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Imunologia - Aula 01 - Aspectos Gerais

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1 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 
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Imunologia 
Visão e Aspectos Gerais das Respostas Imunes 
1. Introdução 
▪ O sistema imune configura uma série de órgãos e de 
células especificas, os quais são responsáveis, entre 
outros aspectos, pela manutenção da saúde do organismo, 
notadamente por meio da eliminação de ameaças 
infecciosas, a exemplo de vírus e de bactérias. 
▪ Veja, de modo geral, a função do sistema imune é a 
defesa, podendo ser contra agentes infeciosos ou mesmo 
contra moléculas próprias, por exemplo, produtos de 
células danificadas. Desse modo, tem-se que uma 
resposta imune corresponde a uma reação contra qualquer 
molécula estranha ao organismo, sendo seu primordial 
objetivo a debelação desse estimulo deletério. 
▪ Embora o estudo mais aprofundado da imunologia seja 
recente, diversas propriedades imunológicas já são há 
bastante tempo conhecidas pela humanidade. Por exemplo, 
ainda na China Imperial, ocorria o processo de 
imunização contra a varíola por intermédio da inalação 
de um pó preparado com base em lesões cutâneas de 
pacientes previamente recuperados dessa doença. 
▪ Outro importante exemplo de tal estudo prévio da 
imunologia, consiste no Tratado de Jenner, publicado em 
1798, sendo um marco no tocante à vacinação como método 
indutor da imunidade. Jenner foi um médico inglês que 
percebeu que vacas recuperadas da varíola bovina não 
mais contraiam a forma grave da doença. A partir de tal 
percepção, Jenner inoculou o material oriundo de uma 
pústula de vaca com varíola em um garoto de 8 anos, que 
posteriormente foi posto em contato com a varíola 
humana. A doença nunca se desenvolveu no garoto. 
 
 
 
 
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▪ Embora rudimentares, tais processos sinalizam as bases 
da imunologia como conhecemos hoje. Especialmente a 
partir da década de 1960 essa ciência tem experienciado 
múltiplos avanços, em áreas como imunoquímica, 
metodologia de DNA recombinante e cristalografia de 
raios X, etc. Entre outros aspectos, tais avanços tem 
promovido desbravamentos em horizontes diversos no 
âmbito da imunologia humana, notadamente nos campos 
molecular e celular, permitindo vislumbres de esperança 
no tocante a avanços que culminem na cura ou no 
tratamento mais efetivo de diversas patologias. 
2. Respostas Imunes 
▪ A defesa contra agentes nocivos é mediada de modo 
coordenado por células e por moléculas especificas, de 
modo que há uma série de etapas e de modalidades 
responsivas do organismo a fim de lidar de modo efetivo 
com cada tipo de situação. 
▪ Em princípio, tem-se a imunidade inata, que é 
responsável pelo combate inicial e não especifico 
contra as primeiras manifestações de invasão ao 
organismo. Entre suas principais características se 
encontram o período de até 12 horas, a baixa 
especificidade, a limitada diversidade, a não presença 
de memória e a não reatividade ao próprio. Veja, tais 
características permitem o reconhecimento de uma ampla 
gama de patógenos em um curto espaço de tempo, sendo um 
dos primeiros objetivos dessa resposta a eliminação da 
ameaça sem que haja a necessidade da demanda por medidas 
mais especificas e mais onerosas ao organismo. Além 
disso, o desencadeamento da imunidade inata também atua 
como primeiro sinal de alerta para uma possível 
necessidade da imunidade adaptava em sequência. 
▪ Por outro lado, a imunidade adaptativa corresponde a 
uma resposta mais especifica e mais robusta do sistema 
imune contra infecções que já perduram por um período 
superior a 12 horas. Além disso, esse tipo de resposta 
apresenta elevada especificidade e diversidade, bem 
como capacidade de memória. 
▪ De um modo geral, o importante quanto a distinção básica 
entre os dois tipos de imunidade corresponde à percepção 
quanto ao modo de atuação de cada uma. Repare, enquanto 
a imunidade inata corresponde a um mecanismo de defesa 
efetivo porem não preciso, a imunidade adaptativa 
configura uma defesa tanto efetiva quanto precisa. 
Posteriormente, abordaremos as especificidades de cada 
uma delas em detalhes. 
 
 
 
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▪ Ademais, as respostas imunes configuram atuações 
sistemicamente dispersas, agindo de modo a preservarem 
a integridade do organismo, ou seja, não devem dirigir 
seus arsenais contra o próprio. Qualquer distorção 
quanto a essa premissa configura o preludio ou a 
presença de uma doença autoimune. De modo sucinto, a 
regulação de tais processo ocorre por meio de feedback 
positivo e por meio da síntese e da liberação de 
moléculas controladoras, a exemplo de citocinas anti-
inflamatórias, como veremos posteriormente. 
3. Imunidade Inata 
▪ Os receptores das principais células da imunidade inata 
são específicos para estruturas comuns a grupos de 
microrganismos relacionados, não sendo capazes de 
distinguir, por exemplo, pequenas variações entre esses 
organismos. 
▪ De modo resumido, a imunidade inata identifica pequenos 
padrões comuns a um determinado grupo, o que desencadeia 
a resposta imune. Por exemplo, uma molécula comum à 
prede celular de um grupo de bactérias. 
▪ Os principais componentes da imunidade inata são as 
barreiras físicas e químicas, como os epitélios; as 
células fagocíticas, as células dendríticas, os 
mastócitos, as células NK; células sanguíneas, como 
componentes do sistema complemento e mediadores 
inflamatórios. 
▪ Os principais mecanismo de ação da imunidade inata 
consistem no recrutamento de fagócitos, que, por meio 
do processo inflamatório, destroem os patógenos; e no 
 
