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ELETROCARDIOGRAMA SISTEMA DE CONDUÇÃO As fibras cardíacas possuem discos intercalares (complexos juncionais), que permitem que estas fibras realizem sinapse elétrica célula a célula e contraiam de maneira uniforme (átrio com átrio e ventrículo com ventrículo) Nodo sinoatrial se auto despolariza (gera potenciais de ação autonomamente), porém a frequência de despolarização dessa estrutura está sob influência direta do sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) Caminho de condução básico: nodo sinoatrial (através do feixe de Bachman vai para o AE) > nodo atrioventricular (ocorre um retardo para que haja tempo desse sinal elétrico passar para o ventrículo esquerdo; dessa forma os átrios contraem simultaneamente e os ventrículos despolarizam e, posteriormente, contraem juntos também) > feixe de Hiss > ramos direito e esquerdo > fibras de purkinje (subendocárdicas) OBS.: importância desse sistema analisando os ventrículos – embora a atividade elétrica venha da base para o ápice, a saída dos ventrículos é para cima, ou seja, voltado para a base. Dessa forma se a condução não fosse através desse sistema, mas sim, totalmente célula a célula, a condução seria base -> ápice e o ventrículo também contrairia nesse sentido e não conseguiria ejetar o sangue; O SISTEMA DE CONDUÇÃO GARANTE QUE O VENTRÍCULO CONTRAIA DE BAIXO PARA CIMA, O QUE GARANTE A EJEÇÃO CORRETA DO SANGUE ELETROCARDIOGRAMA Registro gráfico da atividade elétrica do coração sendo constituído de ondas, segmentos e intervalos O ECG é composto por 12 derivações (dois eletrodos + e -): 6 do plano frontal (I, II, III e aVR, aVL, aVF) e 6 do plano horizontal (V1 a V6) Eletrodo (+): explorador Eletrodo (-): referência DERIVAÇÕES FRONTAIS Triângulo de Einthoven: os eletrodos são colocados em ambos os braços e na perna esquerda; cada par de eletrodos constitui uma derivação Derivações bipolares: I, II e III (lados do triângulo) Derivações unipolares: aVR, aVL e aVF (ângulos do triângulo) DERIVAÇÕES HORIZONTAIS (PRECORDIAIS) Registram o potencial do ponto em que o eletrodo é posicionado ➢ V1: mostra atividade dos átrios, parte do septo IV, e parede anterior do VD; eletrodo localizado no 4º espaço intercostal D na linha paraesternal ➢ V2: mostra atividade do ventrículo direito; eletrodo localizado no 4º espaço intercostal E na linha paraesternal; ➢ V3: mostra atividade do septo IV; eletrodo localizado entre as derivações V2 e V4; ➢ V4: mostra atividade do ápice do VE; eletrodo localizado no 5º espaço intercostal E na linha hemiclavicular; ➢ V5 e V6: Mostram atividade miocárdica do VE; V5 com eletrodo localizado no 5º espaço intercostal E na linha axilar anterior e V6 com eletrodo localizado no 5º espaço intercostal na linha axilar média; ECG realizado em papel quadriculado com escalas predeterminadas e velocidade que o papel “corre” já determinada; (voltagem X tempo) OBS.: onda U é rara de ser captada e reflete o que acontece nas fibras de purkinje (repolarização) Com a repetição dos ciclos cardíacos em uma única derivação, é possível calcular a frequência cardíaca (ciclo vai de um ponto ao outro semelhante, abrangendo todas as ondas, como exemplo intervalo R-R) SEQUÊNCIA NORMAL DE DESPOLARIZAÇÃO VENTRICULAR: I. septo IV (a despolarização inicia-se no terço médio da superfície septal esquerda e progride para a direita II. parede anterior (segunda porção dos ventrículos a se despolarizar) III. paredes livres dos ventrículos (paredes livres direita e esquerda, do endocárdio ao epicárdio) IV. porções basais dos ventrículos e septo IV (essas regiões pobres em terminações de purkinje são as últimas a serem despolarizadas) COMPLEXO QRS à medida que se passam as derivações precordiais, a amplitude da onda R aumenta e a onda S diminui Morfologia rS em V1, RS em V3 e V4 e qRs em V5 e V6 D2, D3 e aVF exploram diretamente a parede inferior do coração; D1 e aVL orientam-se para a parede alta do VE; aVR está voltada para a base dos ventrículos EIXO ELÉTRICO MÉDIO DO COMPLEXO QRS O processo de despolarização ventricular avança do endocárdio ao epicárdio