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Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho ISEP Edição do Autor 2014 WILSON ARAGÃO FILHO INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA O essencial para estudantes de engenharia elétrica 1ª Edição Vitória – ES – Brasil Wilson Correia Pinto de Aragão Filho 2014 ©: 2014, Aragão Filho, Wilson Formato: digital (pdf) Capa: Tânia Aragão Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) Aragão Filho, Wilson Correia Pinto de, 1957- A659i Introdução aos sistemas elétricos de potência [recurso eletrônico] : o essencial para estudantes de engenharia elétrica / Wilson Aragão Filho. - Dados eletrônicos. - 1. ed. - Vitória : Ed. do Autor, 2014. 115 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-9099-104-5 Modo de acesso: <https://sites.google.com/site/livroseletronicosprofaragao/docume nts-assignments> 1. Sistemas de energia elétrica. 2. Energia elétrica - Transmissão. 3. Energia elétrica. I. Título. CDU: 621.311 DEDICATÓRIA Este livro é dedicado, com muito carinho e agradecimento, àqueles que me têm feito muito feliz: Minha esposa, Tânia Aragão, e Meus filhos: André (e Jennifer) Eliane (e Maxwel) APRESENTAÇÃO Introdução aos sistemas elétricos de potência é uma unidade curricular de muitos cursos de engenharia elétrica. Visa a dar aos alunos os conhecimentos fundamentais para a compreensão dos elementos constituintes de um sistema elétrico de potência e de suas inter-relações. Esta disciplina, ou unidade curricular, é, também, conhecida como introdução aos sistemas de energia elétrica. Este autor tem oferecido esta unidade curricular há alguns anos na Universidade Federal do Espírito Santo. É uma unidade que visa a proporcionar aos alunos a base para estudos posteriores tais como Instalações elétricas, linhas de transmissão, linhas de distribuição, proteção de sistemas elétricos, etc. Ao estudar os tópicos apresentados neste curso, os alunos são motivados a olhar com visão mais interessada e crítica os sistemas elétricos que os cercam. Situando-se no início dos estudos de unidades mais profissionais, isto é, mais voltadas para os conteúdos próprios de um curso de engenharia elétrica, os alunos têm a oportunidade de rever certos aspectos de unidades já estudas, mas que precisam ser vistas, agora, a partir de um ponto de vista mais profissional e aplicado. É o caso dos conhecimentos sobre “por unidade”, que especialmente, agora, passam a ter significado pleno, quando se mostra a importância e a necessidade imperiosa de uso desse conceito no dia a dia de um engenheiro eletricista, particularmente na área de sistemas de potência (ou de energia). Além da revisão e da melhor compreensão dos conceitos sobre “por unidade”, também os conceitos e as definições sobre circuitos elétricos, particularmente, circuitos trifásicos, passam a ter uma melhor e mais aplicada compreensão. Os capacitores, por exemplo, passam a ser vistos como elementos, não mais simplesmente passivos, mas, agora, ativos, na medida em que passam a ser vistos como elementos fornecedores de energia reativa. Prof. Wilson Aragão Filho Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho v CONTEÚDO O livro é constituído de cinco (05) capítulos que cobrem os seguintes assuntos. Primeiro capítulo: Faz uma revisão dos conceitos básicos em sistemas elétricos de potência, cobrindo: visão geral de um sistema de potência, conceitos de fluxo de potências ativa e reativa na linha, mecanismo carga frequência, revisão de circuitos trifásicos, fator de potência, uso de “por unidade”, estudo da qualidade do fornecimento da energia elétrica, e o conceito de fator de potência generalizado. Segundo capítulo: trata dos modelos de linhas de transmissão (LT) curta e média e do estudo dos seus principais parâmetros: resistência e indutância séries, e capacitância em derivação. Terceiro capítulo: trata das fontes convencionais e alternativas (ou melhor, complementares) de energia elétrica, focalizando, particularmente, as centrais hidrelétricas e suas turbinas hidráulicas. O dimensionamento básico dessas turbinas é, também, abordado. Quarto capítulo: aborda a questão da configuração do sistema de aterramento, fazendo-se um estudo sobre a filosofia e os tipos de aterramento, e sobre características de sistemas elétricos aterrados e não aterrados e sobre aterramento em diferentes níveis de tensão. Quinto capítulo: apresenta alguns problemas propostos a serem resolvidos pelo leitor, cobrindo, praticamente, todo o conteúdo do livro. Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho vi SOBRE O AUTOR Wilson Aragão Filho é professor Associado do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) desde 1984, tendo iniciado sua carreira de professor federal em 1981, na antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo, atual Instituto Federal de Ensino Tecnológico do Espírito Santo (IFES). Obteve seu Mestrado em 1988 e seu Doutorado em 1998, tendo sido ambos os cursos realizados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob a orientação do Prof. Ivo Barbi. Tanto sua dissertação de mestrado quanto sua tese de doutorado trataram do mesmo tema: Eletrônica de Potência. O Prof. Aragão interessa-se, também, pelos temas: instalações elétricas residenciais e industriais, sistema de energia elétrica, proteção de sistemas elétricos, auditoria energética e conservação de energia, eficiência energética, segurança contra acidentes, carga eletrônica regenerativa, língua portuguesa, e Esperanto – língua internacional. O currículo Lattes do Prof. Aragão pode ser acessado em: http://lattes.cnpq.br/9279730500937858 O Blog do Professor pode ser acessado em: http://mondaespero-blog-uilso.blogspot.com.br/ http://mondaespero-blog-uilso.blogspot.com.br/ Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho vii Outros livros já publicados pelo Prof. Aragão: Curso básico bilíngue de Esperanto; Segurança na engenharia e na vida – consciência segura; Eletrônica de Potência I – Retificadores monofásicos e trifásicos; Instalações elétricas industriais – o essencial para estudantes de engenharia elétrica; Proteção de sistemas elétricos – o essencial para estudantes de engenharia elétrica. Todos esses livros, em formato eletrônico (pdf), podem ser baixados, sem custo, a partir do endereço da internet: https://sites.google.com/site/livroseletronicosprofaragao/documents- assignments Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho viii SUMÁRIO Cap. 1 – CONCEITOS BÁSICOS ......................................................................................................................... 12 1 Visão geral de um Sistema de Potência (SP) .................................................................................................... 12 1.1 Geração, transmissão e distribuição (Subestações: SE) .......................................................................... 12 1.2 Geração (controle de P e de Q) ............................................................................................................... 13 1.3 Distribuição (SEs e seus equipamentos) ................................................................................................. 152 Sistema de transmissão ................................................................................................................................... 16 2.1 Linhas curtas, médias e longas: [6] ........................................................................................................ 17 2.2 Capacidade de transmissão .................................................................................................................... 17 2.3 Potência ativa versus frequência do sistema .......................................................................................... 18 2.3.1. O mecanismo carga frequência .......................................................................................................... 19 2.3.2. Um análogo mecânico ........................................................................................................................ 19 2.4 Potência reativa versus tensão na barra ................................................................................................. 19 3 Revisão de circuitos trifásicos .......................................................................................................................... 21 3.1 Tensões de rede ...................................................................................................................................... 21 3.2 Tensões na carga ..................................................................................................................................... 22 3.3 Fator de potência (fp) ............................................................................................................................. 23 4 Revisão de sistema por unidade (pu) ............................................................................................................... 24 4.1 Aplicação de valores pu a circuitos trifásicos simétricos com carga equilibrada [9] .............................. 27 4.2 Choque de bases [9] ................................................................................................................................ 