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AULA 01- A CRISE DA MONARQUIA

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HISTÓRIA DO BRASIL REPUBLICANO
A CRISE DA MONARQUIA E A 
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA (1881 – 
1889)
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Olá!
Em nossa primeira aula, examinaremos o cenário histórico que antecedeu ao golpe militar de 15 de novembro de
1889, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Não podemos pensar esse golpe como uma simples
intervenção militar na política, mas sim, sobretudo, como resultado do enfraquecimento dos pilares que até
então sustentavam o regime político comandado pelo Imperador D. Pedro II e da troca de hostilidades,
intensificada particularmente na década de 1880, entre a elite política civil e parte do oficialato do Exército.
Nesse sentido, o grande desafio da aula será recolocar o golpe militar republicano de 1889 em seu tempo,
percebendo, paralelamente, suas relações com mudanças estruturais de longa duração e com a conjuntura
histórica de curta e média duração. Não era propriamente a República o objetivo inicial da intervenção militar de
1889 (Monteiro, 1986 ; Castro, 1995; Izecksohn, 1997; Schwarcz, 1998 ; Oliveira, 2013). Em um primeiro
momento, tratava-se da demissão do gabinete ministerial chefiado por Afonso Celso de Assis Figueiredo, o
Visconde de Ouro Preto. A bibliografia especializada é praticamente unânime ao afirmar que foi somente após a
decisão do Imperador D. Pedro II sobre a convocação de Silveira Martins, desafeto pessoal do Marechal Deodoro
da Fonseca, para presidir o novo ministério, que os oficiais do Exército responsáveis pelo comando da ação
decidiram pela orientação republicana do movimento. Por outro lado, o encaminhamento republicano dessa
rebeldia militar não foi exatamente uma solução de última hora. A República já estava presente nas aspirações
de alguns militares e de lideranças civis que buscaram se aproximar dos oficiais descontentes e explorar essa
insatisfação. Estamos diante, então, de um ato político não partidário, híbrido e formado por uma frágil aliança
entre civis e militares. A análise do golpe militar republicano de 1889 será tão mais criteriosa quanto for mais
capaz de fugir da tentação de reduzir essa experiência aos extremos. Ou seja, o golpe não foi produto da
manipulação do Exército por parte dos civis nem a demonstração da total e completa autonomia dessa
corporação em relação aos outros atores políticos importantes do período. De fato, a República brasileira nasceu
de uma quartelada. Foram os militares, e não os propagandistas republicanos civis, que agiram e derrubaram a
monarquia. Também foram os militares que, nos primeiros cinco anos de vida do regime republicano,
silenciaram os opositores monarquistas e consolidaram as novas instituições. Portanto, o protagonismo do
Exército nesse cenário é inegável, o que não quer dizer que as elites civis e as manifestações populares também
não tenham sido importantes. Convidamos você, caro aluno, a acompanhar com cuidado a década de 1880, que
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foi o momento de intensificação da crise da monarquia e de fortalecimento da proposta republicana.
Definitivamente, a República teve pressa; não pôde esperar nem o século XX nem a morte do velho e estimado
imperador.
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Identificar os principais elementos que levaram parte do oficialato do Exército brasileiro à intervenção
política de 15 de novembro de 1889;
2- Reconhecer que a intervenção militar de 15 de novembro de 1889 não foi apenas um golpe militar, mas sim o
desfecho de hostilidades trocadas, de um lado, entre as elites civis que então dirigiam a monarquia e, de outro, os
setores descontentes do Exército;
3- Identificar o aspecto híbrido do golpe militar republicano. Ou seja, apesar de o movimento ter sido conduzido
por parte do oficialato do Exército, os civis também se fizeram presentes na intervenção política que pôs fim ao
regime político liderado pelo Imperador D. Pedro II;
4- Relacionar o golpe militar republicano de 1889 com a crise estrutural da monarquia brasileira, que, desde a
década de 1850, estava tendo seus pilares de sustentação enfraquecidos.
