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Keynesianismo-fordismo

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FUNDAMENTOS 
HISTÓRICOS, 
TEÓRICOS E 
METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO 
SOCIAL - PROJETO 
ÉTICO POLÍTICO
Anarita Salvador
Keynesianismo-fordismo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer o significado político e econômico do Keynesianismo-
-fordismo na história mundial.
 � Identificar as políticas sociais como mecanismos de materialização 
dos direitos sociais e a experiência do Welfare State.
 � Analisar a experiência do Welfare State e o surgimento do serviço 
social no Brasil.
Introdução
A compreensão do binômio Keynesianismo-fordismo remete ao estudo 
dos impactos gerados na economia, na política e nas relações sociais 
após a segunda década do século XX, por meio das ideias do economista 
britânico John Maynard Keynes e do industrial norte-americano Henry 
Ford. As mudanças propostas por eles modificaram a concepção de 
políticas sociais no mundo e tiveram influência direta na ampliação da 
profissão do assistente social, sobretudo no Brasil.
Neste capítulo, você estudará o Keynesianismo, o Fordismo e sua 
influência direta no modo de produção e na reprodução social da vida 
humana, bem como o Welfare State, ou Estado de Bem-estar Social, que 
é essencial para se desenvolver uma compreensão ampliada sobre a 
política social e a influência desse movimento em suas conformações.
Determinantes históricos, políticos e 
econômicos do Keynesianismo-fordismo
Para compreender de forma aprofundada as propostas do Keynesianismo-
-fordismo, precisa-se analisar o processo histórico no qual essas linhas de 
pensamento e intervenção foram forjadas. Ressalta-se, ainda, a natureza cíclica 
do capitalismo — em que a crise é um elemento essencial — e suas inerentes 
estratégias de retomada do crescimento, sabendo que, durante sua história, 
a humanidade está em crise estrutural ou nessa retomada. Assim, torna-se 
necessário entender qual processo de crise contribuiu para o surgimento das 
ideais keynesianas e fordistas como estratégias de retomada.
O século XIX viveu o apogeu do liberalismo clássico, marcando as con-
dições de expansão capitalista e as altas taxas de crescimento, porém, o pro-
cesso de esfacelamento das bases materiais e subjetivas que sustentavam os 
argumentos liberais ocorreu na segunda metade do século XIX e, no início 
do século XX, como resultado de alguns processos políticos e econômicos.
O primeiro resultado trata-se da expansão do movimento operário, que 
conquistou importantes espaços políticos, como o parlamento, forçando a 
burguesia a reconhecer os direitos de cidadania, os políticos e os sociais 
mais extensos à classe trabalhadora. Os avanços possibilitaram a ampliação 
do poder coletivo da classe social, enriquecendo os movimentos organizados 
dos operários em busca de melhores condições de trabalho e vida, bem como 
de acordos coletivos e ganhos de produtividade, o que se difundiu apenas no 
segundo pós-guerra. 
Já o segundo foi o processo de concentração monopolista do capital, no qual 
o mercado começou a ser dominado por monopólios capitalistas, pondo em 
xeque a crença liberal do indivíduo empreendedor com motivações e valores 
morais. As fusões entre os capitais industrial e bancário deram origem ao 
financeiro, demandando que novas empresas dispusessem de grandes quan-
tias de capital para iniciar e criando uma verdadeira dependência do capital 
fictício para funcionar.
O mundo vivia o fim da Primeira Guerra Mundial, e os países com capita-
lismo desenvolvido estavam destruídos e sem amplas condições de recuperação. 
Já os vencidos foram submetidos às duras sanções no Tratado de Versalhes, 
deixando-os ainda mais debilitados econômica e politicamente. Outra conse-
quência foi a vitória do movimento socialista em 1917, da qual se obteve como 
resultado o fortalecimento do movimento operário internacional e o medo da 
expansão comunista, que se ampliou em todo o mundo.
Já a Grande Depressão marcou a mudança do ciclo de acumulação capita-
lista vigente, marcada pela quebra da bolsa de Nova York em 1929, cujo ápice 
durou até o ano de 1932. Os Estados Unidos entraram em uma profunda crise, 
com altas taxas de desemprego e miséria generalizada da classe operária; até 
a economia mundial sofreu essa pressão, com diversos países em colapso.