33 4.3 Representação de transformadores com comutador de tap [9] ............................................................ 36 5 Horário de verão (HV) ...................................................................................................................................... 42 5.1 Objetivo do horário de verão. ................................................................................................................. 42 5.2 A economia é marginal (secundária) ...................................................................................................... 43 6 Qualidade do fornecimento de energia elétrica [8]......................................................................................... 43 6.1 Distúrbios relacionados com a QEE ........................................................................................................ 44 6.2 Três distúrbios mais comuns:.................................................................................................................. 46 6.3 Fator de potência generalizado .............................................................................................................. 47 6.4 Melhoria da QEE: .................................................................................................................................... 48 Cap. 2 – MODELOS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO [6] ................................................................................... 50 1. Caracterização .................................................................................................................................................. 50 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho ix 2. Classificação e representação. ......................................................................................................................... 50 2.1. Linhas Curtas ........................................................................................................................................... 51 2.2. Parâmetros-série de uma LT ................................................................................................................... 53 2.2.1. Resistência série ................................................................................................................................. 54 2.2.2. Indutância ........................................................................................................................................... 57 2.2.2.1 Indutância de um condutor devida ao fluxo interno ....................................................................... 58 2.2.2.2 Fluxo concatenado entre dois pontos externos de um condutor isolado ....................................... 60 2.2.2.3 Indutância de uma linha monofásica a dois fios ............................................................................. 61 2.2.2.4 Indutância de uma linha com condutores tipo cabo ........................................................................ 63 2.2.2.5 Indutância de linhas trifásicas com espaçamento simétrico............................................................ 65 2.2.2.6 Indutância de linhas trifásicas com espaçamento assimétrico ........................................................ 66 2.2.2.7 Cabos múltiplos ................................................................................................................................ 67 2.2.2.8 Linhas trifásicas de circuitos em paralelo ......................................................................................... 68 2.3. Linhas Médias ......................................................................................................................................... 70 2.3.1. Parâmetros-paralelo de uma LT.......................................................................................................... 71 2.3.1.1. Capacitância ............................................................................................................................... 71 2.3.1.2. Capacitância de uma linha a dois fios ......................................................................................... 72 2.3.1.3. Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento equilátero ............................................ 74 2.3.1.4. Capacitância de uma linha trifásica com espaçamento assimétrico .......................................... 75 2.3.1.5. Efeito da terra sobre a capacitância de LT trifásicas .................................................................. 77 2.3.2. Cabos múltiplos................................................................................................................................... 78 2.3.3. Linhas trifásicas de circuitos em paralelo ........................................................................................... 79 2.4. Linhas longas ........................................................................................................................................... 80 Cap. 3 – CENTRAIS ELÉTRICAS (CE) .................................................................................................................. 86 1. Caracterização .................................................................................................................................................. 86 2. Aproveitamento primário da energia. ............................................................................................................. 86 2.1. Fontes convencionais de energia ............................................................................................................ 86 2.1.1. Vazão e queda das águas (hidráulica) ................................................................................................. 86 2.1.2. Combustíveis fósseis/carvões(térmica) ............................................................................................. 86 2.1.3. Núcleos atômicos (termonuclear) ...................................................................................................... 87 2.2. Fontes alternativas de energia ................................................................................................................ 87 2.2.1. Luz do sol (fotovoltaica) ...................................................................................................................... 87 2.2.2. Biomassas (resíduos energéticos vegetais) ........................................................................................ 87 2.2.3. Ventos (eólica) .................................................................................................................................... 87 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho x 2.2.4. Mar (ondas e marés) ........................................................................................................................... 87 2.2.5. Célula a combustível (energia química) .............................................................................................. 87 2.3. Fontes primárias de energia ................................................................................................................... 87 2.3.1. Água: ................................................................................................................................................... 87 2.3.2. Combustíveis fósseis: .......................................................................................................................... 87 2.3.3. Núcleos atômicos: ............................................................................................................................... 87 2.3.4. Luz do sol: ........................................................................................................................................... 88 2.3.5. Biomassas (I): ...................................................................................................................................... 88 2.3.6. Biomassas (II): ..................................................................................................................................... 88 2.3.7. Ventos: ................................................................................................................................................ 88 2.3.8. Ondas do mar: .................................................................................................................................... 88 2.3.9. Marés: ................................................................................................................................................. 88 2.3.10. Célula a combustível (CaC): ............................................................................................................ 88 2.4. A energia elétrica pode ser produzida: ................................................................................................... 89 2.4.1. Energia hidráulica ............................................................................................................................... 89 2.4.2. Energia térmica ................................................................................................................................... 