1 Introdução
Só o Exército, afirmou Deodoro, sabia sacrificar-se pela pátria e, no entanto, maltrataram-no os homens políticos
que até então haviam dirigido o país. Aludiu aos seus serviços no campo de batalha, rememorando que pela
pátria estivera três dias e três noites combatendo em campos paraguaios no meio do lodaçal, sacrifício que eu
não poderia avaliar (Visconde de Ouro Preto, 1891 , p. 167).
Com essas palavras, , o Visconde de Ouro Preto, foi o último chefe de governoAfonso Celso de Assis Figueiredo
da história da monarquia brasileira. Foi exatamente o governo chefiado por Ouro Preto o alvo original do
movimento militar liderado por Deodoro da Fonseca.
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Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto (1836-1912), foi um importante líder político na
monarquia brasileira.
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2 Guerra do Paraguai
Há, no testemunho do Visconde de Ouro Preto, um elemento central para a compreensão da insatisfação
existente entre segmentos do oficialato do Exército nesse período.
De acordo com o historiador Rodrigo Perez Oliveira, a ação golpista dos militares foi motivada pela insatisfação
em não ver reconhecidos, por parte do governo e da elite civil, os méritos do Exército durante a Guerra do
Paraguai (1864-1870).
Certamente, a principal referência que existe na historiografia brasileira para o estudo da Guerra do Paraguai é o 
livro de Francisco Doratioto (2002).
O autor afirma que, ao longo da década de 1880, os segmentos do Exército responsáveis pelo discurso
oficial da corporação mobilizaram a memória da Guerra do Paraguai em razão de um projeto de
fortalecimento institucional e político.
Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Ela foi travada entre
o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de
1864 a março de 1870. É também chamada , na Argentina e Uruguai, e de Guerra da Tríplice Aliança Guerra
, no Paraguai.Grande
O Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos de lutas.
A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da
América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de
pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% de
seu território para o Brasil e Argentina.
Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.
É possível consultar os elementos mais fundamentais desse discurso oficial na Revista do Exército Brasileiro,
fundada em 1881, que constitui o primeiro periódico oficial do Exército.
Em 1881 um grupo de três oficiais do Exército composto pelos os majores Alfredo Ernesto Jacques Ourique e
Antônio Vicente Ribeiro Guimarães e o capitão Francisco Agostinho de Mello Souza Menezes fundou a Revista do
Exército Brasileiro, o primeiro periódico científico oficial do Exército.
A REB começou a ser planejada em 1881, quando o conselheiro Franklin Américo Menezes Dória ocupava a
pasta do Ministério da Guerra.
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A REB foi projetada para ocupar o lugar de veículo do conhecimento oficial produzido na corporação. Essa
produção editorial tinha uma finalidade bem delimitada: reforçar a institucionalização do Exército, fazendo da
corporação um elemento de peso no cenário político/institucional do país.
Ainda de acordo com as considerações de Rodrigo Perez, nas páginas dessa revista ocorreu a construção de certa
representação da Guerra do Paraguai baseada na afirmação da “vocação messiânica” do Exército brasileiro para
exercer a função de guardião da honra nacional e de defensor dos interesses brasileiros.
Batalha do Riachuelo: em 11 de junho de 1865, a esquadra brasileira destruiu a paraguaia.
Foto: Reprodução da Biblioteca Nacional
3 Trabalhando com a documentação de época
Vejamos mais sobre a Revistado Exército Brasileiro
A Revista do Exército Brasileiro abrangerá a organização e a administração militares dos Exércitos estrangeiros
para que possamos ter bons exemplos para nossos esforços de reestruturação institucional; a tática e estratégia
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de guerra, informando seus resultados e progressos, analisando-os nos fatos contemporâneos e acompanhando
as campanhas que por acaso venham a ocorrer (Revista do Exército Brasileiro, 1882, p. 7).