em diferentes direções; o vetor resultante, corresponde ao eixo elétrico médio do QRS Significado desse eixo: Como encontrar o eixo elétrico médio? Utiliza-se o sistema hexa-axial: 1. Ao olhar o ECG com as 12 derivações, devemos buscar, entre as derivações do plano frontal (D1, D2, D3, aVR, aVL e aVF), a derivação com maior amplitude de complexo QRS, observando se a deflexão é positiva ou negativa; 2. No plano hexa-axial, procuramos onde está aquela derivação selecionada e qual dos vetores correspondentes à ela reflete a deflexão; Outra forma de encontrar o eixo: 1. Encontrar um QRS ISODIFÁSICO (ondas R e S são praticamente do mesmo tamanho), também dentre as derivações frontais; 2. No plano hexa-axial, procuramos pelo vetor que forma um ângulo de 90° com a derivação correspondente ao QRS isodifásico No exemplo a seguir, temos o II com maior amplitude e deflexão positiva e temos o isodifásico em aVL; com isso tem-se o eixo elétrico médio em +60°, o que indica que está tudo dentro da normalidade, sem desvios. OBS.: encontrar o eixo através do isodifásico é mais difícil, pois nem sempre iremos encontrar um isodifásico tão nítido ou nem sempre terá um isodifásico. Jogando no sistema hexa-axial, pelo primeiro modo temos a seta vermelha como a direção do eixo elétrico médio; calculando pelo segundo modo, ao achar o vetor de aVL, que está em -30°, e rebater o vetor que faz 90° com este, também encontraremos o eixo em +60°. Como analisar um ECG (não se avalia apenas um parâmetro isolado) Comentários sobre alguns parâmetros: Ritmo: os ciclos completos devem aparecer dentro de intervalos de tempo semelhantes; Frequência cardíaca: 50 a 90 bpm (depende também do estilo de vida); Onda P: avaliar amplitude, deflexão etc.; Intervalo PR: reflete o período entre despolarização atrial e depolarização ventricular (tempos devem ser semelhantes dentro de um mesmo registro e deve estar entre 0,12-0,2 seg.) ECG NORMAL INFLUÊNCIAS SOBRE O REGISTRO DO ECG: Os eletrodos estão localizados na superfície do corpo, sendo um instrumento de registro indireto, por isso é importante tomar alguns cuidados para não haver interferências na qualidade do traçado e do diagnóstico: Eletrodo deve ser bem fixado Deve-se reduzir ao máximo tremores musculares Paciente deve estar calmo, sem estresse ECG EM CONDIÇÕES PATOLÓGICAS: SÍNDROMES ISQUÊMICAS Obstrução de algum vaso sanguíneo que irriga o miocárdio A gravidade depende de qual vaso e qual porção foi obstruída, a anatomia do indivíduo etc. (exemplo: trombos, placa de ateroma...) Grupos clínicos de isquemia miocárdica: a) síndrome coronária aguda – SCA (placa vulnerável – pode romper com trombos oclusivos, que inclusive podem comprometer órgãos vitais) -> ocorre de repente, de forma abrupta -> obstrução parcial: alteração de enzimas, porém muitas vezes sem alteração do intervalo ST e sem alterações no ECG; em alguns casos, pode-se ter uma depressão do segmento ST ou inversão da onda T -> obstrução total: infarto agudo com supra desnivelamento de ST (obs.: se a circulação colateral for eficiente, mesmo com essa obstrução total, o IAM pode ser manifestado sem supra de ST) b) angina estável (placa estável – dura) As alterações induzidas pela oclusão da artéria coronária originam os padrões eletrocardiográficos de isquemia, lesão e necrose Principal padrão de ECG isquêmico = inversão da ondaT (pode ser revertida, dependendo do tempo de atendimento do paciente) A isquemia pode não ser transitória (depende do tempo sem oxigênio, condição do paciente etc.) e gerar um quadro de lesão (recrutamento de células inflamatórias – na reperfusão o paciente pode vir a óbito, pois pode estar em um estágio em que há lixo inflamatório); se a lesão for persistente, isso evolui para uma necrose (irreversível) O padrão de ECG de necrose é a modificação do complexo QRS FASES DO IAM Dependendo da localização do quadro isquêmico, temos diferentes tipos de alterações no ECG Fase hiperaguda (<30 minutos): em uma isquemia subendocárdica o principal achado no ECG é o aumento da amplitude da onda T; Fase aguda (a partir de 30 minutos): lesão transmural (atravessa a