89 2.4.3. Fissão nuclear ..................................................................................................................................... 89 2.4.4. Luz do sol: (ver item 2.3.4) .................................................................................................................. 89 2.4.5. Biomassas (I): ...................................................................................................................................... 89 2.4.6. Biomassas (II): ..................................................................................................................................... 89 2.4.7. Ventos: ................................................................................................................................................ 89 2.4.8. Ondas do mar: .................................................................................................................................... 89 2.4.9. Marés: ................................................................................................................................................. 89 2.4.10. Célula a combustível: ...................................................................................................................... 89 2.5. Classificação das CE [1] .......................................................................................................................... 89 2.5.1. Classificação das usinas hidroelétricas ............................................................................................... 90 2.5.1.1. Quanto à altura de queda: ......................................................................................................... 90 2.5.1.2. Quanto ao tipo de aproveitamento: .......................................................................................... 90 2.5.1.3. Quanto à função da usina:.......................................................................................................... 90 2.5.1.4. Quanto à fonte do potencial hidráulico ..................................................................................... 90 2.5.2. Caracterização de uma central hidrelétrica ........................................................................................ 90 2.5.3. Turbinas hidráulicas ............................................................................................................................ 91 2.5.4. Dimensionamento básico das turbinas hidráulicas [1] ....................................................................... 92 2.5.4.1. Queda útil e perdas de carga: ..................................................................................................... 92 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho xi 2.5.4.2. Perda de carga na tomada d'água ( 1H ): ................................................................................ 93 2.5.4.3. Perda de carga na linha adutora ( 2H ): ................................................................................... 93 2.5.4.4. Perda de carga nas tubulações forçadas ( 3 H ): ...................................................................... 94 2.5.4.5. Perda de carga no tubo de sucção ( 4H ): ................................................................................ 94 Cap. 4 – CONFIGURAÇÃO DO SISTEMA DE ATERRAMENTO .......................................................................... 95 1. Filosofia e tipos de aterramento ...................................................................................................................... 95 2. Características de um sistema elétrico não-aterrado ...................................................................................... 97 3. Vantagens do aterramento do neutro do sistema elétrico ............................................................................. 98 4. Métodos de aterramento do neutro.............................................................................................................. 100 5. Instalação industrial e redes de distribuição ................................................................................................. 104 6. Aterramento em cada nível de tensão ........................................................................................................... 105 7. Aterrar na fonte de potência e não na carga .................................................................................................106 Cap. 5 – PROBLEMAS PROPOSTOS ............................................................................................................... 108 ANEXO I .......................................................................................................................................................... 111 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................. 114 Referências do Cap. 1: ................................................................................................................................ 114 Referências do Cap. 2: ................................................................................................................................ 114 Referências do Cap. 3: ................................................................................................................................ 115 Referências do Cap. 4: ................................................................................................................................ 115 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 12 INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA – ISEP Cap. 1 – CONCEITOS BÁ SICOS 1 Visão geral de um Sistema de Potência (SP) Um sistema elétrico de potência é constituído por cinco segmentos distintos e intimamente relacionados: Geração, Transmissão, Distribuição, Subestações e Consumidor (ou Carga). Tal sistema é, na verdade um gigantesco (nos dias de hoje, e no Brasil) circuito elétrico, comparável àquele, em pequena escala, constituído por uma bateria (geração), sua fiação (transmissão e distribuição), seus nós e interruptores (subestações) e suas lâmpadas (cargas). O sistema elétrico de potência (chamado também de sistema de energia) atual é baseado na geração de corrente alternada (CA ou AC = alternating current), sendo a corrente contínua (CC ou DC = direct current) restrita a longas, e de tensões extra-altas, linhas de transmissão, como é o caso da linha de transmissão (LT) em CC que liga a usina de Itaipu (Furnas/Brasil-Paraguai), em Foz do Iguaçu à subestação de Ibiúna em São Paulo. Em CA, fala-se em potência ativa e reativa, ambas necessárias aos consumidores e que devem ser fornecidas pelo sistema elétrico, sob níveis adequados, e regulados por Lei, de tensão (amplitude), frequência (que deve ser a mais constante possível) e sob alta confiabilidade (= presença de energia de qualidade na maior parte do tempo). No Brasil consideram-se, atualmente, linhas de transmissão (LT) aquelas de extra-altas tensões (maior ou igual a 345 kV). As linhas de tensões iguais ou menores que 230 kV são consideradas como linhas de distribuição (LD). O sistema Escelsa, a rigor, só tem LD, embora, na prática, ainda se possa designar suas linhas como LT, sem cometer grande erro. 1.1 Geração, transmissão e distribuição (Subestações: SE) A estrutura de um grande sistema elétrico de potência (SEP) pode ser representada, basicamente, pelo esquema da Fig. 1. Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 13 Fig. 1 – Estrutura básica de um sistema de potência. A geração é realizada em níveis de 6kV a 20kV, através de geradores síncronos trifásicos, acionados por meio de turbinas hidráulicas ou térmicas. Uma subestação (SE) é constituída, basicamente, por um transformador e mecanismos de chaveamento (disjuntores), medição, controle de potência reativa, para-raios, etc. As LT podem ser curtas, médias e longas, de acordo com seu comprimento (normalmente medido em quilômetros). Às vezes podem existir SEs "passantes", no meio da LT, apenas para compensar potência reativa e controlar a tensão da linha. As LD (entendidas como aquelas que alimentam diretamente os consumidores) podem ser consideradas LD primárias (AT = alta tensão) ou secundárias (BT = baixa tensão). Os consumidores podem ser tanto de alta como de baixa tensão (<1kV) e, portanto, devem ser alimentados nos correspondentes níveis. O sistema elétrico representado na Fig. 1 corresponde ao caso de um pequeno sistema elétrico isolado e radial. Na prática, os grandes sistemas elétricos são interligados e em anel, isto é, todas as suas usinas geradoras são interconectadas, em sincronismo elétrico, através de subestações, de sorte que se aumenta a confiabilidade, já que os consumidores não deixarão de ser atendidos se alguma usina sair do sistema por algum problema, ou mesmo alguma LT, já que haverá outros caminhos para o fluxo de potência (sistema em anel). 