Todos os exemplares da Revista do Exército Brasileiro se encontram disponíveis para consulta no setor “Obras
Raras” da Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro.
Fica claro nas páginas da revista o interesse dos comandantes do Exército brasileiro em fortalecer a
corporação tanto no plano institucional quanto no político.
É necessário situar a no contexto da “questão militar”.Revista do Exército Brasileiro
O termo “ ” costuma ser utilizado para designar os conflitos travados entre parte do oficialato doquestão militar
Exército e a elite dirigente da monarquia.
O que estava em jogo na “questão militar” era o lugar político do homem da caserna (construção destinada ao
alojamento de soldados; quartel.). Para os dirigentes civis, o militar deveria ser um profissional especializado na
arte da guerra e obediente às ordens do Estado. Já para alguns setores do oficialato, sobretudo aqueles mais
identificados com o positivismo, o soldado era um cidadão fardado e, por isso, também tinha direito à voz
política.
A tensão entre os princípios do “soldado profissional” e do “soldado cidadão” foi característica da
monarquia brasileira e se acentuou após 1870, quando parte do Exército se sentiu desprestigiada pelas
tentativas do governo em desmobilizar os efetivos da corporação.
4 Os episódios mais importantes da “questão militar”
A província do Piauí foi o palco do primeiro episódio da crise política que mais tarde seria chamada de “questão
militar”.
A foi uma sucessão de conflitos entre 1884 e 1887, suscitados pelos embates entre oficiais doQuestão Militar
Exército Brasileiro e a monarquia, conduzindo a uma grave crise política que culminou com o fortalecimento da
campanha republicana.
Foi uma das questões que assinalaram a crise do regime imperial no Brasil, conduzindo à proclamação da
República em 1889.
1885 - Em 1885, o Coronel Cunha Matos, um dos principais veteranos da Guerra do Paraguai e integrante do
Partido Liberal, fez uma viagem de inspeção à província do Piauí e atestou a existência de várias irregularidades.
Cunha Matos atribuiu essas falhas ao comandante da Companhia de Infantaria dessa província, que, por sua vez,
era ligado ao Partido Conservador. Não tardou para que esse acontecimento fosse tragado pela polarização
partidária tão característica do .sistema político monárquico
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1886 - Em 1886, um deputado piauiense, aliado do capitão advertido por Cunha Matos, atacou-o em discurso na
Câmara dos Deputados local. O parlamentar acusou Cunha Matos de ter contribuído com o Exército paraguaio
durante o tempo em que fora prisioneiro de Solano López.
Cunha Matos retrucou as acusações por meio de um artigo publicado na imprensa.
O ministro da Guerra, deputado Alfredo Chaves, censurou o coronel alegando que a legislação em vigor desde
1859 determinava que os oficiais do Exército eram proibidos de discutir questões políticas ou militares na
imprensa sem o consentimento prévio do ministro e o mandou prender por dois dias (Castro, 1995).
O general e senador pelo Rio Grande do Sul, José Antônio Correia da Câmara, o Visconde de Pelotas, era amigo e
correligionário político de Cunha Matos e, por isso, discursou no Senado em 1886 em sua defesa.
Pelotas criticou violentamente o ato do ministro e afirmou que a ofensa sofrida por Cunha Matos mexera
com os brios de todo o Exército.
O senador alegou que os esforços de Cunha Matos pelo bem da pátria ― vemos a retórica messiânica
destacada anteriormente ― não estavam sendo levados em consideração pelo Ministério.
A entrada de Pelotas na querela deu ao assunto uma dimensão mais geral do que a simples indisposição entre
um oficial e o ministro da Guerra. Foi nessa conjuntura que os editores da Revista do Exército Brasileiro
autorizaram a publicação das narrativas testemunhais dos veteranos da Guerra do Paraguai. O objetivo era
endossar, por meio do apelo emotivo inerente à fala da testemunha, a posição do Exército como o “messias da
nacionalidade brasileira” (Oliveira, 2013).