 
 
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bloqueio da replicação viral, por exemplo, pela 
eliminação da célula infectada, o que não demanda o 
desencadeamento de uma reação inflamatória. 
 
4. Imunidade Adaptativa 
▪ Mediada pelo Linfócitos B e T, os quais expressam 
receptores específicos para uma ampla gama de 
patógenos. Cada um desses subtipos de Linfócitos 
promove uma distinta reação imunológica como veremos em 
sequência. 
▪ As características da imunidade adaptativa consistem em 
consequências da ação do tipo de linfócito que mediou 
a resposta. Vejamos: 
Especificidade e Diversidade 
▪ A especificidade corresponde a capacidade do linfócito 
em reconhecer um componente especifico dos antígenos, 
denominado epítopo ou determinante. Desse modo, tem-se 
a ocorrência de uma resposta adaptada a um antígeno 
especifico 
▪ Veja, no arsenal imunológico do indivíduo, existem 
diversos linfócitos com receptores variantes e 
específicos para uma ampla gama de antígenos. Uma vez 
que um desses antígenos vence as barreiras iniciais e 
dispara uma resposta imune adaptativa, o padrão 
residente nele será reconhecido pelo receptor de um 
desses múltiplos linfócitos, de modo que se tem o 
processo de seleção clonal, ou seja, um dos vários 
clones de linfócitos foi selecionado por um antígeno. 
Essa foi uma hipótese proposta em 1957 por Macfarlane 
Burnet, sendo atualmente comprovada e amplamente aceita 
pela comunidade cientifica. Assim, uma característica 
 
 
 
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inerente à imunidade adaptativa é que clones de 
linfócitos antígeno específicos se desenvolvem antes e 
independente da exposição ao antígeno. Note que é um 
modo do organismo se antecipar à indesejada visita de 
um desse agentes infecciosos. 
▪ Obs.: Estima-se que o sistema imune de um indivíduo 
seja capaz de discriminar de 107 a 109 determinantes 
antigênicos distintos. Repare bem, esse é, em média, o 
número de linfócitos que podem iniciar um processo de 
seleção clonal, ou seja, o sistema imune adaptativo é 
amplamente diverso para a identificação de múltiplos 
patógenos, mesmo que o indivíduo jamais tenha entrado 
em contato com eles. 
▪ O resultado, após esse encontro (seleção) é o 
desencadeamento de um processo de replicação em larga 
escala desse linfócito especificamente sensibilizado,é o processo de expansão clonal. Note, agora, o sistema 
imune passa a sintetizar um exército de célula de defesa 
a fim de debelar uma ameaça especifica. 
 
Memória 
▪ Consiste na capacidade de o sistema imune adaptativo 
responder novamente, e de modo mais rápido, a ameaça 
recorrente de um antígeno previamente combatido. 
▪ Repare, após os processos de seleção e expansão clonal, 
seguido pela debelação da infecção, o sistema imune 
tende a guardar, como células de memória, o padrão 
especifico daquele determinado antígeno (linfócitos 
especificamente sintetizados com receptores para o 
epítopo daquele agente infecioso). Desse modo, caso 
haja novo contato com tal patógeno, a resposta ocorrera 
 
 
 
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de modo muito mais rápido, notadamente pela ação dessas 
células de memória. 
 
Auto tolerância 
▪ De modo geral, essa tolerância corresponde à capacidade 
do sistema imune em não promover resposta aos 
componentes do organismo do indivíduo, ou seja, 
corresponde à capacidade de distinguir o próprio do não 
próprio. 
▪ Tal habilidade ocorre por uma série de processos de 
checagem ao longo da maturação de células do sistema 
imune, como veremos mais adiante. Todavia, de modo 
resumido, deficiências em tais procedimentos tendem a 
acarretar o surgimento de condições conhecidas como 
doenças autoimunes, nas quais o sistema imunológico 
destina esforços a combater células próprias. 
 
▪ A imunidade adaptativa pode ser dividida em dois 
subtipos, a imunidade humoral e a imunidade mediada por 
células. Ambas são respostas imunes, que diferem quanto 
ao tipo de linfócito ativado e quanto ao tipo de 
microrganismo que combatem. Vejamos cada uma delas. 
 