1.2 Geração (controle de P e de Q) O controle das potências ativa e reativa geradas é feito por meio de duas variáveis de controle disponíveis ao operador da usina. O esquema da Fig. 2 ilustra tais relações. Sob a hipótese de um sistema de potência interligado, de grande tamanho, com linhas de transmissão longas e médias, pode-se falar em desacoplamento entre as variáveis de controle acima, de tal forma que a vazão da turbina e a tensão de excitação da excitatriz produzam efeitos praticamente independentes uma da outra. ~ Geração Subestação LT LD Consumidores Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 14 Fig. 2– Relações entre variáveis de controle e potências geradas. Se a vazão for aumentada pelo operador da usina, a consequência será o aumento da potência ativa, já que esta corresponde à potência efetivamente consumida (kW) e ao trabalho útil realizado. Este fenômeno pode ser compreendido como estando associado ao ângulo de carga (ou de torque) entre o campo do rotor e o campo girante induzido: como a frequência não pode aumentar (pois é mantida constante pelo sistema de controle) o aumento do ângulo (avanço do rotor pela maior vazão) se traduz em maior potência ativa fornecida à LT. Se a tensão de excitação for aumentada pelo operador, o efeito será o aumento da potência reativa fornecida pelo gerador à LT. Este fenômeno pode ser imaginado da seguinte forma: aumentando-se o número de linhas de campo magnético no campo indutor do gerador, este ficará com excesso de campo magnético, o que se traduzirá por maior capacidade de fornecer potência reativa, que é uma potência necessária para atender aos campos magnéticos de motores, reatores e similares. O módulo da tensão gerada aumenta efetivamente, justamente para provocar o fluxo de potência da fonte para a carga. A tensão na carga é que é mantida em valores estáveis, dentro de limites estabelecidos por Lei. Compensação de Reativos: O conceito de potência reativa, no âmbito dos circuitos elétricos, é duplo: fala-se em reativos indutivos (associados ao indutor L) e em reativos capacitivos (associados ao capacitor C). Em sistemas de potência (SP) considera-se apenas um único conceito, para efeito de simplificação: a potência reativa (Q), única!, é aquela associada às necessidades de consumo de equipamentos tais como motores, reatores, transformadores e LT. Portanto, a conclusão é que, no âmbito de um SP, as cargas do tipo indutivo (L) consomem potência reativa, enquanto as cargas do tipo capacitivo fornecem (ou geram) potência reativa. Daí dizer-se que equipamentos com base em capacitor (e seus equivalentes: compensadores síncronos, compensadores estáticos de reativos) são compensadores de reativos. A Fig. 3 ilustra tais conceitos. ~ P jQ P jQ Excitatriz Turb. Ger. Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 15 Fig. 3 – Conceito de compensação de potência reativa. Portanto, um capacitor pode e deve ser considerado um verdadeiro gerador de potência reativa, fazendo o mesmo papel que faz um gerador síncrono ao fornecer (gerar) potência reativa! 1.3 Distribuição(SEs e seus equipamentos) As linhas de distribuição situam-se, em geral, entre 11,4 kV e 34,5 kV e atendem aos consumidores finais, tanto em AT quanto em BT. As subestações (SEs) são constituídas por transformadores que têm a função de adaptar os níveis de tensão do sistema. Em geral são abaixadoras, mas existem as elevadoras (normalmente nas saídas dos geradores síncronos das usinas geradoras). Os principais componentes de uma SE são: 1) Transformador; 2) Disjuntor (interruptor sob carga); 3) Chave seccionadora (interruptor sem carga, normalmente); 4) Para-raios; 5) Compensador de reativos (bancos de capacitores ou compensador síncrono); 6) Compensador estático de reativos (solução mais moderna, ainda rara no Brasil); 7) Filtros ativos (idem); 8) Transformadores de medição (TP = transformador de potencial e TC = transformador de corrente); 9) Sistema de aterramento (malha de aterramento, em geral). C L Q –Q (Consumidor de Q) (Fornecedor de Q) C Q Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 16 A disposição básica dos disjuntores (Disj.), transformadores (TR) e chaves seccionadoras (CS) é conforme se vê na Fig. 4. Fig. 4 – Disposição básica de disjuntor, transformador e seccionadoras. A lógica dos esquemas de conexão é a seguinte: os equipamentos devem poder ser "isolados" do restante do sistema, para efeito de manutenção, pela abertura das seccionadoras. No caso de transformador em série com o disjuntor, ambos são isolados pelas seccionadoras. O disjuntor se localiza, preferencialmente, no lado de AT porque tais equipamentos são mais caros em função dos níveis de corrente do que de tensão. Na AT, as correntes são relativamente mais baixas do que na BT. No caso de uma unidade geradora, em muitos casos, esta fica diretamente ligada ao seu transformador elevador (sem um disjuntor entre eles). 2 Sistema de transmissão Em geral tal sistema é formado por uma rede em anel, em que as subestações (barras do sistema) são ligadas por meio de linhas de transmissão que se fecham em malha (ou anel), conforme a Fig. 5. Os sistemas de subtransmissão e distribuição são, ao contrário, formados por redes radiais (embora, em algumas partes efetivamente sejam fechados em anel). Fig. 5 – Sistemas radial e em anel. Disj. Disj. TR CS1 CS2 CS ~ ~ ~ ~ (Sistema radial) (Sistema em anel) Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 17 2.1 Linhas curtas, médias e longas: [6] As linhas de transmissão (LT) podem ser classificadas como: a) Linhas curtas: até 80 km de comprimento; (Modelo: |----- x -----| ) b) Linhas médias: entre 80 e 240 km de comprimento; (Modelo de parâmetros concentrados aproximados, do tipo PI nominal) c) Linhas longas: acima de 240 km. (Modelo de parâmetros concentrados, mas calculados de forma mais exata, do tipo PI equivalente) As LT curtas podem ser representadas por uma impedância concentrada (R + jXL). Mas como, geralmente, XL >> R (para qualquer comprimento da LT), esta resistência pode ser desconsiderada em um modelo mais simples, onde as perdas são desprezadas (linha sem perdas). Em geral, os parâmetros são concentrados; mas para LT longas, tais parâmetros devem ser calculados a partir de uma consideração de parâmetros distribuídos. Nas linhas médias e longas, a capacitância acumulada ao longo da linha é usualmente dividida em duas partes e colocadas em paralelo nos terminais fonte e receptor da linha – circuito – , conforme Fig. 6. Fig. 6 – Equivalente monofásico (ou unifilar) de uma LT média ou longa. 2.2 Capacidade de transmissão A capacidade de transmissão de potência ativa é fundamental para o perfeito e estável funcionamento de uma LT. Conceitualmente, uma LT não é projetada para transmitir potência reativa (Q), mas apenas potência ativa (P). A potência reativa que flui na linha deve ser somente aquela necessária ao seu funcionamento, isto é: ao chamado carregamento da linha; uma inevitável reatância indutiva (XL) sempre existirá como um elemento série da linha, representando sua indutância equivalente (parâmetro da linha), consumindo potência reativa sempre que a LT estiver energizada. C/2 C/2 XL RL i j Y/2 Y/2 2X 2X Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 18 Considerando-se uma linha sem perda (R=0), tem-se o seguinte equacionamento para a potência transmitida de uma barra (i) para uma barra (j): Fig. 7 – Potência transmitida em uma LT. )sen( L ji ij X VV P O ângulo é o ângulo entre as duas tensões e é, também, o ângulo de carga, pois se relaciona (como numa máquina síncrona) ao nível de carga do consumidor (ou receptor). A Fig. 7 ilustra a LT (tipo curta) e o fluxo de potência ativa associado. Observa-se que a potência máxima ocorre para = 90o, quanto então, P = Pmax . L ji X VV P max 2.3 Potência ativa versus frequência do sistema Em um SEP, o conjunto dos geradores deve, continuamente, produzir a potência total sendo consumida, mais as perdas do sistema (nas LT, nos transformadores (transformadores), nos próprios geradores, motores, etc.). Se uma variação brusca de potência ativa ocorre (aumento ou diminuição), a frequência tende a alterar-se (diminuindo ou aumentando). No entanto, um sistema de controle existe, obrigatoriamente, que tentará – por meio da atuação nas máquinas motrizes primárias – compensar tais variações da carga e buscando a manutenção da frequência. Esta permanece, atualmente, em grandes sistemas elétricos interligados, praticamente constante, dentro de uma variação de 0,1%. XL i j Pij ~ CargaGerador Vi Vj Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 19 A interligação do sistema, em conjunto com a grande inércia associada aos grandes hidrogeradores, contribui para a obtenção de uma frequência constante. E esta, sendo constante, facilita o controle das demais variáveis: potências ativa, reativa e tensão nas barras. Em resumo: o balanço (ou equilíbrio) da potência ativa em uma barra de um SEP estará garantido se a frequência da tensão na barra for mantida constante. 2.3.1. O mecanismo carga frequência Quando ocorre uma diminuição de carga em um sistema isolado, a tendência é de que a frequência aumente – já que a inércia elétrica é muito menor do que a inércia mecânica, associada aos reguladores de velocidade das turbinas. Aumentando-se a frequência, motores de indução e síncronos tendem a desenvolver maior velocidade, drenando mais potência, o que acaba contribuindo para uma natural compensação da diminuição inicial da potência da carga, novamente afetando, para baixo, o valor da frequência elétrica. Este mecanismo “carga-frequência” está no cerne dos sistemas de controle de frequência e de potência gerada de um SEP. Verifica-se que a frequência deve ser mantida constante para que, dentre outras razões, as cargas compostas (motores na maior parte e iluminação/aquecimento) não tenham sua potência aumentada em função da frequência. (Observar que para cargas indutivas – RL – a potência diminui com o aumento da frequência! ...) 