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José Antônio Correia da Câmara, segundo visconde de Pelotas com grandeza, (Porto Alegre, 17 de fevereiro
de 1824 — Porto Alegre, 18 de agosto de 1893) foi um nobre, militar e político brasileiro.
Em agosto de 1886, outro incidente contribuiu para aumentar as tensões entre civis e militares. O Tenente-
Coronel Sena Madureira, então comandante da Escola de Artilharia de Rio Pardo, localizada no Rio Grande do
Sul, manifestou apoio à iniciativa de Pelotas.
O Senador Franco de Sá, ex-ministro da Guerra, que havia demitido em 1884 Sena Madureira do comando da
Escola de Tiro de Campo Grande, intrometeu-se na querela alegando que o Ministro Alfredo Chaves deveria
manter-se irredutível na punição contra Cunha Matos.
Sena Madureira, contrariado, publicou no jornal republicano A Federação, editado por Júlio de Castilhos, um
manifesto no qual acusava o ex-ministro Franco de Sá de “déspota e inimigo dos militares”.
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Antônio de Sena Madureira (1841 – 1889), um dos principais personagens da “questão militar”.
5 Documentação da época
Nós soldados ― homens de brio, de coragem ― pelejamos pela pátria nos campos paraguaios e temos que nos
curvar ao desmando de generais improvisados, que nunca sentiram o cheiro de pólvora e que perpassam rápida
e obscuramente pelas altas regiões do poder (Apud Oliveira, 2013, p. 34).
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Assim como identificamos anteriormente no testemunho do Visconde de Ouro Preto, há, nos ataques de Sena
Madureira aos políticos civis, a definição de uma “vocação messiânica” para o Exército, o que foi usado pelos
militares descontentes para reivindicar uma melhor posição institucional para a corporação.
Para Sena Madureira, um civil não era legítimo para ocupar o mais alto cargo da administração militar;
um “casaca” não sabia o que era pôr em risco a própria vida pela pátria.
6 A ação militar que se transformou em golpe republicano
A essa altura, a retórica messiânica fundamentada na memória da Guerra do Paraguai já se tornara a base
discursiva da ação política dos oficiais do Exército que eram opositores ao regime monárquico. A publicação do
protesto de Sena Madureira no jornal republicano A Federação não pôs fim à questão militar.
No dia 2 de setembro, Visconde da Gávea (O Ajudante General do Exército e um dos esteios da monarquia dentro
do Exército) enviou ao Marechal Deodoro da Fonseca (Comandante das armas e presidente em exercício da
província do Rio Grande do Sul) uma carta na qual perguntava se ele havia concedido permissão para Sena
Madureira publicar seu protesto.
Deodoro respondeu que não e que dedicaria atenção ao assunto.
Dias depois, Deodoro enviou um ofício ao ministro da Guerra informando que a legislação em vigor se referia
apenas à discussão pública entre militares e que Sena Madureira não havia cometido nenhum ato digno de
represália.
O ministro Alfredo Chaves desconsiderou a avaliação de Deodoro e mandou punir Sena Madureira com uma
repreensão.
Essa foi a primeira grande indisposição entre Deodoro da Fonseca, um dos principais líderes militares da época,
e a administração imperial.
Foi a partir desse momento que os acontecimentos começaram a se configurar, cada vez mais, como uma
“questão militar”.
Os políticos civis ligados ao Partido Republicano, fundado em 1870, não tardaram a ver na “questão militar” uma
oportunidade para indispor ainda mais o Exército com a monarquia.
Júlio de Castilhos aproveitou as discussões públicas entre Sena Madureira e o ministro da Guerra para publicar,
em 23 de setembro, o artigo“Arbítrio e inépcia”, que reforçava a retórica messiânica já articulada pelos oficiais
do Exército.