A Segunda Guerra Mundial, por sua vez, se configurou como o conflito de 
maior extensão territorial e maiores custos humanos e econômicos da história. 
Seus esforços foram cobrados, e a classe trabalhadora vivenciou um nível mais 
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brutal de extração da mais valia, tornando agudizada a insatisfação nos espaços 
de trabalho. Com ela, o mundo conheceu o nazifascismo, utilizado como uma 
estratégia de retomada do crescimento pelos países perdedores da Primeira 
Guerra Mundial, e ampliou as ações de combate aos que compunham o eixo 
por meio de um bloco que ficou conhecido como aliados, os quais saíram 
vitoriosos e fortalecidos, sobretudo os Estados Unidos.
A primeira grande crise do capital, com a depressão de 1929-1932, seguidos dos 
efeitos da Segunda Guerra Mundial, consolidou a convicção sobre a necessidade 
de regulação estatal para seu enfrentamento. Esta só foi possível pela conjugação 
de alguns fatores como: a) estabelecimento de políticas keynesianas com vistas a 
gerar pleno emprego e crescimento econômico num mercado capitalista liberal; 
b) instituição de serviços e políticas sociais com vistas a criar demanda e ampliar 
o mercado consumidor; e c) um amplo acordo entre a esquerda e direita, entre 
capital e trabalho (BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 92).
As ideias de Keynes passaram a compor as estratégias de recuperação capi-
talista e, sendo ele um liberal heterodoxo, elas iam em direção a um conjunto 
de reformas no interior da superestrutura do capitalismo, sem que suas bases 
de sustentação fossem comprometidas. Portanto, tais propostas tiveram amplo 
aceite diante da percepção coletiva da necessidade de intervenção estatal para 
a retomada do crescimento econômico e da descrença na “mão invisível do 
mercado” como regulador da economia.
Keynes entendia que o Estado deveria estabelecer o equilíbrio econômico e, para 
tanto, lançaria mão de políticas fiscais, crédito e gastos. Sua proposta era a planificação 
indicativa da economia, minimizando o efeito das flutuações periódicas; a intervenção 
na relação capital e trabalho por meio de política salarial e um certo controle de preços; 
a distribuição de subsídios; a política fiscal; a oferta combinada de créditos com uma 
política de juros; e as políticas sociais (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Os dois grandes pilares nos quais se baseava toda a lógica anticíclica keyne-
siana, sendo sustentada pela ação estatal, eram o pleno emprego e a ampliação 
da igualdade social, os quais consistiam na geração de empregos dos fatores 
de produção, no aumento da renda e na criação de serviços e políticas sociais 
que promovessem a igualdade social.
3Keynesianismo-fordismo
O Estado, diga-se o fundo público, na perspectiva keynesiana, passa a ter um 
papel ativo na administração macroeconômica, ou seja, na produção e regula-
ção das relações econômicas e sociais (BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 86).
A ideias keynesianas se uniram as do industrial norte-americano Henry 
Ford, o qual sistematizou um conjunto de ações que possibilitariam a retomada 
das taxas de lucro, e essas medidas sustentavam-se na produção em massa 
para um consumo em massa. Ford acreditava que a classe trabalhadora po-
deria ser transformada em consumidora e, para isso, seriam necessárias uma 
política salarial e de pleno emprego, a maior regulação das relações sociais 
dos trabalhadores e a construção de uma racionalidade consumidora, com 
novas formas de reprodução da força de trabalho.
Na Figura 1, você pode ver um exemplo do modelo fordista de produção. 
Figura 1. Modelo fordista de produção. Mulheres que trabalhavam em uma fábrica de colo-
cação em latas da toranja no abrigo do inverno, Florida, em 1937(foto por Arthur Rothstein).
Fonte: Everett Historical/Shutterstock.com.
Relação entre políticas e direitos sociais — uma 
análise do Welfare State
As políticas sociais deram os seus primeiros sinais de implantação em mea-
dos do século XIX e início do XX. O estado liberal não se rompeu para que 
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pudessem ser incorporados os direitos sociais, mas, sim, se conciliou perante 
a organização e a luta da classe trabalhadora, porque era necessário o reco-
nhecimento desses direitos para a vigência do próprio estado e do mercado 
no contexto socioeconômico da época. 