2.3.2. Um análogo mecânico Um análogo mecânico do mecanismo “carga-frequência” de um SEP é uma composição ferroviária, em que a locomotiva deve puxar seus vagões com uma velocidade constante, apesar das variações da inclinação da linha férrea. Como esta pode ora estar subindo (embora não fortemente), ora estar descendo, a velocidade do trem tenderia a diminuir ou aumentar, respectivamente. Um sistema de controle baseando-se no monitoramento da velocidade deve existir para que a velocidade não se altere, sendo continuamente compensada pelo ajuste adequado na potência desenvolvida pela locomotiva.2.4 Potência reativa versus tensão na barra Supondo-se que grandes eletromagnetos (ímãs industriais), consumidores de potência reativa, sejam ligados a uma barra de um sistema elétrico, sendo mantida a mesma potência ativa Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 20 total da carga, maior corrente elétrica circulará na linha que alimenta a barra (SE) da instalação. Isto provocará maior queda de tensão na linha, o que diminuirá a tensão na barra. Esta relação entre potência reativa e tensão na barra caracteriza uma necessidade de equilíbrio (balanço) entre níveis de potência reativa solicitada pela carga e o nível de tensão na barra alimentadora. O análogo hidráulico relativo à corrente elétrica, visto nos estudos de circuitos elétricos, para explicar o fluxo de corrente, fica mais bem aplicado – nos estudos de SEP – ao fluxo de potência reativa. A Fig. 8 ilustra, portanto, o análogo hidráulico relativo ao fluxo de potência reativa entre duas barras de um SEP. Fig. 8 – Análogo hidráulico para o fluxo de reativos no SEP Em resumo: o balanço (ou equilíbrio) da potência reativa em uma barra de um SEP estará garantido se o módulo da tensão na barra for mantido constante. Para uma LT sem perdas (R = 0), a expressão que calcula a potência reativa fluindo entre duas barras "i" e "j" (de i para j) é a seguinte: )cos( 2 L ji L i ij X VV X V Q Este valor também se relaciona com a “perda” de reativos ou “consumo” de reativos na linha (QLT), que depende da queda de tensão (V): jiij L LT QQ X V Q 2 Finalmente, no campo das instalações elétricas costuma-se associar potência reativa (proveniente de banco de capacitores) à melhoria do fator de potência da instalação. No âmbito do SEP, é mais comum associar-se potências reativas e controle de tensão nas barras, já que a grande preocupação do engenheiro eletricista que atua em um SEP é a manutenção da tensão numa barra, o que é conseguido, em muitos casos, pela injeção/absorção de potência reativa na barra. Nível d’água |Vi| |Vj| Qij Fluxo d’água Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 21 3 Revisão de circuitos trifásicos A representação de circuitos trifásicos, por meio de seus valores eficazes de linha e de fase, e de seus diagramas fasoriais, tem sido um tópico que deixa os estudantes um pouco confusos. Especialmente quando se afirma que, para circuitos ligados em delta (), a “tensão de linha é igual à tensão de fase”. A abordagem abaixo visa a superar tais confusões. E para iniciar, faz-se a distinção entre tensões de rede e tensões de carga (ou de impedância). 3.1 Tensões de rede As tensões de uma rede elétrica trifásica são sempre bem definidas. A Fig. 9 ilustra o diagrama fasorial das tensões de um sistema trifásico com suas relações angulares e de tensão. Fig. 9 – Rede trifásica e diagrama fasorial Os terminais da rede elétrica correspondem aos quatro terminais de uma linha de quatro fios (3F+N). Um voltímetro irá medir, sempre, tensões com a relação dada na figura. Isto é: a tensão de linha (VL) é, sempre, igual a 3 vezes a tensão de fase (VF): VL=3.VF. Qualquer que seja a rede elétrica trifásica, de alta ou de baixa tensão, essas relações da Fig. 9 se aplicam! Tensões de linha são, também, denominadas de tensão fase-fase; tensões de fase são, também, denominadas de tensão fase-neutro. A B C N A B C N 120o VA VC VB VAB VCA VBC Terminais da rede elétrica Diagrama fasorial VF: VA, VB, VC VL: VAB, VBC, VCA (Seq.: ABC) VL=3.VF Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 22 No item a seguir, são estudadas as relações de tensão que se aplicam a cargas trifásicas equilibradas. 3.2 Tensões na carga As cargas trifásicas podem ser ligadas em estrela (Y) ou em triângulo (ou delta, ). Considerando-se cargas trifásicas equilibradas, com impedâncias Z, em cada fase, tem-se a Fig. 10. Fig. 10 – Cargas (Z) ligadas em estrela e triângulo. O estudo comparativo entre essas duas figuras permite a compreensão mais clara e pode ajudar a eliminar as confusões que usualmente são feitas pelo estudante. Verifica-se que as tensões sobre as cargas Z ligadas em estrela correspondem às tensões de fase (VF) enquanto sobre as cargas Z ligadas em triângulo correspondem às tensões de linha (VL). Entenda-se que as letras da Fig. 10 correspondem aos pontos de ligação dos terminais das fases da rede elétrica mostrada na Fig. 9. A título de exemplo, se for conhecida uma tensão de fase (VF) de uma dada rede elétrica (VA= 12745o V, ficam conhecidas, de resto, todas as demais tensões. As demais tensões de fase ficam defasadas de 120o, dependendo da sequência de fase dada. E as tensões de linha (VL) ficam determinadas pelo módulo 3 vezes maior e por ângulos de fase 30o à frente ou atrás das respectivas tensões de fase, conforme esclarece a Fig. 9. Esta figura deve ser estuda com atenção para que sejam dominadas as relações básicas entre tensões de fase e de linha, válidas para qualquer rede elétrica trifásica! Verifica-se, facilmente, que a tensão de linha VAB terá ângulo de fase igual a 45o (da fase A) mais 30o, conforme a Fig. 9, na sequência considerada (positiva): VAB = 22075o V. OBSERVAÇÃO: Não confundir os termos “fase” e “defasamento”. A fase de um fasor é o seu ângulo em relação à referência zero grau (0o), no eixo X (eixo real). Exemplo: a fase da tensão VB, da N VZ = VA V VZ = VAB Estrela (Y) Triângulo () A B B C C A Z Z Z Z Z Z Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 23 Fig. 9, é “– 90 o”. Já o defasamento entre as tensões VAB e VA é 30o, não tendo qualquer sinal. Se uma tensão estiver à frente ou atrás de outra isto é definido pelo diagrama fasorial ou pela informação de seus ângulos de fase. Quando se diz que uma rede elétrica industrial é de 440 V, deve-se entender, imediatamente, que a rede apresenta tensão de linha de 440 V e tensão de fase de 254 V. Portanto, quando nada se diz, uma tensão deve ser entendida como tensão de linha. Uma exceção é a tensão doméstica de 127 V, que, neste caso, denota a tensão fase-neutro da rede. 3.3 Fator de potência (fp) O fator de potência é um conceito estritamente monofásico. Expressa o percentual de potência ativa em relação à potência total (aparente) sendo fornecida. E está totalmente relacionado ao conceito de impedância equivalente de uma carga. O fator de potência de cargas trifásicas equilibradas coincide com o fator de potência de uma das impedâncias de carga (Z). Os triângulos de potência e de impedância, também, ajudam a melhor compreender-se o conceito de fator de potência. A Fig. 11 ilustra três considerações que devem ser feitas pelo técnico para identificar o fator de potência ou as variáveis dos sistema rede-carga. Fig. 11 – Fator de potência e suas considerações. Para os estudos e cálculos relativos a fator de potência, o técnico deverá consultar, simultaneamente, essas três considerações: o diagrama fasorial, o triângulo de impedância e o V I I V Z Rede Carga Z R X S P Q Triângulo de potência Triângulo de impedância Diagrama fasorial Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 24 triângulo de potência. No caso da Fig. 11 o ângulo de defasamento visto no diagrama fasorial indica, sem qualquer dúvida, que a impedância é indutiva, pois a corrente está atrasada em relação à tensão. O triângulo de potência, portanto, deverá ser como na figura, com o vetor X apontado para cima (reatância positiva, + jX.) Igualmente para a potência reativa: + jQ. O ângulo do fator de potência (cos ) será dado porqualquer uma das três considerações. O fator de potência, finalmente, para circuitos trifásicos equilibrados e com cargas lineares (fasores perfeitamente senoidais) é dado por meio das seguintes expressões: 𝑓𝑝 = 𝑃 𝑆 ; 𝑓𝑝 = cos ∅ OBSERVAÇÃO: A reatância e a potência reativa são variáveis que têm, aliás, como a potência ativa, valores sempre positivos. Valores negativos, quando aparecem (por exemplo: – j 30 , – j 400 Var e – 50 kW), são apenas para indicar que o valor referido é o contrário daquele, inicialmente, considerado positivo. Nos casos da reatância e da potência reativa, é apenas para indicar a posição do vetor no espaço cartesiano, ao se desenhar os diagramas correspondentes. Portanto, uma reatância, seja indutiva seja capacitiva, valendo 40 é indicada X = 40 . Isto é: não existe o conceito de reatância negativa (nem de potência reativa negativa). Nos cálculos com números complexos, sim: o operador “± j”, para indicar a posição do vetor reatância específico, terá de ser adequadamente utilizado. 