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Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII Potenciais de Ação Introdução Em toda célula existe uma diferença de potencial elétrico no meio intracelular para o potencial elétrico no meio extracelular. Alterações na permeabilidade iônica da membrana levam a alterações do potencial dessa membrana. Esse potencial elétrico é a diferença de cargas elétricas entre os 2 pontos (parte intracelular x parte extracelular). No caso biológico, essas cargas elétricas são solutos iônicos ou eletrólitos Os principais solutos iônicos que adentram a célula são: Na+, K+, Ca++, Cl-. Como eles são extremamente hidrofílicos, não passam na membrana sem auxílio de proteínas formadoras de canais. Essa regulação dos canais iônicos – abertura ou fechamento – ocorre sempre em resposta a estímulos. De modo a existirem canais que permanecem constantemente abertos e canais que só abrem quando excitados por esses estímulos Na+: Extracelular tem + K+: Intracelular tem + Ca++: Extracelular tem + Cl-: Extracelular tem + Potencial de Ação e Potencial de Repouso O primeiro conceito crucial é o de potencial de repouso, que é quando uma célula nervosa não está gerando alterações no seu potencial de membrana, estando num estado de “repouso”. Alguns potenciais de repouso do ser humano Figura 1 - Valores aproximados Mas não é isso que garante o funcionamento do organismo, pois para qualquer atividade do organismo é necessário um potencial de ação O potencial de ação é uma rápida inversão do potencial de repouso seguido de um retorno ao potencial negativo Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII Um equilíbrio exato de Na+ e K+ no meio intracelular pro meio extracelular é incompatível com a vida, por isso existe a bomba de sódio e potássio, que joga 3 Na+ pro lado de fora e 2 K+ pro lado de dentro, hidrolisando uma molécula de ATP. Essa diferença gerada no lançamento de mais cargas positivas para fora acaba contribuindo, gradualmente a cada ciclo da bomba, para o estabelecimento de um potencial de membrana, mas esse potencial ainda é pouco significativo, coisa de -3mv, significando que a bomba se sódio e potássio não é suficiente para estabelecer um potencial de ação. A bomba de sódio e potássio atua mais no controle de volume da célula Os íons entram e trazem junto a água, gera volume maior Processo gerador de um potencial de ação Pós bomba de sódio e potássio, a célula se encontra em -3mv. Para conseguir chegar ao seu potencial de repouso - cerca de -70mv - existem os canais de K+ (potássio) que são abertos, permitindo que o íon siga o seu gradiente de concentração e deixe a célula. Por mais que o meio intracelular ainda fique com uma concentração bem maior de K+, muitas cargas positivas saíram, permitindo o estabelecimento de uma diferença no potencial da membrana ainda mais forte. Depois de tudo isso, para ocorrer potencial de ação a célula tem que inverter o potencial de repouso (ficar positiva), mas como superar todos esses processos num curto período de tempo? Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII Antes de responder essa pergunta, entra o conceito de limiar de disparo Para que exista uma célula excitável - capaz de desencadear um potencial de ação - ela precisa ter um conjunto de canais de Na+ regulados por voltagem que vão induzir a célula a ficar um pouco mais positiva / menos negativa. Esse limiar é o ponto em que a célula passa a ficar um pouco menos negativa, indo de - 70mv para -40mv pela abertura dos canais regulados por voltagem de Na+. Então retornando a pergunta, como a célula depois de todos os processos que a levaram para - 70mv fica positiva? Abrem-se canais de Na+ dependentes de voltagem, tornando a face intracelular positiva. A voltagem vai pra +35mv, quando ocorre a inativação dos canais de Na+. Também é no momento após o gráfico passar pelo limiar que ocorre o sinal para a abertura dos canais de K+, mas como eles demoram mais para abrir, a inativação dos canais de Na+ coincide com a abertura dos canais de K+ - assim que o Na+ para de entrar, os K+ começam a sair. Esse processo de despolarização da célula - ficar positiva - ocorre pela abertura dos canais e entrada do Na+ na célula Contudo, de acordo com a definição de potencial de ação, ele é uma rápida inversão do potencial de repouso mas seguido de um retorno ao potencial negativo. Esse retorno ao potencial negativo se dá por conta dos Na+ terem parado de entrar na célula mas os canais de saída do K+ terem sido abertos, fazendo a célula retornar a marca dos -40mv. Nesse momento ocorre a sinalização para inativar os canais de saída do K+, mas como eles são mais lentos e demoram a se fechar, fazem com que a célula não pare no -70mv (potencial de repouso), mas se hiperpolarize chegando até -90mv O processo de voltar a ser negativo é chamado de repolarização e ocorre por meio da abertura de canais de K+ dependentes de voltagem que saem da célula levando cargas positivas para fora O processo de ultrapassar o potencial de repouso fazendo a célula ficar mais negativa (-90mv) do que o próprio “ponto de partida” (-70mv) é chamado de hiperpolarização e ocorre pela lentidão no fechamento dos canais de K+ A hiperpolarização é corrigida com a atuação da bomba de potássio fazendo retornar ao estado de repouso depois de certo tempo Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII O conceito de “tudo ou nada” Chama-se o potencial de ação de “tudo ou nada” porque existem apenas 2 situações possíveis: 1. A célula atinge o limiar de disparo e ocorre potencial de ação 2. A célula não atinge o limiar Nesse processo não existe parcialidade, apenas totalidade. Mas se é o potencial de ação que efetua as ordens neurais, como é que existem contrações mais fortes e contrações mais fracas? Já que não existe parcialidade, apenas totalidade. A