Percebe-se, assim, que os direitos sociais foram reconhecidos pela luta 
da classe trabalhadora, mas que nunca se questionou os motivos para que os 
trabalhadores se encontrassem em situações precárias, logo, a relação contra-
ditória capital versus trabalho permaneceu inquestionável na implementação 
das políticas sociais.
As primeiras expressões da questão social foram respondidas com repres-
são, tendo conflito direto entre trabalhadores e Estado, que usou a força para 
conter ou tentar resolver os problemas dessa classe. Porém, pouco a pouco, 
de maneira heterogênea nos países centrais, o Estado passou a responder às 
reivindicações dos trabalhadores com leis, direitos e concessões, ressaltando 
a timidez e as especificidades dos direitos e seguros a determinados segui-
mentos, que lentamente conquistaram-nos por meio de lutas e conseguiram 
que o Estado os legitimasse, diante da insuficiente repressão como resposta.
Os primeiros seguros sociais eram apenas para quem estivesse empregado, 
e a prestação de serviços estava condicionada à contribuição que este fazia. As 
caixas de poupança e previdência organizadas pelos trabalhadores davam su-
porte a eles nos períodos de greve. Na Alemanha, por exemplo, o governo criou 
um seguro-saúde nacional e obrigatório para desmobilizar a classe trabalhadora 
e abrandar os conflitos. Já as primeiras leis que asseguravam a assistência 
social aos pobres são de 1842, porém, elas têm um caráter filantrópico.
Portanto, o início do século XX foi marcado por progressivas intervenções 
do Estado na questão social. Apesar da restrição, insuficiência e focalização de 
alguns serviços, a classe trabalhadora conseguiu uma série de direitos com o 
resultado de suas lutas, como a diminuição da jornada de trabalho, a aposen-
tadoria e o apoio em caso de acidente, obtendo melhorias na sua condição de 
vida e trabalho. Os desempregados também passaram a receber uma pequena 
atenção do Estado, tendo acesso a determinados serviços.
O capitalismo se desenvolveu e teve como condição para sua vigência o exér-
cito industrial de reserva (trabalhadores desempregados), que, em certos países e 
períodos, oscilou em perfil e quantidade. Com o passar do tempo, o capitalismo 
e o estado liberal experimentaram crises ocasionadas por diversos fatores, que 
podem ser explicados pela lei geral de acumulação, como aponta Marx.
Durante a crise de 1929, conhecida como Grande Depressão, a classe 
trabalhadora não tinha condições de consumir, e os salários mal supriam as 
necessidades básicas. Nessa situação, o capital entrou em crise nos Estados 
5Keynesianismo-fordismo
Unidos, se alastrando pelo mundo, por ser internacionalmente circulado. Assim, 
o liberalismo do Estado foi posto em xeque, evidenciando a necessidade de 
intervenção estatal tanto na economia como na ampliação de políticas sociais. 
O Estado adotou uma nova perspectiva de incentivo salarial e social, a qual 
respondia à luta da classe trabalhadora — que se aproximava cada vez mais 
das ideias socialistas —, não pondo em risco o lucro capitalista. 
Análise do Welfare State
As políticas sociais tiveram seu auge após o ano de 1930, com pleno emprego, 
altos salários, serviços de proteção e, o mais importante para o capital, pro-
dução e consumo em massa, garantindo o lucro dos investimentos industriais 
e financeiros.
Esse movimento ficou conhecido como Welfare State, ou Estado de Bem-
-estar Social, que se originou na Inglaterra, mas possui outras designações, 
que nem sempre se referem ao mesmo fenômeno e não são tratadas como 
sinônimos, por exemplo, État-providence (Estado de Providência, na França), 
Sozialstaat (Estado Social, na Alemanha), New Deal (nos Estados Unidos) 
— os termos adotados em cada idioma têm ligação com a historicidade da 
nação. Entretanto, é consenso que todas essas experiências buscavam regular 
o campo da produção, bem como garantir a via de intervenção estatal e as 
condições de igualdade social; nelas, foram construídos padrões de proteção 
social por meio de um conjunto de políticas sociais.