4 Revisão de sistema por unidade (pu) O termo "por unidade" é unanimemente usado em um SEP porque facilita enormemente a percepção, por parte do engenheiro, da situação de tensões, correntes e potências no sistema, em relação aos seus valores nominais. Fig. 12 – SEP com valores absolutos de tensão e corrente. A Fig. 12 ilustra um SEP em que os valores indicados expressam os valores absolutos das tensões nas barras do sistema. ~ ~ 1 2 4 3 13kV 5,46kV 12,83kV 139,5kV 137kV 157,5kV 130kV 11,97kV 500A G2 G1 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 25 Para responder a tais perguntas, ele deverá buscar informações sobre os valores nominais dos transformadores e fazer algumas contas. Sabendo-se que as tensões nominais dos lados de BT dos transformadores são: BT1 = 15 kV; BT2 = 13,8 kV; BT3 = 6 kV; BT4 = 11,4 kV. Então o engenheiro poderá calcular as margens de tensão, acima ou abaixo dos valores nominais, para saber se estão dentro ou fora da faixa legal ou permissível. Ora, considerando-se tais valores nominais como sendo BASES (ou referências) do sistema, e sabendo-se que os transformadores estão ajustados com suas relações de tensão nominais, pode- se chegar aos valores "pu" indicados na Fig. 13 correspondente ao mesmo sistema elétrico. Fig. 13 – SEP com valores também em pu (entre parênteses). Sabendo-se ainda, que o valor BASE adotado para a tensão na AT é 150 kV, conclui-se que será necessário somente um valor pu de tensão para a barra, em vez de dois para os valores absolutos. Para obter-se o valor pu da corrente no transformador T4, há que se conhecer o seu valor nominal (= BASE) de potência. Supondo-se uma potência de 30 MVA para ele, chega-se ao valor de 0,33 pu para a corrente no secundário do transformador. – Por quê? Como se calcula este valor?... A grande conclusão é que, utilizando-se valores em "pu", as informações sobre a situação das tensões nas barras ficam imediatamente aparentes ao engenheiro! A informação salta aos olhos indicando o quanto distante do valor 1,0 pu estão as tensões (ou as correntes). Uma "mudança de base" será necessária para expressar as impedâncias de linha e dos equipamentos (transformadores, geradores, etc.) se os valores originais em pu não estiverem nas mesmas bases do sistema. Portanto, utiliza-se a expressão: ~ ~ 1 2 4 3 13kV 5,46kV 12,83kV 139,5kV 137kV 157,5kV 130kV 11,97kV 500A G2 G1 (0,87) (0,93) (1,05) (0,91) (0,33) Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 26 2 bn bv bv bn vn V V S S ZZ (valor em pu) Onde: Zn e Zv significam impedâncias em pu "nova" e "velha"; Sbn e Sbv potências de base "nova" e "velha"; Vbn e Vbv tensões de base "nova" e "velha". O uso de valores em por unidade (pu) exige algumas considerações: 1. As cargas estarão sempre conectadas em estrela (Y) e supostas equilibradas! Isto porque o circuito equivalente monofásico de impedâncias supõe um ponto neutro, para a definição da tensão fase-neutro (a conexão delta não permite isto); 2. Os valores-base dos equipamentos serão iguais aos seus valores nominais; 3. Os valores-base de um circuito trifásico serão definidos e relacionados conforme as leis dos circuitos elétricos e como que “guardados”: Dados: Vb e Sb (valores trifásicos), obtêm-se: 𝐼𝑏 = 𝑆𝑏 √3. 𝑉𝑏 𝑒 𝑍𝑏 = 𝑉𝑏 2 𝑆𝑏 4. O uso de pu elimina os transformadores e a relação √3 entre tensões de linha (VL) e de fase (VF); 5. Os valores-base nos lados BT e AT relacionam-se pela relação de tensão do transformador; 6. A impedância-base de um equipamento trifásico é igual à sua impedância nominal, isto é: calculada como se fosse uma carga ligada em estrela com a potência trifásica do equipamento: 𝑍𝑏 = 𝑉𝑏 2 𝑆𝑏⁄ ; 7. Os cálculos realizados no circuito monofásico equivalente de impedâncias, com grandezas todas em pu, são feitos como em circuitos monofásicos; 𝑠 = 𝑣. 𝑖; 𝑖 = 𝑣 𝑧 8. Z e S são os valores-base para as duplas R e X, e P e Q, respectivamente! 𝑞 = 𝑄 𝑆𝑏 ; 𝑟 = 𝑅 𝑍𝑏 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 27 4.1 Aplicação de valores pu a circuitos trifásicos simétricos com carga equilibrada [9] Qualquer circuito trifásico pode ser reduzido a um circuito equivalente monofásico (em diagrama unifilar) desde que todos os componentes ligados em triângulo () sejam substituídos por equivalentes ligados em estrela (Y). ESCOLHA DE BASES: Considere-se um circuito trifásico qualquer em que todos os seus componentes estejam ligados em estrela onde: V = tensão de linha Vf = tensão de fase I = corrente de linha ou de fase (estrela: If = IL) S = potência aparente trifásica Sf = potência aparente por fase Z = impedância da carga (conceito estritamente monofásico!) Ao se adotar para valores de base por fase, Vbf e Sbf , obtêm-se (em módulos): bf bf bf V S I , bf bf bf bf bf S V I V Z 2 como corrente e impedância de base por fase. Os módulos das grandezas de fase, em pu, são (letras minúsculas para valores pu): bf f f V V v , bf f f S S s , bf I I i , bf Z Z z Se agora os valores de base são escolhidos como sendo os valores de linha, ou trifásicos, da rede, pode-se demonstrar que as grandezas de base corrente e impedância serão iguais aos valores obtidos com bases por fase. Isto é, pode-se demonstrar que Ib = Ibf e Zb = Zbf . 𝐼𝑏 = 𝑆 √3. 𝑉 = 3. 𝑆𝑓 √3. (√3. 𝑉𝑓) = 𝐼𝑏𝑓 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 28 𝑍𝑏 = 𝑉2 𝑆 = (√3. 𝑉𝑓) 2 3. 𝑆𝑏𝑓 = 𝑉𝑓 2 𝑆𝑏𝑓 = 𝑍𝑏𝑓 Pode-se demonstrar, ainda, que os valores em pu das grandezas de linha (em módulo) serão iguais aos valores em pu das grandezas de fase. 𝑣 = 𝑉𝐿 𝑉𝑏 = √3. 𝑉𝑓 √3. 𝑉𝑏𝑓 = 𝑉𝑓 𝑉𝑏𝑓 𝑖 = 𝐼 𝐼𝑏 = 𝐼𝑓 𝐼𝑏𝑓 (Neste caso: I = Ibf e Ib = Ibf .) 𝑧 = 𝑍 𝑍𝑏 = 𝑍 𝑍𝑏𝑓 (Neste caso: Zb = Zbf, conforme visto acima.) Conclui-se que, com a escolha adequada dos valores de base, os módulos das grandezas de linha e de fase, expressos em pu, são iguais! Quanto à fase dessas grandezas, deve-se lembrar que a tensão de linha adianta-se de 30o em relação à de fase para a sequência positiva (ABC). EXERCÍCIO (1): Três impedâncias de 1060o são ligadas em estrela e alimentadas por tensão de linha de 220 V. Pede-se determinar a corrente (em A) e a potência complexa trifásica absorvida pela carga (emkVA) da seguinte forma: (a) Cálculos em pu com as bases fixadas por fase; (b) Cálculos em pu com as bases fixadas por valores de linha. Orientações: (i) Definir os valores-base de tensão e de potência (seja Sbf = 1000 VA); (ii) Calcular os valores base de corrente e de impedância; Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 29 (iii) Adotar a sequência de fase direta (positiva ou ABC) e VAN na fase 0 o (Considera-se apenas a fase A do circuito monofásico equivalente.); (iv) Calcular a corrente e a potência. EXERCÍCIO (2): Um alternador trifásico de 100 kVA alimenta, por meio de uma linha (de transmissão), uma carga trifásica equilibrada. Conhecendo-se: (1) A impedância da linha: 0,05 + j0,15 ; (2) A tensão de linha na carga: 220 V, 60 Hz; (3) A potência (3) absorvida pela carga: 60 kW, cos = 0,6, indutivo. Pede-se determinar (com cálculos em pu): (a) As tensões fase-neutro e fase-fase no alternador em V; (b) Os reativos que deverão ser ligados em paralelo com a carga para tornar seu fator de potência 0,95 indutivo; (c) A tensão no alternador nas condições do item (b). Orientações: (i) Adotar a tensão de linha como tensão-base e a potência trifásica como potência-base; (ii) Desenhar o circuito monofásico equivalente para a fase A (colocar a tensão na carga como AN e a tensão no alternador como A’N); (iii) Colocar o fasor-corrente da fase A na referência (0º); (iv) Calcular as tensões no alternador; (v) Calcular a potência reativa (3) do banco de capacitores; (vi) Calcular a tensão do alternador (em pu) e compará-la com o valor de antes da compensação reativa. SOLUÇÃO E RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS: Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 30 EXERCÍCIO (1): SOLUÇÃO: Para o item (a): (i) Os valores base por fase são escolhidos: Vbf = 127 V; Sbf = 1.000 VA. (ii) Então, têm-se: Ibf = 7,87 A; Zbf = 16,15 . (iii) Seja a tensão real na fase A: VAN = 1270º V vAN = 1,0 pu A impedância da carga vale: z = 0,6260o pu. Portanto, podem ser calculados os valores de iAN e de sf : iAN = 1,615-60o pu ; sf = 1,61560o pu. Daqui obtêm-se os valores reais da corrente (linha = fase) e da potência por fase. Lembrando- se de multiplicar por 3 a potência por fase para obter-se a potência trifásica (total), têm-se: IAN = 12,7-60o A , S3 = 4.84560o VA. Para o item (b): (i) Os valores base de linha são escolhidos: Vb = 220 V; Sb = 3.000 VA. (ii) Então, têm-se: Ib = 7,87A; Zb = 16,15 . (iii) Seja a tensão real na fase A: VAN = 1270o V VAB = 22030o V Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 31 O que dá: vAB = 1,030o pu. A impedância da carga vale: z = 0,6260o pu. Portanto, podem ser calculados os valores de iAN = iA e de sf : iA = 1,615 60o pu ; sf = 1,61560o pu. Daqui obtêm-se os valores reais da corrente (linha = fase) e da potência trifásica. IA = 12,760o A Como a base já é trifásica tem-se: S3 = sf . Sb = 4.84560o VA. EXERCÍCIO (2): SOLUÇÃO: Para o item (a): (i) Sejam os valores de base: Vb = 220 V; Sb = 100 kVA (= 60 kW/0,6) (ii) Circuito monofásico equivalente: vAN e z zc A A ’ N ~ Fig. 14 – Circuito monofásico equivalente (diagrama de impedâncias). Fonte: Referência [9] (iii) Seja a corrente na fase “A” a zero grau; a corrente resulta: iAN = 1,0 0o pu (a partir dos dados da carga); a impedância na carga resulta: zc=0,6+j0,8 pu = 1,053o pu. Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 32 A tensão na carga resulta: vAN = iAN (0,6+j0,8) = 1,053o pu (iv) Finalmente, obtém-se a tensão no alternador (e): e = vA’N = vAN + iAN.z (z = 0,103+j0,310 pu) Então: vA’N = 1,3157,7o pu. Daqui são obtidas todas as tensões (F-N e F-F). Resultados: VA’N = 166,557,7o V (valor-base-fase-neutro!) VB’N = 166,5-62,3o V “ VC’N = 166,5177,7o V “ VA’B’ = 288,287,7o V (valor-base-linha!) VB’C’ = 288,2-32,3o V “ VC’A’ = 288,2207,7o V “ Para o item (b): (v) Potência aparente atual: s1 = 0,6 + j0,8 pu Para um novo fator de potência 0,95 s2 = 0,6 + j0,197 Então: j0,8 – j0,197 = j0,603 é a potência reativa que deve ser “injetada” localmente pelo banco de capacitores! Tem-se, finalmente: qcap = j0,603 pu Qcap = 60,3 kvar. Para o item (c): (vi) O cálculo da tensão no gerador é feito calculando-se, antes, a (nova) corrente na carga: Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 33 p = vAN . iAN . cos = vAN . iAN . 0,95 iAN = 0,6310o pu Então: vA’N = vAN + iAN.z vA’N = 1,1426,4o pu. Comparação: este módulo é menor do que aquele que existia antes da compensação reativa. Isto mostra que tal compensação exige menos esforço do gerador (ou do sistema elétrico) para fornecer a mesma potência ativa (0,6 pu)! 4.2 Choque de bases [9] Este item está baseado na referência [9], isto é: ROBBA, E. J. Introdução aos sistemas elétricos de potência – componentes simétricos. Edgar Blücher, São Paulo, 1973. São feitas algumas observações e adaptações. O choque de bases ocorre quando uma base de tensão já previamente definida, ou já existente, entra em conflito com uma nova base que estaria sendo definida a partir da relação de tensões operacional de certo transformador. A Fig. 15 ilustra tal situação. Fig. 15 – Choque de bases. Fonte: Referência [9] A Escolha das bases do sistema da Fig. 15 iniciou-se pela definição da base Vb1. As demais foram sendo definidas pelas relações operacionais de tensão dos transformadores. Ao se atingir o transformador T4, a tensão de base dada pela relação de tensão deveria ser Vb5. No entanto, já A A’ B B’ T1 T2 D D’ C C’ T4 T3 [Vb2] [Vb3] [Vb3] [Vb2] [Vb1] [Vb4] [Vb4] [Vb1 ] ou [Vb5]?? Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 34 existe, previamente definida, a tensão de base Vb1. Isto caracteriza um “choque de bases”. Há que se resolver o problema. Observações: a) Entenda-se relação de tensões operacional como sendo aquela definida para a operação do transformador, que pode ser a nominal ou diferente desta. Normalmente os transformadores de potência podem ter seus tapes ajustados, de forma manual ou automaticamente, o que define a sua relação operacional. b) Se as relações operacionais dos transformadores T1 e T4 fossem iguais entre si, e, também, as dos transformadores T2 e T3, pode- se verificar que não haveria choque de bases, o que é muito comum. No entanto, se as relações operacionais são diferentes dois a dois, por serem diferentes os transformadores, ou por outra razão, pode ocorrer o choque de bases. Seja um transformador monofásico conforme a Fig. 16. Fig. 16 – Transformador monofásico e suas relações de tensão. Fonte: Referência [9] As relações de tensão relativas a este transformador podem ser assim obtidas: nN N V V N N 1 2 1 2 1 12 NN VnV Igualmente: nN N V V b b 1 2 1 2 1 12 bb VnV Analisa-se o agora o caso de um choque de bases (como no transformador T4, na Fig. 17). Fig. 17 – Transformador com choque de bases. Fonte: Referência [9] 1:n VN1 VN2 (N1) (N2) [Vb1] [V’b2] [V’b2] [Vb2] 1:n VN1 VN2 (N1) (N2) [Vb1] [Vb2] Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 35 Considere-se a tensão de base V ’ b2 como sendo a tensão de base “existente”, isto é, vez de ser aquela definida pela relação operacional (n) do transformador considerado([Vb5], no caso de T4), passa a ser a tensão de base já previamente existente ou definida ([Vb1], no caso de T4). As seguintes relações de tensão são obtidas. nN N V V N N 1 2 1 2 1 12 NN VnV Analogamente: nN N V V b b 1 2 1 ' 2 1 1 ' 2 bb VnV !! Seja a tensão V1 aplicada ao primário. Tem-se, então, no secundário: 12 VnV . Considerando variáveis em letras minúsculas representando valores em “pu”, obtêm-se: 1 1 1 bV V v ; ' 2 2 2 bV V v ' 21 2 ' 2 1 1 12 bN N b V V V V Vn Vv (1) Multiplicando e dividindo por Vb1 esta última expressão (1), obtém-se: ' 2 2 1 1 1 1 2 b N N b b V V V V V V v ' 2 2 1 1 1 12 b N bV NV V V vv 1 2 12 N N v v vv 12 vv Onde: 1 1 ' 2 2 1 2 bV NV bV NV N N v v pode ser considerada uma relação de tensões em pu ou fora da nominal (off-nominal turns-ratio). Ao se observar que a relação operacional n é, também, como visto acima, igual a Vb2/Vb1 , pode-se expressar essa relação de tensões em pu (α), de outra forma, como sendo: 𝛼 = 𝑉𝑁2 𝑉𝑁1 . 𝑉𝑏1 𝑉𝑏2 ′ = 𝑛. 𝑉𝑏1 𝑉𝑏2 ′ = 𝑉𝑏2 𝑉𝑏1 . 𝑉𝑏1 𝑉𝑏2 ′ => 𝛼 = 𝑉𝑏2 𝑉𝑏2 ′ Isto é, a relação α pode, também, ser dada e entendida como a relação entre a tensão base operacional e a tensão base existente. Conclusão: o transformador que se encontra em situação de “choque de bases”, deverá ser representado no sistema equivalente monofásico, em pu, do sistema de potência real, como um transformador (ou autotransformador) ideal em série com sua impedância percentual (ou pu), conforme a Fig. 18. vN2 vN1 Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 36 . Fig. 18 – Representação em diagrama monofásico equivalente. Fonte: Referência [9] 4.3 Representação de transformadores com comutador de tap [9] É comum em sistema de potência existir transformadores com relação de espiras ajustável, sob carga. São os chamados transformadores de tap ajustável (tap changing transformers). Como as tensões base dos lados de AT e BT do transformador se relacionam pela sua relação de tensões (ou de espiras), a mudança da relação de espiras exigiria a alteração das tensões base! Isto não é possível... A solução é a fixação da relação das tensões base pela relação nominal de tensões do transformador. Quando o transformador sofre um ajuste na sua relação de espiras, ficando com relação de espiras fora da nominal (off nominal), o transformador precisa ser representado no diagrama unifilar, em pu, por meio de um transformador (ou autotransformador) em série com sua impedância de curto-circuito (ou impedância percentual), como foi analisado no assunto Choque de Bases. Para expressar a variação de tap do transformador usa-se a letra “a”, cujo valor sendo maior que 1 (a >1) indica aumento ou, sendo menor que 1 (a <1) indica diminuição do número de espiras do enrolamento. Tal número normalmente indica uma fração das espiras, ou um valor percentual em relação ao número de espiras em situação nominal. Se, por exemplo, o secundário de um transformador tem um total de 110 espiras, e 100 espiras na tensão nominal, e um ajuste é feito de +5 espiras, tem-se que: a = 5% ou a = 0,05 pu. Ora, como as 100 espiras constituem a relação nominal do transformador, tem-se que o transformador estará com relação fora da nominal () igual a: = 1 + a = 1,05 pu. 1: v1 v2 [Vb1] [V’b2] ou: v1 v2 1: zT zT [Vb1] [V’b2] Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 37 Diz-se, então, que um transformador está com relação nominal quando = 1 pu, e estará com relação fora da nominal para 1,0 pu. E a variação de tap em relação ao ponto nominal (a = 0) é a diferença: a = - 1 (pu). Seja um transformador com tensões nominais V1 e V2, com comutador de tap no secundário (V2), com um valor-limite de ae espiras, que está ajustado para um determinado valor a. Considerando-se os valores nominais (V1 e V2) como os valores-base das tensões dos dois lados do transformador, e aplicando-se uma tensão V no primário, tem-se, para a tensão secundária (V’): 1 2' )1( V aV VV Em pu, tem-se: 1 V V v ; )1()1( 12 ' ' ava V V V V v Portanto, o autotransformador ideal que será inserido no circuito monofásico equivalente de impedâncias (em pu) terá relação de espiras: 1: (1 + a), conforme a Fig. 19. Fig. 19 - Representação de um transformador com relação fora da nominal: (esquerda) circuito equivalente; (direita) circuito em pu. Fonte: Referência [9] Os modelos utilizados atualmente nos computadores, para representar sistemas de potência, nunca incluem o transformador (ou autotransformador), mas apenas a sua representação. Para tanto é necessário substituir-se o autotransformador e sua impedância série (z) por um modelo do tipo quadripolo equivalente. A Fig. 20, abaixo, ilustra os dois circuitos que devem ser equivalentes. v v '=v(1+a) 1: A B A B v z z Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 38 (a) (b) Fig. 20 – (a) transformador fora da derivação nominal; (b) Circuito passivo equivalente. Fonte: Referência [9] As equações que representam o autotransformador são: sse i a z v a v 11 1 sse iavi )1(0 Já para o quadripolo equivalente, têm-se: sse izv z z v 2 3 21 sse i z z v zz z zz i 1 2 31 2 31 1 11 Portanto, forçando a igualdade dos coeficientes dos dois sistemas de equação, obtêm-se: )1( 1 z z z z 