da influência do processo de síntese proteica (tradução, 
produção de proteínas) em ASD. Para eles, a hipótese inicial é de que o excesso de 
síntese proteica neuronais não levaria a déficits sociais, mas pode ser indicativo do 
surgimento de outros sintomas presentes no autismo. 
Nos estudos com camundongos, observaram que o excesso na síntese de 
proteínas em ratos prejudicou as sinapses e foi responsável, nas fêmeas, por 
comportamentos repetitivos, enquanto esse excesso de síntese de proteína 
microglial provocou prejuízo em comportamentos sociais em ratos machos, sem 
elevar o nível de ansiedade, o que quer dizer que diferentes comportamentos que 
surgem em ASD podem ter base celular semelhante, inclusive com diferenças entre 
homens e mulheres. 
Eles entendem que a chave disto está no comportamento microglial para esses 
excessos de síntese proteica (tradução) e que funcionam diferente em ratos machos 
(alterando o transcriptoma), o que não ocorre nas fêmeas. Ou seja, ocorre um 
desequilíbrio homeostático das micróglias apenas nos ratos machos, alterando os 
padrões e funções a partir da superexpressão do gene eIF4E. O resultado desse 
desequilíbrio é o indício de que a micróglia não realizaria as podas sinápticas com 
eficiência, ocasionando aumento das funções excitatórias das sinapses, além de 
aumentar a densidade dessas sinapses excitatórias, levando ao desequilíbrio por 
meio de excesso, imprecisão e ineficiência das conexões neuronais. Esses seriam 
indícios importantes que podem fornecer novas hipóteses acerca da fisiopatologia 
do TEA, associado a outros fatores de risco. (XU, KIM e TAN ET.AL. 2020). 
21 
 
CONCLUSÕES 
 
A partir das inquietações acerca da complexidade dos sintomas presentes em 
pessoas com Transtorno do Espectro Autista, foi realizado um levantamento 
bibliográfico que visava compreender os mecanismos neurofisiológicos presentes 
nos comportamentos identificados nessa população. Alterações nas respostas do 
Sistema de Recompensa, bem como no Sistema de Neurônios Espelho e, ainda, nas 
funções dos astrócitos e neuroglias ligadas à respostas neuroinflamatórias apontam 
para a influência do mau funcionamento em alguns mecanismos do Sistema 
Nervoso Central nos sintomas clínicos identificados em pessoas diagnosticadas com 
TEA, como déficits na comunicação e interação social, dificuldades em estabelecer 
amizades, comprometimento na teoria da mente, bem como o engajamento em 
comportamentos repetitivos ou em interesses restritos, comprometendo o curso do 
desenvolvimento de habilidades adquiridas a partir das relações sociais. Os estudos 
aqui apresentados são uma pequena amostra da amplitude da literatura disponível e 
das inquietações que também mobilizam pesquisadores das mais diversas áreas, 
tendo em vista o crescente número de casos registrados de autismo em todo o 
mundo. Todavia, não são conclusivos e, portanto, deixam questionamentos e lançam 
luz na direção de novas descobertas possíveis que podem melhorar as intervenções 
e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas com TEA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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