Nos países europeus, o Welfare State aconteceu de forma mais profunda, 
sobretudo por duas condições, pelas consequências da vivência da Segunda 
Guerra Mundial, bem como dos seus efeitos destrutivos que demandavam 
esforços coletivos e forte intervenção estatal para sua recuperação, e pelo forte 
avanço das ideias socialistas, principalmente diante da divisão da Alemanha 
em duas nações e dos efeitos da Guerra Fria, sendo criadas uma nova ordem 
geopolítica e outra social. 
O Welfare State é sustentado por um pacto social entre capital versus 
trabalho, no qual cada uma das classes concorda em perder um pouco para 
garantir ganhos para ambas. Do lado da classe trabalhadora, as perdas dizem 
respeito à negação da revolução e à aposta na reforma do modelo de produção 
capitalista; já para a burguesia, gera-se um acordo para minimizar a extração 
máxima dos lucros por meio da mais valia, repassar, de forma socializada, 
parte do lucro para o Estado, bem como implantar e gerir políticas sociais. Esse 
momento ficou conhecido por diversos nomes, os 30 anos gloriosos, 30 anos da 
social democracia e, mais amplamente difundido, os anos de ouro do capital.
Keynesianismo-fordismo6
Assim como as demais experiências de ampliação da intervenção estatal 
nos campos da produção e da reprodução social, ele deve ser entendido como 
um produto histórico e, portanto, possui vinculação a um espaço temporal. Em 
relação ao Welfare State inglês, é necessário compreender as determinações 
que o forjaram, fortemente alicerçado na formatação do plano Beveridge, com 
as seguintes características:
1. a responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos 
por meio de um conjunto de ações em três direções: regulação da economia 
de mercado a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública de 
serviços universais como educação, segurança social, assistência médica e 
habitação, e um conjunto de serviços pessoais; 2. universalidade dos serviços 
sociais; e 3. implantação de uma “rede de segurança” de serviços de assistência 
social (BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 94).
Portanto, são inegáveis os avanços e a expansão generalizada das políticas 
sociais durante a orientação keynesiana e fordista. Houve a configuração 
de políticas abrangentes e universalizantes, a qual possuía a concepção de 
cidadania como elemento organizador dos sistemas de proteção social. Nesse 
processo, foi marcante o consenso político em favor de economia mista e 
comprometimento estatal com o crescimento econômico e do pleno emprego, 
o que possibilitou o desenvolvimento das forças produtivas de forma ampliada.
Os ‘anos de ouro’ do Capitalismo começam a se exaurir no fim dos anos 
1960 (HOBSBAWM, 1995). As taxas de crescimento, a capacidade do Estado 
de exercer suas funções mediadoras civilizadoras cada vez mais amplas, a 
absorção das novas gerações no mercado de trabalho, não são as mesmas, 
contrariando as expectativas de pleno emprego, base fundamental dessa 
experiência. As dívidas públicas e privadas crescem perigosamente [...] As 
elites político-econômicas, então, começaram a questionar e a responsabilizar 
pela crise a atuação agigantada do Estado mediador civilizador, especialmente 
naqueles setores que não revertiam diretamente em favor de seus interesses. 
E aí se incluíam as políticas sociais (BEHRING; BOSCHETTI,2008, p. 103).
As políticas sociais criadas pelo Welfare State na crise de superprodução, de 
1929 a 1932, tinham como objetivo principal a recuperação do capital que, ao 
se tornar mundial por meio da exploração exacerbada da classe trabalhadora, 
produzia riqueza e pobreza concomitantemente. Elas serviram de incentivo 
para o consumo da classe trabalhadora, proporcionado pelo Estado, gerando o 
desenvolvimento e a manutenção do capital. Tais condições diante do constante 
processo cíclico do capital, aliado às mudanças históricas no cenário mundial, 
iniciaram um novo processo de crise macroeconômica e social.
7Keynesianismo-fordismo
Influência do Welfare State no Brasil e 
surgimento do serviço social
No Brasil, assim como nos países de capitalismo tardio, sobretudo das Améri-
cas, a influência do Welfare State e das suas demais configurações é constituída 
a partir das condições históricas, sociais, políticas e econômicas de cada nação. 