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Castilhos alegava que o governo imperial estava ofendendo “aquele que lhe salvou de grandes apuros nos
campos paraguaios”. A partir de então, as páginas do jornal gaúcho A Federação foram palco dos artigos escritos
por Sena Madureira e Júlio de Castilhos. Ambos não pouparam críticas à administração imperial.
Ainda em setembro, os oficiais da guarnição do Rio Grande do Sul solicitaram a Deodoro autorização para
homenagear Sena Madureira, delegando-lhe poderes para representar a classe militar contra as “injúrias do
governo” (Castro, 1995).
A onda de protestos chegou à Escola Militar da Praia Vermelha, localizada no Rio de Janeiro. No dia 1o de
outubro, a mocidade militar manifestou solidariedade a Sena Madureira e afirmou sua disposição para assumir,
juntamente com o tenente-coronel, as responsabilidades que poderiam resultar da rebeldia contra o governo.
Os promotores do movimento foram presos a mando do comandante da Escola Militar, o General Severiano da
Fonseca, irmão de Deodoro. Diante da atmosfera de conflitos, o Barão de Cotegipe (Presidente do Gabinete
Ministerial) solicitou a Deodoro que acalmasse os ânimos dos jovens alunos.
Na resposta, é possível perceber a disposição do marechal em assumir o papel de representante dos
protestos da classe militar.
A partir de então, a situação se tornaria ainda mais tensa. Deodoro, que ainda não era identificado com a
República, tornou-se uma importante nos conflitos com o governo.liderança militar
7 Uma crise estrutural e profunda
Não era apenas com a rebeldia dos militares que os dirigentes da monarquia tinham que se preocupar.
O próprio sistema parecia estar doente; desde meados do século XIX, algumas mudanças estruturais
tornaram o centralismo monárquico inadequado para a nova realidade nacional.
O trabalho de Emília Viotti da Costa (2007) consiste em uma das principais propostas analíticas já desenvolvidas
acerca da .proclamação da República
Emília Viotti da Costa (São Paulo, 28/02/1928) é uma historiadora e professora brasileira.
É autora de vários livros, entre eles Da Senzala à Colônia, publicado pela Unesp, que aborda a transição do
trabalho escravo ao livre na zona cafeeira paulista e é considerado referência obrigatória para estudiosos do
período.
O mesmo livro lançou novos rumos para a produção historiográfica brasileira dos últimos 30 anos.
Recebeu os títulos de professora emérita nas universidades de São Paulo e Yale.
Outra referência fundamental para a crise da monarquia é o trabalho de Angela Alonso (2002).
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A autora analisa o surgimento da geração intelectual de 1870, que reuniu alguns dos principais críticos das
instituições monárquicas.
Conflitos entre oficiais do Exército e políticos civis
No dia 9 de novembro de 1889, realizou-se uma inflamada reunião na sede do Clube Militar. A mocidade militar,
formada pelos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, e seu líder, o General Benjamin Constant, professor de
matemática da referida instituição, estavam em pé de guerra (Castro, 1995).
Os anos anteriores haviam sido marcados por sucessivos conflitos entre oficiais do Exército e políticos civis
(Costa, 1996). A corporação estava dividida quanto à sua fidelidade em relação ao Imperador D. Pedro II.
Oficiais como Benjamin Constant, Sólon, Sebastião Bandeira e Mena Barreto defendiam a solução republicana
para a crise da monarquia. Por outro lado, oficiais mais veteranos, como Deodoro da Fonseca, relutavam em trair
o velho imperador.
Em relação à posição do Marechal Floriano Peixoto, um dos principais quadros do oficialato do Exército na
época, é impossível dar uma resposta definitiva. Ao mesmo tempo que era a principal liderança militar do
gabinete Ouro Preto, ocupando o cargo de ajudante general, Floriano Peixoto parecia endossar a conspiração que
estava sendo tramada nos bastidores do Clube Militar (Castro, 1995).