parede toda) – área inicial comprometida e posterior comprometimento das porções vizinhas àquela que era irrigada pelo vaso obstruído inicialmente (parede livre ventricular toda comprometida); principal achado o ECG é uma supra de ST (complexo QRS e onda T “encavalados”, ou seja, o QRS não volta para a linha de base); Fase subaguda (horas, dias e semanas): lesão evolui para necrose, que antes era restrita à parede endocárdica; a lesão nas adjacências compromete uma área maior do que apenas a parede livre; os achados principais são a inversão da onda T (fica negativa) e a onda Q patológica; Fase crônica (meses/ anos): toda a porção em necrose – sem grandes alterações no ECG, pois há uma adaptação desse miocárdio com tentativa de trabalho compensatório pelas regiões adjacentes OBS.: porção de necrose muito maior na porção subendocárdica, pois foi onde a lesão teve origem PADRÃO DE ISQUEMIA As porções que despolarizam primeiro são as endocárdicas e depois as epicárdicas; dessa forma as porções endocárdicas também são as primeiras a repolarizar; Na isquemia transmural temos a inversão do vetor de repolarização, pois a área epicárdica necrosada (morta) sempre estará negativa, ou seja, não repolariza (dipolo invertido); Na isquemia subendocárdica, esta região estará sempre negativa (não despolariza e nem repolariza), já que está morta, portanto, o vetor estará no sentido normal; entretanto a voltagem estará maior, já que há concentração de cargas positivas na parte da parede que não necrosou, o que explica a maior amplitude da onda. Com relação ao alargamento da onda T, podemos explicar pelo retardo da repolarização (a camada morta de células “atrapalha” a condução da atividade elétrica para as outras camadas); NORMAL IAM PADRÃO DE LESÃO – desnivelamento do segmento ST Pode ser um supra desnivelamento de ST (elevação) ou uma depressão de ST Quando há uma lesão na superfície epicárdica, os achados no ECG dependem de onde é o registro: o sentido do vetor de repolarização está normal, porém os eventos distintos dependem da localização do eletrodo – em ambos há um descompasso entre despolarização e repolarização, alterando apenas o desnivelamento – para baixo ou para cima; Quando a lesão é subendocárdica, temos inversão do vetor de repolarização, podendo ser observada uma depressão de ST; NORMAL LESÃO OBS.: muitas das alterações de condutância estão ligadas às regiões mortas que atrapalham a passagem da corrente (ST não reflete o tempo que demora a repolarização, mas sim à repolarização estar mais precoce ou atrasada) PADRÃO DE NECROSE Evento irreversível; tecido morre, porém permanece ali, ou seja, mesmo sem ter atividade elétrica, há alteração na condução. Aumento da amplitude da onda R e aumento da duração da onda Q Onda Q considerada patológica quando sua duração é maior que 0,04s e quando sua amplitude for maior do que 25% da amplitude da onda R (critérios validos para derivações D3,a VR e V1) NORMAL NECROSE ARRITMIAS CARDÍACAS Qualquer ritmo cardíaco que não seja o sinusal normal (o ritmo sinusal normal é diagnosticado somente quando os cinco critérios citados a seguir estiverem presentes) Classificação das arritmias: Do nodo sinusal; Atriais; Juncionais; Ventriculares; Bloqueios atrioventriculares ARRITMIAS DO NODO SINUSAL Taquicardia sinusal: ritmo sinusal com frequência acima de 90 bpm (causada pelo aumento da automaticidade do nodo sinusal em resposta a diversos estímulos simpáticos Bradicardia sinusal: é o ritmo sinusal com frequência abaixo de 50 bpm (na maioria dos casos é causada pela diminuição da automaticidade do nosso sinusal) Arritmia sinusal respiratória: ritmo sinusal com frequência cardíaca irregular, dependente do ciclo respiratório (frequência aumenta com a inspiração e reduz na inspiração, por aumento do tônus vagal) – NÃO É PATOLÓGICA ARRITMIAS ATRIAIS Extrassístole atrial: batimentos precoces que se originam em um foco ectópico atrial (geralmente conduzidos aos ventrículos pelo sistema de condução normal) – onda P fora de hora Taquicardia atrial: ritmo atrial regular com frequência aumentada, acima de 100 bpm (mecanismo mais comum