O caráter conservador e autoritário no Estado e nas relações sociais brasilei-
ras moldam a constituição das políticas públicas nacionais, principalmente 
daquelas com caráter social.
É necessário retomar o fato de que a inserção do Brasil no cenário econô-
mico mundial ocorreu como uma ex-colônia de exploração, que manteve, após 
sua independência, a configuração de país exportador de matéria-prima. O 
processo de modernização da economia nacional formou-se de maneira seg-
mentada, no entrelaçamento do hodierno e do arcaico, com o desenvolvimento 
de setores modernos que conviviam com os tradicionais e a predominância do 
setor agrário-exportador, o qual determinou as configurações do crescimento 
econômico e social do país.
Apenas após a passagem da economia agrário-exportadora para a economia 
urbano-industrial na década de 1930 é que o país passou a assistir às primeiras 
mudanças institucionais no Estado, como a instituição por lei dos Departamen-
tos Nacionais do Trabalho e da Saúde e a promulgação, em 1923, do código 
Sanitário e da Lei Eloi Chaves, essa última sobre assuntos previdenciários 
(MEDEIROS, 2001, p. 9).
 A crise mundial do capital, de 1929 a 1932, afetou diretamente a econo-
mia brasileira, gerando crises de superprodução, devido à dependência do 
mercado internacional para o escoamento dessa produção. As consequências 
desse processo perpassaram a produção e a reprodução social das diferentes 
classes sociais no Brasil. A década de 1930 foi marcada também por um pro-
cesso de mudança da correlação de forças na classe dominante, a Revolução 
de 1930 teve caráter primordial, cujas mudanças aceleraram o processo de 
efervescência dos movimentos dessa classe, elevando sua importância política 
no cenário nacional.
Em relação às ações do Estado direcionadas à criação de respostas cole-
tivas à questão social, pode-se afirmar que, até meados da década de 1920, 
as poucas políticas sociais que existiam eram fragmentadas, focalizadas 
e voltadas às respostas emergenciais. A Lei Eloi Chaves cria as Caixas de 
Aposentadorias e Pensões (CAPS) apenas para trabalhadores formais de certas 
empresas estratégicas para desenvolvimento econômico e industrial, sendo 
Keynesianismo-fordismo8
compreendida como a primeira legislação das políticas sociais no Brasil; no 
mesmo período, o Código Sanitário tenta, de maneira débil, formar as bases 
para a atuação do Estado em condições essenciais de saúde pública. Além 
dessas ações, as situações de extrema vulnerabilidade social eram enfrentadas 
por meio da caridade, como a benemerência cristã, ou pela forte repressão, 
por exemplo, a polícia.
As ações do Estado social brasileiro surgiram a partir de decisões au-
tárquicas e foram forjadas com um direcionamento político para controlar 
as questões ligadas à organização dos trabalhadores, sobretudo dos novos 
setores da economia. Já os direitos sociais foram antecipados como forma de 
evitar a organização política dos trabalhadores, enfraquecer a legitimidade 
das lideranças e limitar sua capacidade organizativa (MEDEIROS, 2001).
Contudo, houve diferentes formas de resistência e luta por parte da classe 
trabalhadora brasileira, sendo claro que as ações estatais em direção à am-
pliação das políticas sociais se configuraram como estratégia de manutenção 
do status quo e fruto das pressões políticas orquestradas pelas classes explo-
radas, e foram essenciais para a reprodução social destas, configurando-se 
como elemento contraditório e dialético.
Para Behring e Boschetti (2008, p. 106), é “uma das principais caracterís-
ticas do desenvolvimento do Estado social brasileiro: seu caráter corporativo 
e fragmentado, distante da perspectiva da universalidade de inspiração beve-
ridgiana”. Tal característica leva as autoras a reforçar a inexistência do Estado 
de Bem-estar Social no Brasil, não sendo possível afirmar que um modelo 
inspirado no Welfare State tenha sido plenamente construído e implantado.