Os militares golpistas sabiam da necessidade do apoio de Deodoro para o sucesso do movimento. Após a morte
dos principais líderes militares do século XIX (Duque de Caxias falecera em 1880 e o General Osório em 1879),
Deodoro da Fonseca se torna um dos oficiais mais estimados de todo o Exército. A adesão da corporação
dependia necessariamente de seu apoio ao movimento republicano.
Foi por isso que Benjamin Constant lhe fez uma visita em 10 de novembro.
O professor foi informar ao velho e enfermo general como havia sido a sessão do dia anterior no Clube Militar.
Consta que Benjamin falou sobre a necessidade de o Exército e ele, Deodoro, na condição de principal líder da
corporação, conduzirem a revolução republicana.
Deodoro teria interpelado: “E ele, o velho? Como fica?” Benjamin teria dito que o imperador seria tratado com
dignidade e seria garantida a integridade física de toda a família real (Gazeta de Notícias, 17 de setembro de
1890).
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Nessa fotografia de 1888, de Francesco Pesce, o imperador Pedro II parece vislumbrar os problemas que
enfrentaria poucos meses depois, com a proclamação da República.
Na verdade, naquele final de século, a monarquia já dava claros sinais de ser um sistema incapaz de conciliar as
velhas e novas demandas dos diferentes grupos sociais brasileiros.
Benjamin pediu a Deodoro que refletisse bem e utilizasse a astúcia de “velho soldado” para tomar a decisão mais
adequada.
O líder positivista afirmava que a República não poderia mais ser adiada e era importante “fazê-la de forma
serena para evitar derramamento de sangue”.
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Segundo José Bevilacqua , Benjamin se retirou do quarto e foi “papear” com a mulher de Deodoro na cozinha. Ao
retornar, teria encontrado o marechal “em posição taciturna e meditativa”.
Após muito pensar, Deodoro teria dito: “Benjamin, já que não há outro remédio, leve a breca a Monarquia; nada
há mais que esperar dela, venha a República” (apud Castro, 1995, p. 184).
No dia seguinte, Benjamin Constant e Sebastião Bandeira organizaram um encontro de Deodoro com líderes civis
do Partido Republicano, como Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa e Francisco Glicério.
O marechal Deodoro da Fonseca, mantinha boas relações com o regime monárquico e com o próprio imperador 
Pedro II.
Envolveu-se com os republicanos em meio à crescente insatisfação que, desde a Guerra do Paraguai, se
espalhava entre os militares.
Pactos de sangue
Em um primeiro momento do encontro, Deodoro não simpatizou com a possibilidade de aproximação com os
políticos civis. Entretanto, o marechal foi persuadido por Benjamin Constant da necessidade de dar ao
movimento um caráter mais amplo que o de uma revolta puramente militar (Castro, 1995).
Ainda nessa noite, foi assinado o primeiro dos “pactos de sangue” a Benjamin Constant, que já começara a traçar
a estratégia militar para o desfecho do golpe.
O líder militar organizou a tomada do Arsenal de Guerra, de Marinha, Alfândega, Tesouro Nacional, Estação
Central dos Telégrafos, da Estrada de Ferro D. Pedro II, dos telefones, das fábricas da pólvora da Estrela e
Conceição, das Escolas de Tiro de Realengo e Campinho (Castro, 1995, p. 185).
Pela quantidade de pontos estratégicos visados, percebe-se que os golpistas esperavam resistência armada.
8 Golpe militar republicano
Floriano Peixoto é o personagem mais ambíguo do cenário do golpe militar republicano. Tanto os golpistas
quanto o governo contavam com ele na hora do combate. No dia 14, Floriano enviou uma carta a Ouro Preto
informando-o de que algo “mui grave estava para acontecer”.