resposta é a quantidade e frequência: Muitos potenciais de ação num curto período de tempo geram mais intensidade. Períodos refratários: Período Refratário Absoluto (PRA): como os canais já estão recebendo sinais de ativação ou inativação, durante esse momento não é possível induzir um segundo potencial de ação Período Refratário Relativo (PRR): como os canais já foram inativados e não estão recebendo mais sinais, durante esse momento é sim possível induzir um segundo potencial de ação PRA PRR Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII Célula nervosa Impulso nervoso se dá por repetições de potencial de ação Bainha de mielina é uma capa de tecido adiposo que protege suas células nervosas e permite a condução dos impulsos elétricos ao longo da fibra nervosa com precisão e mais velocidade. São formadas por olidendrócitos ou células de Schwann Existem 2 tipos de axônio: sem bainha de mielina ou com bainha de mielina No que não tem mielina, as repetições são mais lentas, lineares, tendo que passar por todo o axônio. No que tem mielina, as repetições vão saltando de nodo em nodo (espaço entre bainhas), tornando o processo mais rápido Condução do Potencial de Ação Uma vez que foi gerado o potencial de ação no cone axonal, ao longo de todo o axônio o Na+ vai entrando e mudando o potencial da membrana dessa celula, isso vai permitindo que ocorra mudança de potencial elétrico ao longo do axônio, gerando a abertura de canais de sódio, permitindo sua entrada e assim vai por toda a membrana até atingir a porção terminal do axônio. Ocorre a despolarização e depois sua repolarização, já que os canais de K também estão abrindo lentamente Sistema Nervoso (SN) O SN é uma rede complexa que permite ao organismo se comunicar eficientemente com o seu ambiente. Possuindo 3 componentes principais: a) Sensoriais: detectoresdas variações na estimulação Ex: receptores que detectam as variações de temperatura no meio ambiente ou até mesmo os que detectam a pressão arterial no sangue Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII b) Motores: geradores de movimento, contração de músculos e secreções Ex: musculatura dos vasos para a vasodilatação c) Integrativos: recebem, armazenam e processam a informação sensorial – elaborando as respostas motoras apropriadas a cada situação O SN é dividido em duas partes que se comunicam extensamente Sistema Nervoso Central – enféfalo, medula espinhal Sistema Nervoso Periférico – receptores sensoriais, os nervos sensoriais e motores, os gânglios (aglomerado de neurônios) fora do sistema nervoso central Transmissão sináptica Quando uma informação chega no terminal sináptico, ela precisa ser passada adiante para uma outra célula que irá continuar carregando essa ifnromação para as próximas células, funcionando como um telefone sem fio. O processo de transmissão de uma informação entre células nervosas é chamado de transmissão sináptica, Sinapse é uma conexão funcional entre um neurônio e uma segunda célula, é ela quem permite a comunicação eficiente entre as células. 1- Sinapse elétrica As 2 células estabelecem um contato físico, com proteínas chamadas de junções comunicantes ou gap junctions, que permitem o contato entre os 2 meios intracelulares. Quando essas células se conectam, o potencial de membrana das 2 células se inverte, onde a célula que passa a informação inverte o potencial e tira a outra do repouso. A informação no caso da sinapse elétrica é a carga elétrica, que vai para a outra célula para buscar equilíbrio de forma rápida. Uma característica dessa sinapse é o fato dela ser bidirecional – a informação pode vir dos 2 lados, pode ir e voltar. É utilizada na sincronização de tecidos, como no tecido cardíaco – quando os átrios têm que contrair simultaneamente e em seguida os 2 ventrículos também. Também é o caso do útero – sinapse elétrica garante que todas as células se contraiam ao mesmo tempo empurrando o bebê. Léo Morato Luize – Medicina UFMS – CPTL – Turma VII 2- Sinapse química Nesse caso não existem conexões físicas entre as 2 membranas. O espaço que fica entre as 2 células é chamado de fenda sináptica. Esse tipo de transporte sináptico por sinapse química requer um mediador, isto é, um neurotransmissor. Existem vesículas próximas a membrana que está em contato com a fenda sináptica que carregam esses neurotransmissores. No caso químico, o transporte não é bidirecional, mas unidirecional. Assim, divide-se o processo em 2 partes, o terminal pré-sináptico (da célula que está antes da fenda) e o terminal pós-sináptico (da célula que está depois da fenda). O potencial de ação que vem vindo inverte o potencial da membrana e como consequência abrem-se canais de cálcio dependentes de voltagem, de modo que entre cálcio na membrana pré-sináptica. Quando esse cálcio entra na célula, ele induz que a vesícula que antes estava próxima a membrana pré-sináptica se funda com a própria membrana, fazendo com que os neurotransmissores que estavam dentro das vesículas sejam liberados na fenda sináptica. A célula pós-sináptica contém receptores - proteínas de membrana que são capazes de reconhecer os neurotransmissores e gerar uma resposta – de 2 tipos, ionotrópicos (canais de íons regulados por neurotransmissor) e metabotópicos (proteínas acopladas a enzimas [não são canais] que usam segundos mensageiros, convertendo substancia A em substancia B de modo a gerar mudança no potencial que vai resultar na abertura de canais de íons) Todo esse processo é mais lento e complexo, entretanto, mais preciso. É a sinapse mais abundante no sistema nervoso. Um estimulo elétrico (PA) se transforma num estímulo químico (neurotransmissor sendo liberado na fenda) que depois se transforma novamente num estímulo elétrico (potencial de membrana sendo alterado pela passagem de íons)
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