Construiu-se um modelo de cidadania regulada a partir da necessidade 
de expansão das ações estatais de regulação da reprodução social, mas ele 
não é considerado uma inspiração na proposta de Beveridge, que entendia a 
cidadania como um conceito amplo. A construção de um escopo de políticas 
alicerçadas na lógica do seguro social e da vinculação do trabalhador a um 
vínculo formal de trabalho regulado por meio do Estado foi ampliada com 
a organização da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), inspirada nas 
leis da Itália de Mussolini. Essa regulação deixava uma grande parcela da 
população brasileira às margens da ação estatal.
A influência do pensamento da social democracia no mundo influenciou 
o Brasil, diante das demandas de modernização econômica, que envolvia 
melhoria das condições de reprodução da classe trabalhadora, ações dire-
cionadas ao saneamento de áreas urbanas, ampliação dos serviços de saúde 
que atendiam a essa classe, bem como melhoria da qualificação por meio de 
serviços de educação e previdenciários.
9Keynesianismo-fordismo
A constituição do escopo de ações direcionadas à melhoria das condições 
de vida e trabalho da classe trabalhadora brasileira necessitava de profissionais 
capacitados para atuarem, interventiva e diretamente, na vida dos trabalha-
dores e das suas famílias para impor o controle destes. Diversos profissionais 
foram convocados a participarem dessas ações, como médicos, enfermeiros, 
professores e, sobretudo, uma nova profissão, que passou a ser demandada 
no Brasil, surgindo as primeiras assistentes sociais.
Durante o processo de modernização econômica e construção das primeiras 
políticas sociais, criou-se o primeiro curso de serviço social no país, surgindo 
entre ações de caridade e repressão que caracterizavam o Estado social bra-
sileiro. Ressalta-se que o processo de institucionalização do serviço social 
nos países de capitalismo central também está atrelado ao desenvolvimento 
das políticas sociais do início do século XX, e sua expansão perpassa pela 
expansão do Welfare State e suas demais configurações nacionais.
No Brasil, o serviço social surgiu a partir da iniciativa particular de grupos 
e frações de classe, que se manifestaram por intermédio da Igreja Católica, 
“[...] historicamente se localiza na demanda social que legitima o empreendi-
mento” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 127). Orientadas pela doutrina 
social da igreja, as primeiras assistentes sociais possuíam como demanda a 
regulação e o controle social da vida do trabalhador e de sua família, bem 
como sua adaptação à sociedade surgente, sem nenhuma aproximação com as 
teorias sociais que construíam críticas à sociedade vigente. O desenvolvimento 
do serviço social, nesse momento histórico, foi fortemente orientado por bases 
da doutrina social da igreja e da necessidade de intervenção na vida dessa 
classe pelo capital, como forma de garantir o tranquilo desenvolvimento das 
forças produtivas brasileiras.
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 2. ed. São Paulo: 
Cortez, 2007. 216 p.
IAMAMOTO,M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de 
uma interpretação histórico-metodológica. 19. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 380 p. 
Keynesianismo-fordismo10
MEDEIROS, M. A trajetória do welfare state no Brasil: papel redistributivo das políticas 
sociais dos anos 1930 aos anos 1990. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada, dez. 2001. 24 p. (Texto para Discussão, 852). Disponível em: <http://www.ipea.
gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=4106>. Acesso em: 
23 nov. 2018.
Leituras recomendadas
ARRETCHE, M. T. S. Emergência e desenvolvimento do Welfare State: teorias explicati-
vas. BIB: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 
v. 39, p. 3-40, 1. sem. 1995. Disponível em: <http://anpocs.com/index.php/bib-pt/
bib-39/452-emergencia-e-desenvolvimento-do-welfare-state-teorias-explicativas/
file>. Acesso em: 23 nov. 2018.
BEHRING, E. R. Fundamentos de política social. In: MOTA, A. E. et al. (Org.). Serviço social 
e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez; Brasília: Organização 
Pan-americana de Saúde; Organização Mundial de Saúde, 2006, p. 13-49. Disponível 
em: <http://www.poteresocial.com.br/livro-servico-social-e-saude-para-download/>. 
Acesso em: 23 nov. 2018.
ESPING-ANDERSEN, G. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova: Revista 
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=iso&tlng=pt>. Acesso em: 23 nov. 2018.
11Keynesianismo-fordismo
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