2 1 3 z z (onde: a1 ) que são as impedâncias em pu a serem inseridas no circuito passivo equivalente (Fig. 20–b) para representar, no sistema de potência (em pu), o transformador com tap fora da derivação nominal. Obtém-se, novamente, um sistema de potência monofásico, em pu, sem transformadores! ve vs 1: (=1+a) ie z is ve vs z1 z2 z3 ie is Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 39 Observação: A impedância do transformador é, normalmente, considerada uma reatância indutiva pura (reatância de dispersão). Portanto, um denominador negativo (1 , para > 1) transforma jx em jx : um reator em um capacitor!) EXERCÍCIO: Um barramento infinito alimenta, por meio de um transformador e de uma linha, uma carga indutiva monofásica que absorve 50 MVA e 40 MW quando alimentada por tensão de 62,8 kV e 60 Hz. São dados: (1) Tensão do barramento infinito: 220 kV; (2) Transformador monofásico, 100 MVA, 220/69 kV, x = 8% com variador de derivação no enrolamento de BT que permite ajuste de 10 %, em 24 pontos; (3) Impedância de linha, 0,04 + j0,06 pu nas bases de 69 kV e 100 MVA. Pede-se: (a) Ajustar o tap de derivação do transformador de modo tal que a tensão na carga esteja o mais próximo possível de 69 kV. (b) Calcular os valores das impedâncias-pu do circuito equivalente a ser usado em cálculos computacionais para estudo de fluxo de carga no sistema de potência. Orientações para a solução do problema: (i) Adotar os valores-base do sistema como os do barramento infinito. (ii) Colocar a impedância percentual do transformador no lado de BT em série com as impedâncias da linha e da carga (esta última deve ser calculada para a tensão real aplicada à carga). (iii) Supor a tensão de 69 kV aplicada à carga (já que se quer um valor real o mais próximo possível deste). (iv) Entenda-se 10 %, em 24 pontos, como sendo a’ = (2 x 0,10)/24 a variação pu por cada ponto do variador.Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 40 SOLUÇÃO E RESPOSTAS DO EXERCÍCIO PROPOSTO SOLUÇÃO: Para o item (a): (i) Valores-base: Vb = 220 kV no barramento infinito; Sb = 100 MVA (esta, para todo o sistema) No secundário do transformador: Vbsec = 69 kV (já que a relação nominal é justamente: 220/69kV) (ii) O transformador será representado pela sua impedância de curto-circuito em série com um autotransformador de relação de tensões 1 : , onde = 1+ a . (Ver Fig. 21, à frente.) Os parâmetros (zT, zL) não são alterados em seus valores pu já que os valores de tensão nominal (bases da impedância do transformador) e os valores base da LT equivalem aos valores base escolhidos para o sistema. Já o valor de zc deve ser calculado para a tensão real dada: 50 MVA e 40MW em 62,8 kV! Esta tensão se transforma em 0,91 pu e zc é calculado: Então: zc = 1,65637o pu. Fig. 21 – Representação do transformador por um autotransformador. Fonte: Referência [9] vbi vc 1: ( =1+a) ibi zT ic zc zL vsec Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 41 (iii) Para uma tensão na carga suposta 69kV ou 1,0 pu, calcula-se a ic. Adotando-se a corrente na referência, tem-se: vc = 1,0 37o pu; ic = 0,604 0o pu. Calcula-se a tensão no secundário: vsec = vc + ic(zT+zL) vsec = 1,0739,7o pu. Portanto a relação do transformador fica definida como: = 1 + a = 1,07 a = 0,07 pu Como a variação por ponto do secundário é a’ = 0,00833 pu/ponto o número de pontos será: 4,8 /00833,0 07,0 ' ptopu pu a a n pontos. Não sendo possível tomar um número de pontos fracionário (o cursor da tomada do secundário faz contato com um ponto por vez) têm-se duas opções: a1 = 8 . a’ ou a2 = 9 . a’ (pu) Aplicando-se divisor de tensão: cLT c bic zzz z vv (vbi = 1,0 pu) Substituindo-se os valores a1 e a2 , obtêm-se: vc1 = 1,066.(0,936-2,8o) pu = 0,99-2,8o pu vc2 =1,075.(0,936-2,8o) pu = 1,006-2,8o pu Parece ser a melhor ! (0,006 pu acima do valor desejado, contra 0,010 pu abaixo, no caso 1) Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 42 Portanto: o tap será ajustado para 9 pontos acima do ajuste nominal (ou 7,5% acima do valor nominal). Para o item (b): – É só fazer as contas!... 5 Horário de verão (HV) O horário de verão foi uma ideia que Benjamin Franklin teve, já no século XVIII (1784). No entanto, só começou a ser aplicada muitos anos mais tarde, na Alemanha, em 1916, no início da primeira guerra mundial, para economizar carvão (Wikipédia: Horário de Verão). A ideia básica é aproveitar a luz do sol durante o verão, em que o dia dura mais do que a noite em relação às outras estações, para locais situados a partir de cerca de 20o de latitudes norte ou sul. No Brasil, o HV teve início em 1931, e foi aplicado a todo o território nacional. A experiência mostrou que não se justifica utilizá-lo nas regiões NE e N do País. Atualmente, o HV é aplicado a apenas nas regiões SE, S e CO. Desde de 2008 um decreto (No 6558) determina que o início do HV no Brasil ocorra no terceiro domingo de outubro e termine no terceiro domingo de fevereiro (exceto se este for um domingo de carnaval, quando então se desloca para o domingo seguinte). 5.1 Objetivo do horário de verão. Tecnicamente, o horário de verão (HV) se justifica como uma medida para diminuir a demanda de potência elétrica no momento em que a iluminação pública entra no sistema. Normalmente, sem o HV, esse momento tem coincidido com a demanda máxima ocorrente no início da noite. Nesse momento (suponha-se, 18h), a população está retornando para suas residências e liga luzes, chuveiros e condicionadores de ar, havendo a coincidência da entrada da iluminação pública, que é uma demanda de potência considerável para a concessionária de energia local. Tendo-se em vista os dias mais longos do verão, o adiantar de uma hora no horário oficial fará com que, naquele momento (18h, agora sendo igual às 17h do horário normal), a demanda fique reduzida, visto que a demanda da iluminação pública e das luzes das residências somente entrará no sistema uma hora mais tarde. Este desacoplamento entre “iluminação pública e residencial” e “cargas de chuveiros e condicionadores de ar” faz com que a demanda máxima, costumeiramente ocorrente nesse horário, fique abatida, reduzida de um valor significativo. Isto é Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 43 favorável à manutenção de um sistema mais estável, que não venha a cair (apagão) pelo excesso de demanda de potência. O HV diminui, portanto, os riscos de falta de energia elétrica. 5.2 A economia é marginal (secundária) A economia de energia elétrica, isto é, a diminuição do consumo de energia elétrica (quilowatt-hora = kWh) não é objetivo do HV. Qualquer diminuição é marginal e ocorrerá pelo fato de a noite ser menor, já que o dia é maior e terá sido mais bem aproveitado pelo adiantar dos relógios. O objetivo do HV, conforme o ONS (Operador Nacional do Sistema) é o seguinte: “O Horário de Verão tem como objetivo principal a redução da demanda máxima do Sistema Interligado Nacional no período de ponta. Isso é possível, pelo fato da parcela de carga referente à iluminação ser acionada mais tarde, que normalmente o seria, motivada pelo adiantamento do horário brasileiro em 1 hora”. Em inglês, utiliza-se a sigla DST ("Daylight Saving Time" = Horário de economia com luz do dia, em tradução livre), para enfatizar o aspecto técnico da medida, embora o termo economia de energia confunda as pessoas e a mídia. Esta, normalmente, fala em economia de “5% de energia” e cita valores de potência (700 MW). Na verdade, no Brasil, o HV produz uma redução de cerca de 5% na demanda máxima de potência, em relação aos períodos de horário normal. Mas a economia de energia (kWh) fica em valores entre 0,1 a 0,5% dos valores que, normalmente, seriam gastos. O objetivo não é, definitivamente, economizar energia, como se divulga, amplamente, na mídia. 6 Qualidade do fornecimento de energia elétrica [8] Falar em qualidade da energia elétrica é buscar identificar se o sistema elétrico apresenta suas grandezas elétricas com boa qualidade, má qualidade ou qualidade aceitável. Qualidade do ar poluição do ar Qualidade da energia elétrica (QEE) poluição harmônica (das grandezas elétricas) Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 44 Boa QEE: "é aquela que garante o funcionamento contínuo, seguro e adequado dos equipamentos elétricos e processos associados, sem afetar o meio ambiente e o bem-estar das pessoas" (Bronzeado, 1997, in Referência [8]). Causa básica do problema de poluição harmônica: novas cargas não-lineares: Antigamente: somente se falava na 3a harmônica (saturação de transformadores) Hoje: fornos elétricos a arco pontes conversoras trifásicas computadores e impressoras (suas fontes de alimentação) compensadores estáticos televisores fornos de micro-ondas fotocopiadoras reatores eletrônicos e eletromagnéticos conversores CC inversores de frequência ou controladores de velocidade de motores (ASD: Adjustable Speed Drives) 6.1 Distúrbios relacionados com a QEE Quatro parâmetros principais devem ser observados: Frequência Forma-de-onda Amplitude da tensão Equilíbrio das tensões (módulo e ângulo) Introdução aos sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 2014 45 Principais fenômenos que afetam a QEE: a) Variações transitórias de tensão (Transient Voltages)
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