o hiper automatismo de um foco ectópico atrial). Onda P dessa arritmia apresenta morfologia distinta da onda P sinusal, sendo seguida de complexos QRS estreitos Fibrilação atrial: ritmo atrial rápido e desorganizado, causado por múltiplos circuitos de reentrada nos átrios. O ECG mostra ondas pequenas, irregulares e rápidas entre os complexos QRS denominadas ondas f, que substituem onda P sinusais Flutter atrial: ritmo atrial rápido e organizado, causado por macro reentradas no AD (caracteriza- se pela presença de ondas atriais rápidas e regulares, com morfologia de dentes de serra – ondas F). A resposta ventricular esta condicionada ao tipo de condução AV, podendo ser regular ou não; Ritmo juncional de escape: ritmo regular e lento da junção AV que se produz em consequência de uma diminuição da automaticidade do nodo sinusal. Átrios ativam-se retrogradamente de baixo para cima, produzindo ondas P negativas nas derivações inferiores. Ondas P’ podem aparecer antes, depois ou durante a inscrição do complexo QRS Taquicardia de reentrada nodal AV: forma de taquicardia paroxística supraventricular, causada por um movimento circular no nodo AV. Despolarização de átrios e ventrículos quase simultânea – ondas P retrogradas total ou parcialmente escondidas no QRS ARRITMIAS VENTRICULARES Extrassístole ventricular: batimentos precoces que se originam nos ventrículos. Apresentam complexo QRS alargado e bizarro Taquicardia ventricular: sucessão de 3 ou + extrassístoles ventriculares com frequência superior 100 bpm. Pode ser sustentada ou não Fibrilação ventricular: arritmia ventricular caótica, sem débito cardíaco (sem ejeção sanguínea), que corresponde hemodinamicamente à parada cardíaca. Causada por múltiplos circuitos de reentrada nos ventrículos, os quais produzem deflexões irregulares e desorganizadas BLOQUEIOS ATRIOVENTRICULARES (BAV) Bloqueio AV de 1º grau: todos os impulsos gerados no nodo sinusal são conduzidos aos ventrículos com atraso, o que reflete no ECG por um PR prolongado Bloqueio AV de 2º grau: falhas intermitentes da condução dos átrios para os ventrículos, o que resulta na inscrição de algumas ondas P não seguidas de QRS Tipo I (wenckebach): cada estímulo atrial conduzido aos ventrículos apresenta uma dificuldade maior de passagem pela junçãoAV até a ocorrência de um impulso bloqueado Tipo II (mobitz): presença de PR fixo antes e após o batimento bloqueado (local de bloqueio geralmente infra nodal) Tipo 2:1: de cada 2 batimentos sinusais, 1 é conduzido aos ventrículos e o outro é bloqueado (o nível de bloqueio pode estar no nodo AV ou abaixo) Bloqueio AV de 3º grau: bloqueio total, na qual existe uma interrupção completa da condução AV (nenhum estímulo é conduzido aos ventrículos) pelo sistema de condução SITUAÇÕES ESPECIAIS Síndrome do QT longo: - retardo na repolarização ventricular; pós potenciais precoces e arritmia torsades de pointes (pode levar a fibrilação ventricular e morte) - congênita (mutações em genes que codificam proteínas formadoras de canais iônicos dependentes de voltagem) ou adquirida (bloqueio de correntes de K por medicamentos ou drogas); Repolarização precoce: elevação do segmento ST a partir do ponto J, associada a ondas T altas Pericardite aguda: segmentos PR e ST discordantes Tromboembolismo: pode resultar em hipertensão pulmonar grave com s=consequente dilatação aguda e isquemia de VD, dilatação de AD e aumento de estimulação simpática, com alterações de ECG correspondentes Hiperpotassemia: concentração plasmática de K acima de 5,5 mEq/L (redução na velocidade de condução miocárdica) Síndrome de wolff-parkinson-white: ativação precoce dos ventrículos (presença de uma via acessória congênita constituída de fibras musculares contrateis de condução rápida, que conecta eletricamente os átrios aos ventrículos) Síndrome de brugada: associação de um padrão de ECG característico com risco de taquiarritmias ventriculares ou morte cardíaca súbita (presença de derivações precordiais direitas, de uma elevação de ST com a convexidade superior, seguida de uma onda T negativa)
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