O chefe do gabinete ordenou a convocação de Deodoro e solicitou ao ministro da Justiça que a Polícia e a Guarda
Nacional fossem postas em prontidão. Sólon espalhou o boato de que Deodoro seria preso, fato que precipitou os
acontecimentos.
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Floriano Peixoto - Floriano Vieira Peixoto (Maceió, 30 de abril de 1839 — Barra Mansa, 29 de junho de 1895)
foi um militar e político brasileiro. Primeiro vice-presidentee segundo presidente do Brasil, presidiu o Brasil de
23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894, no período da República Velha. Foi denominado "Marechal
de Ferro" e "Consolidador da República".
Lado dos golpistas
Do lado dos golpistas, a preparação da tropa se deu sem a presença de Deodoro e de Benjamin Constant.
Ainda na madrugada do dia 15, um grupo de estudantes da Escola Militar da Praia Vermelha foi buscar Benjamin
em casa para que ele comandasse as tropas no deslocamento em direção à sede do Ministério da Guerra.
Deodoro estava ausente e sua adesão ao movimento ainda era uma incógnita. Em virtude de seu estado de saúde,
considerava-se improvável a participação ativa do marechal no golpe. Para a surpresa de todos, assim que soube
da movimentação, Deodoro foi ao encontro das tropas, passando a comandá-las no Campo de Santana, localizado
na região central da cidade do Rio de Janeiro.
Lado do governo
Do lado do governo, Ouro Preto tentava desesperadamente organizar a resistência. As forças legalistas que
foram reunidas no pátio do Ministério da Guerra eram mais estruturadas e numerosas que as forças golpistas.
Entretanto, não havia disposição para o combate, apesar dos numerosos apelos do ministro chefe do gabinete.
Apenas o Barão de Ladário, ministro da Marinha, agiu em defesa da monarquia, o que, obviamente, não foi
suficiente para salvá-la.
Convencendo Deodoro a proclamar a República
Somente a notícia de que o imperador pretendia convidar Silveira Martins para organizar o novo gabinete teria
convencido, definitivamente, Deodoro a proclamar a República (Costa, 1996).
O aspecto mais importante para meus objetivos de pesquisa nesse capítulo é o argumento mobilizado por
Deodoro para legitimar a intervenção militar.
A memória da Guerra do Paraguai foi acionada para fundamentar a “vocação messiânica” do Exército para salvar
a pátria.
Estava feito! Depois de mais de sessenta anos, o Brasil, finalmente, seguia a tendência política do continente
americano. Estava extinta a inusitada monarquia tropical.
Contudo, diferentemente do que demonstrou a facilidade com que ocorrera o golpe republicano, o novo regime
encontraria dificuldades para se consolidar.
Foi necessária uma violenta ditadura militar para que o projeto da contrarrevolução monarquista não se
tornasse uma alternativa real aos opositores da República.
A consolidação da República brasileira será o tema da próxima aula.
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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• A primeira ditadura militar brasileira (1889-1894);
• As semelhanças e diferenças entre os governos de Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto 
(1891-1894);
• As tentativas de restauração do regime monárquico.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu a dinâmica histórica que transformou as relações entre militares e civis; particularmente 
tensas a partir da década de 1880;
• Aprendeu que o golpe militar de novembro de 1889 não foi uma simples intervenção política, mas sim o 
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• Aprendeu que o golpe militar de novembro de 1889 não foi uma simples intervenção política, mas sim o 
resultado de mudanças estruturais e conjunturais no regime monárquico;
• Analisou o hibridismo que caracterizou o golpe militar de 1889; os civis também tiveram importância 
fundamental para o sucesso do movimento.
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	Olá!
	1 Introdução
	2 Guerra do Paraguai
	3 Trabalhando com a documentação de época
	4 Os episódios mais importantes da “questão militar”
	5 Documentação da época
	6 A ação militar que se transformou em golpe republicano
	7 Uma crise estrutural e profunda
	8 Golpe militar republicano
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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