 
 
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Imunidade Humoral 
▪ Essa resposta é mediada por proteínas especificas, os 
anticorpos, que secretados pelos Plasmócitos, oriundos 
de um processo de diferenciação sofrido pelos 
Linfócitos B. 
▪ Repare, os Linfócitos B, que se encontram em grande 
número (clones), apresentam receptores antigênicos de 
superfície, os quais podem ser estimulados por uma série 
de antígenos, como proteínas, polissacarídeos, etc. 
Após esse reconhecimento, ocorre o início do processo 
de produção de anticorpos específicos contra 
determinada ameaça. Todavia, tal resposta demanda 
sinais de ativação (auxilio) das células T CD4+, os 
Linfócitos T Auxiliares, como veremos mais adiante. 
▪ Os anticorpos produzidos atuam neutralizando os 
antígenos, impedindo que eles se liguem às células, e 
marcando eles com anticorpos IgG para um posterior 
reconhecimento pelos fagócitos e pelo sistema 
complemento. 
▪ A imunidade humoral configura o principal mecanismo de 
defesa contra microrganismo e toxinas extracelulares. 
Por exemplo, no sangue, no TGI, no sistema respiratório, 
etc. 
▪ Nesse tipo de resposta, ainda, tem-se a elicitação de 
várias imunoglobulinas, além da IgG, como a IgM 
estimulada por polissacarídeos e por lipídeos, como a 
IgA, a IgE e a IgG estimuladas por antígenos proteicos. 
▪ A IgA, por exemplo, é secretada pelo epitélio das 
mucosas, neutralizando microrganismo ainda no lúmen 
tecidual, como no TGI e no trato respiratório. 
▪ A IgG merece destaque por ser a única imunoglobulina 
capaz de atravessar a placenta, sendo transferida da 
mãe para o feto. 
 
 
 
 
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Imunidade Celular 
▪ Esse tipo de resposta é mediada por meio de Linfócitos 
T, sendo principalmente destinada a microrganismo 
fagocitados capazes de sobreviver no interior dos 
fagócitos e a microrganismos intracelulares, como os 
vírus. 
▪ Ao contrário dos Linfócitos B, os Linfócitos T não são 
capazes de sintetizar anticorpos. Esse tipo de célula 
age por meio de uma especificidade restrita, 
reconhecendo peptídeos derivados de proteínas do 
hospedeiro, os quais são expressos por células 
apresentadoras. Tal conjunto de proteínas expressas 
recebe o nome de Complexo de Imunocompatibilidade 
(MHC), que pode ser dividido em dois tipos, como veremos 
adiante. Repare, desse modo, a imunidade celular não é 
capaz de reconhecer antígenos circulantes no sangue. O 
reconhecimento, por sua vez, ocorre por intermédio de 
outras células, as quais apresentam o antígeno aos 
Linfócitos T. 
▪ Quanto aos linfócitos T, tem-se os LT Auxiliares e os 
LT Citotóxicos. As funções dos primeiros são 
especialmente mediadas por citocinas, enquanto o 
segundo tipo se destina ao processo de destruição 
celular, eliminando o reservatório infectado. 
▪ Ainda em relação aos Linfócitos T, é importante 
salientar o critério de distinção baseado na expressão 
de proteínas especificas, as proteínas CD (Cluster of 
Differentiation), como CD4 e CD8. 
▪ Essa diferenciação em CD4 ou em CD8 ocorre após a 
produção dos Linfócitos T, quando eles são destinados 
aos sítios periféricos. 
▪ O LT Auxiliares CD4+ auxiliam os macrófagos a eliminar 
os microrganismos ingeridos e ajudam os Linfócitos B a 
sintetizarem anticorpos. O LT CD8+ matam as células que 
abrigam patógenos. 
 
 
 
 
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▪ Note que é a apresentação do antígeno que determina a 
diferenciação em CD4 ou em CD8. 
Desenvolvimento da Resposta Adaptativa 
▪ Inicia-se com a captura e a apresentação dos antígenos 
aos linfócitos específicos. Esse processo é executado 
por células apresentadoras de antígenos (APC’s), sendo 
as Células Dendríticas as mais especializadas. 
▪ As células dendríticas fagocitam antígenos microbianos, 
transportando-os até os órgãos linfoides, onde ocorre 
a apresentação as Linfócitos T imaturos (naive) para 
que seja iniciada a resposta imune. 
▪ Após apresentação, inicia-se o processo de expansão 
clonal, seguido pela diferenciação desses linfócitos em 
células efetoras, capazes de eliminar especificamente 
o antígeno em questão. Além disso, tem-se a síntese de 
células de memória. 
 
▪ Esse processo de eliminação geralmente suscita a 
participação de outras células não linfoides, como os 
macrófagos e os neutrófilos, além de proteínas 
especificas, as citocinas, atuantes na estimulação e na 
regulação de diversas atividades imunológicas, 
especialmente a inflamação. 
5. Tipos de Imunidade 
▪ De modo resumido, a imunidade pode ser adquirida por 
meio de resposta a um antígeno (imunidade ativa) ou por 
meio da transferência de anticorpos ou de células 
efetoras (imunidade passiva). 
 
 
 
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